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por estar incluída no próprio conceito de inconsciente. A tivo - ensiná-lo a falar como o inconsciente.
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_-\ interpretação mínima, o "eu não o faço dizê-lo", é o "Instância da letra". Esse programa consiste em reduzir a
que então? - apenas colocar as aspas da citação no dito, libido no ser do sentido.
retirá-lo do contexto, fazendo aparecer um sentido novo. Salientei os cinco principais momentos da elabora
O inconsciente não faz isso com o sonho? - foi a desco ção. Ao final, trata-se da desqualificação do objeto a.
berta que Freud nomeou "restos diurnos". O que Lacan assim batizou com o nome de objeto
O inconsciente interpreta. E o analista, se interpretar, pequeno a é o último dejeto de uma tentativa grandiosa:
o faz na sequência. Que outra via se abre no fim? - a de integrar o gozo na estrutura de linguagem, se preciso for
se identificar com o próprio inconsciente. É o princípio estendê-lo até a estrutura de discurso.
do novo narcisismo, não sendo mais o do eu forte. "Você Mais além, abre-se outra dimensão, onde a estrutura
não diz nada?". Certamente. Calar-se aqui é o mal menor. de linguagem é propriamente relativizada, aparecendo
Sendo que interpretar, o inconsciente não faz outra coisa, apenas como uma elaboração de saber sobre '·alíngua".
faz até melhor, geralmente, que o analista. Quando o O termo significante falha em captar do que se trata - já
analista se cala é porque o inconsciente interpreta. que é feito para captar o efeito de significado, dando
Entretanto, o inconsciente quer ser interpretado. Ofe apenas conta do produto de gozo.
rece-se para tanto. Se não o quisesse, se o desejo incons Doravante a interpretação não será mais o que era. A
ciente do sonho não fosse, em sua fase mais profunda, idade da interpretação acabou, a idade em que Freud
desejo de ser interpretado - Lacan o diz - desejo de fazer revirava o discurso universal com a interpretação.
sentido, não haveria analista. ,Freud começou pelo sonho que, desde sempre, se
. Penetremos no paradoxo. O inconsciente interpreta e prestou para a interpretação. Prosseguiu com o sintoma,
quer ser interpretado. Há contradição aí apenas para um concebido conforme o modelo do sonho, uma mensa
conceito sumário da interpretação. De fato, a interpreta gem a decifrar. Já havia deparado no caminho com a
ção chama sempre a interpretação. reação terapêutica negativa, o masoquismo e o fantasma.
Vamos dizê-lo diferente: interpretar é decifrar. Mas, O que Lacan continuou chamando de "interpretação"
decifrar é cifrar novamente. O movimento pára somente não é mais isso, já que esta não se alinha ao sintoma e
numa satisfação. sim ao fantasma. E nós, sempre estamos repetindo que o
Freud diz isso ao inscrever o sonho como discurso no fantasma não se interpreta, constroe-se.
registro do processo primário, como realização de dese O fantasma é uma frase da qual se goza, mensagem
jo. E Lacan no-lo decifra dizendo que o gozo está no cifrada que encerra o gozo. O próprio sintoma é pensado
ciframento. em função do fantasma que Lacan nomeia o "sinthoma".
Mais ainda - como o gozo está no ciframento? Com Uma prática que visa no sujeito o sinthoma não se
qual ser está no ciframento? Habita que lugar no interpreta em detrimento do inconsciente. Fazê-lo é per
ciframento? manecer a serviço do princípio do prazer. Colocar-se a
Dito de forma abrupta, tal como convém a comunica serviço do princípio do prazer não muda nada, o pró
ções breves que constituem o estilo e o sal destas Jorna prio princípio da realidade está a serviço do princípio
das - não há o que na estrutura de linguagem permita do prazer.
responder corretamente à questão levantada, salvo se Interpretar a serviço do princípio do prazer - não bus
corrigirmos a estrutura. quem alhures o princípio da análise interminável. Não é
No ano precedente, cansei meu auditório, fazendo-o isso que Lacan 'chama de "via para o sujeito do verdadei
seguir os meandros preciosos a Lacan, para integrar a ro despertar".
libido freudiana na estrutura de linguagem - exatamente Faltou dizer o que poderia ser interpretado além do
no lugar do significado, dando ao gozo, se é possível princípio do prazer - interpretar na contramão do incons
dizer, o ser próprio do sentido. ciente. O termo interpretação vale aí como lugar tenente
Gozo, sentido gozado - cuja homofonia introduzida de um outro, que só pode ser o silêncio.
em Televisão nos surpreende, se encontra no próprio prin Assim também é preciso, por referência, abandonar o
cípio do programa inaugurado, não somente em "Função sintoma a favor do fantasma, pensar o sintoma a partir do
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e campo da palavra e da linguagem", mas também na fantasma - assim como precisamos abandonar a neurose
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a favor da psicose, pensar a neurose a partir da psicose. fundamental da palavra, o fenômeno elementar está aí
O significante tal qual, como cifra, separado dos para manifestar o estado originário da relação do sujeito
efeitos de significação, faz apelo à interpretação. O com alíngua. Sabe está concernido pelo dito, que aí há
significante sozinho é sempre um enigma, eis porque significação, mas não sabe qual significação.
sempre em falta de interpretação. A interpretação pre Eis o motivo pelo qual, exatamente aqui, avançando
cisa do envolvimento de outro significante, emergin nessa outra dimensão da interpretação, Lacan apela ao
do daí um sentido novo. Finnegans Wake, um texto que apesar de manejar inces
Trata-se da mesma estrutura por mim salientada há santemente as relações palavra/escrita, som/sentido, teci
um mês na Seção clínica de Buenos Aires, um colóquio do por condensações, equívocos, homofonias, não tem a
consagrado ao delírio e ao fenômeno elementar. ver com o velho inconsciente. Porque todo ponto de es
O fenômeno elementar evidencia, de forma particu tofo aí fica caduco, não se prestando à interpretação, nem
larmente pura, a presença do significante sozinho, à tradução - a despeito ele heróicos esforços. Porque ele
suspenso - na espera de outro significante para lhe dar próprio não é uma interpretação, reconduzindo maravi
sentido - e que, via de regra, aparece o significante lhosamente o sujeito da leitura à perplexidade como fe
hinário do saber, não escondendo quando acontece nômeno elementar do sujeito em alíngua.
sua natureza de delírio. Diz-se bem dito - o delírio de Se S 1 absorve sempre S2 • Os vocábulos que traduziriam
interpretação. o sentido numa outra língua são antecipadamente devora
É a via de qualquer interpretação: tem estrutura de dos pelo próprio texto, como se ele procedesse uma auto
delírio, e Freud sem hesitar situa no mesmo plano, sem interpretação, e, sendo assim, a relação significante/signifi
patamares, o delírio de Schreber e a teoria da libido. cado nãç toma forma de inconsciente. Não se poderia nun
Sem dúvida que, se o analista só tem a oferecer ao ca separar o que Joyce quis dizer do que disse - transmis
paciente uma interpretação de ordem delirante, melhor são integral, mas de modo inverso ao materna.
faz calando-se. Máxima de prudência. O efeito zero do fenômeno elementar é aqui obtido
Há outra via, nem a do delírio, nem a do silêncio da através cio efeito aleph, que abre para o infinito semânti
prudência. Continuaremos se quisermos chamando-a de co, ou melhor, sobre a fuga ele sentido.
''interpretação", apesar dela nada mais ter a ver com o O que ainda chamamos "interpretação", muito embo
sistema da interpretação, e sim com seu avesso. ra a prática analítica seja sobretudo pós-interpretativa,
Dizendo-o com a concisão exigida pelas Jornadas, na certamente revela, mas o quê? - apenas uma opacidade
outra via o S2 fica retido, para não ser acrescido ao obje irredutível na relação do sujeito com alíngua. Eis porque
tivo de cercear S 1 . Trata-se de reconduzir o sujeito aos a interpretação - a pós-interpretação - não é mais, com
significantes propriamente elementares, com os quais certeza, pontuação.
delirou em sua neurose. A pontuação pertence ao sistema da significação; ela
O significante unário, enquanto tal insensato, quer dizer é sempre semântica; ela sempre efetua um ponto de esto
que o fenômeno elementar é primordial. O avesso da fo. De fato, é o motivo porque a prática pós-interpretatiYa
interpretação consiste em cercear o significante como fe toma todo dia a vez da interpretação, referindo-se ao cor
nômeno elementar do sujeito e como anterior à sua arti te e não à pontuação.
culação enquanto formação do inconsciente, que lhe dá O corte, figuramo-lo, ora, como separação entre S: e
sentido de delírio. S2 , a mesma que se inscreve na parte inferior do materna
Quando a interpretação toma-se o êmulo do incons "discurso analítico": S// S1 •
ciente, mobilizando recursos sutis de retórica, quando se As consequências disso são fundamentais na constru
molda na estrutura das formações do inconsciente - o ção do que chamamos de sessão analítica.
delírio, ela o nutre - quando se trata de o esfomear. Não se trata de saber se a sessão é breve ou longa,
Se houver aqui decifração, é uma decifração que não silenciosa ou falante. Ou a sessão é uma unidade semân
produz sentido. tica, onde S2 vem pontuar a elaboração - delírio a serviço
A psicose, aqui como alhures, desnuda a estrutura. do Nome-do-Pai - muitas sessões se constituem dessa
Assim como o automatismo mental evidencia a xenopatia forma. Ou a sessão analítica é uma unidade a-semântica
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:-6::onduzindo o sujeito para a opacidade de seu gozo. prio Freud, é impossível não o perceber.
Isi:o supõe que antes de ser encerrada, .deve ser cortada.
Coloco em vias opostas a elaboração e a perplexidade. A
elaboração, não se preocupem com ela, sempre haverá a mais. Nota
.\tinha proposta de reflexão para as Jornadas é que a Es.5a exposição foi por mim anunciada no progrdma das Jorna
interpretação propriamente analítica - mantemos o nome das com o título "O avesso da interpretação" e apresentado em
- funciona pelo avesso do inconsciente. três frases: "A interpretação e1>tá morta. Não a ressucitaremos.
Se ela for atual, a prática, mesmo sem o saber, é inelutavelmen
A seguir, um resumo de uma das respostas de Jacques te pós-interpretativa". Feita para estar na contramão de uma
Alain Miller às perguntas do público. opinião comum, esta comunicação oral visava um efeito de
Partimos do diagnóstico afirmado por Serge Cottet, surpresa; ela o obteve e foi além. Sucesso então - ou não: pois
·'o declínio da interpretação" - que acertou na mosca o "se", revirando o vento em pop-d, o peixe afogou. Cj a esse
após ter sido por mim extraído, no ano passado, em sua propósito uma primeira reflexão, "O esquecimento da inter
exposição na Seção clínica. Assinalou as dificuldades que pretação", publicado em w I.ettre mensuelle, nº 144, dezem
classificou na ordem de um certo sintoma. O termo de bro de 19<)5, p. 1 e 2.
"declínio" colocava-nos no sintagma "grandeza e deca O texto acima, estabelecido com os cuidados de C.
dência", um lado sombrio, onde tentei mostrar o lado Bonningue, foi por mim rev�to: fiz poucas correções -J.-A. M.
luminoso. Coloco positividade naquilo que se pode lo
calizar à primelra vista como um declínio da interpreta Texto apresentado nas XXIV Jornadas de Estudos da Escola da Causa Freudiana, Paris,
ção. Sublimo o declínio da interpretação na prática pós 199f Extraído dela Causefreudienne, nº 32, Paris, Navarin, 1996.
interpretativa. Quando começou essa prática? Com o pró- Traduzido por Angelina Harari.
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