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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO
TRÓPICO ÚMIDO

LUCAS FELIPE SARDINHA DE SOUSA

FICHAMENTO 01:
TEXTO 01 – ECONOMIA POLÍTICA E DESENVOLVIMENTO

Fichamento solicitado como parte do requisito


avaliativo à disciplina Planejamento Regional e
Urbano, tendo como ministrante o Prof. Dr. Fábio
Fonseca de Castro.

Belém-PA
2023
1. REFERÊNCIA DO TEXTO

CARVALHO, J. G. Economia política e desenvolvimento. Um debate teórico. São Carlos:


Ufscar, 2017, capítulos 1 e 2. (p. 15-34). Lido em 23/03/2023. Fichado em: 06/04/2023.

2. SÍNTESE DO TEXTO

O capítulo 1, intitulado “Desenvolvimento: perguntas fundamentais e problemas


essenciais”, é dedicado à reflexão sobre o desenvolvimento na perspectiva da análise
econômica, dissociando-o da exclusividade às ideias de “progresso material” e “crescimento”,
de modo que o autor contempla o desenvolvimento enquanto um processo mais abrangente –
que, apesar disso, inclui as ideais mencionadas. Tal visão é proporcionada pela compreensão
do desenvolvimento enquanto um processo, e também enquanto um campo polissêmico que
abarca distintas conceituações e reúne, em seu escopo, distintos elementos, para além da
economia – em especial os de cunho social.
Para reforçar a análise proposta no capítulo 1, o autor elabora sobre os conceitos de
crescimento e desenvolvimento, focando especificamente nas distinções entre ambos, uma
vez que o desenvolvimento econômico, segundo o autor, é comumente visto como
“crescimento econômico associado ao aumento da qualidade de vida das pessoas” (p. 16). No
entanto, o autor demonstra que o crescimento diz respeito ao aumento da riqueza material de
uma sociedade, somente, não tendo necessariamente a melhoria na qualidade de vida das
pessoas como resultado direto, como indicam os dados do Banco Mundial e FMI apresentados
no texto. Por outro lado, o desenvolvimento assume a dimensão referente ao bem-estar da
população, e que diferentemente do crescimento, ainda não teria encontrado um meio
adequado pelo qual possa ser mensurado – apesar de existirem tentativas, tais quais o IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano), que não conseguem contemplar toda a complexidade
do conceito. Os conceitos, no entanto, não são completamente indissociáveis, uma vez que o
desenvolvimento também depende do crescimento material, porém não apenas dele, mas
também do aumento da autonomia dos indivíduos, entre outros elementos.
O autor finaliza o trecho discorrendo a respeito das motivações que circundam o
desenvolvimento, citando que é um movimento intencional que ocorre em meio à constatação
das desigualdades sociais e econômicas no seio do capitalismo, devendo, portanto, ser
ponderadas as forças sociais inscritas nesse processo e o papel do Estado nele – tida pelo
autor como fundamental à mediação e à amenização das desigualdades. Neste contexto, o
autor pontua os processos de desenvolvimento no Brasil, mediados pelo Estado, a partir de
um nacional-desenvolvimentismo voltado a atender a interesses capitalistas e que teve como
consequência a produção de maiores desigualdades socioeconômicas, na contramão do
acúmulo material proporcionado pela industrialização do país.
O segundo capítulo, intitulado “Desenvolvimento econômico em perspectiva histórica:
contribuições da economia política” é dedicado à elaboração de um panorama histórico do
desenvolvimento na teoria econômica, especificamente desde as proposições clássicas –
orientadas à associação direta com o conceito de “progresso” -, a teoria da modernização e a
teoria das etapas do crescimento, além das críticas estabelecidas à última, no contexto dos
estudos da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Neste capítulo
existe uma preocupação relativa ao conceito de “subdesenvolvimento”, que desde ser
inicialmente considerado um tópico inexistente na abordagem teórica sobre o
desenvolvimento, passa a ser um elemento preponderante no debate sobre o tema.
O autor dispõe a respeito das contribuições da fisiocracia francesa aos estudos de
economia e crescimento, onde era valorizada uma teoria que seguia na contramão do
mercantilismo incrustado na política e economia entre os séculos XV e XVIII. A seguir, tem
lugar a demonstração das contribuições liberais para o estudo do desenvolvimento, onde tem
destaque a obra de Adam Smith, que explica o desenvolvimento enquanto reflexo direto do
progresso econômico, resultante da intensa divisão do trabalho e aumento da produtividade,
sem intervenção do Estado na economia. Além de Smith, CARVALHO destaca a
contribuição de David Ricardo para os estudos da economia política, ainda na linha do
liberalismo, especialmente o modelo de “evolução da renda fundiária”. Os modelos clássicos
tem como característica comum a associação direta entre crescimento, progresso e
desenvolvimento, além de considerarem o desenvolvimento como um processo natural, ao
invés de motivado por interesses. Algumas dessas características repercutiram no pensamento
de ideólogos conservadores, como Walt Whitman Rostow, que estabeleceu o
desenvolvimento enquanto meta viável a todos os países, seguindo determinadas etapas bem
definidas, entre as quais está situada a do “subdesenvolvimento”, o que suscita críticas por
parte do autor do texto.
Contrapondo as visões clássicas, liberais e conservadoras, o autor encerra o segundo
capítulo direcionando a análise às visões teóricas da Cepal, que contemplam a existência das
desigualdades no desenvolvimento econômico de distintas sociedades em relação a outras,
consideradas “desenvolvidas”. Às primeiras sociedades mencionadas é que o autor direciona
o status de “subdesenvolvidas”. As elaborações da Cepal também se orientam à defesa do
Estado enquanto mediador do processo de desenvolvimento, de modo que o crescimento
econômico também esteja vinculado ao avanço social, o que também só pode ocorrer
mediante a valorização das questões endógenas (históricas, sociais etc.) de cada país. O
subdesenvolvimento, para a Cepal, é um processo resultante das lógicas de produção do
sistema capitalista, de acordo com as quais alguns países conseguem se beneficiar melhor que
outros, seja na assimilação de tecnologias ou nos reflexos da economia sobre a qualidade de
vida da população.

3. CITAÇÕES INTERESSANTES

1. “[...] o desenvolvimento precisa ser entendido como um processo. Devemos buscar o seu
sentido partindo da premissa que existe um grau elevado de complexidade que, ao mesmo
tempo em que exige um rigor científico maior, exige também o abandono de réguas
cartesianas que se proponham a medir esta complexidade.” (p. 15);

2. “[...] os processos de desenvolvimento e crescimento são processos distintos que devem ser
combinados para a melhoria da reprodução social em condições materiais mais avançadas,
ou ainda, em uma abordagem mais recente, que amplie oportunidades diminuindo
privações, sejam elas individuais, coletivas ou sociais.” (p. 16);

3. “[...] o produto de um país pode não ser a medida indicada para mensurar a qualidade de
vida de sua população. Assim, se aceitarmos, como ponto pacífico, a incapacidade do
crescimento em ser medida de qualidade de vida, um quantum significativo de crescimento
de riqueza em uma dada economia não significa um país sem pobreza, desnutrição e
ausência de serviços básicos de saúde e educação, pois não há uma passagem automática
entre o crescimento econômico e a melhora das condições objetivas da vida das pessoas.”
(p. 18);

4. “[...] o conceito de desenvolvimento econômico não está pacificado, entretanto, há uma


convergência teórica em pressupô-lo a partir do: i) crescimento sustentado da economia; ii)
avanços tecnológicos e aumento da produtividade do trabalho; iii) democracia e
fortalecimento político e institucional e, entre outros fatores, iv) melhora generalizada no
padrão de vida da população.” (p. 23);

5. “A partir das contribuições seminais de Furtado, um ponto sobre o processo de


desenvolvimento se torna nevrálgico: ele não é uma cristalização socioeconômica a-
histórica, ele não é linear e nem cartesiano ou, em outras palavras, não é obra do acaso. É
resultado de um longo processo de transformações que, em geral, passa a ser analisado a
partir da constatação do elevado – e crescente – padrão desigual de crescimento
internacional, inerente ao capitalismo.” (p. 24);

6. “[...] nas entrelinhas do pensamento econômico, o subdesenvolvimento, que de início,


inexistia enquanto preocupação teórica, passa a ser considerado, entretanto, como uma
etapa ou fase do desenvolvimento para, depois das contribuições cepalinas, ser considerado
consequência deste.” (p. 26);
7. “O subdesenvolvimento é um desequilíbrio na assimilação dos avanços tecnológicos
produzidos. Nele reside, segundo Furtado (1992) uma desarticulação entre o processo de
produção, acumulação e consumo, portanto, um país moderno não é necessariamente
desenvolvido. Em função disto que países subdesenvolvidos, marcados notadamente por
economias desprovidas de ações estatais coordenadas que primem por políticas
econômicas que enfrentem o atraso socioeconômico, se mostram ineficientes na alocação
de recursos para geração de renda e riqueza nacional que possam ser apropriadas
amplamente por sua sociedade. Desnecessário dizer que o Brasil é um bom exemplo.” (p.
34);

4. REFERÊNCIAS INTERESSANTES

ARAÚJO, T. B. Por uma política nacional de desenvolvimento regional. In: Revista


Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 30, n. 2, p. 144-161, abr.-jun, 1999.

ARAÚJO, T. B. Por uma política nacional de desenvolvimento regional. In: Revista


Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 30, n. 2, p. 144-161, abr.-jun, 1999.

BRESSER-PEREIRA, L. C. Da macroeconomia clássica à keynesianas. Versão corrigida em


1974 de apostila publicada originalmente em 1968. São Paulo, abril de 1968. Revisado em
maio de 1976. Disponível em <http://www.bresserpereira.org.br/papers/1968/68-
98DaMacroclassicaAKeynesiana.apostila.pdf>. Acesso em 07.jan.2016.

BUARQUE, S. C. Construindo o desenvolvimento local sustentável: metodologia de


planejamento. Ed. Garamond, Rio de Janeiro, 2002.

CARCANHOLO, M. D. Dialética do desenvolvimento periférico: dependência,


superexploração da força de trabalho e política econômica. In: Revista de Economia
Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 247-272, maio/ago. 2008

CARCANHOLO, M. D; BARUCO, G. C. A Estratégia Neoliberal de Desenvolvimento


Capitalista: caráter e contradições. Revista Praia Vermelha, Rio de Janeiro, v. 21, p. 9- 23,
jul./dez. 2011.

CARNEIRO, R. Globalização e integração periférica. Texto para Discussão. IE/UNICAMP,


Campinas, n. 126, jul. 2007

FURTADO, C. O subdesenvolvimento revisitado. In: Economia e Sociedade, v. 1, ago. 1992,


p. 5-19.

FURTADO, C. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril Cultural,


1983. (Coleção Os Economistas).

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