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Artigo de reflexão
Resumo
O objetivo central do artigo é refletir sobre a relação entre o espaço geográfico e o desenvolvimento
econômico. Na primeira parte do texto analisa-se o surgimento da dualidade o desenvolvimento e
subdesenvolvimento. Logo se aprofunda nos elementos centrais das reflexões sobre o
desenvolvimento econômico. Como efeito realiza-se críticas aos conceitos de desenvolvimento
convencionais e a ideia de desenvolvimento. A seguir se apresenta o espaço geográfico e o
desenvolvimento econômico: o geodesenvolvimento como proposta. Por último se apresentam
considerações finais na análise conceitual.
Abstract
The main objective of the article is to reflect on the relationship between geographic space and eco -
nomic development. In the first part of the text, the emergence of the duality of development and un-
derdevelopment is analyzed. It soon delves into the central elements of the reflections on economic de-
velopment. As a result, criticisms are made of conventional development concepts and the idea of de -
velopment. The following is the geographical space and economic development: geo-development as a
proposal. To conclude, final considerations are presented in the conceptual analysis.
Resumen
El objetivo central del artículo es reflexionar sobre la relación entre espacio geográfico y desarrollo
económico. En la primera parte del texto se analiza el surgimiento de la dualidad desarrollo y subdesa-
rrollo. Luego se especifican los elementos centrales de las reflexiones sobre desarrollo económico. Co-
mo resultado se realizan críticas a los conceptos de desarrollo convencionales y a la idea misma de de -
sarrollo. Después se presenta la relación entre el espacio geográfico y el desarrollo económico para ob-
tener el concepto de geodesarrollo como propuesta. Por último se presentan consideraciones finales
del análisis conceptual.
INTRODUÇÃO
O período correspondente aos vinte e cinco anos posteriores à última guerra mundial
recebeu diversas adjetivações como, por exemplo, “anos gloriosos” ou “anos de ouro” do
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capitalismo. O que se considera como inegável é o fato de, que, pela primeira vez ao longo
da história europeia, e também no âmbito da sua geografia, a maioria da população de vários
países passou a viver com um padrão de vida material bastante satisfatório, atendendo às
necessidades básicas da quase totalidade da população, até ao ponto que excedentes
crescentes puderam ser desviados para o lazer, a cultura, o turismo, o esporte, a previdência,
entre uma série de outros segmentos não diretamente ligados à sobrevivência mais imediata
da população, como moradia, alimentação, vestuário, higiene e saúde. Portanto, a Europa
Ocidental e, em sequência, outros países do mundo, que foram gradativamente sendo
incorporados a esse mundo ao imitarem o modelo da Europa Ocidental, passaram a fazer parte
do que passou a ser denominado de Primeiro Mundo, diferenciando-se ideologicamente de
um Segundo Mundo, formado pelos países socialistas, mas, em oposição, em termos de
padrão de vida material, ao Terceiro Mundo, formado pelo restante dos países, com padrões
culturais, políticos e econômicos muito diversos, e que podiam ser reunidos em outro mundo,
por apresentarem níveis de pobreza rurais e urbanos bastante significativos, não obstante a
diferença marcante desses níveis no interior do Terceiro Mundo.
Para ressaltar o caráter sui generis do que aconteceu com o continente europeu após a
Segunda Guerra Mundial, é preciso atentar para o número extraordinário de povos de origens
diferenciadas, como saxões, germânicos, eslavos e mediterrâneos que, durante alguns dos
últimos séculos, migraram em direção à América, África e Oceania, fugindo da pobreza, da
fome e da destruição causada por uma sucessão de conflitos e guerras originadas por disputas
econômicas, territoriais, política e religiosas. A Europa manteve o mais antigo ainda padrão
histórico e geográfico dominante em todo mundo, com países organizados à base da
dominação de elites que aproveitavam os recursos escassos em benefício da acumulação de
capitais e, destarte, de poder político, reservando à maioria da população uma vida de carência
material extrema, só possível pelo uso indiscriminado da repressão sustentado no uso
sistemático da violência. Por certo, os excedentes econômicos acumulados durante alguns
séculos formaram a estrutura científica, tecnológica e produtiva que foram mobilizadas
rapidamente na década de 1950 para sustentar o paradigma societal fordista. O capitalismo
industrial avançado dominou a economia mundial extraindo excedentes econômicos de todo
mundo pela internacionalização imperialista, a partir do último quartel do século 19, que
provocou o recrudescimento da concorrência capitalista gerando as guerras mundiais que
abalaram os protagonistas deste capitalismo monopolista na Europa (Lenin, 1987; Dean,
1983).
Nestsa seção do artigo, buscam-se discutir elementos aos quais recorrem, de forma
predominante, os autores que contribuíram para o debate sobre desenvolvimento econômico.
Um dos elementos é a questão do crescimento econômico, quando o crescimento era visto
como o pressuposto do desenvolvimento. Outro elemento é a tentativa de integrar, na
discussão sobre o crescimento econômico, a questão da modernização tecnológica como
motor indispensável desse crescimento, permitindo ainda a criação de um círculo virtuoso
envolvendo ampliação produtiva e de produtividade. O importante é constatar a relação que,
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As crises capitalistas têm impacto geográfico-territorial, porque o espaço não pode ser
desconsiderado como fundamental no próprio desenvolvimento do capitalismo como
processo, pois, como destaca Luiz A. G. Cunha (1998), há uma espacialidade tradicional do
capitalismo que se recrudesce nas crises. Essa espacialidade concretiza-se nas concentrações
espaciais do capital e trabalho, nos desequilíbrios regionais, nas migrações
desterritorializantes, na degradação socioambiental das periferias das cidades, na
modernização predatória do campo, na perda de dinamismo econômico das economias
regionais, entre uma série de outros aspectos próprios à espacialidade tradicional do
capitalismo, que se reproduz de forma sistêmica, na dependência de uma relação
subordinadora entre o mercado capitalista e o espaço geográfico (Cunha L., 1998).
A questão das “soluções abertas” hirschmaniano, de certa forma, também está presente
em Antônio H. G. Cunha, muito embora as preocupações que direcionam o seu trabalho
tenham maior amplitude, pois se referem à cultura civilizatória entendida como “uma
tendência comportamental, psicossocial, que já existe desde que os primeiros encontros
culturais foram montando a civilização” (Cunha, A., 1997, p.98). Portanto, sua preocupação
fundamental é com o “rumo civilizatório”, não apenas com o desenvolvimento econômico.
Todavia, essa preocupação é compatível com a ideia ou noção do desenvolvimento
econômico com um sentido renovado, e este autor consegue, em síntese esclarecedora,
fundamentar de forma mais filosófica do que econômica, e não apenas filosófica, é mais
também antropológica, à qual se junta o afã civilizador que pode ser justo ou ideal para todos
e também não sê-lo, dependendo da perspectiva, mas que mesmo dual, parecendo ambígua,
não o é, e ainda assim se enquadra no princípio tanto das “soluções abertas”, quanto noutro
mais complexo em suas minudências quando afirma que, de certa maneira, sua concepção
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respeito aos direitos humanos, considerando todas as gerações desses direitos que se
acumularam desde o século 18 até os dias atuais (Sachs, 1998). Em paralelo, considera-se que
a referência à possibilidade de uma direção mínima, ao se definir projetos de
desenvolvimento, pode trazer à tona o perigo do etnocentrismo, porque, mesmo se tratando de
direitos humanos, o alerta de Antônio H. G. Cunha (1997) deve ser considerado, pois uma
determinada proposta ligada a uma cultura civilizatória não poderia ser imposta sobre outras
de forma autoritária, portanto não deve “pretender generalizar-se, a não ser apenas a partir dos
canais do cultivo civilizado (...) ela há de cavar seu espaço com toda gradualidade e cautela
disponíveis” (Cunha, A., 1997, p.101).
A perspectiva de pensar o que se propõe centrado numa visão mais ampla e planetária
pode ser talhada e aplicada na proporção de recortes do espaço geográfico em outras escalas
que não apenas a global, as quais são vinculadas à vida concreta das comunidades humanas e
que são àquelas a que classificamos, na Geografia, de Geografia Regional.
Neste artigo, não se objetivou resgatar os debates recentes que se voltam para
perscrutar como se implantou, evoluiu e a que resultados chegaram as políticas territoriais
implementadas nas últimas duas décadas, porque o objetivo se resumiu a como se chegou
àquelas políticas públicas de caráter geodesenvolvimentistas, visando justificar a preocupação
em definir o campo teórico-conceitual que se preocupa em relacionar o desenvolvimento
econômico e o espaço geográfico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Santos, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Editora da
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Vilela, S. L. O. Uma nova espacialidade para o desenvolvimento rural: sobre meio rural,
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