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Folha de rosto

Disciplina Ciência Política e Teoria Geral do Estado


Número 6 Tema Formação do Estado Moderno
Propiciar o desenvolvimento de competências e
habilidades necessárias à visão e atuação
crítica para compreensão e contribuição da sociedade
atual, complexa e plural, bem como uma resolução
criativa dos problemas surgidos neste contexto,
permitindo a construção de uma formação jurídica e
cidadã. Estes objetivos serão alcançados através da
análise histórica do Estado permitindo uma
comparação com a sociedade atual. A construção de uma
Unidade Objetivos formação jurídica é alcançada com o estudo da
Específicos Nacionalidade como ligação jurídica do povo com o
Estado. O estudo da Cidadania, como ligação política
do povo com o Estado estabelece a formação cidadã, tão
essencial nos dias atuais. Neste momento é
amplamente explanado o objetivo da Instituição FAM no
sentido de formar, no seu curso de Direito,
"profissionais na área jurídica com postura crítica e
reflexiva, capacidade de argumentação, conduta ética,
sensibilidade e iniciativa na defesa dos interesses e das
necessidades da comunidade local e regional".
Professor(a)
Patrícia Ferreira de Mendonça
autor(a)

A formação do Estado moderno.

As revoluções inglesas.
Sumário
temático
A Revolução Francesa e influências.

Unidade 6 – Formação do Estado Moderno


1 Introdução
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Olá, estudante! Seja bem vindo a mais uma unidade de ensino da disciplina Ciência Política e
Teoria Geral do Estado.
Nesta unidade vamos tratar da formação do Estado. Conforme vimos no decorrer das
unidades, não foi simples a organização da sociedade para se formar o Estado. As múltiplas
formas e arranjos com vistas a estabelecer o poder permearam a história, intercalando
períodos de tirania, concentração, revoltas e guerras. Religião, cultura e múltiplos interesses
estiveram envolvidos no processo, e ainda hoje, o poder é objeto de disputas. E é esse
processo que vamos estudar agora, com as revoluções que consolidaram os modelos de
Estado contemporâneos e seus desdobramentos.
Você está pronto para iniciar a jornada? Vamos compreender as principais revoluções e seus
impactos na sociedade, bem como as lições que cada uma delas trouxe à organização do
Estado e os múltiplos aspectos do poder envolvidos.

Objetivo: A disciplina visa propiciar ao discente o conhecimento de elementos teóricos, a


descrição e compreensão qualitativa e quantitativa da Política enquanto ciência e da teoria
geral do Estado à partir de:

 fenômeno político,
 poder e ideologia,
 instrumentos garantidores e interpretação.

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1. A formação do Estado moderno.

Os Estados modernos se formam tendo como base a experiencia que já foi vivenciada nos períodos anteriores, isso quer dizer
que esse Estado tal qual o conhecemos hoje, não surge de uma determinada corrente filosófica ou sociológica, utiliza-se delas para
compor suas inovações ou seja, sua modernidade.
Assim, o Estado Moderno se modela a partir da falência do feudalismo, a forma de organização social, política e econômica
que vigorou em grande parte da Europa Ocidental do século V ao século XV. A própria ideia de feudos já surge como forma de
manutenção do poder da aristocracia, o que por sua vez, seria uma extensão do poder monárquico, mas agora descentralizado entre
seus lordes.
Desta forma, a nobreza recebia uma determinada zona territorial para administrar, onde mantinham a fidelidade ao rei,
arrecadando tributos e atuando na defesa do território recebido. Esses senhores das terras eram proprietários exclusivos, e os
habitantes desses territórios eram seus vassalos. Os suseranos, ou senhores feudais, tinham prerrogativa de chefes de Estado,
podendo decretar e arrecadar impostos, administrar a justiça, expedir e extinguir leis para que o feudo estivesse seguro e estável.
Existe um contrato em que o suserano e vassalo se comprometem a uma relação de fidelidade e lealdade.

O sistema administrativo ligado à economia da agricultura era sustentado com seu aparato militar intrinsecamente conectado
ao patrimônio. Só existia um limite, a Igreja, que para Deus e em nome dele, os Senhores Feudais encontravam-se subordinados,

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sendo esse o principal opositor do feudalismo. E foi justamente ao questionar a cristandade ocidental que veio à idéia de
modernidade, emergindo o pensar sobre o Estado Moderno.

Para se entender o processo de formação do Estado, neste caso, o moderno, é necessário alinharmos o conceito de sociedade
e, conjunturalmente ordenar, referenciando-se desde já que esse processo pode ser estatal ou não-estatal. Analisar, os agentes
envolvidos e a manutenção da ordem, bem como, os teóricos a exemplo de Dyson.31 Entrelaçar seus conceitos estatais e não-
estatais é sem dúvida fator preponderante a fixação de uma linha condizente a formação do Estado Moderno.
Podemos dizer, inspirados por Dyson (1980), que um aparato conceitual complexo é necessário para que possamos
compreender o processo contínuo de transformação do Estado e de sua percepção conceitual, seja a dos agentes ou dos teóricos
envolvidos com a questão. Autores dedicados ao problema da formação do Estado são sensíveis a esse ponto. Como nos mostram
Bendix (1996) e Tilly (1975, 1996), analisando processos históricos longos e contínuos, corremos sempre o risco de apelar para
uma explicação insuficiente, retificando certas categorias e definições.32

O conceito moderno tem o simples fim de delimitá-lo do Estado antigo. O modelo Europeu de Estado Moderno surgiu por
homens que nada sabiam do Extremo Oriente, embora sabedores de alguns conceitos Romanos e Aristotélicos, criaram um Estado
próprio, o tipo de Estado que criaram acabou por funcionar melhor do que a maioria dos antigos modelos.

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O Estado Moderno surge na segunda metade do século XV, quando se desenvolve o capitalismo mercantil na
França, Inglaterra, Espanha e Portugal. Mais tarde, a Itália também começa a constituir seu Estado Moderno, gerando
inclusive teorias acerca da organização desse novo modelo. Nicolau Maquiavel foi um dos primeiros teóricos a tecer
considerações sobre o Estado Moderno.

São características do Estado Moderno a soberania do Estado, o território, o povo e o governo. Importante ressaltar
que já uma distinção entre Estado e sociedade civil.

A necessidade de administração do Estado exige que haja uma estrutura burocrática. Inicialmente esses funcionários
eram ocupados pela nobreza e pelos burgueses mais abastados, pois tinham condições financeiras para comprar os
títulos de nobreza.

A manutenção da ordem pública era exercida por tropas permanentes, como as forças militares e a polícia. A
centralização de comando acontece no pós feudalismo, pois os senhores feudais deixam de ser responsáveis pela
segurança local. Além disso, foi necessário unificar as leis para que se aplicasse a justiça a toda a sociedade de
maneira igualitária. O governo monárquico criava as leis e as aplicava para todo o reino.

Também o sistema tributário sofreu mudanças. Os tributos precisavam ir direto para a coroa de forma que houvesse
recursos para custear o exército e a burocracia administrativa.

O Estado Moderno tinha dois tipos de enfoque:

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Liberal: entende que o Estado tem por objetivo o bem comum, sendo neutro, estando acima de interesses das
classes sociais.

Marxista: faz a crítica à suposta neutralidade do Estado, enfatizando seu controle se dar pela classe dominante,
predominando assim os interesses daquela classe sobre toda a sociedade.

As convulsões dos séculos 14, 15 e 16 com a ascensão do capitalismo mercantil e a abolição do modo de produção
feudal levaram a uma redefinição do estado. Houve mudanças profundas nessa nova sociedade e o Estado teve que
se tornar forte e centralizado. No começo havia um estado absolutista e depois um estado liberal.

Thomas Hobbes, era defensor do estado absolutista, foi grande expoente teórico do tema. Para ele, o estado
soberano significava a conquista final de uma sociedade civilizada e racional. Argumentava que em um estado de
natureza sem o jugo político do estado, as pessoas viveriam em liberdade e igualdade de acordo com seus instintos.
Caberia ao Estado exercer o poder sobre o indivícuo para garantir a segurança do coletivo.

John Locke é um teórico da Revolução Liberal inglesa, afirmava que o homem é livre no estado natural, mas temendo
que um homem procurasse subjugar o outro ao seu poder absoluto, os homens delegaram poderes por meio de um
contrato social a um estado para garantir também seus direitos naturais, como sua propriedade. O Estado, como
qualquer contrato, pode ser feito e quebrado se o estado ou governo não o respeitar.

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Para Jean-Jacques Rousseau, fundador da concepção democrática da sociedade civil, ela também é criada por meio
de um contrato social em que os homens não podem renunciar aos princípios de liberdade e igualdade. Para
Rousseau, o contrato só constitui a sociedade. A soberania pertence ao povo. Apontando que não há liberdade onde
não há igualdade, ele vê na gênese da propriedade a origem de todos os males humanos.

O absolutismo é a primeira forma do estado moderno. A formação de estados absolutistas não ocorreu da mesma
forma em todos os países europeus, nem foi tranquila. Conflitos violentos entre países, entre a burguesia e a
nobreza, entre católicos e protestantes, entre fazendeiros e senhores, entre o Estado e a sociedade civil moldaram a
constituição do mundo capitalista. Mas em pouco tempo quase toda a Europa era absolutista, sendo a França citada
como a nação que o experimentou em sua plenitude. O principal símbolo do absolutismo na Europa era a
centralização do poder real.

O estado liberal se apresenta como um desdobramento lógico da divisão entre o público e o privado ou pessoal. A
revolução burguesa transformou radicalmente a sociedade feudal na Europa, exigindo uma nova forma de governo
que rompesse com a ordem hierárquica de corporações, laços de sangue e privilégios e criasse uma estrutura de
poder político capaz de sustentar e ampliar suas conquistas. Em 1787 foi adotada a primeira constituição liberal, cujos
princípios eram liberdade, igualdade e fraternidade, lema da Revolução Francesa de 1789.

O desenvolvimento real do comércio na Europa feudal encontrou seus principais obstáculos no próprio sistema
feudal. Uma nova configuração era necessária para atender às novas demandas.

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Aí surgiu o germe que daria origem às monarquias, aos reinos que criaram os Estados-nação. Cada feudo tinha seus
próprios padrões monetários e, além disso, uma série de tributos eram cobrados dos comerciantes, impostos, taxas e
até direitos de passagem puniam esses comerciantes. O ambiente não era propício para o crescimento dos negócios.

Além disso, havia sempre o perigo de saques e incursões por parte de bandidos e ladrões, se não pela própria
nobreza.

Desta forma, a classe burguesa procurava se sustentar Reis , que naquela época só tinham poder em seus feudos,
mas tinham o dever de respeitar os outros nobres, seus vassalos.

Portanto, o rei não passava de um suserano. No entanto, ele tinha o poder de unificar e padronizar a atividade
comercial em áreas mais amplas, o que atendia aos interesses burgueses.

Com cofres mais bem abastecidos, os senhores supremos poderiam expandir seu poderio militar e esfera de
influência e centralizar o poder de legislar, punir e tributar, criar moeda, estabelecer padrões de peso e medida e
aplicar suas próprias ideias de justiça. Pprocuravam assim assimilar os elementos mais importantes da velha
nobreza, que tinham perdido o seu poder mas conseguiram conservar durante muito tempo os seus privilégios.

O facto é, porém, que a descentralização política característica da nobreza feudal não conseguiu responder às novas
condições e cedeu à autoridade centralizadora do rei.

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.2. As revoluções inglesas.

AS REVOLUÇÕES INGLESAS
•REVOLUÇÃO PURITANA (1642-1649)
•REPÚBLICA PURITANA (1649-1658)
•RESTAURAÇÃO (1659-1688)
•REVOLUÇÃO GLORIOSA (1688)
•MONARQUIA PARLAMENTAR – O rei reina mas não governa.

A Revolução Inglesa do século XVII representou a primeira manifestação de crise do sistema da


época moderna, identificado com o absolutismo.
O poder monárquico, severamente limitado, cedeu a maior parte de suas prerrogativas ao
Parlamento e instaurou-se o regime parlamentarista que permanece até hoje.
De acordo com alguns historiadores, esta insurreição é considerada a primeira revolução de caráter
burguês realizada no ocidente.
DINASTIA TUDOR

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(ABSOLUTISMO DE FATO)
•ORIGEM: Iniciou com Henrique VII, que pacificou o país.
•Henrique VIII – Fez a Reforma Religiosa, submetendo a Igreja ao seu controle (Ato de Supremacia)
e confiscou as propriedades eclesiásticas. Impôs-se sobre o Parlamento.
•Eduardo VI – Reinado curto no qual o poder era exercido por um Conselho Privado.
•Maria Tudor – Tentou restaurar o catolicismo e perseguiu anglicanos

Elizabeth I (Isabel I )
• Governou com o apoio do Conselho Privado e poucas vezes
convocou o Parlamento.
•Perseguiu católicos e puritanos e impôs o anglicanismo como
religião do Estado.
•Venceu a Incrível Armada, enfraquecendo a Espanha.
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•Desenvolveu o mercantilismo.
•Estimulou corsários.
•Fez os cercamentos modernizando a agricultura e provocando
um êxodo rural.

DISNATIA STUART (ABSOLUTISMO DE DIREITO)


•Origem: Jaime VI da Escócia, primo de Elizabeth. Foi coroado
como Jaime I.
•Jaime I – Governou de forma absolutista. Entrou em conflito
com o Parlamento. O novo soberano inglês, além de ser
protestante, iniciou um processo de aproximação com a

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Espanha, país católico. Além de seguidas tentativas de aumento


de impostos.

Carlos I
•Durante seu reinado os conflitos com o
Parlamento tornaram-se mais graves.
•1628 – O monarca foi obrigado a assinar a Petição
de Direitos, que proibia a coroa de manter um

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grande exército ou criar novos impostos sem a


aprovação do Parlamento.
•1629 – O rei dissolve o Parlamento e governa sem
ele durante onze anos.
•Retomou a cobrança de impostos que estavam em
desuso e estendeu a todo o reino.
•Tentou impor práticas religiosas anglicanas aos
presbiterianos e aos puritanos.

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O PARLAMENTO INGLÊS
Compunha-se de duas câmaras:
•Câmara dos Lordes – Ocupadas pelos Lordes
Espirituais, isto é, a cúpula do clero anglicano e por
Lordes Temporais, nobres titulados (barões,
duques, condes...). Eram em sua maioria grandes
proprietários de terras e adeptos ao anglicanismo.
•Câmara dos Comuns – Pequenos proprietários
rurais (yeomen), alta burguesia e os gentlemen
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(comerciantes, traficantes de escravos,


manufatureiros). Eram na sua maioria calvinistas.

A REVOLUÇÃO PURITANA
•Para submeter a todos, promovendo uma união
religiosa, procurou impor o anglicanismo também à
Escócia. Os escoceses se rebelaram e invadiram o norte
da Inglaterra.
•A crise forçou o rei a convocar o Parlamento em 1640.
Este destituiu a Câmara estrelada, despojou o rei de sua
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autoridade e aprovou uma lei que tornava obrigatória a


sua convocação a cada três anos, independentemente de
determinação do monarca. No ano seguinte, uma revolta
na Irlanda católica foi o estopim da Revolução Inglesa,
pois o Parlamento se recusou a entregar o comando do
exército destinado à reconquista da Irlanda a Carlos I.

A GUERRA CIVIL (1642 até 1649)

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•De um lado estava o rei apoiado por católicos e


anglicanos (Cavaleiros). De outro, a Câmara dos comuns,
apoiada pelos puritanos (Cabeças redondas).
•No Parlamento, surgiu um líder político e militar que se
destacaria na história da Grã-Bretanha: Oliver Cromwell.
Ele organizou o exército do parlamento segundo um
novo modelo "New Model Army” (Exército de Novo
Tipo). Posição por mérito.
•Niveladores (levellers). Grupo político composto
principalmente pela massa de camponeses e artesãos
que reivindicavam sufrágio universal e a devolução das
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terras "cercadas" aos camponeses. Tinham grande


influência no exército.
•Em 1645, os soldados do Parlamento venceram as
tropas do rei Carlos I.

Em 1645, Carlos 1º foi preso. Setores do


Parlamento, porém, assustados com as
pretensões dos niveladores, que tentavam
tomar o controle do exército, resolveram se
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unir ao rei. Este, porém, aproveitou a situação


para fugir para a Escócia, em cujo Parlamento
acreditava obter proteção. Ledo engano: foi
entregue aos ingleses (em troca de 4000 mil
libras esterlinas), que o decapitaram,
proclamando a República, em 19 de maio de
1649.

A REPÚBLICA PURITANA
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•A República, na Inglaterra, esteve longe de ser


democrática. Apoiado pelo exército, Cromwell
se impôs sobre o Conselho de Estado (poder
Executivo) e o Parlamento.
•Não atendeu as pretensões dos escavadores
(diggers), ala mais radical dos niveladores, e os
derrotou.

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•Em 1653, sob o título de Lorde Protetor,


transformou-se em ditador vitalício e
hereditário.

Sob a ditadura cromwelliana, as estruturas feudais ainda


existentes na Inglaterra foram eliminadas. As terras dos
partidários do rei e da Igreja anglicana foram confiscadas e
vendidas aos produtores rurais. O liberalismo econômico
entrava em vigor na prática.

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•Em 1651 Cromwell publicou o "Ato de Navegação" (lei sobre


a navegação marítima) que permitia a importação pela
Inglaterra somente de mercadorias estrangeiras
transportadas em embarcações inglesas ou de países que
produziam as mercadorias importadas.
•O Ato de Navegação provocou uma forte reação dos
holandeses que obtinham grandes lucros com o comércio
marítimo inglês. Os dois países mergulharam numa guerra
que durou dois anos, terminando em 1654 com a vitória da
Inglaterra, marcando o início efetivo de sua hegemonia
marítima.

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A RESTAURAÇÃO MONÁRQUICA
•Após a morte de Cromwell, em 1658, seu filho
Richard, assumiu o poder. Porém, não conseguir se
manter à frente do governo, pois não dispunha da
mesma autoridade do pai sobre o exército.
•Carlos II - Filho do rei decapitado, assumiu o trono
da Inglaterra, Escócia e Irlanda. A proximidade
deste com o rei da França Luís XIV - o protótipo do

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absolutismo - tornou-o suspeito ao Parlamento.


Mas seu reinado, a partir de 1660, durou 25 anos.
•Foi sucedido em 1685 por seu irmão Jaime II, que
procurou restabelecer o absolutismo e o
catolicismo na Inglaterra. O fato de ser católico o
afastava de ambas as facções do Parlamento.

A REVOLUÇÃO GLORIOSA

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•A questão se agravou quando Jaime 2º teve um filho,


pois, até então, a herdeira do trono era sua filha Maria
Stuart, protestante.
•O Parlamento então passou a conspirar para depô-lo.
Em seu lugar assumiria o trono sua filha Maria, casada
com Guilherme de Orange, rei dos Países Baixos, que
desembarcou com suas tropas no país, em 1688.
•Em que pesem os pequenos combates, o movimento foi
essencialmente pacífico, passando à história com o nome
de "Revolução Gloriosa" ou "Revolução Sem Sangue".

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•Jaime 2º fugiu para a França. O Parlamento proclamou


Guilherme e Maria reis.
•Inicia-se uma monarquia parlamentar constitucional na
Inglaterra.

A DECLARAÇÃO DE DIREITOS E O ATO DE TOLERÂNCIA


“Declaração de Direitos” (Bill of Rights)

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Eliminava a censura política e reafirmava os poderes do


Parlamento, como o seu direito exclusivo de
estabelecer impostos, o direito de livre apresentação
de petições e o controle da questão militar, em que o
recrutamento e a manutenção do exército somente
seriam admitidos com a aprovação do Parlamento.
Além disso, o Tesouro britânico era controlado pelo
Parlamento inglês e nenhum gasto poderia ser feito
sem a sua autorização, os altos funcionários do
governo eram fiscalizados pelos parlamentares e os
gastos da família real também eram controlados pelo
Parlamento.
“Ato de Tolerância” (Toleration Act)
Estabelecia liberdade religiosa a todos os cristãos,
exceto aos católicos, também foi aceito pelo rei.
Assim, estes dois documentos redigidos pelo
Parlamento Inglês foram muito importantes para
o desenvolvimento do capitalismo na Inglaterra, e
a burguesia inglesa, aliada a aristocracia rural,
passou a exercer o poder através do Parlamento,
dando forma a um Estado Liberal.

INÍCIO CAIXA MATERIAL COMPLEMENTAR (deverá conter de três a cinco linhas)


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FIM CAIXA MATERIAL COMPLEMENTAR

3-A Revolução Francesa e influências.

Ao fazer uma análise sobre os aspectos íntimos da Revolução Francesa, buscamos


compreender consequências e aspectos no processo histórico que levaram a eclosão do evento
que dá tema a este trabalho. Há um extenso percurso neste processo de eclosão, resultado dos
efeitos da edificação dos princípios iluministas e a ascensão dos ideais humanistas trazendo ao
foco o debate do pensamento burguês sobre as questões de liberdade social e comercial. De
fato, é importante ressaltar que todo este processo se edifica numa sociedade fortemente
estratificada, imersa em conflitos e insurreições.
Entre os séculos XIII e XIV o pensamento ocidental passa a experimentar o que seriam
os primeiros traços do pensamento humanista que precede o recorte renascentista - herdados
pelo interesse dos intelectuais nos estudos dos clássicos da filosofia grega e romana -,
trazendo o homem para o centro da discussão e a valorização da razão em detrimento da
crença religiosa (BURNS, 1972, p.127).
Alguns momentos relevantes dentro do processo da história moderna criaram um cenário
favorável para que a Revolução Francesa viesse a calhar - como a dissolução do sistema
feudal, o processo de enfraquecimento da aristocracia feudal durante as Cruzadas e a gênese
do mercantilismo durante as expedições à Jerusalém; A ascensão da revolução comercial e os
processos de acumulação primitiva, os cercamentos de terra e a nova ética social de trabalho e
consumo difundida pelo protestantismo, a Guerra dos Trinta Anos e os tratados da Paz de
Vestfália, eventos que foram resultados não somente de movimentações religiosas, mas
também de cunho político, econômico e territorial, com a ascensão do conceito de soberania e
os primeiros aspectos do Direito Internacional. A literatura contratualista, posteriormente
ganha espaço entre os intelectuais – as obras de Thomas Hobbes, John Locke e Jean Jacques
Rousseau –, trazendo novos horizontes para a concepção de Estado e Governo. A publicação
de trabalhos aperfeiçoados quanto ao conceito de república com as obras de Kant e a
tripartição dos poderes do Estado, com “Do Espírito Das Leis” de Montesquieu, colaboraram
para o emergente debate sobre a liberdade, a propriedade, a função do Estado e o homem,
edificando o pensamento iluminista (LASKI, 1973, p.81).
Dossiê Fronteiras e Migrações Bruno Mesquita Falcetti

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Revista História e Diversidade, Cáceres-MT, v. 9, n. 1, p. 110-125, 2017. 112
Foram delineadas, com Luís XIV, as primeiras medidas centralizadoras que envolveram
o forte processo de criação de um sentimento de nacionalidade: a inauguração dos Liceus – e
com eles, a difusão de uma língua e cultura comum –, o rompimento com as influências
políticas da igreja católica e da aristocracia e a definição das fronteiras (NUNZIO, 1992, 72).
Segundo Oliveira (2006), é também indispensável observar neste processo a reconstrução das
ferramentas burocráticas do Estado e a nova ética de comportamento entre o rei e seus validos
(amigos). As relações de amor e valimento entre o rei e seus conselheiros foram repaginadas
e, de “roupa nova” (burocratizada), apresentam-se aos súditos como ministros e funcionários
oficiais de Estado (OLIVEIRA, 2006, p.103). A proposta iluminista, já no período de Luís
XVI – para um governo coletivo e com maior representatividade, não só popular, mas que
pudesse atender interesses voltados ao liberalismo econômico – parte das necessidades de
reparar as debilidades estruturais do Estado que se acumularam desde os primeiros passos
deste processo de centralização: a corrupção, a inflexibilidade comercial, o despotismo
político e o escoamento problemático dos tributos arrecadados (KENNEDY, 1989, p.118).
Os ideais iluministas, a partir de meados do século XVII, se propagam por quase toda
Europa e se manifestam de maneiras diferentes em resposta a cada especificidade: (I) Na
Inglaterra, com a oligarquia de Guilherme III, onde antes fora dominada por Jaime II dos
Stuart, deposto à força dos eventos da Revolução Gloriosa; (II) Na França, o “absolutismo
ignorante” (BURNS, 1972, p.130) com a administração frágil de Luiz XVI – devastada pela
fome e consequências do investimento imprudente em esforços bélicos durante a Guerra dos
Sete Anos – condenou a população francesa à miséria (VISENTINI; PEREIRA, 2012, p.35);
(III) Na Rússia, ainda atrasada pelo descaso dos sucessivos governos despreocupados com
questões “além da aristocracia”, abrigava uma população extremamente subordinada e
pressionada pelos mecanismos arcaicos e desinteressados do Czar.
Na França, o expressivo aumento de tributos era consequência da máquina pública
ineficiente e de uma burocracia desorganizada – altas quantias tributárias recolhidas, vazavam
com facilidade pelas brechas da má organização administrativa e corrupção – isto somado aos
efeitos dos investimentos desenfreados e imprudentes aplicados às atividades militares na
Guerra dos Sete Anos, disputas territoriais e econômicas travadas principalmente entre Grã-
Bretanha e França na América do Norte
Dossiê Fronteiras e Migrações A REVOLUÇÃO FRANCESA: PANORAMA
HISTÓRICO

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E OS EFEITOS QUE MOLDARAM ASOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Revista História e Diversidade, Cáceres-MT, v. 9, n. 1, p. 110-125, 2017. 113
e algumas regiões da Ásia (KENNEDY, 1989, p.122). Com os tratados de Paris (1763),
os territórios disputados são repartidos, mas ambas as potências saem debilitadas, nos anos
que sucedem os eventos da Guerra dos Sete Anos, a França enfrentaria problemas ainda mais
graves como a fome e a escassez de recursos – é aceso o pavio das insurreições.
2. O Mundo na década de 1780
O mundo na década de 1780 traz um retrato do ocidente europeu em suas transformações
políticas, econômicas, culturais e sociais, discutindo as implicações destas transformações do
ponto de vista europeu e mundial. A abordagem do autor repercute nitidamente de como este
período pré-revoluções (a industrial inglesa e a francesa) deixava visível a confrontação entre
dois tipos de sociedades; a de herança medieval e suas evoluções e adaptações como; a
monarquias absolutas nacionais e o despotismo esclarecido, contra a gênese de uma nova
ideia de mundo regido pelos valores comerciais e mercantis europeus, que pregavam alguma
forma de interação política diferente da lógica do nascimento, do sangue e da hereditariedade
dos nobres. Pode-se dividir essa década em 6 aspectos, fazendo compreender as
peculiaridades desse tempo.
O Primeiro aspecto sobre o mundo no período de 1780 trata-se de suas dimensões
geográfica, cartográfica e demográfica. Nesse sentido, é possível observar que a Europa do
século XVIII era menor e ao mesmo tempo maior que a conhecermos hoje (HOBSBAWM,
1986, p.228). Os contornos cartográficos na década em questão eram bem menos detalhados
dos quais se disponibilizam hoje - apesar das descobertas marítimas terem sido iniciadas no
final do século XV e com maior profundidade no XVI, pouco se havia explorado das colônias,
tornando bastante vaga a cartografia europeia- principalmente nas partes centrais das
Américas e da África. Geograficamente, a Europa desconhecia boa parte das formações dos
seus rios e suas profundidades oceânicas. Navegavam na superfície já conhecida e não
conheciam muito a respeito das correntes marítimas. No entanto, o mundo europeu, na
década, era também menor não só pelo seu conhecimento de extensão geográfica, mas
também por conta de sua demografia. Esse quantitativo populacional estava em grande parte
espalhado pelo globo, em sociedades de diversas culturas. As ligações entre essas populações
e regiões eram quase nulas, seja do ponto de vista cultural ou das
Dossiê Fronteiras e Migrações Bruno Mesquita Falcetti
Revista História e Diversidade, Cáceres-MT, v. 9, n. 1, p. 110-125, 2017. 114

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possibilidades de transporte, pois dentro do próprio continente europeu existiam amplas
áreas, tal como os Bálcãs, a Escandinávia e sul da Itália, onde haviam dificuldades de acesso,
pois os meios de locomoção ainda estavam em desenvolvimento, como por exemplo, a malha
ferroviária inglesa, no entanto, essas inovações ainda eram prematuras para atingir o
continente europeu em larga escala. Se as limitações cartográficas, geográficas, e
populacional em níveis quantitativos faziam do mundo na década de 1780 menor, as
dificuldades de locomoção o faziam maior do que hoje, de fato, onde os meios mais acessíveis
de transportes eram as vias marítimas, que exploravam apenas o litoral e os contornos das
regiões, no entanto, as regiões centrais dessas localidades eram praticamente inexploradas.
No segundo aspecto é possível observar que a sociedade europeia no final do século
XVIII era tipicamente rural, parte desse campesinato produzia por subsistência, outra parte
também para o comércio, que dependia do excesso da produção agrícola para firmar o
mercado. É também observado a formação das zonas urbanas, ou seja, o desenvolvimento dos
grandes centros político-administrativos, grandes concentrações econômicas e demográficas.
No entanto, esse aspecto de crescimento urbano só tinha alguma tangência, em Paris e
Londres.
As zonas urbanas dependiam relativamente da produção campesina, ou seja, aqueles que
viviam do comércio dependiam, como citado anteriormente, do excesso da produção agrícola.
Comerciantes, regiam o escoamento desta produção como base econômica. A relação entre
grandes centros, comércio e o campo foi de grande importância para o desenvolvimento das
províncias europeias, colocada assim por Hobsbawm, pois a distância entre eles e o
contingente populacional não tinha grandes escalas. Passou a surgir nessas pequenas regiões,
a diferenciação entre o homem do campo e o homem urbano, por conta das atividades
práticas, onde o campesinato se restringia às atividades rurais e o negociante, às atividades
comerciais, criando uma disparidade ideológica na qual seria o camponês “ignorante” e o
comerciante o “erudito”. Contudo, essas cidades não conseguiam se proliferar por muito
tempo, pois a restrição comercial de sua localidade - que geralmente produzia uma mesma
quantidade determinada - não resistiu ao início de um comercio mais aberto e dinâmico - as
circularidades de produção entre regiões poderiam rechaçar sua atividade agrícola -, ou seja,
estas cidades se resguardavam através de sua produção rural, o que não teria grande
eficiência.
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O terceiro observa-se com mais detalhes o setor rural repercutindo a relação existente
entre a propriedade e os que cultivavam. A terra até então era a única fonte de renda e poder
para a sociedade - a primeira escola econômica buscou nas relações do campo o equilíbrio
econômico para os estados europeus, essas teorias econômicas ficaram conhecidas como
“Fisiocracia”. Não obstante, é possível perceber como se utilizava a mão-de-obra nas
atividades agrícolas no final do século XVIII através de três grandes segmentos: O primeiro
se trata das colônias além-mar, ou seja, a América - o lavrador eram os aborígenes e os
negros, submetidos ao trabalho escravo. O segundo trata-se das índias orientais- os lavradores
eram obrigados a ceder parcelas de suas produções. No terceiro segmento observa-se o leste
europeu, aonde a servidão era comparável em alguns aspectos à escravidão africana -as
obrigações servis aboliam a liberdade dos lavadores que sofriam com a coerção política do
mundo agrário. A propriedade, durante esse período, representava todo o controle sobre a
mão-de-obra, ou seja, tais proprietários possuíam grande prestigio político.
O quarto aspecto exposto por Hobsbawm (1986) é a estrutura social existente no século
XVIII que aos poucos foi se modificando ao ponto de fazer eclodir a Revolução Francesa
(1789). Nesta sociedade - onde a propriedade era pertencente aos nobres e por onde, era
através da terra que estes mantinham seu status de dominação - foi se transformando,
principalmente quando os custos da produção, em conjunto com os aumentos dos preços,
fizeram que boa parte dos nobres buscassem novas fontes de rendas - mais especificamente
através dos serviços administrativos do estado absolutista, abrindo uma nova relação para com
os camponeses e a terra. Os senhores de terras começaram a alugar suas propriedades e os
camponeses começaram a desfrutar de sua própria produção e sua própria terra, com certa
liberdade para comercializar sua própria produção ou realocar o terreno. Apesar das
obrigações servis ainda permanecerem, esta implicação [locação] possibilitou o
desenvolvimento de uma agricultura fixada na renda e no capital, dissolvendo, em um
processo gradativo, as relações de trabalhos servis na Europa.
No quinto aspecto, observa-se o desenvolvimento econômico e o crescimento da classe
mercantil neste período. A consolidação da exploração colonial se tornava cada vez mais
fortuito: as rotas marítimas conseguiam conectar relações comercias entre os diversos
continentes - desde a troca de especiarias nas índias orientais passando pela África no tráfico
negreiro, até as Américas, onde exportavam açúcar, milho e mais tarde

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o algodão de volta para a Europa. Os lucros obtidos por essas rotas de comércio eram
exorbitantes para a época, o que tornava o mercador, nesse período, o novo ideal para a
sociedade. Nessa perspectiva, outro fator primordial contribuiu para o fortalecimento deste
novo ideal de homem – dinâmico e livre que navegava e comercializava seus produtos no
mercado - que foi o desenvolvimento das ciências, que enfatizava a necessidade do progresso,
da tecnologia e da razão como condução aos maiores lucros dessas relações comerciais. O
iluminismo veio a contribuir com esse novo ideal criticando todo governo que, regido sobre o
monopólio da força, privasse a liberdade individual e principalmente a liberdade de comércio.
A sexta passagem ergue os motivos da derrocada das monarquias absolutistas na Europa.
Nesse momento, os regimes absolutistas se encontravam em um dilema e foram incapazes de
resolvê-lo. De um lado, seus antigos aliados e certamente a origem de seu poder: o poder
divino, a hierarquia, o sangue, ou seja, a tradição nobre do seu poder - que advinda do final da
idade média. Do outro lado, o surgimento de um novo ideal fixado no progresso e na
necessidade de liberdade para o estabelecimento das relações mercantis - essencial para
consolidação econômica que um estado e seus indivíduos precisam, no entanto, em troca
disso, exigiam participações nas decisões políticas - até então restritas ao rei e à nobreza - e o
fim das relações servis no campo. Juntam-se a esse dilema as pressões internacionais -
principalmente as guerras: Guerra dos Sete Anos e a revolução americana, financiada pela
coroa francesa. Em meio às tensões, muitas monarquias na Europa passam a não suportar e
terminam por sucumbir entre o fim do Século XVIII e XIX.
Por fim, observa-se o crescimento das relações entre a Europa e o resto do mundo nesse
período, por onde o produto de toda essa transformação se verificou através do completo
domínio político e militar do mundo. Portanto, a Europa consegue nesse processo,
primeiramente consolidar a lógica de uma nova sociedade calcada na liberdade, no
individualismo, na razão e no progresso - amplificado com fim das monarquias -, ganhou os
presságios e mecanismos para conseguir, através da exploração do capitalismo emergente,
estabelecer um predomínio mundial que seria mais tarde “dissolvido” devido a um longo
processo de guerras mundiais e no continente europeu, deixando o posto imperialista para os
EUA. Hobsbawm (1986) traz à tona um cenário que desencadeou, em duas grandes
revoluções - a industrial inglesa e a francesa -, porém sua abordagem marxista fixa os olhos
dos leitores para questões econômicas,

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focando principalmente nas relações estabelecidas entre propriedade, camponês e
comerciante. Sua explicação parte do campo econômico, sendo este, o motor transformador
das relações sociais, culturais e políticas – trajando a formula marxista de infraestrutura sobre
superestrutura, onde a economia e os meios de produção são o ponto de partida para as
transformações da realidade.
3. A Revolução Francesa (1789-1815) A França do século XVIII era um Estado
absolutista, o rei operava com poderes absolutos a economia, a justiça, a política e até mesmo
a religião dos seus súditos. A sociedade encontrava-se estratificada e hierarquizada. No topo
da pirâmide social, estava o clero – tinha o privilégio de não pagar impostos. Abaixo do clero
estava a nobreza – formada pelo rei, sua família, condes, duques, marqueses e outros nobres.
A base da sociedade era formada pelo “Terceiro Estado” - trabalhadores, camponeses e
burguesia - que, sustentava toda a sociedade com sua força de trabalho e com o pagamento de
altos tributos cobrados pela coroa francesa (HOBSBAWM, 1986, p.245). A vida dos
trabalhadores e camponeses era de extrema miséria, portanto desejavam melhorias na
qualidade de vida e de trabalho. A burguesia, mesmo tendo uma condição social mais
abastada, aspirava por maior participação política e liberdade econômica para conduzir seus
negócios interna e externamente, investir, produzir com maior eficiência e escoar a produção.
Nesse período, a França apoiou a independência das antigas treze colônias inglesas (os
Estados Unidos) - que recebem como presente francês a Estátua da Liberdade (BURNS, 1972,
p,144). Segundo Hobsbawm (1986), essa foi uma das principais causas que desencadeou a
Revolução – por conta dos altos gastos com a Guerra dos Sete Anos, jogando no poço a
balança comercial e os cofres públicos da França. Com a convocação dos Estados Gerais -
que foi aclamada para solucionar a crise financeira que a França se encontrava - o Terceiro
Estado teve a chance de mostrar o seu poder (NUNZIO, 1992, p.75). Como não havia líderes
que representassem o Terceiro Estado dentro de suas estratificações sociais, o grupo social
que teve maior destaque foi a burguesia - que neste momento, já se encontrava organizada
tanto politicamente quanto socialmente. Essa burguesia era essencialmente comercial e
aspirava ao liberalismo econômico (BURNS, 1972, p.146). As exigências burguesas
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foram expressas na “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” – para
Hobsbawm (1986), foi um documento áspero contra a sociedade hierárquica de privilégios de
nobres, não apenas um manifesto a favor de uma sociedade “democrática” e igualitária. “Em
maio de 1789, a Assembleia dos Estados Gerais abriu seus trabalhos e as discussões
aconteciam isoladamente, dentro de cada Estado. O Terceiro Estado, observando com
preocupação essa situação e temerosos de que a nobreza e o clero pudessem obter vantagens,
solicitou que as votações fossem individuais, pois contavam com a maioria entre os três
Estados. Diante da rejeição a tal procedimento, o Terceiro Estado desligou-se dos Estados
Gerais e autoproclamou-se Assembleia Nacional [...] A perseguição aos seus membros e
anulação de suas decisões não foram suficientes para conter o processo revolucionário que se
iniciava. “ (VISENTINI; PEREIRA. 2012, p.37) A Revolução Francesa foi
predominantemente burguesa porque mesmo com a presença de outros grupos sociais, a
burguesia teve presença política e intelectual dentro do Terceiro Estado com expressividade e,
com o apoio das massas de camponeses e trabalhadores - que ganhavam em maioria como
representantes dentro da Assembleia Nacional -, teve forças para convocar os Estados Gerais.
Tal conjunto de inquietações, que desafiavam o status quo e o modus operandi da aristocracia,
foi sem dúvida uma revolução social, pois os sujeitos envolvidos estão longe de serem
homogêneos. Destacam-se nesses grupos os “Girondinos” - burguesia moderada que tinha
participação na Assembleia Constituinte com intenções liberais (de conduta mais ideológica
do que pragmática), eram contra o terror e a execução do rei; os “Jacobinos” – burguesia
liberal e radical, apostavam no terror como a maior arma da revolução; os “Sem-culotes” -
Trabalhadores pobres, pequenos artesãos, lojistas, artífices, pequenos empresários que
estavam organizados por seções, sendo os verdadeiros manifestantes, agitadores, construtores
de barricadas; por fim, os camponeses - homens que viviam nos campos que promoviam
movimentos vastos, disformes, anônimos, mas irreversíveis (HOBSBAWM, 1986, p.242). A
epidemia das insurreições acionou a inquietação camponesa e espalhou de forma obscura e
eminente, levando o Estado francês ao Grande Medo. Pode-se dizer que o Terceiro Estado
tinha a todas as condições para executar a revolução, pois, os burgueses moderados e radicais
eram os intelectuais e politizados que deram forma política ao movimento, e com o apoio dos
camponeses e os Sem-culotes - a grande massa do movimento, mas de pouca consciência
política - deram espaço para que os burgueses controlassem todas as bandeiras da revolução
(HOBSBAWM, 1986, p.244).

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Parte desse período que sucede a instalação do Terceiro Estado nas Assembleias,
caracterizado pelas movimentações mais violentas (após a tomada da Bastilha) ficara
conhecido como “O Grande Medo” ou “O Grande Terror” que duraram em torno de dois anos
– recuperou a França da crise financeira na qual estava afundada. Robespierre, líder jacobino,
criou o Terror como único método efetivo de preservação de seu país, ou seja, mandava para
guilhotina todos e quaisquer suspeitos que fossem contra aos "ideais revolucionários" - serviu
como uma espécie de extensão da revolução, pois controlava "traidores" e opositores em
potencial (HOBSBAWM, 1986, p.249). Nesse período, Robespierre consegue estabilizar a
situação financeira da França, e também mantém sob controle os invasores - triunfando
militarmente. Deu-se ao povo o direito ao sufrágio, o direito à insurreição, trabalho e
subsistência, tendo uma Constituição genuinamente popular proclamada por um Estado
Moderno. Foram abolidos todos os direitos feudais remanescentes, aumentando assim, as
oportunidades para o pequeno comprador adquirir as terras confiscadas dos emigrantes. Essas
transformações deram base para o rápido desenvolvimento econômico - tais fatores serviriam
como justificativa (dos jacobinos) da durabilidade deste processo, apesar do excesso de
pessoas mandadas à guilhotina, como Danton, que foi um líder girondino e até mesmo o
próprio Robespierre, que foram tragados pela própria revolução. A revolução transformou
toda a Europa - por varrer grande parte dos sistemas políticos absolutistas (HOBSBAWM,
1986, p.249). O período revolucionário que perpassa o Diretório e a Monarquia
Constitucional deu bases para o sistema liberal ser implantado e solidificado, entretanto até
que tal fato se tornasse perfeitamente concreto, os povos sob a luz dos iluministas que
colocavam as mãos no poder sofreram com grandes problemas externos. O recrutamento de
um exército fiel na França surge como solução para resolver as guerras contra a Áustria e a
Prússia. Napoleão I, como chefe do exército, resgata o governo com grande superioridade
militar - vence brilhantemente as batalhas (BURNS, 1972, p.143). O exército era composto
por uma massa de cidadãos revolucionários com levas improvisadas de soldados e recrutas
mal treinados que se transformou numa força de combatentes profissionais que, com o tempo,
incorporaram a experiência de campo e moral através de velhos e cansativos exercícios – os
soldados eram tratados como

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“homens de regras absolutas” e promovidos por mérito, o que significava distinção na
batalha, produzindo assim a simples hierarquia de coragem. O exército foi amparado por uma
indústria de armamentos que satisfazia minimamente as necessidades dos combatentes – das
necessidades comuns às mais triviais. Em resumo, foi este exército que conquistou toda a
Europa. Poderia ser como qualquer carreira aberta para o talento na revolução burguesa, e os
que nele obtiveram sucesso - tinham um interesse investido na estabilidade interna como
qualquer outro burguês. Com isso, Bonaparte tornou-se a pessoa adequada para concluir a
revolução. Sobrevivendo à morte de Robespierre, torna-se cônsul (1799-1804) e depois
imperador (1804-1815) - resolve os problemas do Diretório, do Código Civil, fazendo
também uma concordata com a Igreja e cria o Banco Nacional, deixando a França numa
estabilidade política e econômica. Hobsbawm (1986) refere-se a Napoleão I como o homem
de mil virtudes e isso, sem dúvidas, se deve ao reflexo da disseminação do mito Napoleônico.
4. As guerras napoleônicas
Entre 1794 e 1799 a França estava se reestruturando após o fim do Terror e o
afastamento dos Jacobinos, os girondinos remanescentes reocuparam seus cargos e as ideias
liberais voltaram a predominar, mas a estabilidade política ainda não havia sido perfeitamente
alcançada. Estados europeus contrarrevolucionários seguiam com as investidas contra a
França enquanto grupos revolucionários como os sans-culottes ainda arquitetavam revoltas
internas. Então, dentro de um cenário que ainda abrigava diversas disputas e precisava
suprimir urgentemente conflitos, tanto internos quanto externos, surgiu uma figura
emblemática que deu um novo rumo à revolução.
Napoleão Bonaparte, que havia retornado para a França como herói nacional após seu
êxito em batalhas travadas na Itália e na Grécia, se deparou com apoio de grupos políticos
internos que buscavam organizar uma nova ordem social estável. Então, no dia 10 de
novembro de 1799, Napoleão toma o poder ao dar o golpe conhecido como “O 18 Brumário”,
esvaziando toda a sala de sessões e criando um consulado decenal de três membros. A partir
de tal evento, Napoleão submete por completo o sistema legislativo e corta pela raiz os
problemas que afligiam a burguesia que havia chegado ao poder com o Diretório.
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Após o sucesso de diversas políticas monetárias, a criação do Banco da França, políticas
de “pacificação” através da supressão de grupos rebeldes internos e um tratado de paz feito
com a Inglaterra – que dura pouco –, Napoleão expande seu poder e influência a ponto de
tomar o posto de cônsul vitalício em 1802. A expansão francesa no mar mediterrâneo acaba
resultando no rompimento do tratado de paz com a Inglaterra, acelerando no processo de
ascensão de Napoleão ao poder, mas desta vez como imperador da França (em 1804) – tal
evento ocorre pela necessidade eminente de defender e expandir o poder e o território francês.
Em seguida a França mergulharia sucessivas vezes num mar de conflitos (BURNS, 1972,
p.173).
Após a formação do Grande Exercito que contava com cerca de 600 mil homens,
Napoleão tem uma breve derrota marítima contra a Inglaterra, mas logo depois obtém êxito na
batalha de Austerlitz e toma a Áustria como um Estado vassalo, seguindo assim uma sucessão
de vitorias por terra (BURNS, 1972 p.173). A França havia alcançado o patamar de potência
militar terrestre, porém permanecia perceptível a impossibilidade de vitória marítima contra a
Inglaterra, então é estabelecido o “bloqueio continental” (HOBSBAWM, 1986, p.252),
embargo econômico contra a potência rival – a França impedia a comercialização entre seus
países aliados ou ocupados e a Inglaterra. No ano de 1811 o expansionismo napoleônico
chega ao seu ápice após anos de êxito militar.
Logo, alguns países ocupados começam a se organizar em movimentos de resistência
inspirados nas ideias de nação, liberdade e igualdade – dentro dos territórios espanhóis
ocorreu a revolta popular onde 40 mil civis renderam 10 mil soldados franceses. Dessa
maneira desaparecia a crença da invencibilidade do grande exército francês. Ainda em seu
auge, Napoleão empreende uma grandiosa campanha militar contra a Rússia, o que mais tarde
se mostraria um dos maiores fracassos da história militar mundial (BURNS, 1972, p.177). Ao
perceber a estratégia da “terra arrasada” – ato de destruir alojamentos, plantações e quaisquer
possibilidades de sobrevivência e recuar para o interior – aplicada pelos camponeses russos, o
exército francês se viu sem mantimentos, com o inverno a caminho e cercados pelo exército
russo, nada restava a fazer senão retornar para a França. Dos 650 mil soldados apenas 100 mil
retornaram – após tal acontecimento, o império Francês entrou em estado de acelerado
declínio (KENNEDY, 1989, p.134). Ocorreram sucessivos ataques contra a França
financiados pela Inglaterra, ataques estes que levaram Napoleão a um breve exílio, uma volta
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triunfal, um governo de cem dias e a batalha final em Waterloo, quando as forças
francesas foram enfim derrotadas e Napoleão foi exilado na ilha de Santa Helena.
5. Os efeitos da Revolução Francesa no mundo
O expansionismo imperial francês chegava ao fim. Com os eventos e reuniões
conhecidas como “O Concerto Europeu” – Kissinger (2001) relata que
“A necessidade de refazer a ordem internacional tornara-se ainda mais urgente [...] Após
o Congresso de Viena, a Europa gozou do mais longo período de paz que jamais teve.
Durante 40 anos, não houve guerra sequer entre as Grandes Potências” (KISSINGER, 2001,
p.81)
– Que culminou no Tratado de Viena (1814-1815), os principais atores europeus
delimitaram medidas e normas para reestruturar a Europa e reparar as consequências danosas
causadas pela França. “A escolha da cidade representava o perfil conservador do congresso,
dada a aversão da dupla monarquia danubiana ao liberalismo e ao nacionalismo”
(VISENTINI; PEREIRA. 2012, p.45). Os Absolutistas temiam uma nova guerra de natureza
internacional a partir de novas insurreições e, num passe de comum acordo, decidem por
sufocar qualquer movimentação de natureza iluminista. Entretanto, os efeitos da revolução
francesa fizeram impulsionar com maior ênfase os ideais iluministas e o emergente
pensamento socialista – como Hobsbawm (1983) a ele se refere “enquanto movimento social
moderno [socialismo], tem início com a corrente de esquerda da Revolução Francesa”
(HOBSBAWM, 1983, p.40). Com as guerras napoleônicas, o Código Civil e os novos
pensamentos que emergiram na revolução francesa se espalharam por toda a Europa –
pensamentos estes de nação, liberdade, igualdade e democracia passaram a fazer parte do
imaginário Europeu –, e mesmo após a restauração da monarquia com a família Bourbon, a
chama da revolução continuava acesa em toda Europa e atravessara também o atlântico rumo
ao “novo” continente.
Por toda a Europa os soberanos que haviam sido destronados retomaram suas posições
através do Congresso de Viena. Entre 1815 e 1830 promoveram diversas tentativas de
reestabelecer o Antigo Regime por meio de políticas contrarrevolucionarias, porém não havia
mais solução aparente, os clubes jacobinos, os viajantes e os intelectuais espalhados por toda
Europa – e por fim as guerras napoleônicas – haviam levado, irreversivelmente, a revolução
para o mundo.

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“A Revolução Francesa assinalou a etapa final do processo de secularização das
estruturas de poder inaugurando certa modernidade ocidental. Pode-se identificar essa
modernidade com a fundação da sociedade burguesa, com novos padrões econômicos
(liberalismo) e com a passagem da condição de súdito a cidadão (modificações ideológicas
advindas do iluminismo). ” (VISENTINI; PEREIRA. 2012, p.35)
Guiados pelo pensamento iluminista e socialista, novos movimentos de caráter
revolucionário e rebelde tomaram a Europa entre 1815 e 1848 em grandes “primaveras” –
eclodindo como ondas que abalavam as últimas estruturas políticas remanescentes da velha
monarquia absolutista (HOBSBAWM, 1986, p.258).
Segundo Hobsbawm, três principais ondas revolucionárias são perceptíveis nesse
período: As revoluções de 1820, primeira onda de insurreições, se limitaram ao mediterrâneo
e estenderam-se até o ano de 1824, dentro de tal evento encontram-se Espanha, Nápoles e a
Grécia como focos revolucionários. A Grécia conquistou sua independência enquanto os
outros movimentos foram sufocados, porém a revolução espanhola deu força ao movimento
de libertação na América Latina, que por volta de 1822 já se encontrava quase isenta das
rédeas europeias e, no Brasil, a separação de Portugal acontece, no momento de debilidade
para este último, quase sem resistência (HOBSBAWM, 1986 p.259). A segunda onda
revolucionaria teve início em 1829 com a derrubada da casa Bourbon na França, se
estendendo até o ano de 1834. Após a queda Bourbon, toda Europa ocidental entra em uma
grande revolução no ano de 1830, num evento de impacto ainda mais profundo que a
revolução anterior, de forma que a ela é creditado como o momento em que os aristocratas de
fato foram derrotados pelo poder burguês (HOBSBAWM, 1986 p.259).
A vitoriosa Inglaterra havia difundido o pensamento liberal por todo o continente e,
enquanto a nova classe governante se consolidava, aconteciam os primeiros movimentos da
classe operária como força política na Grã-Bretanha e na França – acompanhados de
movimentos nacionalistas em larga escala. O ano de 1830 determina o início de duas décadas
de crise econômica e social – no desenvolvimento da nova sociedade –, crise essa que se
conclui apenas com o fim da terceira onda revolucionaria. Então, em 1848 eclode, como
conhecida “Primavera dos Povos”, a maior de todas as ondas de revoluções, surge como

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produto da crise econômica e social que se manifestava massivamente sobre o continente
Europeu. Esta última toma proporções continentais ao se alastrar rapidamente por quase todos
os Estados – o movimento já
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contava com uma participação ativa da classe operaria e, de fato, sua mobilização trouxe
um vislumbre da tão sonhada revolução mundial (HOBSBAWM, 1986, p.262).
No fim, o que se deu com uma classe de nação que reivindicara por liberdade, igualdade
e fraternidade agora era uma primavera de povos, o levante de um continente, edificada sobre
uma era de revoluções – fazendo emergir uma nova estrutura social. Por mais que a
Revolução Francesa tenha findado, ainda se faz perceptível os reflexos das mudanças sociais
conquistadas através da grande insurreição – sejam estes reflexos os métodos do caráter
revolucionário, a natureza do protesto e reivindicação e a necessidade do embate entre as
classes dominadas contra dominantes por ausência da eficiência do diálogo em tais casos
(NASCIMENTO, 2004).
Referências
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HISTÓRICO
E OS EFEITOS QUE MOLDARAM ASOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
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GLOSSÁRIO (OBRIGATÓRIO) (Cada termo deverá conter de três a cinco linhas e


indicação de fonte de referência, quando houver.)
Territorialização:
Soberania:
Democracia:

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EAD/Graduação
MATERIAL TEXTUAL – UNIDADE

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