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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
LICENCIATURA EM CIÊNCIA POLÍTICA
CADEIRA: Globalização e Desenvolvimento

Tema: Dimensões da Globalização o Capital e suas Contradições (Giovanni Alves, 2001)

Discente:
Gildo Chau

Docentes: Prof. Doutor Francisco Carlos da Conceição & Lic. Bénet Justina Machava

Maputo, Março de 2022


Dimensões da Globalização o Capital e suas Contradições (Giovanni Alves, 2001)

O livro Dimensões da Globalização de Alves é um resultado teórico-prático de


um percurso de reflexão intelectual buscando compreender, numa perspectiva
dialéctica, um tema: o problema da globalização. O livro está organizado em 3 partes –
a primeira, que dá título ao livro: Dimensões da Globalização; a segunda, Sociologia da
Globalização e a terceira, Globalização e Trabalho.
A primeira parte do livro procura desenvolver uma interpretação original do processo de
globalização, procurando apreender seu carácter dialéctico e amplamente contraditório;
A segunda parte o autor procura reunir alguns ensaios que tratam de abordagens
sociológicas sobre o tema da “globalização”;
E na terceira parte sobre Globalização e Trabalho, Alves traz reflexões sobre a nova
lógica de organização capitalista (só compreensível a partir da mundialização do
capital) e seus impactos na objectividade e subjectividade do mundo do trabalho.

1. Dimensões da Globalização
Segundo Alves a globalização é um fenómeno ou conceito sócio-histórico
intrinsecamente instável, inconstante, contraditório e complexo que caracteriza uma
nova etapa de desenvolvimento do capitalismo moderno.
O fenómeno da globalização é resultado de múltiplas determinações sócio-históricas (e
ideológicas), em três dimensões que não podem ser separadas e que compõem uma
totalidade concreta sócio-histórica, completa e integral. São elas:
a) A globalização como ideologia;
b) A globalização como mundialização do capital;
c) A globalização como processo civilizatório humano-genérico;
Portanto, o fenómeno da globalização tende a constituir novas determinações sócio-
históricas no plano da ideologia e da política; no plano da economia e da sociedade e no
plano do processo civilizatório humano-genérico, vinculado ao desenvolvimento das
forças produtivas humanas.

Porém, as dimensões da globalização são contraditórias entre si, tendo em vista que a
ideologia (e a política) da globalização tende a “ocultar” e legitimar a lógica desigual e
excludente da mundialização do capital e a mundialização do capital tende a
impulsionar, em si, o processo civilizatório humano-genérico, isto é, o desenvolvimento

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das forças produtivas humanas, que são limitadas (ou obstaculizadas) - pelo próprio
conteúdo da mundialização (ser a mundialização do capital).
Assim sendo, qualquer leitura (ou análise) do fenómeno da globalização que não
procure apreender o seu sentido dialéctico e contraditório - tende a ser unilateral, não
sendo capaz de ver o fenómeno da globalização tanto como algo progressivo, quanto
regressivo, tanto como um processo civilizatório, quanto como um avanço da barbárie, e
tanto como a constituição de um “globo” na mesma medida em que tente a contribuir
para a sedimentação de particularismo locais e regionais.

Conceitos de globalitarismo, globalismo, globalidade e glocalização. Estas expressões


são utilizadas por alguns autores no debate da globalização.

➢ Globalitarismo
A ideia de regimes globalitários, foi utilizada por Ignácio Ramonet no seu livro
“Geopolítica do caos” (1997), procura ressaltar o próprio sentido ideológico (e político)
da globalização. É uma noção que diz respeito, principalmente, a globalização como
ideologia. É um termo cunhado para ser utilizado como uma contra-ideologia da
globalização, ou melhor, contrapor-se (ou justapor-se) à ideia de globalização. Ela
explicita o verdadeiro conteúdo da globalização como mundialização do capital: o
totalitarismo do mercado.
Portanto, a ideia de globalitarismo expressa uma crítica visceral à globalização como
ideologia do império universal do Ocidente (Del Roio, 1998). Ela surge para se
contrapor (ou expor) a globalização como a ideologia e a política de um novo
totalitarismo do mercado, do “pensamento único”. Ou seja, regimes globalitários -
apoiam-se nos dogmas da globalização e do pensamento único, não admitem qualquer
outra política económica, negligenciam os direitos sociais do cidadão em nome da razão
competitiva e abandonam aos mercados financeiros à direcção total das actividades da
sociedade dominada (Ramonet, 1998).
A globalização é, portanto, resultado, nessa perspectiva, de regimes globalitários, de
dirigentes políticos que permitiram, através de actos políticos, a transferência de
decisões capitais (em matéria de investimento, emprego, saúde, educação, cultura,
protecção do meio ambiente) da esfera pública para a esfera privada.
Deste modo, regimes globalitários são regimes políticos que incentivam o livre
comércio ou seja, o livre fluxo de capitais, de investimentos e de bens e serviços ou

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ainda que “assassinaram” a política, concebida como gestão da coisa pública, em prol
do poder do mercado, dos grupos multinacionais que dominam sectores importantes da
economia.
O globalitarismo é a visão negativa da globalização, é a globalização como ideologia
negativa, como totalitarismo do mercado. E a sua ideologia positiva da globalização é
globalismo.

➢ Globalismo
Segundo o sociólogo alemão Ulrich Beck entre outros, o globalismo diz respeito à
ideologia da globalização.
Globalismo possui um significado totalmente diferente das ideias de globalização ou
globalidade. Globalismo diz respeito a ideologia do império do mercado mundial, a
ideologia do neoliberalismo. A ideia de globalismo, segundo Beck, é uma concepção
“ideológica” da globalização e da globalidade que tende a reconhecer a morte da
política diante da nova situação do mundo global (nesse caso, só cabe a nós nos
adaptarmos à globalização). O mercado mundial bane ou substitui, ele mesmo, a acção
política. A política não possui mais local ou sujeito e a sua tarefa primordial se perdeu
de vista.
Beck, tende a ver a globalização e a globalidade como algo restrito ao aspecto
económico, reduzindo sua pluridimensionalidade a uma única dimensão: a económica.
Portanto, o globalismo líquido uma distinção fundamental entre economia e política.

Por outro lado, a ideia de globalismo assume um outro sentido sociológico na visão de
Octávio Ianni. Para ele, globalismo é um conceito sociológico para caracterizar uma
configuração histórico-social abrangente, “surpreendente e determinante”, uma
totalidade histórica e teórica complexa, contraditória, problemática e aberta, uma
totalidade heterogénea, simultaneamente integrada e fragmentária, “um novo ciclo da
história quando esta se movimenta como história universal”, uma configuração geo-
histórica original, dotada de peculiaridades especiais e de movimentos próprios, que se
pode denominar de global, globalizante, globalizada ou globalismo (Ianni, 1997).
Para Ianni, o globalismo compreende o neoliberalismo como o socialismo. Portanto, a
ideia de globalismo para Beck é totalmente negativa e não pode ser confundida com a
globalização e globalidade.

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➢ Globalidade
Beck, no seu livro O Que é Globalização, define a Globalidade - como a própria
condição da globalização, ou seja, àquilo que denominamos não apenas de
mundialização do capital, mas de processo civilizatório humano genérico, um processo
sócio-histórico contraditório e avassalador, de instauração de uma nova economia e
sociedade modernas.
A globalidade é uma situação do mundo em que todas as descobertas, triunfos e
catástrofes afectam a todo o planeta, e que devemos redireccionar e reorganizar nossas
vidas e nossas acções em torno de um eixo global-local. A globalidade é a nova
condição humana.

➢ Glocalização
O conceito de glocalização, utilizado por sociólogos, diz respeito a uma nova forma de
ver a globalização, compreendida mais em suas articulações entre o local e o global e
não apenas na dimensão global.
Na verdade, glocalização é um conceito-alternativo à noção de globalização, tendo em
vista que discorda da ideia de globalização como um processo de negação do local pelo
global (o conceito de glocalização articula as noções de local e global). O local e o
global não se excluem. Pelo contrário: o local deve ser compreendido como um aspecto
do global (Robertson, 1999).
O conceito de glocalização recupera a contraditoriedade intrínseca à própria
globalização, criticando, portanto, uma ideologia da globalização que tende a concebe-
la meramente como um processo sócio-histórico “globalista” e homogéneo.

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