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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO
TRÓPICO ÚMIDO

LUCAS FELIPE SARDINHA DE SOUSA

LACERDA, Norma. O campo do planejamento urbano e regional: da


multidimensionalidade à transdisciplinaridade. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e
Regionais, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 77-93, maio 2013.

Fichamento solicitado como avaliação parcial da


disciplina Planejamento Regional e Urbano, tendo
como ministrante, Prof. Dr. Saint-Clair Cordeiro da
Trindade Júnior.

Belém-PA
2023
LACERDA, Norma. O campo do planejamento urbano e regional: da
multidimensionalidade à transdisciplinaridade. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e
Regionais, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 77-93, maio 2013.

IDEIA CENTRAL DA OBRA


Apresenta o planejamento urbano e regional enquanto campo de conhecimento comum
a diversas disciplinas, associado a paradigmas recentes de análise científica que contemplam a
multiplicidade de disciplinas e saberes em um caráter integrativo e/ou cooperativo para a
apreensão do mundo real. Explicita a gênese dos paradigmas científicos, desde a ascensão e
declínio do cientificismo, até o surgimento da multidisciplinaridade, da interdisciplinaridade
e da transdisciplinaridade, relacionando os dois últimos à teoria e à prática do planejamento
urbano e regional.

INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O AUTOR E A OBRA


Bolsista de Produtividade CNPq, a Prof. Dra. Norma Lacerda é titular da Universidade
Federal de Pernambuco, na área de Desenvolvimento Urbano e Arquitetura desde o ano de
1987. Em relação a obra, a sua publicação se deu no ano de 2013, a partir da sua atuação no
campo teórico referente ao planejamento, com a discussão referente aos paradigmas existentes
na ciência clássica e o declínio do cientificismo, em prol da construção de novas articulações
referentes ao conhecimento, nas perspectivas inter, multi e transdisciplinaridade.

OBJETIVOS DA OBRA
 Mostrar o caráter multidimensional da área do planejamento urbano e regional,
adotando a noção de campo do conhecimento;
 Descrever a ascensão e o declínio do cientificismo e o surgimento de novos
paradigmas para a ciência;
 Esclarecer e detalhar as abordagens multi, inter e transdisciplinar, aplicados ao campo
do planejamento urbano e regional.

PALAVRAS-CHAVE: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade,


planejamento urbano e regional.

SÍNTESE ESQUEMÁTICA DA OBRA


 Planejamento Urbano e Regional: um campo do conhecimento
1. Campo de conhecimento em constante processo de construção e atualização
concomitante ao avanço da ciência e da tecnologia;
2. Comumente associado à responsabilidade do Estado;
3. Mudanças na ação de planejar – ultrapassam o Estado e são estendidas a
debates em torno do tecido social;
4. Práticas e discursos disciplinares permeados pela sua complexidade – origina
mediações teóricas, políticas, sociais e culturais;
5. Deve considerar os agentes que intervém nas práticas e na produção de saberes
disciplinares;
6. Duas naturezas: teórica e prática – a lógica interpretativa e valorativa da
produção de conhecimento e a lógica operativa e programática da intervenção no espaço
urbano e regional;
7. Ferramenta conceitual de análise - noção de campo proposta por Pierre Bordieu
– um modo de construção do objeto que orienta as opções práticas de uma pesquisa – o objeto
não está isolado;
8. Campo transformado a partir de um modelo sanitarista, polidisciplinar – hoje
apresenta estrutura semiaberta a outras disciplinas distintas – complexificação de práticas e
formas de intervenção;
9. Irreversibilidade e irredutibilidade a um paradigma monodisciplinar – espaço
de disputa entre atores/agentes/disciplinas – exigência da adoção de paradigmas distintos -
base proposta por Madel Luz para a saúde coletiva enquanto campo.

 Ascensão e declínio do cientificismo


1. Ciência moderna – baseada na disciplinaridade conceituada por Foucault –
cada disciplina possui objetos de estudo próprios e métodos a eles correspondentes;
2. Separação entre o indivíduo conhecedor e a realidade;
3. Postulados básicos: “existência de leis universais” – “descoberta dessas leis
pela experiência científica” – “reprodutibilidade perfeita dos dados experimentais” (p. 79) –
paradigma da simplicidade;
4. Objetividade – permeada pelos três postulados – realidade objetiva;
5. Investigação da realidade objetiva - o conhecimento das partes de um sistema
supostamente permitiria o conhecimento da totalidade do sistema;
6. Big-bang das disciplinas proposto por Nicolescu;
7. Revolução quântica protagonizada por Max Planck – contestação a padrões
estabelecidos na física: continuidade, causalidade local e o determinismo;
8. Novas descobertas na física – questionamento da existência de um único nível
de realidade – descoberta de diferentes níveis da percepção da realidade pelo sujeito
observador por Edmund Husserl;
9. Reconhecimento da inseparabilidade entre indivíduo conhecedor e realidade
conhecida;
10. Necessidade de adoção de novas abordagens pela ciência nos campos de
interação entre o homem e os sistemas naturais – desenvolvimento tecnológico – competição
econômica;

 Multidisciplinaridade no planejamento urbano e regional


1. Interação de disciplinas – gestão, governança, transporte, uso e ocupação do
solo - sucesso nas ações no território;
2. Pluridisciplinaridade: primeiro nível de interação das disciplinas – estudo de
um objeto de uma disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo – estrutura da pesquisa
disciplinar – adição à disciplina;
3. Experiências multidisciplinares (Domingues apud Bicalho e Oliveira) –
aproximação de diferentes disciplinas – diversidade de metodologias – preservação das
fronteiras dos vários campos disciplinares;
4. Planejamento urbano e regional: campo – espaço urbano e regional: objeto –
depende da soma de saberes e métodos – diferentes disciplinas;
5. Pesquisa científica no planejamento urbano e regional – não há tradição de
multidisciplinaridade predominante – acúmulos de conhecimento decorrentes do diálogo entre
as disciplinas – demanda o uso de outras abordagens;

 Abordagens necessárias ao planejamento urbano e regional


o Interdisciplinaridade no planejamento urbano e regional
1. Interdisciplinaridade – espaço comum – cooperação/intercâmbio/trocas mútuas
entre disciplinas – integração – incorporação de métodos - solução do problema comum;
2. Graus de incorporação de métodos: de aplicação, epistemológico e geração de
novas disciplinas/subdisciplinas ou campos/subcampos;
3. Para Nicolescu, a abordagem interdisciplinar “permanece inscrita na estrutura
da pesquisa disciplinar” (1999a, p. 22);
4. Para Frigotto (2008), a interdisciplinaridade configura uma necessidade para a
apreensão da realidade social, em vista de seu caráter dialético – aponta a necessidade de
delimitar as fronteiras entre os sujeitos que investigam e os objetos investigados;
5. A interdisciplinaridade configura um problema, devido à percepção de distintos
limites para o sujeito investigador, e também da complexidade da realidade e seu caráter
histórico, que para Frigotto (2008) surgem a partir da convivência entre distintas concepções
teóricas e ideológicas;
6. As críticas ao modelo da interdisciplinaridade ensejam a busca por novos
termos, como a transdisciplinaridade, que para a autora, no entanto, significa também uma
nova abordagem;

o Transdisciplinaridade no planejamento urbano e regional


1. Transdisciplinaridade: termo introduzido por Jean Piaget, conceituado como
abordagem analítica sucessora à interdisciplinaridade – relações entre disciplinas dentro de
um sistema total, sem limites rígidos;
2. Basarab Nicolescu, Edgar Morin e Lima de Freitas contribuíram com o
conceito, na elaboração da Carta da Transdisciplinaridade - em oposição ao paradigma
moderno determinista – surgimento de novas formas de interpretação dos fenômenos – como
o paradigma da complexidade;
3. Novos paradigmas sustentados pela produção discursiva horizontal (não
hierarquizada) entre os distintos saberes disciplinares – o que está entre, através e além de
cada disciplina (Nicolescu, 1999a, p. 22);
4. Pilares da transdisciplinaridade: os níveis de realidade, a lógica do terceiro
incluído e a complexidade – assinalam níveis diferentes de transdisciplinaridade;
5. Para Chaves (1998, p. 9), a transdisciplinaridade se nutre da complexidade,
permitindo transitar entre múltiplos campos disciplinares e transcender o universo fechado da
ciência;
6. Para Roque Teóphilo (2012, p. 1), consiste em transcender o universo fechado
da ciência e reconhecer a multiplicidade de modos de conhecimento, assim como de
indivíduos produtores de conhecimentos;
7. A complexidade se relaciona ao “pensamento complexo”, que para Chaves
(1998) consiste do reconhecimento do Mundo Real como unidade, o que exige “prudência e
humildade”;
8. Para o planejamento regional e urbano, tal abordagem significa a necessidade
de um trabalho de equipe, abrangente de várias disciplinas e sujeitos sociais, trabalhando de
forma conjunta e não-hierarquizada – constitui a realidade transdimensional – orientada em
torno do objeto: o espaço urbano regional;
9. Segundo a autora, para melhor modo de atuação na realidade, de acordo com o
pensamento complexo, é necessário que seja considerada a dimensão espaço-tempo, que leva
à consideração dos vários níveis ou escalas espaciais;
10. Todas as dimensões consideradas no prisma da complexidade devem interagir
entre si – com o homem no centro dela;
11. Os outros pilares da transdisciplinaridade, segundo Sommerman (2005)
propõem uma modelização e uma metodologia mais ampla e aberta, que vai além das
disciplinas, concebendo outros tipos de saberes, culturas, sujeitos e níveis de realidade;
12. A construção do trabalho inter e transdisciplinar, segundo Ribeiro (2002),
exige uma tarefa coletiva de escolhas de objetos e questões que estimulem trocas acadêmicas
e encontro de conceitos, que podem resultar em ganhos teóricos e no desvendamento de
fenômenos e processos relevantes;
13. Segundo a autora (apud Ribeiro, 2002) a ação planejadora do espaço exige
leituras que: permitam desvendar os confrontos entre os ideários da democracia e da
cidadania, levem em conta a totalidade social e a base técnica da vida coletiva, e impulsionem
práticas de ensino e pesquisa;
14. Para atender às demandas do trabalho em planejamento urbano e regional de
maneira satisfatória, é necessária, portanto, a adoção dos paradigmas inter e transdisciplinar.

CONCLUSÃO E/OU PROPOSIÇÕES DO AUTOR

Norma Lacerda realiza um esforço em torno de caracterizar os paradigmas adotados


pela ciência, associados ao campo do planejamento urbano e regional, destacando o
surgimento das abordagens analíticas: multidisciplinaridade (ou pluridisciplinaridade),
interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Para tal efeito, a autora estabelece um aparado
histórico relacionado à ascensão e declínio do cientificismo – paradigma preconizado pela
ciência clássica - valendo-se especialmente dos apontamentos elaborados pelo físico teórico
romeno Basarab Nicolescu, destacando inclusive as características da disciplinaridade. A
autora pontua que o paradigma fez emergir um Big-bang das disciplinas e que,
posteriormente, o mesmo paradigma passou a demonstrar insuficiência na tentativa de
explicar a realidade, passando a absorver novos elementos, onde a confluência de sujeitos,
objetos e realidades fizeram surgir novos paradigmas que demonstram a necessidade de
interação (e mais que isso, integração) entre as disciplinas, para atender às demandas
específicas do Mundo Real, contemplando sua complexidade.

É válido ressaltar que para a caracterização do campo, de maneira concorrente ao


conceito de disciplina, a autora utiliza pressupostos elaborados nos estudos sobre saúde
coletiva empreendidos por Madel Luz. Dessa forma, é possível perceber o que a autora
destaca como “empreendimento desafiador” (p. 90), no que tange ao trabalho realizado, tendo
em vista a carência de bases bibliográficas no contexto dos estudos do planejamento urbano e
regional. Além disso, são utilizadas bases elaboradas para o campo da educação, para explicar
a importância da adoção dos paradigmas interdisciplinar e transdisciplinar no campo do
planejamento urbano regional. Para a autora, no entanto, tais abordagens analíticas ainda não
são utilizadas de maneira satisfatória dentro do campo destacado, uma vez que ela destaca a
predominância do trabalho individual e personalizado no âmbito do planejamento urbano e
regional, na contramão do que ela caracteriza como ideal – que consistiria na colaboração
entre profissionais de distintas disciplinas e sujeitos sociais distintos, trabalhando em
conjunto, fazendo uso de metodologias mais abertas e contemplando distintas variáveis do
saber, da cultura e da realidade, num aspecto geral, realizando trocas mútuas que permitam
novos níveis de compreensão apurada dos objetos elencados. Em vista dessa ausência da
prática interdisciplinar e transdisciplinar no planejamento urbano e regional, a autora finaliza
caracterizando outra carência presente no campo, que segundo ela apresenta como
característica fundadora a necessidade de constante atualização de seus saberes e práticas,
vide à continua transformação do mundo e seus resultados para as experiências sociais.

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