Você está na página 1de 228

1

Coordenação Editorial:
Fabio Scuro

Projeto Gráfico e Diagramação:


Ernani Carraro

Impressão:
Lorigraf - Gráfica e Editora Ltda.

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte (CIP)


Biblioteca Pública Municipal Dr. Demetrio Niederauer
Caxias do Sul, RS

L835 Loja Maç. De Pesq. Gênesis : GORGS / [coordenação editorial:


Fabio Scuro]. - Caxias do Sul, RS : Lorigraf, 2020.
225 p.

ISBN: 978-65-86717-03-7

1. Maçonaria – Caxias do Sul. I. Scuro, Fábio. II. Título.

20/47 CDU 061.236.6(816.52Caxias do Sul)

Catalogação elaborada por Vanessa Pinent, CRB-10/1297

2
SUMÁRIO

Apresentação......................................................................................................................................... 5

A Abóbada do Templo Maçônico - Pedro Augusto Irigonhê ....................................................... 7


A filosofia Maçônica da primeira instrução do grau de aprendiz,
a partir de três termos - um breve ensaio - Samuel dos Reis ............................................... 12
A importância dos rituais para o desenvolvimento
do ser humano - Márcio Alberto Costanzi ........................................................................................... 15
A Taça Sagrada da boa ou da má sorte - Rudimar Panzoni Marques .................................... 31
As três grandes luzes emblemáticas da Maçonaria sob a ótica
do rito escocês antigo e aceito - Moacir Bisi ............................................................................ 35
Cidadania e Direitos Humanos - Rudimar Porto ......................................................................... 44
Comportamento Maçônico - Ubiratan Capelini ............................................................................. 66
Condenações Papais contra a Maçonaria - Flávio Guido Cassina ....................................... 72
Desafios da Maçonaria no futuro - André Chiaradia .............................................................. 84
Educação: Um pouco de história - Nestor Basso ....................................................................... 95
Espiritualidade - Fabio Scuro ............................................................................................................. 104
Filosofia Maçônica - Rui Alberto Cassina ........................................................................................ 108
As cinco viagens do companheiro Maçom - Ivo Geraldo Prezzi ............................................. 113
Hermes Trismegisto e o Renascimento Italiano - Luciano Bauer Gröhs ............................ 123
Manual do aprendiz Maçom 2017 - GORGS. Observações. - Ivan Luiz Emerim ........... 126
Música, o remédio da alma - Carlos Alberto Stalivieri .................................................................. 148
Pé esquerdo - Romeu Carlos Damin ..................................................................................................... 159
Regras básicas e prática ritualística do rito escocês antigo e aceito -
Ivan Luiz Emerim - Wilson José Adami Mano ............................................................................................ 161
A verdade - César Zavistanovicz ........................................................................................................... 188
Pesquisa em educação na contemporaneidade:
desafios e possibilidades - Carlos Roberto Sabbi ............................................................................ 192
Igualdade e Solidariedade - Calos Ronaldo Olivera .................................................................... 220

3
4
APRESENTAÇÃO

É com muita honra e satisfação que recebo do Respeitável Irmão Fabio Scuro a missão
de apresentar a edição em volume dessa Coletânea de Peças de Arquitetura produzidas por Irmãos
pertencentes à Loja Maçônica de Pesquisas Gênesis, Grande Oriente do Rio Grande do Sul (COMAB),
ao Oriente de Caxias do Sul, Estado do Rio Grande do Sul.
Por não trazer conteúdo de um único autor, esse volume se caracteriza como uma coletânea
de trabalhos que versa sobre importantes e diversos temas para o estudo e a educação maçônica.
De tal modo, pela característica desta coletânea, esse volume traz consigo os mais diversos
temas, tais como matérias de história, educação, filosofia, simbologia, ritualística e liturgia maçônica,
os quais demonstram excelente abordagem feita pelos seus autores.
Compõe-se essa Coletânea de vinte apropriados títulos, como por exemplo: “A Abóbada do
Templo Maçônico”; “Educação, Um Pouco de História”; “Filosofia Maçônica”; “Espiritualidade”;
“Cinco Viagens do Companheiros Maçom”; dentre outros tão importantes quanto, e que podem dar
ideia do aprimorado conteúdo dessa antologia.
Por oportuno, também cabe comentar a importância das Lojas de Pesquisas para o futuro da
Sublime Instituição, e isso pode ser constatado, por exemplo, quando nos deparamos com salutares
iniciativas como a que aqui agora se apresenta, trazendo para a evidência literária vinte novos Irmãos
escritores preocupados com a essência da Ordem – a cultura e a sabedoria.
Assim, pela diversidade de temas, essa Coletânea de Trabalhos também traz àqueles que se
importam com os estudos maçônicos muitos subsídios para o aprofundamento do debate salutar que
permeia a construção do ideário maçônico.
Por tudo que acabei de mencionar, respeitosamente apresento e recomendo a todos aqueles
que escrevem, estudam e se interessam pela nobre Arte da Maçonaria essa Coletânea de Trabalhos.
Sem dúvida esse conteúdo é uma fonte de informação que a Loja Maçônica de Pesquisas Gênesis
presenteia os integrantes da Sublime Ordem.
Com muita lisonja e apreço, faço essa recomendação.

Fraternalmente

Pedro Juk
Secretário Geral de Orientação Ritualística – GOB
Fevereiro de 2020.

5
6
A Abóbada do Templo
Maçônico

Pedro Augusto Irigonhê

O firmamento exerce, desde tempos imemoriais, verdadeiro fascínio sobre os seres


humanos. Tamanha é a atração que os céus exercem sobre o homem que, mesmo antes da invenção
da escrita, alguns povos já haviam desenvolvido um sistema preciso e confiável de observação
sistematizada dos fenômenos astronômicos e meteorológicos. Para se ter uma ideia, por volta de
3.000 a.C. os povos da Mesopotâmia, exímios matemáticos e observadores dos céus, indicaram
em suas tábuas divinatórias os movimentos anômalos dos planetas, previram os eclipses e
distinguiram 52 constelações, entre outros feitos. Povos pré-célticos ergueram o círculo de pedras
de Stonehenge, na Inglaterra, há mais de 5.000 anos, como um misto de observatório astronômico
e Templo a céu aberto, pois os movimentos dos astros eram tão importantes que regiam todo o
calendário religioso. Na época dos faraós, os egípcios observavam as estrelas para estabelecer
a posição das pirâmides e prever as cheias do Nilo. Assim como muitos povos antigos, eles se
dedicavam à observação celeste por dois motivos principais:

− os astros, para eles, eram divindades; por isso, convinha conhecer seus movimentos,
que exprimiam desígnios misteriosos;
− tinham a necessidade vital de medir o tempo, pois precisavam elaborar calendários que
determinassem as melhores épocas para o plantio e a colheita.

7
Tamanha era essa influência que os egípcios adornavam o teto de seus Templos com
imagens do Sol e das estrelas, no que foram copiados pelos romanos, tidos como os construtores
das primeiras abóbadas. Ainda hoje muitas igrejas e catedrais têm o teto nesse formato, colorido
de azul e bordado de estrelas douradas.

Nos Templos Maçônicos, a abóbada do teto é uma reprodução simbólica do firmamento


que, através de um engenhoso jogo de luzes e representações gráficas, pode representar qualquer
hora do dia ou da noite. Embora haja algumas variações entre os diferentes ritos em relação à
decoração do teto, todos possuem a mesma ordenação básica, com o céu de cor azul, de forma
côncava, apresentando o Sol no Oriente, a Lua em quarto crescente no Ocidente, deslocada mais
ao Norte, e a Estrela Flamígera ao Sul, no centro do Templo ou mais a Ocidente, conforme a
posição do trono do 2º Vigilante. Segundo o Manual de Procedimentos Ritualísticos do Grande
Oriente do Rio Grande do Sul (edição 2004-2007, pgs. 11, 12 e 15),

“O teto do Templo será uma representação da abóbada celeste, com a presença simbólica
do Sol, da Lua e das constelações mais conhecidas (ver Prancha II). No Oriente, um pouco à
frente do Trono, o Sol; por cima do Altar do 1º Vigilante, a Lua em quarto crescente; e do 2º
Vigilante, uma estrela de cinco pontas. Estes emblemas, pintados ou em relevo, poderão ficar
pendentes do teto.
“No centro do teto, três estrelas da constelação de Órion. Entre estas e o nordeste,
ficam as Plêiades, Híades e Aldebarã. A meio caminho, entre Órion e o noroeste, Regulus, da
constelação de Leão. Ao norte, a Ursa Maior. A nordeste, Arcturus (em vermelho). A leste, Spica,
de Virgem. A oeste, Antares. Ao sul, Fomalhaut. No Oriente, Júpiter; e ao ocidente, Vênus;
Mercúrio, junto ao Sol, e Saturno, com seus anéis, próximo a Órion. As estrelas principais
são 3 de Órion, 5 de Hiades e 7 das Plêiades e da Ursa Maior. As estrelas, chamadas reais, são
Aldebarã, Arcturus, Regulus, Antares e Fomalhaut.
“A abóbada celeste, no Oriente, é clara e sem nuvens. Na medida em que se aproxima do
Ocidente, vai ficando menos iluminada e mais carregada de nuvens, até que, no limite ocidental,
as nuvens ficam mais escuras, como prenunciando mau tempo.”

Fisicamente falando, alguns fatos imediatamente chamam a atenção quando se inicia o


estudo da abóbada do Templo:
1- A disposição das estrelas, constelações e planetas não corresponde ao céu físico real. A

8
ordenação é claramente simbólica, não representando, como amplamente difundido, a posição das
constelações na ocasião do Equinócio Vernal no Hemisfério Norte;
2- A ausência do planeta Marte em alguns Ritos, inclusive no do GORGS;
3- Não se encontra duas abóbadas celestes absolutamente iguais, como de resto não se
encontra dois Templos Maçônicos idênticos;
4- Embora o Cruzeiro do Sul não seja citado na descrição acima, o mesmo se encontra na
ilustração à página 15 do Livro de Rituais.

Entretanto, independentemente de quaisquer considerações físicas, o teto do Templo é,


antes de tudo, um tributo à universalidade da Maçonaria. Seguindo a máxima de que “o que está
em cima é igual ao que está embaixo”, os cargos em Loja podem ser associados aos astros, da
seguinte forma (embora haja alguma controvérsia entre diferentes autores):
− Venerável Mestre – Júpiter, o maior dos planetas, também o mais poderoso dos deuses
pagãos (Zeus), senhor do Universo e dos fenômenos atmosféricos, símbolo da figura paterna e da
Sabedoria:
− 1º Vigilante – Marte, deus da guerra (Ares), símbolo da Força e do lado masculino;
− 2º Vigilante – Vênus (Afrodite), deusa do amor, símbolo da Beleza e do lado feminino;
− Orador – Sol (Apolo), símbolo da luz da Lei, do Direito e da Justiça;
− Secretário – Lua (Ártemis). Em suas atas, simboliza o reflexo da luz emitida pelo
Venerável e pelo Orador;
− Mestre de Cerimônias – Mercúrio (Hermes), símbolo do mensageiro dos deuses, por
sua circulação em Loja;
− Tesoureiro – Saturno (Cronos). Com seus inúmeros anéis, simboliza a riqueza.

As Colunas do Templo também têm significado astronômico, pois representam os Trópicos


de Câncer e Capricórnio, limites máximos da movimentação aparente do Sol. Estes aspectos são
imemorialmente comemorados pelas festas solsticiais de 21 de junho (marcando o solstício de
verão no hemisfério Norte e de inverno no hemisfério Sul) e 21 de dezembro (marcando o solstício
de inverno no hemisfério Norte e de verão no hemisfério Sul). Essas festividades, por influência
da Igreja Romana entre os maçons operativos, foram associadas a São João Batista (24 de junho) e
São João Evangelista (27 de dezembro), tornando-os padroeiros da Maçonaria Especulativa. Entre
as Colunas (Trópicos), temos o Delta, representando a Linha do Equador, que é cortada pelo Sol
em 21 de março e 21 de setembro, marcando os equinócios de Primavera e de Outono. As nuvens,

9
por sua vez, representam a ascenção da consciência e a pureza do pensamento que se volatiliza em
direção ao Cosmos.

Pelo exposto até aqui, é possível perceber que há uma combinação perfeita entre os
símbolos do Templo e os da abóbada celeste. Mesmo na parede Leste, aos lados do Altar, temos
a representação do Sol e da Lua. É como se o Templo vibrasse uma nota harmônica, única,
transformando-se numa enorme caixa de ressonância. Mesmo quando o Templo está vazio, é
possível sentir essa vibração reverberando no ambiente, como uma espiral infinita de Sabedoria,
Força e Beleza.

Se considerarmos o Templo uma representação do Universo, a abóbada representa nossos


ideais e aspirações mais elevados. O firmamento que nos cobre, o “céu que nos protege”, é uma
lembrança constante de que podemos mais, de que podemos ser melhores, de que podemos e
devemos crescer sempre. Sob ele, estamos constantemente banhados pela Luz que emana do
Grande Arquiteto do Universo.

Entretanto, talvez a maior lição transmitida pelo firmamento seja a contida no Ritual,
durante a abertura e o encerramento da Loja, quando é dito que os Aprendizes Maçons começam
a trabalhar ao meio-dia e trabalham até à meia-noite. Não só o meio-dia simboliza a hora em
que não há sombras e que todos o homens são iguais sob o Sol, mas também a alegoria de que o
Homem Maçom começa sua vida na Ordem quando já homem feito, livre e independente, no meio-
dia de sua vida, e que daí em diante estará em constante crescimento e evolução, até que chegue
a meia-noite, a hora de partir para o Oriente Eterno. O céu do Templo é a testemunha silenciosa e
onipresente de que, como o movimento eterno dos astros, nosso aprendizado na Maçonaria é uma
tarefa que nos acompanhará por toda a nossa vida.

10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

“O Aprendizado Maçônico” – Rizzardo Da Camino – Ed. Maçônica “A Trolha” Ltda. Londrina,


1993.
“Manual de Procedimentos Ritualísticos e Ritual e Instruções do Grau de Aprendiz-Maçom do
REAA” – GORGS – Agosto de 2006.
“A Abóbada Celeste na Maçonaria” – Hiram Luiz Zoccoli – Disponível em “Museu Maçônico
Paranaense”, acesso em março de 2010.
“Abóbada no Templo Maçônico – Origem e Simbologia” – Frater Yukta – Disponível em
“Amphiteatrum Sapietniae Aeternea” – acesso em março de 2010.

Grande Or∴ Do Rio Grande do Sul


E∴A∴R∴L∴S∴ Duque de Caxias III° Milênio

11
A filosofia Maçônica da primeira
instrução do grau de aprendiz, a partir
de três termos - um breve ensaio

Samuel dos Reis

O presente texto visa mostrar conceitos filosóficos contidos na primeira instrução do Ritual
do Grau de Aprendiz Maçom. Para a realização deste estudo, utilizaremos o Manual de Procedimentos
Ritualísticos e Ritual e Instruções do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito,
usado pelo Grande Oriente do Rio Grande do Sul, edição 2010-2013.
Segundo o preâmbulo do Ritual utilizado para esta pesquisa, “a Maçonaria é uma associação
de homens esclarecidos, virtuosos, que se consideram Irmãos entre si, e cujo o fim é viver em perfeita
igualdade, intimamente ligados por laços de recíproca estima, confiança e amizade, estimulando-se,
uns aos outros, na prática da virtude”.
Conforme colocado, poderíamos nos perguntar? Qual é o instrumento utilizado pelo maçom
na prática ou na construção dessas virtudes?
Em uma possível busca da possível resposta, poderíamos concluir que as virtudes são
construídas a partir do lapidar da pedra bruta, que simboliza o estágio do Ser Humano ao ingressar
em nossa instituição e que, ao longo do seu percurso em nossa Ordem, encontrará respostas virtuosas
para os dilemas profanos, buscando assim o despertar da racionalidade para o domínio das paixões e
tentações de ordem ética.
Todos sabem que na maioria dos Ritos Maçônicos, pelo menos os mais praticados em nossa
região, Rito Escocês Antigo e Aceito, Rito Adoniramita, Rito de York, etc..., temos duas instituições:

12
as Lojas Simbólicas que trabalham do Grau de Aprendiz a Mestre Maçom, e as Lojas Filosóficas
(onde trabalham os Graus filosóficos, com organizações de graus adotados conforme o Rito praticado
pela Oficina).
Para tanto, não necessariamente, teremos que ter pressa em nossa formação maçônica, para
atingir um desenvolvimento moral, racional e mais intelectualizado, indo quase que automaticamente
para os Graus Filosóficos, pois nos graus simbólicos temos muita filosofia a ser trabalhada. E porque
não percebemos isso? Porque muitas vezes, devido à falta de tempo, bem como à falta de percepção
estética e também, em alguns casos, por falta de percepção racional/intelectual, não conseguimos
decodificar os símbolos maçônicos, onde praticamente estão contidos o cerne do conhecimento
Filosófico dentro da Loja Maçônica.
Tendo em vista que o conhecimento filosófico se encontra difuso em todo o ritual, iremos
aqui analisar a filosofia contida na primeira instrução do Grau de Aprendiz Maçom.
No início, a instrução demonstra a utilidade e a importância do Grau 1, quando cita: “compete
ao Aprendiz Maçom o trabalho de desbastar a Pedra Bruta, isto é, desvencilhar-se dos defeitos e
paixões para poder concorrer à construção moral da Humanidade, que é a verdadeira obra da
Maçonaria”.
Nesse contexto, entendemos o trabalho de desbaste como uma busca de si mesmo, fazendo,
a partir da autoanálise, o papel de autocrítico dos atos de si mesmo, longe de qualquer sentimento,
emoção ou vaidade, mas sim num pleno exercício de meditação, razão e reflexão, dentro de uma
linha de pensamento do que, na Grécia Antiga, o velho mestre Sócrates nos ensinava quando pregava
aos seus discípulos que o Homem virtuoso é o que conhece a si mesmo.
Segundo a primeira instrução do Grau de Aprendiz, “sustentam nossa Loja três Colunas,
denominadas SABEDORIA, FORÇA e BELEZA”.
Segundo a instrução, a Sabedoria deve nos orientar no caminho da vida, mas no plano
filosófico o que seria essa Sabedoria? Sabedoria seria um comportamento racional em todos os
domínios, ou virtude de determinar o que é bom e o que é mau para o homem. Não se trata de
conhecer coisas elevadas e sublimes, mas o conhecimento das atividades humanas e da melhor
maneira de conduzí-las. Para tanto, podemos pensar: o que os profanos pensam por Sabedoria?
Muitos irão dizer que sábio é quem tem maior titulação acadêmica. Nesse sentido, uma pessoa
com Doutorado seria mais sábia que um outro profissional que não tem essa formação. Nesse caso,
Sabedoria aqui passa a ser sinônimo de acúmulo de conhecimento acadêmico. Por outro lado, um
camponês que nunca estudou agronomia, e em alguns casos nem alfabetizado é, tem o domínio
da técnica de plantio e da devida exploração do solo para fins de tirar maior proveito de produção.

13
Nesse caso, o camponês não tem a Sabedoria acadêmica, mas sim a Sabedoria empírica, fruto da
observação do meio da natureza.
E o que seria a Sabedoria para um Maçom? É uma atitude onde a razão prevalecerá sobre
a mente, onde as decisões e as iniciativas seguem a orientação racional, buscando uma relação de
causa/consequência, controlando seus instintos, paixões e egoísmo, em direção a uma postura de
alteridade e resiliência para com as diferentes situações proporcionadas pelo outro, pela sociedade
ou pela circunstância em que estiver inserido.
O que seria a Força? No sentido maçônico, segundo o que nos mostra a instrução, “a Força
deve nos animar e sustentar em todas as vicissitudes”. Porém, no sentido filosófico, de uma forma
mais geral, Força seria toda a técnica apta a garantir infalivelmente um efeito. Se analisarmos nesse
sentido, entendemos que a Força está entre dois pólos: um, o indivíduo que almeja algo e o outro,
o resultado que se espera chegar. Neste sentido, qual é o espaço que a Força pode tomar na vida de
um maçom? Força seria a perseverança em aprender com esforço, sacrifício de tempo, dedicação ao
propósito da Maçonaria, com base na vigília e na reflexão de tudo o que fizemos no mundo profano,
não perdendo a nossa essência maçônica e nunca esquecendo que embora sendo Homens inseridos e
vivendo em um mundo profano, acima de tudo, SOMOS MAÇONS, e por isso temos a obrigação de
sermos diferentes. Percebemos que o mundo atual muitas vezes não se movimenta ao lado da Ética,
e, para que o Maçom não se corrompa, é necessário a FORÇA como ferramenta indispensável para a
transformação da realidade mergulhada em posturas de trevas mundanas para um mundo repleto de
atitudes pautadas na verdadeira luz.
Não poderíamos também esquecer da Beleza que, segundo o ritual, deve adornar nossas
ações, nosso caráter e nosso espírito. Porém, qual seria o sentido da Beleza na atitude do maçom?
A Beleza no agir do maçom se justifica como instrumento capaz de fazer com que seus gestos, suas
atitudes, sua forma de pensar, sua maneira de ver o mundo contamine o maior número de pessoas,
construindo uma realidade social mais virtuosa, tudo isso partindo, muitas vezes, do exemplo que
o maçom deixa em sua prática social no dia a dia. Na medida em que isso se concretiza, o maçom
já não é apenas um Homem, uma pessoa esclarecida, um exemplo, mas sim ele passa a ser uma
LIDERANÇA.
Para concluir, poderíamos dizer que Sabedoria, Força e Beleza são instrumentos importantes
para a elaboração de uma postura moral, repleta de atitudes consistentes, inteligentes, prudentes e
holísticas, no sentido de buscar a convergência ao invés da divergência, capaz de anular o nosso Ego
e, com isso, permitir que lutemos para o melhor bem-estar da sociedade.

14
A importância dos rituais para
o desenvolvimento do ser humano

Márcio Alberto Costanzi

O ingresso de um profano na Maçonaria desperta um misto de sensações dentro daquele


que tem o privilégio de adentrar à Ordem. No entanto, a presença exaustiva de símbolos para os
recém chegados associados ao ritual das reuniões causa um misto de curiosidade e desconforto.
Em contraste com o mundo racional em que vivemos hoje que busca a significação precisa de tudo
o que acontece ao nosso redor, ser inserido em uma instituição repleta de símbolos e rituais causa
inevitavelmente uma pergunta a ser respondida: Qual o objetivo de tanto ritual e será que isso é
de alguma forma importante?
O objetivo desse estudo tenta de alguma forma responder a esse questionamento.

A MITOLOGIA SEGUNDO CAMPBELL

AS SOCIEDADES PRIMITIVAS

Desde os primórdios da humanidade, os seres humanos desenvolvem rituais. Joseph


Campbell divide o período histórico da humanidade – quando relacionado à mitologia - em três
grandes períodos. O primeiro é o período primitivo que vai do despertar da consciência ao surgimento

15
da escrita. O segundo período surge por volta de 3500 a.C. no oriente próximo, na Mesopotâmia,
e apresenta uma tradição altamente refinada e de uma característica diferente daquela do mundo
iletrado primitivo. Por fim, o terceiro período, o moderno, se inicia na Europa renascentista.
No primeiro período dos rituais da humanidade identificam-se duas atitudes principais.
Uma é dos povos caçadores da América do Norte, da Sibéria e do norte da Europa. Concentra-se
fundamentalmente na caça e nas guerras e na figura masculina. Nessas sociedades dá-se ênfase à
bravura do homem, ao cultivo e a exaltação da coragem, da habilidade e do sucesso. A cultura se
alimenta da MORTE. Seus membros estão sempre matando animais, vestindo suas peles. Não existe
muita diferença entre matar outro humano ou um animal. Assim, para a psique se proteger dessa
matança contínua, cria-se a seguinte situação: não existe essa coisa de morte. Cria-se determinado
rito. O animal que você matou ou o homem que você matou voltará se for praticado determinado
ritual. Nessas regiões são comuns os rituais de sacrifícios de animais e de sangue.
Depois, quando passamos ao mundo tropical, há uma situação inteiramente inversa. O
alimento básico nessas sociedades é o vegetal fruto da “mãe terra”. O sexo feminino torna-se mais
importante. Sendo mãe, a mulher é a contrapartida simbólica, a personificação dos poderes da terra.
Ela faz nascer tal como a terra; ela alimenta tal como a terra. Assim, a magia feminina predomina
nessas culturas. Além disso, se explora um estranho mistério. Quando se anda por uma floresta tropical,
vê-se vegetação em decomposição por um lado, e dessa matéria podre brota vida nova, verde. Então
surge o ensinamento óbvio: A VIDA PROVÉM DA MORTE. A partir daí se desenvolveu um sistema
de ritual de morte nessas regiões: o entendimento de que matar - o sacrifício - dá origem à vida nova.
Nesses locais, os sacrifícios humanos e o canibalismo são instituídos com rituais.
Como as primeiras grandes civilizações do mundo surgiram no sudoeste da Ásia e eram
agrícolas, levaram adiante essas imagens da vida por meio da morte. Temos, por exemplo, a mitologia
da tradição cristã: da morte de Jesus vem nossa vida eterna. É isso que está por trás da imagem da
Crucificação. No período Neolítico surgem as primeiras povoações permanentes. Elas são o germe
das nossas civilizações avançadas, e esses rituais de sacrifício são sublimados. Através dos séculos,
eles se tornam espirituais e simbólicos, tanto que o alimento que deve ser provado não é simplesmente
físico: é um alimento para o espírito. Temos, portanto, simbolismo nos rituais budistas, hindus e
cristãos, sublimados mediante uma base comum a toda humanidade.

AS CULTURAS AVANÇADAS

Com o desenvolvimento das cidades, as culturas avançadas começam a se consolidar, a


fixar o homem nas regiões, a desenvolver o comércio, as artes, as profissões e os Estados. Com o

16
número crescente da população, essas pessoas precisam levar a vida em harmonia com outras de
origem totalmente diversa. O surgimento de uma estrutura hierárquica fez surgir novos problemas
psicológicos, sociológicos, entre outros.
O ser mais importante dessa nova era eram os sacerdotes. A partir dos seus estudos de
matemática, de astronomia e do desenvolvimento da escrita criaram a ideia de uma ordem cósmica:
a lua nasce, fica cheia e míngua; o sol nasce e se põe todos os dias; o inverno leva à primavera, ao
verão e assim por diante. Isso levou a uma revelação muito mais magnífica e superior aos poderes
vegetal e animal, e cujas leis são imutáveis. Esse é o conceito mítico básico das primeiras grandes
civilizações.
Nas culturas orientais há maior ênfase na sociedade, no grupo, e não no indivíduo, mas na
participação deste na coletividade. Por sua vez, no Ocidente, ressalta-se o indivíduo.

O NASCIMENTO DO ORIENTE E DO OCIDENTE

No Oriente existem dois grandes centros: a Índia e o Extremo Oriente (Japão, China e
sudeste da Ásia.). Nessas regiões ainda hoje a concepção de mundo se dá pela imagem do grande
ciclo impessoal.
A oeste existem também dois grandes centros culturais. Um é o Oriente Médio, onde
surgiram as primeiras culturas avançadas; a maior ênfase aí é na sociedade, no grupo, e não no
indivíduo, mas na participação deste na coletividade. E outra é a Europa, que é a zona arquetípica
da caça no Paleolítico e, como nas primitivas culturas de caçadores, ressalta-se o indivíduo.
As regiões ocidentais - em contraposição com as duas zonas orientais, que são isoladas -
continuam em interação constante. Além disso, os povos guerreiros, violentos e cruéis investem
do norte e do sul contra os agricultores e os comerciantes. Os invasores são os arianos (Europa)
e os semitas (Síria e Arábia). Ao conquistar as regiões, tornavam-se dominantes e submetiam um
mundo a agricultores, cujos conhecimentos míticos e estilo de vida eram ditados pelas descobertas
dos observadores sacerdotais dos céus. Os grupos guerreiros veneravam uma divindade masculina,
um senhor dos trovões. Sua mitologia é oposta à dos grupos assentados na terra, adoradores da
deusa Terra, que produz suas riquezas para os seus filhos. A principal divindade é a grande Mãe-
Terra.
Nessa mitologia de ordem cósmica, toda a esfera do universo é o útero da Deusa-Mãe, cujos
filhos somos nós. E as divindades que a fecundam são geralmente representadas por animais. Esses
consortes são seus subalternos, Ela é a divindade principal. A PRIMEIRA COISA QUE QUALQUER
UM EXPERENCIA É A MÃE. O PAI VEM DEPOIS. Ele não pode reivindicar nada.

17
O povo guerreiro, no entanto, tem um Deus masculino no centro: não o que ora à deusa
para que gere os frutos da terra, mas o que chega para se apossar deles. É ele que lança os trovões,
chama-se Zeus, Yahweh, Indra ou Thor.
Isso tudo gerou um conflito muito interessante entre uma cultura patriarcal, que é menos
refinada, mas materialmente mais poderosa, e uma civilização muito mais refinada baseada na
adoração da deusa. Os bárbaros predominaram e depois assimilaram a mitologia local.
Vejamos o Gênesis. Quem já ouviu falar de um homem dar à luz uma mulher? Mesmo
assim encontramos essa bobagem no Jardim do Éden, onde Adão dá à luz Eva; o macho toma
o papel de fêmea. Em hebraico, Adam significa “terra”. Então, a humanidade nasceu da terra; e
mesmo assim foi de um pai-terra, não de uma mãe-terra.
Essa é a horrenda mitologia masculina que herdamos, cuja exigência é que reprimamos o
sistema feminino.

OS SÍMBOLOS COMUNICAM-SE ESPONTANEAMENTE COM A PSIQUE

Lá no inconsciente, sabemos o que eles significam. No entanto, ao sermos apresentados ao


mito escutamos uma língua diferente. Diz-se: “É o pai”, mas a psique diz: “Não, é a mãe”. Então
procura-se o psiquiatra. Todos nossos símbolos passam a ter dois sentidos.
O povo do Oriente não tem esse problema. A velha mitologia traz a ideia do ciclo cósmico
- a ordem impessoal por trás do universo - para o mundo contemporâneo. As concepções são tão
antigas quanto a escrita, transcendem a noção de gênero.
Em nossa tradição, não enfatizamos a experiência interior da identificação com o divino.
Em vez disso, enfatizamos os meios de atingir um relacionamento com o divino. No Judaísmo
devemos nascer de mãe judia. No Cristianismo devemos ser batizados para sermos aceitos membros
da Igreja. Assim somos alienados de nossa divindade. Depois somos alienados da instituição
que afirma estar em contato com a divindade porque não mais acreditamos nela. A instituição
removeu a divindade do mundo, colocando-nos em um relacionamento com Deus mediante a
própria instituição. Quando a instituição deixa de existir ou entra em decadência não é possível ter
qualquer relacionamento com a divindade. Isso é alienação total.
As igrejas já têm os símbolos no altar e têm os ensinamentos também. Infelizmente,
quando se tem um dogma dizendo o efeito que o símbolo deve ter sobre a pessoa é que cria-se o
problema. A função real das Igrejas e das instituições místicas é apresentar o símbolo, executar o
rito, para que possamos contemplar a mensagem divina a ponto de conseguirmos experenciá-la. É
bem menos importante sabermos as relações das relações entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, do

18
que sentir a Concepção Virginal dentro de si, o nascimento do ser místico, mítico, que é a própria
vida espiritual.

A ESTRUTURA DA MENTE SEGUNDO JUNG

Em 1900, Sigmund Freud apresentou ao mundo a sua teoria do Inconsciente, na obra “A


interpretação dos sonhos” (Freud, 1972). O conceito de inconsciente já existia de alguma forma
desde a Grécia Antiga, contudo foi somente com Jung que tal teoria encontrou sua plenitude,
alcançando um sentido mais amplo, quando o mesmo diferenciou a atuação do inconsciente de
uma camada mais profunda, que chamou de inconsciente coletivo, que são formas ou imagens de
natureza coletiva que se manifestam praticamente em todo o mundo como constituintes dos mitos
e, ao mesmo tempo, como produtos individuais de origem inconsciente, que influenciam toda
nossa psique (Jung, 2011).
Ao contrário da escola freudiana, que afirma que os mitos estão profundamente enraizados
dentro de um complexo do inconsciente, para Jung, a origem atemporal dos mitos reside dentro
de uma estrutura formal do inconsciente coletivo. Torna-se assim uma diferença considerável para
Freud, que nunca reconheceu a autonomia congênita da mente e do inconsciente, enquanto que,
para Jung havia uma dimensão coletiva inata e com autonomia energética.

JUNG E A POLARIDADE DA PERSONALIDADE

Carl Gustav Jung foi contemporâneo de Freud e cada um deles tinha uma noção particular
da mente inconsciente. Para Jung, a psique tem uma energia fundamental que se manifesta em
direção ao sexo e ao poder, o que chama de “atitude básica” a tendência para uma ou para outra.
Quando uma pessoa é orientada predominantemente para o poder é denominada
introvertida. É aquela pessoa que pretende impor sua imagem interna de como as coisas devem ser.
A pessoa orientada para o sexo, por outro lado, volta-se para fora. Apaixonar-se significa
perder-se em outro objeto. Jung chama essa pessoa de extrovertida. Porém todos os indivíduos
apresentam as duas partes, com ênfase em uma ou outra.
Há no ser humano, porém, algo mais do que sexo e poder. Jung entende que a psique é
dominada pelo que chama de quatro funções, dividida em dois pares de opostos. O primeiro par,
sensibilidade (ou sentimento) e intelecto (ou pensamento). O segundo apresenta duas formas de
ter uma experiência: Jung chama a primeira de sensação (diferente de sentimento) e a outra de
intuição (também diferente de sentimento).

19
Nessa polaridade da personalidade sempre haverá uma característica superior e outra
inferior. Há necessidade de contrabalancear essas funções concorrentes - sexo x poder, intelecto x
sensibilidade, intuição x sensação - para se atingir a plenitude, o que Jung chamava de individuação.

OS ARQUÉTIPOS DO INCONSCIENTE COLETIVO

Essas polaridades - as duas atitudes e as quatro funções – fazem parte de uma dinâmica
interna, psicológica. Movimentam-se através da psique como marés. Jung também identificou
na mente certas estruturas fixas. Estas não são apreendidas, freudianas. Para Jung, elas existem
desde o nascimento. Evoluíram como parte da mente humana, da mesma forma que a mão e o
olho. Essas estruturas ele as denominou de INCONSCIENTE COLETIVO. Coletivo significa
serem atributos de todos os seres humanos.
A primeira dessas estruturas foi denominada de SELF e abrange todas as possibilidades
da vida, as energias e a potencialidade, tudo o que o indivíduo é capaz de vir a ser. O self total
é como nossa vida seria se ela se realizasse plenamente. Fazendo parte do self encontramos o
EGO que para Jung, é a noção que temos do self; define o centro da consciência e o relaciona
com o mundo; é o “eu” que experenciamos ao agir no mundo ao redor. Então temos o self,
que é nossa potencialidade total, o iceberg como um todo; e temos o ego, a ponta do iceberg,
que emerge de forma gradual durante a infância até chegarmos a uma percepção relativamente
estável de nós mesmos.
À medida que a criança se desenvolve, ela é inserida na sociedade e assume uma série
de funções que esta precisa que se desempenhe. A sociedade grava em nós os seus ideais, um
guarda-roupa de comportamento aceitável. Jung chama a isso de PERSONA.
Existe algo que não entra no sistema de persona nem do ego para fazer parte daquilo
que se percebe como “eu”. Oposto do ego, no fundo do inconsciente, encontra-se o que Jung
chama de SOMBRA. A sombra é aquilo que não se quer considerar sobre si mesmo. Equivale
ao inconsciente freudiano de recalques, assim como as possibilidades reprimidas da pessoa.
Compõe-se dos desejos e das ideias que estão reprimidos. Nos mitos, a sombra é representada
pelo monstro que deve ser vencido, o dragão. É o ser sinistro que vem do abismo e o enfrenta
no instante em que começa a descer para o inconsciente. A sombra é aquela parte que não se
permite que transpareça, o que inclui os aspectos bons – quer se dizer , potentes - e também os
aspectos perigosos e desastrosos do potencial humano.
Em geral, todos os arquétipos aparecem personificados em mitos e em sonhos. Nós

20
personificamos o mistério do universo como Deus. O ego torna-se a figura do herói ou da
heroína. O eu inconsciente torna-se o sábio ou a sábia. A sombra aparece como uma espécie de
figura mefistofélica.
O EGO TENDE A IDENTIFICAR-SE COM A SOCIEDADE, ESQUECENDO-SE DA
SOMBRA. ELE ACHA QUE É O INDIVÍDUO. É ISSO QUE A SOCIEDADE NOS FAZ.
Depois aparece o problema das características sexuais. Todo homem tem de ser másculo,
e tudo aquilo que a sociedade não lhe permite desenvolver ele atribui ao lado feminino. Ele
reprime esses traços de si mesmo no inconsciente. É a contrapartida da persona. Jung chama
isso de anima, o ideal feminino no inconsciente masculino; e animus , o aspecto masculino na
mulher.

OS EFEITOS PSICOLÓGICOS DA PRÁTICA DO RITUAL MAÇÔNICO

A definição mais comum de Maçonaria é de que é um belo sistema de moralidade velado


em alegorias e ilustrado por símbolos (ZELDIS 2011). Isso já diz muito sobre a intuição e seu
modo de ensino e aprendizagem, que ocorre por meio de rituais repletos de alegorias e expressões
simbólicas. No entanto, entre o desdobramento do ritual e o comportamento moral de seus
participantes há um mecanismo psicológico que não pode ser ignorado e cuja compreensão pode
colaborar para um melhor entendimento da razão da Maçonaria atrair ao longo dos séculos o
interesse de tantos distintos homens e a ira de tão perigosos inimigos como os nazistas, papas e os
comunistas. (Roberts, 1969).

O QUE É UM SÍMBOLO

Os símbolos são, em síntese, metáforas e compêndios de um conhecimento sensivelmente


elevado (CAMPBELL, 2007), mas que, em outras palavras, são manifestações exteriores dos
arquétipos. Os arquétipos só podem se expressar através dos símbolos em razão de se encontrarem
profundamente escondidos no inconsciente coletivo, sem que o indivíduo os conheça ou possa
vir a conhecer (JUNG, 2011b). Dessa forma, em nosso nível comum de consciência, para
compreendermos um elevado sentimento contido no Inconsciente Coletivo, necessitamos dos
símbolos, gestos existentes desde o início da humanidade (CAMPBELL, 2008; JUNG, 2011a).
Essas afirmações precedentes necessitam de um exemplo hipotético: o amor da mãe para
com seu filho jamais seria compreendido por palavras ou descrições objetivas, como números ou

21
letras. Em vez disso, podemos, em vez de escrever sobre tal amor, apenas apresentar o conhecido
símbolo do coração. Deste modo, mesmo que parcialmente, a noção que teremos a respeito do
amor de uma mãe para com seu filho, será muito mais próxima do que as expressadas por meras
palavras (JUNG, 2011d).
As mitologias e sentimentos são comumente manifestados por meio de símbolos e gestos.
Do mesmo modo, a Maçonaria atua através da ritualística das suas Iniciações e instruções. Os
símbolos e gestos atuam como um catalisador de sentimentos de seus praticantes através do mito
trabalhado pelo grupo-cultura (CAMPBELL, 2008). O avanço moral que a Maçonaria proporciona
a seus adeptos é, além de consciente, educativo e ético, também um reforço psicológico.
A diferença crucial entre símbolo e arquétipo é que o primeiro pode ser visto e em alguns
casos também tocado e sentido, ao passo que o segundo pode ser apenas sentido, e mesmo assim,
somente por intermédio do primeiro. Portanto, para que haja símbolos, deve antes haver arquétipos,
pois aqueles são a manifestação destes em menor escala (JUNG, 2011d; JUNG, 2012).

O Templo Maçônico DO RITO ESCOCÊS E A PSIQUE HUMANA

Os maçons são unânimes em dizer que o Templo Maçônico é simbólico, e como já vimos,
o símbolo é muito mais do que mera ornamentação artística para representar algo (JUNG, 2012).
Importante registrar que o Templo Maçônico não é uma réplica do Templo de Salomão, se não
apenas simbolicamente inspirado no Templo de Salomão, mas contendo muitas outras influências,
de acordo com o Rito adotado (ISMAIL, 2012). No caso do presente estudo, refere-se a um Templo
do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Portanto, toda a ornamentação e divisão do Templo não é fruto do acaso, a começar pela
Sala dos Passos Perdidos, mais adiante o Átrio, a Câmara ou Caverna de Reflexões, e finalmente o
Templo em si. Todos estes compartimentos são estágios utilizados há muito tempo para separar o
sagrado do profano (VAN GUENNEP, 2011).
Nesse contexto, o ritual tem por objetivo a realização da passagem de um estado de
consciência para outro, estados esses chamados maçonicamente de profano e sagrado, e em última
análise, o Templo com suas divisões simboliza o estado de consciência em que nos encontramos.
Desta forma, o Templo em si representa um estado intransponível de pureza e santidade para seus
membros. As funções-cargos expressas no ritual e as disposições do Templo são personificações
simbólicas das leis psicológicas que atuam na psique (CAMPBELL, 2007; MAXENCE, 2010).
Rituais ou simples gestos simbólicos identificam nossa consciência com o campo essencial

22
de ação. O soldado que retorna da guerra, ao passar pelo Arco do Triunfo, um rito de passagem,
acaba deixando a guerra para trás. Da mesma forma, ao passarmos pela Sala dos Passos Perdidos
e posteriormente pelo Átrio, sabemos que estamos em um local consagrado para a prática do bem,
o Templo Maçônico. Assim, as salas que antecedem o Templo, cumprem a função psicológica de
devidamente introduzir o adepto em um local que, por meio de seus símbolos, colabora para o
ingresso a um estado da consciência necessário para que o ritual cumpra seu dever cognitivo de
forma efetiva (JUNG, 1978; VAN GUENNEP, 2011).
De acordo com a psicologia analítica de Carl G. Jung, a psique divide-se em três níveis:
a consciência, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo (HALL & NORDBY, 2010).
Conforme se segue abaixo, tais divisões se conciliam em significados e funções com os cômodos
de uma Loja Maçônica do Rito Escocês Antigo e Aceito, ou seja, Sala dos Passos Perdidos, Átrio
e Templo, sendo que na parte interior, teremos o Ocidente e o Oriente.

Nível 1 – Consciência: Sala dos Passos Perdidos


A consciência é a única parte da psique a qual conhecemos direta e objetivamente (HALL
& NORDBY, 2010) e nela tudo ocorre geralmente de forma racional e lógica. Da mesma forma,
isso também ocorre antes de adentrarmos ao Templo, pois é na Sala dos Passos Perdidos que tudo
ainda ocorre de forma desprovida de questões oníricas, sem sinais ou gestos simbólicos.
O significado psicológico de persona, para Jung, é aquela parte da personalidade
desenvolvida e usada em nossas interações mundanas, ou profanas, no vocabulário maçônico. É
nossa face externa consciente, nossa máscara social, como veículo não de nossa real vontade, mas
da nossa necessária aceitação (JUNG, 1978; HALL & NORDBY, 2010). Assim que, nas Iniciações
Maçônicas, o gesto dos candidatos serem despidos de todos os metais, e iniciarem todos exatamente
da mesma forma, significa que, naquele momento, o indivíduo despe-se de suas personas. Esse
desprendimento se faz necessário visto que, conforme Jung, no nível do inconsciente pessoal – que
citaremos logo adiante – não há persona, a qual se manifesta apenas no nível consciente.
O crescimento psicológico ocorre, de acordo com Jung, quando alguém tenta trazer o
conteúdo-conhecimento do inconsciente, para o nível consciente, e estabelecer uma relação entre a
vida consciente e o nível arquetípico da existência humana (JUNG, 1978; JUNG, 2011b). O homem
que assim o fizer, haverá de reconhecer as origens de seus problemas no próprio inconsciente, pois
a pessoa que não torna consciente suas limitações e defeitos, acaba por projetar sobre os outros
tais percepções negativas (HALL & NORDBY, 2010). Fazendo o devido paralelo, o crescimento
na senda maçônica somente ocorre quando se aplica no chamado mundo profano o que se estuda

23
e aprende no mundo maçônico, que é neste quadro comparativo o referido inconsciente pessoal, e
assim tem-se a oportunidade de transformar o conhecimento em sabedoria.

Nível 2 - Pré-consciência: Átrio


Para Freud, a consciência humana se subdivide em três níveis, chamados de Consciente,
Pré-Consciente e Inconsciente. O estado intermediário entre a Consciência, abordada no Nível 1, e
o Inconsciente, que será abordado no Nível 3, é o de Pré-consciência, o qual tem por característica
uma experiência munida de relativo equilíbrio entre um material perceptível e um material latente
(FREUD, 1972).
Dessa forma, tem-se o Átrio do Templo Maçônico como representativo desse estado de
pré-consciência, visto que o Átrio, apesar de muitas vezes interpretado como sendo uma extensão
do Templo, é fisicamente um cômodo intermediário entre a Sala dos Passos Perdidos e o Templo
Maçônico. Nele ocorre o momento de transição entre os estados psicológicos, em que os maçons
se concentram, geralmente com as luzes apagadas, para se desvencilharem dos problemas e
pensamentos do chamado “mundo profano” e adentrarem ao interior do Templo. Assim, o Átrio
se assemelha em correspondência com o pré-consciente na medida em que ambos não possuem
uma natureza específica, mas sim transitória. Portanto, este estado intermediário tem por objetivo
introduzir o personagem no recinto onírico e simbólico seguinte.

Nível 3 – O Inconsciente Pessoal: O Templo Maçônico


Todas as experiências, mesmo aquelas consideradas esquecidas, mas que todavia não
deixaram de existir, são armazenadas no inconsciente pessoal. É nesse nível que ocorrem os
sonhos quando se está dormindo, e como todos sabem, tais eventos sonhados são dotados de
acontecimentos surreais e ilógicos perante a nossa realidade objetiva (JUNG, 2005).
Assim o Inconsciente Pessoal encontra correspondência com o Templo Maçônico, onde a
ritualística e os símbolos alcançam a totalidade dos trabalhos, e estes retratam bem o estado fictício
e mítico do drama maçônico, estado este que – paralelamente – também é encontrado nos sonhos,
com seus símbolos abstratos, passagens ilógicas e surreais, onde tanto no estado onírico como
na ritualística, pode-se viajar do Oriente ao Ocidente com alguns poucos passos, e do amanhecer
ao pôr do sol vai-se em alguns minutos, semelhante ao que ocorre nos sonhos, pois no nível do
inconsciente pessoal não há uma limitação objetiva. Da mesma forma, o simbolismo da ritualística
não possui um senso lógico. Ambas as linguagens (sonhos e ritualística) são figuradas.
Assim como o ritual maçônico não é literal e tem por objetivo transmitir instruções morais,

24
os sonhos também não o são e, segundo Jung (2011d), o crescimento e amadurecimento moral são
a real e efetiva finalidade dos sonhos. Destarte, em ambos os casos perde-se o efeito do lógico e
racional, para com isso, trabalhar o simbólico e onírico. Sendo assim, interpretar o ritual maçônico
de forma literal é um erro lastimável, ao passo que o sonho, inexoravelmente, também deve ser
interpretado de forma não literal (JUNG, 2012).
Os conceitos de Anima e Animus foram talvez as duas mais importantes descobertas de
Jung. Ambos são aspectos inconscientes de um indivíduo. O inconsciente do homem encontra
ressonância com o arquétipo feminino, chamado de Anima, enquanto que a mulher associa-se
com o arquétipo masculino, chamado de Animus. Cabe notar que quando se fala de masculino e
feminino, em se tratando de Animus e Anima, está se referindo às expressões e características, e
não algo literal (JUNG, 2011b; JUNG, 2012), pois, como supramencionado, o inconsciente reside
em um nível atemporal, inteiramente psicológico, portanto não material.
A Anima manifesta-se na psique de forma emocional, passiva e intuitiva. Por outro lado,
o Animus manifesta-se de forma racional, ativa e objetiva. Jung costuma relacionar Anima ao
deus grego Eros, o deus do Amor, ao passo que Animus é relacionado com o termo Logos, que
significa verbo, razão (JUNG, 1978). No Templo Maçônico tal equilíbrio dual é conhecido pelas
duas colunas, Boaz e Jaquim. No Rito Escocês, os Aprendizes Maçons tomam assento do lado
da coluna Boaz, e ali são instruídos sobre a educação moral, espiritualidade e ética maçônica,
conceitos perfeitamente associados ao arquétipo de Anima. Já do lado da coluna Jaquim tomam
assentos os Companheiros Maçons, que, ao contrário dos Aprendizes, possuem suas instruções
voltadas para as artes ou ciências liberais, bem como para algum conhecimento esotérico, que
são características de Animus. Ao Oriente vê-se o Sol e a Lua, que são símbolos conhecidos do
Animus e da Anima.
Desta forma, Boaz e Jaquim, representam Anima e Animus, e a consecução entre ambas
as colunas representa o Casamento Alquímico, a totalidade do ser, ou seja, o Equilíbrio Perfeito, o
Mestre. Aquele que caminha com tal união, anda pelo caminho ou câmara do meio (CAMPBELL,
2008), no nosso caso, o Mestre Maçom.

Nível 4 – Inconsciente Coletivo: Sólio do Oriente


Teoria proposta pela Psicologia Analítica, o inconsciente coletivo difere do inconsciente
pessoal, visto que não se trata de experiências individuais, mas, como o nome sugere, são
experiências coletivas (JUNG, 1978). Trata-se de uma espécie de reservatório de imagens, essas
chamadas de imagens arquetípicas. Tais imagens e concepções são herdadas pelo homem de forma

25
inconsciente através do inconsciente pessoal. O inconsciente coletivo estimula no homem desde
o nascimento um comportamento padrão pré- formado. Assim, recebemos a forma do mundo em
uma imagem virtual e essa imagem transforma-se em realidade consciente quando, durante a vida,
identificamos os símbolos a ela correspondentes (JUNG, 2011b).
Os conteúdos do inconsciente coletivo são denominados de arquétipos. Um arquétipo é
compreendido como um modelo original que conforma outras coisas do mesmo tipo, semelhante a
um protótipo (JUNG, 2011b). Tanto o inconsciente coletivo como o arquétipo se confundem com
aquilo que chamamos de egrégora.
Jung acreditava que, tanto a experiência quanto a prática religiosa, eram fenômenos que
tinham sua fonte no inconsciente coletivo (JUNG, 2011c). O céu, o inferno, o Jardim do Éden, o
Olimpo, são interpretados pela psicologia junguiana e freudiana como símbolos do inconsciente
(JUNG, 2011c; FREUD, 1972), e se enquadram ao simbolismo do dossel e do sólio no Oriente,
localizado a sete degraus acima do nível onde se encontram os Aprendizes, Companheiros e
Mestres, onde se encontra o chamado Trono de Salomão e que possui estampado o olho que tudo
vê no Rito Escocês Antigo e Aceito.
Assim como o inconsciente coletivo dispõe da pré-formação psíquica da psique (JUNG,
1978), o direcionamento dos trabalhos vem do Oriente da Loja, além de que as informações
originais da Loja, presentes na carta constitutiva, também se localizam na região do sólio.

OS EFEITOS E SINAIS DA RITUALÍSTICA MAÇÔNICA NO INCONSCIENTE

Os rituais praticados e todas as suas repetições centram o indivíduo dentro dos propósitos
do mito, pois o ritual é a simples representação do mesmo. Ao participar de um ritual, vivencia-
se sua mitologia. Assim, tais gestos e movimentos transcendem os adeptos (CAMPBELL, 2008),
como, por exemplo, na execução do mito de Hiram Abiff, que ocorre no grau de Mestre Maçom.
Tornar-se Mestre Maçom é o mesmo que Jung chamava de processo de individuação para realização
de si mesmo (MAXENCE, 2010).
Quanto à ritualística e seu potencial psicológico, Jung (2011b), discorre sobre a psicologia
analítica e as formas de atuar no inconsciente pessoal do indivíduo.
Outra forma de transformação é alcançada através de um ritual usado para este fim.
Em vez de se vivenciar a experiência de transformação mediante uma participação, o ritual é
intencionalmente usado para produzir tal transformação. Se recebe um novo nome e uma nova
alma, ou ainda passa-se por uma morte figurada, transformando-se em um ser semidivino, com

26
um novo caráter e um destino metafísico transformado. (Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo,
CARL GUSTAV JUNG, 2011, p. 231)
Desta forma, o indivíduo que vivencia o ritual, as Iniciações, Elevações e Exaltações,
acaba por se transformar, seja pelas convicções conscientes ou pela influência do inconsciente
(JUNG,1978)
Os maçons devem, portanto, realizar reflexões da simbologia maçônica. Ao executar
um ritual de alto valor cultural, com gestos e passagens incomuns à sociedade, o qual, sob um
olhar cético e profano pode ser considerado como infantil e ingênuo, deve o maçom analisar tais
movimentos a nível psicológico, onde reside sua maior força e resultado. Ademais, abordar o
ritual maçônico ou qualquer outro ritual sem um entendimento psicológico e simbólico do seu
significado é como ver animais nas nuvens, ou seja, um exercício de vontade e imaginação sem
maiores resultados.
Conhecendo a antropologia das sociedades primitivas, Jung comparou a vida com a
trajetória do Sol em um dia. A primeira parte, do nascimento para a sociedade, é semelhante ao
amanhecer do Sol. A segunda parte, da participação efetiva no mundo e na sociedade, é semelhante
ao meio dia. E, enquanto o desafio da primeira metade da vida é a própria vida, o desafio da
segunda metade é a própria morte, representada pelo anoitecer (CAMPBELL, 2008; JUNG, 2005).
Para o primitivo não bastava ver o Sol nascer e declinar. Esta observação exterior
correspondia a um acontecimento anímico, isto é, o Sol representava em sua trajetória o destino
de um Deus. Todos os acontecimentos mitologizados da natureza, tais como o verão, inverno,
amanhecer, meio dia e pôr do sol, as fases da lua, as estações, não são alegorias destas experiências
objetivas, mas sim, expressões simbólicas do drama interno e inconsciente da alma, que a
consciência humana consegue apreender através da dramatização dos rituais maçônicos (JUNG,
2011b).
Outro detalhe ritualístico curioso relativo ao Sol é a circulação em sentido horário, também
chamada de dextrocêntrica. Uma prática tão antiga quanto a Maçonaria. Os gregos e romanos
tinham o lado direito como favorável, visto que este, de forma geral, favorece mais seu dono do
que o esquerdo. Relacionaram tal procedimento ao aparente movimento que o Sol faz diariamente
em torno da Terra. Assim, essas civilizações, tendo sempre o aparente movimento do Sol como
referência, adotavam a circulação em sentido horário, tendo altares, fogueiras, totens ou sacrifícios
como eixo de seus Templos (ISMAIL, 2012).
A função psicológica da ritualística maçônica é a de restaurar um equilíbrio psicológico
por meio do sistema mitológico proposto pela instituição, de modo a produzir um material onírico

27
no inconsciente de seus membros (JUNG, 2005). Desta forma, o conhecimento da Maçonaria
retrata um estudo do inconsciente, tanto do inconsciente pessoal, através dos efeitos diretos da
ritualística, como do inconsciente coletivo, através do estudo da Mitologia Maçônica.
Nos rituais tribais de iniciação os membros recebem uma marca, que nos tempos atuais
figura como simbólica (VAN GUENNEP, 2011), e que distinguem o iniciado dos não iniciados. Na
Iniciação no Rito Escocês isso ocorre com uma chancela no peito esquerdo. Seja uma marcação
física ou apenas simbólica, tais atos ritualísticos operam igualmente no inconsciente (JUNG, 2005).
A prática de diferentes termos linguísticos também é usada para separar o sagrado do
profano nos grupos religiosos (VAN GUENNEP, 2011). Este exemplo é um dos diferenciais
da ritualística maçônica, onde uma linguagem própria é comumente adotada. Inúmeros são os
exemplos disso no Rito Escocês, como justo e perfeito, tronco, Huzzé, sólio, pálio, veneralato e
muitos outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, a mitologia pode ser entendida, sob a ótica da Psicologia Junguiana, como um
sonho coletivo, sintomático dos impulsos arquetípicos existentes no interior das camadas profundas
da psique humana (JUNG, 1978), ou, numa visão religiosa, como a revelação de Deus aos seus
filhos. Tanto a mitologia como os seus símbolos são metáforas reveladoras do destino do homem
e nas diversas culturas são retratadas de diferentes formas (CAMPBELL, 2007). Sendo assim, a
vivência do drama de um mito nada mais é do que uma ferramenta de compreensão e promoção do
crescimento psicológico do indivíduo, sendo esta a função principal do mito (CAMPBELL, 2008).
Assim, a análise para toda questão mitológica, como também este estudo da ritualística maçônica
em questão, é, por derradeiro, o estudo da psique humana.
Em várias sociedades e cultos primitivos, a prática religiosa consistia em vivenciar a
Mitologia de forma direta, pois o mito poderia influenciar o executor da prática religiosa de forma
indireta no decorrer das cerimônias, por intermédio do inconsciente. Assim o crescimento e a
finalidade da Mitologia aconteciam de forma particular em cada um, como uma semente que aos
poucos iria germinando (JUNG, 2005). Entendimento similar ocorre na Maçonaria e é explicitado
quando maçons dizem aos neófitos na Palavra a Bem da Ordem que “hoje você entrou para a
Maçonaria, mas precisa deixar que a Maçonaria entre em você”. A tradição maçônica conserva
esses costumes como forma de instrução aos seus membros, sendo atualmente uma das poucas
instituições em que o homem pode ter contato com tais experiências (BLAVATSKY, 2009).
As imagens mitológicas são aquelas que colocam o consciente em contato com o

28
inconsciente. É isso que elas são. Quando não temos imagens mitológicas, ou quando o consciente
as rejeita por uma razão ou outra, perdemos o contato com nossa parte mais profunda. Temos que
descobrir por qual mitologia estamos de fato vivendo e conhecê-la, para podermos tocar a nossa
ocupação com competência.
O caminho para encontrar o próprio mito passa por descobrir os símbolos tradicionais que
falam ao íntimo e usá-los como base de meditação. Um ritual não é nada mais que a manifestação
ou representação dramática visual e ativa de um mito. Ao participarmos de um rito, engajamos no
mito e este opera em nós mesmos, desde é claro que sejamos arrebatados pela imagem. Contudo,
se participarmos da rotina sem um comprometimento real nos afastamos do uso correto dos ritos e
das imagens. O sentido dos rituais é impelir o indivíduo ao âmbito espiritual, portanto interpretá-
los de modo simplesmente material, biológico, é pôr os pés no chão de novo e furar o símbolo.
No entanto, no mundo atual a sociedade perdeu seu imaginário. Não conseguimos instigar
a participação psicológica, levando o indivíduo a voltar-se para dentro. Pode-se voltar com o uso
de drogas ou com meditação. A melhor meditação, sem dúvida, é tomar o símbolo a partir do ritual
sem se importar se ele tem ou não verdade histórica, mas sabendo que ele se refere a um plano
interior de experiência.
Esse é o mistério da vida e suas máscaras.
Revolução não é destruir, mas gerar algo. Se passarmos o tempo todo pensando naquilo que
estamos atacando, ficamos negativamente ligados a isso. Faz-se necessário encontrar o entusiasmo
em nós mesmos e trazê-lo para fora. É ISSO QUE NOS É DADO: UMA VIDA PARA VIVER.
Marx propõe culpar a sociedade por nossas fraquezas; Freud propõe culpar os pais; a Astrologia
propõe culpar o Universo. O único lugar em que se deve colocar a culpa é dentro de nós - não
tivemos coragem de criar nosso próprio destino e viver a vida que era o nosso potencial.
Por fim, se admitirmos que somos mais do que a simples razão, que os rituais e os
símbolos são a ponte que nos remetem para o interior de nós mesmos, para uma ampliação da
nossa existência, começaremos a compreender o grande mistério da vida e estaremos em paz e em
concordância com a energia universal. Eis o toque de nossa alma com Deus.
E se tentarmos exprimir em uma sentença o sentido e o significado de todos os mitos e
rituais que surgiram dessa concepção de ordem universal, pode-se dizer que eles são seus agentes
estruturadores, funcionando para colocar a ordem humana em concordância com a celestial:
“SERÁ FEITO NA TERRA, COMO É NO CÉU”.

29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPBELL, Joseph. Mito e transformação.São Paulo:Ágora Editora,2008


GUIMARÃES,R. Os Efeitos Psicológicos da Prática do Ritual Maçônico. Ciência e Maçonaria
Brasília, Vol. 1, n.1, p. 21-28, Jan/Jun, 2013
BLAVATSKY, HELENA P. O ocultismo prático e as origens do ritual na Igreja e na Maçonaria.
São Paulo: Pensamento, 2009.
CAMPBELL, Joseph. As máscaras de Deus, Mitologia Ocidental. São Paulo: Palas Athena, 1994.
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces. São Paulo: Editora Pensamento, 2007.
CAMPBELL, Joseph. Isto és Tu. São Paulo: Landy Editora, 2002.
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação. São Paulo: Ed. Ágora, 2008.
DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1972.
HALL, Calvin S.; NORDBY, Vernon J. Introdução à Psicologia Junguiana. São Paulo: Cultrix,
2010.
ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo: Universo dos Livros, 2012.
JUNG, Carl Gustav. Interpretação psicológica do Dogma da Trindade. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2005.
JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
JUNG, Carl Gustav.Psicologia do Inconsciente. Rio de Janeiro: Vozes, 1978.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
JUNG, Carl Gustav. Símbolos e interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. 20ª Edição. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2012.
MAXENCE, Jean-Luc. Jung é a aurora da Maçonaria. São Paulo: Madras, 2010.
MURPHY, Tim Wallace. O código secreto das catedrais. São Paulo: Pensamento, 2007.
ROBERTS, J. M.: Freemasonry: Possibilities of a Neglected Topic. The English Historical Review,
Vol. 84, No. 331, p. 323-335, 1969.
STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maçonaria. São Paulo: Pensamento, 2011.
VAN GUENNEP, Arnold. Os Ritos de Passagem. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2011.
ZELDIS, L., Illustrated by Symbols. New York, NY: Philalethes, The Journal of Masonic Research
& Letters, Vol. 64, No. 02, p. 72-73, 2011.

30
A Taça Sagrada da boa
ou da má sorte

Rudimar Panzoni Marques

Entre todas as provas da minha Iniciação, sem dúvida alguma, o ponto mais alto foi a Taça
Sagrada da boa e da má sorte. Por isso meu trabalho se estabeleceu não especificamente sobre a
Taça em si, mas sobre o conteúdo que pode oferecer-se como “doce” ou “amargo”.
Com o passar do tempo e muitos meses de observação, instruções, questionamentos e muita
leitura, cheguei à conclusão de que tinha de falar sobre o que mais marcou em meu Coração, minha
Razão e minha Alma na minha Iniciação. E é baseado neste tripé (Coração, Razão e Alma) que alicerço
o meu entendimento para falar de algo que realmente ficou gravado no meu Templo Interior: A Taça
da Boa e da Má Sorte (ou o doce e o amargo de seu conteúdo).
A Taça Sagrada ou simplesmente a Taça, tem sua origem muito antes de Cristo. Exímios
navegadores da sua época, os “Celtas”, comemoravam suas viagens e conquistas, tomando vinho
em taças.
Símbolo este de muitas contradições ainda hoje, onde muitos escritores dão opiniões dos mais
inesperados pontos de vista, chegando ao ponto de compará-la simbolicamente com o útero de uma
mulher, a Taça ou o Cálice Simbólico são encontrados em muitas lendas mitológicas.
Pretendo abordar neste trabalho considerações sobre o “doce” e o “amargo” dos quais provamos
em nossa Iniciação. Isto teve para mim o real significado de muita reflexão, de muitas dúvidas e de
muitos entendimentos.

31
Vejamos o que diz, em um breve resumo, o escritor Hiram Luiz Zoccoli no livro “A Iniçiação
Maçônica do REAA” sobre a Taça Sagrada: “Muitos iludidos creem ser a ciência espiritual métodos
simples e fáceis para adquirir poder, riquezas e comodidades. Jamais pensam, nem lhes disse alguém,
que por trás destas provas, espera-os o brumoso Cálice da Amargura, esta Taça Misteriosa, símbolo
das desilusões que encontra quem desce das regiões puramente idealistas e de interesses próprios
para vir ao encontro às realidades materiais, à Vida real, que é tão diversa daquilo que tínhamos
imaginado. Inúmeros Irmãos, desiludidos, perderam suas esperanças e abandonaram a sublime Ordem.
Beberam da Taça Sagrada e sentiram a sutileza e sublimidade de seus ensinamentos, mas ao entrarem
em contato com a realidade, acharam estranho este tremendo contraste entre a grandeza do ideal e
a fraqueza das realizações individuais.”
O escritor ainda complementa que “longe de evitar e afastar de nós a Taça de Amargor que nos
é oferecida pela ignorância dos homens, devemos levá-la aos lábios serenamente, como se fosse a mais
confortável das bebidas. É então que se produz o milagre: o amargor se converte em doçura onde a visão
espiritual triunfa sobre as sombras da ilusão”.
O escritor Jules Boucher em seu livro “A Simbólica Maçônica” pondera o seguinte:
“Na cerimônia de Iniciação Maçônica, três fases caracterizam a bebida. Essas três fases
deveriam ser as seguintes:
– Insípida: é a vida do profano na qual o Espírito não foi despertado;
– Amarga: é a vida do Iniciado, daquele que procura, daquele que é atormentado pelo
desejo de conhecer;
– Doce: é a vida do Adepto, daquele que enfim, chegou à serenidade que a verdadeira
Iniciação pode proporcionar”.
Meus Irmãos, permitam-me expressar sob meu ponto de vista o entendimento e a
profundidade que tive deste ato simbólico.
Enquanto profanos, temos dificuldades de entender que as adversidades existem para equilibrar
as coisas. Diferente disso, depois que nos tornamos neófitos, começamos a perceber que as diferenças
estão diretamente ligadas umas as outras: o frio e o calor, a dor e o prazer, a luz e as trevas (neste caso
as trevas nada mais são que ausência de luz), as alegrias e as tristezas, o doce e o amargo.
Na Iniciação, quando ingerimos até a última gota da bebida doce, nosso cérebro nos passa
a sensação do bem-estar, do prazer, das coisas boas, e entendo que é exatamente aí que mora o real
perigo.
O doce, quando provado em desequilíbrio, pode nos carregar ao vício, às tentações e aos
prazeres da vida profana, onde facilmente nos deixamos ser envolvidos se não tivermos o devido

32
cuidado. Este normalmente está em todo lugar e, incrivelmente, sempre que temos acesso ao doce
em abundância, somos rodeados de “amigos” para prová-lo. O “doce”, quando provado em demasia
e sem escrúpulos, pode nos levar a ruínas, além de causar danos a quem nos é caro.
Podemos citar vários exemplos de “doces” que quando mal administrados se convertem em
“amargor”. Entre eles estão pessoas que colocam o TER acima do SER, pessoas no âmbito do poder que
o usam para proveito próprio e lesam outras pessoas, cidadãos que fazem dos seus carros uma arma
mortal no trânsito, enfim, ficaríamos dias falando destes maus exemplos.
Diferente disso, na vida Maçônica, devemos ter a consciência de que todo o “doce”, não
importa o quanto doce é e quanto tempo dure, tem de ser usado com moderação. E como sabemos
disso?
Entendo que a primeira coisa que devemos fazer é um exame de autoconsciência, onde é
fundamental sabermos a procedência deste “doce”, se realmente necessitamos prová- lo e, sendo este o
caso, dividirmos com nosso irmão que também necessita, pois somente assim alcançaremos o real
sentido de Fraternidade.
E o Amargo?
Na vida profana, todo o “amargo’’ é sinônimo de dificuldade. E, de preferência, o melhor
mesmo é não provar do “amargo”. Acontece que o “amargo”, ao contrário do “doce”, não é uma
escolha ou uma opção.
Quando menos esperamos, a vida nos coloca à prova perante algumas situações onde não
estamos preparados para ingerí-lo. Todo o Maçom que tiver a real consciência desta prova, saberá o que
profanamente chamaríamos de “milagre”: o “amargo’’ poderá se converter em “doce”.
Todos nós sabemos que o “amargo’’ nos é colocado à prova como desafio. Quando passamos
a entender isso, provamos o amargo até a última gota e sabemos que podemos aprender muito, que
podemos melhorar como seres humanos e, quando melhoramos, sabemos que temos que melhorar
ainda mais. É aí que o amargor se transforma em doçura, pois sabemos que todo “amargor” nos
deixa mais fortes, mais tolerantes e com maior aprendizado.
Desde que recebemos em nossa Iniciação a “Taça” da boa ou da má sorte, entendo
que todo o dia depositamos pequenas gotas de nossas ações no seu conteúdo em meio à vida
profana. No dia de nossa Iniciação não saímos do Templo completamente mudados, mas
a convivência com os Irmãos, as instruções, a ritualística, os bons exemplos observados é que
transformarão as gotas do dia a dia.
Então me pergunto: Pelo fato de sermos Maçons, torna-se mais fácil?
Não é… Pela simples razão de sabermos que somos humanos, que somos limitados, que somos

33
falhos. Porém, na condição de Maçom, temos de ter sempre a consciência do bom exemplo.
É lá fora que colocamos em prática o uso do Malho e do Cinzel.
É lá fora que fazemos, na prática, a lapidação da nossa Pedra Bruta na construção do nosso
Templo Interior.
É lá fora, em meio a profanos, que verdadeiramente “Erguemos Templos as Virtudes e
Cavamos Masmorras aos Vícios”.
Tomo a liberdade de deixar um questionamento individual a todos os Irmãos para que busquem
as respostas no seu coração, também em sua alma, e deixem finalmente que sua razão responda a cada
um de si:
Que gotas tenho depositado em minha Taça em meio à vida profana? Que gotas tenho
depositado na “Taça da minha vida”?
Acredito que são essas Gotas que nós mesmos, direta ou indiretamente, em quase todas as
situações, provaremos ao longo de nossa existência em uma espécie de “colheita de nossas ações’’.
Que tenhamos a sabedoria e a tolerância que residem entre o “doce’’ e o “amargo’’, para
podermos dosá-los na medida certa; medida essa, a do equilíbrio.
Encerro com uma frase do Filósofo Aristóteles: “Mudança em todas as coisas é doce’’.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Hiran Luiz Zoccoli – A Iniciação Maçônica do REAA


Jules Boucher – A Simbólica Maçônica - Ed. Pensamento, 1993
Ritual do Grau de Aprendiz Maçom do REAA

34
As três grandes luzes emblemáticas da
Maçonaria sob a ótica do rito escocês
antigo e aceito

Moacir Bisi

RESUMO

A Ordem Maçônica é um sistema de Moral, como também de Filosofia social e


espiritual, revelados por símbolos e alegorias. Todo símbolo, como representação gráfica, tem
uma interpretação material de sua utilização, mas o mais importante são os valores mais elevados
que os símbolos nos transmitem através de uma visão filosófica. O símbolo, quando interpretado
num estudo simples e único, tem várias interpretações de acordo com o grau de evolução da
pessoa que o interpreta. Na Maçonaria temos também a união de símbolos que nos oferecem uma
interpretação filosófica mais avançada, sendo necessário um estudo mais aprofundado. Devido à
importância destes conhecimentos intrínsecos dos entrelaçamentos dos símbolos maçônicos, foi
escolhido este tema para desenvolver este trabalho.

1. INTRODUÇÃO

Toda reunião Ritualística Maçônica é aberta invocando a presença do Grande Arquiteto do


Universo e na oportunidade é lido um trecho do Livro da Lei.
O Livro da Lei é sempre depositado sobre o Altar dos Juramentos e sobre este Livro
aberto são colocados dois símbolos da Ordem com grande significado filosófico: o Esquadro e o
Compasso.

35
Na Maçonaria Simbólica estes dois instrumentos de trabalho são dispostos em posições
diferentes de acordo com grau e o Rito que está sendo aberta a Loja, tendo justa relação com a
evolução espiritual a cada grau conquistado.
O profano, quando é iniciado na Ordem, faz os seus Sagrados Compromissos Maçônicos
prostrado e com sua mão direita sobre estes três símbolos litúrgicos.
A união destes símbolos formam o que chamamos de o Grande Emblema Maçônico.

2. AS TRÊS GRANDES LUZES EMBLEMÁTICAS DA MAÇONARIA

Alfério Di Giaimo Neto, em sua Pílula Maçônica nº 24, sobre as Luzes, nos esclarece:
“Na simbologia Maçônica temos relacionadas três Luzes Menores e três Luzes Maiores.
As três Luzes menores compreendem o Venerável Mestre, o Primeiro Vigilante e o Segundo
Vigilante. As Três Grandes Luzes Emblemáticas são respectivamente: o Livro da Lei, o Esquadro
e o Compasso”.

2.1 O LIVRO DA LEI

É o símbolo da Lei moral que cada Maçom deve respeitar e seguir, e representa a Filosofia
que cada um adota, ou a Fé que anima e governa os homens, indicando-lhes todos os deveres a que
são obrigados.
O Livro da Lei é o instrumento da Sabedoria e da Verdade que nos ilumina e nos guia,
regulando a nossa conduta no lar, no trabalho e na sociedade.
Ele está exposto no altar sagrado e sua presença simboliza o Grande Arquiteto do Universo,
isto é, a presença de Deus na Loja Maçônica.
O Landmak nº 21 (Antigas Obrigações da Maçonaria) prevê a presença do Livro da Lei
Sagrada no Altar dos Juramentos nas reuniões ritualísticas Maçônicas e sem Ele a Loja não seria
nem Justa e nem Regular.
O Livro da Lei a ser usado numa reunião Maçônica, em nome do caráter ecumênico da
Ordem, pode ser a Bíblia dos Cristãos, o Torá dos Judeus, o Alcorão dos Muçulmanos, ou outro, e
a escolha se baseia na predominância da Fé dos Irmãos presentes na reunião.
Há divergências nas potências Maçônicas brasileiras praticantes do Rito Escocês Antigo e
Aceito sobre o que deve ser lido na abertura do Livro da Lei no início dos trabalhos Maçônicos e
Castellani (2009) nos esclarece.

36
“A abertura da Bíblia, ou Livro da lei, ou Livro das Sagradas Escrituras, tem variado
muito através dos tempos. Num Ritual inglês de 1762 – não havia Rito Escocês na época,
evidentemente – nota-se que o livro era aberto em Pedro II, no Grau de Aprendiz, Juízes 12 no
Grau de Companheiro e Reis,17 no terceiro Grau. Era a época em que a Maçonaria inglesa
estava dividida em duas Obediências: a Premier Grand Lodge (primeira Obediência Maçônica do
mundo, criada em 1717), chamada “dos Modernos” e a Grande Loja criada em 1751, chamada
“dos Antigos”. De acordo com outro Ritual, da mesma época - usado pelos “modernos” - a
Bíblia era aberta no Evangelho de São João, durante a obrigação do Grau de Aprendiz. No
final do século XVIII, a abertura era em Crônicas II, 2. No York Shire, na mesma Inglaterra, já
surgiu o hábito de abrir o livro no Salmo 133, no Primeiro Grau, em Amós 7, no Segundo Grau
e no Eclesiastes 12 no Terceiro Grau. O hábito seria, depois, abandonado, mas teria influência
nos trabalhos da Maçonaria norte-americana – que, no Simbolismo, trabalha no Rito de York e
não no Rito Escocês Antigo e Aceito - que, principalmente através da Grande Loja Nova York,
adotou esses trechos, na abertura nos Graus simbólicos. O Rito Escocês Antigo e Aceito de origem
francesa, mas só caracterizado como Rito a partir de 1801, quando foi criado o primeiro Supremo
Conselho do mundo (Charleston, Carolina do Sul, EUA), adotaria a tradicional e antiga abertura
no Evangelho de São João, capítulo I versículos de 1 a 5, que mostram o triunfo da luz sobre as
trevas, mote do Grau de Aprendiz. Posteriormente, todavia, países da América do Sul, com o Brasil
à frente, sob a influência da Maçonaria norte-americana - que, vale repetir, não trabalha no Rito
Escocês Antigo e Aceito - passaram a adotar no Simbolismo também o Salmo 133, na abertura do
Livro, o que está em desacordo com as origens e com a tradição do Rito Escocês Antigo e Aceito.”

2.1.1 SALMO 133

” Óh! Quão bom e suave é que os Irmãos vivam em União. É como o óleo precioso sobre
a cabeça que desce sobre a barba, a barba de Aarão, e que desce a orla de seus vestidos. É como
o orvalho do Hermon que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e
a Vida para sempre.”

Este salmo é o Salmo da Fraternidade, escrito por Davi, pai de Salomão. Davi fez referência
à união do povo judeu reinante quando peregrinavam de todas as aldeias de Israel e iam rezar junto
ao Tabernáculo em Jerusalém.
Óleo precioso era um óleo feito à base de mirra e oliva que servia para a purificação de
sacerdotes e reis.

37
Mirra é uma essência de uma pequena árvore espinhosa que cresce no deserto e a sua seiva
é retirada fazendo fendas no seu caule. Exala um perfume agradável e cura muitas doenças. Por
ser muita valiosa na época foi um dos presentes que os Reis Magos ofereceram no nascimento do
menino Jesus.
Aarão, que significa iluminado, era Irmão mais velho de Moisés e tinha o dom da palavra.
Ajudou Moisés a libertar o povo judeu do cativeiro egípcio e tornou-se o primeiro sumo sacerdote. O
sumo sacerdote tinha a prerrogativa de adentrar no templo no espaço chamado Sanctum Santorum,
onde estava depositada a Arca da Aliança, que abrigava em seu interior as Tábuas da Lei.
A barba para os judeus é símbolo de respeito e honra.
As vestes eram as vestes litúrgicas que têm o significado de pudor.
Davi fez um comparativo da descida do óleo precioso com a importância da descida do
orvalho do monte Hermom.

Hermon é uma montanha com 2814 metros de altura que fica entre Israel, Síria e Líbano
e que sempre está coberto de neve. O orvalho proveniente da montanha e o degelo, com a água
descendo os montes de Sião, alimentam o curso d’água do Rio Jordão trazendo fecundidade por
toda a região da Palestina. (Castelani – 1993)

2.1.2 EVANGELHO DE SÃO JOÃO

No início de qualquer reunião de uma Loja Simbólica, após a abertura do Livro da Lei, o
Venerável Mestre diz:
“À Glória do Grande Arquiteto do Universo e de São João nosso padroeiro…”

A Maçonaria tem dois São João considerados Santos Padroeiros: o São João Batista e o
São João Evangelista.
A Maçonaria moderna foi fundada no dia 24 de junho de 1717, justamente no dia de
São João Batista, e o Rito Escocês Antigo e Aceito adota a leitura, na abertura do Livro da Lei,
justamente do Evangelho I versículo de 1 a 5 de São João Evangelista.
Comemora-se a data de São João Batista no dia 24 de junho e de São João Evangelista no
dia 27 de dezembro, períodos das festas solsticiais em que a Igreja oportunamente usou estas datas
para substituir as antigas comemorações pagãs, instituindo as festas juninas e as festas natalinas.
São João Batista era primo em terceiro grau de Jesus e se antecipou a Ele, pregando um
reino fundamentado no espírito. Foi ele que batizou Jesus nas águas do Rio Jordão. Convertia as
pessoas e combatia a comportamento adúltero de Herodes e, por isso, a pedido de Salomé, foi
condenado à morte por decapitação.

38
O São João Evangelista era o discípulo mais jovem de Jesus. Era filho do pescador Zebedeu
e de Maria Salomé, e tinha como irmão outro apóstolo, Thiago. No prólogo do seu Evangelho,
surge um verdadeiro monumento místico: A vitória da Luz sobre as trevas.

“No Princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no
princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a Vida e a Vida era a Luz dos Homens. A Luz resplandece nas trevas, mas as Trevas
não a compreenderam”.

Baseado numa interpretação teológica do Evangelho de São João, o Frei Capuchinho
Jaime Bettega nos esclarece:
“O evangelista João chama Jesus de Verbo. Em nosso português, verbo é a ação. Então,
um dia, a ação de Deus se fez carne, isto é, assumiu a condição humana: Deus quis ser um de nós.
O Divino escolheu ser humano. Isso é maravilhoso: Deus deixa de estar nas alturas para abraçar
e assumir a condição humana. Nosso Deus não está distante, desde o primeiro Natal. Numa frágil
criança, a grandiosidade de um Deus apaixonado pelo ser humano. Jesus vem ao mundo como
Luz. Uma luz que veio para garantir dignidade ao ser humano. Jesus, no entanto, não foi aceito.
Por isso, foi crucificado e morto. A Luz foi rejeitada. Por uns instantes, a escuridão tomou conta
do mundo. Mas houve um 3º dia: Ele ressuscitou!
Ainda hoje, Jesus é luz que ilumina, mas nem todos aceitam essa Luz. O desafio é deixar
que o Verbo, Jesus, ilumine a nossa vida! Viver a Luz é uma opção, uma escolha. Que a nossa
vida seja como que uma extensão da Grande Luz que sempre existiu junto de Deus e que, um dia,
assumiu a condição humana! Ele é nossa Luz!”

2.2 O COMPASSO – SUA CONCEPÇÃO NA FORMAÇÃO INTELECTUAL


DO MAÇOM

Compasso provém do latim “compassare”, que significa ”medir”. O compasso serve para
medir e construir formas.
O Compasso é um instrumento de dois braços, unidos por uma de suas extremidades de
maneira a poder afastar-se ou aproximar-se uma da outra para medir ângulos e traçar círculos de
dimensões diferentes.
A amplitude de ação sugerida pelos movimentos circulares e progressivos de suas hastes expressa
o quanto o conhecimento humano é capaz de atingir, representando a busca constante da verdade.

39
Na visão simbólica maçônica, a abertura do compasso pode também representar a abertura
da mente.
No plano filosófico, o compasso é o símbolo do espírito de ação, do qual deve estar imbuído
todo pedreiro livre, e dos limites do Maçom, aos quais ele deve obedecer por estar ligado à união,
à harmonia e ao amor fraternal entre os Irmãos.
Apoiado num braço, o compasso pode ser aberto em vários ângulos, formando círculos.
Tais círculos serão a delimitação do trabalho Maçônico na sociedade, e internamente, construirão
o seu próprio templo íntimo, apropriado a glorificar o Grande Arquiteto do Universo.
No plano esotérico, o Compasso é a representação das qualidades espirituais e do
conhecimento humano.

2.3 O ESQUADRO – REFLEXÕES SOBRE O ESQUADRO NA VIDA DO MAÇOM

O Esquadro (do latim exquadra e exquadrare, esquadrar) é um instrumento que se destina


a dar forma regular a todo material e serve, simbolicamente, para indicar ao maçom que, sob o
ponto de vista moral, deve ser empregado para corrigir as falhas e as desigualdades do caráter
humano.
A Maçonaria usa o esquadro de pedreiro que é aquele que tem os dois ramos iguais,
diferentemente ao de carpinteiro que tem ramos desiguais.
Simboliza a equidade, a justiça, a retidão de caráter; esotericamente representa a matéria,
ou o corpo físico. Retidão é a qualidade do que é reto, tanto no sentido físico quanto no moral e
ético; assim, à retidão física, emanada do Esquadro, corresponde a retidão moral, caracterizada
pelas ações de acordo com a lei, com o direito e com o dever, e a virtude de seguir retamente, sem
se desviar da direção indicada pela equidade.
O Esquadro é formado por uma haste vertical e outra horizontal formando um ângulo reto,
simbolizando a conduta irrepreensível que o maçom sempre deverá manter perante a sociedade,
pautando todos os seus atos e decisões dentro da mais absoluta retidão e equidade no trato de seus
semelhantes.
A haste horizontal representa a igualdade e nos indica o caminho que temos que percorrer
na terra em nossas vidas. Já a haste vertical representa o caminho de evolução em direção ao
cosmo, ao sagrado; uma evolução eterna, sem fim, que nos eleva ao infinito e ao Grande Arquiteto
do Universo.

40
3. LIÇÕES SOBRE O ENTRELAÇAMENTO DO ESQUADRO E DO COMPASSO

A junção do Esquadro e do Compasso, juntamente com a letra G no seu centro, forma um


emblema denominado Selo Maçônico, de conhecimento geral como um símbolo Maçônico.
A Letra G tem várias interpretações tais como: Geômetra, Gnose, Grande Arquiteto do
Universo (God= Deus em inglês) e no emblema representa a Bíblia.
Na representação gráfica do Selo Maçônico podemos encontrar divergências em diversas
formas de divulgação, confirmando que não é mantida uma regularidade.
Na COMAB (Confederação Maçônica Brasileira) a representação corresponde ao grau de
Aprendiz, onde o esquadro está sobre o compasso. Independente do grau em que momentaneamente
o Maçom está, e como ele será sempre um eterno Aprendiz, acreditamos que esta seja a forma mais
indicada de representação.
No Altar dos Juramentos é depositado o Livro da Lei aberto, e este suporta sempre os
outros símbolos que se sobrepõem de acordo com o grau em que trabalha a Loja. No Grau de
Aprendiz, os ramos do Esquadro cobrem as hastes do Compasso, mostrando que a materialidade
suplanta a espiritualidade, que a mente do iniciado ainda está subjugada pelos preconceitos e que
sua ação intelectual está inibida por uma predominância dos instintos mundanos, dos quais vai se
libertando na medida de sua evolução.
No grau de Companheiro, libertando-se uma das pontas do Compasso, há a demonstração
de que o Maçom já tem certa liberdade de raciocínio e está no caminho da verdade.
No grau de Mestre, as hastes livres do Compasso significam que o Mestre seria aquele
que tem a mente totalmente livre para se dedicar ao trabalho de construção do Templo moral e
intelectual da humanidade. (Castelani-1996)

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O profano que bate à porta do Templo vem em busca da Luz.


Enquanto profano, ele vive nas trevas e não dispõe das ferramentas necessárias para
desbastar a sua pedra bruta.
No dia da Iniciação, após ter passado por todas as provas ritualísticas e fazer o juramento
num momento solene, é dada a Luz ao neófito.
O Venerável Mestre que preside a reunião iniciática ordena (Ritual do Aprendiz-GORGS):

41
“No princípio do mundo, disse o Grande Arquiteto do Universo:
Faça-se a Luz.
E a Luz foi feita.
A Luz seja dada ao Neófito”

É chegado o grande momento da cerimônia em que o homem profano se liberta das


amarras, dos preconceitos e dos vícios e entra na senda da virtude, sendo reconhecido como Irmão
Maçom.
Segundo Nicola Aslan, em seu Dicionário Enciclopédico Maçônico:
“Em Maçonaria a palavra Luz tem significado de Verdade, Conhecimento, Ciência, Saber
e prática das Virtudes. Diz-se que um profano “recebe a luz” quando é iniciado.”

Através da Luz Maçônica o mesmo recebe um grande tesouro que são as condições
necessárias para progredir na Instituição Maçônica.
Ao entrar em nossos Augustos Mistérios cabe ao neófito abrir sua mente e, através da
presença em Loja e do estudo constante dos símbolos, das alegorias e da moral Maçônica, com a
absorção do conhecimento, da emoção e da espiritualidade, fazer que esta luz não seja somente um
lampejo, mas sim um novo lumiar para a caminhada na senda Maçônica.
A disposição física das Três Grandes Luzes sobre o Altar dos Juramentos também
representam o progresso Maçônico que o novo Irmão vai trilhar.
O Aprendiz, de acordo com sua vontade, vai estudar e evoluir, aumentando seu
conhecimento e ampliando a sua Luz. É o desbastar de sua Pedra Bruta, tornando-a uma pedra
cúbica que servirá para a construção do edifício social.
Ao passar para o segundo grau, o de Companheiro, o Maçom, com o uso de novos
instrumentos de trabalho, vai progredindo e aumentando a sua Luz. Uma haste do Compasso no
emblema Maçônico passa a ser representado sobre um lado do esquadro, correspondendo à sua
evolução espiritual, pois uma parte material é suplantada pelo espírito. No grau de Companheiro, o
Maçom já controla parte de suas paixões e instintos mundanos. A Pedra Cúbica é polida, tornando-
se perfeita para se encaixar com outras pedras, formando o grande edifício social que tem como
objetivo o progresso da humanidade.
Quando o Maçom conquista o terceiro e último grau da Maçonaria Simbólica, o seu
espírito triunfa sobre a matéria e ele obtém todos os direitos e deveres de um Homem Maçom. O
compasso fica com suas duas hastes sobre o esquadro.
Com a ampliação de suas faculdades morais e espirituais, está equipado para conquistar
respeito e admiração no meio social em que está inserido, adquire as condições de cumprir seus

42
múltiplos deveres e de infundir nos usos e costumes desta sociedade os sadios e importantes
princípios da filosofia humanitária, sempre embasados na prática das virtudes da LIBERDADE,
da IGUALDADE e da FRATERNIDADE.

“Quanto mais se propagar a Luz menor será o espaço ocupado pelas trevas”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BETTEGA, Jaime – Frei Capuchinho Paróquia da Virgem Maria Caxias do Sul- Entrevista pessoal -
2014
BOUCHER, Jules – A Simbólica Maçônica- Ed Pensamento – Edição nº 9 - 1993.
CAMINO, Rizzardo da – Simbolismo do 1º Grau – Ritualística Maçônica – Ed- A Trolha
CAMINO, Rizzardo da – O Aprendiz Maçom, As Benesses do Aprendizado Maçônico, Ed. Madras,
2000.
CARVALHO, Assis – A Maçonaria, Usos e Costumes. Volume 1 – Onde abrir o Volume da Lei Sagrada-
Ed “A Trolha” – 1994
CARVALHO, Assis- Símbolos Maçônicos e suas Origens – Ed ”A Trolha” -1996
CASTELANI, José – “Por que São João Nosso Padroeiro” – Consultório Maçônico – Ed. “A Trolha”-
2002
CASTELANI, José – Consultório Maçônico – Por que usamos o Salmo 133- Ed “A Trolha -2006.
CASTELANI, José – Liturgia e Ritualística do Grau de Aprendiz Maçom – Ed “A Trolha” – 1985
CASTELANI, José – O Rito Escocês Antigo e Aceito – ED. “A Trolha” - 1996
CASTELANI, José – A Maçonaria e sua Herança Hebraica - Ed. “A Trolha”- 1993
CASTELANI, José – Cartilha do Aprendiz – Ed. “A Trolha”, 1992
CABRAL, Marcos – A Formação Educacional do Maçom – Escola Superior de Altos Estudos Maçônicos,
vinculada ao GOIPE
Di GIAIMO, Neto Alfério - Pílula Maçônica nº110 - O Livro da Lei – Rede Colmeia
GORGS, Ritual e Instruções do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito – 2013
OUTEIRO, Pinto M. J. – Do Meio Dia à Meia Noite – Ed. “Madras” 2007
SANSÃO, Valdemar – O Compasso – Internet
SPOLADORE, Hércule; – PASCHOAL, Fernando Salles e CARVALHO Assis – Instruções para Loja
de Aprendiz – Ed. “ A Trolha” – 1997

43
Cidadania e Direitos Humanos

Rudimar Porto

Cidadania é o exercício pleno dos direitos civis, políticos e sociais, é saber dizer obrigado,
desculpe, por favor e bom dia quando necessário. Cidadania é o direito de ter uma ideia e poder
expressá-la. É poder votar em quem quiser sem constrangimento. É processar um médico que
cometa um erro. É devolver um produto estragado e receber o dinheiro de volta. É o direito de
praticar uma religião sem ser perseguido. Há detalhes que parecem insignificantes, mas revelam
estágios de cidadania: respeitar o sinal vermelho no trânsito, não jogar lixo fora da lixeira, não
destruir o patrimônio público ou de uso público, etc. É lutar por seus direitos, mas também é
cumprir seus deveres. Por trás desse comportamento, está o respeito aos demais, pois a prática
da cidadania envolve muito mais a coletividade do que o individual (embora também o seja). O
direito de ter direitos é uma conquista da humanidade e não uma dádiva dos poderosos. Da mesma
forma que a anestesia, as vacinas, o computador, a máquina de lavar, a pasta de dente, o transplante
do coração. Foi uma conquista dura. Muita gente lutou e morreu para que tivéssemos direitos
trabalhistas e o direito de votar. Lutou-se pela ideia de que todos os homens são iguais diante da
lei (embora no Brasil isso ainda não seja uma realidade). Pessoas deram a vida combatendo a ideia
errada de que o rei tinha direitos divinos e podia fazer tudo, cabendo ao povo obedecer cegamente.
Em relação aos direitos do cidadão eles fazem parte dos direitos humanos, mas são

44
basicamente os direitos civis (liberdade de pensamento, de religião, de ir e vir, direito a propriedade,
direito a liberdade contratual, direito a justiça, etc.), os direitos políticos (direitos eleitorais,
direitos de participar de partidos e sindicatos, direito de protestar, fazer passeatas, greves, etc.)
e direitos sociais (moradia digna, educação, saúde, transporte coletivo, sistema previdenciário,
lazer, acesso ao sistema judiciário, etc.), os quais nada mais são do que a amplificação dos direitos
humanos que ao longo do tempo foram sendo incorporados, geralmente após muita luta, inclusive
com derramamento de sangue. Mas, explicitamente em relação aos direitos humanos, há uma
má interpretação, no sentido de relacioná-lo apenas aos direitos dos bandidos. É importante
deixar claro que estamos falando da ideia central de democracia; nos países democráticos e
desenvolvidos, a ideia e a prática dos direitos humanos já estão incorporadas à vida política e
aos valores do povo. Mas, nos países que mais violam os direitos humanos, nas sociedades que
marcadas pela discriminação e intolerância, a ideia de direitos humanos permanece ambígua e
deturpada. É o caso do Brasil. As gerações mais jovens não viveram os anos da ditadura militar,
mas certamente ouviram e leram a respeito da defesa dos direitos humanos em benefício daqueles
que estavam sendo perseguidos por suas convicções ou militância política, daqueles que foram
presos, torturados, assassinados, exilados, banidos. Mas talvez não saiba como cresceu, naquela
época, o reconhecimento de que aquelas pessoas perseguidas tinham direitos invioláveis.
Mesmo sendo julgadas e apenadas, estas pessoas continuavam portadoras de direitos humanos
básicos: o direito a ter direitos (não ser torturado, ter um julgamento justo, direito a vida, etc.).
Infelizmente, após o fim do regime militar, a ideia de que todos, independentemente da posição
social, tem seus direitos fundamentais garantidos, não prosperou. A defesa dos direitos humanos
(DH) passou a ser associada à defesa dos criminosos comuns, os quais são, em sua maioria,
oriundos da classe pobre. Essa questão deixou, por este motivo, de ter o mesmo interesse para
a classe média.O tema dos DH foi prejudicado pela manipulação da opinião pública, no sentido
de associar direitos humanos com a bandidagem, com a criminalidade. Somos uma sociedade
profundamente marcada pela desigualdade social e péssima distribuição de renda. As classes
populares são geralmente vistas pelos mais ricos como “classes perigosas”. São ameaçadoras pela
feiura da miséria, pelo medo atávico das “massas”. Assim, parece bem às classes dominantes
criminalizar as classes populares associando-as ao banditismo, à violência e à criminalidade;
porque esta é uma maneira de circunscrever a violência, que existe em toda a sociedade, apenas
aos “desclassificados”, que, portanto, mereceriam todo o rigor da polícia, da suspeita permanente,

45
da indiferença diante de seus legítimos anseios.É por isso que se dá nos meios de comunicação de
massa (geralmente tendenciosa), ênfase especial à violência associada à pobreza, à ignorância e à
miséria. É o medo dos de baixo - que, um dia, podem se revoltar - que motiva os de cima a manterem
o estigma sobre a ideia de direitos humanos. A questão dos direitos da cidadania diz respeito a
ordem jurídica-política de um país, no qual uma Constituição define e garante quem é cidadão,
que direitos e deveres ele terá em função de uma série de variáveis tais como a idade, o estado
civil, a condição de sanidade física e mental, o fato de estar ou não em dívida com a justiça penal
etc. Atenção: Os direitos do cidadão e a própria ideia de cidadania não são universais no sentido
de que eles estão fixos a uma específica e determinada ordem jurídico-política. Daí, identificamos
cidadãos brasileiros, norte-americanos e argentinos, e sabemos que variam os direitos e deveres
dos cidadãos de um país para outro. A ideia da cidadania é uma ideia eminentemente política que
não está necessariamente ligada a valores universais, mas a decisões políticas. Um determinado
governo, por exemplo, pode modificar as penalidades do código penal; pode modificar o código
civil para equiparar direitos entre homens e mulheres; pode modificar o código de família no que
diz respeito aos direitos e deveres dos cônjuges em relação aos filhos, etc. Tudo isso diz respeito à
cidadania. No entanto, em muitos casos, os direitos do cidadão coincidem com os direitos humanos,
que são mais amplos e abrangentes. Em sociedades democráticas é, geralmente, o que ocorre e,
em nenhuma hipótese, direitos ou deveres do cidadão podem ser invocados para justificar violação
de direitos humanos fundamentais. Os Direitos Humanos são universais e naturais. Os direitos do
cidadão não são direitos naturais, são direitos criados e devem necessariamente estar especificados
num determinado ordenamento jurídico. Já os Direitos Humanos são universais no sentido de que
aquilo que é considerado um direito humano no Brasil, também deverá sê-lo em qualquer país do
mundo, porque eles se referem à pessoa humana na sua universalidade. Por isso são chamados de
direitos naturais, porque dizem respeito à dignidade da natureza humana, porque existem antes
de qualquer lei, e não precisam estar especificados numa lei, para serem exigidos, reconhecidos,
protegidos e promovidos.
Evidentemente, é ótimo que eles estejam reconhecidos na legislação, é um avanço, mas
se não estiverem, deverão ser reconhecidos assim mesmo. Poder-se-ia perguntar: mas por quê?
Por que são universais e devem ser reconhecidos, se não existe nenhuma legislação superior que
assim o obrigue? Essa é a grande questão da Idade Moderna. Porque é uma grande conquista da
humanidade ter chegado a algumas conclusões a respeito da dignidade e da universalidade da

46
pessoa humana. É uma conquista universal que se exemplifica no fato de que hoje, pelo menos nos
países filiados à tradição ocidental, não se aceita mais a prática da escravidão, o trabalho infantil
e a tortura.
É claro que existe o ideal e o real; a escravidão é um absurdo, mas ainda há trabalho
escravo em lugares distantes no interior do Brasil. O trabalho infantil é outro absurdo, mas há
crianças vivendo e sendo exploradas nas ruas das maiores capitais do Brasil. Assim, percebemos
que os direitos naturais e universais são diferentes dos direitos ligados às ideias de cidadão e
cidadania. Exemplo: uma criança ainda não é uma plena cidadã, no sentido de que ela não tem
certos direitos do adulto, responsável pelos seus atos, nem tem deveres em relação ao Estado, nem
em relação aos outros; no entanto, ela tem integralmente o conjunto dos Direitos Humanos. Um
doente mental não é um cidadão pleno, no sentido de que ele não é responsável pelos seus atos,
portanto ele não pode ter direitos, como, por ex., o direito ao voto, o direito plena à propriedade
e muito menos os deveres, mas ele continua integralmente credor dos Direitos Humanos. Outro
exemplo seria o dos grupos indígenas.
Quais são esses DH? Direito à vida, à liberdade, a ser tratado com dignidade (sem tortura
ou crueldade), direito a uma justiça verdadeira, ou seja, são os mais básicos direitos básicos que
todo ser humano deve ter, sem distinção de etnia, nacionalidade, sexo, raça, classe social, nível de
instrução, cor, religião, gênero, ou de qualquer tipo de julgamento moral. Mas a não-discriminação
por julgamento moral é uma das mais difíceis de aceitar; é justamente o reconhecimento de que
toda pessoa humana, mesmo o pior dos criminosos, continua tendo direito ao reconhecimento de
sua dignidade como pessoa humana. É o lado mais difícil no entendimento dos Direitos Humanos.
É bom lembrar que esse julgamento moral pode ser de vários tipos Pode ser, por exemplo, aquele que
exclua determinados militantes políticos como o “terrorista” (aliás, o que é chamado de terrorismo
pode ser, por mais ignóbil que seja, a continuação da guerra por outros meios). O terrorista pode
perder a cidadania, mas continua fazendo parte da comunidade dos seres humanos e, portanto,
pode ser preso e execrado pela opinião pública, mas continuará portador de direitos fundamentais,
ou seja, não deve ser torturado, deve ter um julgamento imparcial, ter direito a advogado, etc. É
bom lembrar, também, que muitos dentre grandes Estados que hoje orgulhosamente defendem
a democracia e os Direitos Humanos começaram em seguida a revoluções e atos que hoje nós
chamaríamos de atos terroristas.
Além de serem naturais e intrínsecos à natureza humana e universais, os DH também são
históricos, no sentido de que mudaram ao longo do tempo. O núcleo fundamental dos Direitos
Humanos é, evidentemente, o direito à vida, porque de nada adiantaria os outros direitos se não

47
valesse o direito à vida. Quando se admite, por exemplo, o direito de se escravizar outra pessoa,
se está colocando em dúvida o direito à vida, pois a pessoa que tem o direito de propriedade sobre
outra tem também o direito sobre a vida e a morte dessa outra pessoa, que é sua propriedade.

Maria Victória de Mesquita Benevides Soares IEA USP.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

No decorrer da história da humanidade surgiram diversos entendimentos de cidadania em


diferentes momentos – Grécia e Roma da Idade Antiga e Europa da Idade Média. Contudo, o conceito
de cidadania como conhecemos hoje, insere-se no contexto do surgimento da Modernidade e da
estruturação do Estado-Nação. O termo cidadania tem origem etimológica no latim civitas, que
significa “cidade”. Estabelece um estatuto de pertencimento de um indivíduo a uma comunidade
politicamente articulada – um país – e que lhe atribui um conjunto de direitos e obrigações, sob
vigência de uma constituição. Ao contrário dos direitos humanos – que tendem à universalidade
dos direitos do ser humano na sua dignidade –, a cidadania moderna, embora influenciada por
aquelas concepções mais antigas, possui um caráter próprio e possui duas categorias: formal e
substantiva. A cidadania formal é, conforme o direito internacional, indicativo de nacionalidade,
de pertencimento a um Estado-Nação, por exemplo, uma pessoa portadora da cidadania brasileira.
Em segundo lugar, na ciência política e sociologia o termo adquire sentido mais amplo, a cidadania
substantiva é definida como a posse de direitos civis, políticos e sociais. Essa última forma de
cidadania é a que nos interessa. A compreensão e ampliação da cidadania substantiva ocorrem a
partir do estudo clássico de T.H. Marshall – Cidadania e classe social, de 1950 – que descreve a
extensão dos direitos civis, políticos e sociais para toda a população de uma nação. Esses direitos
tomaram corpo com o fim da 2ª Guerra Mundial, após 1945, com aumento substancial dos direitos
sociais – com a criação do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State) – estabelecendo princípios
mais coletivistas e igualitários. Os movimentos sociais e a efetiva participação da população em
geral foram fundamentais para que houvesse uma ampliação significativa dos direitos políticos,
sociais e civis alçando um nível geral suficiente de bem-estar econômico, lazer, educação e político.
A cidadania esteve e está em permanente construção; é um referencial de conquista da humanidade,
através daqueles que sempre buscam mais direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais
e coletivas, e não se conformando frente às dominações, seja do próprio Estado ou de outras

48
instituições. No Brasil ainda há muito que fazer em relação à questão da cidadania, apesar das
extraordinárias conquistas dos direitos após o fim do regime militar (1964-1985). Mesmo assim, a
cidadania está muito distante de muitos brasileiros, pois a conquista dos direitos políticos, sociais e
civis não consegue ocultar o drama de milhões de pessoas em situação de miséria, altos índices de
desemprego, da taxa significativa de analfabetos e semianalfabetos, sem falar do drama nacional
das vítimas da violência particular e oficial.
Conforme sustenta o historiador José Murilo de Carvalho, no Brasil a trajetória dos direitos
seguiu lógica inversa daquela descrita por T.H. Marshall. Primeiro “vieram os direitos sociais,
implantados em período de supressão dos direitos políticos e de redução dos direitos civis por um
ditador que se tornou popular (Getúlio Vargas). Depois vieram os direitos políticos... a expansão
do direito do voto deu-se em outro período ditatorial, em que os órgãos de repressão política foram
transformados em peça decorativa do regime [militar]... A pirâmide dos direitos [no Brasil] foi
colocada de cabeça para baixo”.
Nos países ocidentais, a cidadania moderna se constituiu por etapas. T. H. Marshall afirma
que a cidadania só é plena se dotada de todos os três tipos de direito:
1. Civil: direitos inerentes à liberdade individual, liberdade de expressão e de pensamento;
direito de propriedade e de conclusão de contratos; direito à justiça; que foi instituída no século
XVIII;
2. Política: direito de participação no exercício do poder político, como eleito ou eleitor,
no conjunto das instituições de autoridade pública, constituída no século XIX;
3. Social: conjunto de direitos relativos ao bem-estar econômico e social, desde a segurança
até ao direito de partilhar do nível de vida, segundo os padrões prevalecentes na sociedade, que são
conquistas do século XX.

AS GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E O ESTADO


DEMOCRÁTICO DE DIREITO
Dymaima Kyzzy Nunes

1. GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS:

A positivação dos direitos que hoje são alcunhados de fundamentais e que correspondem,
de mais a mais, às gerações de direitos humanos deu-se, nas variadas Cartas Fundamentais,
em correspondência ao transcurso da história da humanidade e efetivamente se perfectibilizou

49
no ordenamento jurídico pátrio, com a proporção que hoje se concebe, com a promulgação da
Constituição Cidadã de 1988, como uma consequência histórica da transmudação dos direitos
naturais universais em direitos positivos particulares, e, depois, em direitos positivos universais.
Por isso mesmo, inexiste equívoco quando se confere a essa Norma Fundamental a
atribuição de refletir um momento histórico significativo, o atual, porque o máxime do alargamento
no campo dos direitos e garantias fundamentais até hoje conquistado, colocando-se, ainda, entre as
Constituições mais avançadas do mundo no que diz respeito à matéria.
São, assim, considerados humanos, os direitos conferidos a todo e qualquer sujeito, no
intuito de se resguardar sua dignidade, direitos esses que a sociedade política tem o dever de
consagrar e garantir, todos decorrentes de alterações no pensamento filosófico, jurídico e político
da humanidade, e que, positivados, convencionou-se designar por direitos fundamentais.
Como precedente histórico de processo de internacionalização dos direitos humanos,
assinala-se a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho, convenções pelas quais
foi possível, pela primeira vez, redefinir o status do indivíduo no cenário internacional, para que se
tornasse verdadeiro sujeito de direito internacional.
Em ambas as convenções, criadas antes da Primeira Guerra Mundial, visou-se estabelecer
limites à atuação estatal e garantir a observância dos direitos fundamentais, assinalando a
necessidade de se relativizar a soberania dos Estados.
Vale dizer, o advento da Organização Internacional do Trabalho, da Liga das Nações e
do Direito Humanitário registra o fim de uma época em que o Direito Internacional era, salvo
raras exceções, confinado a regular relações entre Estados, no âmbito estritamente governamental.
Através destes institutos, não mais se visava proteger arranjos e concessões recíprocas entre
os Estados. Visava-se sim ao alcance das obrigações internacionais a serem garantidas ou
implementadas coletivamente que, por sua natureza, transcendiam os interesses exclusivos dos
Estados contratantes. Estas obrigações internacionais voltavam-se à salvaguarda dos direitos do
ser humano e não das prerrogativas dos Estados.
Na sequência, após a Segunda Grande Guerra, palco de massacres e conhecido genocídio
das mais distintas etnias, efeito do fortalecimento do totalitarismo estatal dos anos 30, a humanidade
percebeu a premência de se resguardar, mediante eficazes medidas, a dignidade da pessoa humana.
Conforme assinala Thomas Buerguenthal: “O moderno Direito Internacional dos Direitos
Humanos é um fenômeno do pós-guerra. Seu desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas

50
violações de direitos humanos da era Hitler e à crença de que parte destas violações poderiam ser
prevenidas se um efetivo sistema de proteção internacional de direitos humanos existisse”.
E efetivamente, remonta a história, somente com o pós-guerra, depois de todas as atrocidades
ocorridas sob o argumento da hibridização da raça ariana, projeto político e industrial sabidamente
abraçado por Adolf Hitler, com a real ruptura do paradigma dos direitos humanos, mediante uma
negação dos valores mais comezinhos ao homem concedidos, emergiu, significativamente, no
pensamento ocidental, a necessidade de se reconstruir tais direitos.
O Tribunal de Nuremberg, no qual foram julgados os crimes cometidos ao longo do
Nazismo, ou por líderes nazistas, ou por oficiais militares, teve sua composição e procedimentos
básicos fixados pelo acordo de Londres e tinha, claramente como objetivo, reprimir futuras
práticas de atos contrários aos direitos humanos e demonstrar, para a comunidade internacional
a força normativa dos direitos humanos, de amplitude universal, significa dizer, a comunidade
internacional testemunhou a importante marca de que os direitos humanos, a partir de então,
deixavam de ser questão de direito doméstico, para tornarem-se matéria de cunho extra-estatal.
Desse momento histórico, portanto, resultaram a Declaração Universal, aprovada pela
Assembléia Geral das Nações Unidas de 1948 e a Convenção Internacional sobre a prevenção
e punição do crime de genocídio, ambas marcos inaugurais de uma nova fase histórica, que se
encontra em pleno desenvolvimento.
Fábio Konder Comparato analisa e relata essa nova fase, asseverando: “Ela é assinalada
pelo aprofundamento e a definitiva internacionalização dos direitos humanos. Meio século após o
término da 2ª Guerra Mundial, 21 convenções internacionais, exclusivamente dedicadas à matéria,
haviam sido celebradas no âmbito da Organização das Nações Unidas ou das organizações regionais.
Entre 1945 e 1998, outras 114 convenções foram aprovadas no âmbito da Organização Internacional
do Trabalho. Não apenas direitos individuais, de natureza civil e política, ou os direitos de conteúdo
econômico e social foram assentados no plano internacional. Afirmou-se também a existência de
novas espécies de direitos humanos: direitos dos povos e direitos da humanidade”.
Dessa maneira foi que a Declaração definiu, como nunca antes, os padrões éticos e morais
a serem perseguidos pelos Estados, conferindo uma gama extensa de direitos e faculdades sem as
quais um ser humano já não mais poderia desenvolver sua personalidade intelectual, física e moral
e acarretando uma repercussão tal que os povos passaram a ter consciência de que o conjunto da
comunidade humana se interessava pelo seu destino.

51
Ademais, além de internacionalizar os direitos ali contidos, a Declaração também teve
a função de conjugar, harmonizar ou conciliar as gerações de direitos civis e políticos (primeira
geração de direitos) aos direitos econômicos, sociais e culturais (segunda geração), equalizando,
desta forma, o discurso liberal e o discurso social defensores da cidadania, atando o valor da
liberdade ao da igualdade, dicotomia que até então não se cria pudesse ser ultrapassada.
Em breves linhas, os fatos históricos dão conta de que até a subscrição desta Declaração,
tal antagonismo entre o direito à liberdade e o direito à igualdade era reputado intransponível,
porquanto, se de um lado, consagravam-se a ótica contratualista, fundante do Estado Liberal,
erigido filosoficamente pelos ideais de Locke, Montesquieu e Rousseau e pelo qual ao Estado
era vedada a atividade excessiva, restritiva da liberdade dos cidadãos, por outro, imperiosa era a
proteção de direitos sociais, a consagrar a igualdade entre os indivíduos, no qual o Estado passava a
ser visto como “agente de processos transformadores”, no sentido de prestador de direitos sociais,
valores tais cujos vetores claramente apontavam para sentidos ontologicamente opostos, razão de
ser da flagrante dicotomia anunciada.
Considerando este contexto, a Declaração de 1948 introduz extraordinária inovação, ao
conter uma linguagem de direitos até então inédita. Combinando o discurso liberal da cidadania
com o discurso social, a Declaração passa a elencar tanto direitos civis e políticos (arts. 3º a 21),
como direitos sociais, econômicos e culturais (arts. 22 a 28).
Feito sucinto escorço histórico da emergência dos direito humanos no âmbito internacional,
mister separar, uma a uma, as gerações de direitos, consoante proposição contida neste trabalho.
Impende salientar, no entanto, tal sistematização dos direitos humanos em gerações de
direitos não acompanha qualquer hierarquização desses valores, mas tão só corresponde ao seu
reconhecimento em dado momento histórico e em determinados ordenamentos jurídicos.

1.1 DIREITOS HUMANOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO:

Os direitos humanos de primeira geração são resultantes, principalmente, da Declaração


Francesa dos direitos do Homem e do Cidadão e da Constituição dos Estados Unidos da América
de 1787, que surgiram após o confronto entre governados e governantes, é dizer, da insatisfação
daqueles com a realidade política, econômica e social de sua época, e que resultou nessas
afirmações dos direitos de indivíduos em face do poder soberano do Estado absolutista.
Tais documentos, segundo Comparato: “[...] representaram a emancipação histórica do

52
indivíduo perante os grupos sociais aos quais ele sempre se submeteu: a família, o clã, o
estamento, as organizações religiosas. Mas em contrapartida, a perda da proteção familiar
estamental ou religiosa tornou o indivíduo muito mais vulnerável às vicissitudes da vida.
A sociedade liberal ofereceu-lhe, em troca, a segurança da legalidade, com a garantia da
igualdade de todos perante a lei. Esses direitos, visando a proteção das liberdades individuais
ao impor limites ao Estado, recebem a denominação, por alguns autores de direitos humanos
de primeira geração ou primeira dimensão.”
E Celso Lafer afirma: “Os direitos humanos da Declaração de Virgínia e da Declaração
Francesa de 1789 são neste sentido, direitos humanos de primeira geração, que se baseiam numa
clara demarcação entre Estado e não Estado, fundamentada no contratualismo de inspiração
individualista. São vistos como direitos inerentes ao indivíduo e tidos como direitos naturais,
uma vez que precedem o contrato social. Por isso, são direitos individuais: (I) quanto ao modo
de exercício – é individualmente que se afirma, por exemplo, a liberdade de opinião; (II)
quanto ao sujeito passivo do direito – pois o titular do direito individual pode afirmá-lo em
relação a todos os demais indivíduos, já que esses direitos têm como limite o reconhecimento
do direito de outro [...]”.
Filosoficamente, pode-se creditar o surgimento e o resguardo dessa geração direitos
à moral individualista e secular, que colocava o indivíduo como centro do poder e rechaçava,
de outra parte, a promiscuidade entre poder político e religioso, assinalando a secularização
do poder do Estado. São, destarte, os direitos individuais, que resguardam as liberdades
individuais e impõem limitações ao poder do Estado, decorrentes da evolução do direito natural
e sofrendo importante influência dos ideais iluministas, como se pode extrair do pensamento
filosófico de Rousseau, Locke e Montesquieu, principalmente.
Em verdade, há quem assinale que as dimensões de direitos humanos foram separadas
conforme o lema da Revolução Francesa de 1789, liberte, igualité, fraternité, ao qual a
liberdade corresponderia à primeira, a igualdade a segunda e a fraternidade à terceira geração
de direitos, sobrevindo, somente anos depois, as quarta e quinta gerações de direitos humanos,
expressão originariamente criada por Karel Vasak na aula inaugural no Curso do Instituto
Internacional dos Direitos do Homem, em Estraburgo e posteriormente emprestada por
Norberto Bobbio.

53
1.2 DIREITOS HUMANOS DE SEGUNDA GERAÇÃO:

Mais tarde, porém, com a consagração dos direitos de liberdade, ocorreu a passagem
destas, as chamadas liberdades negativas, para os direitos políticos e sociais, que exigiam uma
intervenção direta do Estado, para ver-se concretizados, com a passagem da consideração do
indivíduo singular, primeiro sujeito a quem se atribuiu direitos naturais, para grupos de sujeitos,
sejam famílias, minorias étnicas ou até mesmo religiosas. Os direitos sociais ou prestacionais,
como o direito à saúde, configuram, assim, um dos elementos que marcaram a transição do
constitucionalismo liberal para o constitucionalismo social, direitos que impõem, determinam ou
exigem do Estado enquanto ente propiciador da liberdade humana, não mais aquela atividade
negativa, de restrição de sua atuação, mas uma ação positiva, através de uma efetiva garantia e
eficácia do direito fundamental prestacional.
De segunda geração, são, pois, os direitos ao trabalho, à saúde, à educação, dentre outros,
cujo sujeito passivo é o Estado, que tem o dever de realizar prestações positivas aos seus titulares,
os cidadãos, em oposição à posição passiva que se reclamava quando da reivindicação dos direitos
de primeira geração. Foram positivados somente nas Constituições francesas liberais de 1791
e 1973, sendo ampliados e reafirmados pela Constituição francesa de 1948, carta política esta
que correspondeu com a consciência da população, verdadeira interessada na efetivação de tais
direitos, dos problemas resultantes da revolução industrial e a condição dos operários.

1.3 DIREITOS HUMANOS DE TERCEIRA GERAÇÃO:

A par das dificuldades e das conquistas decorrentes da diuturna luta social pelo
reconhecimento e pela eficácia dos direitos civis e políticos, de primeira geração, e dos direitos
econômicos, sociais e culturais, direitos de segunda geração, outros valores, até então não
tratados como prioridade na sociedade ocidental, foram colocados na pauta de discussão em
período posterior ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Referidos valores, para serem
efetivados, exigiam soluções inovadoras que só o reconhecimento de direitos de estirpe diversa
dos já positivados poderia satisfazer. Estes novos direitos passaram, assim, a serem alcunhados de
direitos de terceira geração.
Tais direitos, também conhecidos como direitos da solidariedade ou fraternidade,

54
caracterizam-se, assim, pela sua titularidade coletiva ou difusa, tendo coincidido o período de seu
reconhecimento ou positivação com o processo de internacionalização dos direitos humanos.
Sobre esta geração de direitos, destaca Ingo Wolfgang Sarlet, que “[...] trazem como
nota distintiva o fato de se desprenderem, em princípio, da figura do homem indivíduo como
seu titular, destinando-se à proteção de grupos humanos (família, povo, nação), e caracterizando-
se, consequentemente, como direitos de titularidade coletiva ou difusa. […] Dentre os direitos
fundamentais da terceira dimensão consensualmente mais citados, cumpre referir os direitos à paz, à
autodeterminação dos povos, ao desenvolvimento, ao meio ambiente e qualidade de vida, bem como
o direito à conservação e utilização do patrimônio histórico e cultural e o direito de comunicação.
Cuida-se na verdade do resultado de novas reivindicações fundamentais do ser humano, geradas,
dentre outros fatores, pelo impacto tecnológico, pelo estado crônico de beligerância, bem como
pelo processo de descolonização do segundo pós-guerra e suas contundentes consequências,
acarretando profundos reflexos na esfera dos direitos fundamentais.”
Tais direitos, sabe-se, caracterizam-se pelo distintivo de demandarem a participação
intensa dos cidadãos, sem a qual não tem eficácia, requerendo a existência de uma consciência
coletiva na atuação individual de cada membro da sociedade, em aliança com Estado.

1.4 DIREITOS HUMANOS DE QUARTA GERAÇÃO:

Há doutrinadores, ainda, que reconhecem a existência de uma quarta geração ou dimensão


de direitos humanos, que se identificariam com o direito contra a manipulação genética, direito
de morrer com dignidade e direito à mudança de sexo, todos pensados para o solucionamento de
conflitos jurídicos inéditos, novos, frutos da sociedade contemporânea. Há, ainda, doutrinadores,
como o constitucionalista Paulo Bonavides, que entendem que a quarta geração de direitos
identificar-se-ia com a universalização de direitos fundamentais já existentes, como os direitos à
democracia direta, à informação e ao pluralismo, a exemplo.

1.5 DIREITOS HUMANOS DE QUINTA GERAÇÃO:

Finalmente, os direitos humanos da quinta geração, como os de quarta, também não são
pacificamente reconhecidos pela doutrina, como o são os das três primeiras. No entanto, os direitos
que por essa geração são reconhecidos, quais sejam, a honra, a imagem, enfim, os “direitos virtuais”

55
que ressaltam o princípio da dignidade da pessoa humana, decorrem de uma era deveras nova e
contemporânea, advinda com o exacerbado desenvolvimento da Internet nos anos 90.
Tais valores, portanto, são defendidos e protegidos por essa geração de direitos, com
a particularidade de protegê-los frente ao uso massivo dos meios de comunicação eletrônica,
merecendo, assim, proteção não só as pessoas naturais, mas também as pessoas jurídicas (art. 50,
Código Civil de 2002)

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações
Unidas em 10 de dezembro de 1948.

Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família
humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz
no mundo,    
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos
bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os
homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da
necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,    
Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito,
para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão,
Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as
nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos
humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos
homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de
vida em uma liberdade mais ampla,    
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação
com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a
observância desses direitos e liberdades,    
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta
importância para o pleno cumprimento desse compromisso,   

56
A Assembleia Geral proclama
A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido
por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da
sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação,
por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas
de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância
universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos
dos territórios sob sua jurisdição.  

DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE O GENOMA HUMANO E OS DIREITOS


HUMANOS

Reconhece que a pesquisa do genoma humano abre vastas perspectivas para o progresso,
especialmente quanto ao aprimoramento da Saúde da humanidade. Mas enfatiza que devem ser
plenamente respeitados a dignidade, liberdade e os direitos humanos. Proíbe todas as formas
de discriminação, baseadas nas características genéticas. Para este fim, proclama princípios
relacionados a Dignidade Humana e Genoma Humano; Direitos das Pessoas; Pesquisa sobre
o Genoma Humano; Condições para o Exercício de Atividades Científicas e Solidariedade e
Cooperação Internacionais, entre outros.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Preâmbulo
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte
para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada
na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica
das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

57
CÓDIGOS

Reúnem, em uma única Lei, normas de um mesmo ramo do direito.

Código Civil Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002


Código de Processo Civil Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
Código Penal
1940
Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de
Código de Processo Penal
1941
Consolidação das Leis do Trabalho Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943
Código Tributário Nacional Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966
Código de Defesa do Consumidor Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990
Código de Trânsito Brasileiro Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997
Código Eleitoral Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965
Código Florestal Lei nº 12.651, de 25.maio de 2012
Código de Águas Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934
Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro de
Código de Minas
1967
Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de outubro de
Código Penal Militar
1969
Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de outubro de
Código de Processo Penal Militar
1969
Código Brasileiro de Aeronáutica Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986
Código Brasileiro de Telecomunica-
Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962
ções
Código Comercial Lei nº 556, de 25 de junho de 1850

58
ESTATUTOS

Estatuto da Criança e do Adoles-


Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
cente
Estatuto do Idoso Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003
Estatuto da Igualdade Racial Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010
Estatuto do Índio Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973
Estatuto do Estrangeiro Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980
Estatuto dos Refugiados Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997
Estatuto de Defesa do Torcedor Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003
Estatuto da Cidade Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001
Estatuto Nacional da Microem-
Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de
presa e da Empresa de Pequeno
2006
Porte
Estatuto da Advocacia e da
Ordem dos Advogados do Brasil Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994
(OAB)
Estatuto dos Militares Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980
Estatuto do Desarmamento Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003
Estatuto da Terra Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964
Estatuto dos Museus Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009

PREVIDÊNCIA SOCIAL

A Previdência Social garante o sustento do trabalhador e de sua família nos casos em


que ele esteja impedido de exercer suas atividades (por acidente, doença, maternidade etc.)
ou durante a aposentadoria.
Tipos de aposentadoria:
• aposentadoria especial;
• aposentadoria por idade;
• aposentadoria por invalidez;
• aposentadoria por tempo de contribuição.
Todos os trabalhadores do País têm direito à aposentadoria. Para conceder o benefício,
a Previdência Social dividiu os trabalhadores nas categorias empregado, empregado
doméstico, trabalhador avulso e segurado especial.

59
Empregado: esta categoria inclui, entre outros, trabalhadores com carteira assinada,
temporários, funcionários que têm mandato eletivo ou prestam serviço a órgãos públicos, como
ministros e secretários, pessoas que trabalham em empresas brasileiras instaladas no exterior,
em multinacionais que funcionam no Brasil e em missões diplomáticas instaladas no país.
Empregado doméstico: são os trabalhadores que prestam serviço em
residências, desde que essa atividade não tenha fins lucrativos para o empregador.
Doméstica, jardineiro, motorista e caseiro são exemplos dessa categoria.
Trabalhador avulso: é aquele que presta serviço a várias empresas, mas é
contratado por sindicatos e órgãos gestores de mão de obra. Fazem parte dessa categoria
os trabalhadores portuários, como estivadores e amarradores de embarcações, e
também quem faz limpeza e conservação de embarcações e vigia. Também existem
trabalhadores avulsos na indústria de extração de sal e no ensacamento de cacau e café.
Segurado especial: são os trabalhadores rurais que produzem em regime de economia
familiar e sem utilização de mão de obra assalariada permanente. A área do imóvel rural
explorado deve ser de até quatro módulos fiscais. Cônjuges, companheiros e filhos maiores de
16 anos que trabalham com a família em atividade rural fazem parte dessa categoria, assim como
o pescador artesanal e o índio que exerce atividade rural.

SERVIÇOS À POPULAÇÃO

Água e esgoto
Os usuários de serviços de água e esgoto têm desde 2007 uma série de direitos
assegurados pela Lei do Saneamento Básico. A legislação federal prevê a universalização dos
serviços de abastecimento de água e tratamento da rede de esgoto para garantir a saúde dos
brasileiros. Além disso, estabelece as regras básicas para o setor ao definir as competências
do governo federal, estados e prefeituras para serviços de saneamento e água, além de
regulamentar a participação de empresas privadas no saneamento básico.
A Lei do Saneamento garante ainda subsídios para quem não consegue arcar com
a tarifa básica. Estão previstas também regras para o corte dos serviços de saneamento em
casos de inadimplência. No entanto, hospitais, asilos, escolas, e penitenciárias têm a garantia
do fornecimento do serviço.
As cidades com população superior a 50 mil habitantes contam com a atuação da
Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA). Já os municípios com menos de 50

60
mil habitantes são atendidos com recursos não onerosos (que não exigem retorno, apenas
contrapartida do Estado), pelo Orçamento Geral da União (OGU).

Gás de cozinha
Quem utiliza o Gás Liquefeito de Petróleo (o GLP, um derivado de petróleo também
conhecido como gás de cozinha ou gás de botijão) deve ficar atento a uma série de direitos
que são definidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP),
o órgão federal que regula o setor.

Gás canalizado
O gás canalizado – consumido em residências, comércio e indústrias – é o gás
natural distribuído por concessionárias. As regras para o setor são definidas pelas agências
reguladoras estaduais.

Internet e banda larga


Os consumidores que adquiriram serviços de internet devem estar bem informados
dos seus direitos em relação aos contratos com as empresas que atuam no setor, conforme
recomenda a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Energia elétrica
O atendimento aos consumidores de energia elétrica no Brasil apresentou uma
evolução importante a partir da edição da Resolução Normativa nº 414/2010 por parte da
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), órgão que regula o setor no País. Por meio
dela, tornou-se obrigatória a instalação de postos de atendimento presencial em todos os
municípios da área de concessão das distribuidoras.

Transporte
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) é responsável por regular o
setor. Este órgão determina os direitos e deveres do cidadão e das empresas de transporte.

Telefonia
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o órgão federal que trata da
regulamentação do setor, vem ampliando as ações voltadas a aprimorar as relações entre os
consumidores e as empresas que atuam na área de telefonia. O maior marco foi a criação,

61
em 2008, do Plano Geral de Atualização da Regulamentação (PGR), que prevê a promoção
de parcerias da Anatel com órgãos oficiais de proteção do consumidor, como Ministério
Público, Ministério da Justiça, Procons e entidades representativas da sociedade organizada,
bem como com os órgãos oficiais de defesa da concorrência.

Acesso à Educação
Todos os cidadãos têm direito à educação. Com ela, o brasileiro pode vislumbrar uma
vida livre da pobreza e ter mais participação na sociedade, por meio da qualificação para o
trabalho. Quem não tem nenhum acesso à educação não é capaz de exigir e exercer direitos
civis, políticos, econômicos e sociais, o que prejudica sua inclusão na sociedade moderna.
A educação é também um dever da família e do Estado. Em muitas regiões do Brasil,
as crianças trabalham para ajudar no sustento da casa e, por isso, não recebem incentivo
familiar para se dedicarem à escola. Todas as crianças têm direito à igualdade de condições
para o acesso e a permanência na escola, que deve garantir o pluralismo de ideias e de
concepções pedagógicas, o respeito à liberdade e o apreço à tolerância.
Para elevar o nível de escolaridade da população, melhorar a qualidade do ensino em
todos os níveis, reduzir as desigualdades sociais e regionais em relação à educação pública
e democratizar a gestão do ensino público, o Brasil adotou, em janeiro de 2001, o Plano
Nacional de Educação (PNE). O PNE também promove a campanha Mobilização Social pela
Educação, para que os diversos segmentos sociais busquem o sucesso e a permanência do
aluno na escola.
A União tem o dever de organizar o sistema federal de ensino. Quando esse serviço
é ausente ou prestado de forma deficiente, o cidadão ou um grupo de indivíduos podem
exigí-lo. Para isso, um dos instrumentos é a Defensoria Pública da União (DPU), que poderá
promover ações judiciais ou intermediar acordos com a própria União para garantir o acesso
à educação a quem necessite.

Acesso à Justiça
A Constituição Federal de 1988 prevê que o cidadão que comprovar insuficiência
de recursos tem direito à assistência jurídica integral e gratuita. Ou seja, o brasileiro ou o
estrangeiro que não tiverem condições de pagar honorários de um advogado e os custos de
um processo têm à disposição a ajuda do Estado brasileiro, por meio da Defensoria Pública.

62
Podem ter acesso ao serviço pessoas com renda familiar inferior ao limite de isenção do
Imposto de Renda. No entanto, se esse patamar for ultrapassado, o indivíduo deve comprovar
que tem gastos extraordinários, como despesas com medicamentos e alimentação especial.
A assistência gratuita inclui orientação e defesa jurídica, divulgação de informações
sobre direitos e deveres, prevenção da violência e patrocínio de causas perante o Poder
Judiciário (desde o juiz de primeiro grau até as instâncias superiores, inclusive o Supremo
Tribunal Federal). Com a assistência jurídica gratuita, o indivíduo conhece um pouco mais
sobre seus direitos e deveres e tem acesso à Justiça para exercer sua cidadania.
Os defensores públicos, profissionais formados em Direito e aprovados em concurso
público, fazem diariamente o atendimento da população de baixa renda e estão aptos a
analisar a viabilidade jurídica das pretensões do cidadão.

Acesso à Saúde
A saúde é um direito de todos os brasileiros, garantido pela Constituição Federal
de 1988. Todo cidadão tem acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS), que realiza ações de
promoção, prevenção e assistência à saúde. Antes, o modelo adotado dividia os brasileiros
entre os que podiam pagar por serviços de saúde privados; os que tinham direito à saúde
pública pela Previdência Social, ou seja, trabalhadores com carteira assinada; e os que não
possuíam nenhum direito.

AGÊNCIAS REGULADORAS DO BRASIL

Agência Nacional de Águas (ANA)


Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC)
Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL)
Agência Nacional do Cinema (ANCINE)
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ)
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

63
DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

A Defensoria Pública da União é instituição essencial à função jurisdicional do Estado,


incumbindo-lhe prestar assistência jurídica, judicial e extrajudicial, integral e gratuita, aos
cidadãos hipossuficientes, garantindo-lhes o amplo acesso à justiça.A Defensoria Pública
da União desempenha funções distintas e complementares entre si: a prestação do serviço
de assistência judicial integral e gratuita perante a Justiça Federal do Trabalho, Eleitoral,
Militar, nos Tribunais Superiores e no Supremo Tribunal Federal, em diversas áreas de
atuação, inclusive, direitos humanos, previdenciário, e criminal.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

O Ministério Público Federal (MPF) integra o Ministério Público da União (MPU),


que compreende também o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar e
o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O MPU e os ministérios
públicos estaduais formam o Ministério Público brasileiro (MP).
Cabe ao MP a defesa dos direitos sociais e individuais indisponíveis, da ordem
jurídica e do regime democrático. As funções do MP incluem também a fiscalização da
aplicação das leis, a defesa do patrimônio público e o zelo pelo efetivo respeito dos poderes
públicos aos direitos assegurados na Constituição.

PROCON MUNICIPAL DE CAXIAS DO SUL

A partir da Lei Municipal n° 3.585/90, de 13 de novembro de 1990, foi criado


em Caxias do Sul o Conselho Municipal do Consumidor-COMDECON. Elaborado para
estabelecer diretrizes, obrigações e deveres dos consumidores e fornecedores, o Conselho
fiscalizava e atendia as denúncias e reclamações dos consumidores, aplicava sanções de
ordem administrativa e encaminhava aos órgãos competentes caso houvesse necessidade.
Com o aumento das reivindicações, a Câmara Municipal de Caxias do Sul aprovou
a criação do PROCON. Em 19 de maio de 2004, a Lei Municipal nº 6.232, entrou em vigor,
nascendo assim o PROCON Caxias do Sul. A advogada e professora Marlova Jakeline Mendes
foi a primeira a coordenar o órgão. De maio a novembro de 2004, durante sua gestão, o Procon
já atendia diversos consumidores, mesmo estando com deficiências de pessoal e material.

64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2001. pp. 219-29
As gerações de direitos humanos e o estado democrático de direito – Dymaima Kyzzy Nunes
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
Declaração Universal dos Direitos Humanos – Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da
Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948
Código de Defesa do Consumidor
Estatuto da Criança e do Adolescente
Estatuto do Idoso
www.iea.usp.br/iea/textos/benevidescidadaniaedireitoshumanos.pdf - Maria Victória de Mesquita
Benevides Soares IEA USP
Site www.brasil.gov.br
Site http://www.planalto.gov.br/legislacao
Site http://www.dpu.gov.br/
Site http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJA21B014BPTBRNN.htm
Site http://www.pgr.mpf.gov.br/
Site http://procon.caxias.rs.gov.br/

65
Comportamento Maçônico

Ubiratan Capelini

COMPORTAMENTO MAÇÔNICO

O Maçom é livre, de bons costumes, sensível ao bem, e busca o seu engrandecimento


como ser humano atuante e culto, combatendo a ignorância. A ignorância é o vício que
mais aproxima o homem do irracional. Assim sendo e por ser Maçom, deve ele conduzir-
se com absoluta isenção e a máxima honestidade de propósitos, coerente com os
princípios maçônicos, para ser um obreiro útil a serviço de nossa Ordem e da humanidade.
Não se aprende tudo de uma só vez. O saber é o acúmulo da experiência e dos conhecimentos que se
têm acesso, mas a ação construtiva da Maçonaria deve ser exercida de forma permanente em todas
as suas celebrações, trabalhos em Loja e no convívio social, através da difusão de conhecimentos
que podem conduzir o homem a uma existência melhor pelos caminhos da Justiça e da Tolerância.
O Maçom deve ter e manter elevada Moral, tanto na vida privada como na social, impondo-
se pelo respeito, procedimento impecável e realizando sempre o Bem.
O Maçom busca o Bem pelo cultivo das virtudes e pelo abandono dos vícios. Tenta polir
constantemente a sua Pedra Bruta, reforçando a sua virtuosidade e reprimindo conscientemente os
seus defeitos. Pela autodisciplina livremente imposta a si mesmo, torna-se também exemplo para

66
seus pares, colaborando para o progresso moral daqueles que com ele interagem.
Para que os trabalhos dentro da Maçonaria se desenvolvam dentro dos princípios, é
importante seguir algumas estratégias de ordem prática:
- Saber exatamente quais são os seus limites éticos;
- Avaliar com detalhes os valores da Instituição;
- Trabalhar sempre com base em fatos;
- Avaliar os riscos de sua decisão;
- Saber que, mesmo optando pela solução mais ética, poderá se envolver em situações
delicadas;
- Sendo sempre ético, ter consciência de que você poderá em algum momento perder
status, benefícios e ou outras benesses da posição em que está ocupando.

SABEDORIA

O somatório dos conhecimentos adquiridos durante nossa existência, pela experiência


própria ou através dos ensinamentos recebidos, devem nos orientar no sentido de que, antes de
tomarmos uma decisão, precisamos avaliar o quanto conhecemos do fato, se é a verdade, e se trará
algum benefício, ou seja, devemos usar o princípio das “peneiras da sabedoria”.
O único meio eficaz para se combater a ignorância, os preconceitos, a superstição e os
vícios é o saber, começando pelo próprio significado de cada um desses conceitos, ou seja:
- Ignorância significa o desconhecimento ou falta de instrução, falta de saber;
- Preconceito significa o conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos
adequados;
- Superstição significa o sentimento religioso excessivo ou errôneo que, muitas vezes,
arrasta as pessoas ignorantes à prática de atos indevidos e absurdos, ou ainda, a falsa ideia a
respeito do sobrenatural.
- Vício significa o defeito que torna uma coisa ou um ato impróprios para o fim a que se
destinam. É a tendência habitual para o mal, oposto da virtude.
“Moisés disse aos chefes das tribos dos israelitas que o Deus Eterno ordenou isto: Quando
alguém prometer dar alguma coisa ao Eterno ou jurar que fará ou deixará de fazer qualquer coisa,
deverá cumprir a palavra e fazer tudo o que tiver prometido.”  

67
TOLERÂNCIA

É, das virtudes maçônicas, a mais enfatizada, pois significa a tendência de admitir modos
de pensar, agir e sentir que diferem entre indivíduos ou grupos políticos ou religiosos.
É preciso praticar a tolerância com a família, amigos, no trabalho, bem como na sociedade
em geral, pois é um dos postulados em que a Maçonaria se fundamenta e dado inclusive como
exigência.
A tolerância também está ligada à democracia, pois a tolerância nos faz admitir que nosso
voto seja vencido, acabando-se os argumentos, feita a votação. O resultado tem que ser respeitado
e apoiado para o bem da causa maior e isso nos parece que seja um sentimento, ou melhor dizendo,
uma atitude tolerante. Dentro da Maçonaria entendemos que a tolerância está ligada às concessões
feitas para preservar as engrenagens da Ordem, que admite e respeita as opiniões contrárias. Em
síntese, precisamos ser tolerantes com a intolerância do outro, para que ele reflita e passe a seguir
este exemplo.
A tolerância está na Sabedoria e se faz sentir na Força e na Beleza, através dos ensinamentos,
no respeito à individualidade e ao direito do outro.

ÉTICA

Por definição, Ética é um conjunto de princípios e valores que guiam e orientam as


relações humanas. O primeiro código de ética de que se tem notícia, principalmente para quem
tem formação cristã, são os “DEZ MANDAMENTOS”, onde regras como “amar ao próximo
como a si mesmo, não matarás e não roubarás” são apresentadas como propostas fundamentais da
civilização ocidental e cristã.
A Maçonaria é uma instituição fundamentalmente ética, onde a reflexão filosófica sobre a
moralidade, regras e códigos morais que orientam a conduta humana são parte da filosofia que tem
por objetivo a elaboração de um sistema de valores e o estabelecimento de princípios normativos
da conduta humana, impondo ao Maçom um comportamento ético e exigindo-lhe que mantenha
sempre uma postura compatível com a de um homem de bem, um exemplo como bom cidadão e
um chefe de família exemplar.
O forte sentimento de fraternidade designa o parentesco de irmão, do amor ao próximo,
da harmonia, da boa amizade e da união ou convivência como irmãos, de tal forma a prevalecer a
harmonia e reinar a paz.
No mundo profano, a maior necessidade é a de homens “lato senso”; homens que

68
não podem ser comprados nem vendidos; homens honestos no mais íntimo de seus corações;
homens que não temem chamar o pecado pelo nome; homens cuja consciência é tão fiel ao dever
como a agulha magnética do pólo; homens que fiquem com o direito, embora o céu caia.

CARIDADE

Estamos vivendo uma época em que há uma falta aguda de um valor fundamental em
todo o mundo: a caridade. Pensa-se demais no progresso da humanidade através da ciência, da
tecnologia, da educação, da inteligência, do sistema jurídico, social, político e econômico e, no
final das contas, nada disso terá nenhum valor se as pessoas não estiverem determinadas a usar isso
tudo para o bem. A caridade é definida no dicionário como: “Amor que move a vontade à busca
efetiva do bem de outrem”.
O homem que a pratica, no seu dia a dia, estará sempre em paz; assegurando sua felicidade
neste mundo. Não se deixem levar pela vaidade, pela autocondescendência, pelas aparências e pela
superficialidade.
“Ao ver uma injustiça, não se calem! Diante da traição, não sejam covardes! Não se
tornem cegos guiados por cegos em direção a um grande nada. E se sua espada estiver pesada, e
sua vontade estiver fraca, e o que é certo e justo não lhe parecer claro, mesmo assim, acima de tudo
e sempre, tenha caridade!”
A CARIDADE é uma entrega absoluta por amor ao próximo.

JUSTIÇA

Para escrevermos sobre a justiça, primeiro temos que saber o que significa a palavra
justiça, definida no dicionário como conformidade com o direito; a virtude de dar a cada um aquilo
que é seu; a faculdade de julgar segundo o direito e melhor consciência.
Assim, para definirmos a justiça na Maçonaria, seria melhor recorrermos mais uma vez
ao dicionário e, logo acima da palavra justiça, encontraremos a palavra Justeza, que significa
“qualidade daquilo que é justo; exatidão, precisão, certeza; propriedade de uma balança analítica
que permanece equilibrada quando pesos iguais são colocados em seus pratos”.
Contudo, para termos um rumo e sentido do que seria a definição de justiça na Maçonaria,
temos que entender como é a organização do Estado, como é dividido, para que cada cidadão possa
ter o seu direito respeitado, e, por conseguinte, a justiça dar a cada um aquilo que é seu.
A Maçonaria é uma sociedade que pugna pelo Direito, pela Liberdade e pela Justiça e,

69
dentro dessa perspectiva, cada Maçom deveria ser, sobretudo, um defensor incansável da Justiça.
Um dos preceitos elementares é o da igualdade de direitos, consagrados na declaração Universal
dos Direitos do Homem. Todavia, a própria existência desse preceito dá margem a que a Justiça
se veja diante de um paradoxo, raramente discutido e talvez não completamente entendido.
O homem, principalmente o Maçom, deve ser senhor dos seus hábitos, dispor de autodomínio
em relação aos seus ímpetos, saber distinguir com imparcialidade o real do irreal, desprezando
as doutrinas exóticas, conceitos dúbios e principalmente os princípios que não coadunam com o
Amor e a Fraternidade, e muito particularmente, os vícios tidos como normas Sociais, mas que
inadvertidamente corrompem, aviltam e envelhecem sobre os direitos e a Justiça.

LIDERANÇA

“Liderar é influenciar positivamente as pessoas para que elas atinjam resultados que
atendam às necessidades tanto individuais quanto coletivas e, ainda, se responsabilizar pelo
desenvolvimento de novos líderes”.
Um dos componentes de formação de um Maçom é o de aprimorar ou desenvolver, caso
não tenha, um potencial e forjá-lo, para que se transforme em um líder.
O líder, para descrever suas realizações, utiliza o seguinte formato: o Problema, a Ação e,
finalmente, o Resultado.
Os líderes diariamente se envolvem em situações de conflito, seja no âmbito pessoal ou
no profissional. O modo como reagem a essas situações pode ser o fator determinante do sucesso
no resultado através de cinco posições: Evitar, Acomodar, Competir, Comprometer e Colaborar.
Inserida firmemente no conceito de liderança está a INTEGRIDADE, a honestidade do líder,
sua credibilidade e coerência para colocar valores em ação. Os líderes têm uma responsabilidade
indeclinável de estabelecer altos padrões éticos para guiar o comportamento dos seguidores.
Preocupado com o que acha ser uma falta de ímpeto na vida organizacional, John Gardner fala
sobre os ASPECTOS MORAIS da liderança. Os líderes, de acordo com Gardner, têm a obrigação
moral de fornecer as centelhas necessárias para despertar o potencial de cada indivíduo, para
impelir cada pessoa a tomar a iniciativa do desempenho das ações de liderança.
Ele destaca que as altas expectativas tendem a gerar altos desempenhos. A função do líder
é remover obstáculos ao funcionamento eficaz, ajudar indivíduos a ver e perseguir propósitos
compartilhados.
As qualidades especiais dos líderes incluem:
- Visão: ter ideias e um senso claro de direção, comunicá-las aos outros, desenvolver

70
excitação sobre a realização de sonhos compartilhados;
- Carisma: gerar nos outros entusiasmo, fé, lealdade, orgulho e confiança em si mesmos,
através do poder do respeito pessoal e de apelos à emoção;
- Simbolismo: identificar heróis, oferecer recompensas especiais e promover solenidades
espontâneas e planejadas para comemorar a excelência e a alta realização;
- Delegação de Poder: ajudar os outros a se desenvolver, eliminando obstáculos
ao desempenho, compartilhando responsabilidades e delegando trabalhos verdadeiramente
desafiadores;
- Estimulação Intelectual: ganhar o engajamento dos outros, criando consciência dos
problemas e guiando a imaginação deles para criar soluções de alta qualidade;
- Integridade: ser honesto e confiável, agindo coerentemente com suas convicções pessoais
e realizando compromissos, concluindo-os.

PERSEVERANÇA

A maior empreitada do homem é sua própria vida e não há nenhuma garantia de que será
bem sucedido. Entretanto, pelo acúmulo de conhecimentos, muitos de experiências frustradas, ele
sabe que a alternativa é prosseguir, lutando contra as adversidades e incertezas, fazendo aliados,
acreditando no Supremo Arquiteto dos Mundos e persistindo no rumo do seu objetivo.
A perseverança é uma qualidade, pois significa a firmeza, a constância com que devemos
nos empenhar em nossas atividades, porém atentos e sempre atualizados porque tudo muda e
também precisamos mudar nossas atitudes e nosso comportamento para não persistirmos no erro.
Concluindo, precisamos persistir. A perseverança exige um processo de mudança,
reavaliando nossos conceitos, objetivos e ideais e é assim que começa a nascer o novo
comportamento no pensar e agir, sabendo que a obra de nosso templo interior poderá nos exigir,
algumas vezes, uma árdua reconstrução. É um processo permanente onde estamos educando e
sendo educados. (Educare – Latim, significa sair de dentro da pessoa).
É bom lembrar que os valores individuais têm origem nos grupos e na cultura e, sem a
certeza de quais sejam esses valores fundamentais, poderemos ser um alvo fácil para as falsas
verdades.
Utilizar espontaneamente os dons que temos, sem constranger ou prejudicar o próximo, leva-
nos à Verdade e a Luz.

71
Condenações Papais contra
a Maçonaria

Flávio Guido Cassina

PARTE 1
As Encíclicas, Bulas, Cartas e Recomendações Papais contra a Maçonaria são documentos
de grande importância histórica que devem ser estudadas para que os maçons hodiernos conheçam
o ambiente e as dificuldades em que viviam nossos irmãos no passado, acossados por todo o
tipo de perseguição, sem qualquer razão, servindo, no entanto, tais perseguições para forjar um
fortíssimo ideal no seio da comunidade maçônica.
É só pelo ideal que a nossa sublime instituição subsiste até os dias de hoje, cabendo a esta
um futuro promissor, pois soube vencer todas as vicissitudes e superar todos os desafios.
As intolerâncias e perseguições partiram de vários segmentos ou entidades, mas as
principais, efetivamente, foram da Igreja Católica Romana, objeto do nosso estudo.
A primeira condenação formal e expressa da Maçonaria inicia-se em 28/09/1738, com
o PAPA CLEMENTE XII, chamada “In eminenti”, pelo fato da Maçonaria ter caráter sigiloso e
secreto, mantida sob juramento e penas graves.
CLEMENTE XII, assumiu o papado aos setenta e oito anos de idade.
Treze anos depois, BENTO XIV reportou-se ao antecessor que proibiu para sempre,
debaixo de pena de excomunhão, certas sociedades, assembleias, reuniões, corrilhos ou

72
conventículos, denominados vulgarmente de franco-maçons, que então se propagavam em alguns
países, crescendo de dia para dia...
Sua condenação chamou-se de “Providas” (18/05/1751).
Seus sucessores CLEMENTE XIII, CLEMENTE XIV e PIO VI não promoveram
nenhuma ação contra a Maçonaria nos períodos que chefiaram a Igreja, de 1758 a 1799.
Em 1800, PIO VII assume o “Trono de São Pedro” e, após vinte e um anos (13/08/1821),
aplica sua “Eclesian a Gesu Christo”, nova condenação.
LEÃO XIII, em 13 de março de 1825, disse que era seu dever, ouvido o parecer dos
cardeais, condenar de novo estas associações secretas, para que nenhuma delas possa pretender
“estar fora de nossa sentença apostólica e servir-se deste meio para induzir em erro homens fáceis
de enganar”.
“Seus membros ousam dar à luz da publicidade, seus desprezos para com a autoridade, seu
ódio à soberania, seus ataques contra a divindade de Jesus Cristo, o materialismo que professam,
seus códigos e estatutos; pondo às claras seus projetos e intentos, provam o que relatamos sobre
seus esforços para derrubarem os príncipes legítimos e aluírem os fundamentos da Igreja”. Esta
encíclica denominou-se Quod graviora mal.
PIO VII, em 21 de maio de 1829, publicou a “Traditi Humiliati”, seguindo as mesmas
pífias argumentações de seus antecessores.
Da mesma forma agiu GREGÓRIO XVI, em 15 de abril de 1832, através da “Mirari vos”.
Este Papa ficou no poder até 1846.
Em 1846, assume o papado o Bispo de Ímola, Giovani Mastai Ferretti, que adotou o nome
de PIO IX. Aqui surge uma das maiores confusões da história. Foi divulgado na comunidade
maçônica mundial que PIO IX era maçom.
A informação surgiu, descobriu-se depois, em razão de um tal de João F. Mastai que havia
sido iniciado na Itália, provocando o erro e havendo a indevida divulgação.
Renomados autores se encarregaram de divulgar o fato; inclusive, os brasileiros Adelino
de Figueiredo Lima (Nos Bastidores do Ministério) e Arcy Tenório de Albuquerque (As Sociedades
Secretas).
Surgiu a lenda de que PIO IX teria perjurado, sendo expulso da Maçonaria, tornando-se
seu principal inimigo de todos os tempos.
Tudo não se passa de uma lenda, a não ser o fato de que este Papa tenha se constituído em
um figadal inimigo da Maçonaria.
Vejamos o porquê.

73
Em seu primeiro ano de papado, aplicou a famigerada “Qui pluribus”, em 09/11/1846.
Após sucederam-se: Quibus quatisque malis (20/04/1849), Nobis et nobiscus (08/12/1849),
Singulari quadam (1854), Máxima quidem laetitia (1862), Quanto conficiamur (1863), Quanta
Cura (08/12/1864), Multíplices Inter (25/09/1865), Apostolicae Sedis Moderatori (12/10/1872) e
Est Multa Luctuosa (1873).
Em 29/05/1873, lançou a Carta Quamquam Dolores, redigida a Dom Frei Vital, Bispo de
Olinda, em razão da famosa “Questão Religiosa” eclodida no Brasil e resolvida e pacificada pelo
nosso insigne Irmão Duque de Caxias.
Nesta carta, PIO IX fala acerca do “Vírus Maçônico, por aí de tal sorte derramado que até
as próprias irmandades religiosas tem invadido”.
Continuou dizendo: “É esta peste antiga, que a seu tempo já foi profligada pela Igreja e
denunciada, ainda que sem fruto algum, aos povos e seus impetrantes”.
Repetiu-se praticamente em cima dos argumentos de seus antecessores, louvando-os pelas
suas “sabedorias”.
Disse que o objetivo da Maçonaria e outras seitas afins, tornou-se patente: “acabar com a
religião católica, derrubar toda a autoridade humana, constituir o homem autônomo, independente
de qualquer lei, desligando-o de todo o vínculo à família e unicamente escravo de suas paixões”.
Nesta Carta, PIO IX sugere o perdão aos ditos pecadores maçons brasileiros, dando prazo
de um ano para que se confessem, com qualquer confessor, aprovado pelo Ordinário do lugar onde
se acham.
Mas, se este remédio de clemência não servir para afastar os culpados de seu nefando
propósito e retraí-los de seu gravíssimo crime, é nossa intenção que, passado o referido prazo de
um ano, imediatamente revivam as sanções espirituais e eternas condenações, enquanto a eles
aderirem os maçons.
Tivemos ainda, por ocasião da questão religiosa antes aludida entre a Maçonaria e alguns
Bispos do Brasil, uma Carta Apostólica (1876) aos nossos Bispos condenando explicitamente a
Maçonaria brasileira.
Já antes escrevera ao Imperador D. Pedro II, em 1875, que os maçons brasileiros não
diferem dos maçons da Europa, não restando dúvida de que os primeiros incidem nas mesmas
condenações, esquecendo-se que o pai do Imperador havia sido maçom.
Por fim, veio a Encíclica “EXORTAE”, em 29/04/1876.
Evidentemente que o mundo civilizado, os livres pensadores e as pessoas esclarecidas
de todas as partes do mundo em muito discordaram destas posições papais. Muitos escreveram,
denunciaram e manifestaram sua repugnância por estas manifestações oficiais da Igreja Romana.

74
Uma das principais manifestações foi do Insigne Irmão Giuseppe Mazzini que, em longa
carta dirigida a PIO IX, disse-lhe dos pensamentos maçons sobre ele, de seu fracasso como Papa,
da esperança de milhões de almas que imploravam uma só palavra de amor. Uma benção teria sido
capaz de fazer os homens esquecerem as perseguições, a corrupção e as profanações de quatro
séculos e juntá-los num grande e imenso abraço de fé e de esperança.
Nesta extensa carta, disse a PIO IX da impossibilidade de que ele permaneça um só dia no
poder, sem o amparo da força bruta.
Termina dizendo “RECONCILIAI-VOS COM DEUS; COM A HUMANIDADE JÁ NÃO
PODEIS”.
PIO IX viveu ainda aproximadamente três anos.
Depois assume LEÃO XIII, que se encarrega de efetuar a mais longa Encíclica contra a
Maçonaria, denominada “Humanum Genus” em 20/04/1884. LEÃO XIII ficou no cargo até 1903.
Hoje estes documentos não causariam impacto algum; ao contrário, comprovariam a
pequenez da inteligência de seus signatários.
Já não haverá campo para renovação de tão insólito comportamento. Hoje acreditamos
que a Igreja não vê a Maçonaria como “inimiga” ou como “malefício”, salvo em setores menos
esclarecidos.
Chegará o dia em que a Igreja convocará a Maçonaria como aliada, em defesa de quem já
está tão débil.
Finalmente, como depois da tempestade vem a calmaria, com o advento do século XX
novos ventos sopraram na Igreja Católica, assumindo o papado São PIO X que em momento
algum endossou e concordou com os desmandos de seus antecessores.
Teria havido um vacilo na “infalibilidade pontifícia”?
Depois de PIO X assumiu o papado BENTO XV (Giácomo Della Chiesa), um genovês,
que inicia seu mandato durante a Primeira Guerra Mundial, tendo grande trabalho em liderar
católicos nos dois lados do conflito. Apresentou plano de paz em relação à Primeira Grande Guerra,
mas não foi ouvido.
Publicou o Código de Direito Canônico.
BENTO XV teve um pontificado de oito anos.
PIO XI, que lhe sucedeu, não se intrometeu em assuntos de Maçonaria; entretanto, pesa
contra ele a acusação de ter, recém eleito, usado sua influência para consolidar a figura de Benito
Mussolini e seu programa fascista na Itália.
Eles chegaram ao poder por uma diferença de meses, no mesmo ano de 1922.
Bem, isto é objeto para outro estudo.

75
PIO XII (Eugênio Pacelli), igualmente ao antecessor, se viu envolvido nos horrores da
Guerra (Segunda), sendo acusado por alguns, de omisso.
Entretanto, sabe-se de seu gigantesco trabalho pela paz mundial.
Em 1958, assume um bonachão italiano chamado Ângelo Giuseppe Roncalli que adotou o
nome de JOÃO XXIII, o Papa do ecumenismo.
Teria sido JOÃO XXIII o primeiro Papa a aproximar-se da Maçonaria?
Existe até uma oração a ele atribuída em que pede perdão a DEUS, em nome da Igreja,
pelas heresias cometidas contra a Maçonaria, dizendo, também, que um compasso ou uma pirâmide
formada por três pontinhos, teriam o mesmo efeito simbólico que um crucifixo.
PAULO VI (Giovani Batista Montini) sucede JOÃO XXIII e, em seus quinze anos de
mandato, não teve qualquer dificuldade com a Maçonaria.
JOÃO PAULO I (Albino Luciani), o Papa sorriso, teve apenas trinta e três dias de pontificado.
Em 1978, o polonês Karol Wojtyla é eleito Papa, adotando o nome de JOÃO PAULO II
em homenagem a JOÃO XXIII e JOÃO PAULO I que, por sua vez, havia homenageado os dois
antecessores.
JOÃO PAULO II, em seus vinte e seis anos de mandato, viajou por todo o mundo, levando
sua mensagem para centenas de países. Foi o Papa que mais viajou na história da humanidade.
Pediu desculpas, em nome da Igreja, pelas atitudes durante a Inquisição, nas Cruzadas, e pelo
comportamento da Igreja diante do nazismo, que exterminou milhões de judeus durante a Segunda
Guerra Mundial.
Seu carisma era imenso. Tornou-se a figura mais popular do mundo, tendo terminado seu
mandato atingindo plenamente seus objetivos de levar a paz, a fé, a esperança e a caridade em todos
os recantos.
Em 1982, JOÃO PAULO II, em relação à Maçonaria, “flexibilizou” a condenação e a
excomunhão deixada pelos seus antecessores, dizendo que, naquelas associações maçônicas que não
maquinassem contra a Igreja, seus membros não seriam passíveis de excomunhão.
A notícia foi muito bem recebida na comunidade católica mundial e no seio da Maçonaria.
Entretanto, o então Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé,
contesta e afronta o Papa, dizendo que não era bem assim e que as condenações estavam mantidas.
Ou seja, afrontou o Papa que o nomeou para a Congregação da Doutrina da Fé, no ano
de 1977, transformando-o em seu braço direito. A Congregação da Doutrina da Fé era, até 1908,
chamada de Tribunal da Inquisição.
Ratzinger sempre teve opiniões fortes e notabilizou-se por estas posições firmes,
eminentemente conservadoras.

76
É tido como um dos Cardeais mais cultos e em 2002 é nomeado decano do Colégio
Cardinalício.
Em 19/04/2005 é eleito o 265° Papa, embora na primeira votação tenha ficado atrás do
Cardeal Italiano Martini, tendo este o apoiado pois não tinha condições de saúde para exercer o
papado.
Na votação final, segundo Dom Cláudio Hummes, teve votação quase unânime.
Adotou o nome de BENTO XVI, em razão de que BENTO XV teve um papado curto, mas
de muito trabalho. É o que se afigura. Assume com setenta e oito anos de idade.
BENTO XVI destaca-se pelo rigor de suas ideias, sendo enérgico defensor dos dogmas mais
conservadores da Igreja Católica. É eminentemente dogmático.
É o homem do “não”, citado pelo jornal italiano Corriere Della Sera.
Sua eleição foi surpresa e decepção para grande parte da opinião pública mundial.
Para ele, as outras Igrejas são deficientes.
Esperava-se alguém mais aberto às questões atuais do mundo. Outra dificuldade é que ele
jamais terá o carisma de seu antecessor. Terá que descobrir seu próprio caminho.
“Como cristão, aceito e respeito a decisão... mas haverá dificuldades para amar este Papa,
por causa das posições perante a Igreja e o mundo... espero que ele pense mais na humanidade do que
na Igreja” (Leonardo Boff, teólogo e escritor).
Segundo alguns observadores, o dinheiro que vem da Igreja para os movimentos de esquerda
deve diminuir de forma drástica no reinado de BENTO XVI.
A nós maçons, fica a dúvida: terá Ratzinger condições de aproximar-se da Maçonaria e das
demais religiões?
Voltará o ranço dos antecessores mais retrógrados?
Será o Torquemada redivivo?
Como líder de mais de um bilhão de católicos, será o aproximador com o restante da
humanidade?
Mudará Ratzinger ou voltará aos padrões da Inquisição?

O TEMPO VAI DIZER.


Aguardemos.
OBS: por ironia do destino, os papas com mandatos mais longos, foram coincidentemente
os maiores inimigos da Maçonaria (PIO IX, 32 anos; LEÃO XIII, 24 anos e PIO VIII, 23 anos). A
exceção foi JOÃO PAULO II.

77
PRINCIPAIS CONDENAÇÕES PAPAIS CONTRA A MAÇONARIA

PAPA CONDENAÇÃO DATA MANDATO


Clemente XII In eminenti 28/09/1738 1730 – 1740 (10 anos)
Bento XIV Providas 18/05/1751 1740 – 1758 (18 anos)
Clemente XII --- --- 1758 – 1769 (11 anos)
Clemente XIV --- --- 1769 – 1774 (05 anos)
Pio VI --- --- 1775 - 1799 (24 anos)
Pio VII Eclesian a Gesu Christo 13/09/1821 1800 – 1823 (23 anos)
Leão XII Quo graviora mal 13/03/1825 1823 – 1829 (06 anos)
Pio VIII Traditi humiliati 21/05/1829 1829 – 1830 (01 ano)
Gregório XVI Mirari vos 15/04/1832 1831 – 1846 (15 anos)
Qui pluribus 09/11/1846
Quibus quatisque malis 20/04/1849
Nobis et nobiscus 08/12/1849
Singularis quadam 1854
Maxima quidem laetitita 1862
Quanto coficiamur 1863 1846 – 1878 (32 anos)
Pio IX
*Imigração Italiana RS
(Giovani Mastai Ferretti) Quanta cura 1864 1875
Multiplicies inter 23/09/1865
Apostoliciae sedis moderatori 12/10/1872
Est multa luctuosa 1873
Quamquam dolorem 29/05/1873
Exortae 29/04/1876
Leão XIII Humanum genus 20/04/1884 1879 – 1903 (24 anos)
Pio X
(Giuseppe Sarto) --- --- 1903 – 1914 (11 anos)
Bento XV
(Giacomo Della Chiesa) --- --- 1914 – 1922 (08 anos)
Pio XI
(Ambrogio Damiano --- --- 1922 – 1939 (17 anos)
Achille Ratti)
Pio XII
(Eugenio Pacelli) --- --- 1939 – 1958 (19 anos)
João XXIII
(Angelo Giuseppe Roncali) --- --- 1958 – 1963 (05 anos)
Paulo VI
(Giovani Batista Montini) --- --- 1963 – 1978 (15 anos)
João Paulo I
(Albino Luciani) --- --- 1978 (33 dias)
João Paulo II
(Karol Wojtyla) --- --- 1978 – 2005 (26 anos)
Bento XVI 2005 – 2013 (07 anos)
(Joseph Ratzinger) --- ---
24/04/2005 a 28/02/2013
Francisco
(Jorge Mario Bergoglio) --- --- 19/03/2013 –

78
PARTE 2
Quando assumiu o Papa Bento XVI, manifestávamos nossa preocupação com seu
pontificado e tecemos algumas considerações baseadas em sua vida pregressa.
Nossos questionamentos e desconfianças foram gradativamente respondidos.
Sobre o seu pontificado e relações com a Maçonaria, nada mudou; nem mesmo sua
desastrada intervenção quando da flexibilização proposta por João Paulo II.
Na declaração de 26 de novembro de 1983, o Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da
Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, não confirmou se houve mudança do parecer da
Igreja a respeito da Maçonaria, pelo fato de que, no novo código de Direito Canônico, ela não vem
expressamente mencionada como no código anterior.
Ou seja, confrontou o Papa que o antecedeu.
A Sagrada Congregação (leia-se Ratzinger), disse que tal circunstância é devida a um
critério redacional, seguido também quanto às outras associações igualmente não mencionadas,
uma vez que estão compreendidas em categorias mais amplas (sic).
Permanece, portanto, imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das Associações
Maçônicas, pois seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da
Igreja e, por isso, permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis, no caso, estão em pecado grave e
não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão.
Ratzinger nunca fora unanimidade nem mesmo entre os alemães. Contra ele pesaram acusações
de acobertar acusações sexuais cometidas por padres desde quando era Prefeito da Congregação para
a Doutrina da Fé. Segundo alguns, foi o guardião da ortodoxia e contra os progressistas.
Disse que não se resolve o problema da Aids distribuindo preservativos. Afirmou que a
religião católica é a única verdadeira e a única que salva.
Insistiu no celibato e encarou outros desafios como o aborto, eutanásia e homossexualismo
(contra a união estável entre pessoas do mesmo sexo), por ter pertencido à juventude Hitlerista.
Foi taxado de intransigente, retrógrado e alvo constante de protestos públicos.
Enfim, seu pontificado transcorreu de 19/04/2005 a 28/02/2013, ocasião em que foi declarada
a vacância da sede de Roma, a sede de São Pedro.
Surpreendentemente, Ratzinger, em determinado momento de sua vida, chegou à conclusão
de que deveria parar.
Ratzinger, em seu discurso de despedida, traduzido para sete idiomas, resumidamente disse o
seguinte: “Depois de ter examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza
de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino”.

79
Prosseguiu, dizendo: “Estou muito consciente de que este ministério, por sua natureza
espiritual, deve ser executado não apenas com obras e palavras, mas também e, não em menor grau,
sofrendo e rezando”.
Disse estar ciente da seriedade do ato com plena liberdade e declarou sua renúncia ao
ministério do Bispo de Roma.
Igualmente, disse que queria, doravante, servir a Santa Igreja de Deus com uma vida dedicada
à oração.
A data da renúncia: 10 de fevereiro de 2013.
A repercussão, em geral, foi de apoio e compreensão à decisão papal.
Segundo alguns, tratou-se de uma demonstração de profunda humildade, capacidade de
discernimento e confiança plena no Criador.
A CNBB disse ter acolhidas, com amor filial, as razões apresentadas por Sua Santidade, sinal
de humildade e grandeza, que caracterizaram seus oito anos de pontificado.
O surpreendente de tudo é que, na história, somente quatro papas renunciaram. O último foi
Gregório XII, há mais de 600 anos (1415).
Mesmo que Bento XVI tenha sido considerado um Papa de transição, pois se previa um
pontificado curto, sua decisão surpreendeu.
Sabemos que uma renúncia é sempre uma decisão difícil. Exemplos não faltam na política;
na monarquia, vemos a Rainha da Inglaterra com mais de 60 anos de reinado.
Na Igreja não é diferente. O próprio João Paulo II poderia ter dado esse passo, coisa que, de
algum tempo, já é exigido dos Bispos e Cardeais através de aposentadorias compulsórias (75 anos).
Bem, a situação ficou estabelecida; ficou posta, em relação à renúncia. “Ficarei escondido
do mundo”, disse Bento XVI.
Todos sabemos que havia uma expectativa em se escolher um Papa não europeu, mas a
esperança era pouca.
O conclave se iniciou.
A média de dias para a escolha é de quatro dias, pelo menos desde Gregório XVI (1831),
que levou 54 dias.
Cardeais de 48 países decidiram e elegeram o novo Papa.
A predominância era da Itália, 28; Estados Unidos, 11; Alemanha, 6 e Brasil, 5.
Bento XVI nomeou 90 novos cardeais, em 5 consistórios, até 2012.
Os candidatos mais citados: D. Claudio Hummes (Brasil), D. Oscar Maradiago (Honduras),
D. Jorge Mario Bergoglio (Argentina), D. Norberto Carrera (México), D. João Aviz (Brasil), D.

80
Luiz Tagle (Filipinas), D. Peter Tuckson (EUA), D. Christoph Schöenborn (Áustria), D. Peter Erdö
(Hungria), D. Angelo Scola (Itália), D. Marc Ouellet (Canadá), D. Francis Aringe (Nigéria), D. John
Onayekan (Nigéria) e D. Tomothy Dolan (EUA).
Enfim, cento e quinze cardeais escolheram o novo Papa, com menos de 80 anos, não podendo
votar em si mesmos.
A eleição requer o voto de dois terços dos cardeais, sempre em voto secreto.
O cardeal eleito se torna o Pontifex maximum.
Uma observação interessante: segundo a tradição, o Papa pode ser escolhido entre pessoas
do sexo masculino, batizados, católicos e com discernimento necessário para aceitar a eleição e
exercer o cargo.
Não é necessário nem que seja clérigo, tampouco cardeal (lembremo-nos do romance de
Dan Brown “Anjos e Demônios”).
SURPRESA!
Após a eleição, em que participaram os 115 cardeais, foi eleito o 266° Papa.
Jorge Mario Bergoglio, de nacionalidade argentina e primeiro latinoamericano, de 76 anos,
é escolhido o sucessor de São Pedro.
Bergoglio nasceu em 17 de dezembro de 1936. Ordenado Sacerdote em 1969 e Arcebispo
de Buenos Aires em 1997.
Outra surpresa: o primeiro jesuíta da história.
Segundo alguns, foram quebrados alguns paradigmas: a renúncia, o primeiro latino-
americano e o primeiro jesuíta.
A respeito do jesuitismo, muitas divergências históricas em relação à Maçonaria. O
superior dos jesuítas sempre foi considerado por muitos como a eminência parda da Igreja Católica
e seu mais poderoso representante, até acima dos Papas.
Muito se falou do “Papa Negro” e da “Corja Negra”, denominações comuns do Superior
Jesuíta e da Ordem de Inácio de Loyola.
Abrindo um parênteses, na imigração italiana, na nossa região da Serra Gaúcha (1875), o
Papa era Pio IX, inimigo figadal da Maçonaria, como foi falado na primeira parte deste trabalho.
Seu pontificado, coincidentemente, foi o mais longo da história: 31 anos e sete meses
(16/06/1846 a 07/02/1878).
HABEMUS PAPAM.
O novo Papa, que não aparecia nas últimas pesquisas, Jorge Mario Bergoglio, adotou o

81
nome de Francisco, invocando a proteção de São Francisco de Assis, que inspirou mais de uma
dezena de ordens religiosas: as franciscanas.
Inspirou-se principalmente em Francisco de Assis, mas também em São Francisco Xavier,
São Francisco de Paula, São Francisco de Borja, São Francisco de Sales, São Francisco de Solano.
O que importa é a mensagem que pretende levar a mais de 1 bilhão de católicos.
Humildade, simplicidade e solidariedade são sua marca.
Disse que “a Igreja deve ser advogada da justiça e defensora dos pobres diante das
intoleráveis desigualdades sociais e econômicas que clamam ao céu”.
Ao Brasil, o assunto é extremamente pertinente, visto que a religião católica é superior a
125 milhões de adeptos, aproximadamente 64,6% (IBGE, 2016). MAIOR PAÍS CATÓLICO DO
MUNDO.
Francisco, que nem se autodenominou “Primeiro”, nos traz uma Igreja servidora dos
pobres.
Isto se vê, desde os seus primeiros gestos: a simplicidade de Jesus, assim como foi
Francisco de Assis.
A parte que mais diz respeito à Maçonaria é quando fala em “evitar o elitismo e erradicar a
pobreza”, como fez Amós (um dos chamados profetas menores) ao denunciar que “vendem o justo
por dinheiro e o pobre, por um par de sandálias”. Tudo muito de acordo com os ensinamentos de
nossa sublime instituição.
Enfim, temos dois papas: um efetivo e outro emérito.
Rendo minha admiração e meus respeitos a Bento XVI que soube, neste momento em que
a velocidade da comunicação é imensa, saber o seu lugar.
Esta medida, a nosso ver, é de profunda reflexão e constatação das limitações humanas.
O caminho é inexorável. Infância, juventude, meia idade e velhice. Temos que ter
consciência de nossas limitações. Bento XVI nos ensina.
É mister que por vezes nos olhemos “no espelho”. Saibamos sair quando estamos ganhando.
Não podemos ser vítimas da decrepitude.
Voltando a Francisco, no início o Papa pôs o dedo na ferida, na chaga que corrói chamada
pedofilia entre os clérigos.
Padres pedófilos devem responder perante a justiça dos homens.
Francisco não está disposto a ocultar ou acobertar os abusos cometidos por clérigos.
Em seu pronunciamento, nota-se que ele quer mudar o destino da humanidade e alavancar a
reconstrução da Igreja “que se vê ameaçada por ruínas”.

82
Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na iniquidade,
diz Francisco.
Fala que “nas redes sociais, a violência destrói as pessoas. O mundo vive hoje uma época de
muitas palavras hostis e na qual falar mal dos outros virou um hábito. É preciso sempre se lembrar
que cada pessoa tem uma dignidade intangível, que não se pode ser tirada”.
Calibrar a palavra, combater o ódio na Internet. Francisco se utiliza dos recursos do marketing
para passar sua mensagem rapidamente, com alto impacto e precisão.
No tocante à inclusão dos pobres, recebe moradores de rua, prestigia entidades que protegem
os menos favorecidos.
Enfim, é uma luz que surgiu para iluminar a Igreja. O mundo precisa amar mais.
Francisco é um espécime diferente e raro e, por suposto, mexe com estruturas arcaicas,
pesadas e ineficientes.
Trata de mover donos de cargos, quase vitalícios.
Não é tarefa fácil. É óbvio que há resistência. A resistência é, principalmente, no seio da
Igreja.
Fatos são atribuídos ao Papa, entre os quais a aproximação Cuba/USA (Raúl Castro e
Obama). O restabelecimento de relações diplomáticas após mais de 50 anos de enfrentamento e
desencontros favoreceu a aproximação entre os dois países.
Por desconhecimento, ainda há no seio da Igreja Católica algum ranço, alguma rejeição em
relação à Maçonaria.
Não é o caso de Francisco.
Recentemente, o Professor Emérito da Universidade de Roma, Roberto de Mattei, critica
documento assinado pelo Papa, em Abu Dhabi, como traição do passado e da doutrina.
Para o historiador, o Papa derruba o Evangelho e se aproxima da Maçonaria.
Enfim, é cedo para efetuarmos uma análise do papado de Francisco.
A Maçonaria continua sua obra de construção social, de aperfeiçoamento moral e intelectual
do homem, e dias melhores virão.
Tenhamos consciência de que estamos no rumo certo.

83
Desafios da Maçonaria
no futuro

André Chiaradia

A Maçonaria tem como base a organização de homens livres, o que implica em liberdade
de ideias e propõe que os habitantes de cada país sejam cidadãos e não súditos, sinalizando a
importância do binômio Democracia/Maçonaria.
Defende os valores éticos da tolerância, compreensão, amor fraterno, solidariedade, etc.,
ensinados por símbolos recolhidos nas tradições da Idade Média ou anteriores, transmitidos via
iniciática, porém os significados dos conceitos de liberdade, de igualdade, de amor fraterno e de
solidariedade não são os mesmos comparando a Idade Média e a atualidade.
Nossos Irmãos Operativos sentiram a necessidade e/ou vontade de dar continuidade
aos princípios e valores que inspiraram a Maçonaria Operativa e evoluíram para a Maçonaria
Especulativa, conforme mudanças ocorridas nos séculos XVII e XVIII, e permitiram a entrada de
neófitos ligados à literatura, arte e ciência.
O objetivo básico foi a necessidade de defender os valores do tipo filosófico e ético-morais,
como fruto de uma determinada espiritualidade, e que não eram prioritariamente estabelecidos na
sociedade da época.
Buscam então aqueles construtores de templos construir outro tipo de templo, o Templo da
Individualidade e de melhoria pessoal, utilizando-se das mesmas ferramentas que os construtores
operativos empregavam, dando-lhes um significado simbólico e um valor moral, buscando a construção
deste templo individual, porém não limitando ao indivíduo e sim transcendendo à sociedade.

84
A humanidade evoluiu desde o início de sua existência e o ser humano concomitantemente.
A Maçonaria, como uma escola do conhecimento, deve manter viva a lembrança e a essência
maçônica iniciada a partir do Humanismo, passando pelo Iluminismo e outras escolas sociológicas,
e hoje convivendo no mundo globalizado e holístico.
Passadas diversas fases ou ciclos de mudanças, conforme o conceito de Maçonaria, esta
escola não finaliza suas mudanças e nunca finalizará, porque ela é Evolutiva e nunca Conclusiva.
Neste contexto, vemos na história que após a Maçonaria Operativa se tornar Maçonaria
Especulativa há uma importante influência desta nas sociedades, atuando em diversas áreas sociais,
políticas e outras.
Historicamente a Maçonaria, ou os Maçons, influenciaram grandes transformações, tais
como a Revolução Francesa e Independência dos EUA; no Brasil, a Independência, a Revolução
Farroupilha, etc. Não foi a Maçonaria que o fez, mas em todas estas situações grandes Maçons
estiveram envolvidos.
Hoje estamos passando por um momento em que a Maçonaria, especialmente naqueles
países onde as Ordens Maçônicas alcançaram seu maior auge e prestígio, se encontra em uma
situação de gradativa diminuição de sua riqueza humana, envelhecimento de suas colunas e à
mercê de renovados ataques de distintas frentes, mesmo após já termos passado por outras crises
e perseguições.
Junto a isto, na Maçonaria Mundial tem ocorrido fragmentações e rompimentos entre as
Obediências e Potências que não estão mostrando sinais de redução.
A Maçonaria cresceu rapidamente, com seu ápice nos anos 50, quando chegou a ter
4.000.000 de membros. Desde então ocorre uma diminuição gradativa de membros, cerca de 3%
ao ano. Nos Estados Unidos, os membros das cerca de 50 Grandes Lojas diminuiram 15% nos
últimos 50 anos.
Esta redução não é por falta de Profanos que ingressam na Ordem, mas sim por Maçons
que se retiram de suas Lojas, voluntária ou obrigatoriamente, em tempo cada vez menor. Isto é
observado na Obediência da Grande Loja Unida da Inglaterra e também na Austrália, Canadá e
Estados Unidos.
Isto parece indicar que o problema básico está no Iniciado que não encontra o que esperava
ou não encontra na Loja motivo para manter-se Maçom. Fatos que nos levam refletir e nos impõe
alguns questionamentos, tais como:
1– O que espera um Profano da Maçonaria?
2– O que a Maçonaria espera de um Neófito?

85
3– O que impulsiona o Maçom a se desligar da Ordem, ou ficar inadimplente ou adormecido?
4– O que realmente nós fazemos como Maçons, dentro e fora da Loja?
5– O que necessita ocorrer para tornar a Maçonaria mais atrativa?
6– Há realmente a necessidade de tornar a Maçonaria mais atrativa ou o problema são os
Maçons?
7– É um problema econômico?
8– Que fatores estariam influenciando para chegarmos a esta situação?
Inicialmente comentaremos sobre alguns fatores que poderiam estar ou estão contribuindo
para que a Ordem Maçônica esteja em crise mundial:

a) Tecnologia
O desenvolvimento dos meios de comunicação, tecnologia eletrônica, química e biologia,
medicina, transporte, e outros, acarreta em transformação da forma de vida no trabalho, no lazer,
nas compras e em cada aspecto da existência no mundo industrializado.
A influência da televisão e Internet faz com que as pessoas fiquem mais sedentárias e
menos gregárias e, ao mesmo tempo, a vida mais acelerada e o tempo cada vez mais escasso. A
competitividade no trabalho, na indústria e no comércio é incomparavelmente maior hoje.
Trabalhamos mais horas no emprego e em casa muitas vezes, perdemos mais tempo no
trânsito e na atenção aos familiares, afetando diretamente o nosso dia a dia, tornando mais exíguo
o tempo a ser dispensado para uma Loja.
A sociedade moderna é muito ágil e as últimas gerações querem tudo muito rápido,
acelerado, diferente do que ainda ocorre nas Lojas Maçônicas, onde o crescimento é lento e gradual.

b) Transformações no Grupo Familiar


Na sociedade moderna homens e mulheres trabalham, as pessoas disponibilizam menor
tempo livre para elas próprias bem como para dispensar aos familiares, há uma variadíssima gama
de atividades para pais e filhos e o tempo é cada vez mais escasso.
Especialmente no período pós-moderno, a mulher foi obrigada a sair de casa para procurar
seu sustento e dos seus filhos, enquanto os homens lutavam e morriam na segunda guerra mundial.
Primeiro por necessidade e posteriormente porque a mulher criou o seu espaço e sua individualidade
na sociedade, também foi um fator que fez com que o homem tivesse a necessidade de permanecer
maior tempo em seu lar.
Com os reflexos disto no trabalho, nos empregos, nos relacionamentos sociais e familiares,
fatalmente há como consequência um comprometimento do tempo disponibilizado à Maçonaria.

86
c) Envelhecimento dos Maçons
Nos Estados Unidos, no ano 2000, a média de idade era de 73 anos, e a previsão para o
ano 2010 era de 78 anos. Não temos esta confirmação atualizada, mas era a estimativa projetada.
Sabe-se que muitos Profanos têm sido iniciados em todos os países, mas também sabe-se
que grande parte para de frequentar a Loja precocemente, mantendo uma média de idade alta em
muitas Lojas.
Com estes dados, é difícil pretender que uma irmandade com grande parte de seus
membros de idade mais elevada tenha a energia, agilidade e amplitude de visão do tempo de sua
juventude. Muitos profanos jovens e adultos jovens que ingressaram na Ordem não encontram
aquele ambiente desejado, em meio às relíquias humanas que manejam o destino da Loja, muitas
vezes de forma muito lenta e conservadora.

d) Individualismo e hedonismo do homem ocidental, tendência ao Niilismo


Com estas três características, o ser humano hoje tende a procurar obter o máximo de
satisfação. O hedonismo, que é a tendência a considerar que o prazer individual e imediato é a
finalidade da vida, associado a um individualismo cada vez mais presente, faz com que em nossa
vida diária, influenciados pelo meio ambiente, pela família e sociedade, tenhamos a tendência
de procurar a moda do momento, com uma crescente diminuição do espírito cívico e solidário.
O cidadão espera e exige receber o que ele acredita que lhe corresponde e ao mesmo tempo é
resistente ao contribuir com a sociedade.
Já o Niilismo é uma tendência de pensamento, ético e/ou comportamental, do período pós-
moderno, ou talvez pós-guerra, que leva à redução ao nada, aniquilamento, não existência. É um
ponto de vista que considera que as crenças e os valores tradicionais são infundados e que não há
qualquer sentido ou utilidade na existência.
Com estas características, será que um Profano se compatibilizaria com as normas, leis e
objetivos maçônicos? Com certeza a Maçonaria não é a moda do momento.

e) Imagem pública da Maçonaria


É um fator dificultador para o ingresso de Profanos. Ainda existem conceitos como: “é
secreta e centro de conspiradores”, “é anti-religiosa ou satânica”, “é jogo de crianças grandes”,
“não pode competir com televisão”, “é somente uma instituição filantrópica”, “não permite que a
família faça parte dela”, etc.
É muito comum ouvir que somos um grupo de pessoas que formam uma espécie de cartel
que se preocupa apenas em conseguir sucesso econômico e social entre si, uma irmandade de ajuda
mútua em detrimento dos Profanos e dos menos favorecidos.

87
f) Falta de liderança maçônica
Atribuir a crise das Lojas à falta de direção, entusiasmo e visão é muito discutível, pois
temos que lembrar que em Maçonaria não há uma ditadura e que os nossos líderes não podem atuar
sem o nosso apoio.
As nossas gerações mais novas não aceitam muito a liderança e autoridade de outros,
mas também não querem assumir responsabilidades. A instabilidade do mundo contemporâneo,
associado à rápida transformação tecnológica ao relativismo moral, à rejeição de toda e qualquer
autoridade, produzem uma sensação de insegurança e incerteza.
Há o dilema da regularidade das Obediências e o reconhecimento entre elas. Cismas,
divisões entre as Potências, ou talvez entre os dirigentes de cada Potência ou Loja, têm levado à
desintegração da Maçonaria em muitos países. Há, ainda, interesses econômicos.
Existem vícios, amarras, bloqueios, aprisionamentos sociais, vaidades que não sabemos
exatamente de onde e como iniciaram, mas que funcionam como verdadeiras patologias dentro da
Ordem. Elas fazem parte dos Maçons e não do nosso sistema organizacional.

DESAFIOS: PROPOSTAS e ALTERNATIVAS

Que alternativas podemos propor para que a Maçonaria possa desafiar e mudar o curso
desta tendência e ao mesmo tempo não perca o seu norte, para que possa resgatar não só a sua
lembrança, mas toda a sua essência?
Estas alternativas são multifatoriais, mas temos que analisar a existência de três fatores
principais: Organização Administrativa, Aquisição e Retenção.

1 - Organização administrativa:
Todo o emaranhado da regularidade maçônica e o reconhecimento mútuo entre todas as
Potências terá que chegar a uma solução, evitando os extremos absolutos e absurdos contrários aos
nossos preceitos e interesses da Maçonaria Mundial.
Precisamos de uma Maçonaria precisa, coesa, objetiva, solidária, única e progressista, que
faça os Maçons gostarem de ir para as Lojas e nela trabalhar, que possa trazer para a sociedade um
conceito que permita a um Profano ter orgulho em ser convidado.
Precisamos destruir dentro da Maçonaria as patologias administrativas, como as vaidades, a sede
de poder e outras. Quem sabe com menos medalhas e honrarias e mais atitudes, deixar de pensar apenas
na sobrevivência das Lojas e dos Maçons para pensar que a Maçonaria pode ser fecunda e produtiva de
modo infinito, assim como é o conhecimento, alcançando resultados que possam ser vistos e sentidos.

88
Hoje os líderes devem estar perto dos seus Obreiros e ouví-los, porque estes querem ser
partícipes privilegiados em opinar em todos os segmentos de sua instituição.
Temos que trocar a competição pela cooperação e a repetição pela inovação, onde todos
os que são Maçons se sintam atores e não simplesmente espectadores.

2 - Iniciação - Aquisição:
Deve ser, no meu ponto de vista, o “carro-chefe” para recuperar a Maçonaria. A indicação,
o convite, a sindicância e a Iniciação do candidato devem ser muito criteriosas e rigorosas. Nos
Estados Unidos foram feitas Iniciações “à granel” e o resultado foi péssimo, com um aumento do
número de Obreiros mas sem resultado positivo e, como consequência natural, houve um aumento
das desistências.
É importante questionar ao Profano: o que pensa e que imagem tem da Maçonaria? Quais
suas expectativas? Importante nos questionarmos: o que a Maçonaria espera do Neófito?
Precisamos atrair elementos de valor à Ordem para capacitar e qualificar as nossas
colunas, procurar trabalhar na formação de líderes jovens e vigorosos, recrutar e iniciar verdadeiros
Obreiros, e não simplesmente fazer Iniciações para aumentar o número de irmãos.
Cada indivíduo é único e tem diferentes aspirações, mas independentemente disto deve ser
livre e de bons costumes e enquadrar-se dentro dos preceitos e regras maçônicas.
A Iniciação deve ser levada a efeito com o coração e sem erros, com rigor na ritualística,
para que o candidato a sinta e, posteriormente, a entenda.

3 - Retenção:
Temos que nos questionar em como manter nossas Lojas atrativas para as gerações jovens.
O que podemos oferecer ao jovem Iniciado para que ele se sinta feliz dentro da Ordem? Que
medidas tomar para que o Iniciado não se torne apenas “mais um” dentro da Ordem, e sim, um
Iniciado a quem a Maçonaria cativou e “entrou” dentro dele?

# Educação:
Há irmãos atraídos pelos misteriosos simbolismos da Ordem e seus ensinamentos.
Há irmãos que estudam mais, recorrem às bibliotecas, procuram esclarecer os mais
diferentes assuntos dentro da Ordem para melhor conhecê-la, o que leva ao crescimento e
desenvolvimento da Maçonaria e do indivíduo.
Há irmãos que se importam mais com a ritualística, que cumpre uma função insubstituível,
embora a repetição, sem a reflexão sobre o seu significado, não tem valor.

89
Há irmãos que se interessam mais pelo aspecto social, considerando ser este o maior
fundamento da Maçonaria, incluindo a beneficência, atividades sociais, ágape, etc.
Todos estes irmãos podem sim ser valorosos Maçons e a Loja deve satisfazer às necessidades
e aspirações de todos os irmãos, compreendendo e tolerando a cada um com suas características,
mas entendo que os irmãos podem e devem ser mais cobrados em relação às suas atividades na
Maçonaria, evitando o individualismo e o hedonismo.
Os objetivos da Maçonaria não mudaram, mas podem e devem mudar os meios. Podemos
utilizar as novas tecnologias para aprimorar a educação e instrução oferecidas.
Devemos comunicar ao irmão quais expectativas que a Maçonaria tem dele, instituir
medidas para verificar a sua satisfação ou descontentamento, bem como avaliar o seu progresso
dentro da Ordem.
Precisamos manter esforço constante de educação e instrução, transitar pelo caminho da
comunicação humana, educar para extrair ou fazer conscientes os conceitos maçônicos e instruir
para que possamos evoluir.
Temos que trabalhar a educação e a disciplina, de forma que cada irmão seja solidário,
presente na Loja e, quando convocado, não se sinta obrigado e sim, sinta a importância e o quanto
é prazeroso se doar.
Tudo isto é educação, que inicia na orientação ao Profano, especialmente ao postulante ao
ingressar na Loja e aos recém Iniciados, mas também aos Mestres mais antigos, lembrando que
somos eternos Aprendizes.
Precisamos estimular a evolução dos estudos nos graus 4 a 33, lembrando que o nosso
jovem não tem paciência para esperar 15 anos para chegar ao topo. É possível instituir um sistema
onde cada irmão é avaliado individualmente para acelerar este processo? Certamente há estudiosos
que poderiam chegar a graus mais elevados em menor tempo, mas resolveria os problemas em
questão?
Devemos pensar educação no aspecto externo, como ocorreu em alguns países, com criação
de escolas, publicação de artigos e revistas, seminários e atos públicos, difusão dos programas em
rádio, televisão e Internet.
Devemos planejar a educação no aspecto interno, com programas de trabalhos para as
Lojas e graus superiores, com seminários, Lojas de pesquisas, etc.

# Presença da mulher:
Devemos criar Lojas femininas ou mistas? Este assunto é sempre controverso, porque a
maioria das Lojas são masculinas, conforme princípios básicos estabelecidos pelas Grandes Lojas

90
da Inglaterra, Escócia e Irlanda, que dizem: “somente homens são admitidos na Grande Loja e
nenhuma de suas Lojas deverá se relacionar com Lojas Mistas ou Femininas”.
Elas já existem em função do avanço da mulher principalmente no Ocidente, buscando a
igualdade de direitos proclamada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Já ocorreram
vários congressos e/ou reuniões Maçônicas de caráter internacional onde as Lojas mistas e
femininas foram convidadas e representadas.
De qualquer forma, dar uma solução para o papel da mulher é importante. Elas normalmente
participam de eventos como esposas/cunhadas e talvez, no mundo moderno, aproximar a mulher das
Lojas, exercendo benemerência e trabalhos sociais, acompanhando os irmãos, poderia aproximar
mais ainda o Maçom da sua Loja.
Incorporar as nossas esposas na vida da Loja de modo que elas se sintam parte do todo e
não se sintam do lado de fora, tornando a Loja até um assunto de família, tem contribuído para a
diminuição da perda de Obreiros.

# Transparência:
Precisamos evoluir diante de uma Maçonaria aberta, transparente e universalista,
logicamente mantendo o “segredo maçônico”, referindo-se aos meios de reconhecimento, sinais
e toques, rituais, etc., porque a nossa filosofia está ao alcance de qualquer indivíduo. O público
não maçom, com o avanço da tecnologia e metodologia, com a comunicação virtual e com livros
em bibliotecas públicas e livrarias, tem ao seu dispor inclusive imagens e símbolos maçônicos. A
Maçonaria não pode escapar da sua exposição.
A Internet, como uma ferramenta ou um instrumento de publicidade e de educação, não
tem nada semelhante na história e auxiliaria a divulgar a Maçonaria e desmistificá-la de conceitos
maléficos à Ordem. Seria um estímulo a uma educação laica ou leiga (laicismo), ao estudo filosófico
e ao liberalismo.

# Inovar:
O formato de uma Loja tradicional leva a mesma apenas à sobrevivência; continuamos
com o mesmo produto desenvolvido, inventado e decodificado pelos nossos ancestrais operativos
e, após, os especulativos. Precisamos investir na imaginação e no pensar de cada Obreiro. A
Maçonaria sofreu modificações no século XVIII e em outras oportunidades, então porque não
readaptá-la também ao terceiro milênio?

91
Quando as Lojas só se alimentam de números e de trabalhos repetitivos dentro dos três
graus se tornam chatas e enfadonhas para trabalhar e estão acarretando em diminuição do número
de obreiros e na mera sobrevivência.
Há a necessidade de desafios maiores para que os Maçons possam dirigir suas energias
pela causa maçônica. O trabalho maçônico é a maneira que os Obreiros escolheram para participar
do mundo e a contribuição de cada um é que precisa ficar clara para que todos os que trabalham
na Sublime Ordem se sintam “atores” e “não espectadores”, diminuindo o risco de passarmos a ser
um “clube de serviços” ou um “clube social”.
Necessitamos ver a Maçonaria como uma fábrica de produtos para desenvolver e oferecer
à sociedade, como forma de contribuição para o progresso e desenvolvimento da humanidade.
Precisamos criar alternativas de auxílio e benemerência que não envolva somente
contribuição financeira, uma vez que a nossa economia está em crise; criar formas de trabalho e
auxílio à sociedade onde se possa disponibilizar de algum tempo de nossa vida profana. Isto traz
um sentimento de que a Maçonaria e o Maçom são úteis e até necessários para a sociedade.
Devemos manter um Planejamento Estratégico Motivacional para promover a união, que ajude
os Obreiros a reconhecer situações falíveis, com uma preocupação saudável com o erro, estimulando a
criação de Escola de Conhecimento. Uma Loja onde existem grupos é Loja desmotivada.

# Tradição Esotérica:
É o que nós temos de diferente para oferecer. A fraternidade e a irmandade existem em
várias outras instituições, ou fora delas, mas somos uma filosofia, não religião, porém mais tolerante
que qualquer religião. Temos uma tradição de ensinamentos por símbolos, somos uma academia
como nenhuma outra, com um currículo que traz a essência das melhores ideias filosóficas que
orientaram a educação da civilização ocidental.

# Ritualística:
A Ritualística em muitos momentos pode ser enfadonha e cansativa, mas é muito importante
e sem ela a Maçonaria poderia desmoronar. Mas não é suficiente, é preciso entendê-la. O tempo
“perdido” na ritualística da Loja tem dois propósitos. O primeiro, é lembrar de que a nossa Loja
não é simplesmente outro clube, reunimo-nos em um local consagrado, o Templo Maçônico, que
simboliza o centro do universo. O segundo, é termos um tempo para sossegar, para pararmos de
pensar na desordem e nas batalhas sem fim no mundo profano.
A repetição exaustiva do ritual nos permite liberar a mente para o trabalho maçônico, o
que deve ser mantido, embora possa também ser rediscutido.

92
CONCLUSÃO

A Maçonaria atual pode e deve cumprir uma função insubstituível na sociedade


contemporânea, promovendo a tolerância, a educação, a liberdade de consciência e todos os
direitos humanos proclamados por nossos antepassados Maçons. Somos investigadores livres, em
pensamentos e ações, com ideias e ideais.
A Maçonaria, mantidos os seus princípios, fundamentos e principalmente a sua essência,
deve ser ajustada ao momento e à conjuntura do Terceiro Milênio. Podemos ser um paradigma
para o mundo, pela forma de pensar, agir, criar e desenvolver, tentando alavancar um crescimento
quantitativo e qualitativo de sucesso radical.
A Maçonaria deve brotar, fecundar, crescer e desenvolver dentro de cada Obreiro, deve se
encontrar dentro de cada Maçom e não ser recebida como coisas acabadas e aceitas, finais, conclusivas
ou dogmáticas. Os Maçons não podem se encantar com coisas fáceis, conhecimentos restritos aos
rituais.
A Maçonaria brasileira vem se autoafirmando sobre dois pilares importantes: a fidelidade de
seus Iniciados e a experiência adquirida ao longo de sua existência, enquanto que o seu presente e o
seu futuro estão a depender da inteligência e da capacidade daqueles que a dirigem hoje e dos que
futuramente vierem a dirigí-la.
Podemos ter um bom futuro, sim, mas muitas dificuldades devem ser pensadas para que
sejam vencidas e ultrapassadas. É muito estimulador saber que é possível vencer as barreiras mais
desafiadoras. Isto depende de grande esforço, dedicação, atuações de forma exemplar e talento de
todos os Obreiros para tornar algo possível.
Podemos, quem sabe, voltar a atuar de forma exemplar, como muitos irmãos em muitas
situações políticas e sociais que ocorreram nos últimos séculos, e enfrentar os problemas que advém
com decisão, com esforço, com espírito elevado, seguindo todos os preceitos da nossa Ordem.
Devemos ser Maçons “por convicção” e “não por conveniência”, como diz o nosso irmão
Flávio Tavares.

“Quem aprende os ensinamentos da vida, torna-se Mestre na arte de ser Aprendiz.”


(Vaine Dande)

Escreve Léon Zeldis:


“Iniciar-se leva minutos; Ser Maçom leva-se uma vida inteira aprendendo e entendendo
para sê-lo”.

93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ZELDIS, León – Antígas Letras – Editora Maçônica “A Trolha”, Londrina, 2006


SCHULER SOBRINHO, Octacílio – O Desafio das Mudanças – Editora Maçônica “A Trolha”,
Londrina, 2004
SPOLADORE, Hércule – Noções de Realismo Fantástico Aplicadas à Maçonaria – Loja de
Pesquisas Maçônicas Brasil, Londrina
SPOLADORE, Hércule – Modelos de Maçonaria – Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil, Londrina
PRATES Jr, José Antônio – O Futuro e a Maçonaria – Baseada em palestra do Gran Mestre da
Grande Loja de Espanha, Ir.’.Josep Corominas y Busqueta Porto Alegre, 2004
CHAME, Roberto Rabat – A Maçonaria do Presente e do Futuro – Artigo de 2013
ZELDIS, Léon – O Futuro da Maçonaria: Desafios e Respostas Montefiore Lodje 78 da Grande
Loja do Estado de Israel, 2010
SPOLADORE, Hércule – Maçonaria: Passado, Presente e Futuro – Loja de Pesquisas Maçônicas,
Londrina

Caxias do Sul, 19 de junho de 2016.

Ir∴ André Chiaradia, M∴M∴


Loja de Pesquisas Gênesis – Caxias do Sul
A∴R∴L∴S∴ Fraternidade V – Caxias do Sul

94
Educação:
Um pouco de história.

Nestor Basso

O dicionário de filosofia, no verbete educação diz: “em geral, designa-se com esse
termo a transmissão e o aprendizado das técnicas culturais, que são técnicas de uso, produção e
comportamento mediante as quais um grupo de homens é capaz de satisfazer suas necessidades,
proteger-se contra a hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto, de modo
mais ou menos ordenado e pacífico. Como o conjunto dessas técnicas se chama cultura, uma
sociedade humana não poderá sobreviver se sua cultura não for transmitida de geração para
geração; as modalidades ou formas de realizar ou garantir essa transmissão chamam-se educação”
(Abbagnano, Nicola, 5ª ed. SP, Martins Fontes, 2007, pg, 357).
Segundo o abrangente texto de Abbagnano, acima: uma sociedade humana não poderá
sobreviver se sua cultura não for transmitida de geração para geração.
A sociedade humana sobreviveu por séculos, já, e veremos, a seguir, um pouco da história
da educação que a trouxe até aqui.
Ao longo da História, a educação se volta para o ensino, a aprendizagem e a construção
de conhecimento que promove o crescimento e o desenvolvimento da pessoa em sua totalidade,
abrangendo, também, a formação humanística e profissional.
No Egito antigo - considerado o berço da civilização atual - encontram-se registros do
processo educacional (seriam os registros mais antigos do processo educacional já encontrados).

95
Para os egípcios, a educação tinha caráter hereditário: “pais passavam o conhecimento aos
filhos e o mestre escriba para o discípulo” (MANACORDA, 2000, p.11). Havia preocupação com
a transmissibilidade do conhecimento. Para a classe dominante, a educação contemplava o falar
bem e a educação física. Destinava-se a preparar o homem para a vida política, para o exercício do
poder. As classes dominadas eram instruídas nas técnicas da produção. Seu treinamento era para o
saber fazer; um treinamento específico para o trabalho; não lhes era dado acesso aos saberes das
classes dominantes.
Além da Educação física, do falar bem e do treinamento para o trabalho/produção, os
egípcios cuidavam de outros estudos: escrita, aritmética (matemática), geometria, agrimensura e
conhecimentos de botânica, zoologia, mineralogia e geografia.
A Grécia, tida como o berço da civilização ocidental, apresenta aspectos da civilização
egípcia. Conforme Manacorda, encontramos antes de tudo, a separação dos processos educacionais
segundo as classes sociais. Para as classes governantes uma escola, isto é, um processo de educação
separado, visando preparar as tarefas do poder, que são o pensar ou o falar (isto é, a política) e
o fazer a esta inerente (isto é, as armas); para os produtores, governados, nenhuma escola
inicialmente, mas só um treinamento para o trabalho.
Apesar da aparente inferioridade do ensino para o trabalho, pois, para os gregos, trabalho
é ocupação da classe inferior e escravos, há passagens na história da Grécia antiga em que lhe é
dada ênfase. Platão, por intermédio de Protágoras, nos fala que Hesíodo, no poema “Os trabalhos
e os dias”, diz: quem vive sem fazer nada, deuses e homens o rejeitam com cólera. Platão fala
também que trabalho não é vergonhoso, vergonhoso é a preguiça (MANACORDA, 2000, p. 45).
De acordo com os costumes correntes na Grécia antiga, onde a educação se distinguia por
classes sociais, as elites, homens livres, a tem como fim. Na educação dessa classe, Aristóteles
exclui toda a disciplina que objetiva o exercício profissional: o homem livre deve visar à própria
cultura; para o escravo, o treinamento (MANACORDA, 2000, p. 57).
Por falar em treinamento, Manacorda escreve: “Podemos acrescentar que na Grécia aparece
o costume de os patrões treinarem escravos em determinadas profissões, através de verdadeiras
escolas.” E, disso conclui que a “instrução profissional nasce da instrução servil”. Tendo, destarte,
de trilhar longo caminho para alcançar “sua verdadeira dignidade”(MANACORDA, 2000, p. 72).
O estudo do sistema educacional na civilização romana aponta que “os testemunhos
históricos referem-se às classes dominantes, ignorando quase totalmente as classes produtoras e
subalternas”(MANACORDA, 2000, p. 74). Isso significa dizer que, tal como na civilização grega,
a educação em Roma destaca as classes dominantes. O historiador Tácito diz que era tratada com

96
a mais rígida disciplina e visava a que a natureza de cada um, espontânea e não corrompida pela
malícia, se dedicasse desde cedo, com toda sua força, a atividades decorosas, e que cada um, de
acordo com a inclinação manifesta, se dirigisse à atividade militar ou à jurisprudência, ou para o
estudo da eloquência, se a ela se dedicasse e o fizesse plenamente (MANACORDA, 2000, p. 75).
No processo educacional de preparação do filho, Juvenal dá destaque à figura do
pai dizendo que seria “um bem para ele ter dado um cidadão à pátria e ao povo, se ele
for devoto à pátria, útil nos campos e capaz de realizar empreendimentos de paz e guerra”
(MANACORDA,2000, p. 76).
Enquanto às classes dominantes era dada a educação para as artes nobres, às classes
subalternas é deixado o exercício de todas as atividades menos nobres. Assim como na Grécia,
em maior escala funcionavam, em Roma, escolas para treinamento de escravos em determinadas
profissões. Diferentemente da Grécia, onde o trabalho manual tinha sido radicalmente desprezado
e oposto ao ideal de vida contemplativa (visto como o mais próprio do homem livre), e por isso
confiado aos escravos, em Roma “os artesãos foram e permaneceram predominantemente homens
livres ou libertos e entre eles se desenvolveu com muita força a ideologia do trabalho (FRASCA,
apud CAMBI, 1999, p. 115). O trabalho desses artesãos são técnicas ligadas, num primeiro
momento, ao exército e à agricultura, depois ao artesanato, e por fim ao artesanato de luxo e
em vasta escala, que vai se complicando e sofisticando e reclamando também locais para suas
especificidades: primeiro na oficina, depois junto a instituições de formação profissional ligados a
uma formalização das artes” (CAMBI, 1999 p.115). Aí constitui-se o paedagogium, “a primeira e
verdadeira escola de formação profissional”, completa Cambi.
Na Idade Média e no Feudalismo, continua a diferenciação de classes no processo educacional.
“As classes baixas recebem pouca ou nenhuma instrução, a não ser a instrução indispensável para o
exercício da profissão” (GILLES, 1987, p. 65). Aranha torna mais clara a instrução para o exercício
da profissão, dizendo que “os homens libertos se ocupavam com diversos ofícios: alfaiate, ferreiro,
boticário, sapateiro, tecelão, marceneiro, etc.” (ARANHA, 2001, p. 78). Adiante, diz que aparecem
as corporações de ofício, que passam a controlar as atividades manufatureiras. “Para alguém possuir
uma oficina precisa dispor de economias e provar, na corporação, que é capaz de produzir uma obra-
prima em sua especialidade”(ARANHA, 2001, p. 79). Nesse período histórico, os aprendizes passam
a trabalhar com os mestres para aprender o ofício. Vivem na casa do mestre, sem ônus pecuniário; ele
os alimenta e lhes ensina as artes de seu ofício. Quando julgados prontos prestam um exame para se
tornarem companheiros ou oficiais. Então podem estabelecer-se por conta própria ou trabalhar para
terceiros, com remuneração. E, assim, a História vem mostrando a evolução das sociedades e seus

97
aspectos educacionais tanto para as elites (ou classes dominantes, detentores do poder) quanto para
as classes “inferiores”, às quais cabia o trabalho, sistematicamente identificado como tarefa menos
nobre.
Na Idade Média a Educação tem grande influência religiosa com presença de Escolas
Paroquiais, Monásticas e Palatinas (para filhos de nobres). As Universidades atuam em ensino,
pesquisa, produção de conhecimentos, reflexão e debates... Nesse período o Currículo Básico
compreendia: Gramática, Dialética, Retórica, Geometria, Aritmética, Lógica, Música, Astronomia,
Latim e Filosofia.
Passando pela Idade Moderna, continua-se na lógica do provérbio: fazendo aprendemos
a fazer. Assistimos ao processo de definhamento da era feudal e a ascensão da burguesia.
Surge o capitalismo. O comércio e a manufatura tomam corpo. “Os artesãos de produção
doméstica começam a perder para os capitalistas seus instrumentos de trabalho e, reunidos em
galpões onde nascem as futuras fábricas, passam a receber salário” (ARANHA,2001, p. 104).
Para esses, a educação continua na modalidade do “aprender a fazer”. A produção passa a ser mais
“massificada”, mas ainda em condições e em ambientes de certo modo degradantes.
Na Idade Moderna, Galileu introduz a matemática e a geometria como linguagens da
ciência e o teste quantitativo experimental – verdade, cientificidade; é o tempo das grandes
navegações; da reforma protestante; do absolutismo: grandes reis, novos padrões políticos,
unificação de estados – elemento constituinte dos Estados Modernos. É também o tempo da
Revolução Industrial – nascedouro do capitalismo moderno e do Iluminismo cujo propósito é
“iluminar as trevas em que se encontravam os homens”. O homem deveria ser o centro e passar a
buscar respostas para as questões que, até então, eram justificadas somente pela fé. Estabelecia a
prevalência do racionalismo (razão) sobre o teocentrismo e a crença no progresso do homem pela
ciência – cientificismo. É também o tempo do Renascimento: o homem altera seus conceitos e
interpretação do mundo, novos questionamentos, novos conhecimentos...
A Idade Contemporânea caracteriza-se por acelerado desenvolvimento tecnológico,
acelerada e intensa evolução científica, grande surgimento de Escolas e Universidades, avanços
espetaculares na cibernética e profusão de literatura na área de Educação e nas demais áreas.
Simultaneamente aos acelerados desenvolvimentos tecnológicos e científicos e grande
aumento de universidades e escolas, nessa Idade deu-se também a consolidação do processo
industrial, a formação de grandes centros urbanos, o desenvolvimento do mercado, o surgimento
de grandes potências e grandes disputas.
Daqui em diante consideramos, especificamente, o Brasil – país descoberto no alvorecer
da Idade Moderna.

98
Em 1500, portugueses, liderados por Pedro Álvares Cabral, chegam a uma terra que
chamam de Ilha de Vera Cruz, passa para Terra de Santa Cruz e, finalmente, Brasil. Nessa terra
encontram muitas belezas naturais, matas, um povo que andava naturalmente nu, e que se constituía
de “um número significativo de etnias, portadoras de múltiplos costumes” (VEIGA,2007, p. 50).
Inicia-se o processo de colonização portuguesa do Brasil.
Nos primeiros dias do Brasil colônia, o processo de colonização foi de ocupação e fixação
dos “exploradores” nas novas terras. Sua preocupação essencial era voltada, de imediato, para os
aspectos econômicos extrativistas e, nessa perspectiva, deu-se intensa extração de pau-brasil e
busca por metais preciosos. Para o exercício dessas atividades era necessária apenas a força bruta,
cuja demanda foi originalmente suprida com mão de obra escrava, “arrancada” dentre os povos
indígenas. A ela agregaram-se, posteriormente, os negros trazidos da África.
Em 1549 chega ao Brasil Tomé de Souza, primeiro governador geral e, juntamente
com ele, vêm os clérigos da Companhia de Jesus que, como diz Aranha, apenas 15 dias depois
faziam funcionar, na recém-fundada cidade de Salvador, uma escola “de ler e escrever” (2007, p.
140). O plano educacional dos Jesuítas, na “fase heroica” (1549-1579), conforme a cronologia
da educação no Brasil, que refere Aranha, incluía a aprendizagem de ofícios mecânicos ao lado
do ensino propriamente intelectual. O ensino voltado para a ilustração do senhorio colonial,
porém, preponderou. E “o ensino de ofícios, mesmo entre os jesuítas, seguiu sendo assimétrico”
(CASTANHO, 2008, p. 5).
Aos moldes do que ocorria na metrópole, aqui também se implantam as corporações de
ofícios. Aqui, como lá, mestres artesãos ensinam ofícios a aprendizes que, após o domínio das
habilidades operacionais, submetem-se a exames. Uma vez habilitados, podem estabelecer-se e
tornar-se membros dessas corporações, tal como era o padrão de comportamento no já passado
período medieval.
De modo geral, no Brasil colônia, à educação é dada pouca ênfase. O ensino direcionado
para os aspectos profissionais é um difícil e lento processo. Por outro lado, se erige importante
estrutura para o ensino das letras, voltado “para os filhos dos principais”, conforme afirma Paiva.
Para esses e para a formação dos quadros da Companhia de Jesus se consolida uma “soberba
estrutura escolar” com planos de estudos que abrangem as letras, a filosofia, as ciências e a
teologia. Nessa textura escolar, “o colégio plasmava o estudante para desempenhar, no futuro,
o papel de vigilante cultural, de forma que a prática, mesmo desviante, pudesse ser recuperada”
(PAIVA, 2007, p. 49). Era a adesão à cultura burguesa, a reprodução do modo de pensar do centro
do Império. Para os índios e a escravaria, mesmo os libertos e os desprovidos de posses, apenas

99
o fazer, os ofícios, o trabalho de construção manual, conhecimento aprendido com os mestres nas
oficinas ou na prática em fazendas e engenhos.
Assim, o período do Brasil colônia, sem maiores mudanças em sua estrutura socioeconômica
cultural e apresentando um grande e incipiente processo industrial, se aproxima dos anos oitocentos.
Nesse contexto, em 1808, o reino português se instala no Brasil.
Dom João VI, imperador, para “atender às demandas de mão de obra, verificadas a partir
da permissão da implantação de novos estabelecimentos industriais”, em l809, cria o Colégio
das Fábricas (SANTOS, 2007, p. 207-208). O colégio tinha caráter assistencial, e sua finalidade
explícita era “abrigar órfãos trazidos na frota que transportou a família real e sua comitiva para
o Brasil”. Diz Santos que essa instituição serviu de referência para as unidades de ensino
profissional que vieram a se instalar no Brasil. O padrão utilizado inicialmente foi o de ensino
de ofícios, em geral fora do estabelecimento (no cais, no hospital, nos arsenais militares ou da
marinha). Mais tarde a aprendizagem de ofícios passou a ser ministrada no interior do próprio
estabelecimento, ao que, posteriormente, foi acrescido o ensino das primeiras letras, seguido de
todo o ensino primário (SANTOS,2007, p. 208).
Mesmo com a retomada do processo de industrialização que, com a expedição do Alvará
de 1785 recebera o golpe final, o ensino para o trabalho não prosperou muito. Apenas a partir de
1826 se trabalhou no sentido de dar uma nova orientação à aprendizagem de ofícios (SANTOS,
2007, p. 209). O ensino foi estruturado em diferentes graus, para diferentes finalidades.
Em 1858, é criado o Liceu de Artes e Ofícios no Rio de Janeiro, que objetiva “propagar e
desenvolver pela classe operária a instrução indispensável ao exercício racional da parte artística e
técnica das artes e dos ofícios industriais” (SANTOS, 2007, p. 210). Em 1873, instituição similar
é criada em São Paulo e opera com pequenas variações, na mesma perspectiva de sua congênere
do Rio de Janeiro.
No contexto das mudanças do século XIX, é fundamental destacar que ocorreram
grandes transformações econômicas, sociais, políticas e culturais. “O desenvolvimento da grande
indústria na Europa provocou uma revolução nas forças produtivas do capital, bem como no
mercado mundial” (MACHADO, 2005 p. 91). O Brasil precisa modernizar-se para acompanhar as
mudanças. Ocorrem transformações na ordem civil e levantam-se debates sobre a necessidade de
escolas para as classes populares a cargo do Estado. Vários projetos são apresentados. Destaca-se o
Decreto 7.247, de 1879, de Leôncio de Carvalho que, dentre outros aspectos, traça disposições que
deveriam ser observadas nos regulamentos das instituições e dos procedimentos na área do ensino
já existentes e postula o ensino livre, com livre frequência, desatrelado do ensino religioso. Para

100
o autor do projeto, a educação deveria ter caráter obrigatório, e o ensino, nas escolas primárias,
deveria ser dividido em dois graus, com duração de quatro anos. Estabelecia, também, conteúdos
para as faculdades de Direito e de Medicina, para Escolas de Farmácia, para o Curso Obstétrico e
de Odontologia, como destaca Machado (2005).
Rui Barbosa, membro da comissão que deveria relatar o Decreto de Carvalho, empreendeu
um cuidadoso estudo e apresentou seus pareceres com muitos destaques importantes. Defendia a escola
pública, obrigatória e gratuita e acreditava que “seu plano atendia às necessidades do povo, e a reforma
do ensino proposta procurava preparar a criança para a vida em sociedade. O objetivo principal deveria
voltar-se para a formação de cidadãos úteis à pátria” (MACHADO, 2005, p. 98-100). Segundo Moacyr,
esses pareceres/projetos também ficaram no “mofo dos arquivos” (1937, p. 937).
Ainda cabe ressaltar que o ensino de ofícios, quer pelo estado quer pela sociedade civil,
“foi orientado basicamente por uma ideologia que se fundamentava, dentre outros aspectos, em
conter o desenvolvimento de ordens contrárias à ordem pública” (SANTOS, 2007, p. 211). Nessa
perspectiva se visava a inviabilizar que acontecesse aqui o que vinha acontecendo na Europa, ou
seja, fortes movimentos dos trabalhadores no campo das relações entre capital e trabalho.
O advento da Proclamação da República em 1889 abre portas para uma nova fase na
formação de mão de obra. Os clamores pela industrialização são intensificados, e o pensamento
industrialista se converte também em clamores educacionais. Diante disso, Nilo Peçanha,
considerado o fundador do ensino profissional no Brasil, cria 19 escolas de Aprendizes e Artífices
custeadas pelos estados, municípios e pelas associações particulares, subvencionadas pela União.
Essas escolas, inauguradas em 1910, formaram a rede Escolas de Aprendizes e Artífices. O modelo
foi se consolidando e mais tarde veio a constituir a Rede de Escolas Técnicas do Brasil.
A partir de 1930, os grupos que apoiaram Getúlio Vargas fizeram opção pelo modelo de
desenvolvimento calcado na industrialização em larga escala. Decorrente disso, “intensifica-se o processo
de expansão industrial com base na substituição das importações” (SANTOS, 2007, p. 215).
O sentido da educação se robustece face às novas necessidades. Em cima dessa esteira de
necessidades e demandas, em 1930 é criado o Ministério da Educação e da Saúde.
Em 1942, o governo Vargas cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)
em convênio com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Administrado pela CNI, o Senai
implementa cursos de curta duração, com foco na preparação de jovens aprendizes para as indústrias,
e cursos de educação continuada para aperfeiçoamento de quem já estivesse trabalhando.
Durante o Estado Novo, Gustavo Capanema estrutura o sistema oficial de ensino industrial
e define sua organização.

101
O ensino industrial, com a ênfase que vinha recebendo, por um lado criava oportunidades
para jovens assimilarem as habilitações necessárias às atividades profissionais e, por outro, lhes
proporcionava certa discriminação frente aos alunos dos cursos secundários tradicionais. Essa
discriminação é resquício que vem desde o Brasil colônia e desde o Império, quando o ensino dos
ofícios e das artes manuais era destinado a órfãos, escravos e desprovidos. Mais adiante, em 1961,
a equivalência entre Ensino Industrial e Secundário para a possibilidade de ingresso no Ensino
Superior veio a elidir o desprestígio do primeiro em relação ao segundo.
A reforma de 1971 dos cursos técnicos federais, promovidos pelas escolas industriais
da rede federal, transformou essas escolas em Escolas Técnicas Federais, com cursos superiores
de Engenharia, em alguns casos. Fruto disso, as “novas” escolas passaram a gozar de grande
prestígio no meio empresarial. Os técnicos por elas preparados são recrutados pelas empresas
quase sem restrições. E, fruto desse reposicionamento qualitativo, o crescimento da procura, e
consequentemente das matrículas, se deu de forma acelerada e natural.
Nos anos 80, até meados dos 90, intensificam-se debates em torno de mudanças na
educação, inclusive da educação profissional. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9.394, de 1996,
abriga uma diretriz que prevê que, “atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para
o exercício de profissões técnicas”, possibilitando assim que o aluno que fez o Ensino Médio faça
opção pela carreira técnico-profissional (SANTOS, 2007, p. 221).
Santos aponta, textualmente, que na virada do século XX a situação não é diferente. Uma
das finalidades da atual política educacional, quer no ensino médio quer no profissional, é a de
qualificar a força de trabalho para o exercício das funções exigidas para diversas ocupações na
produção, sendo que a qualificação deve ser compatível com a complexidade tecnológica que
caracteriza o mundo do trabalho nos dias atuais (SANTOS, 2007, p. 222).
Hoje, o MEC, no seu projeto político, trata a educação profissional como um “subsistema
de ensino” (BERGER FILHO, 1997).
Vista a contextualização histórica da Educação, do Egito antigo aos dias atuais, com maior
detalhamento no processo educacional brasileiro, fica evidente que ela não é um produto/processo
“pronto” e pode-se dizer, com certa segurança, que nunca será. Novos conhecimentos, novos
métodos e novas tecnologias conduzem a “sociedade humana” à busca constante e sucessiva de
mais conhecimentos, novas metodologias e novas produções tecnológicas.
A Educação é um processo em contínua transformação. Nem um conceito único, definitivo,
pode ser formulado. Como dizem Brunner e Zeltner (1994, p. 88), “a discussão sobre o conceito de
educação leva a grandes controvérsias e as definições conhecidas diferem consideravelmente entre

102
si”. “Nas sociedades modernas ela é sinônimo de vida, modo de ser, de criar e recriar o mundo.
Ela se identifica com as relações sociais e de produção, com os costumes e comportamentos de
indivíduos e da coletividade. Envolve todos e tudo. Em nossa sociedade, a educação em geral e a
educação escolar particularmente impõem-se como algo necessário para a sobrevivência do grupo
e da própria sociedade,” (PAVIANI, 2005)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. da 1ª. edição brasileira coordenada e revista
por Alfredo Bossi; rev. da trad. e trad. dos novos textos Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: M.
Fontes, 2007.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. São Paulo: Moderna, 2007.
BERGER FILHO, Ruy Leite. Construindo a educação profissional. Brasília: MEC, 1977.
Mimeografado.
BRUNNER, Reinhard; ZELTNER, Wolfgang. Dicionário de psicopedagogia e psicologia
educacional. Petrópolis: Vozes, 1994.
CAMBI, Franco. História da pedagogia. Trad. de Álvaro Lorencini. São Paulo: Ed. da Unesp,
1999.
CASTANHO, Sérgio. Educação e trabalho no Brasil colônia. Unicamp. Disponível em: <http://
www.histedbr.fae.unicamp.br>. Acesso em: 21 jul. 2008
FRASCA, apud CAMBI, Franco. História da pedagogia. Trad. de Álvaro Lorencini. São Paulo:
Ed. da Unesp, 1999.
GILLES, Thomas Ranson. História da educação. São Paulo: EPU, 1987.
MACHADO, Maria Cristina Gomes. O decreto de Leôncio de Carvalho e os pareceres de Rui
Barbosa em debate: a criação da escola para o povo no Brasil do Século XIX. In: Maria Stephanou,
Maria Helena Câmara Bastos (Org.). Histórias e memórias da educação no Brasil. Petrópolis:
Vozes, 2005. v. II.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação. São Paulo: Cortez, 2000.
MOACYR, Primitivo. A instrução e o império: subsídios para a história da educação no Brasil,
1850-1857. São Paulo: Nacional, 1937. v. 2.
PAIVA, José Maria de. 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
PAVIANI, Jayme. Problemas de filosofia da educação. Caxias do Sul: Educs, 2005.
SANTOS, Jailson Alves dos. 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

103
Espiritualidade

Fabio Scuro

Por que a vida é repleta de desafios? A vida é obra do acaso ou existe sentido no
viver? Existem razões para que o sofrimento esteja presente em nossa vida? Quem e o que
somos? Deus existe?
A espiritualidade nos ensina, segundo Deepak Chopra, que a vida não é aleatória.
Há um padrão e um objetivo em cada existência. O motivo pelo qual enfrentamos desafios
é simples: aumentar a consciência do nosso objetivo interior. Quando expandimos nossa
consciência é possível começar a responder a estas e outras perguntas.
Na visão do filósofo Mário Sérgio Cortella, a espiritualidade é a capacidade de
perceber que as coisas não são um fim em si mesmas. Existem razões mais importantes
que o imediato, e aquilo que você faz tem um sentido, um significado. Para ele, o desejo
por espiritualidade é um sinal de descontentamento muito grande com o rumo que muitas
situações vão tomando e, por isso, é uma grande queixa. A espiritualidade é precedida por
uma angústia, quando você precisa refletir sobre si mesmo. A angústia é uma sensação de
vazio interior.
Para Martin Heidegger, filósofo alemão, a angústia é a sensação do nada. Isto é
positivo no ponto em que onde está o nada está também a possibilidade plena. Quando não

104
sentimos nada, todas as possibilidades e horizontes se abrem.
A espiritualidade é a possibilidade de encontrar, a partir deste vazio, a resposta de
que a vida tem um sentido e que ela não se esgota neste momento, ou nesta ação cotidiana.
Em síntese, há uma convergência destes pensadores no sentido de que a espiritualidade
é uma busca interior pelo significado da vida.
Não é objetivo deste trabalho tecer comentários sobre experiências místicas,
mediúnicas ou sobrenaturais, embora concorde com diversos autores quando afirmam que
não somos seres físicos que eventualmente possuem experiências espirituais, mas seres
espirituais vivendo uma experiência física.
A discussão terá como foco o papel da espiritualidade neste momento e nesta vida
e não às possibilidades de outras vidas em outros mundos. Tratarei da espiritualidade como
busca de um sentido maior da vida e das formas de relacionamento com outros espíritos que
estão aqui conosco cotidianamente, quais sejam nossos familiares, colegas, amigos, entre
outros.
Num primeiro momento, devemos apenas didaticamente distinguir o espírito da
matéria, embora esta dissociação somente encontre sua efetiva relevância no momento da
morte do corpo físico. É exatamente quando se vê um corpo sem vida que se estabelece com
grande clareza a diferença que o espírito ou a energia vital representa. Um corpo sem espírito
não reage, não interage, é inerte. Tudo o que morre é matéria. O corpo é matéria e por óbvio
todos os pertences que lhes eram necessários para a vida também são. O espírito é tudo o que
pode sobreviver após a morte do corpo e que também serve de energia a este enquanto vivo.
Neste momento, somos matéria e espírito e devemos ter como objetivo um equilíbrio
harmônico nesta dualidade. A excessiva veneração pelos bens materiais pode impedir que a
vida encontre a sua plenitude, assim como a busca demasiada pelo mundo espiritual também
pode ser um obstáculo para viver o tempo presente, neste corpo e nesta vida.
Como maçons, somos incentivados a sobrepor o espírito à matéria. Isto não significa
a negação da matéria em favor do espírito, mas sim a busca da espiritualidade nesta vida
física. Em outras palavras devemos enxergar o mundo em que vivemos com os olhos da alma.
Quando você vive automaticamente, sem questionar o significado dos acontecimentos
da sua vida, você está atuando em nível rudimentar de sua consciência e de certa forma
abrindo mão da sua liberdade. Você reage aos estímulos mais do que é sujeito de suas ações.
Na medida em que expande a sua consciência, você acessa o seu Templo interior, passa

105
a se perceber como parte efetiva do Universo, tem aflorada a sua religiosidade (no sentido
de religar-se à energia que o Criou) e se sente harmonizado com o Cosmos. A expansão da
consciência pode se dar intencionalmente pela reflexão e meditação. Muito comum também
ocorrer por estímulos externos, como a perda de um amigo ou familiar, uma grande crise
pessoal, uma depressão ou outra doença, fatos que permitem observar a vida sob um novo
ponto de vista.
Nos próprios Rituais Maçônicos, percebemos uma espiritualidade fortemente presente
nos Cerimoniais Fúnebres. Na Pompa Fúnebre, ouvimos que somos uma chama, cheia de
vida, porém basta um sopro para que se extinga, e já não se ouça nossa suave e sonora voz. A
nossa Cadeia de União perde um de seus elos, mas chama por ele até que este responda que
estará sempre presente. “Apesar da tristeza que nos abate, lembremo-nos que… a morte nada
mais é do que a Iniciação à vida eterna.”
Mas não nascemos apenas para morrer, embora a morte do corpo seja uma grande
certeza. Morreremos e pareceremos insignificantes aos olhos de muitas pessoas que possam
passar diante de nossa sepultura. Algumas coisas, porém, sobreviverão. Serão nossa
contribuição pessoal. Não será o nosso nome em sentido literal, mas o sentimento que nosso
nome despertará nos ouvidos daqueles que nos conheceram. Não será o nosso túmulo, mas
o nosso legado.
“A boa vida tem somente certo número de dias; mas o bom nome permanecerá para
sempre.” (Eclesiástico 41 – 5/15/16)
Esta reputação, tão evidenciada pela morte do corpo, é construída pela maneira como
desenvolvemos nossa vida. A expressão de corpo e alma representa muito claramente como
podemos viver para nos eternizar.
Isto vale para a vida como um todo e serve obviamente para as atividades maçônicas.
Pode haver uma grande diferença entre ter Irmãos e sentir-se Irmão, entre ter sido Iniciado e
ser um Maçom. Frequentar a Loja não significa necessariamente participar dela, assim como
estar vivo não significa viver.
Nas próprias reuniões maçônicas, existem os verdadeiros elos da Cadeia de União
e outros que não entendem por qual motivo se deve dar as mãos. Há quem aproveite as
circulações para conversar, enquanto outros buscam a elevação do espírito. Talvez poucos
estejam devidamente atentos para colocar os bons fluídos na Bolsa mais do que pranchas,
óbulos ou certificados.

106
Para o verdadeiro Iniciado, colocar o espírito sobre a matéria deixa de ser uma
orientação do Ritual para se tornar uma constatação. O espírito estará sempre sobre a matéria,
quer percebamos, quer não. É o espírito quem comanda a matéria.
“As coisas materiais são apenas um invólucro que cobre o invisível, o imaterial;
são somente símbolos da imaterialidade” (Ritual do Grau de Aprendiz-Maçom do REAA do
GORGS – Quinta Instrução).
Espiritualidade não é apenas algo que se busca. Espiritualidade é a própria busca.
Está sempre aqui, no tempo presente.
Conhecer esta possibilidade torna a vida mais leve, ameniza as dores e nos fortalece.
A espiritualidade dá paz e sentido à vida e aos ritos.

107
Filosofia Maçônica

Rui Alberto Cassina

“A Ordem Maçônica é uma associação de homens esclarecidos e virtuosos que se


consideram irmãos entre si e cujo fim é viver em perfeita igualdade, intimamente ligados por laços
de recíproca estima, confiança, e amizade, estimulando-se uns aos outros na prática da virtude. É
um sistema moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos”.
“...É, pois, um sistema e uma escola, não só de Moral, como também de Filosofia social
e espiritual, revelados por alegorias e ensinados através de símbolos, guiando seus adeptos à
prática e ao aperfeiçoamento dos seus mais elevados deveres”.
(Preâmbulo da Maçonaria – Rito Escocês Antigo e Aceito – Grande Oriente do RS)

Ao se falar em Filosofia Maçônica, a primeira coisa a ser definida é a palavra “Filosofia”.


Definir, significa delimitar a extensão e a compreensão de algo; portanto, definir Filosofia é uma
tarefa difícil tendo em vista as inúmeras interpretações do seu significado. A primeira tentativa é
analisar sua etimologia, sua semântica e verificar algumas características. A palavra é composta
de dois vocábulos gregos, philos e sophos. Sophos pode significar saber ou sabedoria. Philos quer
dizer amor, desejo, mania de. Portanto, a Filosofia nos indica que devemos esforçar-nos na procura
do saber e da sabedoria.
Aceitar as definições que os filósofos têm dado à Filosofia é outra maneira de entender.

108
Segundo Aristóteles: “A Filosofia é a totalidade do conhecimento”. Ou, ”a Filosofia é a ciência das
ciências”. Para os estoicos, a Filosofia é o caminho para alcançar a virtude.
A definição Aristotélica de que a Filosofia é a ciência das ciências nos leva a considerar a
época. Hoje entendemos ciência e filosofia com significados diferentes. Entende-se que a filosofia
era a mãe, ou árvore do saber humano, da qual vão se desprendendo, pouco a poucos, as ciências.
A definição estoica diz que a Filosofia é o caminho que se há de seguir para alcançar a
virtude. Entendendo-se virtude não em sua conotação moral, mas no sentido de superioridade, ou
seja, de exaltação da condição humana; isto é, erguer-se sobre o homem medíocre.
René Descartes diz que a Filosofia se ocupa das causas últimas e dos primeiros princípios.
Isto significa que a Filosofia tem que ser profunda, no tempo e no saber. Para Kant, a Filosofia deve
ultrapassar o fenomenológico, ou seja, o aparente, o superficial, aquilo que podemos captar com os
sentidos, ou que podemos tocar e medir.
Tendo algumas ideias do que seja a Filosofia, vamos agora tratar de Filosofia Maçônica.
A Maçonaria não possui uma filosofia própria. Ela não é o produto da criação de um filósofo,
mas provém de muitos autores de épocas diferentes. Esses autores exercem influências no nosso
ideário. A interpretação do ideário maçônico se alcança através de símbolos. Na interpretação dos
símbolos, que refletem a doutrina maçônica, há muito de subjetivismo; porém, podemos dizer que
os grandes filósofos da Grécia, os da época romana e da helenística, os filósofos do Renascimento
e, mais adiante do Iluminismo, são os que estão mais próximos da doutrina maçônica.
É importante verificar a coincidência da filosofia maçônica com a filosofia da idade
moderna. A filosofia moderna se caracteriza por lutar pela autonomia do pensamento frente aos
ditames do dogma teológico e seu esforço por elaborar uma nova interpretação do mundo e da
vida. Procura a compreensão das coisas mediante o uso da inteligência; o maçom, por definição,
é um livre pensador, possui a liberdade de pensar e rompe com estruturas medievais baseadas em
dogmas.
O pensamento moderno contribui para a liberação da individualidade em inúmeras direções.
Rompe-se a uniformidade do pensamento medieval. Além disso, o pensamento moderno aproxima-
se da ciência e, consequentemente, de um sistema rigoroso de investigação. A consciência humana
liberada e o reconhecimento progressivo dos direitos do indivíduo foram tarefas fundamentais da
Idade Moderna.
Ao contrário do “Ancien Regime”, período anterior à Revolução Francesa, suas sólidas
estruturas e pensamento fechado e acabado, o homem passou a ter maior liberdade e participação,
podendo discutir e discordar.
Nesse período, as Lojas Maçônicas passavam de operativas para especulativas e serviam

109
de refúgio às novas ideias. Alguns estudos mostram um elo muito grande entre a Maçonaria e a
“Royal Society de Londres”. Algumas fontes da história da Maçonaria especulam que a Ordem no
seu aspecto especulativo teria sido criada por membros da “Royal Society”, da qual pertenciam os
grandes cientistas e filósofos da época.
A ocupação da Filosofia do século XVII foi a criação dos grandes sistemas da consciência:
o racionalismo e a controvérsia entre racionalismo e empirismo. Posteriormente ocorre uma espécie
de conciliação entre essas duas correntes na obra de Kant.
A Filosofia maçônica tem uma coincidência geral com a moderna, especialmente com a
filosofia da Ilustração ou Iluminismo, a qual proclama a autonomia da inteligência humana, seu
direito de estabelecer suas próprias conclusões sem sujeitar-se às imposições da autoridade e da
tradição.
John Locke, considerado o pai do liberalismo, e seu exame empírico do conhecimento,
suscita um amplo movimento de ideias; sua doutrina política se propaga e atrai àqueles que
almejam uma organização racional da sociedade e do Estado. Suas ideias sobre religião e tolerância
contribuem para criar um novo entendimento.
O progresso e a felicidade dos homens serão obtidos pelo domínio crescente da razão,
pela denúncia e supressão do fanatismo, ignorância, erros e abusos, pela exaltação da virtude e
condenação do vício. Essa é a essência da Maçonaria: a busca da felicidade através da liberdade,
da igualdade e da fraternidade.
Salientamos as coincidências da Filosofia Maçônica com a filosofia da Idade Moderna e,
particularmente com o Iluminismo, tendo em conta que a Maçonaria é uma instituição universal,
fundamentalmente filosófica, em busca da justiça, da solidariedade e da paz entre os homens.
Como já vimos, não é uma escola filosófica, mas uma escola do filosofar, é o ato de meditar,
refletir, de examinar o que ocorre em nosso redor e examinar a realidade para melhorá-la em busca
de um ideal maior.
A Maçonaria é uma oficina de humanidade, de Humanismo. Sua tarefa é irradiar a luz de
nossos princípios para melhorar a condição humana. É tradicionalista e, às vezes, progressista.
Embora isso pareça um paradoxo, na verdade não é. Tradição é conservar o melhor do passado
para utilizá-lo em compreender mais o presente e preparar um futuro melhor.
A Maçonaria, não tendo uma filosofia própria, apoia-se nas correntes de pensamento que
visam melhorar a condição humana. Busca nas diversas doutrinas de pensamento aquilo que é
útil ao ser humano. Coloca o homem no centro de sua preocupação e trabalha para a crescente
melhora de suas condições de vida. As maiores conquistas do homem podem resumidas em:

110
liberdade, igualdade e fraternidade, sendo essa última a que transcende as demais pela elevação
dos sentimentos.
A Maçonaria não entrega poderes ou sabedoria, mas apresenta, recomenda e emprega
meios para a transformação do indivíduo para que este alcance o saber e possa atingir um patamar
superior, polindo a Pedra Bruta que todos somos.
No primeiro grau destaca-se o “nosce te ipsun”: conhece-te a ti mesmo e o vence-te para
vencer. O autoconhecimento busca descobrir qual é o nosso lugar na sociedade. Representa o
autodomínio. O desejo de aprender, a necessidade de ouvir mais e falar menos.
O primeiro grau é caracterizado pela Iniciação, onde o homem morre na sua qualidade de
profano e renasce como maçom. Espera-se que haja um despertar de consciência, a fim de que o
Iniciado conheça a si mesmo mediante a introspecção, ligando, desta maneira, a individualidade
com a universalidade da ação maçônica.
O conhecimento de si mesmo, acompanhado da autocrítica de suas capacidades, deve ser
o dever dos Iniciados, porque somente conhecendo as nossas capacidades, potencialidades e os
nossos limites é que poderemos agir sem medo de nos decepcionar. Cabe também ao Aprendiz uma
submissão consciente à hierarquia da Ordem a exemplo da escola pitagórica, ou seja, o silêncio
para meditar, a disciplina racional e o trabalho com critério.
O segundo grau é o do ativista laborioso e social. Extrai e emprega, das escolas filosóficas,
o que convém à melhora e superação do homem e de suas circunstâncias. Era o grau importante
da Maçonaria Operativa. O Companheiro deve interpretar objetivamente a realidade física. Deve
conhecer a natureza, as ciências físico-químicas, biológicas.
O Companheiro deve exaltar o trabalho e a tecnologia. Estudar as ferramentas de trabalho
carregadas nas viagens e perceber que estas não são um fim, mas um meio para que o espírito se
oriente, através delas, na busca dos ideais.
A prática da filantropia é dever do maçom. O Companheiro é um defensor da vida social
superior, um inimigo da tirania e do fanatismo. A Ordem não concebe nenhum entrave para o
pensamento humano.
No interesse de alcançar o bem-estar da sociedade, o Companheiro deve estudar política e
atuar no mundo profano. É através da política que, em regimes democráticos, se consegue mudar a
sociedade para melhor. E dentro deste objetivo, os exemplos dos diversos filósofos iluministas se
encaixam com a atividade maçônica. Cabe ressaltar o perigo do fanatismo político e religioso que
muitas vezes se confundem. Alguns partidos políticos viram religiões e algumas religiões viram
partidos políticos.

111
No terceiro grau é onde se revela a prevalência do espírito sobre a matéria. É o grau que
visa o porvir, o transcendente. O estudo da vida, a preocupação com a morte e a imortalidade
constituem o núcleo da filosofia do terceiro grau. Na lenda de Hiran, vemos a fé no Grande
Arquiteto do Universo, seguido da crença na imortalidade da alma. Modelos de Sócrates e Jesus,
a justiça divina.
O Mestre Maçom deve ser exemplo para os Aprendizes e Companheiros. Deve possuir
nobreza de alma, equanimidade e justiça, superação constante, serenidade, humildade, solidariedade
fraterna e capacidade de trabalho criador para benefício da sociedade. Estas qualidades deveríamos
ter, mas não temos. Por isso devemos sempre buscá-las.
A essência real da Maçonaria é espiritual. O espírito é o que anima, incita e une,
impulsionando os irmãos a realizarem-se dentro da instituição.
Assim, na Ordem Maçônica, é necessário que cada membro assuma as suas responsabilidades
no grau em que se encontra para formar um grupo laborioso, a fim de alcançarmos nossos objetivos
de cada vez mais nos aperfeiçoarmos como indivíduos e, por extensão, melhorar a sociedade como
um todo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Manual de Procedimentos Ritualísticos, Ritual e Instruções – Grande Oriente do Rio Grande do


Sul.
Lições de Filosofia Geral e Maçônica – Moisés Mussa Battal – Editora Gazeta Maçônica.

112
As cinco viagens do companheiro
Maçom

Ivo Geraldo Prezzi

O simbolismo do grau do Companheiro Maçom, segundo dos três graus da Maçonaria


simbólica, talvez seja o mais instigante, instrutivo e reflexivo, pois o Companheiro Maçom
já possui a base dos ensinamentos maçônicos revelados no primeiro grau, de Aprendiz
Maçom, podendo assim aprofundar seus estudos e conhecimentos, ao mesmo tempo que se
prepara para o ingresso no terceiro grau, o de Mestre Maçom.
Este grau torna-se o elo de ligação entre o Aprendiz e o Mestre, tomando estes como
exemplo e servindo de exemplo aos Aprendizes.
Por vezes esquecidos dentro das Lojas, em função dos grupos formados por Mestres
mais antigos ou mais novos e pela atenção toda especial dada aos Aprendizes, principalmente
aos recém iniciados, o que é natural e correto, o Companheiro sente-se um pouco à parte dos
procedimentos da Loja, tanto ritualísticos como administrativos.
Nos dias de hoje esta situação encontra-se minimizada, visto que este diagnóstico foi
percebido já há bastante tempo. Desta forma, as administrações e Comissões de Instrução das
Lojas atualmente trabalham fortemente na socialização e participação de todos os obreiros.
Porém, ainda se observa:
a) a realização de mais Cerimônias de Iniciação que de Elevação;
b) poucas ou quase nenhuma sessão com Loja constituída em Grau de Companheiro;

113
c) as Instruções ritualísticas em Loja na grande maioria das vezes são direcionadas
ao grau de Aprendiz.
Em virtude desta reflexão, coube-nos a missão de elaborar este trabalho que tem como
foco as cinco viagens realizadas pelo Aprendiz durante a Cerimônia de Elevação, a simbologia e o
significado individual de cada viagem, bem como seu sentido global. Outros aspectos inerentes
ao Grau de Companheiro, não menos importantes, também serão abordados.
Assim sendo, faz-se necessário a observação de alguns conceitos para o melhor
entendimento, tais como:

a) ESCOPO DO GRAU DE COMPANHEIRO MAÇOM

“O sentimento de solidariedade que nasce da sincera e íntima comunhão entre os


irmãos, deve ser a constante preocupação do Companheiro. Se a liberdade é o ideal do Aprendiz,
que aspira a luz, a igualdade é do Companheiro, para que possa solidificar os sentimentos de
Fraternidade. Às qualidades e aspirações do Aprendiz, deve o Companheiro acrescentar a
capacidade de realizar na prática, em atividade construtiva, os conhecimentos adquiridos.
Assim, o progresso do Companheiro depende de sua sempre crescente capacidade de
interpretar os elementos fundamentais do simbolismo, aprendendo a vivê-los e realizá-los com
mais utilidade e proveito. Na constante ação de aperfeiçoamento do coração, pelo trabalho, pela
prática da moral e pela observância da ciência, o Companheiro não deve se esquecer que cada
grau é uma melhor, mais iluminada e profunda compreensão da doutrina e da moral do Grau
de Aprendiz, o qual será, sempre, a base do edifício maçônico.” O Mestre projeta, o Aprendiz
lapida e o Companheiro edifica.

b) DEFINIÇÃO DA PALAVRA COMPANHEIRO

Os escritores não são unânimes a respeito da definição da palavra “Companheiro”. Alguns


dizem derivar de “Compagus” ou “Compaganus” que significa “do mesmo povo”, outros afirmam
que deriva de “Combino” ou “Combonne” e de “Panis Campanne” que quer dizer “que se nutre
do mesmo pão”. Esta última definição parece ser a mais aceitável e em alguns escritos antigos
observa-se que Companheiros recebem o nome de “Companis” porque são alimentados pelos
Mestres. Compreendemos, assim, que em toda aprendizagem de uma atividade é necessário
um guia, um experto. Em algumas artes mecânicas, Companheiro é o nome atribuído ao obreiro
que trabalha às ordens de um Mestre; é um Iniciado de segunda ordem.

114
c) INSTRUMENTOS DE TRABALHO

Na Maçonaria Operativa os Maçons designavam às suas ferramentas de trabalho um


significado simbólico especial, já na Maçonaria Especulativa continuaram a aplicar a estes
mesmos instrumentos um significado espiritual, ampliando de tal forma o sistema de instrução
simbólica, que atualmente constitui-se na principal característica da Maçonaria Moderna, fato
este que a distingue das outras sociedades. Em seu simbolismo, estes instrumentos ensinam
os Maçons especulativos a construir seu próprio Templo espiritual, tal como os Maçons
operativos construíam Templos materiais.
Segundo Mackey, as ferramentas do grau variam muito pouco nos diferentes ritos,
porém conservam o mesmo simbolismo. São circunscritas à Maçonaria Simbólica, não sendo
utilizadas nos Altos Graus. No caso da Cerimônia de Elevação, utilizam-se a Régua de 24
Polegadas, o Esquadro, o Compasso, o Maço, o Cinzel e a Alavanca, instrumentos estes que
recordam a Ciência do gênio e o estudo.

d) DEFINIÇÃO DE VIAGEM:

As provas físicas às quais os candidatos são submetidos no decorrer das Iniciações em parte
imitam as realizadas na antiguidade pelos candidatos aos Grandes Mistérios como, por exemplo,
percorrer caminhos subterrâneos perigosos com a finalidade de provar a força de vontade do
candidato.
Porém, atualmente possuem apenas significado simbólico, pois representam a luta
cotidiana pela vida e significam que não é sem dificuldades que se adquirem as virtudes. Para o
Aprendiz elas são a representação da vida do homem, para o Companheiro simbolizam o
trabalho que proporciona a busca do conhecimento, para o Mestre a perseguição ao crime, a
vida errante do criminoso e suas inúteis tentativas de fugir do remorso e da perseguição.
Segundo Mellor, pode-se dizer que é o termo aplicado às perambulações do candidato
ao redor da Oficina no decorrer de suas provas e simbolizam no Primeiro Grau a vida humana,
no Segundo Grau a busca da Iniciação e no Terceiro Grau a busca da tradição maçônica.
Na linguagem simbólica da Maçonaria, um Maçom está sempre em viagem, do Ocidente
ao Oriente, à procura da Luz.
Estas viagens continuam sendo emblematicamente a vida do homem. As do
Companheiro, porém, são emblemas de estudo e meditação.
A Elevação é o prêmio recebido pelo Aprendiz pelo seu período de dedicação, trabalho e

115
estudo, como também o reconhecimento ao seu progresso intelectual e espiritual.
Quando o Obreiro compreende a essência da Doutrina, está preparado para receber o
alimento celestial e a confirmação, passando da Perpendicular ao Nível. O Número Três é sucedido
pelo Cinco, do Mineral passamos ao Vegetal, de Aprendiz passamos a Companheiro.
Observados os conceitos e definições acima, passamos então ao objetivo principal deste
trabalho, discorrendo sobre o significado e a compreensão das viagens feitas pelo Aprendiz
em busca de seu aumento de salário, o Grau de Companheiro.
Na Maçonaria o progresso deve ser contínuo. Em nossa Iniciação fomos submetidos
a quatro viagens simbólicas representadas pela Terra, Água, Ar e Fogo. Para continuar seu
progresso, o Aprendiz deve realizar cinco novas viagens.
É necessário discernir entre o vício e a virtude, caminhando das trevas em direção à luz
da Iniciação e deve-se empreender esforços para conquistar aptidão de utilizar com eficiência
as ferramentas do seu grau. Tal como o Neófito, o Aprendiz deve proceder do mundo concreto
ou do domínio da realidade objetiva (OCIDENTE), ao mundo abstrato ou transcendente
(ORIENTE), o mundo dos princípios e das causas, atravessando a região obscura da vida e
do erro (NORTE), para voltar pela região iluminada pelos conhecimentos adquiridos (SUL),
constituindo cada viagem uma nova e diferente etapa de progresso e realização.
Cada viagem simboliza um dos 5 anos de trabalho que deve o Aprendiz realizar.

A PRIMEIRA VIAGEM

Na primeira viagem de seu progresso, o candidato leva as duas ferramentas com as quais
fez seu trabalho de Aprendiz: o Maço e o Cinzel.
O Maço é o símbolo da força dirigida ou controlada. Misticamente, representa a
aplicação específica do poder ou da energia em determinado ponto, de forma repentina e
resoluta, a fim de alcançar um resultado final definido. Simboliza a vontade ativa, firme e
perseverante do Aprendiz, emblema do trabalho e da força para derrubar obstáculos e ajudar
a vencer as dificuldades.
O Cinzel é o símbolo da inteligência, do progresso humano, da razão, do senso crítico e
do discernimento na investigação. É a ferramenta que determina a justa aplicação da sabedoria.
São símbolos da Arquitetura, da Escultura e das Belas Artes. O Maço representa a
vontade e o Cinzel a inteligência; juntos são imprescindíveis, isolados de nada valem. Unidos
desbastam a Pedra Bruta, emblema da personalidade sem educação ou polimento. O Cinzel
sob os golpes do Maço deve afastar o supérfluo, corrigir os erros e dar forma ao desforme (Ordo

116
ab Chao). Sintetiza o trabalho do homem sobre si mesmo a fim de buscar sua própria perfeição.
Executa-se esta primeira viagem simbólica para abrir o pensamento e examinar as
ideias, iniciar a interpretação dos fatos e compreender que o “ Instinto “ é uma virtude que induz
ao melhoramento e à continuação das práticas dos “Costumes”, a inteligência é a faculdade de
conhecer recebendo as impressões dos cinco sentidos objetivos, e a razão é a faculdade de
compreender a natureza das coisas.

A SEGUNDA VIAGEM

Na segunda viagem, o Maço e o Cinzel são substituídos por dois instrumentos leves e de
precisão: a Régua e o Compasso.
A Régua de 24 Polegadas, em linguagem figurada, representa os princípios, as máximas,
as leis, as regras, tudo o que numa palavra faz alusão às regras de moral, do dever, da urbanidade,
da justiça, dos usos e costumes e das normas estabelecidas pelas leis do homem.
Na Maçonaria Especulativa é considerada como uma das ferramentas do Aprendiz
Maçom e suas divisões vistas como representação das horas do dia. Este simbolismo ensina
ao Maçom medir seu tempo, sendo que das 24 horas do dia, 8 devem ser dedicadas a Deus e
de um digno Irmão em apuros, 8 às suas ocupações habituais e 8 à recreação e ao descanso. Em
linguagem simbólica, a medida de 24 polegadas é símbolo do tempo bem empregado.
O Compasso possui um simbolismo muito extenso. Além de ser o emblema da justiça
com que devem ser medidos os atos dos homens, simboliza a exatidão, a medida na pesquisa
dos sentimentos pelos quais devem ser pautados os atos de cada um, a perfeição industrial,
artística e científica. É exatidão, harmonia e compreensão da lei e de uma realidade superior,
moderação dos nossos desejos, a compreensão e o conhecimento da verdade, estabelecendo
as perfeitas relações entre as coisas. É o símbolo das relações do Maçom com seus Irmãos.
Um de seus ramos fixa em um ponto, ao redor do qual a outra ponta traça inúmeros
círculos de amplitude definida conforme sua abertura. Esses círculos são símbolos de ligação entre
os Irmãos, as Lojas e a Maçonaria Universal, cuja extensão pode ser indefinida.
O círculo centralizado pelo ponto é a primeira figura que é possível traçar com a ajuda
do Compasso. Esta figura é o emblema solar por natureza e excelência, combina o Círculo
( Infinito ) com o ponto, símbolo do início de toda manifestação ou evolução. O Compasso é a
imagem do pensamento, é o modo de raciocinar de forma clara e precisa.
A união da reta com o círculo representa harmonia e equilíbrio, para que diante das
infinitas possibilidades da existência e a realidade finita na qual nos encontramos, busquemos

117
a progressiva manifestação do ideal material.
Essa segunda viagem corresponde à aplicação da arte na sociedade, ao embelezamento
moral do indivíduo e ao aperfeiçoamento, por meio da inteligência e prudência, no uso dos
instrumentos.

A TERCEIRA VIAGEM

Na terceira viagem é conservada a Régua e substituído o Compasso pela Alavanca,


que representa a força da inteligência, subjugada pela vontade do homem. É o símbolo da
potência, do esforço, da perseverança e da vontade consciente dirigida para alcançar o objetivo,
o conhecimento. Representa a força para transpor obstáculos, levantar pesos e constitui a força
da razão e da firmeza do homem independente.
Gédalge afirma que: “A Régua deve sempre acompanhar a Alavanca, pois toda a ação
não submetida ao dever e a retidão, seria nociva”. Neste caso, a régua representa a prudência
e a justa apresentação das coisas.
Boucher declara que: “A Régua e a Alavanca são análogas, sendo formadas pela linha
reta, porém a Régua corresponde ao Espírito, enquanto a Alavanca é própria da Matéria”.
A Alavanca simbolicamente representa o desenvolvimento da nossa inteligência e
compreensão, para dominar e regular a inércia da matéria e a gravidade dos instintos, levantando-
os e movendo-os para que ocupem o lugar destinado na construção do nosso Templo Interno.
Cada Irmão representa um ponto de apoio; juntos, representam uma Alavanca para
suportar os obstáculos da vida.
A Régua, que representa a perfeição, acompanha esta viagem para evitar os maléficos
efeitos da força incalculável exercida pela Alavanca. Significa que o candidato nunca deve se
afastar da Régua, que simboliza a direção sem a qual jamais poderia realizar uma obra definida.
Ao término desta viagem, o candidato deve compreender que nenhuma ciência deve ser
desconhecida, pois cada uma delas poderá ser a fonte de uma virtude.

A QUARTA VIAGEM

Na quarta viagem, conserva-se a Régua e substitui-se a Alavanca pelo Esquadro. Este


serve para esquadrejar e transformar a Pedra Bruta em Pedra Angular, devidamente desbastada.
O Esquadro, ou ângulo reto, é o símbolo da retidão, exprime o dever que o maçom
tem de direcionar todas a suas ações a esta virtude. Simboliza também a Equidade e a Justiça e

118
constitui a joia do Venerável Mestre, que tem por obrigação ser reto, justo e equitativo.
O ângulo reto é o princípio de toda construção e é por isso que se enlaça com o Compasso
como Símbolo Maçônico. Para o Maçom, representa a retidão de sua conduta, sendo o emblema
da perfeição da sua obra e de seu caráter. É retidão moral e virtude, fixidez e estabilidade, retidão
de juízos e honradez de propósitos, enfim o esquadro é o emblema da moralidade.
Por seu ângulo reto, o Esquadro representa a conduta que os homens devem manter
na sociedade, a retidão de suas ações e a igualdade de tratamento aos seus semelhantes. A
Régua novamente traz o sentido de direção e perfeição. Acompanhada do Esquadro, representa
a retidão dos nossos propósitos e determinações, e desta forma conclui-se que todo esforço mal
orientado é esforço perdido.
Importante salientar que a união das ações destas duas ferramentas de trabalho ensina-
nos que o fim jamais justifica os meios.

A QUINTA VIAGEM

Na quinta viagem nenhuma ferramenta acompanha o candidato, que é conduzido pelo


Irmão Experto com a ponta de uma espada sobre o coração. Segundo o ritual, esta viagem
mostra que o candidato suficientemente instruído nas práticas manuais deve, durante o quinto
e último ano, dedicar-se ao estudo teórico, A ponta da espada sobre o peito nos faz lembrar do
comprometimento que temos com os propósitos e princípios maçônicos.
O símbolo dessa viagem é a liberdade. Seu uso importa em sérios compromissos, dentre
outros, o de que não se deve afetar os semelhantes ou, em outras palavras, de que nossa liberdade
vai até onde começa a liberdade do outro.
Inicia-se um novo trabalho, no qual as ferramentas tornam-se desnecessárias por
tratar-se de atividade puramente espiritual, trabalho que nos leva à conquista da liberdade: no
momento em que o candidato dominar os sentidos e as paixões inferiores, estará pronto para
transição do plano físico ao plano espiritual.
Ser Companheiro Maçom é saber dispersar a dúvida, admitindo somente o que está
provado e que satisfaz à razão, não viver sujeito à ignorância e à superstição. Sua constante
exclamação é “Conduz-me do Ilusório para a Realidade”.
O Grau de Companheiro Maçom foi composto por Elias Ashmole, Alquimista
Rosacrucianista, e foi introduzido na Franco-Maçonaria quando da fusão do Rosacrucianismo com
os Livres e Aceitos Maçons, no ano de 1648. É a continuação progressiva das doutrinas do Grau
de Aprendiz Maçom. O Aprendiz nasce, o Companheiro cresce.

119
Cabe agora algumas considerações sobre o Grau de Companheiro, no qual o número 5 é
o emblema simbólico do Segundo Grau.
A Estrela de 5 pontas ou Estrela Flamígera, símbolo do Grau, é o centro de luz que irradia
a infinita energia do homem, imagem do filho do sol e representação do desenvolvimento. Em seu
centro está a letra G, terceira do alfabeto grego, sétima do latino, quinta consoante do alfabeto
e inicial da Quinta-essência, que é a união da Matéria com o Espírito, a Gnoses ou verdadeira
ciência, tendo relação com a Geração e o Poder manifestado. Constitui-se em monograma da
Gramática, Geologia, Ginástica, Geografia, Geometria e Governo.
São 5 os degraus da escada científica e moral que o candidato deve subir para elevar-se
ao grau de Companheiro. São os 5 degraus que dão acesso ao Trono de Salomão, onde fica o
Venerável Mestre.
O primeiro degrau é a Humildade, que nos lembra do estado no qual todos vêm ao
mundo. Seu sentido intelectual é a Gramática, arte de falar e de escrever, indispensável na
transmissão dos pensamentos. Na ausência de uma Gramática Universal, foi adotado pela
Maçonaria uma linguagem simbólica, igual para todos os Maçons, que representa a Fé
Maçônica, a crença em Deus.
O segundo degrau aparentemente é a “Fraqueza”, estado de quem nasceu e encontra-
se em evolução. No sentido intelectual, representa a Retórica, a arte de falar bem. No sentido
moral, é a Esperança Maçônica, a convicção na imortalidade da alma.
O terceiro degrau é a Grandeza, que intelectualmente representa a Lógica, arte de
discernir o verdadeiro e o falso. Moralmente, significa Caridade, sentimento que leva os homens
a tratarem-se como Irmãos.
O quarto degrau, no sentido físico, é a Força, atualmente menos importante, pois
Maçons desejam a igualdade entre os homens, moralmente os fortes protegendo os fracos.
Intelectualmente, constitui a Aritmética, base das ciências exatas. Seu sentido moral éVigilância
Maçônica, ou o entusiasmo que cada Maçom deve trabalhar em prol de seu aperfeiçoamento e
felicidade de seus semelhantes.
O quinto degrau no sentido físico é a Saúde, dos bens físicos o mais precioso, cujo
valor reconhecemos apenas quando privados. No sentido Intelectual, representa a Geometria,
ciência das medidas, indispensável em projetos e construções. No sentido moral, representa a
Devoção Maçônica, amor ao dever; proporciona à Maçonaria a força necessária para transpor
os obstáculos que o homem encontra em sua jornada.
São 5 as Colunas que construíram as ordens Dórica, Jônica, Coríntia, Toscana e

120
Compósita. A Dórica é a mais antiga. Doro, Rei de Acaia, construiu em Argo um Templo no estilo
Dórico que leva seu nome. A Jônica é a mais elegante, e seu nome é um tributo a Jon, filho de
Creusi, que levou para Ásia 13 colunas gregas, fundando 13 cidades, a mais célebre sendo Éfeso.
A Coríntia é a mais rica das ordens arquitetônicas e essa coluna representa toda a graça feminina
de uma donzela. A Toscana retrata-se a uma Dórica mais simples, dotada de menos refinamento. A
Compósita é uma mescla de todas as demais, sendo que cada região adotou um estilo particular, O
Egípcio, com as Pirâmides, as Colunas e o Templo de Carnac; o Grego, com o Partenon; o Árabe,
com Alhambra em Granada; o Romano, com o Arco de Tito e o Coliseu; o Bizantino, com Santa
Sofia em Constantinopla e o Gótico, com a Notre-Dame em Paris.
São 5 os sentidos: Visão, Audição, Tato, Olfato e Paladar. A Visão, considerada
geradora de imaginação, transmite ao cérebro todas as sensações da natureza, define a beleza
e fecunda a imaginação, levando-nos ao ingresso em um mundo esotérico e espiritual. A
audição é condutora harmoniosa dos sons materiais e espirituais: socialmente, caracteriza a
comunicação, e, espiritualmente, a Voz da Consciência. O Tato dá ao ser humano a certeza de
posse, respeitando assim o que é seu e o que não é, equilibrando o convívio social. O Olfato
absorve os odores expelidos pela natureza, podendo ser agradáveis ou não: os desejos são
excitados pelos odores sexuais, o perfume das flores atrai os insetos, que transportam o pólem
e fecundam outras espécies. O Paladar simboliza a sensibilidade mais próxima do mundo
físico: o alimento necessário à vida é selecionado pelo gosto alterado. Para alimentar-se o ser
humano utiliza todos os 5 sentidos em conjunto.
Respeitando o sigilo, não aprofundaremos simbolismos exclusivos do Grau. Pode-se
citar ainda que o Companheiro tem 5 anos de idade, bate 5 vezes, realiza 5 passos, 5 são as
luzes e 5 são os pontos de toque.
Para Pitágoras, o número 5 recebe o nome de matrimônio, por ser a junção do primeiro
número feminino (2) com o primeiro masculino (3): 2+3=5.
Para Platão, os sólidos possuem 5 formas: a pirâmide, que representa o fogo; o cubo,
que representa a terra; o octaedro, que representa o ar; o icosaedro, que representa a água e o
dodecaedro que representa o éter.
São 5 as espécies de animais: homens, quadrúpedes, répteis, peixes e pássaros.
São 5 as principais partes internas do corpo humano: cérebro, coração, pulmões, fígado
e rins.
São 5 as funções básicas do organismo: respiração, digestão, circulação, excreção e
reprodução.

121
São 5 as funções básicas psíquicas: inteligência, razão, intuição, memória e sentimento.
As plantas são compostas por 5 partes: raiz, tronco, folha, flor e semente.
As artes são 5: plástica, rítmica, fônica, cinética e psíquica.
Conclui-se, portanto, que o Grau de Companheiro objetiva o estudo das ciências
naturais, da cosmologia, da filosofia e a investigação da origem das coisas. Dedica-se ao estudo
dos símbolos para tornar o homem verdadeiramente útil à humanidade, capaz de compreender
os grandes serviços que a Maçonaria pode prestar ao ser humano, contribuíndo com seu bem
estar por meio do trabalho, da ciência e das virtudes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, 3ª Edição, Nicola Aslan,


Volumes 1,2,3 e 4. Editora Maçônica “A Trolha” Ltda, 2012.
Tempo de Estudo Maçônico, 1ª Edição, José Anselmo Cícero de Sá. Editora Maçônica “A
Trolha” Ltda, 2012.
Do Aprendiz ao Mestre, 1ª Edição, Marcos André Malta Dantas. Editora Maçônica “A Trolha”
Ltda, 2010.
Da Iniciação Rumo à Elevação, 1ª Edição, Denizart Silveira de Oliveira Filho. Editora
Maçônica “A Trolha” Ltda, 2012.
A Simbólica Maçônica, 2ª Edição, Jules Boucher, Editora Pensamento, 2015.
Maçonaria Simbologia e Kabbala, 1ª Edição, Helvécio de Resende Urbano Júnior. Madras
Editora Ltda, 2010.

122
Hermes Trismegisto e o
Renascimento Italiano

Luciano Bauer Gröhs


ARLS Alquimia

No ano de 2018, apresentamos na Loja de Pesquisas Gênesis trabalho sobre a busca


por Hermes Trismegisto no Renascimento Italiano.

Buscamos uma contextualização do período histórico, com a busca do final da Idade


Média por referências antigas, buscando uma aproximação da chamada Prisca Theologia, ou
seja, um conhecimento comum a várias religiões, que teria sido transmitido diretamente por
Deus aos homens, em tempos imemoriais.

Após essa breve conceituação, que passou por eventos importantes como a troca
do Concílio de Basel- Ferrara para Florença, situamos nesta cidade a presença de Gemisto
Pletão, o “Platão Redivivo” e a fundação da Academia Platônica em Florença, em 1462, bem
como seu importante estímulo pelo banqueiro Cósimo de Médici.

Após situar a importância do platonismo no pensamento do século XV, identificamos


o momento em que o banqueiro Cósimo orienta que Marsilo Ficino, grande homem de letras
do período, suspenda a tradução de Platão para o Latim, após a descoberta de texto mais
importante, a saber, os textos herméticos descobertos por Leonardo de Pistóia na Alexandria.

123
Hermes Trismegisto era entendido como um personagem real, criador da civilização,
pai da Medicina, Química, Escrita, Leis, Artes, Astrologia, Música, Retórica e Matemática. Era
identificado como Thoth, Hermes, Mercúrio, Enoch, Cadmus, Idris e Moisés conforme a cultura.
Sua existência fora confirmada pelos pais da Igreja, como Agostinho e Lactâncio, e seria a inspiração
de Platão. Seus escritos, em especial o Asclépio e o Pimandro, confirmavam e antecipavam a
presença de Jesus Cristo. Hoje, acredita-se que são textos dos séculos II a III d.C, embora se lhes
atribuísse pelo menos mil anos a mais.

A partir desses textos, identificava-se elementos filosóficos importantes, como a


referência astrológica, com os sete astros como Governadores do Mundo, as esferas de evolução,
a quintessência, a influência do Zodíaco, e a importante diferença na origem de Adão, feito de Luz
e não de barro. É um texto gnóstico, muito semelhante no modo esotérico ao Evangelho de São
João, e significativo como unidade de pensamento posterior.

Falamos sobre a influência do texto sobre a visão espiritual de Marsilo Ficino, Pico Della
Mirandola e a história posterior da magia, alquimia, Cabala, Tarot e outros elementos, a partir de
Agrippa, numa trajetória esotérica que se estendeu até Giordano Bruno (que se intitulava “Hermes
Redivivo”) e os movimentos posteriores, inclusive o Rosa-Cruz (via John Dee) e suas ramificações,
até a Maçonaria atual.

Encerramos mostrando a importância do Hermetismo em nossos dias, sua relação com


conceitos da Nova Era, a Física Quântica, a busca por uma teoria unificadora da Cosmovisão no
século XX, e alguns pensadores esotéricos mais recentes, chegando aos Perenialistas. O esoterismo
é uma corrente filosófica importante, com influências na Maçonaria, e elemento fundamental na
construção da Modernidade, inclusive os movimentos revolucionários a partir do século XVIII. Essa
tradição esotérica se confunde por vezes com elementos do Eterno Retorno, mas é fundamental para
o entendimento da Tradição, inclusive da Psicologia de Jung. A história do Hermetismo se confunde
com a da Humanidade, sendo que alguns conceitos continuam muito vivos, seja na forma de um
pensamento profundo e organizado ou de crenças primitivas arraigadas nos seres humanos.

Estudar a história do Hermetismo, em especial seu ressurgimento na Florença do


Cinquecento ajuda a elucidar um elemento-chave que nos leva à Maçonaria dos dias de hoje e, por
que não, à própria história da Humanidade.

124
Leituras sugeridas:

1. Giordano Bruno e a Tradição Hermética, Frances Yates


2. The Quest for Hermes Trismegistus; from Ancient Egypt to the Modern world Gary
Lachman
3. Giordano Bruno e a Filosofia na Renascença, Luiz Carlos Bombassaro
4. Alquimia e Misticismo - O Museu Hermético, TASCHEM
5. Isaac Newton e a Transmutação da Alquimia. Uma visão alternativa da revolução
científica. Phillip Ashley Fannig

125
Manual do aprendiz Maçom 2017 - GORGS.
Observações.

Ivan Luiz Emerim

PREÂMBULO

Tendo em vista a revisão dos Manuais de Procedimentos Ritualísticos, Ritual e Instruções


editados em 2017, fizemos algumas observações sobre ocorrências constantes e resultantes desta revisão.
Parece-nos que algumas coisas foram consertadas, outras permaneceram, houve
modificações e inclusões e também continuaram aparecendo pequenos enganos. Anotamos as
seguintes:

PAG. 07
LOCAL: SAUDAÇÃO À BANDEIRA DO BRASIL
COMENTÁRIO: Ótima medida incluir esta saudação no Manual de Aprendiz, só não
entendi porque continua no Manual de Companheiro, uma vez que esta saudação sempre é feita
em Grau de AM. O nome correto deste ato é CULTO À BANDEIRA NACIONAL.

BANDEIRA NACIONAL
COMENTÁRIO: No Manual de Companheiro Maçom, Edição 2012, constava em sua
página 10 orientações sobre o Pavilhão Nacional.

126
Creio que por um lapso este texto não foi incluído no atual Manual de Aprendiz, antecedendo
à Saudação à Bandeira do Brasil, que seria o lugar certo para estas orientações.

PAG. 11
LOCAL: SÍNTESE HISTÓRICA DO REAA
COMENTÁRIO: Ótima medida colocar este resumo da origem do Rito.

PAG. 14
LOCAL: ARQUITETURA DO TEMPLO MAÇÔNICO
OCORRÊNCIA: No 2º Parágrafo, penúltima e última linha consta: Tem a forma de um
paralelogramo formado por três cubos adjacentes. O Oriente tem o formato de um cubo. Os
outros dois cubos constituem o Ocidente.
COMENTÁRIO: Aqui houve uma confusão geométrica. Deve-se evitar usar o termo
CUBO (forma de sólido) pois esta figura é composta por seis lados iguais. Sugere que o Templo
deva ter exatamente a mesma medida para a largura, o comprimento e a altura, fato que não ocorre. O
termo mais adequado é QUADRILONGO (figura geométrica) composta por quatro lados e ângulos
retos, sendo dois diferentes dos outros dois e a proporção entre eles é conhecida como Proporção
Áurea (1x1,618). Exemplificando: se o Templo tem 9 metros de largura, seu comprimento deverá
ter 14,562 metros – vide metragem no Diagrama do Templo-pg.18 – Também deve ser incluído o
ÁTRIO como parte integrante dos outros dois quadrilongos, ou seja, UM QUADRILONGO PARA
O ORIENTE, UM E MEIO PARA O OCIDENTE E MEIO PARA O ÁTRIO.
Também não convém ser retângulo, uma vez que seu formato é infinito e não obedece
a Proporção Áurea. Quadrilongo é a figura geométrica mais adequada. Outrossim, o termo
paralelogramo é muito vasto, nem sempre indica que os ângulos sejam retos e nem observa a
Proporção Áurea.

PAG.15
LOCAL: IDEM - No 7º Parágrafo referente ao Deputado da Loja.
OCORRÊNCIA: Consta: O Ir. Dep.da Loja tem assento no Or. ocupando a primeira
cadeira imediatamente à esquerda do Trono do VM e abaixo do sólio.
COMENTÁRIO: O Deputado da Loja NÃO tem assento marcado no Oriente. Ele apenas
tem o direito de ocupar um lugar no Oriente. Esse local informado é o lugar e assento exclusivo de
um Oficial que é o PORTA ESPADA. Este pode ser um MM sem problema algum, como adiante
vamos nos reportar.

127
PAG.16
LOCAL: IDEM - No 4º Parágrafo referente aos Mestres.
OCORRÊNCIA: Consta: Os MM.MM ocupam os assentos mais próximos da linha
central do Templo (Câmara do meio).
COMENTÁRIO: Retirar o termo CÂMARA DO MEIO, pois este designativo refere-se
apenas à Loja de Mestre e não a um determinado lugar no Ocidente.

PAG. 16
LOCAL: IDEM - No 6º Parágrafo referente às CCol B e J.
OCORRÊNCIA: Consta: As CCol “B” e “J” devem ficar junto às laterais da porta de
entrada do Templo, pelo lado de dentro...
COMENTÁRIO: No REAA elas ficam fora do Templo, são designadas como Colunas
Vestibulares (porque se situam no vestíbulo ou Átrio) ladeando a Porta do Templo. As CCol.
Solsticiais ou Simbólicas B e J situam-se na parte interna do Templo, perto da Porta, pouco
adiante da cadeira do Cobridor Interno, com sua designação de B e J voltada para o Oriente,
demarcando os Solstícios de Inverno e Verão na mesma linha Leste/Oeste do Sol (Norte) e da Lua
(Sul) que se encontram no retábulo do Oriente.

PAG. 16/17
LOCAL: IDEM - No 8º Parágrafo referente ao Mar de Bronze.
OCORRÊNCIA: Consta que o Mar de Bronze deve ficar à esquerda do Primeiro
Vigilante e junto à parede.
COMENTÁRIO: O Mar de Bronze deve ficar atrás da cadeira do 1º Vigilante e perto
do topo da Coluna do Norte e do retábulo Oeste. Vide a posição correta no Diagrama do Templo,
página 18.

PAG. 17
LOCAL: IDEM - No 3º Parágrafo referente ao Sol na Abóbada.
OCORRÊNCIA: Consta: No Or., um pouco à frente do Trono, o Sol.
COMENTÁRIO: O Sol na abóbada fica um pouco à frente e um pouco ao Sul do Altar
do VM.

128
PAG. 18
LOCAL: DIAGRAMA DO TEMPLO
OCORRÊNCIA: Consta que o local da mesa do 2º Vig. fica perto do retábulo Oeste na
mesma linha Norte/Sul do 1º Vig., logo à frente do M.Harmonia.
COMENTÁRIO: No REAA a mesa do 2º Vig. fica ao Sul, no meio do Ocidente debaixo
da Estrela Flamejante, voltada para o Norte, pois é ali que o Ir. 2º Vig. ocupa este lugar para
observar o Sol em seu meridiano.

PAG. 19
LOCAL: POSIÇÃO DOS OBREIROS
OCORRÊNCIA: No local indicado como nº12 consta como sendo o assento do Deputado
da Loja.
COMENTÁRIO: A cadeira à esquerda do VM e abaixo do Sólio, designada como nº12
no Diagrama, é o local exclusivo do Porta Espada, que poderá ser um Oficial MM sem problema
algum, pois ele não manuseia e nem toca a Espada Flamígera em momento algum. Ele apenas a
conduz em seu estojo, bandeja, almofada, caixa, embalagem, etc., oferecendo ao VM para que a
manuseie. O Deputado da Loja, que também pode ser um MM, apenas tem o direito de ocupar um
assento no Oriente, mas não ali. E não deve nem constar neste esquema (pg.19).

Comentário instrucional à parte: quem tem cadeira cativa no Templo são as Luzes,
as Dignidades e os Oficiais. Os demais ocupam lugares definidos pela sua hierarquia, ou seja:
Aprendizes no Topo da Coluna do Norte; Companheiros no Topo da Coluna do Sul; Mestres
no Ocidente; Mestres Instalados, Deputados e Autoridades Maçônicas no Oriente. Em nenhuma
situação um Oficial tem a obrigatoriedade de ser MI. Qualquer MI pode ser qualquer Oficial, como
também qualquer Mestre pode ser qualquer Oficial.
Quanto ao Deputado da Loja, ele tem um lugar assegurado no Oriente, mas não cadeira
cativa. Ele é apenas o representante eleito da Loja junto à PALM, na qual exerce seu mandato na
defesa de todos bons projetos e assuntos da Ordem e da sua Loja. Por si só, o Deputado também não
é uma Autoridade Maçônica e por isto não deve sentar ao lado direito do VM. Ele só é Autoridade
Maçônica quando estiver na representação formal do Presidente da PALM.

129
PAG. 20
LOCAL: ESQUEMA DA ABÓBADA DO TEMPLO
OCORRÊNCIA: No esquema consta como integrantes da Abóbada Celeste a Estrela
ANTARES e a Constelação do CRUZEIRO DO SUL;
E o posicionamento do SOL.
COMENTÁRIO: A estrela ANTARES não é parte integrante da Abóbada Celeste, bem
como a Constelação do CRUZEIRO DO SUL – ambas são do hemisfério Sul - uma vez que A
ABÓBADA REPRESENTA EXATAMENTE O CÉU OU FIRMAMENTO SOB O PONTO DE
VISTA DAQUELE QUE DO HEMISFÉRIO NORTE TERRESTRE OLHA PARA O CÉU.
Quanto ao SOL, seu posicionamento deve ser corrigido. No Esquema ele está muito ao Sul.
Seu posicionamento correto é quase que sobre o Equador, com uma pequena inclinação para o Sul.
Lembrando que a Maçonaria é originária do hemisfério Norte, assim como o REAA, e é
desta forma que devemos representar a abóbada. Se a enxertarmos com outros astros ou mudarmos
o posicionamento, faremos uma salada de frutas cósmica que ninguém entenderá mais nada. Por
outro lado, devemos ter em conta que também as Colunas Zodiacais obedecem ao esquema do
hemisfério Norte, senão vejamos: os signos de Áries, Touro e Gêmeos do topo da Coluna do Norte,
lado Oeste é, no hemisfério norte, a Primavera, onde o Sol começa a despontar para as benesses e
as plantações. Se usarmos o mesmo critério de introduzir astros do Sul no Norte, deveríamos então
alterar a ordem das Colunas Zodiacais e, em assim sendo, no lugar das antes citadas teríamos que
colocar ali Libra, Escorpião e Sagitário, ou seja, mais lambança.

PAG.21
LOCAL: PAINEL SIMBÓLICO DA LOJA DE APRENDIZ
OCORRÊNCIA: Correção de antigos erros.
COMENTÁRIO: Finalmente foram corrigidos os equívocos. Houve a inversão correta
do Sol e da Lua no retábulo Leste e das estrelas; das joias dos Vigilantes; o Nível na Col.B e o
Prumo na Col. J; e a colocação correta do Esquadro e do Compasso.

PAG. 25
LOCAL: ESPADA FLAMEJANTE
OCORRÊNCIA: O título trata a Espada como Flamejante.
COMENTÁRIO: O nome correto desta espada é ESPADA FLAMÍGERA, e não
flamejante. FLAMEJANTE é a ESTRELA símbolo dos CC e adorno da Abóbada em seu lado Sul
no meio do Ocidente.

130
Para a Estrela o termo flamejante é preferível a flamígero, pois flamígero (do latim
“filamigerus”) é o que traz, provoca, ou gera chamas, tem o formato de fogo , mais de acordo com
a Espada; enquanto que flamante, ou flamejante (do latim “flammantis”) é aquilo que é brilhante,
resplandecente, ardente, abrasado, que tem luz própria, mais de acordo com o aspecto da Estrela.

PAG. 26
LOCAL: IDEM - Parágrafo 1º
OCORRÊNCIA: Consta que o Porta Espada deve ser obrigatoriamente MI.
COMENTÁRIO: O PORTA ESPADA não deve ser OBRIGATORIAMENTE um MI.
Este oficial não toca e nem manuseia a ESPADA FLAMÍGERA em momento algum. Ele apenas
a conduz em seu recipiente, como visto acima. Este Cargo em Loja pode ser ocupado por um MM
sem nenhum problema. Por outro lado, há de se considerar a existência de muitas Lojas novas que
ainda não possuem Mestres Instalados.

PAG. 27
LOCAL: MESAS - Parágrafo 1º
OCORRÊNCIA: Consta que o trono do VM é retangular e terá...
COMENTÁRIO: Deve ser ALTAR e não TRONO. Altar é a mesa do VM e Trono é o
seu assento/cadeira.

PAG. 30/31
LOCAL: MAR DE BRONZE
OCORRÊNCIA: Consta, na última linha... à esquerda da mesa do 1º Vig., junto à parede Norte.
COMENTÁRIO: Como visto anteriormente deve situar-se atrás da cadeira do Primeiro
Vigilante e perto do topo da Coluna do Norte e do retábulo Oeste. (Vide pag.18).

PAG. 48
LOCAL: 1º DIÁCONO - 2º Parágrafo
OCORRÊNCIA: Consta que sendo MI sobe todos os degraus. Não sendo, sobe somente
até o segundo degrau...
COMENTÁRIO: Este Oficial pode ser MM sem problema algum e, como Oficial, ele
sobe os três degraus que dão acesso ao VM para receber dele a Pal.Sagr..

131
Não existe no REAA proibição alguma para que o MM suba os três degraus onde está o
Altar do VM (vejam o caso do MC e do Hospitaleiro em sua função ritualística; do Orador e do
Secretário no processo eleitoral; de alguma Autoridade Maçônica que não seja MI e que se senta à
direita do VM). E também não deve ser uma deferência especial aos MM:.II., como parece.

PAG. 50/51
LOCAL: COBRIDOR EXTERNO - Último Parágrafo
OCORRÊNCIA: Consta...manter o mais rigoroso silêncio na Sala dos PP.
COMENTÁRIO: A informação correta deve ser... manter o mais rigoroso silêncio no
ÁTRIO... e não da Sala dos Passos Perdidos.

PAG. 51
LOCAL: PORTA ESPADA
OCORRÊNCIA: Consta que deve ser obrigatoriamente MI.
COMENTÁRIO: Não obrigatoriamente deva ser MI como já explicado anteriormente.

PAG. 62
LOCAL: CIRCULAÇÃO - Parágrafo 3º
OCORRÊNCIA: Consta que, no Oriente, só fará a saudação ao Delta Luminoso, se
nessa Circulação ultrapassar a linha do Equador.
COMENTÁRIO: No Oriente não existe a linha imaginária/equador. Ao subir ou descer
do Oriente – Nordeste e Sudeste respectivamente - faz-se a saudação ao VM pelo Sinal Penal
ou rápida parada. Os Oficiais MC e Hosp., em seu Giro Ritualístico, fazem a Saudação apenas
na primeira vez que subir e na última vez que descer, com a seguinte ressalva: se não estiverem
portando nada na(s) mão(s) fazem a Saudação pelo Sinal. Se estiverem portando algo só fazem
uma rápida parada encarando o VM, sem meneios, reverências ou qualquer outro gesto com a
cabeça ou tronco.
O M.Cerim. sobe e desce os degraus do Oriente várias vezes numa sessão no cumprimento
de tarefas. Ele deve fazer a saudação ao VM na primeira vez que subir e na última vez que descer.
Isto deve se repetir a cada nova tarefa que tiver que cumprir.

PAG. 62
LOCAL: CIRCULAÇÃO – Parágrafo 3º
OCORRÊNCIA: Consta ainda que, no Oriente e no Ocidente, se passar mais vezes pelo
Equador tem que parar e fazer discreta reverência...

132
COMENTÁRIO:
a) No Ocidente, se não estiver portando nada na(s) mão(s), faz a Saudação apenas na
primeira vez que cruzar o hemisfério. No restante de sua Circulação não faz mais sinal nestas
ocasiões;
b) No Ocidente, se estiver portando algo na(s) mão(s), simplesmente faz uma rápida
parada, encara o VM sem fazer nenhum sinal, meneios de cabeça, mesuras ou reverência, só na
primeira passagem, e nas demais passa direto sem fazer mais nada;
c) Lembrando que no Oriente não existe a linha do equador. No Oriente não se faz saudação
alguma no trânsito Norte/Sul.

A propósito – reverência é o respeito às coisas sagradas, veneração, respeito, acatamento,


tratamento que se dá aos eclesiásticos, mesura, genuflexão. Por ser o REAA vertente francesa
usada no Brasil, de tendência deísta, não existe este tipo de saudação. Da mesma forma, mesuras,
inclinações do corpo, gestos com a cabeça, etc. O Templo maçônico não é um Templo religioso.

PAG. 62
LOCAL: ENTRADA NA LOJA... OCORRÊNCIA: erro da gráfica, constou
“Mamaçônica” ???

PAG. 63
LOCAL: ENTRADA NA LOJA...
OCORRÊNCIA: Constou no item 2 ...o Apr. posta-se junto à porta... ”em pé e à
ordem”...
COMENTÁRIO: Deve ser ... o Ir. posta-se na linha do equador, logo à frente da cadeira
do Cobr.Int.. Após a porta ser fechada fica à Ordem e faz a Marcha do Grau.
O termo “em pé e à ordem” é uma redundância como “entrar para dentro”, “sair para
fora”, “subir para cima”, etc. Na Ritualística “à ordem” é o Ir. ficar de pé, pés em esquadria para
frente e como consequência fazer e manter o Sinal do Grau. Ninguém fica à Ordem sentado.

SUGESTÃO:
Neste Capítulo de Procedimentos Ritualísticos poderia ser incluído a correta orientação da
Marcha do Aprendiz. Em resumo: sobre a linha do equador, fazer o Sinal Penal, pés em esquadria,
voltados para frente, seguindo a linha oblíqua do Pavimento Mosaico, dar três passos normais

133
para frente, iniciando com o pé esquerdo e juntando o outro pelo calcanhar, sucessivamente, até
o terceiro. Faz então a saudação pelo ato de desfazimento do Sinal Penal para cada Luz – sem
falar nada - (VM,1º Vig. e 2º Vig.), após com o Sinal armado é que pede e agradece a permissão
e segue o MC que o conduzirá à mesa do Chanceler e após ao seu devido lugar em Loja. Não
existe no REAA qualquer arrastar ou claudicar de pés nas Marchas dos Graus.

PAG. 68
LOCAL: SESSÃO ORDINÁRIA - PREPARAÇÃO – Parágrafo 1º desta página
OCORRÊNCIA: Consta ...na Sala dos Passos Perdidos...
COMENTÁRIO: Deve ser ...no Átrio...

PAG. 68
LOCAL: IDEM – Parágrafo 2º desta página
OCORRÊNCIA: Ref. aos AAMM e CCMM, nas últimas linhas consta ...fora dos
momentos litúrgicos...
COMENTÁRIO: Não é fora dos momentos litúrgicos que eles (AM e CM) não podem
ter acesso ao Oriente. É exatamente nestes momentos que eles estão impedidos de ter acesso ao
Oriente. Aprendizes e Companheiros podem, eventualmente, exercer um Cargo em Loja, desde
que a função a eles atribuída não exija seu acesso ao Oriente.

PAG. 68
LOCAL: IDEM – Parágrafo 3º desta página
OCORRÊNCIA: Consta que os IIr. vestem seus paramentos na Secretaria da Loja.
COMENTÁRIO: Este pormenor é intrínseco de cada Loja uma vez que nem todas têm
a mesma arquitetura, disposição e espaço em suas dependências, mesmo porque muitas trabalham
em espaços alugados e/ou construídos para outras finalidades. Em muitas, a Sala dos PP confunde-
se com o Átrio e com o Salão de Banquetes, porém no que tange a uma construção essencialmente
para uso da Ordem Maçônica, estes espaços devem ser bem definidos e individualizados. No
REAA os IIr vestem seus paramentos, colocam suas insígnias, etc ...na Sala dos PP.
O Salão de Banquetes, como o nome já diz, é o local destinado ao ágape (este local não
existe no REAA).
O Átrio é onde os IIr se concentram em silêncio, formam as fileiras e aguardam a entrada
formal no Templo.

134
A Secretaria é o local dos trabalhos administrativos da Loja e não vestiário, mesmo porque
imaginem uma Loja com 30/50/80 Obreiros, ou mais, se paramentando dentro da Secretaria. É
para deixar maluco o Secretário.

PAG. 68
LOCAL: CORTEJO DE ENTRADA – Parágrafo 1º
OCORRÊNCIA: Consta ...Na Sala dos PP havendo espaço...
COMENTÁRIO: O Correto é Átrio.

PAG. 69
LOCAL: IDEM – Parágrafo 1º desta página
OCORRÊNCIA: Consta que o P.Estandarte ingressa e posiciona-se ao pé dos degraus
que dão acesso ao Oriente...
COMENTÁRIO: O P.Estandarte é o primeiro a ingressar no Templo e posiciona-se na
linha do equador, no centro do Ocidente, com o Estandarte voltado para a Porta do Templo (um
pouco antes do Painel do Grau se este ali estiver velado) e atrás do M.Cerim., aguardando a
chegada do VM acompanhado dos VVgl..

PAG. 69
LOCAL: IDEM – Parágrafo 2º desta página
OCORRÊNCIA: Consta que o M.Cerim. posiciona-se no centro do Ocidente...
COMENTÁRIO: O M.de Cerim. é o segundo a ingressar no Templo. Posta-se na linha
do equador um pouco adiante da porta, na linha das CCol. Solsticiais ou Simbólicas B e J
orientando....

PAG. 70/71
LOCAL:TRANSMISSÃO DA PALAVRA SAGRADA – Final da página70 e início da
página 71
OCORRÊNCIA: Não é citada a Pal.Sagr. que deve ser BOAZ (Consta na página 172
deste Manual, nas primeiras instruções aos neófitos).
COMENTÁRIO: A Pal.Sagr. é realmente BOAZ. Poderia ter constado neste Manual,
tanto na Ordem dos Trabalhos como nas orientações ritualísticas das cerimônias. Apesar de
existirem semelhanças entre BOOZ e BOAZ, o correto é BOAZ. Na realidade, e assim a história
nos conta, BOAZ era o nome de um rico morador de Belém, que foi esposo de Rute e bisavô de
Davi (o Rei Davi, pai de Salomão).

135
A pronuncia BOOZ pode ser uma eventual deturpação dialética, ou tradução mal
compreendida que com o passar dos tempos tornou-se corriqueira, mesmo porque esta palavra não
existe no hebraico e nem existe repetição de vogais juntas nas palavras deste vernáculo.
Em termos de Maçonaria, o que foi adotado como Pal. Sagr. do Grau 1 é BOAZ.
Também consta no texto que a forma de a transmitir é soletrada e silabada. A forma correta
de a transmitir é somente SOLETRADA pois o Aprendiz sabe apenas soletrar e não silabar, que
é próprio de outro Grau. Ela é transmitida SOLETRADA e no final por inteira apenas por um dos
protagonistas (o que a transmite).

PAG. 72
LOCAL: SACO DE PROP. E INF. / TRONCO DE BENEF. – Trajeto
OCORRÊNCIA: Consta o seguinte esquema:
VM e autoridades junto ao seu trono
1º / 2º VVig.
Orador / Secretário
Cobridor Interno
MM no Oriente
MM no Ocidente
Companheiros
Aprendizes.
COMENTÁRIO: O correto é o seguinte:
VM
1º / 2º VVig. (Primeiro Triângulo)
Orador / Secretário
Cobridor Interno (Segundo Triângulo)
IIr. no Oriente e os ocupantes das cadeiras que ladeiam o
Trono do VM
MM no Ocidente
Companheiros
Aprendizes

Explica-se que o Primeiro Triângulo é composto apenas pelas Luzes da Loja, os dirigentes
eleitos, aqueles que portam o malhete. O Segundo Triângulo é o inverso do primeiro, começando

136
pelo Orador, Secretário e finalizando no Cobridor Interno. Os ocupantes das laterais do Trono
fazem parte do recolhimento junto com os demais IIr. que se encontram no Oriente.

PAG. 74
LOCAL: PROCLAMAÇÃO DE CANDIDATO
OCORRÊNCIA: Consta que será na Ordem do Dia...
COMENTÁRIO: Esta proclamação deve ser feita, pelo Secretário, no período do
Expediente e não na Ordem do Dia.

PAG. 77
LOCAL: ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS – penúltima e última linha
OCORRÊNCIA: Consta que o VM pode colocar a Loja em Família...
COMENTÁRIO: O termo “em família” não existe no REAA, além de sugerir que a
Loja até este momento não estava trabalhando com todos presentes reunidos irmãmente. Outra
interpretação é a de que a seriedade, silêncio e introspecção da sessão é suspensa, remetendo agora
para um ambiente livre, festivo, descontraído e ruidoso, próprio de uma reunião familiar com
muitos integrantes.
O correto é suspender temporariamente a ritualística, na qual todos ficam mais à
vontade em seus assentos, mas que não saiam de seus lugares, mantenham o silêncio, a ordem e se
manifestem sem formalidades, mas ordenadamente. Esta situação está prevista, e bem explicada,
no título Suspensão da Ritualística na página 93 do Manual 2017.

PAG. 77
LOCAL: APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS – Parágrafo 2º
OCORRÊNCIA: Constou ...se postará entre as CCl. próximo aos IIr VVig. fará a
saudação às Luzes, pelo sinal, e apresentará o trabalho.
COMENTÁRIO: Lembrando de que a posição correta da mesa do 2º Vigl. é ao Sul,
no meio do Ocidente. Desta forma o correto deve ser ...se postará entre as CCol.Solsticiais ou
Simbólicas B e J, fará a saudação verbal às LL da seguinte forma:

a) Se não estiver levando nada nas mãos: fica à Ordem com o sinal armado e faz a saudação
verbal às LL sem desfazer o sinal. Ato contínuo solicita ao VM permissão para desfazer o sinal
para poder apresentar seu trabalho. Após a aquiescência do VM, desfaz o sinal penal, retira o

137
trabalho do bolso do paletó e passa então a apresentá-lo. Ao finalizar a apresentação, guarda o
trabalho no bolso e fica “à ordem” aguardando o pronunciamento do VM.

b) Se estiver levando o trabalho em mãos: fica de pé, em posição de rigor (pés juntos
em esquadria mas sem fazer o sinal, braços ao longo do corpo) e faz a saudação verbal às LL. O
restante é como o acima exposto, excetuando a retirada do trabalho do bolso pois o mesmo já se
encontra em suas mãos. Ao finalizar a apresentação, fica com o trabalho na mão direita, em posição
de rigor - como acima demonstrado - aguardando o pronunciamento do VM.

PAG. 88
LOCAL: SESSÕES PÚBLICAS – SESSÃO FÚNEBRE
OCORRÊNCIA: Constou como título Sessão Fúnebre.
COMENTÁRIO: Quando o velório está sendo realizado nas dependências do Templo
esta cerimônia de encomendação é uma Sessão Magna Pública de Serviço Fúnebre.
Quando o velório é realizado em outro local, esta cerimônia é intitulada apenas de Serviço
Fúnebre.

PAG. 91
LOCAL: SINAL DE SAUDAÇÃO – O Sinal de Saudação é usado – 4º item
OCORRÊNCIA: Constou ...Caso, neste mesmo giro, ultrapasse outras vezes a linha do
Equador, a saudação será pela simples reverência pela cabeça.
COMENTÁRIO: Tanto no Giro dos Oficiais como nas demais Circulações em Loja,
só se faz o Sinal para o VM na primeira passagem pela linha do Equador no cumprimento de
uma tarefa quando não estiver portando nada nas mãos. Caso esteja, faz simplesmente uma breve
parada, encara o VM e prossegue seu trajeto. Nas demais passagens deste Giro não se faz nada.
Passa direto. Para cada nova tarefa a ser cumprida também se faz o Sinal somente na primeira vez.
Quanto à reverência, isto não existe como já foi explicado anteriormente.
Também a respeito da Saudação ao Delta Luminoso, isto não existe no REAA (vertente
francesa usada no Brasil, de tendência e filosofia deísta). Toda Saudação é feita para o VM que
está sentado em seu Trono, tendo à frente seu Altar. Simbolicamente, isto quer dizer que o VM é
o Soberano, o Rei, o mais Alto Mandatário, mas não é o Deus. Saúdam-se pessoas. Para Deus, na
Igreja, e para as coisas sagradas é que se faz reverência e genuflexão. A saudação a Deus também
é feita com sinais próprios de cada religião. No Catolicismo é comum se fazer o Sinal da Cruz e

138
não o Sinal Penal da Maçonaria. Em Maçonaria (que não é religião) e nos trabalhos em Loja (que
não é igreja) se saúda o mais alto mandatário da Ordem e da Loja, o GM e o VM, e todo e qualquer
outro Ir. pelo Sinal Penal de cada Grau.

SESSÃO ORDINÁRIA

PAG. 98
LOCAL: SESSÃO ORDINÁRIA DE AM – Cortejo de Entrada – 5º linha
OCORRÊNCIA: Constou ...organizará o Cortejo na Sala dos PP...
COMENTÁRIO: O Cortejo é organizado no ÁTRIO.

PAG. 98
LOCAL: SESSÃO ORDINÁRIA DE AM – CORTEJO DE ENTRADA –
1º Parágrafo, penúltima linha
OCORRÊNCIA: Constou ...No fim das filas, portando seus malhetes, os IIr. VVig. e o
VM...
COMENTÁRIO: Retirar a expressão “portando seus malhetes”. As LL não portam seus
malhetes fora do Templo em hipótese alguma. Os malhetes fazem parte do Altar do VM e das
Mesas dos VVig. e não devem fazer parte de nenhum cortejo. A única exceção é quando o VM
e os VVig. recepcionam o GM no Ocidente e o VM lhe oferece o malhete para que conduza os
trabalhos, ou em momentos ritualísticos específicos junto ao Altar dos Juramentos. O malhete é um
instrumento de trabalho e não joia das LL.

PAG. 102
LOCAL: ABERTURA DOS TRABALHOS – Final da página
OCORRÊNCIA: Consta que o 1º Diácono deve ser MI para acessar o terceiro degrau.
COMENTÁRIO: O 1º Diácono pode ascender ao terceiro degrau mesmo sendo MM
como já explicado anteriormente.

PAG. 103
LOCAL: ABERTURA DOS TRABALHOS, continuação da transmissão da Palavra
Sagrada
OCORRÊNCIA: Consta que a palavra é transmitida SOLETRADA e na sequência
SILABADA......

139
COMENTÁRIO: Como já comentado no mesmo assunto da pag.70/71, a forma correta
de a transmitir é somente SOLETRADA pois o Aprendiz sabe apenas soletrar e não silabar, que é
próprio de outro Grau. Ela é transmitida SOLETRADA e no final por inteira apenas por um dos
protagonistas (o que a transmite).

PAG. 107
LOCAL: SACO DE PROP. E INF. – Continuação da pag.106
OCORRÊNCIA: Consta que ...Completado o giro, o Saco é conduzido à mesa do Ir.
Chanc. para ser chancelado, com uma leve batida da sua Joia sobre o Saco.
COMENTÁRIO: Esta leve batida da Joia sobre o Saco é novidade. Procurei e não
encontrei nada no REAA que assim defina este procedimento. Os Manuais anteriores usavam o
termo SELAR que quer dizer “pôr selo em; pôr termo a; fechar pondo selos; concluir; fechar
hermeticamente”. Ao passo que CHANCELAR quer dizer “selar; assinar com chancela (espécie
de carimbo ou sinete com assinatura)”. A Joia do Chanceler é um Timbre (instrumento metálico
de percussão para marcar, fixar, imprimir), ou seja, é um carimbo. E, como carimbo, ele apenas dá
autenticidade a um documento ou objeto.
Atendo-se às definições do que o Chanceler executa após os giros do Sac.de PP e IInf. e do
Tronco é somente SELAR, LACRAR, FECHAR HERMETICAMENTE e não carimbar.
O ato simbólico de enrodilhar a corda em volta da garganta da Bolsa e do Tronco deve ser
preservado pois é aquele que melhor define a simbologia.
Por outro lado, é estranho, para não dizer patético, o Chanceler se curvar para alcançar
a Bolsa/Tronco e tocar com sua Joia que é apenas o símbolo de sua função, e não o próprio
instrumento, além do que os Sacos permanecerão abertos, não fechados/selados.

PAG. 109
LOCAL: ORDEM DO DIA – Continuação da pag.08
OCORRÊNCIA: Depois do VM dizer que a Pal. está no Oriente consta a seguinte
observação: Terminado o uso da Pal. esta não poderá retornar às CCol. em nenhuma hipótese.
Caso persistam dúvidas, o assunto deverá ficar sob malhete ...assunto.
COMENTÁRIO: Segundo a tradição do REAA e de acordo com o que preceitua o VM
na Abertura dos Trabalhos quando diz que: Desde agora, a nenhum Ir é permitido falar ou passar
de uma para outra coluna sem obter permissão ...Leis, neste caso específico da Ordem do Dia, a
palavra poderá retornar para esclarecer e bem debater o assunto, desde que o VM assim permita e

140
que a palavra seja novamente colocada à disposição da outra Coluna e Oriente. Existem assuntos
que precisam ser definidos com rapidez, para não dizer urgência, e em face disto não podem
aguardar mais uma semana para serem definidos.

PAG. 113/116
LOCAL: FILIAÇÃO/REGULARIZAÇÃO – Final da página
OCORRÊNCIA: No Juramento consta que se ajoelha com o joelho direito...
COMENTÁRIO: O correto é com o Joelho Esquerdo. O esquema genuflexório dos
Juramentos e das Consagrações da Ordem é o seguinte:
- Em Loja de Aprendiz: Joelho esquerdo;
- Em Loja de Companheiro: Joelho direito;
- Em Loja de Mestre: Os dois joelhos.
- Nas Orações: Os dois joelhos para todos.

PAG. 120
LOCAL: ENTRADA DE VISITANTES
OCORRÊNCIA: Consta que após o fechamento da Porta o VM comanda “De pé e à
ordem”...
COMENTÁRIO: À ordem só se forem MMII, Autoridades ou Delegações Oficiais de
outras Lojas em visita;
- Caso os visitantes sejam apenas AM, CM ou MM todos permanecem sentados;
- Caso estes venham acompanhados de um MI, então o comando obedece a hierarquia
maior, ou seja, todos à ordem.

PAG. 124
LOCAL: PALAVRA DO ORADOR –
OCORRÊNCIA: Na instrução consta que o Ir. Orador usará da palavra saudando os
visitantes.....e dando suas conclusões.
COMENTÁRIO: Deve constar que o Orador se põe à ordem, faz as saudações
protocolares, desfaz o Sinal e senta-se. Sentado, saúda os visitantes, autoridades, parabeniza
aniversariantes, palestrantes, IIr que apresentaram trabalhos, apresenta uma breve peça de
arquitetura, etc. Ao final de sua fala, se põe novamente à ordem e diz ao VM que nossos trabalhos
transcorreram ...podendo ser encerrados, desfaz o Sinal e senta-se.

141
PAG. 127
LOCAL: ENCERRAMENTO – 1º Diácono
OCORRÊNCIA: Consta a mesma decorrência de que ele, em sendo MM, não pode ter
acesso ao terceiro degrau.
COMENTÁRIO: Como já explicado anteriormente este Oficial, mesmo sendo MM,
pode ascender ao terceiro degrau sem problemas.

PAG. 128
LOCAL: ENCERRAMENTO – Parte final Aclamação
OCORRÊNCIA: Consta, como orientação, que após as luzes serem desligadas os IIr
permanecem com o Sinal armado ...e, logo adiante, ...para a Aclamação os IIr retomam o sinal
à ordem(???)
COMENTÁRIO: Desconsiderar esta observação pois todos já estão à ordem desde o
Giro dos Diáconos, e também como está anunciado que, após as velas/luzes serem apagadas/
desligadas, os IIr permanecem com o sinal armado.

PAG. 128
LOCAL: ENCERRAMENTO – Final da página
OCORRÊNCIA: Consta que devem estender a mão direita à frente, horizontalmente
em direção ao Alt.dos Jur.
COMENTÁRIO: Não é a mão. É o braço direito que deve ser estendido horizontal
e simplesmente à frente, mão espalmada e virada para baixo, mas não em direção ao Altar dos
Juramentos, pois o Livro da Lei já está fechado. Outrossim o VM ordena ...Retiremo-nos em paz,
PROMETENDO o mais profundo silêncio sobre tudo quanto aqui se passou ...e não JURANDO.
Ato contínuo exclama-se EU PROMETO, e desfaz-se definitivamente o Sinal. Lembrando também
que juramentos se faz ajoelhado e com a mão direita apoiada sobre o Livro da Lei aberto junto ao
Altar dos Juramentos.

PAG. 129
LOCAL: CORTEJO DE SAÍDA
OCORRÊNCIA: Consta que o P. Estandarte vai postar-se entre as CCol.
COMENTÁRIO: Como visto anteriormente, o P. Estandarte é o que precede o séquito,
tanto na entrada, como na saída. Neste caso da saída, ele precede todos que estão no Oriente,

142
desce os degraus e segue em frente até o Átrio. Seguem-no o VM, VVig., IIr do Oriente, MM do
Ocidente, CC e AA – é exatamente o inverso da Entrada. O Cobridor Interno apagará as luzes e
fechará a porta do Templo.

SESSÃO MAGNA RITUALÍSTICA DE INICIAÇÃO

OBSERVAÇÕES: Como consequência da Sessão Ordinária, continuam as ocorrências e


observações referentes aos momentos e detalhes da ritualística. Não cabe aqui repetí-los.

PAG. 130
LOCAL: TÍTULO DA SESSÃO
OCORRÊNCIA: Constou como Sessão Ritualística de Aprendiz Maçom – Iniciação
COMENTÁRIO: Seguindo as orientações, o título deve ser: SESSÃO MAGNA
RITUALÍSTICA DE INICIAÇÃO. A Iniciação só ocorre numa Sessão de AM. É dispensável o
designativo “de Aprendiz Maçom”.

PAG. 149
LOCAL: QUASE AO FINAL DA PÁGINA - Oração
OCORRÊNCIA: Constou ...conduzi o profano até junto do Ir. 2º Vigl e fazei-o
ajoelhar-se (sobre o joelho direito)...
COMENTÁRIO: Como comentado anteriormente, nas Orações TODOS devem
ajoelhar-se com os dois joelhos.

PAG. 171
LOCAL: NO FINAL DA PÁGINA - Avental
OCORRÊNCIA: O revestimento do Avental é feito pelo VM e não mais pelo 1º Vigilante.
COMENTÁRIO: Correta a alteração.

PAG. 174
LOCAL: MEIO DA PÁGINA
OCORRÊNCIA: Consta que o 1º Exp deve conduzir o neófito à Sala dos PP (O correto
é Átrio) para ministrar-lhe as últimas lições...
COMENTÁRIO: Deve-se evitar este procedimento. Senão vejamos: os neófitos ainda
estão em estado de deslumbramento e confusão. Não sabem nada de Tronco, Sinais, Passos,

143
Saudações, Bateria, etc. E também não vai ser em 5 minutos que o 1º Exp. vai explicar tudo,
como deve ser um bom aprendizado. Esta cerimônia é longa e cansativa e isto requer mais tempo,
atenção e tolerância. A Marcha do Aprendiz é repleta de simbologia. Cada etapa da Marcha deve
ser explicada detalhadamente ao AM já mais maduro, ou seja, esta instrução deve ser ministrada
no seu devido tempo pela Comissão de Instrução. Não há necessidade de se atropelar instruções
sobre instruções. Com o tempo, o conhecimento vai fluir natural e pausadamente, com melhor
entendimento e esclarecimento de dúvidas.

PAG.176
LOCAL: APÓS A ASSINATURA DO LIVRO DE PRESENÇA
OCORRÊNCIA: Constou ...e depois fazei-o(s) sentar-se no topo da Col.do Norte...
COMENTÁRIO: Deveria constar ...e depois fazei-o(s) sentar-se no Topo da Coluna do
Norte, nos primeiros assentos à Oeste, sob os Signos Zodiacais da Primavera (Áries, Touro e
Gêmeos), perto do 1º Vigilante.

PAG. 176
LOCAL: TRONCO DE BENEFICÊNCIA – Sugestão
OCORRÊNCIA: Consta, como sugestão, que o VM designe um MM para que fique
junto ao neófito e lhe explique de maneira discreta essa e demais etapas da Sessão.
COMENTÁRIO: O 1º Vig, no início do Giro do Hosp., explica aos neófitos, de forma
resumida e clara, os objetivos do Tronco e lhes diz que, como neófitos, nesta primeira Sessão, eles
estão dispensados desta obrigação.
Como a cabeça deles ainda está fervilhando por causa da cerimônia de Iniciação, tudo ainda
é confusão e sem sentido prático, certamente não compreenderão muito. Estes esclarecimentos,
orientações e instruções lhes serão fornecidos no seu devido tempo pela Comissão de Instrução da
Loja. É de bom alvitre deixar os neófitos observarem tudo nas duas ou três sessões seguidas para
após começar seu período instrucional.
Ao se colocar um MM para os orientar no que resta desta sua Sessão de Iniciação vai
acabar por desviar as atenções e eles acabarão por continuar não entendendo nada, e certamente
causará tumulto em Loja, quebrando o silêncio, a harmonia e causando inquietação dos demais
IIr. Por outro lado, também se fere o primeiro princípio sagrado do Aprendiz que é o de manter
silêncio, observar e estudar.

144
PAG.182
LOCAL: CORTEJO DE SAÍDA – final da página.
OCORRÊNCIA: A saída não fez menção ao(s) neófito(s).
COMENTÁRIO: Deveria constar que o VM solicita ao MC para que conduza o(s)
neófito(s) à Sala dos P.P., ou ao Salão de Banquetes, antes do Cortejo Oficial sair do Templo, para
ali receber(em) o cumprimento de todos os IIr.

Data: Agosto/Setembro de 2017

Autor: Ivan Luiz Emerim - CIM 5989 – Gorgs


ilemerim@gmail.com
MM da Loja Maçônica de Pesquisas Gênesis- Or.de Caxias do Sul/RS
MM da Excelsa Augusta e Respeitável Loja Simbólica Duque de Caxias III Milênio-Or.
de Caxias do Sul/RS.

FONTES DE CONSULTA

- Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia- Nicola Aslan


- Cadernos de Estudos Maçônicos – REAA – José Castelani
- Curso Básico de Liturgia e Ritualística – José Castelani
- Trabalhos publicados no J.B.News
- Rito-Ritual-Ritualística Maçônica – João Ivo Girardi

TRABALHOS, CONSULTAS, PERGUNTAS E RESPOSTAS DE PEDRO JUK

- A Marcha do Aprendiz
- Perguntas e respostas
- Blog de Pedro Juk
- A Licenciosidade de Opiniões Contra a Arte da Cultura
- Em pé e à ordem
- E o topo da coluna do Norte.....Conclusões?
- O Sinal e o instrumento de trabalho
- Templo Maçônico – Abóbada
- O Delta que tudo vê
- Saudação ao Delta

145
OPINIÃO DE HIRAN LUIZ ZOCCOLI
Museu Maçônico Paranaense
Outubro de 2017

A mais nova GERAÇÃO de RITUAIS é a QUINTA ( de 2007 a 2013 ).

Observem que não vou citar aqui todos os Ritos, mas a situação atual é idêntica para
todos e vem se arrastando desde a segunda geração.
A cada revisão, correção ou alteração do ritual para camuflar a falta de conhecimentos,
tanto astronômico quanto simbólico, persistem nos vários erros, quando não inserem outros.
Nossa preocupação aumenta quando vemos iniciar nova geração de rituais, a quinta,
mantendo os mesmo erros existentes na segunda e ainda os inseridos na terceira, sem os IIr.∴
darem mostra de conhecimento destes erros ou indignação por serem mantidos, demonstrando
quão insignificante são as instruções recebidas para chegar ao coroamento como Mestre
Maçom, tendo a plenitude de seus direitos, mas sem nenhum dever ou compromisso com a
VERDADE.
O objetivo do MAÇOM é a investigação da verdade, sobrepondo-se aos obstáculos
na busca desta, sem reconhecer outro limite senão o da razão com base na ciência para
combater a ignorância, desta forma contribuindo para melhorar o nível intelectual, moral e
social da humanidade, protegendo e servindo os semelhantes.
Se o objetivo do maçom é VERDADEIRO, os Rituais deverão ser CORRIGIDOS,
pois não podemos cultuar a verdade e nos Rituais ensinar o que não coaduna-se com esta.
Como maçons devemos defender a verdade e não compactuar com a continuidade
do que foi corrompido e deturpado no Ritual Maçônico, desviando o elevado sentido do
objetivo original.
“Para quem não sabe o que quer ou para onde vai, qualquer coisa (coisa = Ritual)
serve e todo lugar (lugar = RITO) é bom.”
Eu quero fazer trabalhar minha Loja Interna, exteriorizar minha Partícula Divina,
unir-me ao Criador e viver em perfeita harmonia com as Leis da Natureza.
http://www.museumaconicoparanaense.com/videos/Sig_sess_macon_COMPLETO/
Sig_sess_macon_COMPLETO.php (vídeo 01h: 32 minutos)

146
“No Manual 2017 – 2º Edição, que foi distribuído no início de 2018, foram corrigidas
aproximadamente 25 ocorrências relatadas neste trabalho, das mais de 50 apontadas.
Portanto não é definitivo, podendo sofrer mais alterações no decorrer do tempo”.

147
Música, o remédio
da alma

Carlos Alberto Stalivieri

EU SOU A MÚSICA.

Eu sou a música; das artes, a mais antiga.


Eu sou mais que antiga, eu sou eterna.
Mesmo antes da vida começar nesta Terra, eu já estava aqui – nos ventos e nas ondas.
Quando as primeiras árvores, flores e pastos apareceram, eu estava entre eles...
E quando o homem surgiu, tornei-me imediatamente o veículo mais delicado, mais sutil e
mais poderoso para a manifestação de suas emoções.
Quando os homens eram pouco mais que animais, eu os influenciei de forma benéfica.
Em todas as eras, inspirei os homens com esperança; inflamei o seu amor; dei-lhes voz
para suas alegrias; estimulei-os para realizarem valorosas façanhas; e os consolei nas horas de
desespero.
Representei um grande papel no drama da vida, cujo alvo e propósito eram a grande
perfeição da natureza do Homem. Através da minha influência, a natureza humana elevou-se,
abrandou-se e tornou-se mais aprimorada.
Com a ajuda dos homens, tornei-me uma Arte Superior.
Possuo uma grande quantidade de vozes e de instrumentos.

148
Estou no coração de todos os homens e nas suas línguas, em todas as terras, entre todos
os povos; o ignorante e o analfabeto me conhecem, tanto quanto o rico e o erudito, pois eu falo a
todos os homens, numa linguagem que todos entendem. Até os surdos conseguirão me escutar, se
prestarem atenção às vozes de suas próprias almas.
Sou o alimento do amor.
Ensinei aos homens a delicadeza e a paz: e os conduzi na direção de feitos heroicos.
Levo conforto aos solitários e concilio os conflitos das multidões. (...)
Eu sou a MÚSICA.
(*) Do livro As energias curativas da música, de Hal ª Lingerman.

A MÚSICA COMO TERAPIA NÃO CONVENCIONAL


NO TRATAMENTO DE VÁRIAS DOENÇAS.

Hoje se sabe que muitos dos males que afligem a humanidade vêm ora de doenças físicas,
ora de causas psicológicas ou psicossomáticas.
Existem diversos métodos de cura, que buscam normalmente atingir o íntimo ou a essência
do ser humano.
Entre estas terapias não convencionais encontramos a MÚSICA, que se constitui, sem
a menor sombra de dúvidas, como uma alternativa concreta e eficaz sobre os males físicos ou
psíquicos, ou ainda espirituais.
A música no ser humano tem efeito energético, fala com o corpo em uma linguagem
vibratória, ajudando-o a alinhar a sintonia física com seu próprio padrão de ressonância.
A música afeta o nível de vários hormônios, inclusive o cortisol (responsável pela excitação
e pelo estresse), a testosterona (responsável pela agressividade e pela excitação) e a oxitocina
(responsável pelo carinho), assim como as endorfinas a serotonina, (neurotransmissor que faz a
comunicação entre os neurônios).
Pitágoras dava à terapia pela música o nome de purificação. Sua música curativa se
propunha a equilibrar as quatro funções básicas do ser humano: “pensar, sentir, perceber e intuir”.
Também Platão revelou especial admiração pelo estudo dos efeitos da música sobre os
seres humanos. Afirmava ele que a alma pode ser condicionada pela música e pelos seus efeitos
terapêuticos.
O que se sabe é que deve existir alguma predisposição neurobiológica que faz com que
determinadas combinações sonoras somem de um jeito especial ao ser humano.

149
Quando as ondas sonoras alcançam o ouvido, o tímpano é acionado como uma membrana
microfone, vibrando com a frequência do som. As vibrações são transmitidas através dos ossículos
do ouvido médio para a cóclea e, então, movimentam as fibras de uma membrana que está no
interior da cóclea. Essa membrana (basilar) é composta de cordas transversais, entrelaçadas, cada
uma afinada com uma frequência/altura específica. Devido às leis da ressonância e da estrutura da
membrana, as vibrações da membrana (deslocamento) serão maiores na “corda” que está afinada
com a frequência em questão. Cada nota terá localização específica ao longo da membrana – da
mesma forma como as cordas de uma harpa ou de um piano.
Dois dos mais antigos instrumentos musicais da humanidade, a HARPA e as FLAUTAS
ANCESTRAIS, têm uma excelente união musical; é a redescoberta da Natureza Humana através
de técnicas de harmonização, meditação e visualização criativa, ao higienizar ativamente o corpo
físico, mental ou espiritual de cada ser humano.
Visando uma verdadeira dieta sonora, a harpa e as flautas ancestrais manifestam-se como
uma eficiente Medicina Vibracional desde a Antiguidade até os dias de hoje.
Portanto, som é energia vibracional em movimento; sua amplitude é medida em ciclos
por segundo. A energia muscular aumenta com a intensidade e a altura dos estímulos sonoros. As
células do corpo humano raramente vibram mais do que 1000 ciclos por segundo, portanto o corpo
funciona como um filtro vibratório.
Num mundo altamente estressante, nosso meio ambiental não se adapta a nós seres
humanos. Precisamos, portanto, aprender a adaptar-nos a ele, ou mudá-lo. Um primeiro passo seria
identificar nos elementos que nos cercam, quais os passíveis de reajustes para diminuir o estresse
e quais podem ser usados para contrabalancear esses efeitos estressantes, levando ao relaxamento,
e, consequentemente, produzir saúde.
Compreendendo como o som e a música podem afetar nossos corpos, nossas emoções e
nossas mentes, podemos começar a instituir mudanças em nossas vidas. O importante é você se
sintonizar em si mesmo.
Para ouvir música de modo relaxante e terapêutico, preste atenção às respostas que seu
instrumento humano dá aos estímulos sonoros. Seu corpo e sua mente ficam calmos e relaxados?
Preste atenção a você mesmo. Tome nota do que está acontecendo com você enquanto a música toca.

QUAIS OS BENEFÍCIOS QUE A MÚSICA PODE NOS TRAZER?

Segundo os especialistas, a música harmônica pode provocar, nos seres humanos, oito
tipos de efeitos:

150
-antineurótico;
-antidistônico;
-antiestresse;
-sonífero e tranquilizante;
-regulador psicossomático;
-analgésico e/ ou anestésico;
-equilibrador do sistema cardiocirculatório;
-equilibrador do metabolismo profundo;

A influência da música atinge diversos órgãos e sistemas do corpo humano: o cérebro,


com suas estruturas especializadas, como o hipotálamo, a hipófise, o cerebelo, o córtex cerebral, o
tálamo, o plexo solar, os pulmões, todo aparelho gastrintestinal, o sangue e o sistema circulatório
(com ação vasoconstritora e vasodilatadora, agindo, portanto, na pressão sanguínea), a pele e as
mucosas, os músculos e o sistema imunológico.
A música pode ser usada de diversas formas como tratamento terapêutico, inclusive
integra-se a tratamentos nas áreas de psiquiatria, da fisioterapia e da medicina psicossomática.

MEDITAÇÃO COM MÚSICA.

Aqui estão algumas orientações básicas para meditar com música, seja qual for o gênero
ou estilo escolhido.
Antes da música começar, coloque-se em posição confortável e aquiete seu corpo, sua
mente e seu espírito.
Compenetre-se de que está na presença de sua própria alma e na presença do Grande
Arquiteto do Universo. Agradeça com antecedência a dádiva da música e das energias que ela vai
liberar em você.
Enquanto a música toca, desligue-se completamente. Sinta a música fluindo sobre você e
dentro de você. Abra-se para as vibrações curativas e energizantes que entram no seu corpo.
Deixe que seu corpo desfrute a música, deixe que sua imaginação responda ativamente ao
estímulo sonoro e deixe que seu espírito seja transportado pela música para onde ele tenha de ir.
Quando a música acabar, fique quieto por alguns minutos, revendo o que aconteceu ao seu
corpo na sua imaginação, nas suas emoções e em seu espírito.
Portanto, além de alterar aspectos físicos do organismo, a música pode exercer efeitos sobre
a parte psicológica. Com base na experiência do Centro de Pesquisas e Aplicações Psicomusicais,

151
localizado na França, o efeito de determinadas músicas sobre pacientes com doenças nervosas foi
dividido em quatro grandes grupos:

EFEITO RELAXANTE;
EFEITO DE TRANQUILIDADE;
EFEITO TONIFICANTE;
EFEITO DE EXALTAÇÃO E ESTIMULAÇÃO:

Um compositor clássico em especial, Beethoven, com sua música parece transmitir as


sutilezas do mundo superior.
A seguir, são apresentados alguns dos efeitos que suas principais sinfonias podem provocar:

Primeira Sinfonia: Estimula a motivação e a autoconfiança.

Segunda Sinfonia: Gera grande força de vontade, poder de decisão e pode promover
profundas transformações em mentes passivas.

Terceira Sinfonia: Contribui para equilibrar o sistema nervoso, combate a tensão, o


pessimismo, a incerteza e o desânimo.

Quarta Sinfonia: Transmite forte carga de sentimentos altruístas, ajuda a eliminar


sentimentos como o ódio, o egoísmo, o ciúme, a inveja, o desejo de vingança e a luxúria.

Quinta Sinfonia: Estimula a reflexão existencial, levando o ouvinte a pensar em seu


processo dialético e na própria vida.

Sexta Sinfonia: Desperta a criatividade, particularmente no plano artístico, estimula a


esperança, a autoconfiança e a busca de novos caminhos.

Sétima Sinfonia: Propicia a autoanálise e amplia o autoconhecimento, permite maior


aprofundamento e encoraja o caminho da espiritualidade.

Oitava Sinfonia: Eleva o discernimento, abrindo os campos da consciência a formas


superiores de ser.

152
Nona Sinfonia: Conduz à renovação mística e permite o contato com estados mais refinados
de consciência.

APLICAÇÃO DA MÚSICA DE FORMA TERAPÊUTICA.

PARA COMBATER A ANSIEDADE:


Barcarola, de OFFENBACH
Danças Polovitsianas, de BORODIN
Os 4 improvisos, de CHOPIN
Canção sem palavras, Andante Cantabile, Primeiro Quarteto para Cordas em Ré, de
TCHAIKOVSKY
Sonho de Uma Noite de Verão, de MENDELSSOHN
Ária para a Quarta Corda, de Bach
Recomenda-se ouvir as peças, uma a cada dia, com fones de ouvidos em ambiente
silencioso, por meia hora.

PARA ESTIMULAR A ENERGIA VITAL:


Marcha Eslava, de TCHAIKOVSKY
Marcha da festa, do Tanhauser, de WAGNER
Marcha Fúnebre para uma Marionete, de GOUNOD
Marcha Rakruzky, de BERLIOZ
Marcha Triunfal, da ópera Aida, de VERDI
São especialmente recomendadas no tratamento de doenças crônicas, debilitantes, nas
quais ocorre profunda redução da vitalidade, como o câncer. Devem ser tocadas no quarto do
paciente, sempre em volume suave.

PARA PRODUZIR HARMONIA, EQUILÍBRIO EMOCIONAL E MENTAL:


Consolação nº 3, de LISZT
Noturno, de RIMSKY-KORSAKOV
Sonata ao Luar, de BEETHOVEN
Trio em Dó Menor, segundo movimento, de CHOPIN
Recomenda-se para aqueles que perderam pessoas queridas e nos estados de inconformismo.

153
Devem ser ouvidas com frequência, em ambiente tranquilo, na residência, no local de trabalho, ou
até no carro.

PARA COMBATER A DEPRESSÃO E O MEDO EXCESSIVO:


Sonho de Amor, de LISZT
Serenata, de SCHUBERT
Guilherme Tell, (abertura), de ROSSINI
Noturno, Opus 48, de CHOPIN
Chacona, de BACH
Ideal escutar pela manhã, ao levantar.

PARA COMBATER INSÔNIA, TENSÃO E NERVOSISMO:


Canção da Primavera, de MENDELSSOHN
Sonata ao Luar, de BEETHOVEN
Valsa nº 15, em Lá Bemol, de BRAHMS
Sonho de Amor, de LISZT
Movimentos Musicais nº 3, de SCHUBERT
Escutá-las sempre antes de dormir. É preciso paciência, uma vez que no início os
efeitos são leves.

PARA FAVORECER A INTERIORIZAÇÃO E A MEDITAÇÃO:


Concerto nº 2 para piano, de RACHMANINOV (último movimento).
Concerto em Lá Menor, para piano, de GRIEG (primeiro movimento).
Concerto nº 1, para piano, de TCHAIKOVSKY (primeiro movimento).
Ouvir por cerca de 10 minutos, preparando-se para a prática da meditação.

PARA PESSOAS DE CARÁTER PESSIMISTA:


Abertura de Guilherme Tell, de ROSSINI (parte final)
Carmen, de BIZET (parte final)
Abertura 1812, de TCHAIKOVSKY
Mestres Cantores, de WAGNER (abertura)
Valquírias, de WAGNER (abertura)

154
Dança Húngara nº 5, de BRAHMS
Bacanal, de Sansão e Dalila, de STRAUSS
Dança dos Comediantes, de A Noiva Vendida, de SMETANA
Bolero, de RAVEL
Lohengrin, de WAGNER (prelúdio do terceiro ato)
Dança de Anitra, da Suíte Peer Gynt, de GRIEG
Estas peças devem ser ouvidas frequentemente pelas pessoas com tendências ao pessimismo
e negatividade.

PARA CASOS DE DEBILIDADE MUSCULAR, APATIA, SENSAÇÃO DE


FRAQUEZA, OBESIDADE COM PROSTAÇÃO, DESEQUILIBRIOS NERVOSOS E
DOENÇAS DEBILITANTES DOS MÚSCULOS EM GERAL:
Danças Eslavas, de DVORÁK
Dança Húngara nº 5, de BRAHMS
Pavana, de DEBUSSY
Valsa da Ópera Eugène Onéguine, de TCHAIKOVSKY
Marcha da Ópera Aida, de VERDI
Dança dos Marinheiros Russos, de GLIÉRE
É recomendado ouví-las continuamente, como música de fundo, durante o dia e também
à noite, mesmo dormindo.

DURANTE A GRAVIDEZ E PARA FACILITAR O PARTO:


Concerto para Violino, Opus 87 B, de SIBELIUS
Sonata Opus 56, de HAYDN
As Quatro Estações, de VIVALDI
Concerto Tríplice, de BEETHOVEN
Concerto para Violino, de BRAHMS
Concerto para Violino, de TCHAIKOVSKY
Ouvidas alternadamente, por períodos, durante a gravidez e nos dias que precedem o
parto, as peças musicais geram bem-estar e contribuem para o nascimento de crianças tranquilas.

155
PARA OBTER EFEITO ANALGÉSICO E ANESTÉSICO EM CIRURGIAS:
Estrela Noturna e Murmúrio no Bosque, de WAGNER
Clair de Lune, de DEBUSSY
Sonata ao Luar, de BEETHOVEN (primeiros movimentos)
Devem ser ouvidas algumas horas antes e durante a cirurgia.

PARA MELHORAR E ESTIMULAR A MEMÓRIA:


Concerto em Dó Maior para Bandolim, Corda e Clavicórdio, de VIVALDI
Largo do Concerto em Dó Maior para Clavicórdio, BMW 976, de BACH
Largo do Concerto em Fá Menor, BMW 988, de BACH
Spectrum Suíte, Confort Zone e Starbom Suíte, de STEPHEN HALPERN
Faça sessões de uma hora, de preferência pela manhã, ao acordar. Escute uma peça por
dia, alternadamente.

PARA ACALMAR AMBIENTES TUMULTUADOS:


Sonho, de DEBUSSY
Tema de Amor da Abertura de Romeu e Julieta, de TCHAIKOVSKY
Pavana para uma Infanta Defunta, de RAVEL
Morte do Amor, de Tristão e Isolda, de WAGNER
Dia de Esponsales em Troldhausen, (Noturno), de GRIEG
Noturno para Cordas, de BORODIN
Variação nº 18 sobre um Tema de Paganini, de RACHMANINOV
Estas peças devem ser tocadas seguidamente como música de fundo em ambientes como
escritórios, lares tumultuados, hospitais, fábricas, salas de espera, bancos, etc. Os resultados são
notáveis.

PARA COMBATER O ESTRESSE E DOENÇAS CORRELATAS:


Träumerei, de SCHUMANN
Clair de Lune, de DEBUSSY
Melancolia Matinal, da Suíte Peer Gynt, de GRIEG
Canção da Estrela da Tarde, do Tanhauser, de WAGNER
Estudo Opus 10, nº 3, de CHOPIN
De preferência, tocar todas as manhãs antes de iniciar o trabalho. Ouvir uma das peças

156
por semana. São eficazes contra o estresse, cansaço por excesso de trabalho, tensão nervosa,
preocupação exagerada com pequenas coisas. Também produzem resultados satisfatórios em casos
de doenças orgânicas psicossomáticas decorrentes do estresse, desde que associadas a tratamentos
médicos, como nos casos de úlceras gástricas e duodenais, colites, soluços e outros distúrbios de
origem nervosa.

PENSAMENTO

“ SE VOCÊ ESPERA QUE A CANÇÃO DO REINO O ENVOLVA COMO O SOM DOS


PÁSSAROS NOS BOSQUES, JAMAIS A OUVIRÁ.
COMO PODERÁ OUVIR ALGO NOVO SE NÃO ESPERA NADA MAIS DO QUE
AQUILO QUE VOCÊ JÁ CONHECE? NÃO FAÇA REGRAS PARA A MÚSICA.
APENAS ESCUTE. ESCUTE”.
TALVEZ ESCUTAR SEJA A CHAVE.
EM NOSSA GERAÇÃO TALVEZ TENHAMOS MENOS NECESSIDADE DE FALAR
COM DEUS DO QUE COMEÇAR A OUVÍ-LO.

CONCLUSÃO

As décadas finais do último milênio revelaram a tendência ao retorno da espiritualidade


musical não mais influenciadas somente por religiões, mas por uma abordagem natural, para entrar
na Nova Era, a Era de Aquário (na qual já estamos vivendo) e que deverá perdurar os próximos
dois milênios.
Em todas as eras os pensadores nos têm advertido dos perigos sociais relacionados ao
uso errôneo da arte tonal. Mas existe o lado positivo. Usada corretamente, a música tem o poder
da cura e de instilar no homem a beleza da verdadeira moral e dos propósitos inspirados mais
elevados que devem reger nossas vidas.
Há mais coisas a respeito da vida e da morte do que os dois lados do túmulo: todo momento
de música a que nos submetemos pode estar, pouco a pouco, intensificando ou consumindo nossas
energias vitais e nossa clareza de consciência.
Verificamos que o milênio que acabou de passar foi fértil na produção intelectual e artística
da humanidade. A música foi intensamente aperfeiçoada e se experimentou uma variação enorme
de tipos de ritmos e harmonias tonais. A música é uma atividade aberta à capacidade criativa da
mente humana. Muitos gênios surgiram, mas certamente ainda aparecerão muitas trilhas sonoras
tocadas pela genialidade.

157
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A Arte da Música Através dos Tempos. (Ademar Valsecchi 2003).


Os Grandes Clássicos (Carlos José Costas)
Ediciones Del Prado (1995), O Espiritismo Na Arte.
Som & Saúde (Polígrafo).
Canoa Records .
Musicoterapia: Corpo Sonoro - Lúcia Maria Chaves Tourinho.
Música, O Remédio da Alma

Caxias do Sul, 01/12/2005.

158
Pé esquerdo

Romeu Carlos Damin

Ao contrário do que alguns pensam, esse é um costume muito antigo e não possui relação
alguma com o azar.
As principais esculturas de deuses e faraós egípcios mostram sempre o pé esquerdo à
frente, enquanto as que ilustram pessoas comuns no cotidiano mostram o direito. Não se trata
de coincidência: o pé esquerdo era considerado pelos egípcios como símbolo do primeiro passo
para uma nova vida. Por isso, por ocasião da sua posse, o faraó dava o primeiro passo com o pé
esquerdo. As escadas eram feitas com número ímpar de degraus, sendo dessa forma possível dar
o primeiro passo e o último com o pé esquerdo. Esta tradição foi herdada pelos gregos como pode
se ver estampada em sua arte.
Os egípcios acreditavam que o lado esquerdo era o espiritual, enquanto o direito era o
material. Por isso as coisas consideradas sagradas eram feitas com o pé e a mão esquerdos.
Este simbolismo do primeiro passo, um passo espiritual para uma nova vida, continuou
sendo observado nas instituições tradicionais, principalmente na Maçonaria.

ROMPENDO A MARCHA

Este costume também foi incorporado pelos antigos exércitos que davam o primeiro passo
em suas marchas com o pé esquerdo como sinal de sorte em suas batalhas.

159
Com o tempo, o costume se tornou regra mas perdeu a sua simbologia. Desta forma, as
famosas Lojas Maçônicas militares, responsáveis pelo surgimento das primeiras Lojas Maçônicas
nas então colônias, acostumaram-se ao primeiro passo com o pé esquerdo, não só em Loja, mas
também fora delas. Assim o termo “romper a marcha” com o pé esquerdo tornou-se parte integrante
da marcha do maçom.
Apesar de optarmos pelo pé esquerdo, ilustres maçons estudiosos entendem que nada
disso tem fundamento, tratando como “achismos” e bobagens tal assertiva, ou como opiniões
pessoais que nada correpondem com o fundamento maçônico. A interpretação cabe a cada um.
Este pequeno resumo foi fonte de muitas buscas e estudos feitos por mim. Não me cabe
julgar se é “achômetro” ou não.

CURIOSIDADES

- Ao montar no cavalo faz-se pelo lado esquerdo, bem como desmontar. Coloca-se o pé
esquerdo no estribo para o apoio e o pé direito se alça sobre o dorso para alcançar o estribo do
outro lado, ficando de frente para a cabeça do cavalo e corretamente sentado para iniciar a marcha.
Caso contrário ficaríamos de costas para a cabeça e de frente para o rabo;
- Ao iniciar uma dança, o homem dá o primeiro passo com o pé esquerdo. Geralmente
o homem deita-se do lado esquerdo da esposa e ao levantar-se coloca primeiro o pé esquerdo no
chão;
- Segura-se o garfo, ao comer, com a mão esquerda;
- Na maior parte do mundo, ao sair do automóvel, o motorista coloca o pé esquerdo ao
solo em primeiro lugar:
- No Budismo, o pé esquerdo é destaque, tanto assim que o pé do Buda que se vê
representado é o esquerdo;
Outros exemplos da vida prática poderiam ser notificados, mas, para não nos estendermos
mais, ficamos com esses.

Romeu Carlos Damin


2019

160
Regras básicas e prática ritualística do
rito escocês antigo e aceito

Ivan Luiz Emerim


Wilson José Adami Mano

INTRODUÇÃO

Quando presentes aos trabalhos normais de uma Loja Maçônica, estamos cientes
de que vamos participar de uma cerimônia essencialmente ritualística. Devemos então estar
conscientemente preparados para participar efetivamente da Sessão, não somente para exercer
algum cargo, mas, principalmente, para usufruir de toda a essência esotérica, litúrgica e filosófica
que todo o conjunto de procedimentos ritualísticos nos proporciona.
E como é agradável e salutar participar de uma Sessão onde todo o conjunto ritualístico
é bem projetado, elaborado, treinado e conduzido. A harmonia obtida de todo o trabalho bem
executado resulta, além de uma sensação ordeira no plano físico, também na elevação espiritual
de grande alcance. Nestes casos, muitas vezes saímos da Sessão com uma sensação agradável e
repousante, sem nos darmos conta de que se passaram aproximadamente duas horas e, algumas
vezes, com pesados assuntos tratados.
Por outro lado, quando participamos ou assistimos a uma Sessão Maçônica não muito
bem elaborada, não treinada, mal executada ou conduzida, nosso plano físico toma o primeiro
lugar em nosso íntimo em detrimento do plano espiritual. Nossa atenção fica voltada para os
procedimentos mecânicos mal feitos ou conduzidos. Ficamos sempre aguardando qual será o

161
próximo equívoco a ser cometido. A Sessão dura uma eternidade e seus efeitos não são produtivos
nem salutares, sem contar com os indisfarçáveis comentários dos sempre atentos participantes.
A atenção, o relaxamento e a elevação do espírito, que deveria ser o primordial, vira tensão,
desarmonia, intranquilidade e, invariavelmente, conduz a olhares de desaprovação e sussurros
entre os presentes, quebrando desta forma o silêncio e o sentido espiritual e esotérico da reunião.
Apesar de algumas Sessões Maçônicas serem públicas, destituídas das formalidades
intrínsecas e ritualísticas de uma sessão normal, todas elas são elaboradas e conduzidas dentro de
seu ritual próprio feito para cada caso.
Este trabalho, então, tem o objetivo de colocar alguns procedimentos que devem ser
seguidos por todos os membros de uma Loja Maçônica. Salientamos que isto não é a verdade
absoluta. É apenas um estudo baseado em colocações e instrucionais de diversos e renomados
autores maçônicos que pesquisaram, através da história, os Ritos e suas adaptações. Apresentaremos
aqui as determinações contidas no atual ritual adotado pelo GORGS (2010/2013), o Rito Escocês
Antigo e Aceito em seus graus simbólicos.
Igualmente, não nos preocupamos em colocar aqui as explicações de cunho histórico,
filosófico, esotérico, simbólico e litúrgico de cada assunto abordado. Somente em alguns deles é
que nos aventuramos a fazer citações. Estas questões foram propositadamente deixadas de lado
para que os leitores façam suas pesquisas e interpretações, uma vez que, apesar de existirem bons
livros de excelentes autores, com frequência eles divergem entre si.

IMPORTANTES DIFERENÇAS

É importante, antes de entrarmos no âmago de nosso trabalho, saber a diferença entre Rito,
ritual e ritualística. Para isto temos a seguinte e breve distinção:
Rito: Fora do âmbito maçônico existiram, e ainda existem, ritos adivinhatórios, de união
ou sacrifícios, de passagem social e muitos outros associados a tribos indígenas, seitas, religiões,
tribunais, à sociedade, grupos ou associações de fins humanitários e até criminosos.
Existiram através da história maçônica diversos Ritos. Hoje ainda temos vários que são
praticados em diferentes países, respeitando sempre as características de cada região.
Rito também é qualificado como um método de conferir a luz maçônica por uma coleção e
distribuição de graus (Nicola Aslan – Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia).
Em Maçonaria, Rito é o conjunto de fórmulas e prescrições indispensáveis – ora de caráter
legislativo, ora puramente formalístico. Ele é adotado para estabelecer exigências e o modo que
devem ser recebidos os adeptos e se conduzir os filiados (Octaviano Bastos, citado por Aslan em
seu Grande Dicionário).

162
Em Maçonaria, segundo Frau Abines (citado por Aslan), chama-se Rito o conjunto de
regras ou preceitos com os quais se praticam as cerimônias e são comunicados os sinais, toques e
palavras e todas as instruções secretas dos graus.
Os Ritos são necessários não somente para criar um ambiente particular, mas agem por
uma impregnação do subconsciente ao qual dão um poder e uma eficiência reais (J.Boucher –
citado por Aslan).
Profanamente, se diz ainda que Rito é o conjunto de cerimônias e fórmulas utilizadas, e
tudo o quanto se refere à sua liturgia.
E, ainda, que é o conjunto de regras segundo as quais se praticam as cerimônias.
É importante destacar que, apesar da diversidade, todos têm pontos fundamentais de
contato e de doutrina e em nada alteram o fim essencial da Ordem. A declaração de princípios
que a Ordem apresenta nos seus Estatutos é respeitada por todas as Oficinas, qualquer que seja
o Rito em que trabalhem, de modo que a unidade de doutrina se estabelece, servindo então eles
para diferenciarem apenas os hábitos administrativos, para identificar o Iniciado no sentido oculto
do grau que recebe, para relembrar fatos considerados úteis à educação moral, para estimular a
perfeição necessária na aplicação da doutrina e estabelecer normas particulares de ação, baseadas,
tão somente, em regras tendentes a disciplinar e cultivar a fraternidade. Desta forma, vemos que
os Ritos nada têm em comum com a doutrina que fundamenta a Ordem.
Ritual: Enquanto o Rito é a cerimônia estabelecida pela lei, ou pelo costume, tendo um
efeito religioso ou mágico, o ritual é um sistema de Ritos e cerimônias.
Em Maçonaria, chama-se ritual o livro que contém a ordem, as fórmulas e demais
instruções necessárias para a prática uniforme e regular dos trabalhos maçônicos em geral. Cada
grau e cada espécie de cerimônia têm o seu ritual específico.
Antigamente, estas fórmulas eram transmitidas oralmente, pois a obrigação do maçom
de “nada revelar, gravar ou imprimir” era levada ao pé da letra. Porém, isto causou uma
diversidade de interpretações ao longo dos anos, uma vez que esta transmissão era feita de acordo
com o entendimento e o interesse de cada um. Com tudo isto e o achismo individual sempre
colocado, formaram-se ao longo dos tempos rituais completamente diversos do original. Por
causa disto adotou-se registrá-lo em livros, primeiramente secretos, guardados a sete chaves,
onde só os Grãos Mestres tinham acesso, e após discretos, onde todos poderiam estudar, porém
em forma de grifos, símbolos, abreviações e palavreado próprio de forma a dificultar e não ser
entendida a sua leitura por profanos. Só os Iniciados é que recebiam a orientação correta de
como interpretá-los.

163
Em nosso caso particular, do Rito Escocês Antigo e Aceito, existem ainda rituais diversos
sendo praticados por diversas potências.
O ritual maçônico é discretamente educativo. A sua repetição age modificando
gradativamente a brutalidade dos participantes. Foi posto em prática numa época em que o ensino
público era ainda rudimentar e, por mais aperfeiçoado que ele seja em nossos dias, nem tudo, longe
disto, é ensinado nas escolas. Há uma cultura humana que resulta de uma disciplina que cada um
se impõe voluntariamente, porque soube compreender por si mesmo (Walter F. Meier – citado por
Aslan).
Ritualística: É tudo aquilo que é relativo ao ritual, ao Rito ou ao ritualista. Não pode
ser confundido com ritualismo, que é o sistema dos que se apegam a ritos. É também o modo de
se proceder, conduzir e agir em determinadas ocasiões, especialmente as que se referem a uma
cerimônia pública, restrita, fechada ou secreta. Além da essência prática, ela contém um fundo
esotérico e simbólico amplo e muitíssimo importante.

REGRAS BÁSICAS

Não temos a pretensão e nem cabe aqui sermos senhores da verdade, porém, ao longo de
mais de vinte e cinco anos de constantes trabalhos dedicados à Ordem e à nossa Loja em particular,
tanto nos três graus simbólicos como em todos os graus filosóficos, e também de ininterruptos e
variados cargos exercidos, principalmente na área da ritualística, da instrução, do conhecimento
geral e fruto também das instruções recebidas ao longo dos anos, tanto através dos Irmãos
mais antigos, bem como das várias palestras, livros, pesquisas e cursos frequentados, sentimo-
nos incentivados a, modestamente, apresentar este singelo compêndio de práticas e regras que,
acreditamos, seja o mínimo necessário para que um maçom possa exercer com toda a tranquilidade,
segurança e sabedoria, o modo de proceder em Loja.
Muitas regras e procedimentos aqui expostos não constam nos rituais, porém são frutos
de pesquisas de muitos autores, estudiosos e que fazem parte de alguns usos e costumes de antigos
ensinamentos.
Queremos deixar saliente aqui que ainda existem diferenças entre o original e oficial Rito
Escocês Antigo e Aceito e o que está colocado em nosso ritual. Porém esta é uma discussão tratada
em outro nível. De acordo com nosso regulamento devemos obedecer aos preceitos, normas, leis e
rituais emanados pela nossa Obediência. Por isto nosso trabalho, apesar de puramente estar falho,
obedece ao colocado no atual ritual. Se, através dos tempos, ele for modificado, teremos também
que corrigí-lo.

164
A prática e a regra não são uma obrigação casual. Elas são estatutárias, senão vejamos:
No Estatuto do GORGS, no capítulo VII, seção I dos Deveres do Maçom, no artigo 123,
ítem l diz o seguinte: “obedecer à lei e aos poderes maçônicos constituídos”. No ítem II: “frequentar
assiduamente os trabalhos das Lojas e órgãos da administração de que fizer parte, bem como
aceitar e desempenhar, com probidade e zelo, as funções e os encargos que lhe forem confiados”.
Desta forma, obedecer à lei e aos poderes nos remete ao estudo e a prática das determinações
maçônicas. E uma delas é o procedimento ritualístico, obrigatório em todas as Sessões. Frequentar,
aceitar e desempenhar os encargos e cargos nos obriga a ter conhecimento do ritual e da sua prática.
Da mesma forma, muitos Estatutos é Regimentos Internos das Lojas, especialmente no
capítulo dos Deveres do Maçom, normatizam que os obreiros estejam aptos para exercer qualquer
cargo ou incumbência a eles atribuídos.
Como vemos, a ritualística não é só uma atribuição de quem exerce algum cargo na
administração de uma Loja. Ela é para todos os maçons.
Baseados nesta premissa, mostraremos a seguir algumas regras básicas de ritualística,
muitas delas provindas de orientações e de estudos de vários autores maçônicos, outras de instruções
recebidas, de práticas constantes, de observações verificadas ao longo dos anos e, principalmente,
as contidas em nosso ritual.

OBRIGAÇÕES DO MAÇOM

Não poderíamos deixar de colocar neste trabalho, como primeiro passo ou obrigação de
um verdadeiro maçom, alguns procedimentos que são fundamentais para um bom desempenho na
ritualística da Sessão.

1. Como primeira regra colocamos a consciência do maçom. O maçom tem a obrigação


de estar consciente de que está numa condição especial, diferenciada e que lhe exige sempre um
comportamento exemplar. Por isto, em sua atividade profana, ele deve praticar os ensinamentos
que a Ordem lhe proporciona e na sua atividade maçônica ele tem que estar consciente e apto para
absorver estes ensinamentos.

2. Todos temos obrigações pessoais e familiares. O nosso dia a dia é repleto de


ritualística. Desde o modo de levantar, fazer a higiene matinal, vestir-se, tomar a primeira refeição,
encaminhar-se para o trabalho e, dentro deste, existe todo o procedimento ritualístico de sua
execução. Também existem os compromissos sociais e os deveres para com a família. O maçom,

165
no dia de seu compromisso maçônico, já se prepara desde a manhã, ou até antes, tanto espiritual
como fisicamente, para os trabalhos de sua Loja. Deve sempre estar consciente que sua presença
é necessária, não só para si, para seu bem-estar, mas também para a fraternidade e a alegria de
todos os outros irmãos. É importante também saber antecipadamente qual será a espécie de Sessão
e qual a sua pauta para preparar-se de acordo. Por isso, neste dia, ele deverá comparecer trajado
de acordo com as normas exigidas, evitando trajes claros, esportivos ou não condizentes com uma
Sessão Maçônica. O traje escuro com camisa clara e gravata também escura é o recomendável
em todas as sessões. A este respeito nosso ritual preceitua: “....o respeito aos demais irmãos deve
prevalecer na escolha do traje do maçom....E acrescenta… nas Sessões Magnas de Iniciação,
Elevação, Exaltação e Magnas Públicas, é obrigatório o uso de terno preto ou azul marinho, com
camisa branca e gravata escura” . É importante também que o irmão já deixe separado, no bolso
interno do paletó, o valor que vai colocar no Tronco de Solidariedade.

3. Além das Luzes, o irmão que exercer algum cargo em Loja, como Dignidade,
Oficial e membro de comissões, principalmente de Instrução, Liturgia e Ritualística, deve, além
de sua função, servir de exemplo aos demais. Por isto ele precisa ter consciência de que deverá
sempre vir trajado de acordo com as normas e saber desempenhar a sua tarefa com probidade. Em
alguns casos, pede-se para que o irmão decore a sua fala para evitar a ridícula postura de tentar
ler - muitas vezes no escuro – o que o ritual estabelece. Aproveitamos para esclarecer que quando
se porta algo com a(s) mão(s) não se faz o sinal, mesmo o ritual ou um lembrete escrito com o
texto a ser falado.

4. As Luzes, Dignidades e Oficiais – principalmente – e também o obreiro, devem chegar


no local da Sessão com antecedência de no mínimo meia hora, pois assim ficarão inteirados de
alguma atividade extra ou de outras questões e novidades que surgirem além da pauta da Sessão.
Se a Loja dispuser de site ou comunicação eletrônica entre seus obreiros, o calendário e a pauta de
cada Sessão poderão ser divulgados com antecedência mínima de um dia.

5. Outro procedimento essencialmente maçônico é a afetuosidade que os irmãos têm um


para com o outro no modo de se cumprimentar. O modo correto é cumprimentar a todos com
educação, carinho e manifestações de bem querer como se fosse um irmão de sangue ou familiar
muito querido.

6. A Sala dos Passos Perdidos é a sala de espera dos Templos Maçônicos que precede
imediatamente ao Átrio. É nela que se reúnem os maçons para colocar as suas insígnias, dar-se a

166
conhecer aos Expertos, assinar o livro de presenças, etc. É o lugar onde os maçons se preparam e
aguardam até o momento de adentrar no Átrio. É também o local onde se reúnem para conversar.

7. O Átrio é a sala que antecede ao Templo. É o local onde se distribui os cargos, as


joias, é formado o cortejo e onde se faz a concentração para a reunião. Neste local deve-se manter
um silêncio respeitoso, evitar conversas, risos e ruídos inconvenientes e impróprios para o local.
Arquitetonicamente, não existe uma sala ou cômodo denominado Sala dos Passos Perdidos,
porém o Átrio é conhecido desde a época dos romanos que o projetavam nas construções de seus
edifícios e suntuosas residências. Era denominado de atrium ou atriu e constava de um pórtico
coberto na entrada ou interior dos edifícios. É o espaço entre a porta da rua e a escadaria; também
conhecido como saguão, sala de estar, pátio interno, vestíbulo e adro. Valdemar Sansão. em seu
trabalho intitulado “Nossos Templos”, cita a origem da Sala dos Passos Perdidos como sendo do
parlamento inglês que já existia desde 1296, e diz: “todo Templo Maçônico é constituído de três
partes: a Sala dos Passos Perdidos, o Átrio e o Templo”. Rui Jung Neto, no trabalho “A Sala dos
Passos Perdidos” faz menção às origens no parlamento inglês e diz: “quando em 1776, a Grande
Loja de Londres inaugurou o primeiro Templo Maçônico, foi buscar no parlamento inglês a forma
e até o nome da sala que antecede o Átrio”. Cita ainda um texto recebido por Kurt Max Hauser
que diz: “a denominação maçônica Sala dos Passos Perdidos, tem sua origem de uma expressão
profana. É a antessala do salão de audiências ou de sessão da Prefeitura de Genebra (Suíça); da
Câmara dos Deputados da França e do Palácio da Justiça de Paris”.
No diagrama do Templo mostrado em nossos rituais encontram-se destacados somente o
Átrio e o Templo.

8. O avental deve sempre ser colocado por cima de toda a vestimenta do maçom. Nunca
deverá ter jaqueta, casaco ou outra peça do vestuário por sobre ele. O avental é soberano. É um
dos símbolos mais importantes da Maçonaria. É o traje principal do maçom e deve ser colocado
antes da Sessão na Sala dos Passos Perdidos. Todo maçom recebe seu avental quando é iniciado
e exaltado e deve portá-lo sempre consigo quando se dirige a uma Sessão Maçônica. A Loja não
tem obrigação nenhuma de disponibilizar aventais aos seus membros e, quando isto acontece, ele
deve ser devolvido ao seu local tão logo o irmão saia do Templo. Não se tira e nem se coloca o
avental dentro do Templo. Não é permitido usar avental ou paramentos dos altos graus ou graus
filosóficos em Loja Simbólica.

9. Todo membro de uma Loja Maçônica recebe o ritual correspondente ao seu grau.
Ele deve ser lido e interpretado com o auxílio da Comissão de Instrução, portanto não deve ser

167
entregue ao neófito no dia de sua Iniciação. A Comissão de Instrução é que o entregará com as
devidas explicações, recomendações e cuidados. Todo ritual deve ser guardado convenientemente
pelo irmão e deverá ficar fora do alcance, do olhar e da curiosidade de profanos, familiares, etc. Ele
é personalíssimo do irmão Maçom e cabe a este deixá-lo em lugar discreto ou até secreto. É restrito
somente ao seu uso particular. Convém lembrar que para o neófito tudo é novidade e motivo de
grande curiosidade, sem esquecer que também o é para seus familiares e amigos. É necessário certo
período de tempo até ele entender a sua condição de maçom com seus direitos, deveres e obrigações
e também que o sigilo e o juramento prestado na Iniciação não são apenas simbólicos, mas sim
verdadeiros. Outro fator importante é a explicação a respeito da discrição de seu comportamento
fora de Loja e a guarda de publicações como rituais, livros, Estatutos do GORGS, Regulamentos
e Regimentos. Além disso, o ritual contém termos, símbolos e abreviaturas que só os irmãos mais
antigos sabem decifrar. A entrega do ritual, bem como as explicações e instruções pormenorizadas,
devem ser feitas gradualmente pela Comissão de Instrução. Recomenda-se para que os irmãos
acompanhem os trabalhos ritualísticos com seu ritual para melhor assimilação e entendimento.
Quando ocorrer mudanças, alterações ou nova edição dos rituais, a Loja é obrigada
a adquirir exemplares para o uso de suas Luzes, Dignidades e Oficiais, divulgar e instruir todos
os obreiros a respeito e disponibilizar para a venda aos irmãos interessados. Além disto, deve
promover e difundir de imediato o uso e a prática de suas determinações.

10. Todo maçom inicia sua marcha e caminhada com o pé esquerdo. Quando se entra
em Loja o primeiro pé a adentrar o Templo é o esquerdo. Quando se passa do Ocidente para o
Oriente ou vice-versa, o primeiro degrau deve ser alcançado com o pé esquerdo. Sempre que se
interrompe uma circunvolução ou giro ela deve ser retomada com o pé esquerdo.
José Prudêncio Pinto de Sá, em alguns trechos de seu livro “As Marchas na Maçonaria”
nos diz: “embora haja variação da prática ritualística em virtude dos vários Ritos, a interpretação
é quase sempre coincidente, em boa parte, ao Sephiroth e à Cabala. A marcha escocesa não mudou
e, ao longo dos anos, as diferenças introduzidas em outros Ritos não modificaram o escocesismo
que se mantém fiel às suas origens francesas”, diz ainda: “o pé esquerdo avança antes do direito
para mostrar que o Aprendiz ainda tem as influências emocionais e da imaginação (lado esquerdo)
preponderando sobre a razão e a inteligência (lado direito).

11. Na organização do cortejo no Átrio deve-se manter silêncio para que o Mestre de
Cerimônias possa passar alguns avisos e recomendações. Após as formalidades, deve-se adentrar
ao Templo em silêncio absoluto e cada qual a seu tempo, ou seja: primeiro o Porta Estandarte

168
(que é o que precede o cortejo tanto na entrada como na saída) com seu símbolo já desfraldado; a
seguir o Mestre de Cerimônias, logo após os Aprendizes na Coluna do Norte, os Companheiros na
Coluna do sul; os Mestres sem cargo distribuídos em ambas as filas; Mestres com cargos nas fileiras
respectivas; Mestres Instalados e, no fim das filas, os Vigilantes que acompanham o Venerável
Mestre até a balaustrada.
Caso estejam presentes visitantes, estes, autorizados pelo Venerável Mestre, poderão
participar do cortejo de entrada, respeitadas as posições protocolares, etc. (pag.60 do Ritual de
Aprendiz Maçom). O Grão Mestrado é recebido com formalidades próprias.
O GORGS adotou como norma que no Oriente só sejam colocados os Mestres Instalados,
as autoridades e as Dignidades e Oficiais em seus cargos. Isto depende muito da capacidade física
da Loja. Se não houver espaço para todos, são convidados, nesta ordem: as autoridades, os Mestres
Instalados visitantes e os outros mais antigos até esgotar a capacidade. Os demais permanecerão,
sem melindres, constrangimentos ou ofensas, no Ocidente.

12. Quando se entra no Templo, os Aprendizes dirigem-se aos assentos no topo da


Coluna do Norte sendo que os mais novos ficam mais perto do Oriente. Da mesma forma os
Companheiros na Coluna do Sul. Os Mestres tomam seus lugares no Ocidente. É fundamental,
educado, respeitoso e normatizado que todos mantenham o mais absoluto silêncio e fiquem de
pé aguardando o comando do Venerável Mestre.
Os Mestres devem se posicionar sempre preenchendo as primeiras fileiras de cada Coluna
e numa quantidade tal que elas fiquem equilibradas. Os Mestres também devem colaborar na
organização da Loja, postando-se corretamente nos lugares, em silêncio e de pé, e preenchendo
algum cargo vago a pedido do Mestre de Cerimônias.

13. A penumbra no momento de reflexão que algumas Lojas adotaram é sublime. O irmão
deve se concentrar apenas nos trabalhos de Loja, cerrar seus olhos e ouvir atentamente a música
ou mensagem escolhida para este momento. É a ocasião em que o maçom volta para dentro de si,
absorvendo as energias positivas emanadas pelos acordes para aparar as arestas e imperfeições de
sua Pedra Bruta e preparar seu espírito para a Sessão.
Ritualisticamente e no REAA este momento não existe. Ele foi enxertado porque, em
muitas Lojas, muitos irmãos quando entram no Templo não conservam o silêncio e o respeito
devido. As conversas, assuntos diversos e frivolidades que deveriam ficar na Sala dos Passos
Perdidos continuam sendo tratados e transportados através do Átrio (que deveria ser o ambiente
silencioso e de concentração) para dentro do Templo. Por este motivo e erradamente, o momento
da reflexão está fazendo o papel de competência do Átrio.

169
PROCEDIMENTOS

Estando colocadas essas essenciais obrigações, a Sessão tem início com a sequência
determinada pelo ritual de cada grau. É de fundamental importância que a administração o execute
com todas as suas formalidades.
Raras deverão ser as ocasiões em que o procedimento seja o de abreviar as Sessões.
Todas as Sessões Maçônicas são ritualísticas, obedecem a um ritual estabelecido e é exigido seu
cumprimento como tal. É o que estabelece o Regulamento Geral, os Estatutos, os Regimentos
Internos e também é orientado a todos os irmãos pelas instruções preliminares do ritual. A desculpa
de queimar a hora não existe. Uma Sessão Maçônica não é uma reunião de clube ou associação
profana. Dependendo do assunto a ser tratado a Sessão poderá durar mais ou menos tempo.
José Castelani nos diz em seu livro “Curso Básico de Liturgia e Ritualística” que qualquer
limitação do tempo de duração das Sessões é medida arbitrária, pois cerceia a liberdade dos membros
do quadro, impõe restrições à Loja e interfere na sua soberania quando tal medida é tomada. Os
obreiros é que devem ter discernimento para evitar perda de tempo com assuntos irrelevantes. O
Venerável Mestre deve ter a sensibilidade e evitar que a Sessão se estenda sem motivo justificado.
Sempre é conveniente uma orientação e/ou recomendação a todos neste sentido por parte
do Venerável Mestre, a qual deve ser feita no Átrio antes do cortejo.

1 - O modo de sentar

Existe uma maneira única de permanecer sentado. O irmão deve sentar-se plenamente na
cadeira, a cabeça e as costas eretas, os ombros bem postados, os braços colocados junto ao corpo e
as mãos espalmadas sobre o avental (nunca por debaixo deste), os joelhos dobrados formando um
ângulo reto, os calcanhares unidos e os pés em esquadria.
Esta posição já é conhecida desde quando o profano é recebido e introduzido no Templo
pela comissão de recepção. Esta posição é confortável, não cansa e padroniza a postura de todos os
membros presentes à Sessão.
Este modo de sentar poderá ser dispensado pelo Venerável Mestre quando é apresentado
algum trabalho maçônico ou profano de relevante interesse, ou também alguma palestra. Neste caso,
o Venerável Mestre declara, por um golpe de malhete, que a ritualística fica temporariamente
suspensa. Na apresentação de trabalhos profanos a porta do Templo poderá ficar aberta.
No REEA não existe a expressão “Sessão Família ou de Família”, para tornar a Sessão
sem ritualística. Existe a Sessão de “Conselho de Família”, na qual somente os Mestres da Loja se

170
reúnem informalmente para discutir ações cometidas por seus membros e deliberar sobre aplicação
de sanções contra eles. Também não existe a expressão “Sessão de Recreio” (José Castelani -
Curso Básico de Liturgia e Ritualística).
Quando os trabalhos estão sendo realizados sem ritualística os irmãos devem permanecer
sentados mais livre e confortavelmente, em silêncio, sem sair de seu lugar e Coluna e, quando
usar a palavra, fazê-lo de pé sem qualquer formalidade, em voz clara e audível a todos.

2 – Postura maçônica

Nas ocasiões em que se usa a palavra, fazer ou responder questionamentos, proposições,


sugestões, agradecimentos, elogios, convites, dar opiniões, ou de qualquer forma manifestar-se em
Loja, deve ser feito de pé e à ordem.
“De pé e à ordem” quer dizer ficar com postura ereta em pé, calcanhares unidos, pés
em esquadria para frente e o sinal do grau armado (só não arma o sinal se estiver portando seu
instrumento de trabalho ou algum objeto).
Após pedir a palavra para seu Vigilante nas Colunas ou para o Venerável Mestre no
Oriente e devidamente autorizado, o irmão levanta-se, se coloca como acima explicado, faz o sinal
penal ou de saudação e coloca seu recado de maneira clara, precisa, breve e em voz alta.
Se tiver que ler ou apresentar alguma coisa, deve pedir licença para desfazer o sinal.
Esta leitura ou apresentação não deve ser extensa nem demorada. Caso deseje ler ou apresentar
algo mais profundo deverá se inscrever na Ordem do Dia. O Venerável Mestre poderá autorizar
desfazer o sinal se achar conveniente, porém esta atitude não deve ser corriqueira, nem para ser
educado ou gentil com o irmão, mesmo porque as manifestações são feitas desta maneira (de pé
e à ordem), para que o irmão tenha consciência de que deve ser breve (rapapés, gentilezas e
informalidades podem ser feitas no salão de banquetes).
Quando finalizar sua intervenção o irmão desfaz o sinal e senta-se. Os irmãos que sentam
no Oriente têm o direito de falar sentados, porém, por uma questão de educação e para que todos
vejam e entendam melhor o que está sendo dito, é conveniente fazê-lo de pé e à ordem.
Quando o obreiro é inquirido pelo Venerável Mestre ou outra autoridade e que necessite
usar a palavra, deve postar-se de pé e à ordem e responder diretamente para seu inquiridor. Neste
caso não é necessário fazer a saudação formal para as Luzes, etc.
Nos momentos em que a ritualística é suspensa, os sinais são dispensados, porém o irmão
deve manter uma postura educada e, quando falar, ficar de pé e manifestar-se em voz alta e clara,
como já explicado no ítem anterior.

171
3 – Sinal

A) O sinal só é feito com o obreiro parado e de pé. Em movimento, apenas durante a


marcha ritualística;
B) Não é feito o sinal quando se está portando algo com a(s) mão(s); quando se está
sentado; quando as portas do Templo estiverem abertas e, principalmente, fora dele;
C) Nas circunvoluções dos irmãos e nos giros dos Oficiais, o sinal deve ser feito para o
delta somente na primeira vez que se transpuser o eixo longitudinal ou a linha do equador
do Templo. Este procedimento é dispensado quando os irmãos ou Oficiais portarem algo na(s)
mão(s). Neste caso fazem somente uma brevíssima parada, sem mesuras, meneios, reverência
ou o que o valha (isto não existe no REAA);
D) O sinal de contentamento ou de satisfação deve ser dado quando o irmão está sentado e
batendo uma vez com ambas as mãos espalmadas sobre o avental. Não existe sinal de discordância
ou de contrariedade;
E) O sinal de agradecimento é igual ao de juramento e de aprovação, ou seja, sentado,
levantar o braço direito esticado para frente até a altura e horizontalmente ao ombro e a mão
espalmada com a palma para baixo. Não deve ser tão baixa que denote relaxamento ou que não se
perceba, e nem tão alta que lembre a saudação nazista;
F) O sinal de invocação, ou de auxílio ao GADU, é o mesmo que o anterior, porém de pé
e com as palavras “À glória do Grande Arquiteto do Universo.”;
G) Nas votações, o irmão que desejar se abster de votar deve ficar de pé e à ordem. Ficar
sentado sem nenhum sinal significa reprovação.

4 – Saudação

Sempre que um obreiro apresentar trabalhos ou manifestar-se na Palavra ao Bem da


Ordem em Geral e do Quadro em Particular, além da postura já mencionada, ele deverá fazer a
saudação de acordo com as formalidades exigidas, ou seja, das seguintes maneiras:

A) Quando a maior autoridade presente for o Venerável Mestre: “Venerável Mestre;


Irmão Primeiro Vigilante; Irmão Segundo Vigilante; Venerável Mestre de Honra (se estiver
presente); Mestre(s) Instalado(s) (se estiver(em) presente(s); meus Irmãos.”

B) Quando presente um ou mais titulares dos poderes do GORGS:“Soberano Grão-


Mestre do GORGS; Sereníssimo Grão-Mestre Adjunto do GORGS; Sapientíssimo Presidente da

172
Poderosa Assembleia Legislativa Maçônica; Insigne Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça
Maçônica; seguida da saudação do ítem “a”;

C) Ao entrar atrasado em Loja, o maçom, após haver praticado a marcha ritualística de


seu grau, deve saudar a cada uma das Luzes somente com o sinal penal, sem falar nada.

D) Os cumprimentos aos visitantes, autoridades, aniversariantes, iniciados, elevados,


exaltados, filiados, regularizados, homenageados, palestrantes e profanos em Sessão Pública,
serão feitos obrigatoriamente pelo Orador e aleatoriamente pelo Venerável Mestre se o desejar.
Os irmãos devem abster-se de o fazer, pois esta é uma atribuição exclusiva do Orador. O irmão
poderá fazê-lo mais à vontade após a Sessão no salão de banquetes;

5 – Ingresso após o início da sessão

Quando um obreiro chegar atrasado, ele deverá ter consciência do horário ou do tempo
já transcorrido da Sessão ao pedir permissão para entrar.
Em sendo permitido o seu ingresso, entra pela folha norte da porta e deverá fazê-lo com
as formalidades do grau, isto é, pela marcha. Não é necessário e nem conveniente o irmão,
após a saudação, pedir permissão para participar dos trabalhos, pois ela já lhe foi concedida com a
liberação da porta para sua entrada. Se desejar, poderá apenas desculpar-se pelo atraso. Após deve
dirigir-se ao Chanceler, assinar ou confirmar sua presença e ocupar seu lugar em Loja. O Mestre
de Cerimônias deve acompanhar o irmão retardatário desde sua admissão até seu assento.
Não é maçonicamente recomendável, porém o Venerável Mestre poderá autorizar seu
ingresso sem a marcha ritualística. Esta permissão só deverá ser concedida quando o irmão retornar
ao Templo após sair temporariamente, ou ser um irmão com notória e conhecida dificuldade física.
Qualquer obreiro do quadro, mesmo sendo Luz, Dignidade ou Oficial, não poderá entrar
durante qualquer processo de votação, já que não participou da discussão.
Também não se deverá dar ingresso a ninguém durante a Abertura Ritualística e após a
circulação do Tronco de Beneficência.
Caso o irmão retardatário seja uma das Luzes da Loja, ele obrigatória e formalmente,
após assinar o livro de presenças, deverá assumir o seu cargo. As Dignidades e Oficiais não os
assumem.
O Mestre de Cerimônias sempre deverá acompanhar o obreiro, postando-se entre as
Colunas B e J desde quando são ouvidas as batidas na porta. Também deverá proceder a substituição
das Luzes caso o irmão atrasado for seu titular.

173
O Venerável Mestre só deverá ordenar o “de pé e à ordem” quando o irmão atrasado for
uma autoridade maçônica do GORGS ou de outra potência reconhecida.

6 - Saída do Templo antes do término da Sessão

O obreiro, quando tiver necessidade de sair do Templo antes do término da Sessão, deve
pedir permissão ao Vigilante de sua Coluna ou ao Venerável Mestre se estiver no Oriente. Se logo
estiver de volta, deve dizer que se ausentará momentaneamente.
Não é correto pedir para “cobrir o Templo”, pois esta expressão tem outro sentido e
significado.
Nenhum obreiro pode sair do Templo sem autorização do Venerável Mestre. Obtida a
autorização, deve aguardar o Mestre de Cerimônias para conduzí-lo à porta, passando obrigatória e
ritualisticamente pelo Hospitaleiro para depositar seu óbulo no Tronco de Beneficência – se ainda
não circulou. Após, mantendo a circulação, se posta entre as Colunas B e J, vira-se para o Oriente,
estende o braço direito em posição de juramento e diz em voz alta: “Juro manter o mais profundo
silêncio sobre tudo o quanto aqui se passou”. Por fim, gira para seu lado direito e sai do Templo
pela folha sul da porta.
Se o obreiro souber antes do início da Sessão que terá de sair antes de seu final, é
conveniente que participe isto ao Venerável Mestre.
Se o obreiro tiver de sair do Templo durante a apresentação de algum trabalho, palestra
ou outro ato em que a Loja esteja com a ritualística suspensa, ele poderá deixar seu óbulo para
que outro irmão o deposite no Tronco. Quando do depósito, este irmão não deve anunciar que o
faz por si e pelo irmão que se ausentou, pois a contribuição é individual e personalíssima e, neste
caso, vale a consciência e a obrigação do obreiro que saiu, a honestidade do irmão depositante e a
compreensão de todos os outros irmãos presentes. O maçom não faz alarde de suas benemerências
e também não importa o valor depositado se o for de boa fé. (José Castelani – Curso Básico de
Liturgia e Ritualística)

7 – Saco de Propostas e Informações

É o principal giro ritualístico do Mestre de Cerimônias e também, durante o qual, o


Mestre de Harmonia pode apresentar a sua sensibilidade musical.
O Venerável Mestre não deve dispensar a ritualística com a desculpa de ganhar tempo, pois
desta forma estará cerceando o trabalho de seu oficial-maior, tirando a concentração dos obreiros,

174
subtraindo conhecimentos ritualísticos dos Aprendizes, desordenando o giro preestabelecido e,
mesmo porque, a economia de tempo é ínfima.
Lembramos que as Sessões são ritualísticas e, como tal, devem ser conduzidas. Abreviar a
Sessão pelo adiantado da hora ou para ser mais rápida, dispensando a ritualística, é um procedimento
errôneo e contrário ao correto andamento dos trabalhos. Além disto, não contribui em nada para o
aprendizado dos Aprendizes e Companheiros.
Os documentos devem ser colocados no Saco com a mão direita. Se não tiver nada para
propor ou informar, o obreiro deve colocar a mão direita fechada e abrí-la dentro do Saco para,
simbolicamente, depositar seu bom fluido.

8 - Ordem do Dia

Este período é utilizado para deliberações e discussões sobre todos os assuntos pertinentes
à Loja em particular ou à Ordem em geral, e também para apresentação de trabalhos de grau,
palestras, trabalhos de cunho profano ou de interesse geral (devem-se evitar trabalhos político-
partidários ou religiosos). É também o período utilizado para a entrega de diplomas, documentos
e honrarias; escrutínio secreto; regularizações e filiações; proclamação de candidato e assuntos
administrativos.
O Venerável Mestre poderá, a seu critério, suspender a ritualística. É conveniente
estabelecer antecipada e criteriosamente, o tempo a ser utilizado.
Deve-se também evitar o acúmulo de assuntos para não abreviar ou cancelar o obrigatório
Período de Instrução.
Os Trabalhos de Grau apresentados na Ordem do Dia pelos Aprendizes e Companheiros
jamais devem servir como instrução maçônica, uma vez que são personalíssimos breves e
elaborados dentro da ótica, da percepção, do estudo, do conhecimento e da sensibilidade de cada um.

9 – Aplauso

Não se aplaude trabalhos maçônicos, de grau ou de instrução apresentados em Loja, pois


isto é parte integrante dos trabalhos.
O maçom, quando em Loja, não aplaude individualmente e nem comanda os aplausos.
Só se aplaude trabalhos gerais, de interesse particular, profanos ou outros não instrutivos somente
sob o comando do Venerável Mestre. Neste caso, o Venerável Mestre agradece ao apresentador

175
e solicita o aplauso de todos. As Luzes batem com o malhete repetidamente nos tímpanos e os
demais irmãos, palmas normais.
O Guarda do Templo jamais aplaude, pois deve sempre estar atento e manter entre as
mãos a sua espada.
Não se aplaude por castanholas e nem a Bandeira Nacional ou Hinos patrióticos.

10 – Bateria do Grau

A bateria do grau é sempre comandada pelo Venerável Mestre. Nas Sessões de Pompa
Fúnebre a bateria é dada de maneira surda, ou seja, batendo com a mão direita sobre a manga da
vestimenta do braço esquerdo.

11 – Período de Instrução

É o momento dedicado ao aprendizado, ao estudo e a todas as instruções maçônicas


contidas nos rituais, em bons livros, publicações e trabalhos sérios e profundamente elaborados.
Ele é obrigatório em todas as Sessões Econômicas. É o período em que a Comissão de Instrução
tem a responsabilidade de mostrar a todos o seu trabalho.
A administração da Loja deve destinar um espaço de tempo no mínimo razoável para que
o trabalho seja exposto com clareza e precisão.
O Venerável Mestre deve, sempre em conjunto com a Comissão de Instrução e se esta
assim achar conveniente, convidar um irmão do quadro ou da Ordem, com vivência e notórios
conhecimentos maçônicos, para apresentar trabalhos de cunho estritamente instrutivos, ritualísticos,
litúrgicos, simbólicos, históricos e filosóficos.
No Período de Instrução não devem ser apresentados trabalhos paralelos, palestras
sobre assuntos ocasionais, não maçônicos ou não condizentes com o simbolismo, a filosofia, a
ritualística, a história e o conhecimento maçônico. Esses assuntos devem ser tratados na Ordem
do Dia e jamais devem ser considerados como instrução maçônica. Não se pode negar que a
Maçonaria é universal e que todos os assuntos sempre fizeram parte, em algum momento, de sua
história, porém temos que separar aquilo que é fundamento maçônico daquilo que é de interesse
ocasional e específico de cada área.
O Venerável Mestre também pode, neste período, dispensar a ritualística para que o
apresentante possa desenvolver melhor o seu trabalho. Como já vimos, não se aplaude trabalhos
de instrução, porém, caso o Venerável Mestre considere o conteúdo e a apresentação dignos desta

176
deferência, agradecerá e comandará os aplausos da maneira antes orientada.
Apesar de ser obrigatório em todas as Sessões Ordinárias de qualquer grau (pag.70
do ritual de Aprendiz Maçom), muitas vezes este é o período sacrificado pelas administrações,
ocasionado pelos inúmeros assuntos a serem tratados durante a Ordem do Dia. Eventualmente, a
administração pode assim proceder, porém tem a obrigação de, em outra ocasião, fazer uma Sessão
essencialmente de instrução.
Quando o trabalho é dedicado a um grau superior ao de Aprendiz ou Companheiro, estes
devem sair ritualisticamente do Templo para terem instrução específica de seu grau ministrada por
membros da Comissão de Instrução. Como já foi visto anteriormente, o retorno poderá, a critério
do Venerável Mestre, ser feito sem ritualística, porém é conveniente que o façam com todas as
formalidades para assim poder demonstrar o seu aprendizado e desinibição.

12 – Tronco de Beneficência

É também chamado de Tronco de Solidariedade. É o momento do giro ritualístico do


Hospitaleiro e também do fundo musical do Mestre de Harmonia. Todos os irmãos presentes
têm a obrigação de colocar a mão direita fechada dentro do Saco e abrí-la para depositar seu óbulo.
Não é permitido retirar metais do Tronco de Beneficência durante a sua circulação. O
tronco deve ser sempre engrossado e nunca afinado por retiradas indevidas. Qualquer necessidade
financeira do obreiro deve ser comunicada diretamente ao Venerável Mestre, e este tomará as
providências devidas a cada caso. (Rizzardo da Camino – Simbolismo do 1º Grau)
Não é maçonicamente correto o Venerável Mestre solicitar a ajuda do Mestre de
Cerimônias, a não ser para recolher o Tronco entre os irmãos que se encontram fora do Templo, e
nem suspender a ritualística para ganhar tempo. Da mesma forma que na Bolsa de Propostas
e Informações, ele estará cerceando o trabalho do Hospitaleiro, tirando a concentração dos
obreiros, subtraindo conhecimentos dos Aprendizes, atrapalhando e confundindo o recolhimento
e, fatalmente, proporcionando a que o silêncio seja prejudicado. (José Castelani – Curso Básico de
Ritualística). O tempo ganho ou economizado com este procedimento é ínfimo e não justificável.
O Tronco não deve ser recolhido na saída do Templo uma vez que seu resultado deve ser
conferido e anunciado pelo Tesoureiro e repetido pelo Venerável Mestre na mesma Sessão.
Nas Sessões que estejam presentes irmãos visitantes ou o Tronco é destinado para alguma
atividade restrita, o Venerável Mestre poderá decretar que o Tronco ficará selado, ou seja, seu
conteúdo não será divulgado nesta Sessão.

177
13 – Palavra a Bem da Ordem em Geral e do Quadro em Particular

O uso da palavra pelos obreiros deve ser objetivo, curto, claro e conciso. Nada de
discursos rebuscados e longos. É utilizado apenas para comunicações relevantes, justificativas e
agradecimentos.
Fazem uso da palavra, em primeiro lugar, os obreiros das Colunas do Sul e do Norte sendo
que os respectivos Vigilantes falam por último. Então, os irmãos que ocupam o Oriente, o Orador
e, não estando presente autoridade maior, o último a falar é o Venerável Mestre, se o desejar.
Não se justificam os famosos pedidos “pela ordem” para falar sobre o mesmo assunto, pois
esse pedido é apenas para uma questão de ordem que só deve ser levantada para encaminhamento
de votações e para chamar a atenção para eventuais alterações da ordem dos trabalhos.
Os procedimentos ritualísticos estão referenciados no ítem “Postura Maçônica”.
O Cobridor Interno pede a palavra na Coluna do Sul e o Cobridor Externo na do Norte.

14 - Cadeia de União

A Cadeia de União deve ser realizada antes do encerramento dos trabalhos da Loja. Alguns
autores entendem que esta formação deve ser realizada exclusivamente para a transmissão da
Palavra Semestral. Outros, que ela seja formada também em todas as Sessões para uma prece, uma
invocação ao GADU, um pedido de graça e/ou saúde para os irmãos ou familiares enfermos, uma
corrente de bons fluidos, etc. Nosso ritual não estabelece nenhuma obrigação de ser realizada em
todas as Sessões. Fica a critério do Venerável Mestre a decisão e o motivo de sua formação ou não.
A formação da Cadeia de União é organizada pelo Mestre de Cerimônias no Ocidente e
deve contar com a colaboração de todos os obreiros. O silêncio e a ordem devem prevalecer. Os
irmãos estarão com as mãos dadas (braço direito sobre o braço esquerdo), com a união das mãos
com os dedos em gancho, os pés em esquadria, calcanhares unidos e a ponta dos pés tocando as
pontas dos pés dos vizinhos. Os Aprendizes e Companheiros devem estar ladeados por Mestres
sempre que possível (pg. 71 do Ritual de Aprendiz Maçom).
Os irmãos visitantes só poderão participar quando a Cadeia não for para a transmissão da
Palavra Semestral.
Os Cobridores não poderão abandonar seus postos em hipótese alguma. Eles receberão a
Palavra Semestral diretamente do Venerável Mestre após a Sessão.
É conveniente que o Venerável Mestre faça uma breve comunicação sobre o motivo da

178
Cadeia de União. A explicação mais minuciosa aos Aprendizes do porquê e da utilização da Palavra
Semestral deve ser feita pela Comissão de Instrução.
Estabelece o ritual que a Palavra seja transmitida em voz baixa, porém com clareza, no
ouvido do irmão ao lado, em semicírculo pelos dois lados, partindo do Venerável Mestre até o
Mestre de Cerimônias, que estará no seu lado oposto. Recebida a Palavra dos dois lados, ela retorna
pelo mesmo lado ao Venerável Mestre que dirá se está correta ou não.
Atenção: o procedimento acima, de retornar pelo mesmo lado ao Venerável Mestre, poderá
ser dispensado caso haja um número muito grande de obreiros na formação da Cadeia. Neste caso o
Mestre de Cerimônias, após receber a Palavra dos dois lados, vai até o Venerável Mestre e informa
como a recebeu de ambos os lados. Caso haja divergências o procedimento deverá ser repetido.
No caso de uma cadeia de invocação, prece, etc., ela poderá se feita apenas com uma
corrente de mãos, sem a junção dos pés, no Ocidente ou com os obreiros em seus lugares, se o
número de irmãos for grande o suficiente que assim o permita.

15 – Encerramento

O Encerramento é um ato ritualístico e litúrgico completo. Deve ser acompanhado até o


seu final com todos os irmãos de pé e à ordem. Algumas vezes, pela exiguidade de tempo, o giro
dos Diáconos é suspenso e o Venerável Mestre faz o encerramento diretamente anunciando e
ordenando “De pé e à ordem”.
Quando é feito completo e o Venerável Mestre perguntar “.....E Os obreiros estão contentes
e satisfeitos? ......” A resposta é bater uma vez com ambas as mãos espalmadas sobre o avental.
O sinal só é desfeito quando é fechado o Livro da Lei e as luzes das mesas são desligadas
(pg.119 do Ritual de Aprendiz Maçom).

16 – Cortejo de Saída

A saída é o inverso da entrada, ou seja, o Porta-Estandarte, com o mesmo desfraldado,


lidera o cortejo que é seguido pelo Venerável Mestre, Vigilantes, Mestres Instalados, autoridades,
Mestres, Companheiros e, por último, os Aprendizes. A saída também deve ser em silêncio. O
avental só é desvestido fora do Templo.
Os Oficiais que exercem atividades antes e depois dos trabalhos permanecem para finalizar
suas tarefas e o Cobridor Interno apagará as luzes e fechará a porta do Templo. (pg. 120 do Ritual
de Aprendiz Maçom).

179
17 – Palavra Sagrada e de Passe

A primeira letra da Palavra Sagrada do Aprendiz está na Coluna do Norte. A dos


Companheiros na Coluna do Sul e a dos Mestres no seu avental. Ela é transmitida sendo sussurrada
no ouvido esquerdo e soletrada ou silabada após receber a primeira letra ou sílaba de quem a pede.
A Palavra de Passe só existe nos graus de Companheiro e Mestre. Ela também é solicitada
no Telhamento e é transmitida integralmente, não soletrada ou silabada.

19 – Telhamento

É o exame feito a um visitante desconhecido que se apresenta em alguma Loja, pretendendo


assistir aos trabalhos. Este exame é feito pelo Primeiro Experto, que verifica se ele é regular
tomando-lhe a Palavra Semestral, os toques e as Palavras. A documentação que apresentar deve
ser examinada pelo Guarda da Lei. O irmão que pretende visitar outras Lojas da mesma jurisdição
deve sempre estar munido de seus documentos de identificação maçônica e o recibo do último
pagamento efetuado à sua Loja; saber a Palavra Semestral; estar preparado para um Telhamento;
estar devidamente trajado de terno escuro, gravata, meias e sapatos pretos e não se esquecer de
levar o avental.
O Telhamento também é usado nas Sessões de Companheiro e Mestre, ocasião em que
os Vigilantes fazem o exame individual de cada obreiro de sua Coluna (cada grau tem o seu
procedimento próprio – vide o ritual respectivo).
Não é mais usado pedir a Palavra de Passe na entrada do Templo.

GIRO RITUALÍSTICO

É o trajeto percorrido pelos Oficiais quando da execução de sua função protocolar


(Diáconos, Hospitaleiro no Tronco, Mestre de Cerimônias na Bolsa de Propostas e Informações).
É feito da esquerda para a direita no sentido dos ponteiros do relógio, sempre contornando o painel
da Loja.
Na primeira vez que for transposto o eixo longitudinal do Templo, ou o equador, o
oficiante deve fazer o sinal de saudação ao delta. Quando portar algo na(s) mão(s) fará apenas
uma breve parada sem nenhuma inclinação ou reverência como explicado anteriormente.
O Oficial deve procurar fazer o seu giro completo e rapidamente. Não é correto o Venerável
Mestre autorizar o Oficiante a fazer o giro sem ritualística, como visto anteriormente.
Os procedimentos ritualísticos de cada Oficial estão devidamente orientados nos rituais.

180
CIRCUNVOLUÇÃO

A circunvolução se constitui na forma ritualística de se locomover em Loja. Esta é a


formalidade através da qual todos os membros de uma Loja Maçônica devem pautar na maneira
de andar nas Sessões.
Ela é feita da esquerda para a direita, simbolizando a marcha do sol e significando que o
maçom sempre caminha em direção à luz ao entrar no Templo e volta às trevas quando sai. Quando
passar pelo eixo longitudinal ou equador deve fazer o sinal de saudação somente na primeira vez
que o cruzar. Se portar algo na(s) mão(s) faz apenas uma breve parada e retoma o caminho sempre
iniciando com o pé esquerdo.
O obreiro que subir ao Oriente deve fazê-lo pelo nordeste dos degraus que divide o
Oriente do Ocidente e sair pelo sudoeste.
Quando o obreiro que estiver no Oriente necessitar sair antes do término da Sessão,
pede autorização diretamente ao Venerável Mestre batendo no dorso da mão esquerda. Levanta-se,
arma o sinal do grau e solicita permissão para sair. Autorizado, desfaz o sinal, desce os degraus
pelo sudoeste:
A) se já correu o Tronco de Beneficência vai até as Colunas B e J, para, volta-se para o
Oriente e faz o juramento já explicado;
B) se for antes da circulação do Tronco, após descer os degraus, ao contornar o Painel,
para defronte a este, no eixo ou equador, faz o sinal de saudação ao delta, vai até o irmão Hospitaleiro
depositar seu óbulo, sai novamente pela Coluna do Sul parando entre as Colunas B e J para fazer
o juramento como já explicado, volta-se pela direita e sai pela folha sul da porta.

CIRCUNVOLUÇÃO DE APRENDIZES E COMPANHEIROS

Como regra básica, os Aprendizes e Companheiros não podem ter acesso ao Oriente
em nenhum momento, pois este é o fim da escada iniciática só acessível aos Mestres. Eles só
podem ir ao Oriente para prestar juramentos ou quando forem convocados e autorizados pelo
Venerável Mestre, sempre respeitando o sentido, ou seja, subindo pelo nordeste e descendo pelo
sudoeste.
Os Aprendizes e Companheiros podem transitar pelo centro do Templo porque a Loja
está trabalhando no seu grau e não em Câmara do Meio (nome da Loja dos Mestres). Por outro
lado, os Aprendizes não podem ter acesso ao topo da Coluna do Sul.

181
ENTRE AS COLUNAS B E J

Entre Colunas é uma expressão utilizada no sentido de se manter sigilo ou segredo sobre
determinados assuntos entre os maçons.
Também é uma expressão com sentido de que todos os assuntos tratados em Loja não
devam ultrapassar os limites da porta do Templo, onde as Colunas estão posicionadas – muitos
Templos, na sua arquitetura, possuem as Colunas Simbólicas posicionadas no lado de dentro.
Segundo alguns autores, elas, na realidade, situam-se no Átrio ou fora do Templo ladeando a porta.
Tradicionalmente, usa-se apresentar trabalhos maçônicos ou profanos entre as Colunas B
e J. O obreiro que apresentar seu trabalho deve postar-se ritualisticamente como já mencionado.
O profano é ali conduzido pelo Mestre de Cerimônias. Este espaço é o de melhor visualização
de todos; a acústica e a iluminação para a leitura também são melhores; nos dias de hoje o data
show é muito utilizado para a apresentação e enriquecimento visual dos trabalhos (com exceção
dos trabalhos de grau – estes devem ser feitos pelo Aprendiz e Companheiro sem nenhum auxílio
eletrônico).
As Colunas B e J representam a sabedoria, a dualidade, o respeito, a integridade, o poder,
a justiça e o sigilo. É um local muito importante e considerado, haja vista que algumas tradições
diziam que qualquer proposição feita à Loja deveria ser formalmente feita com irmão proponente
postado entre as colunas, simbolizando assim a seriedade e a importância de sua proposição.

COLUNA DO NORTE E COLUNA DO SUL

O Ocidente é dividido em duas Colunas, a do Norte e a do Sul. O seu divisor é a linha


longitudinal ou do equador. Qualquer obreiro que estiver postado com um pé sobre cada uma,
desde a porta de entrada até a balaustrada ou escada de acesso ao oriente, estará entre Colunas.
A base das Colunas é a linha do equador (da porta de entrada até a balaustrada) e o topo
as paredes laterais do Templo.

A ABÓBADA DE AÇO E AS ESPADAS

A Abóbada de Aço é formada para ocasiões especiais e determinadas no ritual. O Mestre


de Cerimônias, quando de sua formação, deve escolher os irmãos de estatura mais elevada e mais
bem trajados, para que o espaço entre os opostos seja maior e mais alto, facilitando desta forma o
trânsito.
Quando são recepcionadas autoridades maçônicas não é feito o tilintar das espadas.
O tilintar das espadas só é feito nas Sessões Públicas.

182
A Abóbada de Aço não é formada para recepcionar Bandeiras.
É importante e obrigatório o Mestre de Cerimônias e todos os obreiros estarem cientes
na maneira correta de se portar a espada, como segue:

A) Os Cobridores devem sempre portar a espada na mão direita segurando em seu cabo
e/ou na cruzeta, a ponta voltada para cima, verticalmente, encostada em seu ombro direito (e não
com a espada segura pela mão direita e a lâmina apoiada no braço esquerdo). Quando sentados, a
espada deverá ficar entre suas pernas, a ponta virada para baixo e tocando o solo, e segura pelas
duas mãos (esta posição é para os casos de os irmãos não estarem portando suas faixas do grau, as
quais possuem o local próprio para embainhá-las).

B) Os irmãos que fazem parte da comissão de recepção devem sempre portar a espada da
maneira antes explicada, ou seja, encostada no ombro direito:

B.1) Após utilizá-la na Abóbada de Aço, deve retorná-la à posição antes mencionada;

B.2) Por ocasião da recepção às Bandeiras e quando da execução de Hinos Nacionais,


a espada deverá ser baixada quase até o solo (não deve tocar o solo) e sempre na direção da
Bandeira e ficar nesta posição até finalizar a execução; quando terminar o Hino voltar à posição
antes mencionada.

B.3) Quando a recepção for ao Grão Mestrado ou autoridades, não se faz o tilintar das
espadas. A Abóbada de Aço é formada normalmente, mas sem a sua percussão.

C) Quando da recepção do(s) neófito(s) na cerimônia de Iniciação, os irmãos devem


ficar posicionados na primeira fila com a espada encostada no ombro direito, como já explicado,
enquanto aguardam a caída da(s) venda(s). Um pouco antes da caída da(s) venda(s) as espadas
devem ser seguras:

C.1) Os irmãos da Coluna do Norte com a mão esquerda e a lâmina por sobre o braço
direito, direcionando-a ao(s) neófito(s);

C.2) Os irmãos da Coluna do Sul com a mão direita e a lâmina por sobre o braço esquerdo,
direcionando-a ao(s) neófito(s).

183
RITUALÍSTICA DAS LUZES, DIGNIDADES E OFICIAIS

Os procedimentos formais da administração estão normatizados no Regulamento Geral e na


Constituição do GORGS, no Estatuto e no Regimento Interno das Lojas e determinados nos rituais.
Cada espécie de Sessão tem a sua particularidade e é conveniente, para não dizer um
dever, que todos os membros que atuam nestas Sessões, titulares e adjuntos, façam treinamentos
ritualísticos, os quais deverão ser ministrados e coordenados pela Comissão de Instrução.
Toda Sessão ritualisticamente bem feita é agradável, proveitosa, rápida, mantém a
concentração, a harmonia e, principalmente, torna estes momentos de passagem muito mais
litúrgicos e espirituais. A Sessão que tiver sua ritualística mal executada, quebrada ou resumida,
desarmoniza o trabalho e o espírito, usurpa a introspecção e chama a atenção dos obreiros para
outros prováveis tropeços ritualísticos.
Nunca é demais recordar que o maçom deve ser sempre o exemplo para a sociedade. As
Luzes, Dignidades e Oficiais e membros de uma administração têm a obrigação de ser exemplo
para os demais obreiros em todos os sentidos e, em especial, ritualisticamente.
Como sugestão e orientação às novas administrações, chamamos a atenção para a
conveniência de se fazer, antes da posse, reuniões, estudos e treinamentos específicos de cada
cargo e geral para todos os membros da administração.

COMISSÃO DE INSTRUÇÃO

Também designada como Comissão de Liturgia e Ritualística ou Comissão de Liturgia e


Filosofia. Não importando o título que se adote, esta Comissão é uma das mais importantes Comissões
da administração de uma Loja Maçônica, pois ela atua diretamente em todas as Sessões, onde tem
a obrigação de transmitir aos obreiros a história, a simbologia, a ritualística e a filosofia, bem como
os verdadeiros objetivos e atuação da Maçonaria. Sua importância maior é fora das Sessões, por
isto ela deve ser formada por irmãos de notórios conhecimentos dos títulos mencionados. É muito
importante estarem coesos entre si, ter conhecimentos profundos, métodos de ensino e capacidade
de transmissão. O Ritual de Aprendiz Maçom (pag. 48), a nosso ver, determina apenas algumas
competências. Sua área de atuação é bem mais ampla e também importante.
Esta Comissão tem o dever de atuar desde a pré-iniciação, Iniciação, durante todo o Grau
de Aprendiz, passando pela Elevação e todo o Grau de Companheiro até chegar à Exaltação ao Grau
de Mestre. Os Aprendizes e Companheiros precisam e devem ter um acompanhamento constante
desta Comissão em conjunto com os Vigilantes. Reuniões instrutivas semanais e extraloja e uma
prática bimensal de ritualística é o recomendável para um bom entendimento e aproveitamento.

184
Deve elaborar com o Venerável Mestre o calendário de instruções e a determinação do tempo a ser
utilizado no Período de Instrução.
Como orientação a esta Comissão, é de suma importância que se mantenha uma única
linha de procedimentos quanto às instruções ministradas aos Aprendizes e Companheiros. A nova
Comissão de Instrução tem o dever de consultar a Comissão anterior (se houver a troca total de
seus membros), para saber qual o foi o método adotado, qual o conteúdo já transmitido, qual a
situação individual de cada obreiro (frequência, interesse, participação, trabalhos, etc.), e procurar
dar continuidade às instruções para evitar repetições e discordâncias. Seria conveniente para uma boa
sequência de instruções que as novas Comissões fossem formadas também por alguns irmãos que
fizeram parte da antiga Comissão. Mudanças bruscas de calendário, filosofia e métodos de ensino são
prejudiciais à boa formação dos Aprendizes e Companheiros.
Quanto aos Mestres, a Comissão tem que tratar com o Venerável Mestre o esquema
de instruções iniciais ao recém exaltados. Isto poderá ser feito também fora de Loja e é muito
importante, pois as Lojas com frequência esquecem que na realidade eles ainda são Companheiros e
não possuem nenhuma instrução, treinamento ou conhecimento do Grau 3. A Comissão de Instrução
tem o dever de passar a eles as primeiras instruções. Não só de ritualística, mas de história, simbologia
e filosofia, além de alertar para que agora possuem todos os direitos de um maçom e isto implica em
saber também de todos os deveres de um maçom. Por isto é importante uma detalhada explicação
sobre os Estatutos, Regulamentos, Código Administrativo e Regimento Interno do GORGS e de
sua Loja. No âmbito da ritualística, os Mestres, principalmente os novos, precisam saber quais são
os procedimentos corretos e a sua prática. Saber que agora podem ocupar qualquer cargo em Loja
(menos o de Venerável Mestre), precisando estar aptos a exercê-los e, para isto, a Comissão de
Instrução precisa lhes passar os conhecimentos e instruções detalhadas.
Esta Comissão também tem o dever de dirimir quaisquer dúvidas que lhes sejam apresentadas.
Se não souberem responder, devem procurar se informar com o Ministério de Liturgia e Ritualística
do GORGS ou com irmãos da Ordem com notórios conhecimentos e experiência maçônica.
Os membros desta Comissão devem servir como exemplo e modelo das instruções
transmitidas. O modo de trajar em todas as Sessões é o primeiro deles. De que adianta pregarmos
e recomendarmos para que todos venham bem trajados para a Loja se os membros da Comissão de
Instrução não o fazem? ... De que adianta não executarmos bem a ritualística e exigir que todos o
façam perfeitamente? ..... A observância de todas as leis deve ser o escopo de sua atuação.
Quanto aos trabalhos de grau, a Comissão deve, junto com os Vigilantes, orientar os
Aprendizes e Companheiros para que os trabalhos sejam livres, porém não exagerados, mas que
mantenham o simbolismo e a filosofia de seu grau. Devem ser orientados para que entendam o que

185
estão escrevendo e que, na sua apresentação em Loja, o façam com desenvoltura e desinibição,
procurando transmitir aos demais irmãos seu conhecimento e sua ótica pessoal. Recomenda-se
para que interpretem o seu trabalho e não simplesmente façam a leitura dele. A Comissão deve
também fazer a indicação de bons livros para suas pesquisas, incentivando a leitura, auxiliando no
seu entendimento e procurar usar da literatura posta à disposição na Biblioteca da Loja e/ou livrarias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Sessão Maçônica é diferente de qualquer outra sessão formal profana. Apesar de ambas
possuírem uma norma de procedimentos, somente a maçônica tem o simbolismo, a liturgia, o
esoterismo, a filosofia e a ritualística integrados ao mesmo tempo. Uma Sessão Maçônica, por
menos simbólica e litúrgica que seja, nunca deve ser destituída de ritualística.
A vida é uma manifestação de arte e beleza, uma expressão divina de amor e sabedoria.
Esta é uma força, uma energia que se esparge para tudo o que possui vida, e todo ritual é um meio
de atrair estes elementos.
Temos em nosso ritual uma representação fiel da manifestação divina no Universo e que, se
bem compreendido pelos irmãos, pode provocar uma reação não apenas individual, mas coletiva,
no aperfeiçoamento da personalidade humana.
A ritualística é o “leitmotiv”, ou a motivação condutora das Sessões Maçônicas. É para
muitos o elo principal que mantém o obreiro ativo e participante. É aquela maneira de se portar,
particular e secretamente, que mantém seu atrativo e sua diferença.
A ritualística é a interpretação teatral da Cerimônia Litúrgica Maçônica. Dá liberdade
ao executor de mostrar o seu conhecimento das instruções recebidas e o seu desempenho cênico
pessoal.
Não podemos e não devemos menosprezar ou desmerecer a ritualística, e nem sequer
deixá-la em segundo plano, por mais importantes e demoradas que sejam algumas Sessões.
Sob estes aspectos, podemos dizer que a essência da ordem, da hierarquia, do respeito, da
educação, da tolerância, da igualdade, da liberdade, da fraternidade, da razão de ser, da história, do
simbolismo, da liturgia e da filosofia, está contida na ritualística.

“Alguns conceitos colocados neste trabalho foram alterados pelo Manual de 2017
2º Edição, atualmente em uso, e poderão sofrer novas alterações no decorrer do tempo”.

186
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- Rituais dos Graus Simbólicos do REAA editados pelo GORGS;


- Estatuto Social do GORGS;
- Regulamento Geral do GORGS;
- Estatutos e Regimentos Internos de algumas Lojas;

Livros e trabalhos publicados por:

Charles Evaldo Boller


Cristian Rizzardi
Hiram Luiz Zoccoli
José Augusto de Souza
José Castelani
José Prudêncio de Sá
Kurt Max Hauser
Nicola Asslan
Pedro Juk
Raymundo D’ellia Júnior
Rizzardo da Camino
Rui Jung Neto
Valdemar Sansão

Colaboração especial:

Romeu Carlos Damin


Volmar de Bastiani

Irmão lembrado que foi instrutor ativo e perseverante:

Floriano Prezzi Neto (Ivo)

187
A verdade

César Zavistanovicz

“Conheceis a verdade e a verdade vos libertará”.


João 8.32

Verdade, palavra que por gerações instiga o intelecto humano. Enfim o que é verdade? A
verdade existe? No Mito da Caverna de Platão, para os prisioneiros da caverna, as sombras das
imagens que se projetavam nas paredes se configuravam para eles em imagens reais, em seres
verdadeiros. A verdade para os cristãos não é a mesma para os budistas as verdades variam de
acordo com a época, costumes e cultura de cada povo.
E num mesmo povo a verdade pode variar de acordo com a criação ou crença de cada
indivíduo. A verdade absoluta imutável não existe; isso não quer dizer que tudo não passa de ilusão.
A verdade se torna consistente a partir do momento em que um número considerável de
pessoas acredita nela e a defende. Mesmo que tal fato não seja verdade, ele passa a sê-lo; portanto,
tudo é relativo e considerável.

188
A VERDADE

O conceito da”verdade”vem desafiando a humanidade por milhares de anos. Filósofos da


antiga Grécia debatiam a natureza da verdade. Eles discutiam se ela era real e absoluta, ou relativa
e ilusória. Suas dúvidas podem ter sido refletidas numa questão de Pilatos: ”Que é a verdade?”
(João18:38).

CONCEITO DA VERDADE

Aquela que é, talvez propriamente, a sabedoria humana.


Sócrates, porém, via a busca da verdade como um caminho de acesso, pois, quando
cuidamos de nós mesmos, modificamos nossa relação com os outros e com o mundo.
Mergulhados em preocupações com a aparência e o consumo, pensamos estar cuidando
de nós mesmos, quando na verdade estamos nos perdendo em meio às coisas. É preciso conhecer
a si mesmo para não perder-se. Claro que você não vai encontrar toda verdade em si mesmo, mas,
pelo menos, a única verdade capaz de salvá-lo.
Platão pressupõe e define o que seria o discurso verdadeiro na obra Crátilo: “Verdadeiro é
o discurso que diz como as coisas são; falso é o que diz como elas não são”. Para Platão, a verdade
se aplicava primeiro ao objeto, ou ao sujeito, e depois ao enunciado.
A verdade segundo Platão, é que ela precisa sempre estar sendo buscada. A verdade não é
algo concreto, palpável; tudo é relativo.
Para conhecer a Verdade (ainda que provisória) das coisas é necessário agir, caminhar,
voltar-se interrogativo em busca do conhecimento, da luz, da explicação mais razoável (Mito da
Caverna).
Já para Aristóteles, cuja compreensão de verdade seria a mais celebrada, a verdade estaria
ligada ao ato de dizer. Assim, não existiria verdade sem enunciado, mas este não basta em si
mesmo como verdade. A visão aristotélica pressupõe a existência de uma materialidade exterior
ao enunciado, verdadeiro ou não.

A VERDADE SEGUNDO O ESPIRITISMO

Conduzir-se com verdade é conduzir-se o mais próximo e exato possível da realidade. É


ter sinceridade e boa fé em todas as ações e pensamentos. É procurar ser autêntico, fiel, legítimo e
legal. Parecer o que realmente é.
A verdade é como a boa semente que se prolifera em ideias de progresso e desenvolvimento.

189
Normalmente nos iludimos e somos impedidos de ver a verdade realmente como ela é.
Enganamo-nos sobre a realidade das coisas. Deixamos que preconceitos e convicções arraigadas
e profundas falem mais alto. Deixamos de lado o “verdadeiro ver” e nos arrastamos em ideias que
não se sabe onde são fundamentadas, embora já antigas e passadas entre gerações.
Mas como podemos saber o que é verdade?
Nossas emoções, na maior parte das vezes, são o espelho do certo ou errado, do agir no
bem ou no mal. Se não admitimos a verdade em nós de maneira honesta, como será que poderemos
chegar à verdade divina e ao princípio essencial do Espiritismo? É preciso sentir a verdade, saber
o que sentimos e adequá-la à vida.
Jesus disse: “Vim ao mundo dar testemunho da Verdade”e ainda: “Eu sou a Verdade”. Isto
se fez necessário porque a humanidade inteira, o homem em si, só acredita naquilo que vê. E se fez
necessário que Jesus viesse nos dar sua vida para que acreditássemos em sua Verdade.
E a verdade se faz humana quando acreditamos no que vivenciamos ou experimentamos
e, desta forma, vamos acreditando em verdades relativas, conceitos relativos. Costuma-se evitar as
verdades, rejeitá-las ou mesmo fugir delas.
As pessoas que escreveram o Novo Testamento confidentemente declararam que é
possível saber a verdade. Em Hebreus 10:26, o escritor fala das pessoas que tinham “recebido o
pleno conhecimento da verdade”. João falou com pessoas que receberam este conhecimento da
verdade (João2:21). Paulo condenou aqueles que estão “sempre aprendendo, mas que jamais
podem chegar ao conhecimento da verdade” (Timóteo 3:7). Porque receberam tão severa
crítica? Porque eles fracassaram em aprender a verdade, resistindo assim à palavra de Deus. Eles
não compreenderam a verdade porque assim não a quiseram (Timóteo 3:8). Nós podemos saber a
verdade.
Jesus não mostra a “verdade” como um objetivo ilusório e inatingível. Ele diz: “Conhecereis
a verdade”. Jesus plenamente ensinou que podemos e devemos conhecer a verdade.
Deus nos providenciou a confiança e a segurança para estarmos aptos a conhecer a
verdade. O mesmo Deus que nos criou e nos deu a habilidade de nos comunicar, tem também a
habilidade de transmitir Sua vontade para conosco de modo que possamos entendê-la. Devemos
humildemente aceitar a responsabilidade de estudar, entender e obedecer Sua revelação.
Num mundo desordenado pela dúvida e pela confusão religiosa, nós podemos achar
esperança nas palavras de Jesus: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.”

190
ALGUNS PENSAMENTOS DE SANTO AGOSTINHO SOBRE A VERDADE

“Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem.
E se não encontras senão a tua natureza sujeita a mudança, vai além de ti mesmo.
Em te ultrapassando, porém, não te esqueças que transcendes tua alma que raciocina.
Portanto, dirigi-te à fonte da própria luz da razão”.
(Santo Agostinho, A verdadeira religião)

Não podes ser bom amigo dos homens, se primeiro não o fores da verdade.
(Santo Agostinho, Epístola 155,11)

Se a verdade é o objeto das aspirações de todos os homens, ela não pode ser couto fechado
de nenhum deles. A verdade nem é minha nem tua, a fim de que possa ser tanto tua como
também minha.
(Santo Agostinho, Comentário aos Salmos)

191
Pesquisa em educação
na contemporaneidade:
desafios e possibilidades
Research in education in contemporary: challenges and possibilities.
Ricerca in formazione in contemporanea: sfide e le possibilità.

Carlos Roberto Sabbi*

RESUMO

Lançar o olhar sobre o todo da Educação e retirar seus elementos mais importantes na
atualidade, para compreender sua realidade, sob uma visão macro, é o objetivo. A busca e o
levantamento desses dados, portanto, é consequência inevitável, para que a apresentação desses
elementos possa propiciar esse entendimento. Com um contexto internacional e local construído,
parte-se diretamente para os desafios e possibilidades, apresentando-se 9 propostas para a
Educação no Brasil. As 2 últimas tratam da inserção da ética e do comportamento nos processos
educativos para culminar com a criação de disciplinas escolares e acadêmicas específicas e a sua
introdução nos currículos escolares como disciplinas básica. Ao fim, reflete-se e conclui-se sobre a
possibilidade de transformar, ou não, o ser humano em um cidadão ético e com um comportamento
refinado.
Palavras-chave: Comportamento. Educação. Ética. Desafios. Foco.

* Gerente-geral aposentado da CAIXA, ex-professor da UCS, Bel em Administração, especialista em Gestão de


Pessoas e Formação Holística de Base, com aperfeiçoamento em Consultoria Empresarial e Gestão Pública, mestre
em educação e doutorando em educação pela Universidade de Caxias do Sul e Universidade Autônoma de Madri.

192
ABSTRACT

To gaze upon the whole of education and remove its most important elements in the
present, to understand their reality, from a macro view, is the goal. The search and collection
of such data is therefore inevitable consequence, so that the presentation of these elements can
provide this understanding. With an international and local built environment, part directly to the
challenges and possibilities, presenting nine proposals for education in Brazil. The last 2 deal with
the integration of ethics and behavior in educational processes to lead to the creation of specific
school and academic disciplines and their introduction in the school curricula as basic disciplines.
At the end, reflected and concluded about the possibility of transforming or not the human being
in an ethical citizen and a refined behavior.
Keywords: Behavior. Education. Ethics. Challenges. Focus.

RESUMEN
Per contemplare l’intera dell’istruzione e rimuovere gli elementi più importanti nel
presente, per capire la loro realtà, da una vista macro, è l’obiettivo. La ricerca e la raccolta dei
dati è quindi inevitabile conseguenza, in modo che la presentazione di questi elementi può fornire
questa comprensione. Con un ambiente costruito internazionale e locale, parte direttamente alle
sfide e alle possibilità, presentando nove proposte di formazione in Brasile. Gli ultimi 2 accordo
con l’integrazione di etica e di comportamento nei processi educativi per portare alla creazione
di scuola specifica e discipline accademiche e la loro introduzione nei programmi scolastici come
discipline di base. Alla fine, riflessa e concluso sulla possibilità di trasformare o meno l’essere
umano in un cittadino etico e un comportamento raffinata.
Parole chiave: Comportamento. Istruzione. Etica. Sfide. Mettere a fuoco.

193
INTRODUÇÃO

A finalidade da educação consiste em desenvolver em cada indivíduo toda a perfeição de


que ele é susceptível.
(Kant)

O cuidar de si e o cuidar de todos sempre será objeto-foco da Educação, quer no ambiente


familiar, escolar ou acadêmico, no sentido de fornecer informações sistematizadas e incentivar sua
reflexão para que possa se produzir conhecimentos. Freire (1997, p. 15) disse que: “...ensinar não
é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.”
Os pais ou os familiares responsáveis pelos menores, são os primeiros e fundamentais pedagogos,
pois são os que mais podem influenciar na formação do caráter e inspirar os primeiros traços da
personalidade. Esses primeiros pedagogos, além de transmitir os elementos civilizatórios, são os
que incentivarão a construção das noções de importância dos processos de educação, na criança,
que se caracterizarão pelo respeito aos educadores e à escola, além do foco que cada um dará no
seu processo de aprendizado.
O valor atribuído à Educação no Brasil (apenas para situar com mais precisão a conjuntura),
não faz por merecer a sua importância. Com algumas variações, o contexto mundial não é muito
diferente, muito embora haja exemplos extraordinários de transformação de nações inteiras,
provocadas pelo forte investimento na Educação. A Revista Cultura e Cidadania (2012)1 cita como
exemplo de países que dão prioridade absoluta à educação como Finlândia, Coréia e Espanha.
Esses mesmos países são citados pelo Planeta Sustentável (2008)2 da editora Abril, que também
faz referência que somente nos anos 1930 é que a educação virou política de governo, no Brasil,
com a criação do Ministério da Educação, no governo Getúlio Vargas.
Outro exemplo, que não é de agora, mas ao mesmo tempo permanece até os dias atuais, é
o da Declaração Universal dos Direitos Humanos, (DUDH) que é um documento marco na história
dos direitos humanos, portanto, da própria humanidade. Elaborada por enviados de distintas origens
jurídicas e culturais de todos os lugares do mundo, a Declaração foi proclamada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948, através da Resolução 217 A
(III) da Assembleia Geral como uma norma comum a ser alcançada por todos os povos e nações.

1 Disponível em: < http://revistaculturacidadania.blogspot.com.br/2012/05/artigos-o-poder-transformador-


da.html>. Acesso em: 1 fev. 2016.
2 Disponível em: < http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/educacao/conteudo_307179.shtml>. Acesso
em: 1 fev. 2016.

194
Desde a sua criação a DUDH inspirou a constituição de muitos Estados e democracias recentes e
foi traduzida em mais de 360 idiomas. A Declaração Universal dos Direitos Humanos no site da
United Nations3 contém a palavra education repetida 8 vezes e não aparece nem uma vez a palavra
instruction. Essa mesma DUDH traduzida para o português brasileiro, disponível em uma página
do Ministério de Educação4 traz apenas 1 vez a palavra educação, e 8 vezes a palavra instrução.
Não é necessário discorrer sobre o significado e as enormes diferenças entre educação e instrução.
Entretanto, o simbolismo desse equívoco abismal exatamente com o termo educação, em um
documento com tamanha expressividade, se não a maior, reflete, metaforicamente, a importância
que é dada para a educação no Brasil.
Na Grécia antiga, época em que Platão criou a sua Academia – a primeira universidade
da história – boa parte dos educadores eram escravos. Os pais deixavam suas crianças com os
paidagogos (pedagogo). Isso demonstra que a dificuldade da educação se impor é histórica, salvo
raras exceções.

1. A EDUCAÇÃO DO BRASIL NA CONTEMPORANEIDADE

As mais diversas pesquisas que são realizadas no Brasil, invariavelmente deixam a educação
fora dos 5 principais problemas do país. A capacitação e a remuneração dos professores estão além
dos limites mínimos aceitáveis para um padrão razoável para uma boa estrutura educacional.
De acordo com o art. 21 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º
9.394/96),5 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, a educação escolar compõe-
se de: 1) Educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; 2)
Educação superior.
Em 2014 a presidência da República publicou a Lei nº 13.005, aprovando o Plano Nacional
de Educação - PNE,6 com vigência por 10 (dez) anos. No seu Art. 2º estabelece suas diretrizes,
como sendo:
I - Erradicação do analfabetismo; II - Universalização do atendimento escolar; III -
Superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na
erradicação de todas as formas de discriminação; IV - Melhoria da qualidade da educação;
V - Formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos
em que se fundamenta a sociedade; VI - Promoção do princípio da gestão democrática da

3 Disponível em: <http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/eng.pdf>. Acesso em:


2 fev. 2016.
4 Disponível em: < http://escoladegestores.mec.gov.br/site/8-biblioteca/pdf/declaracao_dh_site-onu.pdf>.
Acesso em: 2 fev. 2016.
5 Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em 2 fev. 2016.
6 Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm>. Acesso em:
2 fev. 2016.

195
educação pública; VII - promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País;
VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como
proporção do Produto Interno Bruto - PIB, que assegure atendimento às necessidades de
expansão, com padrão de qualidade e equidade; IX - Valorização dos (as) profissionais da
educação; X - Promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e
à sustentabilidade socioambiental.

Um dos fatos mais significativos da realidade atual da educação brasileira diz respeito a
implantação da “progressão continuada”7, que iniciou a partir de 1996, em função da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação, quando começou a ser adotado pelas escolas. Nas avaliações dos estudantes em
matemática e ciências, seis dos dez países primeiros colocados, adotam algum sistema de progressão
continuada; no quesito leitura, o número sobe para oito. Entre eles estão: China, Finlândia, Irlanda,
Holanda, Canadá, Coréia do Sul, Japão e Cingapura.8
Conquanto a progressão continuada seja sinônimo de sucesso em muitos países, no Brasil,
ela ainda enfrenta resistência. O fato é que nesses países o sistema funciona. Lá, eles escolhem por
um sistema de apoio intenso ao aluno, na escola, coisa que por algumas variáveis, não está sendo
possível se aplicar aqui no Brasil, aparentemente pela falta de estrutura na quantidade e qualidade dos
pedagogos disponíveis. Nesses países o acompanhamento do aluno se dá dentro e fora do horário das
aulas e a maior parte deles possui condições socioeconômicas superior ao do Brasil.
A leitura que se faz é que a progressão continuada repensa as posturas e percepções frente à
educação e à técnica pedagógica, e importa amplo desafio para todos os profissionais da educação.
Aqui no Brasil, essa forma de ensino enfrenta sérias críticas por parte da sociedade. Na
página da web a Wikipédia,9 se reportando sobre o assunto, informa que algumas famílias associam
esse sistema a uma queda de qualidade no ensino, por isso o motivo de condenações. Os professores
em geral, por sua vez, creem que a reprovação é um “incentivo” aos estudantes. Outra crítica
recorrente é a de que o fenômeno do “copismo”,10 relacionado ao analfabetismo funcional, vem
aumentando, devido à progressão continuada.

7 É uma das formas básicas de ensino nas escolas fundamentais que pressupõe que o estudante deve obter as
competências e habilidades em um ciclo, que é mais longo que um ano ou uma série. Nesse sistema de ciclos, não está
previsto a reprovação, mas a recuperação, por aulas de reforço. O objetivo é regularizar o fluxo de alunos ao longo dos
anos de escola, para superar o fracasso das altas taxas de reprovação. A ideia é que com isso, os alunos tenham acesso
ao estudo, sem repetências ou interrupções, que criem desânimo e/ou prejudiquem o aprendizado. Disponível em:<
https://pt.wikipedia.org/wiki/Progress%C3%A3o_continuada>. Acesso em 2 fev. 2016.
8 Disponível em: < http://www.todospelaeducacao.org.br/reportagens-tpe/33156/progressao-continuada-e-
frequente-entre-paises-que-se-destacam-no-cenario-educacional>. Acesso em 2 fev. 2016.
9 Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Progress%C3%A3o_continuada>. Acesso em 2 fev. 2016.
10 “Se a definição mais conhecida de analfabeto funcional é quem lê mas não interpreta um texto, com o co-
pista é pior: como só copia, não sabe que o “a” que escreveu, por exemplo, é um “a”.” Disponível em: <http://oglobo.
globo.com/sociedade/educacao/alunos-copistas-sao-nova-face-do-analfabetismo-funcional-que-chega-atingir-um-
terco-da-populacao-brasileira-2789045>. Acesso em 2 fev. 2016.

196
Analisando esses dados sobre a progressão continuada, constata-se de que se trata,
necessariamente, de uma mudança cultural para todos, especialmente de professores, alunos e
familiares. Qualquer mudança, por si só, enfrenta barreiras, já que isso faz parte do comportamento
do ser humano. Além disso, a falta de melhores condições para a sua funcionalidade, aqui no
Brasil, aumenta, em muito, o desafio.
Outro elemento significativo na Educação no Brasil, foi a criação do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) pelo Inep em 2007. O site do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira apresenta a definição do Ideb:
Representa a iniciativa pioneira de reunir em um só indicador dois conceitos igualmente
importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar e médias de desempenho nas
avaliações. Ele agrega ao enfoque pedagógico dos resultados das avaliações em larga
escala do Inep a possibilidade de resultados sintéticos, facilmente assimiláveis, e
que permitem traçar metas de qualidade educacional para os sistemas. O indicador é
calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias
de desempenho nas avaliações do Inep, o Saeb – para as unidades da federação e para o
país, e a Prova Brasil – para os municípios.11

Conceitualmente o Ideb foi criado para ser o condutor de política pública pela melhoria
da qualidade da educação, tanto no âmbito nacional, como nos estados, municípios e escolas. As
metas são o caminho delineado de melhora individual dos índices, de forma que o país alcance
o nível educacional que têm hoje a média dos países da OCDE.12 Estatisticamente, isso significa
evoluir da média nacional de 3,8, apontada em 2005, para um Ideb igual a 6,0, na primeira fase
do ensino fundamental.
As metas do Ideb são diferenciadas para cada rede e escola e são apresentadas
bienalmente desde 2007 e previsto para seguir continuamente até 2021. Estados, municípios
e escolas deverão melhorar seus índices e contribuir, conjuntamente, para que o Brasil chegue
à meta 6,0 em 2022. No caso das redes e escolas com maior dificuldade, as metas preveem
um esforço mais concentrado, para que elas melhorem mais rapidamente, diminuindo assim a
desigualdade entre esferas.
O Ideb é calculado a partir de dois componentes: taxa de rendimento escolar (aprovação) e
médias de desempenho nos exames padronizados aplicados pelo Inep.13 Os índices de aprovação
são obtidos a partir do Censo Escolar, realizado anualmente pelo Inep. As médias de desempenho

11 Disponível em: < http://portal.inep.gov.br/web/portal-ideb/o-que-e-o-ideb>. Acesso em 2 fev. 2016.


12 Fundada em 1960, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é uma orga-
nização de cooperação internacional composta por 34 países. Sua sede fica na cidade de Paris (França). A OCDE é
sucessora da OECE, que foi criada no contexto do Plano Marshall.
13 Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/portal_ideb/o_que_e_o_ideb/Nota_Tecni-
ca_n1_concepcaoIDEB.pdf>. Acesso em: 3 fev. 2016.

197
utilizadas são as da Prova Brasil (para Idebs de escolas e municípios) e do Saeb (no caso dos
Idebs dos estados e nacional). A fórmula geral do Ideb é dada por: , onde:
i = ano do exame (Saeb e Prova Brasil) e do Censo Escolar;
N ji = média da proficiência em Língua Portuguesa e Matemática, padronizada para um
indicador entre 0 e 10, dos alunos da unidade j, obtida em determinada edição do exame
realizado ao final da etapa de ensino;
P ji = indicador de rendimento baseado na taxa de aprovação da etapa de ensino dos
alunos da unidade j. 14

Outro elemento significativo na contemporaneidade da Educação no Brasil é o Exame


Nacional do Ensino Médio (Enem). Foi criado em 1998 com o intuito de medir a atuação do
estudante ao fim da educação básica, procurando colaborar à melhoria da qualidade desse plano
de escolaridade. A partir de 2009 passou a ser utilizado também para seleção para o ingresso ao
ensino superior.
O Enem busca contribuir para a democratização das oportunidades de acesso às vagas
oferecidas por Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), para a mobilidade acadêmica e
para induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio. Tem como um dos seus princípios
respeitar a autonomia das universidades, e os resultados do Enem podem ser utilizados para acesso
ao ensino superior, que pode ocorrer como fase única de seleção ou combinado com seus processos
seletivos próprios. Também é utilizado para o acesso a programas oferecidos pelo Governo Federal,
tais como o Programa Universidade para Todos – ProUni.
Evidentemente que há uma série de outros elementos e fatores importantes no cenário
da Educação em nosso país. Cada um, de acordo com a sua ótica e com o seu momento tem
um olhar que proporciona a sua visão particular do todo. Entretanto, dificilmente, entre uma
maioria lançando uma observação sobre o tema, e os aspectos mais importantes, da Educação na
contemporaneidade, alguém deixaria de mencionar qualquer um desses elementos apresentados.
É certo, porém, que há um mundo de novas possibilidades, de novas ferramentas, de novas
ciências e de novos processos a serem desenvolvidos e aplicados para o alcance de um novo e
melhor patamar de vida em nosso país.

2. A EDUCAÇÃO GLOBAL NA CONTEMPORANEIDADE

A educação moderna depende de pedagogos competentes, quer seja intelectualmente, quer


seja emocionalmente e sobretudo de gestores efetivos de todas as áreas que envolvem os processos

14 Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/portal_ideb/o_que_e_o_ideb/Nota_Tecni-


ca_n1_concepcaoIDEB.pdf>. Acesso em: 3 fev. 2016.

198
educativos, com uma visão global e sempre atual.
Porém, de todos os atores que comandam e decidem as políticas educacionais em cada país,
deve partir do mais alto comando, a partir do cargo político mais importante do país (presidente,
primeiro-ministro, etc.), o verdadeiro foco que se deseja, não somente com discursos, mas com
ações práticas para impor o norte almejado.
Com uma tentativa de fazer um grande apanhado do que acontece com a educação em
nível mundial na contemporaneidade, sem deixar de ser breve e objetivo, será possível analisar e
concluir sob o tema, da forma mais científica possível. É o que será visto na sequência.

2.1 O RESPEITO ÀS CULTURAS E O BENCHMARKING

Morin faz uma observação muito pertinente a respeito da educação e a cultura onde ela está
sendo tratada, pois além da necessária consideração com a tradição e os costumes para um encaixe
sintonizado do ensino com a realidade local, há também os aspectos estruturais que fornecem
suporte aos processos implantados. Morim, assim observou:
A educação deve reforçar o respeito pelas culturas, e compreender que elas são imperfeitas
em si mesmas, à imagem do ser humano. Todas as culturas, como a nossa, constituem
uma mistura de superstições, ficções, fixações, saberes acumulados e não-criticados,
erros grosseiros, verdades profundas, mas essa mescla não é discernível em primeira
aproximação e é preciso estar atento para não classificar como superstições saberes
milenares, como, por exemplo, os modos de preparação do milho no México, que por
muito tempo os antropólogos atribuíram a crenças mágicas, até que se descobriu que
permitiam que o organismo assimilasse a lisina, substância nutritiva que, por muito tempo,
foi seu único alimento. Assim, o que parecia “irracional” respondia a uma racionalidade
vital. (2003, p. 105).

Com esses cuidados necessários, o benchmarking,15 muito utilizado pelas empresas,


também deve ser realizado pelas instituições e órgãos responsáveis pelo gerenciamento da
educação. A explicação do porquê dessa prática é muito simples e vale para todas organizações:
primeiro deve ser feito (copiado se for possível) tudo o que está dando certo, ou melhor ainda,
tudo que for referência em qualquer lugar do mundo. Depois que a organização está estruturada,
produzindo (no caso em foco a educação) através dos processos já consagrados no mercado ou na
sociedade, obrigatoriamente deve-se partir para a inovação, pois ela é um dos principais fatores que
podem provocar diferenciais competitivos. Tudo isso, são princípios da ciência da Administração
e que são totalmente válidos, portanto aplicáveis, no setor privado ou público, quer seja com
organizações com fins lucrativos ou não. Apenas fica a advertência da pertinência e importância
15 Processo de avaliação da empresa em relação à concorrência, por meio do qual incorpora os melhores de-
sempenhos de outras firmas e/ou aperfeiçoa os seus próprios métodos.

199
de se observar todas as variáveis para se ter a visão sistêmica16 do processo a ser reproduzido, de
modo que eventuais diferenças estruturais, entre o local onde originalmente se produz e o que irá
ser refletido, não afetarão negativamente o resultado final.
Há uma obra muito extensa e importante sobre a disseminação dos processos educativos
formais, entre as nações, especialmente quanto ao ensino básico obrigatório, intitulada Global
Educational Expansion: Historical Legacies and Political Obstacles de Benavot, Resnik e
Corrales. Os autores trazem uma riqueza de informações sobre o assunto de inúmeros países,
demonstrando situações em que a formalização do ensino obrigatório contou ou não com o apoio
da sociedade, e a influência, às vezes a favor, outras contra, pela Igreja, sendo invariavelmente
decisiva para o resultado.

2.2 UMA CULTURA GLOBAL

O governo da Austrália (2011) publicou um caderno específico sobre perspectivas globais


em educação onde apresenta um Projeto de Estudos Mundial, de Londres, Robin (1976) objetivando
a construção de uma estrutura para a educação global.
O conteúdo da figura 1 diz o seguinte:
Há cinco ênfases de aprendizagem que refletem temas recorrentes na educação global. • A
interdependência e da globalização - uma compreensão das ligações sociais, económicas
e políticas complexas entre as pessoas e o impacto que as mudanças têm sobre os outros.
• Identidade e diversidade cultural - uma compreensão de si e da cultura própria de
alguém, e estar aberto às culturas dos outros. • A justiça social e os direitos humanos - uma
compreensão do impacto da desigualdade e da discriminação, a importância de defender
os nossos próprios direitos e nossa responsabilidade de respeitar os direitos dos outros. •
Construção da paz e resolução de conflitos - uma compreensão da importância de construir
e manter relacionamentos positivos e confiantes e formas de conflitos podem ser evitados
ou pacificamente resolvido. • Futuros Sustentáveis ​​- uma compreensão das maneiras em
que podemos satisfazer as nossas necessidades atuais sem diminuir a qualidade do ambiente
ou reduzir a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades.
Além disso, cada ênfase de aprendizagem tem uma espacial, bem como uma dimensão
temporal que os professores precisam de ter em conta quando ensino com uma perspectiva
global. Dimensão espacial - sobreposição local e global; comunidades sociais e naturais
que descrevem a interdependência, a identidade influência e capacidade de fazer. Dimensão
temporal - conexões entre o passado, presente e futuro no mundo dinâmico e mudando o
que influencia identidade e interdependência das pessoas e sua capacidade de responder a
questões globais. Ao explorar as ênfases de aprendizagem e dimensões da educação global,
os alunos serão fornecidos com oportunidades para desenvolver os valores, conhecimentos,
habilidades e capacidade para a ação para se tornarem bons cidadãos globais.17

16 Consiste na habilidade em compreender os sistemas de acordo com a abordagem da Teoria Geral dos Siste-
mas, ou seja, ter o conhecimento do todo, de modo a permitir a análise ou a interferência no mesmo.
17 Tradução livre do autor.

200
Figura 1 - A construção de uma estrutura para a educação global

Fonte: Global Perspectives: A framework for global education in Australian schools. (2008, p. 8).

A tradução da legenda lateral da figura 1 diz que:


O quadro para a educação global descreve os valores, conhecimentos, habilidades e
oportunidades para a ação dentro de cinco ênfase aprendizagem interligado e suas
abrangendo dimensões espaciais e temporais.18

Burnouf (2004), uma canadense da University of Alberta, diz que em a sociedade atual
anda em rápida mudança, existe uma necessidade urgente para as escolas para abordar e infundir a
consciência global em instrução currículo. Os alunos são cada vez mais confrontados com muitas
questões que exigem um foco a educação global. Ela faz referência a Kirkwood (2001), que alerta
que esses estudantes terão de enfrentar uma nova ordem mundial, criando assim a necessidade de
adquirir uma educação global, afirmando:
Seus contatos diários incluirão indivíduos de origens étnicas, de gênero, linguísticas,
raciais e socioeconômicos. Eles vão experimentar alguns dos mais graves problemas
de saúde da história, as desigualdades entre as nações menos desenvolvidas e mais
desenvolvidas, a deterioração ambiental, superpopulação migrações transnacionais, o
nacionalismo étnico, e do declínio do Estado-nação. (Kirkwood, 2001, p. 2)19

18 Tradução livre do autor.


19 Tradução livre do autor.

201
Carter,20, que nasceu no Egito e trabalha nos EUA, é um entusiasta da educação com o
foco direcionado para o mundo, trata esse assunto de uma forma bastante didática e científica.
A configuração multicultural da educação internacional presta-se a um desenvolvimento
mais natural da cidadania global. A partir deste ponto de partida, existem diferentes
abordagens para desenvolver esta consciência global, tais como: 1) desenho curricular que
abrange temas de consciência, empatia e uma abordagem educativa mais holística; 2) o
uso da tecnologia que promove conexões entre salas de aula e destinos ao redor do mundo;
3) projetos de ação social que utilizam a aprendizagem baseada em serviços para criar
uma consciência mais profunda de questões globais; e 4) projetos extracurriculares que
oferecem uma variedade de ferramentas para promover a cidadania global. (2003, p. 59).21

A revista Global Education Guidelines, publicada pela The North-South Centre of the
Council of Europe - Lisbon (2008),22 traz um vasto e precioso material sobre o assunto. Eis um
excerto que se destaca:
A aprendizagem transformadora através da educação global envolve uma mudança
profunda e estrutural nas premissas básicas de pensamentos, sentimentos e ações. É uma
educação para a mente, bem como para o coração. Isto implica uma mudança radical
no sentido de inter-relação e cria possibilidades de conseguir mais igualdade, justiça
social, compreensão e cooperação entre os povos. Três fases principais de aprendizagem
transformadora estão fortemente ligados à educação global: Uma análise da situação atual
do mundo; uma visão das alternativas aos modelos dominantes; um processo de mudança
para a cidadania global responsável. 2008, p. 10).23

Elken et. al. (2015) destacam a cooperação cultural e educacional nórdica pelas suas
longas raízes históricas e ligada aos ideais comuns do Estado-Providência nórdico, onde o ensino
superior acessível aberto é considerado uma parte importante do modelo. As justificativas para a
mobilidade na região nórdica têm variado ao longo do tempo, e os padrões de mobilidade têm sido
historicamente desiguais entre os países nórdicos - onde, em particular, a Islândia e a Noruega
têm enviado muitos estudantes. A cooperação através do Conselho de Ministros Nórdicos tem se
desenvolvido ao longo do tempo, em que um acordo de 1971 a cooperação definiu a base para
uma grande parte dos desenvolvimentos nas décadas que se seguiram. No entanto, a introdução do
Processo de Bolonha em 1999 e a Agenda de Lisboa da UE em 2000 levantaram da dinâmica entre
a cooperação nórdica e europeia, em particular, como a Dinamarca, a Suécia e na Finlândia que
também são membros da UE, e todos os países nórdicos são envolvidos no processo de Bolonha.
20 Adam Carter se denomina autor global, nascido em Alexandria, no Egito, é fundador e diretor da Cause
& Affect Foundaont (www.causeandaffectfoundation.org), bem como o criador do Academic Ação Social Coletiva
(www.asacollective.org).
21 Tradução livre do autor.
22 isponível em: < http://www.globaleducationweek.at/images/doku/globaleducationguidelines.pdf>. Acesso
em: 6 fev. 2016.
23 Tradução livre do autor.

202
Esses relatos acima, são apenas alguns entre uma infinidade que se pode constatar, por
todos os cantos do planeta. Enfim, o significado que é concedido ao tema, além da sua importância,
amplamente reconhecida e disseminada em todo o mundo, de uma forma geral, é de que o assunto
tem plena conexão com a realidade global, não podendo ser ignorada por ninguém. A globalização
é muito mencionada e analisada sob enfoques ideológicos de partidários de todos os lados. Mas,
o fato é que, de uma forma ou de outra, a globalização é um caminho na direção da fragmentação
para o todo e a educação deve ter isso bem presente em seus processos.

2.3 UMA SÍNTESE DO MELHOR

Primeiramente, é justo destacar os países que efetivamente estão desprendendo todos os


esforços para uma educação com excelência com sucesso, como é o caso da Finlândia e da Coreia do
Sul. É claro que há muitos outros nessa lista, seguindo-se a esses que estão despontando. Eles são a
esperança de um verdadeiro desenvolvimento humano para o nosso planeta, portanto, exemplos a
serem seguidos. Transformar o discurso em ação real, prática e verdadeira, evidentemente que não
é tarefa fácil, até porque depende de uma capacidade de liderança e de organização da sociedade
muito grande.
Na Finlândia o sucesso do seu sistema educacional parece ser parte cultural, onde os alunos
estudam em um ambiente descontraído e informal. Segundo a OCDE24, as crianças finlandesas
gastam o menor número de horas em sala de aula no mundo desenvolvido.25 No ano passado mais
de 100 delegações estrangeiras e governos visitaram Helsínquia,26 na esperança de aprender o
segredo do sucesso de suas escolas.

24 A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização internacio-


nal de 35 países que aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado, que procura
fornecer uma plataforma para comparar políticas econômicas, solucionar problemas comuns e coordenar políticas
domésticas e internacionais. A maioria dos membros da OCDE é composta por economias com um elevado PIB per
capita e Índice de Desenvolvimento Humano e são considerados países desenvolvidos. Teve origem em 1948 como
a Organização para a Cooperação Econômica (OECE), liderada por Robert Marjolin da França, para ajudar a gerir
o Plano Marshall para a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, a sua filiação foi
estendida a estados não-europeus. Em 1961, a Convenção sobre a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico reformou a OECE e deu lugar à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Disponí-
vel em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_para_a_Coopera%C3%A7%C3%A3o_e_De-
senvolvimento_Econ%C3%B3mico>. Acesso em: 6 fev. 2016.
25 Disponível em: < http://news.bbc.co.uk/2/hi/8601207.stm>. Acesso em 6 fev. 2016.
26 Helsínquia ou Helsinque, com aproximadamente 600 mil habitantes, é a capital da República da Finlândia
e a maior cidade do país.

203
Em 2006, os alunos da Finlândia alcançaram os melhores resultados médios na ciência
e na leitura em todo o mundo desenvolvido. Em exames da OCDE27 para a 15 anos de idade,
conhecido como PISA28, eles também ficaram em segundo lugar em matemática, batido apenas
por adolescentes na Coreia do Sul. A tática usada em praticamente todas as lições é a colocação de
um professor adicional que ajuda aqueles que lutam em um assunto particular. Mas os alunos são
mantidos na mesma sala de aula, independentemente da sua capacidade nesse assunto particular. O
ministro da Educação da Finlândia, Henna Virkkunen se orgulha de registro de seu país, mas seu
próximo objetivo é orientar os alunos mais brilhantes. 29
A última grande mudança na educação que a Finlândia fez foi liberar o currículo nacional
e dar aos professores mais controle. Eles ainda dão os objetivos e resultados esperados, mas eles
permitem que os professores determinem como chegar lá. Isto, naturalmente, é contrário ao sentido
que o sistema educacional dos EUA tem sido dirigindo e de muitos outros.

27 O programa de Indicadores dos Sistemas Educacionais Nacionais ou INES (do inglês, Indicators of National
Education Systems), da OCDE, é responsável pela construção de indicadores educacionais comparáveis internacio-
nalmente, bem como pela elaboração de estudos técnicos, pesquisas e levantamentos para a análise das dimensões da
constituição de indicadores, promovendo as seguintes atividades:
- Desenvolve, coleta, analisa e interpreta uma grande variedade de indicadores internacionais por meio de suas publi-
cações anuais;
- Fornece um fórum para a cooperação internacional e a troca de informação sobre métodos e práticas de desenvol-
vimento e uso dos indicadores educacionais para os sistemas de formulação de políticas e gestão de sistemas educa-
cionais;
- Contribui para a metodologia e prática de avaliação para desenvolver mais indicadores válidos e confiáveis, e para
uma melhor compreensão de sua utilização na formação de políticas.
- Criado em 1998, o programa INES conta atualmente com a participação dos 34 países membros da OCDE (Alema-
nha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, Coréia do Sul, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados
Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão, Luxemburgo,
México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Suécia, Suíça, Turquia) e de 5
países associados à Organização (Brasil, China, Índia, Indonésia e Rússia).
Como país parceiro e sob a coordenação do Inep, o Brasil, além de fornecer os indicadores nacionais para a publicação
Education at a Glance, participa das seguintes instâncias do INES:
- UOE Data Collection;
- Working Party;
- Network on the Outcomes of Learning (LSO);
- Network for System-Level Information (NESLI).
Com base nos resultados do Education at Glance, o Inep elabora anualmente um resumo com a análise dos dados
publicados no EAG, comparando as estatísticas do Brasil com os resultados globais.
28 O Programme for International Student Assessment (Pisa) - Programa Internacional de Avaliação de Es-
tudantes - é uma iniciativa de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa dos 15 anos, idade em que se
pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. O programa é desenvolvido e coorde-
nado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em cada país participante há uma
coordenação nacional. No Brasil, o Pisa é coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep).
29 Disponível em: < http://news.bbc.co.uk/2/hi/8601207.stm>. Acesso em: 6 fev. 2016.

204
Outro detalhe significativo na Finlândia é que a pobreza praticamente inexiste, fato que
deixa todas as crianças niveladas, em termos de condições socioeconômicas, para enfrentar sua
educação escolar.
Faridi30 se questiona: “O que faz da escola na Finlândia, uma experiência agradável para
os alunos e professores?” Ela mesmo responde apontando 13 fatores que ela identificou:
1. A ênfase em jogo; 2. Sem altos riscos em testes padronizados; 3. Confiança em todos
atores do processo: 4. As escolas não competem uma com a outra; 5. Os programas de
preparação de professores fora de série. 6. Tempo pessoal é altamente valorizado; 7.
Menos é mais; 8. Ênfase na qualidade de vida; 9. Aprendizagem semi-rastreada; 10. Os
padrões nacionais são valorizados; 11. Grades não são dadas até 4ª série; 12. Ética é
ensinada no ensino primário; 13. Colaboração e ambientes colaborativos é fortemente
enfatizada. (2014)31

Por fim, um bom desempenho em rankings internacionais e o sucesso da Finlândia reflete


o valor colocado no ensino, o compromisso de escolas públicas igualitárias e investimento em
infraestrutura.32 O resultado é que com seus altos níveis de instrução e de realização, a Finlândia é
considerada como uma das sociedades mais letradas do mundo. Mais de 98 por cento assistem às
aulas do pré-escolar; 99 por cento concluído o ensino básico obrigatório; e 94 por cento das pessoas
começam a vertente acadêmica de pós-graduação do ensino secundário. As taxas de conclusão no
ensino secundário profissional também chegam perto de 90 por cento (Statistics Finland, 2010;
Välijärvi & Sahlberg, 2008).33
A Coréia do Sul tem o mesmo destaque internacional que a Finlândia, porém há diferenças
impressionantes entre o sistema de ensino desses dois países. O maior exemplo é que enquanto
na Finlândia os alunos têm o menor número de horas em sala de aula no mundo desenvolvido, na
Coréia do Sul, na verdade, eles estudam mais que crianças de qualquer outro país no mundo. Outro
exemplo é o intervalo, pois na Finlândia eles dão às crianças um monte de brincadeiras e os alunos
recebem 75 minutos de recesso por dia. Não há recesso real na Coreia do Sul. As únicas pausas que
as crianças coreanas recebem é a 10 minutos que eles têm para circular entre as classes. Por outro
lado, enquanto na Finlândia não há o foco competitivo, em especial entre as escolas e os alunos,
30 Sophia Faridi é um professor de Inglês 9º ano em Baker College Prep em Chicago. Ela tem servido como
um companheiro para The Bill & Melinda Gates Foundation, América Achieves e realização do estudante Partners,
para o qual ela ajudou a aconselhar o Departamento de Educação dos Estados Unidos sobre as principais questões de
educação. Ela é membro do CTQ Collaboratory. Disponível em: < http://www.edweek.org/tm/articles/2014/06/24/
ctq_faridi_finland.html>. Acesso em 6 fev. 2016.
31 Disponível em: < http://www.edweek.org/tm/articles/2014/06/24/ctq_faridi_finland.html>. Acesso em 6
fev. 2016.
32 onal-success-20150204-136887.html>. Acesso em 6 fev. 2016.
33 Disponível em: < https://edpolicy.stanford.edu/sites/default/files/publications/secret-finland%E2%80%99s-
success-educating-teachers.pdf>. Acesso em 6 fev. 2016.

205
na Coréia do Sul isso é amplamente destacado e exerce uma forte pressão entre escolas e alunos.
Com essa realidade dos alunos da Coréia do Sul estudarem sem parar, obviamente que
demanda muitas objeções. Porém, pelo seu resultado, merece toda análise e atenção para tudo o
que eles estão fazendo. Na figura 2 há um comparativo entre os desempenhos dos alunos de cada
um dos países em leitura, matemática e ciência:

Figura 2 Coréia do Sul versus EUA - resultados do PISA

Fonte: NCEE.org34

O percentual de alunos que avançam para a faculdade é superior a 80 por cento. Mesmo
assim, a concorrência é brutal entre aqueles que fazem testes para entrar na Universidade Nacional
de Seul, ou o pequeno punhado de prestigiadas universidades privadas na capital. E a competição
continua depois de entrar na universidade. A palavra “especificações”, comumente proferidas na
Coreia do Sul, simboliza esta competição feroz. Emprestado do inglês specifications, refere-se a
experiências acumuladas, o que pode dar um candidato a emprego a vantagem sobre seus rivais.
34 Disponível em: < http://ajw.asahi.com/article/forum/security_and_territorial_issues/japan_south_korea/
AJ201305290080>. Acesso em: 7 fev. 2016.

206
Os alunos fazem o seu melhor para construir um portfólio impressionante. Não é segredo que os
sul-coreanos aspiram ser mais escolarizados do que os japoneses. O país tem mais de 300.000
estudantes de graduação, 40.000 a mais do que no Japão, que tem o dobro da população da Coreia
do Sul.
Iwabuchi (2013),35 agora está dedicando seus esforços para o intercâmbio entre estudantes
japoneses e sul-coreanos. Ele é um instrutor no Japão-Coreia Strait College, onde os estudantes da
Universidade de Kyushu no Japão e na Universidade Nacional de Pusan da ​​ Coreia do Sul estudam
e compartilham alojamento. Ele diz que os estudantes japoneses são altamente incentivados por
seus homólogos sul-coreanos, nomeadamente quando se trata de habilidades em inglês. O que
chama a atenção dele sobre os estudantes sul-coreanos é que eles têm transversalmente uma atitude
proativa e demonstram uma capacidade mais forte para oferecer apresentações lógicas. De acordo
com Iwabuchi, muitos estudantes japoneses dizem que depois de interagir com os seus homólogos
sul-coreanos sua “visão da vida mudou.” Assim, a relação ideal japonês-sul-coreano, ele prevê, é
uma situação ganha-ganha: a rivalidade entre os dois países para o topo do ranking do mundo, bem
como aquele entre o japonês patinador Mao Asada e seu homólogo sul-coreano Kim Yuna. “Eu
gostaria de ter o Japão e Coreia do Sul pensando em sua relação como uma rivalidade saudável, o
que leva à melhoria de ambos, como eles estimulam uns aos outros, trabalhando duro e se tornando
o melhor do mundo.”36
Dalporto, escrevendo um artigo no site WeAreTeachers Staff37 cita Stacey Bremner, uma
professora Sul-Africana que ensinou na Coreia do Sul, que disse:
A verdade é, porém, essas crianças estão sob muita pressão. Então, se não queremos
estudantes nos EUA sentindo a mesma pressão coreana, existem algumas grandes coisas
que nós, como professores podemos aprender com esta nação de alta potência. Aqui estão
algumas ideias a serem copiadas: envolver os pais; usar as tecnologias; fazer o melhor a
cada dia; esteja sempre disposto a aprender; e inspirar os seus alunos a fazer o melhor. 38

Enfim, o segredo do sucesso da educação asiática está com os países compartilhando um


foco cultural na aprendizagem e com professores competentes, valorizados e na quantidade ideal
35 Vice-diretor do Bureau Política de Ciência e Tecnologia do Ministério da Educação, Cultura, Desporto,
Ciência e Tecnologia da Coréia do Sul, Hiroki Iwabuchi, nascido em 1972, obteve seu diploma de bacharel da Tokyo
Institute of Escola de Ciência da Tecnologia e seu mestrado na Escola de Pós-Graduação de Ciência. Ele agora é
vice-diretor do Science and Technology Policy Bureau at the Ministry of Education, Culture, Sports, Science and
Technology.
36 Disponível em: <http://ajw.asahi.com/article/forum/security_and_territorial_issues/japan_south_korea/
AJ201305290080>. Acesso em: 7 fev. 2016.
37 Disponível em: < http://www.weareteachers.com/blogs/post/2015/04/01/south-korea-s-school-success>.
Acesso em 7 fev. 2016.
38 Tradução livre do autor.

207
de professor x alunos. As crianças pequenas recebem a mensagem dos pais e da sociedade que
devem se sobressair na escola para ter sucesso na vida. Como resultado, as crianças começam os
estudos intensivos em uma idade jovem. Na China, a aprendizagem, por vezes, até mesmo começa
antes do nascimento, com gestantes recitando frases em inglês e poemas da dinastia Tang para
fetos no útero.
Os professores na Ásia, muitas vezes ensinam classes maiores, mas gastam menos horas na
frente dos alunos, deixando mais tempo para preparação das aulas e as atividades que impulsionam
seu crescimento - e aprendizagem dos alunos. Professores do ensino secundário no Japão passaram
27% do seu tempo de trabalho ensinando em 2010 e os da Coreia do Sul, 37%, em comparação
com 53% para os professores norte-americanos, de acordo com dados da OCDE.
Ironicamente, todo o interesse internacional no sucesso da educação da Ásia coincide com
o crescente descontentamento em muitos países da região sobre os seus sistemas de educação e,
especificamente, a ênfase que colocam sobre a memorização. Tal abordagem pode construir uma
forte capacidade de memorização, mas também coloca uma enorme pressão sobre os estudantes e
desencoraja o pensamento independente, segundo crença de muitos asiáticos educadores, políticos
e pais.
Figura 3 Melhores desempenhos - Índice Global de habilidades cognitivas e nível de
escolaridade

Fonte: Economist Intelligence Unit.39

39 Disponível em: < http://thelearningcurve.pearson.com/stories/article/the-secrets-of-asian-education-suc-


cess>. Acesso em 7 fev. 2016.

208
A figura 3 traz um gráfico comparativo de desempenhos dos índices de habilidades
cognitivas e do nível de escolaridade, demonstrando que a Finlândia e a Coréia do Sul lideram de
forma absoluta.

3. DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Para simplificar, a seguir estão relacionados 9 desafios, que ao mesmo tempo são
possibilidades. O direcionamento dessas provocações está voltado para o contexto brasileiro.
Mesmo que alguns deles possam parecer (e possivelmente o sejam) utópicos, a ideia é apresentar o
que o país necessita para ter uma Educação com absoluta efetividade.40Algo que realmente produza
uma transformação, não somente do cidadão, mas das pessoas como seres vivos, pensantes e ativos,
elevando-os permanentemente para novos e melhores patamares de desenvolvimento contínuo,
pessoal, profissional, intelectual e emocional.

3.1 CRIAR UM GRANDE PACTO PELA EDUCAÇÃO

Esta não é uma proposta simples, pois envolve todos os atores dos processos educativos,
desde os alunos, pais professores, escolas, passando por todos os demais até chegar à presidência
da República. Teria que envolver os municípios, os estados, os poderes legislativos, executivos
e até os judiciários. O ideal seria começar com a criação de um conselho suprapartidário de
pedagogos/administradores com capacidade de colocar a educação à frente de qualquer tipo de
ideologia, ligado diretamente à presidência da república, com a finalidade específica de planejar
e promover uma revolução na educação. Essa revolução aconteceria buscando-se os exemplos e
casos de maior sucesso no mundo, adequando a estrutura do país para tanto e finalmente para as
implantações definitivas. O Planejamento Estratégico seria de sua responsabilidade e o planejamento
operacional através do Ministério da Educação com todos os seus órgãos e secretarias vinculadas,
direta ou indiretamente. O prazo de aplicação do planejamento estratégico seria negociado com a
presidência da república e com o congresso nacional, de acordo com os recursos necessários e as
suas disponibilidades. Certamente serão necessários muitos anos para que tudo aconteça, mas é
um caminho inevitável.
Observa-se pelo conjunto de medidas e ações, a complexidade do grande processo
proposto. Porém, o fator mais determinante, seria surgir um Presidente da República com essa
disposição e colocar a Educação como prioridade máxima da nação, juntamente com mais duas

40 Eficiência: fazer certo, correto, de acordo com toda regulamentação; eficácia: fazer de forma que se produza
resultado positivo, ao menos dentro do limite projetado. Efetividade: eficiência + eficácia.

209
ou três áreas, como por exemplo: educação, saúde, segurança e economia. A maioria de todas as
demais questões que o governo deve se preocupar continuariam sendo executadas pelo governo,
mas preservando-se as 3 ou 4 áreas escolhidas como foco. Além disso, a maioria das demais áreas,
teriam suas soluções, a médio ou longo prazo, encontradas e resolvidas de uma forma mais efetiva,
pois é isso exatamente o que a Educação promove: a solução da maior parte dos problemas dos
seus cidadãos.

3.2 APROFUNDAR O FOCO NA CULTURA GLOBAL

Quanto mais conectados com o mundo maior será a sintonia com todas as áreas, além
de se estar navegando na tendência natural do ser humano, que é o de conviver, ou seja viver
em sociedade.
Além dessa premissa básica, uma profunda aplicação de um foco na cultura global
da educação brasileira será fundamental para a inserção do nosso país nas atuais tendências e
realidades do mundo em tempos de globalização.
Assim, a necessidade de manter totalmente a educação inserida e envolvida com tudo que
de mais importante acontece no mundo, é exatamente a mesma, ou maior, do que pelo próprio
aspecto econômico.

3.3 REVER A PROGRESSÃO CONTINUADA

Pela leitura que se faz pelas informações disponíveis, parece que a progressão
continuada pode estar sendo prejudicada pela falta de estrutura e condições semelhantes ou
adequadas, para que o benchmarking que levou a sua implantação no Brasil, não obtivesse
os mesmos resultados satisfatórios de outros países. Os indícios de que essa forma de ensino
não está bem assentada, podem ser verificados nas inúmeras críticas, mas sobretudo nas
pesquisas da qualidade do ensino, feitas por órgãos internacionais. Com este cenário, e como
a verdade, de alguma forma, está em todos os lugares, críticas como a de que a reprovação está
mais de acordo com a realidade de mercado, sendo, portanto, mais educadora, toma forma e
significado, pois esse aspecto é impossível negá-lo.
Porém, se a progressão continuada é uma forma de ensino avançada e de sucesso em
países referenciais em educação, é natural que alguma coisa está errada no Brasil. A prova disso
vem, por exemplo da própria UNESCO41, onde em seu relatório aponta que apesar da melhora

41 Disponível em: <http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,qualidade-da-educacao-no-brasil-ainda-e


-baixa-aponta-unesco,498175>. Acesso em: 7 fev. 2016.

210
apresentada entre 1997 e 2007, o índice de repetência no ensino fundamental brasileiro é de 18,7%
é o maior da América Latina e expressivamente acima da média mundial que é de 2,9%. Em outra
reportagem, do site Todos pela Educação (2014)42, destaca-se que o sistema de educação do Brasil
é reprovado pela ONU.
Em síntese, ou se dá as condições para a implantação adequada da progressão continuada
ou se encontre outras alternativas viáveis.

3.4 META DE CONFORMIDADE

A técnica de gestão de se trabalhar com metas é inegavelmente de uma utilidade


indiscutível, pois é um instrumento consagrado na ciência administrativa, já há um bom tempo,
em todo o mundo. Entretanto, pode-se verificar nas empresas ou organizações pioneiras com
essa estratégia, que elas descobriram a necessidade de se implementar, também, uma meta que
equilibrasse a pressão com as demais por resultados positivos.
A prática dá conta que não se pode ficar somente na dependência de posturas éticas
por parte do seu corpo gerencial ou funcional. As imensas dificuldades para se construir
diferenciais competitivos e alcançar resultados necessários, somados à pressão das metas, cria-
se um desiquilíbrio. A forma de resolver essa situação é inserir uma meta de conformidade43
no Idep, para blindar contra distorções éticas que possam desvirtuar os resultados. É uma
alternativa importante para os gestores fazerem a sua parte para resolver essa questão. Se não
houver esse cuidado, a pressão demasiada e desiquilibrada pode levar a resultados contrários
aos desejados, pela tendência de desvios de conduta.

3.5 NOVAS TECNOLOGIAS

Os avanços extraordinários das tecnologias e suas inúmeras utilidades, não podem ser
postergados, muito menos ignorados no contexto escolar. Seria um distanciamento injustificável
com a realidade predominante em escala global.
Os recursos tecnológicos precisam servir como extensões ao professor. Ideias abstratas
tornam-se passíveis de visualização; o microscópico torna-se amplo; o passado transforma-se
presente, facilitando o aprendizado e decompondo o conteúdo em elementosatraentes. É capital
que as aulas sigam uma sequência lógica de ideias e que ofereça orientação em relação ao que está

42 Disponível em:<http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/29427/sistema-de-ensino
-e-reprovado-pela-onu/>. Acesso em: 7 fev. 2016.
43 Conformidade é um termo utilizado pela ciência administrativa para se referir a dimensão das metas de
eficiência, onde o foco absoluto é por procedimentos totalmente éticos.

211
tratando. No site Grupo A, Souza44 se refere que: “Cada aula não é uma aula, e sim uma aula que
veio antes de uma aula e depois de outra. O aprendizado deve ser interligado.”45
Moran (2015) defende as tecnologias como apoio para a inclusão social, destacando que a
estimativa é de que há 650 milhões de pessoas que convivem com algum tipo de deficiência. Isso
equivale quase a 10% da população mundial. Um amplo conjunto de problemas e questões afeta o
acesso dessas pessoas com necessidades e que as tecnologias podem auxiliar em muito.
Antigamente se utilizava o ábaco46, por exemplo. Então, não é novidade a utilização de
tecnologias na educação, porém há que se considerar que na atualidade a sua importância aumentou
significativamente, na mesma medida do progresso extraordinário nessa área.
Ele destaca ainda:
A aquisição da informação dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem
trazer hoje dados,imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor – o papel
principal – é ajudar o aluno a interpretaresses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. O papel
do educador é mobilizar o desejo de aprender, para que oaluno se sinta sempre com vontade de
conhecer mais. (Moran, 2015, p. 18).
Cada vez se consolida mais nas pesquisas de educação a ideia de que a melhor maneira de
a modificar é pormetodologias ativas.

3.6 UMA EDUCAÇÃO ACIMA DAS IDEOLOGIAS

Ideologia no conceito filosófico47 é a ciência proposta pelo filósofo francês Destutt de Tracy
(1754-1836), que atribui a origem das ideias humanas às percepções sensoriais do mundo externo.
Entretanto no conceito sociológico48 trata-se sistema de ideias sustentadas por um grupo social,
as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais,
sejam estes morais, religiosos, políticos ou econômicos. Ora, essa é uma questão muito simples,
pois se a proposta for defender ideias de um grupo, isso se equivale a doutrina, que, por sua vez, é
a antítese da educação. Outrossim, educação provém da academia que se tornou universidade que
é qualidade ou condição de universal.49

44 Renata Beduschi de Souza é graduada em Letras, professora de língua portuguesa da rede municipal de
Campo Bom (RS) e de língua inglesa do Centro de Idiomas da Universidade Feevale, de Novo Hamburgo (RS).
45 Disponível em: <http://www.grupoa.com.br/revista-patio/artigo/5945/o-uso-das-tecnologias-na-educacao.
aspx>. Acesso em: 7 fev. 2016.
46 Quadro que permite representar e operar os números por meio das configurações de argolas que deslizam
em hastes fixa. (Dicionário eletrônico Houaiss, 2009).
47 Dicionário eletrônico Houaiss, 2009.
48 Dicionário eletrônico Houaiss, 2009.
49 Dicionário eletrônico Houaiss, 2009.

212
Assim, o sentido legítimo de universidade, na educação, pressupõe a agregação de todo
tipo de conhecimento, quer seja ele paradoxal ou similar. Cabe ao aluno ou acadêmico receber
as informações e processá-las através do seu olhar e das suas reflexões, quando se produzirá o
conhecimento próprio, através da liberdade e do direito inalienável de receber todas as informações
existentes. O tempo de colocar fogo em livros é de uma época sóbria e passada, da qual só se
espera ter o exemplo de como não se deve proceder.
Portanto, nesse exercício lógico, fica muito claro os malefícios que a ideologia provoca
na educação. É como um vírus poderoso, que distorce, altera e até elimina a possibilidade de uma
educação livre, ampla, democrática, social e desenvolvimentista do ser humano, na direção da
virtude e do infinito, que se não for um destino programado, deve ser um desejado e planejado.

3.7 POR UMA EDUCAÇÃO VERDADEIRA

A educação deve cuidar de todos, destarte não faltar defensores de uma educação com
características próprias, de acordo com os seus preceitos. Assim, se assiste a reivindicação de uma
educação tradicional, liberal, progressista, conservadora, etc. Esses olhares distintos acontecem
em todas as esferas da sociedade, inclusive entre os próprios pedagogos. É o que todos estão
acostumados e ler e ouvir cotidianamente, por toda uma vida.
Todas essas defesas corporativas de ideias próprias, particulares, caminham na direção da
doutrinação, ou seja, a antítese do significado amplo, próprio e verdadeiro do que é a educação.
Roth (2014)50diz que a “educação protege contra a tirania cega e privilégio arrogante”.51Se
refere, também de que a “aprendizagem liberal em nossa tradição não é apenas a formação; é um
convite a pensar por si mesmo”.52 Além disso, Roth adverte para se ter cuidado com os críticos da
educação que disfarçam sua vontade de proteger privilégio(e desigualdade) nas vestes da reforma
educacional.
Essa própria defesa de uma aprendizagem liberal, de Roth, pode ser objeto de crítica, caso
essa liberdade não respeite a tradição ou o conservadorismo. Tudo deve estar inserido dentro dos
processos educativos, pois esse é o sentido da academia, esse é o sentido da universidade com o
seu intuito de universalizar informações e conhecimentos.

50 Disponível em: https://newrepublic.com/article/120405/wesleyan-president-money-anxiety-corrupting-hi-


gher-ed?utm_content=buffer3be02&utm_medium=social&utm_source=nfrb&utm_campaign=20150803>. Acesso
em: 8 fev. 2016.
51 Tradução livre do autor.
52 Tradução livre do autor.

213
É preciso trazer para esse contexto o fato de que o mundo que o ser humano construiu está
absolutamente subordinado ao que se configurou como o maior poder do planeta: o econômico.
Infelizmente, essa é uma realidade presente em todo lugar, salvo raríssimas situações de algumas
posturas individuais. Assim, a advertência de Roth para se ter cuidado com os críticos da
educação, é totalmente pertinente, visto que a virtude está completamente deslocada do topo, que
é, naturalmente, o seu lugar de origem e fim. Isso se traduz como um flagrante comportamento
primitivo e ignorante.
Roth (2014) trouxe uma importante manifestação de W.E.B.Dubois, que escreveu no início
do século XX: “Se fizermos com que o dinheiro seja o objeto de treinamento do homemvamos
desenvolver fabricantes de dinheiro, mas não necessariamente homens”.
Dentro desse quadro, aqui no Brasil, foram criados os cursos técnicos até em nível
superior e naturalmente que a melhor leitura disso é a de que foram criados para dar suporte
ao sistema produtivo desse mundo capitalista. Os cursos técnicos são de menor duração e estão
voltados efetivamente para dar formação e capacitação para a mão-de-obra necessária. Assim,
sob essa ótica a existência desses cursos técnicos, não é ruim, já que atendem uma necessidade do
mercado. Porém, aqui cabe uma advertência, pois sob o aspecto de que a educação deve ajudar a
construir o cidadão e prepará-lo para a vida, fomentando-o para ter sempre um espírito científico e
dotando-o de uma cultura ampla, que lhe dê condições de formar uma visão do todo, de uma forma
mais ampla e completa que lhe for possível, efetivamente os cursos técnicos não atendem a esses
preceitos. Além disso, o que é pior, ajudam a consolidar as desigualdades.
De qualquer forma, reitera-se que os cursos técnicos têm sua importância e validade, mas
esses outros aspectos são verdadeiros e merecem todo o cuidado.

3.8 INSERÇÃO DA DISCIPLINA DE ÉTICA

Se a educação deve ser ampla, geral e irrestrita, de forma que possa cumprir a sua missão
de transmitir a universalidade de informações para capacitar e criar conhecimentos, por que a
ética não está devidamente inserida? Quando a ética se faz presente em algum currículo escolar ou
acadêmico, raramente ou nunca é tratada como uma disciplina básica e elementar para a formação
do cidadão.

Esse assunto foi amplamente investigado e analisado por Sabbi (2014), abordando a ética
no contexto histórico e atual, o conceito da virtude, a relação da ética e a linguagem, posturas e
valores éticos, os processos educativos e a ética, além da formação ética e as atitudes.

214
Será muito raro encontrar algum filósofo ou mesmo um pedagogo, que não compreenda
que a ética é o comportamento perante a virtude e que perseguir essa virtude é o caminho à elevação
e à felicidade.
A conclusão que se chega é de que o próprio processo educativo, indiscriminadamente,
no mundo todo, está contaminado com essa ilusão e distorção dos valores verdadeiros que a vida
é composta.
Assim, concluindo cientificamente, através da lógica, nada mais elementar que o processo
educativo assumir a disseminação (metaforicamente) de tudo quanto diz respeito à ética, em uma
dimensão equivalente às mais elementares e básicas disciplinas escolares e acadêmicas.

3.9 INSERÇÃO DA DISCIPLINA DE COMPORTAMENTO

Os princípios dessa argumentação, a favor do comportamento, seriam os mesmos do que


se tratou, acima, sobre a ética, não fosse − o comportamento − estar inserido em uma dimensão
muito maior, muito embora com o mesmo e absoluto caráter de cientificidade.
Há um anteprojeto de tese (Sabbi, 2016) tratando exatamente disso, com o título de “Os
estados alterados de consciência”, onde inicialmente há um diálogo com os mais renomados
pensadores do tema, buscando o conceito de “consciência”. Depois se define que o estado alterado
de consciência é todo aquele momento em que a razão está invadida por sentimentos e emoções,
não sendo uma anomalia, mas sim, apenas um estado, como tal definido. Na sequência é tratado o
tema da virtude e também do vício, sob a ótica do estado alterado de consciência, sendo as origens
dos sentimentos e emoções. E, por fim, chega-se exatamente a inserção do comportamento nos
processos educativos, como uma forma de educar o ser humano para o comportamento, e assim,
possa-se transformar e elevar as pessoas à uma nova e requintada dimensão, onde a razão possa
cientificamente se desdobrar pela lógica em um espaço muito superior ao que hoje se pratica.
Não há necessidade de nenhum esforço intelectual para se perceber que os efeitos dessa
inserção proposta, poderão ser extraordinários em termos evolutivos e de resultados.

3.10. É POSSÍVEL ENSINAR ÉTICA E COMPORTAMENTO?

Maquiavel (2009, p. 37) diz que “não há nada mais difícil de executar e perigoso de
manejar (e de êxito mais duvidoso) do que a instituição de uma nova ordem de coisas”.
Desde o diálogo de Menon, de Platão (2010), onde Menon acaba concluindo, com a
concordância de Sócrates, que não é possível ensinar a ser virtuoso, parece que boa parte dos

215
pensadores continua acreditando nisso. Segundo essa vertente do pensamento, não é possível
ensinar alguém a ser virtuoso, explicandoo que é a virtude. Ou que não seria possível ensinar a
ser ético, apenas explicando os seus conceitos. Isso é apenas uma variável do processo, porque,
avançando na compreensão do raciocínio lógico, há que se admitir que a tendência será o aumento
do número de pessoas cultivando e vivenciando a virtude e a ética. Por quê? Compreendendo
verdadeiramente o valor de cada elemento – da virtude e da ética −, só mesmo uma besta intelectual
abdicaria de um tesouro que estaria em suas mãos. Se a pessoa descobre que a felicidade está na
virtude e na ética, por que ela não agiria de acordo? Alguém desejaria ser infeliz? E se quer ser
feliz não reconhecendo a virtude, então não entendeu. Assim, restaria, além das bestas, aqueles que
não compreenderiam, pelos mais diversos motivos. Desse modo, de uma forma muito humilde,
pelos motivos expostos, há que se confrontar essa referência de muitos pensadores pelo bem da
lógica e do sentido que isso possa motivar o investimento educacional nessa direção.

CONCLUSÃO

De tudo quanto o ser humano construiu, nessa sua trajetória civilizatória, conclui-se que o
conjunto dos processos educativos é um dos bens mais preciosos. Certamente Platão sabia o que
estava fazendo e o que representaria para o futuro da humanidade, pois ao criar a Academia, a
primeira universidade do mundo, ele começou a dar cientificidade aos processos educativos, sem
mesmo ainda existir a ciência.
Quanto a educação no Brasil, na contemporaneidade, observa-se que muito embora haja
esforços nos mais variados espaços, o resultado das pesquisas internacionais, comparativas do
desempenho dos alunos em processo de formação básica, tem deixado o país nos últimos lugares.
Para essa questão se propõe um grande pacto nacional pela educação para se implementar uma
verdadeira revolução. Mas, isso, antes de qualquer outro fato, deveria ser assumido pelo líder
máximo do poder executivo – o (a) presidente da república.
Em um breve passeio pela educação global na contemporaneidade, constatou-se a
importância do respeito às culturas locais e, ao mesmo tempo, a recomendação da utilização
do benchmarking como ferramenta para aprimorar os processos educativos em desvantagem na
performance dos alunos. Depois, verificou-se a predominância do direcionamento para uma cultura
global, pela maioria dos países. No apanhado da síntese do que há de melhor, encontrou-se um
paradoxo extraordinário de diferenças nas metodologias entre os dois países expoentes: Finlândia
e Coréia do Sul. Mesmo com procedimentos completamente diferentes, ambos os países lideram
os resultados das pesquisas, realizadas em nível internacional. Assim, mais uma vez, tem-se a
conclusão de que o foco é a melhor estratégia de todas.

216
A partir desse apanhado e com um contexto global e local apresentado, sugeriu-se 9 ações
que podem ser transformadas em políticas ou metas a serem implantadas dentro de um planejamento
estratégico a ser construído. Além da ação pelo grande pacto pela educação, se propôs aprofundar
o foco na cultura global para aumentar a inserção cultural e econômica, em especial, com o mundo;
quanto a progressão continuada, verificou-se que algo não está de acordo com os resultados de
outros países, que utilizam alguma forma de progressão continuada. Ou se adota o grande pacto
e se implementem ações revolucionárias, dando condições para a progressão continuada se
desenvolver, ou se abdica dela por falta de estruturas e suporte adequado. O sistema de avaliações
do Ideb tende a crescer de importância sob os mais diversos aspectos. Meta significa pressão. Se
há pressão por resultados, não há como omitir e deixar de se desejar posturas éticas por todos os
agentes avaliados. Assim, torna-se imperativo o estabelecimento de uma meta de conformidade,
como uma tentativa de equilibrar os focos estabelecidos e exigidos. O avanço extraordinário das
novas tecnologias deve ser absorvido na sala de aula, como uma decorrência normal dos tempos
atuais e como ferramentas e instrumentos facilitadores do aprendizado. A defesa intransigente
de uma educação acima de qualquer ideologia, representa a lógica da defesa de uma educação
absoluta, ampla e democrática e que represente, efetivamente, a universalização de tudo o quanto
já se produziu em termos de conhecimento. Em suma, a doutrina é, acima de tudo, a própria
antítese da educação e do próprio conhecimento. Por fim, apresentou-se as propostas da inserção
nos processos educativos, culminando com a criação de disciplinas escolares, para a ética e para o
comportamento. Essas duas últimas sugestões, submetidas a um exercício de lógica, apresentarão,
fortemente, a tendência para o surgimento de um outro e renovado homo sapiens.Ao fim, reflete-
se e conclui-se sobre a possibilidade de transformar, ou não, o ser humano em um cidadão ético e
com um comportamento refinado, através dos processos educativos, invocando-se um raciocínio
lógico, consumando-se favoravelmente pela sua possibilidade.

217
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENAVOT, Aaron; RESNIK, Julia; CORRALES, Javier. Global educational expansion:


historical legacies and political obstacles. Cambridge: American Academy of Arts and Sciences,
2006.

BURNOUF, Laura. Global Awareness and Perspectives in Global Education. Canadian social
studies,vol. 38 n. 3, spring 2004.

CARTER, Adam. Instilling Global Citizenship within the International School Network.
Revista Human Rights Day. 10th december, 2003.

ELKEN, Mari. et al. Higher Education in the nordic countries: evaluation of the Nordic
agreement on admission to higher education. Copenhagen: Rosendahls-Schultz Grafisk, 2015.

FONTANA, R. A. C. De que tempos a escola é feita?In: VIELLA, M. A. (org.) Tempos e espaços


de formação. Chapecó: Argos, 2003, p. 119-142.

FREIRE, Paulo.Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1997.

GOVERNMENT, Australian. Global Perspectives: A framework for global education in Australian


schools. Austrália: Education Services Australia, 2011.

HERMANN, Nadja. Pluralidade e ética em educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

HOUAISS, Instituto Antônio. Dicionário eletrônico Houaiss. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

KIRKWOOD, T. Our global age requires global education: Clarifying definitional ambiguities.
Social Studies, 92, 1-16, 2001.

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Claret, 2009.

MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. Campinas:
Papirus, 2015.

MORIN, Edgar; CIURANA, Emilio-Roger; MOTTA, Raúl. Educar na era planetária: o


pensamento complexo como método de aprendizagem no erro e na incerteza humana. São Paulo:
Cortez, 2003.

PLATÃO.Diálogos V: O banquete, Mênon (ou da virtude), Timeu, Crítias. Bauru: Edipro, 2010.

218
SABBI, Carlos Roberto. Os estados alterados de consciência: implicações, resultados e
consequências. Anteprojeto de tese. UCS. Caxias do Sul, 2016.

_________. Processos educativos e a formação da virtude cidadã: a educação e a virtude como


vetores do desenvolvimento do ser humano. Saarbrücken: Novas edições acadêmicas, 2014.

219
Igualdade e Solidariedade

Carlos Ronaldo Oliveira

Para começar a entender a Igualdade é necessário que identifiquemos qual é o nosso lugar
no Universo. Quem somos e o que somos nós perante o Universo? O filósofo paranaense Mario
Sergio Cortella em uma de suas notáveis palestras nos encara com a clássica pergunta de esnobe
conotação: “Você sabe com quem você está falando?”
Considera-se que o Universo é constituído de cerca de 200 milhões de Universos, onde o
nosso é um deles. No nosso Universo existem cerca de 100 bilhões de estrelas, onde o Sol é uma
delas e é chamada de Estrela Anã. Ao redor do Sol giram 9 planetas, onde a Terra é um deles.
No planeta Terra existem mais de 3 milhões de espécimes, onde uma é o Homem. A espécie
Humana tem mais de 7 bilhões de indivíduos. Um deles é você.
Somos um pó cósmico, e este reconhecimento é um ato de humildade e o primeiro
passo para a constatação de que somos todos iguais e insignificantes perante todo o Universo.
Pela nossa natureza primária (ou primitiva), mental, física ou emocionalmente somos
os mesmos seres humanos, não importam as outras aparências. Todos necessitamos de comida,
abrigo, sexo e temos as mesmas necessidades biológicas de qualquer animal. Somos do grupo de
animais sociais, e vivemos em bandos (famílias, grupos, tribos, etc).
Ao buscar suprir as nossas necessidades primárias, buscamos aquilo que se pode chamar
de “satisfação”, ou, se ser feliz é estar satisfeito, buscar a felicidade. E todos têm o direito a uma
vida de satisfação, ou de felicidade.

220
Os animais sociais desenvolvem um senso muito forte de Cooperação e de Comunidade.
Precisamos reconhecer que necessitamos uns dos outros para sobreviver.
Não deve haver um “nós” e “eles”, mas temos que pensar no planeta como um todo e não
em um grupo particular. Um indivíduo não pode centrar nele todos os interesses, pois ele faz parte
do grupo e o grupo depende dele e ele depende do grupo, pois a sobrevivência individual depende
da comunidade. Deve haver uma grande responsabilidade pelos interesses comuns: o senso de
amizade. Não a amizade gerada pelos interesses econômicos ou sociais, mas aquela gerada pela
confiança, que transfere abertura, transparência.
Indivíduos centrados em si mesmos são capazes de buscar enganar os outros, explorar os
outros. Não são capazes de falar abertamente, com transparência, honestamente.
Então como desenvolver a confiança? Devemos abrir o coração e desenvolver o genuíno
senso de preocupação com o bem-estar do outro.
Então, para a humanidade, como animal social, o essencial para a felicidade depende
dessa motivação de promover o bem-estar do outro: Motivação da Compaixão.
Os que creem num Criador, cultivam o conceito de amor infinito.
No Cristianismo, temos várias referências, mas entre elas temos a máxima: ‘’Amar a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.’’
No Talmude, Sabbat 31a, o Judaísmo nos ensina: “O que é odioso para ti não o faças ao
teu próximo. Essa é toda a Lei; todo o resto é comentário.”
No livro Sunan, do Islamismo, encontraremos o ensinamento da Fraternidade: “Nenhum
de vós será crente, enquanto não desejar para seu irmão o que deseja para si mesmo.”
No Bramanismo, no livro Mahabharata, 5,1517, encontramos a máxima: “Esta é a súmula
do dever: não faças nada a outrem que te causaria dor se fosse feito a ti.”
Os não religiosos, mas adeptos de filosofias espirituais, têm crenças semelhantes.
No Budismo, em Udanavarga 5,18, encontramos a busca da fraternidade nas palavras:
“Não ofendas os outros por formas que julgarias ofensivas a ti mesmo.”
No livro Analecto, 15,23, do Confucionismo: “Existe máxima pela qual devemos reger-
nos durante toda nossa vida? Sem dúvida, é a máxima da bondade e do amor: não faças aos outros
o que não quererias que eles fizessem a ti”.
No Taoísmo, há outra sentença com força de lei moral: “considera o ganho do próximo
como teu próprio ganho e a perda do próximo como tua própria perda.”
Todos os apelos religiosos e não religiosos nos impulsionam à Fraternidade.
Num dado momento do desenvolvimento da humanidade surge uma nova característica

221
(natureza secundária) que nos difere dos demais animais sociais, mas sempre nos colocando num
mesmo nível de igualdade entre nós, que é a consciência – pensamento – mente – raciocínio. Do
advento do pensamento vem a criação do EGO, que acaba por controlar o EU, quando deveria ser
o contrário, e a definição de novas regras, conceitos, hierarquias. Criam-se as diferenças. E o EGO
lança o conceito de que essas diferenças nos fazem desiguais.
“A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantém separados.”
(Confúcio)
Mas todos nós temos a mesma capacidade de buscar a satisfação própria e dos outros
(natureza primária), e de pensar e adquirir características individuais (natureza secundária)
sem contudo perdermos a nossa condição única de que somos todos seres humanos.
Para exemplificarmos, vejamos dois copos com água da mesma fonte. Se pusermos um
deles num freezer até 2ºC, e outro no micro-ondas até 80ºC, teremos em seguida dois copos com
diferentes temperaturas, um frio e outro quente. Se deixarmos no freezer até congelar e no micro-
ondas até ferver toda a água, teremos gelo e vapor d’água. Diferentes estados, mas a mesma água em
essência. Assim somos como seres humanos, passamos por estados diferentes: ora estamos pobres,
ora estamos ricos e podemos voltar a estar pobres. O estado nos diferencia por momentos, mas não
nos torna desiguais. Somos seres humanos em essência e essa é a nossa igualdade incontestável.
Partindo das afirmações acima comentadas, vamos tentar consolidar um conceito de
Solidariedade.
“Obligatio in solidum” no direito romano expressava primitivamente a obrigação
comunitária, as responsabilidades do indivíduo em relação à coletividade a que pertencia e de cuja
manutenção se beneficiava com a família.
“Solidariedade é a condição do grupo que resulta da comunhão de atitudes e de
sentimentos, de modo a constituir o grupo em apreço uma unidade sólida, capaz de resistir às
forças exteriores e mesmo de tornar-se ainda mais firme em face de oposição vinda de fora”.
Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo francês, em seu livro A Divisão do Trabalho
Social – 1893, tenta compreender o que garantia a vida em sociedade e uma ligação maior entre os
homens. Num período de grandes mudanças, o mundo vivenciava uma forte Anomia. Por Anomia
entenda-se um estado de falta de objetivos e perda de identidade motivada pelas transformações
e mudanças na sociedade, considerando-se o lançamento do livro de Charles Darwin, Teoria da
Evolução das Espécies, em 1859, e o Livro dos Espíritos de Allan Kardec na mesma época, aliado
ao desenvolvimento industrial vigente. Há o surgimento do Capitalismo, e uma séria perturbação
de cunho religioso ao mesmo tempo. Um outro sociólogo, Robert King Merton , já em 1949,

222
traz outra luz ao significado de Anomia, resumindo que esta perturbação nas sociedades pode ser
provocada por desvios de conduta originados por:
1. A Sociedade desenvolve metas para serem alcançadas pelos indivíduos através de
“meios institucionalizados”, os quais às vezes não permitem que todos os indivíduos alcancem os
objetivos, gerando alguns desvios, ou então
2. A Sociedade valoriza mais o resultado, negligenciando os “meios institucionais”, usando
meios alternativos ou “não institucionalizados”, gerando desvios, ou
3. A própria Sociedade não disponibiliza meios para que os seus indivíduos tenham
condições de atingir as metas, podendo gerar um estímulo de abandono ou burla de algumas
normas sociais, tornando a conduta divergente uma situação normal de adequação da sociedade.
Ainda sobre Durkheim, citamos suas palavras como origem para as definições de
Solidariedade:
“É a esse estado de Anomia que devem ser atribuídos, como mostraremos, os conflitos
incessantemente renascentes e as desordens de todo tipo de que o mundo econômico nos
dá o triste espetáculo. Porque, como nada contém as forças em presença e não lhes atribui
limites que sejam obrigados a respeitar, elas tendem a se desenvolver sem termos e acabam
se entrechocando, para se reprimirem e se reduzirem mutuamente.(…) As paixões humanas só
se detêm diante de uma força moral que elas respeitam. Se qualquer autoridade desse gênero
inexiste, é a lei do mais forte que reina e. latente ou agudo, o estado de guerra é necessariamente
crônico.” (DURKHEIM, VII: 2004)
Durkheim, analisando a Anomia da sua época, chegou à conclusão de que os laços
que prenderiam os indivíduos uns aos outros nas mais diferentes sociedades seriam dados pela
Solidariedade Social, sem a qual não haveria uma vida social. Esta Solidariedade Social se
manteria por uma consciência coletiva que uniria os indivíduos. Contudo, o tamanho e a força
dessa consciência coletiva varia muito de acordo com os vários grupos sociais e suas diferentes
regras de convivência, razão pela qual Durkheim acabou dividindo a Solidariedade Social em
Mecânica e Orgânica.
Na Solidariedade Mecânica, a consciência coletiva é muito forte, fazendo com que
o indivíduo aja pelo que é mais considerável à consciência coletiva e não necessariamente ao
seu desejo como individuo. Essa solidariedade se dá numa sociedade simples, com indivíduos
semelhantes com funções iguais e sem divisão do trabalho. Para o indivíduo, seu desejo e sua
vontade são o desejo e a vontade da coletividade do grupo, o que proporciona uma maior coesão
e harmonia social. É orientada pelos imperativos e proibições sociais que vêm da consciência

223
coletiva. As regras gerais são tradição e costumes. Os indivíduos não desenvolvem características
que destaquem a sua personalidade.
Na Solidariedade Orgânica, a consciência coletiva é enfraquecida pelo processo de
individualização de seus membros. Essa solidariedade se dá numa sociedade industrial (início
do Capitalismo), com indivíduos diferentes, funções especializadas e interdependentes, e divisão
do trabalho. Ora, enfraquecendo a consciência coletiva, o que manteria unidos os membros deste
grupo? Os indivíduos se unem não porque se sentem semelhantes ou porque haja consenso, mas
sim porque são interdependentes dentro da esfera social.
Na Solidariedade Orgânica ocorre um enfraquecimento das reações coletivas contra a
violação das proibições e, sobretudo, uma margem maior na interpretação individual dos imperativos
sociais. Na Solidariedade Orgânica ocorre um processo de individualização dos membros dessa
sociedade.
Enquanto nas sociedades mais simples de Solidariedade Mecânica prevaleceriam regras
não escritas, mas de aceitação geral, nas sociedades mais complexas de Solidariedade Orgânica
existiriam leis escritas, aparatos jurídicos também mais complexos.
E a Solidariedade Maçônica?
Inicialmente, temos que distinguir o que é Solidariedade e Caridade.
Caridade é um ato ou sentimento de ajudar o próximo sem esperar recompensas. Faz parte
das virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade), e se processa na forma de dar sem receber.
Assim, ajudar a um Irmão em dificuldade ou uma comunidade é mera filantropia e o mínimo que
se espera é que essa necessidade seja suprida sem que haja retorno algum senão a satisfação de
haver cumprido o que, para um maçom, não é nada mais do que um dever.
Já na Solidariedade, tem que haver uma reciprocidade, e esta repercute na solução da
crise de um elemento do grupo e que resultará no fortalecimento e equilíbrio da Ordem. É um laço
sagrado, porém não é incondicional.
Para não ficar criando loas à Solidariedade Maçônica, atenho-me ao Ritual e Instruções
do Grau de Aprendiz Maçom do REAA, na Ritualística de Iniciação, onde o 1º Vig∴, ao anunciar
os deveres do maçom ao iniciante, diz: “... a prática constante da Beneficência, o socorro aos
nossos Irmãos, prevenindo suas necessidades, minorando seus infortúnios e assistindo-os com
nossos conselhos e luzes.” Notem que se separa a Beneficência (Caridade) da ajuda ao Irmão
(Fraternidade). Também o 1º Vig∴ diz adiante: “Ao vosso próximo deveis toda a amizade e
dedicação. Nunca façais a ele aquilo que não desejardes que vos seja feito. Deveis beneficiá-lo e
socorrê-lo em suas necessidades e ajudá-lo nas emergências em que se achar.”

224
Continuando com a análise do ritual, na quarta instrução da mesma Ritualística de
Iniciação, quando o Ven∴M∴ pergunta: “Para fortalecermo-nos no combate que devemos manter
contra esses inimigos (aos vícios – ignorância e fanatismo), qual o laço sagrado que nos une?” A
resposta do 1º Vig∴ é única: “A Solidariedade, Ven∴M∴”.
No entanto, seguindo o diálogo ritualístico, é explícito que a Solidariedade Maçônica não
consiste num amparo incondicional de uns aos outros quaisquer que forem as circunstâncias, mas
somente aos que praticam o bem e sofrem os reveses da vida, e onde estiver uma causa justa e
nobre.
E o juramento de defender e socorrer a todos os Irmãos? A resposta do 1º Vig∴ é contundente:
“Quando, porém um Irmão, esquecido dos princípios e dos ensinamentos maçônicos, se desvia da
moral que nos fortifica para se tornar mau cidadão, mau esposo, mau pai, mau filho, mau Irmão,
mau amigo; quando cego pela ambição ou pelo ódio, pratica atos que consideramos indignos de
um Maçom, ele, e não nós, rompeu a Solidariedade que nos unia e que não mais poderá existir,
porque se assim não procedêssemos, seria pactuarmos com ações de que a simples conivência
moral nos degradaria.”
Notem a reciprocidade da ação: a Solidariedade fortifica a nossa moral, e a quebra do
juramento rompe o elo de união.
A Solidariedade Maçônica é consciência coletiva que nos une e nos impele a atuar dentro
dos nossos princípios e leis, e nada estará justo e perfeito se protegermos o que for menos digno,
preterindo os direitos do mérito e do valor moral e intelectual.

225
226
227
228

Você também pode gostar