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INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO –

RESENHA

Disciplina: Governança e Regulação das Águas


Professor Dr. José das Dores de Sá Rocha
Klyciane Kellen Soares Silva
Discente do Programa em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos
Klyciane.ks@gmail.com

É sabido por todos nós que a sociedade em que vivemos atualmente não foi
sempre da forma como conhecemos. Para se construir o que é hoje, a sociedade passou
por um longo período de desenvolvimento, o qual foi moldado por diversos fatores
políticos, econômicos e sociais.
O livro “Introdução às Teorias de Desenvolvimento” organizado por Paulo
André Niederle e Guilherme Francisco Waterloo Radomsky busca então fazer um
aglomerado das teorias que explicam o processo de desenvolvimento da sociedade e da
forma como ela agiu frente às consequências deixadas após a Segunda Guerra Mundial,
de acordo com a perspectiva de diversos pensadores da área e com foco na situação
econômica de cada país.
O primeiro pensador abordado no livro é o economista americano Walt
Whitman Rostow, que apresenta uma alternativa à teoria marxista sobre os rumos da
história, levando em consideração que cada economia se desenvolve em etapas, fases
que um país precisa atravessar para atingir o desenvolvimento econômico. Para o
economista, existem 5 etapas do desenvolvimento econômico: sociedade tradicional, as
precondições para o arranco ou a decolagem, o arranco, a marca para maturidade e a era
do consumo em massa. Rostow acredita que quando se impulsiona o desenvolvimento
para os países subdesenvolvidos, as economias que são consideradas desenvolvidas
podem, além de expandir suas ideias capitalistas, auxiliar os demais países com auxilio
técnico e empréstimos (CONCEIÇÃO, et. al., 2016).
O autor teve sua teoria bastante criticada, visto que o mesmo acreditava que os
países subdesenvolvidos deveriam seguir a mesma trajetória do processo de
desenvolvimento dos países desenvolvidos, sem considerar as diferenças nos processos
históricos de crescimento econômico e progresso industrial.
Outro economista abordado no livro é o austríaco Joseph Schumpeter, que tem
como traço inovações radicais e abruptas de suas ideias ao longo do tempo. Para
Schumpeter, o aspecto fundamental do desenvolvimento econômico diz respeito ao
processo de inovação e às suas consequências na organização dos sistemas produtivos.
Desta forma, enquanto novos processos e produtos forem introduzidos, a economia
estará em crescimento (PIVOTO, et. al., 2016) Por outra via, Schumpeter diferencia
crescimento e desenvolvimento. Enquanto o crescimento é um resultado de incrementos
cumulativos e quantitativos, o desenvolvimento é uma mudança qualitativa na forma de
organização desse sistema.
Quanto aos processos de inovação, o autor cria o termo “destruição criativa”,
que segundo o mesmo trata da destruição de condições de produção anteriores em
função de novas condições. Para Schumpeter, as inovações catalizadoras deste processo
são: novos produtos, novos métodos de produção, abertura de novos mercados, novas
fontes de matérias-primas, e novas estruturas organizacionais (PIVOTO, et. al., 2016)
Celso Furtado foi um economista brasileiro importante no cenário econômico
latino-americano. O economista, integrante da Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe (CEPAL), entende que o subdesenvolvimento é uma condição
estrutural dos países pouco industrializados, uma vez que nesses países os padrões de
consumo não suscitam em métodos de produção eficazes (CASSOL, 2016). Uma das
constatações relevantes também feitas pelo autor, é o teor cultural no processo de
desenvolvimento econômico. Para ele, não há desenvolvimento sem mudança no âmbito
dos valores e da cultura (CASSOL, 2016).
No que se diz respeito às questões sociais, Albert Hirschman surge preocupado
com a equidade social e inicia um debate acerca do tema. O economista atribui ao
estado a função de coordenar o desenvolvimento visando que a busca pela equidade
social seja um componente indissociável deste processo. Desta forma, Hirschman
acredita que o crescimento econômico seja o criador de desigualdades e é preciso que o
Estado faça escolhas para favorecer os menos favorecidos. Para ele, é necessário ao
desenvolvimento econômico que este tenha bons governos que por sua vez, sejam
cercados por boas pressões sociais e um ambiente democrático propício ao diálogo e à
concertação (NIEDERLE, et. al., 2016)
Atrelado às questões sociais, o economista indiano Amartya Sen iniciou o
debate sobre desigualdade social e pobreza, incluindo a diversidade humana em suas
teorias. O discurso de Sen questiona as concepções de desenvolvimento voltadas apenas
ao crescimento do Poder Interno Bruto (PIB) e aumento de rendas pessoais, bem como
qualquer outra avaliação que tenha como critério único indicadores monetários
(FREITAS, et. al., 2016).
Para Sen, o desenvolvimento só pode ser alcançado quando os indivíduos
dispõem dos “meios” pelos quais podem realizar os “fins” que almejam, ultrapassando
obstáculos impostos a ele que o restringe da liberdade de escolha. Sen diz que os
benefícios do crescimento ampliam as capacidades humanas e quando se há a expansão
destas capacidades, as pessoas tem a liberdade de escolha para alcançar a vida que
almeja. Por fim, entende-se que o desenvolvimento econômico é estimulado quando as
pessoas deixam de ter suas capacidades privadas (FREITAS, et. al., 2016).
A segunda parte do livro envolve as teorias e os conceitos que permeiam o
desenvolvimento econômico. No capitulo 6, Niederle (2016) trata do desenvolvimento,
teoria evolucionária e mudança inconstitucional. Os autores apresentam, em suma, a
teoria evolucionária e afirmam que não existe um consenso final sobre o seu
significado. Entretanto, os autores destacam uma distinção marcante da teoria
evolucionária em relação às demais: o uso das relações biológicas como metáforas para
o desenvolvimento econômico. Nesta perspectiva, a seleção é realiza em vistas da
concorrência dos mercados e a sobrevivência das empresas e países está ligada
diretamente à sua capacidade de inovação afim de se adequarem as novas condições do
ambiente concorrencial.
Toda via, há a virada institucionalista onde as instituições definem o formato, a
fronteira e o comportamento das empresas, das nações e de qualquer outro agrupamento
humano (NIEDERLE, 2016).
Já no capítulo 7 do livro em questão, é aberto um debate sobre o papel do
Estado no processo de desenvolvimento, o qual é concluído afirmando, conforme Chang
(2010), não existe uma fórmula concreta para criar um Estado desenvolvimentista em
termos organizacionais, tendo em vista as diferenças entre os países no que se refere ao
seu contexto político, ideológico e econômico. É feito também uma comparação entre o
“velho” e o novo desenvolvimentismo, onde a principal falha verificada no novo
desenvolvimentismo é a vertente ambiental (NIEDERLE, et. al., 2016).
No que se segue, os atores discutem acerca do pós-desenvolvimento,
denominando-o como “um ponto de vista que lança um olhar cético sobre a história do
desenvolvimento e seus efeitos sociais”. Os autores afirmam que os diferentes caminhos
tomados pelo desenvolvimento, como desenvolvimento sustentável, local ou territorial,
etc, contribuem para a crença que cada nova ideia equivale a uma concepção original e
diferente daquelas vistas anteriormente. Nesta perspectiva, tem-se que o
desenvolvimento hoje é compreendido como uma crença social, visto sempre como algo
bom e não questionado sobre as consequências deixadas por ele. Em conclusão, Freitas
et. al. (2016), diz que os autores do pós-desenvolvimento não estão em busca de
desenvolvimentos alternativos, mas sim de alternativas ao desenvolvimento.
O desenvolvimento sustentável é mais uma das vertentes discutidas no livro.
No decorrer deste capitulo o autor apresenta o pontapé da discussão como a percepção
da finitude dos recursos ambientais e as consequências deixadas pelo modelo de
desenvolvimento vigente. Diante disto, surgiu a necessidade de classificar o
desenvolvimento impondo o pensamento e o debate acerca do futuro da humanidade.
Tendo em vista todo o contexto histórico do desenvolvimento do termo
“desenvolvimento ambiental” e dos conceitos que o permeiam, o autor destacou que a
discussão de divide em dois focos distintos, sendo eles: a diminuição do uso de
matérias-primas e a busca por alternativas menos impactantes e o pensamento de
desenvolvimento ambiental atrelado aos demais domínios como o econômico, o
jurídico, o político, o social, etc (VARGAS, et. al., 2016).
Por fim, tem-se o desenvolvimento rural. O desenvolvimento rural é tratado em
diferentes visões. Na primeira, tem-se o desenvolvimento agrícola, pautado produção
agropecuária: área plantada, produtividade, mão de obra, etc. Em sequência, tem-se o
desenvolvimento agrário, onde é debatido as relações do mundo rural com a sociedade
em todas as suas dimensões. No desenvolvimento agrário é desejado a modernização da
agricultura a partir de incrementos na produção e na produtiva a fim de que o rural
possa acompanhar o desenvolvimento urbano-industrial. Por fim, tem-se a noção de
desenvolvimento territorial, o qual conclui que o território constitui a unidade sobre a
qual se assenta a ação de desenvolvimento.
Posto isso, o livro “Introdução ao Desenvolvimento” traz uma visão ampla e
detalhada dos processos do desenvolvimento econômico e o que foi instituído a partir
dele como ideias e teorias para o desenvolvimento. Conclui-se que todo pensamento e
toda teoria escrita até hoje serve como referência para novos processos entretanto, cada
um destes tem suas ressalvas e antes de serem aplicadas devem ser considerados todos
os aspectos e contexto histórico e social de um país ou de uma organização.

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