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NA DIMENSÃO HUMANA DO
DESENVOLVIMENTO
Professores:
Dr. Oscar Ivan Prux
Me. Mariane Helena Lopes
DIREÇÃO
03
19| INTER-RELAÇÃO ENTRE DIREITO EMPRESARIAL E O
DESENVOLVIMENTO VOLTADO À PRIORIZAÇÃO DO SER
HUMANO
DIREITO, ECONOMIA E EMPRESAS NA DIMENSÃO HUMANA DO
DESENVOLVIMENTO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Proporcionar elementos para que seja possível visualizar as inter-relações
entre Direito e Economia.
•• Expor o conhecimento a respeito da existência de um direito ao desen-
volvimento e referenciar as complexidades relacionadas à sua verdadeira
concepção.
•• Apontar a dimensão humana inerente às atividades econômicas, incluindo
no aspecto empresarial a inter-relação com aspectos ambientais e sociais.
PLANO DE ESTUDO
introdução
INTRODUÇÃO
introdução
Pós-Universo 7
CORRELAÇÃO
ENTRE DIREITO E
ECONOMIA
8 Pós-Universo
““
Desenvolvimento é mais que uma palavra que possui vários significados,
várias acepções: entende-se Desenvolvimento em seu sentido Social, Político,
Jurídico, Industrial, Ambiental e, especificamente, Econômico, em seus “rostos
de janus”, na alegoria romana. O Desenvolvimento Econômico e a repercus-
são jurídica, ou, como se verá, o jurídico com repercussão economia.
Pós-Universo 9
““
O enfoque nas liberdades humanas contrasta com visões mais restritas de de-
senvolvimento, como as que identificam desenvolvimento com crescimento
econômico do Produto Nacional Bruto (PNB), aumento de rendas pessoais,
industrialização, avanço tecnológico, ou modernização social. O crescimen-
to do PNB ou das rendas individuais obviamente pode ser muito importante
com um meio de expandir as liberdades desfrutadas pelos membros da so-
ciedade. Mas as liberdades dependem também de outros determinantes,
como as disposições sociais, e econômicas (por exemplo, os serviços de edu-
cação e saúde) e os direitos civis (por exemplo, a liberdade de participar de
discussões e averiguações públicas).
10 Pós-Universo
atenção
Portanto, o termo “desenvolvimento” não apresenta significado unívoco
que esteja ligado somente ao viés econômico (de geração e acumulação
de riqueza), que é deveras importante, mas requer complementação ligada
ao cumprimento dos direitos fundamentais das pessoas. Em sentido mais
aprimorado, esse termo deve englobar o conjunto de condições que reúne
avanços em diversos campos como o econômico, o político e o social, for-
mando conjuntura suficiente, eficiente e eficaz para que as instituições
promovam, tanto quanto possível, a melhora de condições materiais com-
binada com o aperfeiçoamento rumo a um processo que propicie efetivos
benefícios para os seres humanos envolvidos. Neste ponto, o desenvolvi-
mento imbrica-se com o que se denomina justiça distributiva.
Fonte: os autores.
DESENVOLVIMENTO
DO DIREITO
Pós-Universo 13
Prezado(a) aluno(a), um ambiente favorável para negócios é essencial para haver pro-
gresso e evolução nesta área (desenvolvimento, seja empresarial, seja social) e, para
isso, se faz necessário a existência de um marco legal adequado (é neste ponto que
se sobressai mais acentuadamente a substancial importância do Direito Empresarial),
apto a contribuir para a consolidação de boas instituições a impulsionar o verda-
deiro progresso. Não são suficientes a conjugação do empreendedorismo, com a
pujança empresarial, o intento em investir, a fartura de riquezas naturais e uma po-
pulação integrada por pessoas comprometidas com o trabalho, se de outro modo,
o país carece de instituições bem estruturadas/constituídas (políticas, econômicas
etc.) e normas que garantam aos agentes econômicos a possibilidade de atuarem
em ambiente estável, seguro e propício para a atividade empresarial.
Percebe-se que como características similares encontrados nos países pobres estão
a existência de: a) instituições deficientes; governos mal estruturados (marcados pela
má gestão ou pela instabilidade); b) burocracia complexa e com muitas exigências
despropositadas ou mal operacionalizadas, integradas por registros e requerimentos
complexos demais ou sem utilidade prática (que poderiam ser substituídos por téc-
nicas mais avançadas de controle ou operacionalização), implicando dispendiosas
tarefas claramente dispensáveis (perda de tempo útil e gastos), tudo criando dificul-
dades que induzem os agentes públicos a “venderem” facilidades; c) custos elevados
para a atividade produtiva; d) carência de regras ou regulação adequada (conjunto
de normas integrado por número desmesurado de leis e regulamentos, muitos deles
mal concebidos e/ou confusos) e outras condições que favorecem a ineficiência; e)
existência de elevado nível de corrupção, incluindo significativo tráfico de influên-
cias pessoais nos negócios públicos, de falta de honestidade e ética nos negócios
privados (dentro das empresas, nas relações entre elas, com clientes e terceiros); f )
falta de incentivo para investimentos; g) insegurança jurídica etc. A constatação é
que, entre outros fatores, está no direito e sua aplicação, um importante indutor de
atraso ou de progresso, no desenvolvimento de um país.
14 Pós-Universo
É sabido que as decisões alocativas dos agentes privados são fundamentais para o
processo de desenvolvimento, e também não remanesce dúvida de que as decisões
nesta área não resultam somente das vontades arbitrariamente liberadas pela auto-
nomia privada. Forma-se um arranjo que é produto do ambiente institucionalizado
no país em relação aos negócios e interesses dos agentes econômicos (públicos e
privados), sendo o direito um co-partícipe deste contexto. O direito segmentado em
seus ramos e como sistema, naturalmente, participa desta interação. Advirta-se que
não se está a aderir quaisquer teses marxistas que visualizam o direito como parte
da superestrutura que sustenta processo pelo qual opressores submetem oprimidos
(a luta de classes como justificativa para uma revolução que leve para uma ditadu-
ra do proletariado, algo inaceitável para o Brasil), mas de identificar, oportunamente,
que as normas integrantes deste arcabouço institucional, no caso deste estudo, em
especial as de Direito Empresarial, são cruciais no processo de desenvolvimento. Elas
interferem, decisivamente, nas atividades das empresas, no desenvolvimento delas
e também do país.
Ferraz, Crocco e Elias (2003, p. 16), ao tecerem suas considerações e observações
críticas, narram que
““
Recentemente a discussão sobre desenvolvimento foi ampliada para in-
corporar a dimensão ‘institucional’, principalmente no âmbito de agências
internacionais localizadas em Washington. Como resultado, agências como
o Banco Mundial defendem a necessidade de ‘boas’ instituições para o
desenvolvimento. Como se pode ver abaixo, a relação com o modelo nor-
te-americano é direta. Tais instituições seriam:
Democracia consolidada. A democracia ajudaria o desenvolvimento e,
portanto, deve ser encarada como seu pré-requisito. No entanto, como ar-
gumenta Chang (2002, p. 72), a democracia pode ser um resultado, não
uma pré-condição de processos de desenvolvimento.
Boa burocracia. Embora não existam dúvidas sobre a necessidade de uma
burocracia eficaz, o que seria considerado bom pode ser objeto de disputa.
Durante parte significativa do século passado esse conceito significou me-
ritocracia e carreiras generalistas e de longo prazo. Em contraposição, a
literatura de ‘New Public Management’ propõe relações de curto prazo,
carreiras específicas, incentivos monetários, em um estilo de administração
próximo ao do setor privado.
Poder judiciário independente.
Pós-Universo 15
Então, são muitos os motivos para que as organizações empresariais atuem me-
diante boas práticas sintetizadas pelo termo compliance, a significar nesse caso, a
aderência completa à lei e à ética empresarial, não apenas no âmbito interno da
empresa, mas nas suas condutas voltadas para o universo externo formado por
concorrentes, consumidores e demais partícipes do “tecido social” que possam ser
afetados. Inclusive, vários são os doutrinadores que vão além e chegam a ressaltar a
vinculação do poder público e dos particulares às normas instituidoras de direitos e
garantias fundamentais (reconhecida como eficácia dos direitos fundamentais nas
relações privadas).
Ao examinar esse tema e conclamar mais estudo (enfrentamento do tema) por
parte da doutrina nacional, o constitucionalista Sarlet (2012, p. 383), em obra con-
sagrada pela doutrina nacional, refere como comumente utilizadas as designações
“eficácia privada”, “eficácia externa” (ou “eficácia em relação a terceiros”) ou “horizontal”
dos direitos fundamentais e assevera que “para além de vincularem todos os poderes
públicos, os direitos fundamentais exercem sua eficácia vinculante também na esfera
jurídico privada, isto é, no âmbito das relações jurídicas entre particulares”.
Este posicionamento está conforme com o previsto no § 1º, do Art. 5º, da
Constituição Federal (1988, on-line), e por si só estabelece limites para o exercício
da autonomia privada, incluindo o que é pertinente à organização e consecução das
atividades empresariais. Inicialmente, foi por conta de respeito aos direitos trabalhistas
que a questão relacionada à eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas
adentrou a seara empresarial. Objetivamente, a gestão de uma empresa não pode,
por exemplo, sujeitar os obreiros à condição análoga de escravo.
Acrescente-se, entretanto, que o rol de direitos fundamentais é extenso, de modo
que a estrutura das empresas, sua gestão e práticas de governança corporativa ex-
pandem consequências que podem refletir em muitas outras áreas que vão além
das relações de trabalho e emprego e incluem questões relacionadas aos fornece-
dores, aos consumidores, aos concorrentes e até com determinadas comunidades,
por exemplo, quando a empresa causa dano ambiental etc. As empresas contratam
entre si e interagem no mercado, assim como mantêm e influenciam enorme quan-
tidade de outras questões da realidade cotidiana, fazendo-se imperioso haver um
padrão ético em suas condutas, tudo sempre em prol dos valores estabelecidos pri-
mordialmente em nossa Carta Magna.
Pós-Universo 17
Até com certo tom de advertência, Steinmetz (2004, p. 23-24) menciona a razão
(os fundamentos) para que os direitos fundamentais individuais, sociais, transindivi-
duais e de outros tipos tenham de ser respeitados nas relações sociais, ressaltando
que:
““
Adotam-se como premissas três ‘ideias-força’: (i) a Constituição, especifica-
mente a CF, é uma estrutura normativa básica – uma Lei Fundamental – do
Estado e da sociedade. Assim, o princípio da supremacia constitucional –
também denominado princípio da constitucionalidade – se projeta não
somente sobre as relações intra-estatais e as relações verticais indivíduo-Es-
tado, mas também sobre relevantes âmbitos materiais da vida social, nos
quais os particulares mantém relações intersubjetivas de interação (coorde-
nação, cooperação e conflito); (ii) a dignidade da pessoa humana é princípio
jurídico- constitucional e valor ético fundante e fundamental da República
Federativa do Brasil (CF, art. 1º, III); (iii) os direitos fundamentais, na República
Federativa do Brasil, ocupam posição referencial (CF, art. 5º, § 1º, e art. 60, §
4º, IV) e, por força dessa preferencialidade, devem ser tomados a sério.
Portanto, trata-se de algo inafastável, inclusive, nas relações negociais, embora seja
uma temática relativamente nova no Direito brasileiro e passível de constatar algumas
dificuldades (mas não vedações) que são percebidos nessa problemática, dificuldades
estas apontadas pelo consagrado constitucionalista Jorge Miranda (apud SOMBRA
2011, p. 37), a importância do respeito aos direitos e garantias fundamentais elencados
no Título II da Constituição Federal vai além do prescrito no Artigo 5º do texto cons-
titucional, inclusive, se espraiando por vários outros dispositivos da nossa Lei Maior.
Então, constata-se uma ordem objetiva de valores direcionada para o respeito aos
direitos fundamentais, tal como explicita Duque (2013, p. 58-59), quando doutrina:
18 Pós-Universo
““
O simples reconhecimento de uma meta desejável do ponto de vista po-
lítico-social não significa, por si só, já a elaboração de um correspondente
preceito jurídico de caráter vinculante. Todavia, quando esse reconhecimen-
to é extraído da constituição, passa a ter incontestável valor jurídico. Isso se
deve ao fato de que os direitos fundamentais proclamam uma determinada
cultura e um sistema de valores, que deve ser o sentido da vida estatal ex-
pressa na constituição. Assim, o reconhecimento de uma meta com amparo
constitucional pode servir como fundamento para a interpretação de leis, atos
administrativos e até mesmo de negócios privados, pois na dúvida pode-se
tomar como hipótese que esse reconhecimento insere-se no sistema de
valores geral aceito pela coletividade. Esse mesmo reconhecimento pode,
em determinadas circunstâncias, servir como último limite à liberdade con-
tratual, no sentido de cláusula geral de bons costumes.
INTER-RELAÇÃO ENTRE
DIREITO EMPRESARIAL
E O DESENVOLVIMENTO
VOLTADO À PRIORIZAÇÃO
DO SER HUMANO
20 Pós-Universo
““
As novas normas não podem engessar a economia e seus empresários.
Todavia, se o novo Código Civil de 2002 revolucionou o direito privado bra-
sileiro, unificando o direito das obrigações, e definiu empresário (art. 966), a
sociedade empresária (art. 982) e o estabelecimento comercial (art. 1.142),
não definiu – assim como também não o fez o Código Civil italiano de 1942
– o elemento unificador: a empresa, matéria confiada a doutrina. Do domínio
deste elemento unificador depende a própria compreensão sobre a aplica-
ção da nova lei e seus conflitos ou diálogos, com as leis especiais anteriores.
Em resumo, o Código Civil de 2002 é um código para as relações entre iguais,
relações entre civis e relações entre empresários, ambas agora pontuadas
pelas diretrizes da ‘eticidade, socialidade e operabilidade’ e dominadas pelo
princípio da boa-fé nas relações obrigacionais.
saiba mais
Quem pesquisar a respeito, poderá encontrar destacadas concepções ela-
boradas por reconhecidos doutrinadores como Hans Kelsen, John Rawls,
Paul Ricoeur, Norberto Bobbio, Miguel Reale, dentre outros, mas sem que
exista unanimidade suficiente para estabelecer, majoritária e definitivamen-
te, o que seja “direito”.
Fonte: os autores.
Pós-Universo 23
São muitas as dificuldades em conceituar o que seja “direito” e o que seja “desen-
volvimento”, no entanto, pode-se encontrar substanciosa doutrina que estampa
caracterização a partir das formas pelas quais, na prática, eles podem ser constata-
dos, em suas características, efeitos e consequências.
O economista Paulo Sandroni, que em seu conceituado “Dicionário de Economia
do Século XXI” não apresenta de modo isolado, a definição ou a conceituação do
termo “desenvolvimento”, optou por abordar como verbetes: “desenvolvimentismo”,
“desenvolvimento autônomo”, “desenvolvimento econômico” e “desenvolvimento
sustentável” (SANDRONI, 2005, p. 242). Foi nesse contexto que, ao tratar do “de-
senvolvimento econômico”, chegou à conclusão de que se trata de “crescimento
econômico” (aumento do Produto Nacional Bruto per capita) acompanhado da me-
lhoria do padrão de vida da população e por alterações fundamentais na estrutura
de sua economia” (SANDRONI, 2005, p. 242). Mais à frente, afastando-se um tanto do
estritamente econômico e adentrando elementos também relacionados ao social,
Sandroni (2005) advertiu que:
““
A organização das Nações Unidas usa os seguintes indicadores para classi-
ficar os países segundo o grau de desenvolvimento: índice de mortalidade
infantil, expectativa de vida média, grau de dependência econômica externa,
nível de industrialização, potencial científico e tecnológico, grau de alfabeti-
zação, instrução e condições sanitárias (SANDRONI, 2005, p. 242-243).
Vê-se, nestes critérios adotados pela ONU, que as empresas têm papel relevante,
principalmente quando estão envolvidas nas questões relacionadas ao nível de in-
dustrialização, ao potencial científico e tecnológico, ao grau de dependência externa
(no sentido de que o país depende de suas empresas para não ter que importar tudo
o que precisa) e porque não dizer, até no que se relaciona com a expectativa de vida
média das pessoas, pois ela não deixa de depender também do respeito que as em-
presas concedem à proteção do meio ambiente, incluindo a segurança e sanidade
presente nas condições de trabalho que proporcionam para seus empregados.
Em obra francesa reconhecida internacionalmente e traduzida para o portu-
guês (de Portugal), os professores Bremond e Gélédan (1988), ao dissertarem sobre
o desenvolvimento como processo e como resultado, de modo um tanto asse-
melhado, valem-se de outro prestigiado doutrinador e afirmam:
24 Pós-Universo
““
Para F. Perroux, ‘o desenvolvimento é a combinação das mudanças mentais
e sociais que tornam uma população apta a fazer crescer, cumulativa e du-
radouramente, o seu produto real e global’ (L’économie du XX siècle, PUF).
O desenvolvimento é, em suma, um feixe de transformações que modifica
comportamentos, integra os progressos do conhecimento, melhora as qua-
lificações e o saber-fazer industrial, modifica as antecipações no sentido de
acumulação (BREMOND; GÉLÉDAN, 1988, p. 340).
““
O resgate da temática do desenvolvimento implica utilizar uma aborda-
gem identificada com a economia política do desenvolvimento. Isto impõe
aceitar a multidisciplinariedade do tema, o que demanda reconhecer suas
facetas econômicas, políticas, institucionais, sociais e culturais, como também
entendê-lo como processo historicamente determinado. Isto porque ‘desen-
volvimento é o resultado de um processo político cultural, que não se resume
à manipulação de variáveis econômicas’.
Tem-se, então, um cenário no qual cada vez mais se assentam os postulados de que a
mera geração e acumulação de riqueza (ou capital) não significam verdadeiramente
desenvolvimento, visto que este deve estar intrinsecamente vinculado ao bem-es-
tar dos seres humanos afetados, incluindo, em especial, a proteção da dignidade e
cidadania deles.
Pós-Universo 25
saiba mais
A respeito, recomenda-se consultar:
No que tange às correntes clássicas da economia, veja-se em Hugon (1984,
p. 30-40) “História das doutrinas econômicas”. A referida obra, com grande
reconhecimento a ponto de ser reeditada dezenas de vezes e que, por
décadas, costumava ser livro texto em muitas escolas de economia, inclu-
sive, até alguns anos após o falecimento de seu autor, ocorrido em 1973.
E no que tange ao desenvolvimento, consulte-se Brue, Stanley L., “História
do pensamento econômico” (tradução Luciana Penteado Miquelino), São
Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.
Fonte: os autores.
reflita
Observando a relação de países que ostentam a condição de possuírem
PIB entre os 20 maiores do mundo, veja e compare quantos deles, efetiva-
mente, proporcionam qualidade de vida para a população, considerado o
Índice de Desenvolvimento Humano, renda per capita, nível educacional,
condições de saúde e outros fatores.
26 Pós-Universo
““
O desenvolvimento, distinto do crescimento econômico, cumpre esse re-
quisito, na medida em que os objetivos do desenvolvimento vão além da
mera multiplicação da riqueza material. O crescimento é uma condição ne-
cessária, mas de forma alguma suficiente (muito menos é um objetivo em
si mesmo), para se alcançar a meta de uma vida melhor, mais feliz e mais
completa. No contexto histórico em que surgiu, a ideia de desenvolvimen-
to implica a expiação e a reparação de desigualdades passadas, criando
uma conexão capaz de preencher o abismo civilizatório entre as antigas
nações metropolitanas e a sua antiga periferia colonial, entre as minorias
ricas modernizadas e a maioria atrasada e exausta de trabalhadores pobres.
O desenvolvimento traz consigo a promessa de tudo – a modernidade in-
clusiva propiciada pela mudança estrutural. 2. Outra maneira de encarar o
desenvolvimento consiste em reconceituá-lo em termos de apropriação
efetiva de três gerações de direitos humanos:
* direitos políticos, civis e cívicos;
* direitos econômicos, sociais e culturais, entre eles o direito ao trabalho
digno, criticamente importante, por motivos intrínsecos e instrumentais;
* direitos coletivos ao meio ambiente e ao desenvolvimento (Sem, 1999;
Sengupta, 2001 e 2002).
Igualdade, equidade e solidariedade estão, por assim dizer, embutidas no
conceito de desenvolvimento, com consequências de longo alcance para
que o pensamento econômico sobre o desenvolvimento se diferencie do
economicismo redutor.
Pós-Universo 27
Segundo a referida obra, a sintonia fina de que fala o citado doutrinador, tida como
elemento basilar para o desenvolvimento sustentável, transparece ser representada
por pilares de endogeneidade (oposta ao crescimento mimético) que consistem em:
- autoconfiança (oposta à dependência), orientação por necessidades (em
oposição à orientação pelo mercado), harmonia com a natureza e abertura
à mudança institucional.
A questão, neste caso, é que: - a dependência subjuga e limita a eliminação de
desigualdades e a melhora para os menos favorecidos; - a orientação pelos estritos
interesses do mercado, quando estes não são pautados pela ética, desconsidera a
importância e normalmente produz prejuízos no tocante aos aspectos humanos
envolvidos; - que o avanço sem preservação da natureza conduz para degrada-
ção do meio ambiente, fator que inviabiliza melhoras futuras e fatalmente atingirá
muitas pessoas; - e que, sem mudança institucional, não se consegue gerar condu-
tas proativas e dessa forma alterar positivamente a conjuntura rumo ao verdadeiro
desenvolvimento (SACHS, 2008).
28 Pós-Universo
Então, a empresa na qual existe esta consciência concentra esforços para valori-
zar (acrescer valor) ao trabalho humano, tendo como limite a viabilidade empresarial.
Não se trata de comprar pelo mínimo a força de trabalho, mas de, pelo máximo
possível, conquistar para ter o trabalho humano ao seu lado, como parceiro contra-
tual e aliado no processo empresarial. Esta postura ora descrita, não vem se alinhar
às concepções ideológicas propugnadas por Karl Marx e Friedrich Engels, mas sim,
alinha-se às medidas de inteligência direcionadas para fazer funcionar mais eficien-
temente e com melhores resultados aquelas empresas que atuam em ambiente
democrático liberal, como o brasileiro. Percebe-se que as empresas eleitas como
as melhores para se trabalhar nem por isso costumam ser as que enfrentam dificul-
dades econômico-financeiras, enquanto aquelas que são piores classificadas neste
ranking, principalmente devido à alta rotatividade de funcionários, reconhecidamen-
te, perdem muito em termos de produtividade. Por isso, na estrutura da empresa,
dentre outros elementos, uma governança corporativa que leva em conta esta visão
revela-se importantíssima.
Por sua vez, a livre iniciativa deve dar vazão à criatividade, ao empreendedoris-
mo e à profissionalidade, funcionando como propulsora da atividade empresarial,
sendo indispensável, para isso, que seja incentivada, protegida e preservada, pois o
Estado não é suficiente e eficiente para prover tudo o que a sociedade precisa. No
texto constitucional, fica explícito que os valores sociais do trabalho e da livre inicia-
tiva devem condizer com o asseguramento do direito ao exercício da cidadania e o
respeito à dignidade da pessoa humana.
Portanto, as normas de Direito Empresarial devem estar predispostas para incen-
tivar e propiciar apoio ao desenvolvimento nacional (um dos objetivos da República),
mas esse desenvolvimento deve ser “humanizado” na medida em que se está em
busca de construir uma sociedade livre, justa e solidária, capaz de reduzir (em nosso
ideal: eliminar) a pobreza, a marginalização, as discriminações nas quais o discrímen
seja injustificado e as desigualdades provenham de relações injustas.
32 Pós-Universo
2. Saramago (2004, quando, em sua obra “Ensaios sobre a lucidez”, refere-se ao que
entende como “ilusão do mundo democrático” e diz: “Os governos que elegemos, no
fundo, são correias de transmissão das decisões e das necessidades do poder eco-
nômico”. Na sua visão, quem exerce maior poder atualmente?
a) O Estado nacional.
b) O mercado dominado pelas empresas transnacionais.
c) Os blocos econômicos, como a União Europeia, o Mercosul e o Nafta.
d) A população pelo voto.
e) Os investidores e especuladores nacionais e internacionais.
3. Para assegurar equilíbrio e justiça no mercado, em sua opinião, revela-se mais ade-
quada e eficiente a utilização simplesmente de:
Caro(a) aluno(a), como pudemos observar, o direito ao desenvolvimento é ínsito à ordem mundial
e pertencente a cada nação. Sua concepção, entretanto, supera o nível elementar de crescimento
econômico enquanto simples geração e acumulação de riqueza para incluir, também, a humani-
zação das atividades econômicas, ou seja, os seres humanos serem realmente beneficiados por
este processo.
Embora haja dificuldades em estabelecer o que é igualdade, o sistema deve laborar para isso,
inclusive, no contexto empresarial. Há necessidade de uma espécie de justiça distributiva im-
pregnando o sistema e sua operacionalização, segundo o direito pátrio, o que deve acontecer
pelo cumprimento dos princípios constantes, principalmente, nos artigos 1º e 3º da Constituição
Federal e nos subprincípios elencados no art. 170, também do texto constitucional (naturalmen-
te contando com a aplicação dos direitos e garantias fundamentais e, assim, também com os
demais dispositivos da ordem econômica).
Neste contexto, cabe destaque para a valorização do trabalho humano e para a livre iniciativa,
intimamente ligadas à atividade empresarial e aliadas com o fim de assegurar existência digna e
conforme os ditames da justiça social. Objetivamente, portanto, trata-se de, nos termos da escala
de valores estabelecida pela Lei Maior, colocar as atividades econômicas, em especial, as em-
presariais a serviço do ideal de realizar um processo de inclusão e, com busca do desiderato da
igualdade, de humanização das atividades econômicas e de valorização das pessoas.
material complementar
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: < http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 23 out. 2018.
BREMOND, J.; GÉLÉDAN, A. Dicionário Económico Social. Trad. Henrique Barros, Lisboa: Livros
Horizonte Ltda., 1988.
BRUE, S. L. História do pensamento econômico. Trad. Luciana Penteado Miquelino. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2005.
HUGON, P. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Editora Atlas, 1984.
MARQUE, C. L.; MIRAGEM, B. O novo direito privado e a proteção dos vulneráveis. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2012.
SARLET, I. W. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamen-
tais na perspectiva constitucional. 11. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012.
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SURASKY, J. L. La piedad de Caín: la lucha contra la pobreza em el marco de los objetivos de de-
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referências
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REFERÊNCIA ON-LINE
Em: <http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/encyclicals/documents/hf_p-vi_enc_26031967_
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