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Sumário
1.0 CONCEITO DE CASAL ............................................................................................. 3
2.0 A INFLUÊNCIA DOS TIPOS PSICOLÓGICOS NO RELACIONAMENTO DE
CASAL NA VISÃO DA PSICOLOGIA ANALÍTICA .............................................................. 6
2.1 Sobre os Tipos Psicológicos ................................................................................ 12
2.2 Tipologia e Relacionamento Amoroso ................................................................ 16
2.3 Tipos de Conflitos na Relação Conjugal ............................................................. 19
3.0 RELACIONAMENTO CONJUGAL E CARACTERÍSTICAS
SOCIODEMOGRÁFICAS DE CASAIS HETEROAFETIVOS .......................................... 22
4.0 CASAIS HOMOAFETIVOS ........................................................................................... 27
5.1 Casamento, uma invenção cristã ............................................................................. 41
5.1.1 Amor subversivo ................................................................................................. 43
5.1.3 Elogio da virgindade ........................................................................................... 48
6.0 DEMANDA E INDICAÇÃO DE TERAPIA DE CASAL ................................................ 50
6.1 Processo de terapia ................................................................................................... 58
7.0 TERAPIA DE CASAL E ABORDAGEM PSICANALITICA ..................................... 70
8.0 TERAPIA DE CASAL – COGNITIVO COMPORTAMENTAL .................................... 77
8.1 Terapia cognitivo-comportamental com casais: uma análise de publicações no
Brasil.................................................................................................................................. 79
8.2 O modelo cognitivo aplicado às relações conjugais ............................................... 82
9.0 TERAPIA DE CASAL E PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL.................................. 96
9.1 A comunicação peculiar dos casais ......................................................................... 98
9.2 As transformações da terapia de casal .................................................................. 104
9.3 Treino de resolução de problemas ......................................................................... 108
9.4 O treino de comunicação na clínica ....................................................................... 110
REFERÊNCIA .................................................................................................................... 115
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1.0 CONCEITO DE CASAL
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O termo tende a estar associado aos laços sentimentais que nutrem duas
pessoas e que as une. O namoro (ou compromisso), o noivado ou ainda o
casamento supõe a existência de um casal. A composição mais habitual dos
casais é homem-mulher (ou seja, casais heterossexuais), embora, hoje em
dia, os casais homem-homem ou mulher-mulher (casais homossexuais)
gozem de um reconhecimento social e jurídico cada vez maior. Convém
destacar que o termo casal prende-se com o vínculo amoroso e não com o
estatuto jurídico da relação: há casais circunstanciais, casais de amigos, de
namorados e outros que chegam a casar-se (casal de cônjuges ou esposos),
etc.: “Eu não conheço aquele casal de lado nenhum…”, “O meu irmão
acabou por vender a sua casa de férias a um casal recém-casado”.
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sentimental entre as partes envolvidas. E apesar dessa união ser feitas em
alguns países, ela é considerada crime em países como Portugal e Brasil.
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uma família com um homem, uma mulher e duas crianças. O parentesco deles
foi comprovado por meio de testes de DNA. Segundo pesquisadores, os restos
mortais dessa família remontam 4,6 mil anos.
Por fim, chama-se casal agrícola a uma unidade constituída por uma casa
de habitação com dependências para fins de exploração rural e por terrenos
suficientemente amplos para a manutenção de uma família de cultivadores.
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humanos. A partir deste momento, cada metade tem o desejo de encontrar a sua
outra metade, a fim de se fundir em um único ser, de se religar, de se reunir em
um só. Cada ser humano busca reencontrar a totalidade primordial e resgatar a
unidade perdida. Essa incansável busca do ser humano foi que nos motivou a
buscar um maior conhecimento e maior compreensão sobre este fenômeno
psicológico.
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Na imaginação de cada ser humano há uma aptidão hereditária de ser como
era nos primórdios. No entanto, Jung (1995, p. 57) alerta para uma diferença
importante: “Isso não quer dizer, em absoluto, que as imaginações sejam
hereditárias; hereditária é apenas a capacidade de ter tais imagens, o que é bem
diferente”. Os arquétipos mais importantes na formação de nossa personalidade
são: a persona, a sombra, anima e animus e o self.
Muitas pessoas levam vidas duplas, uma dominada pela persona e outra que
satisfaz as demais necessidades psíquicas. Entretanto, uma pessoa pode usar
mais de uma máscara, porém, todas as máscaras, em conjunto, constituem a
sua persona.
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Além da persona, um outro arquétipo fundamental é a sombra. Conforme
lembra Henderson (1997), o conceito de sombra ocupa lugar vital na psicologia
analítica. A sombra projetada pela mente consciente do indivíduo contém os
aspectos ocultos, reprimidos e desfavoráveis da personalidade, mas não
representa simplesmente o inverso do ego consciente. “Assim como o ego
contém atitudes desfavoráveis e destrutivas, a sombra possui algumas boas
qualidades – instintos normais e impulsos criadores” (Henderson, 1997, p. 118).
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A sombra é o arquétipo que possui a maior quantidade de natureza animal.
Contém os instintos básicos e é fonte de intuições realistas e de respostas
adequadas, importantes para a sobrevivência. É o arquétipo mais poderoso e
potencialmente o mais perigoso de todos.
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psique, para diferenciá-lo do ego, que constitui apenas uma pequena parte da
psique. Assim, o self é, a um só tempo, o núcleo e a totalidade da psique e neste
sentido, não podendo ser confundido como sinônimo de inconsciente. Ele pode
ser o inconsciente quando polarizado com o Ego, mas é também o todo por
incluir o Ego. Enquanto o Ego é o sujeito da consciência, o self ou si mesmo é o
sujeito de toda a psique.
Há uma possível meta para cada ser humano, uma destinação, à qual Jung
(2000) denomina caminho da individuação. Podemos traduzir individuação como
tornar-se si mesmo (Verselbstung) ou o realizar-se do si mesmo
(Selbstverwirklichung). Jung (2000) enfatiza, no entanto, que individuação nada
tem a ver com individualismo, uma vez que a individuação significa a realização
melhor e mais completa das qualidades coletivas do ser humano. Esta realização
do self consiste em um processo de desenvolvimento psicológico que faculta a
realização das qualidades individuais dadas, tornando-se o seu único que de fato
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é., no entanto, o ser humano é composto de fatores puramente universais,
sendo, portanto, coletivo e de modo algum oposto à coletividade. O que ocorre
é que os fatores universais sempre se apresentam de forma individual, e por isso
Jung denomina este processo de individuação. Complementando essa ideia,
podemos dizer, conforme Vargas (1981, p. 24), que “todo o indivíduo possui uma
tendência para o desenvolvimento, o que o leva na vida a buscar realizar suas
potencialidades”.
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fundamental de Jung após o período de rompimento com Freud, da consequente
crise e da análise extensa dos conteúdos inconscientes.
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Por meio de suas observações, Jung identificou quatro fórmulas de
atividades da psique em relação ao mundo, denominando-as de funções da
consciência. Essas funções foram divididas em dois grupos: as funções de
percepção – sensação e intuição – que são as duas maneiras de se receber
informações sobre algo; e as funções de julgamento – sentimento e pensamento
– as duas maneiras de se avaliar algo. Todas estas funções são necessárias,
conforme explica Jung (citado por Sharp, 1987):
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função mais utilizada é chamada de função auxiliar, e a natureza desta
(percepção ou julgamento) se difere da função dominante. Por exemplo, quando
a função pensamento for dominante, o sentimento não poderá ser a função
secundária e vice-versa, pois ambos são funções de julgamento.
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perceptiva for a dominante, então a intuição será a quarta função, e assim por
diante.
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No homem, o receptáculo destas pretensões constitui a imago da mulher,
uma espécie de imagem virtual à qual Jung denominou anima. É a anima que
orienta as escolhas amorosas, pois o homem buscará a mulher que melhor
corresponda à sua feminilidade inconsciente. O mesmo ocorre com a mulher em
relação ao animus. Como expõe Sanford (1997), os homens identificados com
sua masculinidade, tipicamente projetam seu lado feminino sobre as mulheres,
e as mulheres projetam seu lado masculino sobre os homens. A projeção é um
mecanismo psíquico inconsciente que ocorre quando um aspecto vital
desconhecido da nossa personalidade é ativado. Diz: “quando algo é projetado,
vemo-lo fora de nós, como se fizesse parte de outra pessoa e nada tivesse a ver
conosco” (p. 17). A pessoa que carrega a imagem projetada passa a ser
muitíssimo supervalorizada ou muitíssimo desvalorizada, causando-nos atração
ou repulsa, ficando assim obscurecida a imagem real do indivíduo.
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consciente entre as personalidades do ego do homem e da mulher (setas A).
Existe também, como foi dito, uma forte atração decorrente da projeção da anima
do homem sobre o ego da mulher e a projeção do animus da mulher sobre o ego
do homem (setas B). Contudo, a fonte do magnetismo do estar apaixonado
reside na atração totalmente inconsciente entre anima e animus (setas C), como
se a anima do homem e o animus da mulher estivessem completamente
apaixonados um pelo outro, e é por isso que Sanford (1987) denomina-os de
parceiros invisíveis.
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O mesmo fenômeno ocorre em relação à tipologia psicológica. Assim
sendo, aquele que tem o pensamento como função superior consciente tenderá
a sentir-se atraído por uma parceira cuja função principal seja o sentimento, pois
é exatamente esta a sua função menos desenvolvida, ou seja, sua função inferior
inconsciente. Analogamente, o tipo sensação sentir-se-á atraído pelo tipo
intuitivo e o tipo extrovertido tenderá a sentir-se atraído pelo tipo introvertido.
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propostas pode ser vista como mandona e sentida como uma ameaça, pois pode
almejar o poder sobre o homem e sufocá-lo.
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uma união completamente patológica, constituindo uma simbiose conflitiva.
Conforme Byington (citado por Vargas, 1981), a simbiose conflitiva pode
apresentar-se de duas formas: simbiose conflitiva criativa e simbiose conflitiva
dissociativa.
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Muito diferente é a simbiose conflitiva dissociativa. Nessa relação, um
cônjuge vivencia no outro suas partes inaceitáveis e sombrias. Assim sendo, a
simbiose conflitiva dissociativa caracteriza-se pela mútua projeção das sombras,
onde cada cônjuge dissocia-se de seus conteúdos inconscientes, inclusive de
suas funções inferiores, projetando-os no seu parceiro que é então atacado de
maneira terrível e destruidora. Essa relação constitui uma união patológica, onde
“o objetivo de minha paixão tem características que eu abomino e rejeito, mas é
justamente por aquela ‘porcaria’ que eu me apaixono” (Vargas, 1981, p. 121). A
ligação é mórbida, repetitiva e compulsiva, sem nenhuma criatividade, em total
e mútua dependência. O casal passa a vida toda se agredindo, se destruindo,
mas não se separa. “Cada cônjuge funcionará como tela das projeções de tudo
que está inconsciente e dissociado do outro e, portanto, de todo o lado mais
sombrio de cada um” (Vargas, 1981, p. 32).
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origem, envolvendo, por exemplo, como e quando comer, trabalhar, dormir,
recrear-se, conversar, discutir e fazer sexo (Carter & McGoldrick, 1995; Schmidt,
2012). Tais reordenamentos nas vivências individuais ocorrem no sentido de
buscar construir uma história de vida compartilhada e uma identidade conjugal
(Féres-Carneiro & Diniz Neto, 2010). Além dessas questões, são definidas ainda
as relações com as famílias de origem, amizades e vida social. De tal forma, o
casamento não se restringe exclusivamente aos vínculos interpessoais
estabelecidos por duas pessoas – ele diz respeito ainda a um contexto
ecossistêmico mais amplo, no qual o casal está inserido e interage (Willi, 1995).
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necessitam compreender um espaço em que as forças da conjugalidade e da
individualidade de cada membro da díade coexistam e interajam (Féres-
Carneiro, 1998; Féres-Carneiro & Diniz Neto, 2010; Scorsolini-Comin & Santos,
2011a). Assim, as relações conjugais se constituem a partir de identidades
particulares de cada cônjuge e se mantêm à medida que contribuem para a
promoção de crescimento pessoal (Féres-Carneiro, Ponciano, & Magalhães,
2007). Desse modo, além de almejarem casar-se e/ou recasar (Zordan, Wagner,
& Mosmann, 2012), as pessoas estão também motivadas a constituir uma
relação conjugal de qualidade, mutuamente satisfatória para ambos os cônjuges
(Perlin, 2006).
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Casais que se consideram infelizes parecem ser mais negativos
emocionalmente, bem como mais propensos a serem reciprocamente negativos
nas interações diádicas em comparação a casais que se consideram felizes
(Féres-Carneiro & Diniz Neto, 2010). Essas diferenças são constatadas inclusive
em situações de conflito conjugal, em que casais infelizes tendem a demonstrar
menos afeto positivo, concordância e aprovação, além de mais críticas ao
cônjuge do que casais felizes (Madhyastha, Hamaker, & Gottman, 2011).
Ademais, a evitação se refere à esquiva de conversas que exijam a exposição
de sentimentos e, eventualmente, de fraquezas pessoais, com o intuito de que
os problemas se resolvam ao longo do tempo (Bolze et al., 2013; Schmidt, 2012).
Os comportamentos evitativos são considerados disfuncionais, associando-se
ao maior risco de insatisfação conjugal, pois os descontentamentos com a
relação de casal são menos manifestados, mas não menos sentidos (Colossi &
Falcke, 2013).
A harmonia conjugal, por sua vez, pode ser definida por um sentimento
de empatia, o qual favorece que cada um dos membros do casal perceba-se
acolhido, validado em seus sentimentos e respeitado na relação com o parceiro
(Oliveira, Falcone, & Ribas, 2009). Desse modo, um casal pode ser considerado
harmônico se esse se percebe como feliz e ajustado, além de demonstrar um
alto nível de concordância nos vários âmbitos que concernem sua vida em
comum (Silvares & Souza, 2008). Além disso, a expressão do afeto nas
discussões e na ocorrência de discordâncias de ideias, com expressão de
preocupação, cuidado e respeito mútuo, parece ser uma forma mais positiva de
lidar com os conflitos (Bolze et al., 2013).
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Posto isso, adiciona-se que múltiplos fatores se associam ao processo da
percepção da satisfação e da qualidade na conjugalidade, dentre os quais estão
experiências que cada cônjuge traz de suas famílias de origem (Wagner &
Falcke, 2001), características de personalidade dos membros de casal, forma
como eles constroem a relação amorosa, além de variáveis sociodemográficas,
como sexo, grau de escolaridade, nível cultural, nível socioeconômico, trabalho
remunerado, número e presença de filhos em casa (Norgren, Souza, Kaslow,
Hammerschmidt, & Sharlin, 2004; Scorsolini-Comin & Santos, 2011b).
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Desse modo, em face dos indicativos de que o contexto influencia as
interações dos membros da família, destacando-se dentre elas as interações dos
cônjuges, o estudo das relações entre conjugalidade e variáveis
sociodemográficas apresenta relevância. Isso ocorre, em primeiro lugar, à
medida que contribui para o processo de produção de conhecimentos úteis à
elaboração de estratégias de intervenção junto a casais, sopesando que a
qualidade da relação conjugal se constitui em fator de proteção ao
desenvolvimento individual e familiar: pessoas que estabelecem interações
conjugais satisfatórias são mais longevas, fisicamente saudáveis e
desempenham mais adequadamente suas funções parentais (Rauer, Karney, &
Gavan, 2008). Em segundo lugar, traz maior visibilidade ao fenômeno,
permitindo ampliar os conhecimentos referentes ao modo como essas relações
influenciam as trajetórias desenvolvimentais de indivíduos, casais e famílias. Em
terceiro lugar, dadas as particularidades do casamento contemporâneo, as quais
o tornam diferente do modelo tradicional e impactam a dinâmica da relação de
casal, evidencia-se a necessidade de novos estudos sobre a temática, sobretudo
considerando especificidades do contexto brasileiro (Heckler & Mosmann, 2014),
vez que os delineamentos das uniões conjugais vêm se transformando ao longo
dos anos (Scorsolini-Comin & Santos, 2011b).
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O interesse pela homossexualidade e pelas relações homoafetivas 1 vem
aumentando significativamente no decorrer dos últimos anos. Em 2003, quando
escrevi o artigo Terapia de casais do mesmo sexo, publicado no livro Laços
Amorosos (2004), este era um tema pouco abordado na literatura sobre casal e
família; encontrava-se pouco material sobre a homossexualidade e,
especialmente, sobre o relacionamento entre dois homens ou duas mulheres e
a prática terapêutica com casais e famílias homoafetivas.
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cada apresentação mostrou, por um lado, um grande interesse e envolvimento
dos terapeutas com a questão da homossexualidade, mas, por outro, ainda um
grande desconhecimento sobre esse mundo "tão diferente".
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Roudinesco (2003) afirma que as famílias homoafetivas estão se tornando
aceitas socialmente, pois os seus membros puseram-se a lutar por seus direitos
em vários países. Os casais homoafetivos, nesse momento, redefinem em certos
aspectos, os padrões de conjugalidade e parentalidade. Os padrões
tradicionalmente conhecidos pela nossa sociedade estão sendo rompidos, as
mudanças sociais e jurídicas passam a abrir espaço para a composição da
conjugalidade homoafetiva (Melllo, 2005).
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Na Idade Antiga (dos tempos mais remotos até a destruição do Império
Romano do Ocidente, em 476 a.C.), o culto religioso não era público, mas
professado no interior das casas em torno do fogo sagrado (lar). Não havia
regras comuns nesses rituais, e cada família acreditava em vários deuses. A
mulher passava do culto da família de origem, ou seja, do pai, para o culto da
família do marido, ou seja, para o marido. Provavelmente, é essa a origem do
acréscimo do nome da família do marido ao nome da mulher. A primeira
instituição estabelecida por essa “religião doméstica” foi o casamento, que teve,
por isso, um caráter religioso desde os primórdios da civilização.
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Do ponto de vista prático, o casamento se assentava em um acordo formal
entre o noivo e o pai da noiva, que incluía o pagamento de um dote por parte do
pai. Esta forma de união conjugal não levava em consideração a vontade da
noiva nem dependia do seu consentimento para ser celebrada. Em outras
palavras, a mulher era dada pelo pai para o marido, representando,
consequentemente, uma simples transferência de casa e, sem dúvida, de
senhor.
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do que com a própria mulher. O sentido original do ato do casamento era a
formação de um casal, mas a Igreja o equiparou à formação de uma família, a
qual deveria amar a Deus sobre todas as coisas.
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Enquanto a ética sexual da Idade Média se baseou na recusa do prazer e
na obrigação da procriação no contexto do relacionamento conjugal, a partir de
1500, por dois séculos, houve uma promoção radical da castidade e do
puritanismo em todas áreas da vida cotidiana, com fechamento dos bordéis e a
proibição de todas as formas de exposição do corpo, até mesmo nos balneários.
O pudor se tornou um símbolo de distinção social e moral, principalmente, na
classe média. Estado, Igreja e médicos da época apossaram-se do corpo e da
sexualidade, condenando o erotismo e restringindo o relacionamento sexual a
uma finalidade exclusivamente conjugal e reprodutiva. A partir do Concílio de
Trento (1563), a Igreja Católica empreendeu uma guerra sistemática a todas
formas de relações sexuais fora do casamento.
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aumento das práticas sexuais antes do casamento, observadas no início do
século XVIII.
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comida e bebida oferecidos ao grupo responsável pela arruaça. Apoiadas pelas
autoridades civis e religiosas, ao longo dos séculos XIV, XV e XVI, aos poucos,
essas manifestações foram sofrendo um processo de policiamento, mas
permaneceram de forma mais moderada em algumas comunidades até quase o
século XX.
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é indestrutível, mas o casamento nem sempre. Tornou-se claro que a biologia e
a hereditariedade ligam para sempre pais, filhos e irmãos, mas não marido e
mulher. A cultura do século XX, enriquecida pelos conhecimentos psicanalíticos,
a profissionalização da mulher, os métodos anticoncepcionais e a liberação do
divórcio afastaram o casamento da influência familiar, da religião e do Estado,
assumindo mais verdadeiramente sua condição de relacionamento amoroso de
conotação sexual. Na Suécia, por exemplo, um estudo realizado em 1985 entre
indivíduos com menos de 30 anos revelou que os casais não casados se
encontravam em maior número do que os casados. Na França, no final dos anos
de 1980, metade das mulheres com menos de 30 anos que viviam com um
companheiro não eram casadas.
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filhos de um primeiro casamento. Conforme os profissionais da área, o número
de casamentos desfeitos segue crescendo, e esta relação tende a se inverter no
Brasil nos próximos 20 anos e na Inglaterra nos próximos 10. Essa constatação
é responsável pelo engano que se comete em acreditar que os casamentos de
hoje são piores do que os do passado. O que ocorre é que o relacionamento
conjugal se tornou mais transparente e, consequentemente, mais exposto às
mudanças. Homens e mulheres não aceitam mais jogar fora suas vidas em uma
relação que se tornou sem prazer ou que empobreceu do ponto de vista afetivo.
Essa possibilidade era tão ou mais frequente no passado do que agora, mas
uma rígida moral cristã escondia o sofrimento dos esposos, dando a impressão
de que as relações eram mais consistentes. Contrastando com essa atitude, uma
estatística americana realizada em 1991 revelou que 86% dos homens e 91%
das mulheres não responderiam “sim” à pergunta que, tradicionalmente, fazem
os padres e os juízes de paz na cerimônia de casamento se realmente achassem
que não amavam a pessoa com quem estavam se casando.
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Os desejos e escondem seus preconceitos. No início do século XXI,
finalmente, o casamento parece ter atingido sua maturidade, passando a
representar verdadeiramente um ato de vontade, regido por necessidades e
anseios de prazer e realização, definidos livremente pelo casal. Seu espaço se
ampliou quando comparado com o “lar” da Idade Antiga, podendo o casal habitar
a mesma casa, a mesma cidade ou casas e cidades distintas. O mesmo
acontece em relação a filhos: poderá decidir tê-los ou não. Os filhos participam
da configuração da família quando marido e mulher, também, tornam-se pai e
mãe. A separação diz respeito, exclusivamente, ao casamento, não aos filhos
que, mesmo após este evento, seguem pertencendo à família que lhes deu
origem e, na maioria das vezes, ampliam sua vida afetiva nas novas uniões dos
pais. Grande parte do sofrimento determinado por uma separação decorre mais
das dificuldades de relacionamento do casal, dos sentimentos de culpa e da
utilização dos filhos para ferir um ao outro do que da separação em si.
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os relacionamentos do que ajuda, pois se fundamenta na submissão e na
ocultação dos sentimentos, levando o ódio a se sobrepor ao amor. É fundamental
que não se perca de vista o que em versos nos esclarece o poeta com o
conhecimento que tem da alma humana: não é o amor que sustenta o erotismo,
mas o erotismo que sustenta o amor. Sempre nos disseram o contrário, e mudar
esta forma de pensar corresponde a um resgate da verdadeira essência do
casamento.
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mulheres eram, então, o resultado complexo de renitências pagãs, de interesses
políticos e de uma poderosa evangelização.
"Amor: desejo que tudo tenta monopolizar; caridade: terna unidade; ódio:
desprezo pelas vaidades deste mundo." Esse breve exercício escolar, escrito no
dorso de um manuscrito do início do século XI, exprime bem o conflito entre as
concepções pagã e cristã do casamento. Para os pagãos, fossem eles
germânicos, eslavos ou ainda mais recentemente vikings instalados na
Normandia desde 911, o amor era visto como subversivo, como destruidor da
sociedade. Para os cristãos, como o bispo e escritor Jonas de Orléans, o termo
caridade exprimia, com o qualificativo "conjugal", um amor privilegiado e de
ternura no interior da célula conjugal. Esse otimismo aparecia em determinados
decretos pontificais, por meio de termos como afeto marital (maritalis affectio) ou
amor conjugal (dilectio conjugalis). Evidentemente, o ideal cristão era abrir mão
dos bens deste mundo desprezando-os, o que constituía um convite ao celibato
convencional.
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oferecia à mulher um conjunto muitas vezes bastante significativo de bens
móveis. Ele era chamado de presente matinal (Morgengabe), que os juristas
romanos batizaram de dote. Portanto, o papel da esposa oficial era bem
importante, sobretudo se ela tivesse muitos filhos, já que o objetivo principal era
a procriação.
Essas uniões eram essencialmente políticas e sociais, decididas pelos
pais. Tratava-se de constituir unidades familiares amplas, no interior das quais
reinasse a paz. Por isso, as concubinas de segundo escalão eram chamadas de
Friedlehen ou Frilla, ou seja, "cauções de paz". Na verdade, elas vinham de
famílias hostis de longa data. A partir do momento em que o sangue de ambas
as famílias se misturava, a guerra já não era mais possível. Assim, as mães
escolhiam as esposas dos filhos, ou os maridos, das filhas, sempre nos mesmos
grupos clássicos, a fim de salvaguardar essa paz. Se uma esposa morresse, o
viúvo se casaria com a irmã dela. Dessa forma, pouco a pouco as grandes
famílias tornavam-se cada vez mais chegadas por laços de sangue
(consangüinidade), pela aliança (afinidade) e, finalmente, completamente
incestuosas. Acrescentemos a esse quadro as ligações entre os homens, a
adoção pelas armas, o juramento de fidelidade e outras ligações feudais que
triunfaram no século X como um verdadeiro "parentesco suplementar", segundo
a expressão de Marc Bloch, e teremos a prova de que esses casamentos pagãos
não deixavam nenhum espaço livre para o sentimento.
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ludibriar a vontade dos pais. Nesses casos o amor era efetivamente subversivo,
uma vez que destruía a ordem estabelecida. Ele se tornava sinônimo de morte
e de ruína política, como prova o romance, de fundo histórico verdadeiro, Tristão
e Isolda, transmitido oralmente pelo mundo europeu de então - celta, franco e
germânico. Tristão, sobrinho do rei e seu vassalo, cometeu ao mesmo tempo
incesto, adultério e traição para com o rei Marco, o marido de Isolda. Aliás, ele
mesmo diz, após seu primeiro encontro: "Que venha a morte". Nas sociedades
antigas, obcecadas pela sobrevida, a vontade de potência, de poder, era mais
importante do que a vontade de prazer, pois aquelas tribos de imensas famílias
não conheciam nenhuma limitação administrativa ou externa.
Esse quadro deve ter sido abrandado pelo fato de eles terem estado em
contato com países cristãos, ou povos de regiões mergulhadas no cristianismo,
como por exemplo os normandos batizados do século X. Em decorrência, duas
estruturas coexistiam, mais ou menos confundidas. Por volta do ano 1000, o
bispo da Islândia teve muita dificuldade para separar um chefe de tribo, já
casado, de sua concubina, especialmente porque ela era sua própria irmã - fato
que sustentava a opinião de que seu irmão, o bispo, não passava de um tirano.
Nos séculos X e XI, os duques da Normandia tinham dois tipos de união,
regularmente: uma esposa oficial, franca e batizada, e uma ou várias
concubinas.
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Guilherme, o Conquistador, que tomou a Inglaterra em 1066, tinha o
codinome de bastardo, por ter nascido de uma união desse tipo. À entrada de
Falésia, seu pai, Roberto, o Demônio, teve a atenção chamada por uma jovem
que, no lavadouro da cidade, calcava a roupa com os pés, nua como suas
companheiras de tarefa, para melhor sovar a roupa. Naquela mesma noite, com
a autorização de seu pai, Arlette, a jovem, se viu no quarto do duque, usando
uma camisola aberta na frente, "a fim de que", nos diz o monge Wace, que
contou a história, "aquilo que varre o chão não possa estar à altura do rosto de
seu príncipe". Esses amores "à dinamarquesa" demonstram que as mulheres
eram livres, com a condição de aceitar uma posição secundária.
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Itália, Hugo, ela convidou este a se casar com ela. Mas Alberico II, seu filho do
primeiro casamento, expulsou do castelo de Santo Ângelo onde foram
celebradas as núpcias, aquele intruso manipulado por sua mãe.
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entre Cristo e a Igreja. Após a atitude irredutível do arcebispo Hincmar e do papa
Nicolau I, o divórcio de Lotário II por repúdio a sua esposa Teutberga - devido a
sua esterilidade - tornou-se impossível após 869, ano de sua morte.
Incompreensível para os contemporâneos, o casamento não se baseava
somente na procriação. A aliança era mais importante do que um filho. Mais do
que ninguém, longe dos discursos sobre a superioridade da virgindade, Hincmar
havia demonstrado que um consentimento livre sem união carnal consecutiva
não era um casamento. Ele prefigurava assim a noção de nulidade instituída pelo
decreto de Graciano, em 1145. Em decorrência, os rituais, como escreveu
Burchard de Worms por volta do ano 1000, traduziam no nível da disciplina do
casamento a doutrina otimista dos moralistas carolíngios.
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afinidade foram punidos, e os culpados separados. Mais tarde, a partir de
Gregório II (715-735), a proibição foi estendida ao sétimo grau (sobrinhos à moda
da Bretanha), assim como aos parentes espirituais (padrinho e madrinha): não
haveria mais aliança a não ser com estranhos, com quem fosse outro (Deus ou
o próximo de sexo diferente), mas de modo algum com aquele ou aquela com
quem já existisse um tipo de ligação.
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6.0 DEMANDA E INDICAÇÃO DE TERAPIA DE CASAL
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queixa. Na clínica de casais constata-se um sofrimento referido especificamente
ao casal, sintomas conjugais e uma queixa centrada nos problemas do casal.
51
este autor, os problemas conjugais estão situados em relação aos dois universos
pessoais dos parceiros, à parte que não quer admitir a especificidade da outra.
Seria um combate entre dois narcisismos individuais.
52
Diferentemente da teoria psicanalítica, que teve suas raízes no início
deste século, as teorias que influenciaram as formulações teóricas dos autores
das escolas sistêmicas em terapia de família e de casal desenvolveram-se na
segunda metade do século. Em 1948, Wiener publicou o livro Cybernetics e, na
década seguinte várias ciências começam a enfatizar os sistemas homeostáticos
com processos de retroalimentação (mecanismos de feedback) que tornam os
sistemas autocorretivos. No início da década de 50, Bertalanffy (Bertalanffy,
1973) desenvolve a Teoria Geral dos Sistemas que, juntamente com a
Cibernética e a Teoria da Comunicação, muito influenciaram os
desenvolvimentos teórico-técnicos da terapia sistêmica de família e de casal.
53
consequência, define a relação. Para Bateson et al. (1956), essas duas
operações constituem, respectivamente, os níveis de relato e de ordem
presentes em qualquer comunicação. Quando estes dois níveis se contradizem,
temos um paradoxo. Bateson e o grupo que com ele trabalhava no Hospital de
Veteranos de Palo Alto, numa pesquisa sobre comunicação e esquizofrenia,
desenvolvem o conceito de duplo vínculo, ou seja, um padrão comunicacional
repetitivo presente com frequência significativa nas famílias com pacientes
esquizofrênicos. Os estudos de Bateson (1935) deram origem à caracterização
da comunicação por Watzlawick et al. (1973) como simétrica ou complementar,
a partir de relações baseadas na igualdade ou na diferenciação. Tanto os
comportamentos complementares como os simétricos podem ser apropriados,
dependendo do contexto em que se colocam. O problema surge quando uma
relação, se cristaliza numa destas classes, tornando-se rigidamente simétrica ou
complementar.
54
membros. Não se trata de trazer conteúdos reprimidos à consciência. O passado
é abandonado como questão central pois o foco de atenção é o modo de
comunicação das pessoas agora.
SCOLA ESTRATÉGICA
55
Para Haley (1979), o que caracteriza o sistema familiar e o sistema
conjugal é a luta pelo poder. O termo "estratégico" é utilizado por ele para
descrever qualquer terapia em que o terapeuta realiza ativamente intervenções
para resolver o problema. Para que uma terapia seja bem-sucedida é preciso
que comece adequadamente. Isto é, através da negociação de um problema
solucionável e da descoberta da situação social e familiar que o mantém.
ESCOLA ESTRUTURAL
56
O principal teórico da escola estrutural é Salvador Minuchin para quem a
família é um sistema e o casal um subsistema que se definem em função dos
limites de uma organização hierárquica. O sistema familiar diferencia-se e
executa suas funções através de seus subsistemas.
57
Para Minuchin, a transformação do sistema familiar ou do sistema
conjugal inclui três passos importantes: o terapeuta deve unir-se à família ou ao
casal, desempenhando o papel de líder; deve descobrir e avaliar a estrutura
familiar ou conjugal; e deve criar circunstâncias que permitam a transformação
desta estrutura. Neste processo de reestruturação, o terapeuta então age tanto
como "diretor" quanto como "ator" no drama familiar. Como "diretor", ele cria
cenários, coreografias, dá realce a temas e leva os membros da família ou do
casal a improvisarem; como "ator", ele atua promovendo alianças e coalizões,
criando, fortalecendo ou enfraquecendo fronteiras, sempre tentando colocar
desafios aos quais os membros da família ou do casal devem se "acomodar"
para, com isto, "descristalizar" padrões transacionais desadaptativos.
58
Em razão da complexidade relacional do casal, muitas vezes passa
despercebido pelas pessoas, que a crise de um dos parceiros é, na verdade, um
problema a ser encarado por ambos. Afinal, a relação de casal é dinâmica, e
está sempre em uma contínua construção tanto da relação a dois, quanto como
indivíduos. Para isso, muitas vezes é necessário “abrir espaço para um pedido
de ajuda e, também, oportunidade para que surjam possíveis modificações de
atitude: aceitar, decidir, ressignificar, negociar”. (PONTES, 2006, p.56).
59
HALEY (apud MIERMONT, 1994) aconselha terapia conjunta do casal nas
seguintes situações: quando um dos cônjuges apresenta uma sintomatologia
que não é possível ser tratada fora do contexto conjugal; quando o parceiro é
inapto a realizar uma terapia individual, devido à pobreza das informações
apresentadas; quando o casal está em período de crise; quando os sintomas de
um dos parceiros coincidem com situações de conflito do casal; quando a cura
de um dos cônjuges tem chances de provocar o surgimento de sintomas no
outro, ou uma mudança tão grande que torna inevitável o divórcio.
A terapia de casal não pode ser vista como uma terapia individual de um
dos cônjuges com a presença do outro. Segundo Caillé (1994), a terapia conjugal
é uma intervenção na relação do casal com a presença de ambos que são, ao
mesmo tempo, criadoras e criaturas da relação. No entanto, se o trabalho for
realizado com apenas um dos membros do casal, “o outro pode, sem querer,
continuar a reforçar a construção que o terapeuta tenta tornar menos rígida”.
(ELKAÏM, 2008, p.105).
60
Geralmente, um casal procura terapia quando se encontra em conflito, ou
quando existe uma insatisfação com a vida conjugal, seja por dificuldade na
regulação da intimidade, disputa pelo poder, ciúmes, traição de um dos cônjuges,
insatisfação sexual. (MONTORO, 2006)
61
O terapeuta que adota o pensamento sistêmico não age como um expert,
que define as verdades e o caminho que o casal deverá seguir. Age como
participante ativo em uma conversa que, mediante seus conhecimentos e
habilidades, construirá melhores caminhos para o crescimento, juntamente com
o cliente. Para Elkaïm (2008), a psicoterapia é uma experiência por meio da qual
o indivíduo se abre para possibilidades que não se tinha acesso. E o terapeuta
irá abrir este caminho por meio dos recursos terapêuticos oferecidos pelo próprio
casal.
63
terapeuta deve estar atento aos conteúdos inconscientes. Como, por exemplo,
procurar compreender o “jogo de projeções” que, segundo Duque (2005, p.88)
“fornece uma perspectiva de compreensão que desculpabiliza os envolvidos no
conflito: não se comportam de modo diferente porque não possuem em seus
repertórios um modelo de aprendizagem que forneça esta possibilidade”.
64
Pincus & Dare (1981) afirmam que o objetivo consciente que faz grande parte
das pessoas se casar, é de tentar encontrar a felicidade e o conforto, e não de
resolver conflitos. No entanto, os autores consideram o casamento valioso
exatamente pelo “potencial que o casamento oferece para o desenvolvimento da
personalidade, e na ajuda de problemas emocionais passados”. (p.35).
Uma vez que os problemas do casal podem ter influência dos padrões
relacionais das suas famílias, é de suma importância que o terapeuta investigue,
com o casal, a transgeracionalidade, ou seja, as repetições que vem sendo
passadas ao longo das gerações. Esses valores, que são transmitidos pelas
famílias de origem, podem tanto ajudar um indivíduo ao longo da sua vida, como
65
também podem impedir o desenvolvimento de relações familiares saudáveis,
isso dependerá dos modelos que forem transmitidos. Junto com os valores, são
transmitidos tanto os seus benefícios quanto seus malefícios. Na terapia de
casal:
66
Com base nesta conscientização da influência transgeracional, o casal
segue para a construção de um novo vínculo, porém agora, com um maior
conhecimento sobre as suas histórias, seu contrato secreto de casamento, e
suas bagagens acerca das famílias de origem, ou da família extensa.
67
Outra situação comum na terapia conjugal, é a queixa de que o cônjuge
reagiu de forma exagerada a uma determinada situação, fazendo uma
‘tempestade em copo d’água’. Segundo Elkaïm (2008, p.110), essas situações
ocorrem “pelo despertar de um elemento adormecido que permaneceu
inofensivo talvez por muito tempo, mas que, devido ao imprevisto de uma
situação, encontra toda a sua virulência”.
Por este motivo, entre outros, o terapeuta de casal não pode dar-se por
satisfeito com os conteúdos do contrato consciente do casal. É fundamental que
se investigue os motivos inconscientes dos conflitos, caso contrário, poderá, sem
querer, manter a “regra familiar não dita de que as emoções não podem ser
expressas por palavras – que o sofrimento deve ser suportado às escondidas e
em silêncio”. (DUQUE, 2005, p.89).
68
A terapia de casal pode melhorar a qualidade de vida de muitos casais, e
até mesmo salvar muitos casamentos. Porém, nem todos os casais conseguem
resolver os seus problemas ou, pelo menos, os mais importantes, e acabam
precisando optar pelo divórcio. Muitas pessoas custam a aceitar a separação,
até mesmo terapeutas de casal, que podem se questionar a respeito da sua
competência profissional.
69
Além destes motivos, a impossibilidade de perdão é outro fator comum de
aparecer como motivo de separação. O perdão é necessário, não apenas nos
casos de traições por relações extraconjugais, mas também nas traições em
outros aspectos do contrato. É comum as pessoas guardarem ressentimentos
durante anos, até que chegam ao ponto de “tolerância zero”, e a permanência
na relação torna-se inviável.
70
Nas abordagens psicanalíticas ou psicodinâmicas das terapias de família
e de casal há uma ênfase no passado, na história, tanto como causa de um
sintoma quanto como meio de modificá-lo. Para os teóricos destas abordagens,
os sintomas apresentados pelos membros da família ou do casal são
decorrências de experiências passadas que foram reprimidas fora da
consciência. Na maior parte das vezes, portanto, o método terapêutico utilizado
é o interpretativo e os tratamentos são de mais longa duração.
71
Os processos de projeção que ocorrem em todo tipo de relacionamento
são especialmente poderosos nas relações que têm laços emocionais mais
fortes. O casamento oferece, portanto, um campo particularmente fértil aos
mecanismos projetivos. Na escolha original do parceiro, a projeção joga um
papel muito importante na medida em que um se encontra apto e desejoso de
aceitar e atuar, pelo menos em parte, algo daquilo que o outro necessita projetar
nele.
72
Por outro lado, a mesma dinâmica que levou à escolha original, na
tentativa de resolver ansiedades, pode conduzir o casal a um círculo vicioso: o
parceiro que projetou aspectos temerosos de si mesmo no outro pode dissociar-
se, cada vez mais, forçando assim o outro a expressá-los de maneira
exacerbada e o resultado é um aumento de ansiedade para ambos.
73
O terceiro princípio que norteia a abordagem destes autores sobre a
relação conjugal, é o de que muitos dos anseios e medos inconscientes que
fazem parte do "contrato secreto" do casamento provêm, principalmente, dos
relacionamentos da infância. Isto significa que todas as pessoas tendem a
padrões repetitivos de relacionamento, que são motivados pela persistência dos
desejos numa forma de fantasia inconsciente e derivados da forma como as
primeiras necessidades foram satisfeitas. No casamento, muitas vezes, o
aspecto repetitivo da sequência da escolha é literal, como por exemplo, quando
uma mulher cuja infância foi prejudicada por um pai alcoólatra acaba casando-
se com um alcoólatra, divorcia-se dele e novamente repete a situação.
74
TERAPIA PSICANALÍTICA DE CASAIS: RUFFIOT E EIGUER
75
Eiguer (1984) identifica três organizadores da vida conjugal inconsciente:
a escolha de objeto no momento da instalação da relação amorosa, o eu conjugal
e os fantasmas partilhados pelos membros do casal.
76
A terapia psicanalítica de casal tem, portanto, como objeto de trabalho o
inconsciente conjugal, mundo fantasmático compartilhado, assim como afetos,
tensões e defesas comuns. Um de seus principais objetivos é a percepção das
forças inconscientes que originaram a relação, provocaram a escolha amorosa
e contribuíram para os atuais conflitos do casal. O trabalho clínico pretende, a
partir daí, restabelecer a circulação fantasmática e instaurar um novo equilíbrio
entre os vínculos narcísicos e objetais. É também proposta de a terapia reduzir
as identificações projetivas, transformando não ditos em palavras, e restituindo
a cada cônjuge o que fora depositado no outro, para que a relação deixe de ser,
assim, um sintoma das patologias individuais.
77
Aaron T. Beck criou a terapia cognitiva nos Estados Unidos da América,
na década de 1960. Beck, até então um psicanalista, identificou certas
características de humor de seus pacientes deprimidos, como, por exemplo, uma
visão pessimista de si, do mundo e do futuro. Beck começou, então, a estudar
esses pacientes de forma mais detida e, com base nesse estudo, elaborou um
modelo cognitivo da depressão (Beck, 1967). Posteriormente, Beck, Rush, Shaw
e Gary (1979/1997) publicaram um livro mais detalhado sobre a terapia cognitiva
da depressão. Atualmente, aproximadamente meio século após sua criação, a
modalidade de terapia cognitiva de Beck vem sendo utilizada no tratamento de
diferentes problemas psicológicos e de populações (Falcone, 2001).
78
terapêutico consistiria em identificar e alterar essas crenças ou pensamentos
inadequados, levando a mudanças emocionais e comportamentais nos parceiros
(Dattilio, Epstein & Baucom, 1998).
79
buscas sistemáticas em diversos bancos de dados bibliográficos. Considerando
que artigos publicados em periódicos vêm sendo apontados como uma das
principais formas de divulgação de pesquisas científicas (ver, e.g., Garfield,
1977), a maior parte das buscas focalizou artigos publicados em periódicos
nacionais e internacionais. Adicionalmente, foi realizada uma busca de teses
publicadas no Brasil sobre o assunto. Basicamente sete bases de dados
bibliográficas foram utilizadas com o objetivo de identificar literatura relevante:
1) Psycinfo da American Psychological Association, 2) Pubmed-Medline da U.S.
National Library of Medicine, 3) Scielo - Scientific Electronic Library Online, 4)
Index Psi Periódicos Técnico - Científicos, 5) LILACS - Literatura Latino-
americana e do Caribe em Ciências da Saúde, 6) Index Psi Periódicos de
Divulgação Científica, e 7) Index Psi Teses. As quatro últimas ferramentas
estavam disponíveis na Biblioteca Virtual de Saúde em Psicologia.
80
No caso da busca realizada no Psycinfo, por exemplo, foram identificados
apenas 12 artigos escritos por autores filiados a instituições brasileiras e que
focalizaram a terapia de casais (e.g., Carpilovsky, 1984; Diniz Neto & Feres
Carneiro, 2005; Feres Carneiro, 1995). Nenhum desses artigos envolvia
especificamente a terapia cognitivo-comportamental
81
encontrados 12 artigos. Não existiam publicações vinculadas à terapia cognitivo-
comportamental com casais.
82
O modelo cognitivo de Beck tem sido aplicado a diferentes transtornos
mentais e populações específicas (Falcone, 2001). Beck et al. (1979/1997), por
exemplo, colaboraram para o entendimento do ser humano ao apresentar alguns
processos cognitivos como influenciadores das emoções e comportamentos.
Segundo esses autores, cognições inadequadas ou disfuncionais –
pensamentos automáticos e crenças – estariam na base de uma variedade de
desordens psicológicas.
83
Os pensamentos automáticos vêm sendo concebidos como ideias ou
imagens que passam despercebidas e de forma muito rápida na mente das
pessoas. Esses pensamentos por si sós não são adequados ou inadequados.
Devido ao fato de esses tipos de pensamento não serem sempre racionalmente
avaliados, eles tendem a ser aceitos como algo razoável, em situações
específicas. Tem sido apontado que esse fluxo de ideias instantâneas, que pode
passar na cabeça de um dos cônjuges, pode influenciar seus estados
emocionais e suas ações negativamente. Por exemplo, quando uma esposa não
recebe a atenção que gostaria de receber de seu marido, a respeito de um
problema de trabalho, pode chegar à seguinte conclusão: “ele nunca me ouve”.
Nessa situação, a parceira pode sentir raiva e gritar com seu companheiro,
dizendo que ele é um imprestável (Dattilio et al., 1998).
84
Beck et al. (1979/1997) apontaram que o surgimento das crenças
intermediárias e centrais ocorre durante a interação das crianças com pessoas
significativas em suas vidas e estão associadas a fatores socioculturais. São
ideias que uma pessoa tem sobre si mesma, sobre as pessoas de uma maneira
geral, sobre o mundo, sobre relacionamentos, entre outros aspectos. Crenças
mais centrais têm maior impacto sobre o pensamento de uma forma geral, são
mais rígidas e mais difíceis de mudar do que crenças mais periféricas. Ambos
os tipos podem ser inadequados e levar ao aumento de conflitos em um
relacionamento amoroso. Por exemplo, um marido pode ter a seguinte crença
central, “não sou uma pessoa digna de ser amada”. Para tentar não acreditar
nesse pensamento, o esposo pode desenvolver uma crença intermediária do
tipo, “se eu sempre recebo apoio em todas as minhas decisões, então eu sou
amado”, ou do tipo “se minha esposa não concorda comigo a todo o momento,
então estou sendo rejeitado”. Uma vez que a esposa não endossa todas as
ideias do marido, este pode ficar triste e não expressar seus pensamentos, por
acreditar que realmente não pode ser amado por alguém (Beck, 1995).
85
Baucom et al. (1989), Baucom e Epstein (1990) e Epstein e Baucom
(2002) afirmaram que outros tipos de cognições também podem influenciar de
maneira negativa a vida matrimonial Entre elas, podem-se citar a atenção
seletiva, as atribuições, as expectativas, os pressupostos e os padrões.
86
mulher pode esperar que seu marido sempre pergunte como foi seu dia de
trabalho (e.g., Baucom & Epstein, 1990).
87
Fatores de ordem comportamental também estão relacionados com os
conflitos conjugais. A má comunicação entre os parceiros é um dos principais.
Algumas pessoas têm dificuldades para expressar o que pensam e o que
sentem. Uma esposa pode expressar-se em demasia ou mesmo não mencionar
determinado sentimento, como, por exemplo, raiva (e.g., Baucom & Epstein,
1990).
Diversos autores (e.g., Baucom & Epstein, 1990; Epstein & Baucom,
2002; Dattilio, 2004; Rangé & Dattilio, 2001) têm apresentado sugestões acerca
de como a terapia cognitivo-comportamental pode ser aplicada no tratamento de
casais. A seguir, são discutidos alguns dos principais objetivos e etapas do
tratamento de casais nessa abordagem. Dada a natureza deste artigo, não será
possível fazer uma descrição mais detalhada de todos os procedimentos.
Contudo, literatura disponível em português para os interessados é indicada
(Dattilio & Padesky, 1995; Peçanha, 2005).
88
Pode-se afirmar que os principais objetivos da terapia cognitivo-
comportamental, no tratamento de casais em conflito, são a reestruturação de
cognições inadequadas, o manejo das emoções, a modificação de padrões de
comunicação disfuncionais e o desenvolvimento de estratégias para solução de
problemas cotidianos mais eficazes (e.g., Beck, 1995). Outros procedimentos
utilizados são as alterações de comportamentos que formam padrões
negativamente específicos (Dattilio, 2004).
89
Usualmente, a primeira sessão é realizada com a presença de ambos os
cônjuges. Essa é uma oportunidade para o terapeuta verificar as áreas
problemáticas no relacionamento, a interação entre o casal, o modo como eles
se comunicam, os pontos fortes da relação, os fatores externos que possam
estar estressando os parceiros etc. As informações que são obtidas nessa
sessão irão auxiliar no processo de formulação de hipóteses preliminares sobre
os motivos do conflito conjugal (Schmaling et al., 1997).
90
estar influenciando de forma negativa o relacionamento. As técnicas mais
utilizadas são os registros de pensamentos automáticos, diários,
questionamentos na sessão, recordações (e.g., Beck, 1995; Rangé & Dattilio,
2001).
91
Parece óbvio dizer que, durante uma conversa, uma pessoa deve ouvir
enquanto a outra fala e vice-versa. Contudo, não é o que parece acontecer com
casais com alto nível de conflito. Muitas vezes, os parceiros falam ao mesmo
tempo e não prestam atenção no que dizem um para o outro, tornando cada vez
mais insuportável a relação. Na parte comportamental do tratamento, destaca-
se o treinamento em comunicação. O foco central desse procedimento é fornecer
ao casal habilidades de escuta e fala que podem auxiliar na diminuição das
brigas e aumentar a satisfação e ajustamento conjugal (Rangé & Dattilio, 2001).
Existem algumas regras básicas que costumam ser discutidas com casais
como pertinentes e úteis para aquele parceiro que deseja falar. Discute-se que
relatos breves, objetivos, claros, descritos em termos comportamentais e
focados em problemas específicos costumam ser os primeiros passos no sentido
de uma comunicação mais eficaz. Além disso, destaca-se a apresentação de
pensamentos e sentimentos pessoais, enfatizando os aspectos positivos e
negativos em um determinado contexto. Por último, enfatiza-se a comunicação
gentil e polida, como é empregada na interação social em geral (Schmaling et
al., 1997).
Por sua vez, o parceiro que está ouvindo precisa ter uma escuta empática.
Denotar atenção ao que a outra pessoa está falando é o ponto inicial de um
diálogo construtivo. Esse comportamento atentivo pode ser realizado através de
verbalizações (ex.: hum-hum) ou mesmo de gestos corporais (ex.: balançar a
cabeça, olhar nos olhos). Folhetos com instruções podem ser utilizados para
92
exemplificar essa técnica e auxiliar no desenvolvimento das habilidades por
parte do casal além disso, o próprio terapeuta pode servir como modelo para os
casais em termos de escuta e fala (Beck, 1995).
94
É importante ressaltar que todo relacionamento tem seus pontos fortes e
fracos. Sabe-se que os anos de casamento conturbado levam a percepção
apenas do lado ruim da vida a dois. O terapeuta aponta e reforça as ações
positivas dos parceiros entre si. Além disso, procura modificar alguns padrões
de comportamentos negativos que estão prejudicando a relação (Epstein &
Baucom, 2002). As interações negativas serão os alvos principais de intervenção
terapêutica (Epstein et al., 1993). Por fim, é importante incentivar os parceiros a
demonstrarem comportamentos mais amistosos um para o outro,
independentemente. Por exemplo, um marido pode esperar que a esposa
modifique primeiro seus comportamentos para, depois, ele alterar os dele. O
terapeuta aponta que esse tipo de postura traz desvantagens e, através, de
breves relatos pode sinalizar a importância da modificação do próprio
comportamento da pessoa para o aumento da satisfação conjugal (Schmaling et
al., 1997).
95
educacional recebido em cada contexto familiar original de ambos os parceiros
(Epstein & Baucom, 2002).
96
A intervenção terapêutica com casais tem sido uma área de interesse de
teóricos e clínicos. A preocupação com a qualidade matrimonial é fundamentada
em décadas de pesquisas que indicam que o bem-estar individual está
fortemente relacionado a estar casado. Além disso, estes estudos apontam que
a satisfação conjugal é muito mais importante para o bem-estar da pessoa do
que fatores como sucesso profissional, religião, moradia e finanças (Fowers,
2001).
97
potencializar ou manter problemas conjugais. Por outro lado, a comunicação
eficaz pode ser um dos pré-requisitos para uma boa negociação.
98
fere mais os sentimentos um do outro e; são mais rudes entre si. O que não
ocorre entre pessoas estranhas (Gottman et al., 1976).
99
A comunicação tende a se tornar aversiva, até que um dos parceiros
passa a se esquivar dessa interação incômoda em lugar de enfrentar o problema
e tentar resolvê-lo. A esquiva impede a solução satisfatória do problema, que
resulta de seu enfrentamento, tirando a chance do indivíduo de obter acesso a
reforçadores maiores futuramente, e/ou agravando ainda mais o conflito.
Comportamentalistas entendem que este problema é resultado natural do
grande poder do reforço negativo imediato comparado ao reforço positivo de
longo prazo, que possui um efeito fraco (Rabin, Tsai & Kohlenberg, 1996).
100
A conversa termina em discussão porque o efeito agressivo de um
comentário provavelmente é subestimado pelo falante. O indivíduo não pode
retribuir uma resposta de agressão na mesma proporção em que recebeu,
porque não é fácil fazer essa comparação. Então, cada um pode desprezar a
força da resposta agressiva que deu, sendo o efeito final deste sistema de
interação instável a ligeira tendência de dar um pouco mais do que recebeu.
Ademais, consequências punitivas repetidas provavelmente geram uma
disposição emocional na qual naturalmente aumenta a agressão (Skinner, 2000).
101
o outro finalmente se renda. Um parceiro é reforçado a ser coercitivo pela
submissão do outro, cujo comportamento de submeter-se é reforçado por não
mais ficar sujeito ao comportamento coercitivo do parceiro. Assim, o uso da
coerção dentro de um relacionamento facilmente leva à escalada do conflito,
porque formas cada vez mais acentuadas de coerção se tornam necessárias
para alcançar um resultado similar (Cordova & Jacobson, 1999).
Não obstante, não é correto afirmar que somente os casais que dispõem
de habilidades de comunicação muito sofisticadas gozam de maior satisfação
102
conjugal. De acordo com McNulty e Karney (2004), as habilidades precisam
emparelhar-se com as regras (expectativas, exigências etc.) que os parceiros
têm a respeito do casamento; ou seja, se os cônjuges esperam muito do
casamento, é importante que tenham habilidades altas. Por outro lado, se
esperam pouco do casamento, a exigência quanto às habilidades não será tão
alta para se alcançar uma maior satisfação. Expectativas positivas podem levar
a circunstâncias melhores porque elas afetam e melhoram o comportamento;
porém, se as pessoas têm expectativas altas e não alcançam resultados bons,
elas podem ficar muito desapontadas. Assim, expectativa positiva quanto ao
casamento nem sempre prediz uma satisfação conjugal, sendo mais importante
que a expectativa do casal seja realista e compatível com suas habilidades e
nível de estresse ambiental.
103
Karney e Bradbury (1995) apontam que a satisfação matrimonial tende a
amortecer os cônjuges do impacto dos eventos negativos da vida, tendo as
interações cotidianas do casal um impacto importante na estabilidade e saúde
do relacionamento (Driver, 2004). Por outro lado, as consequências negativas
da instabilidade e do sofrimento conjugal se refletem no bem-estar físico e
emocional dos cônjuges e dos seus filhos e se constituem na principal razão que
leva as pessoas a buscarem psicoterapia (Koerner, Jacobson & Christensen,
1994).
104
maneira especificada no contrato, praticando as lições de casa apresentadas
pelo terapeuta (Stuart, 1969).
105
compatíveis e com menos sofrimento conjugal podiam trabalhar juntos os seus
problemas, enfrentando-os de pontos de vista similares; já os casais jovens
ainda não estavam presos à rotina de comunicação ineficaz e assim se
empenhavam mais no compromisso; e finalmente, a "química" de casais
emocionalmente engajados os mantinha interagindo, ao contrário de evitar
conflitos. Quando todos estes fatores se combinavam, o resultado era um casal
que podia colaborar, adaptar-se e equilibrar o dar-e-receber da relação (Berns
et al., 2000).
106
As estratégias de mudança da terapia comportamental de casal são
dependentes da capacidade de cada um dos parceiros para colaborar. Assim
sendo, os casais que possuem dificuldades em se conciliar e colaborar entre si
se tornam mais arraigados às suas posições, quando submetidos a essas
técnicas. Os autores mostraram que esses casais estariam em melhores
condições usando seus problemas como veículos para um autoconhecimento
mais profundo do que tentando livrar-se deles. Assim, a TCIC originou-se desse
deslocamento da ênfase, integrando estratégias que promovem aceitação dos
problemas com estratégias de mudança (Cordova & Jacobson, 1999).
107
No treino de resolução de problemas, o casal define uma questão
conflitual, negocia a solução para o problema e estabelece um contrato ou pacto
para mudança (i.e., uma regra). O terapeuta reforça a complacência com a regra,
mas espera que reforços naturais mantenham o comportamento. No treino de
comunicação, o objetivo é treinar sistematicamente habilidades de comunicação
no casal que possam ser usadas para interações mais proveitosas no cotidiano.
(Christensen et al., 1995). Apesar de alguns investigadores os tratarem como um
único módulo, os dois tipos de treino são realmente bastante diferentes e podem
ser distinguidos quanto ao conceito e ao procedimento (Jacobson & Christensen,
1996).
108
O treino em resolução de problemas não é indicado para qualquer
problema, somente para comportamentos que estejam sob controle voluntário
dos parceiros, tais como, organizar a casa, planejar as férias ou o orçamento,
cuidar dos filhos etc. Por outro lado, desejo sexual, confiança, amor ou algum
tipo de experiência afetiva não estão sob controle voluntário, por isso são pobres
candidatos ao treino de resolução de problemas (Jacobson & Christensen,
1996).
109
casal avalia cada proposta. Ideias absurdas são eliminadas e soluções possíveis
são consideradas pelas suas vantagens e desvantagens. Por último, a escolha
da solução possível deve enfatizar a negociação e o compromisso mútuo e o
acordo alcançado deve ser concretizado nos aspectos da sua execução prática
e formalizado por escrito (Christensen et al., 1995).
110
O parceiro deve aprender a dizer sem ambiguidade o que querem do
outro, abrindo mão de estratégias de controle aversivo. A contribuição de uma
precisa ser reconhecida pelo companheiro. Isto pressupõe que o parceiro
adquira a capacidade de tomar a perspectiva do outro (Stuart, 1969). Essas
ideias foram desenvolvidas por Rose (1977) na forma de uma oficina de
habilidades de comunicação. Em seu trabalho, a comunicação foi definida como
o processo pelo qual cada parceiro interpreta os estímulos originados pelo outro.
111
casais. Os métodos são discussões didáticas, modelação pelos terapeutas e
dramatizações no grupo. A modelagem é frequentemente necessária tanto para
melhorar uma habilidade durante uma sessão, quanto para, gradualmente,
construir uma nova habilidade no decorrer de várias sessões.
112
Na segunda sessão, as experiências em casa são usadas como
ilustrações da teoria que embasa as oficinas. É discutido que mensagens
ambíguas causam mal-entendidos. A troca de papéis (em que o ouvinte faz o
papel do falante repetindo a mensagem) é usada como método de aprender a
emitir mensagens claras. Depois, dramatizações são usadas para mostrar as
vantagens do controle por reforço positivo em comparação com a interação
coercitiva. Finalmente, cada participante é instruído a compor uma lista de
atividades prazerosas, que é deixada à disposição do parceiro para ser usada
no cotidiano como lista de reforçadores. Usando os itens da lista, o parceiro pode
reforçar determinados comportamentos no repertório de quem fez a lista.
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A quinta sessão é dividida em duas partes. Na primeira, as soluções
propostas na sessão anterior são avaliadas de acordo com as consequências a
curto e longo prazo. A partir das soluções escolhidas, formulam-se planos de
ação nos termos de um contrato entre os parceiros (cada parceiro promete emitir
o comportamento que o outro deseja, quando ele cumprir o que foi estipulado).
Finalmente, critérios específicos e explicitamente observáveis são formulados
para avaliar a aplicação prática do contrato. Na segunda metade da sessão os
exercícios de comunicação inspirados no trabalho de Stuart (1969) são
novamente aplicados. Nesta parte os participantes aprendem as seguintes
habilidades: não atender a gestos que contradizem os conteúdos verbais (é o
que a pessoa fala que deve ser levado em conta); interpretar estímulos ambíguos
sempre positivamente (um sorriso significa felicidade, e não sarcasmo); pedir
clarificação quando o recado não é de fácil interpretação (a dupla verificação:
quem tenta interpretar o recado pergunta se o emitente quis dizer o que entendeu
e o emitente reformula o recado, pedindo ao receptor que resuma com outras
palavras o que entendeu desta vez); e tomar a perspectiva do outro (colocar-se
no lugar do parceiro, tentando relatar o ponto de vista deste). A sexta e última
sessão trata da aplicação das habilidades aprendidas nas áreas de conflito no
relacionamento. Nesta última etapa, as oficinas acabam por ensinar diretamente
como as estratégias de comunicação devem ser aplicadas quando o casal tenta
solucionar seus conflitos.
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REFERÊNCIA
- https://periodicos.pucpr.br/index.php/psicologiaargumento/article/view/19793/19101
- https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/19417/14010
- https://www.larpsi.com.br/media/mconnect_uploadfiles/c/a/cap_01xxo.pdf
- https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/casamento.htm
- http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X1994000200006
-http://institutofamiliare.com.br/wp-content/uploads/2018/10/Marina-Vieira-de-Araujo-B%C3%BArigo-
2010-TERAPIA-DE-CASAL-Uma-vis%C3%A3o-sist%C3%AAmica.pdf
- http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872008000100009
- http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-73722008000100019&script=sci_arttext
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Curso de Capacitação em Terapia de Casal
https://bit.ly/2UhY8FJ
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