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ÍNDICE

CONSCIÊNCIA, EGO (EU), pág. 3


PERSONA, pág. 6
SOMBRA, pág. 9
PSIQUE, pág. 13
INCONSCIENTE PESSOAL, pág. 14
INCONSCIENTE COLETIVO, pág.14
ARQUÉTIPO, pág. 15
IMAGENS ARQUETÍPICAS, pág. 17
NUMINOSO, pág.17
SÍMBOLO, pág. 18
SIGNO, pág. 19
FUNÇÃO TRANSCENDENTE, pág. 20
COMPLEXOS, pág. 23
ANIMA – ANIMUS, pág. 27
ENERGIA PSÍQUICA, pág. 32
SELF (SI-MESMO), pág. 36
INDIVIDUAÇÃO, pág. 39
SINCRONICIDADE, pág.40
TIPOS PSICOLÓGICOS, pág.42
SONHOS E AMPLIFICAÇÃO, pág. 50
CONSCIÊNCIA – EGO (EU)

“Nessa época tive um sonho inesquecível que me apavorou e


encorajou ao mesmo tempo. De noite, num lugar desconhecido, eu
avançava com dificuldade contra uma forte tempestade. Havia uma
bruma espessa. Ia segurando e protegendo com as duas mãos uma
pequena luz que ameaçava extinguir-se a qualquer momento. Sentia
que era precisa mantê-la a qualquer custo, pois tudo dependia disso.
Subitamente tive a sensação de que estava sendo seguido; olhei para
trás e percebi uma forma negra e gigantesca acompanhando meus
passos. No mesmo instante decidi, apesar do meu temor e sem
preocupar-me com os perigos, salvar a pequena luz, através da noite e
da tempestade. Ao acordar compreendi imediatamente que sonhara
com o fantasma de Brocken”, com minha própria sombra projetada na
bruma pela pequena luz que eu buscava proteger. Sabia que essa
pequena chama era a minha consciência, a única luz que eu possuía.
O conhecimento de mim mesmo era o único e maior tesouro que
possuía. Apesar de infinitamente pequeno e frágil comparado aos
poderes da sombra, era uma luz, minha única luz. Este sonho trouxe-me
um grande esclarecimento sabia agora que meu nº 1 era quem levava
a luz, enquanto que o nº 2 o seguia como uma sombra mgvft6inha
tarefa consistia em conservar a chama sem olhar para trás em direção
à via peracta, um domínio luminoso proibido de uma espécie diferente.
Era necessário continuar contra a obscuridade imensa do mundo, onde
não se vê, nem se percebe mais do que a superfície dos segredos
insondáveis”. (JUNG, 2002, pág.86)
Ao olharmos para a análise que Jung realiza sobre o seu
sonho da luz e das imensas trevas, percebemos a tamanha e
devida importância que a consciência tem na teoria
junguiana. A compreensão faz com que tenhamos cautela e
responsabilidade no cultivo da preservação e ampliação de
nossa psique consciente. A autonomia e liberdade do eu só é
possível, caso ocorra a diferenciação e distanciamento das
amarras do inconsciente.

A formação da consciência começa do indiferenciado


inconsciente.Simbolicamente podemos pensar na vida que
nasce e surge em nosso planeta, nasce da água, os
continentes que vão emergindo da água, nós também
ficamos dentro do líquido amniótico 9 meses, mesma
correlação para a psique.

A vontade é um aspecto que faz parte da consciência.


A atenção consciente e a qualidade da vida cotidiana
também estão na superfície. A aquisição da
consciência é algo recente na história da humanidade. O
Estabelecimento da cultura, estabelecimento de papéis, ritos,
organização para sobrevivência. Começam as distinções
sociais e grupos distintos. Por vontade, Jung entende como
sendoa vontade a soma de energia à disposição da
consciência. A volição é, portanto, um processo energético,
liberado por motivação consciente. Não chamaria de
volição um processo psíquico condicionado por motivação
inconsciente. A vontade é um fenômeno psicológico que
deve sua existência à cultura e à educação moral (JUNG,
1991, par.921)

O estabelecimento da lei com mosaica, o respeito, o


limite, as responsabilidades promovemnormas e estabelecem
compromissos entre os indivíduos promovendo a
sociabilização. Para desenvolver a consciência, estruturar o
ego, precisamos do outro. O processo de psicoterapia ocorre
na relação do eu com o outro. Transformações ocorrem
através do vínculo terapêutico.
Na Grécia, no Templo de Epidauro: doentes eram
convidados antes de entrar no templo a passar uma noite em
um dormitório para que sonhassem e tivessem sua cura
através do auto-conhecimento. O sacerdote, grego antigo
θεραπευτής ( therapeutḗs , " atendente " , analisa o sonho do
doente e traz o conhecimento que irá possibilitar a
oportunidade para que ocorra uma mudança na
consciência sofredora do doente.Não existe cura e sim auto-
cura, tomar consciência é "conhecer com", um processo que
envolve o dinamismo da vinculação e o princípio da relação.
(Edinger, 1989).

Ego – sede da consciência, complexo do Eu, parte está


mergulhado no inconsciente.

CONSCIÊNCIA
-----------------
EGO

------------------
INCONSCIENTE

No diagrama acima podemos perceber pela direção


das duas flechas que o ego pode deslocar-se para as duas
direções, sentido consciência e sentido inconsciente.
Podemos compreender também que a consciência em
termos de autonomia e espaço, ocupa apenas uma
pequena parte no todo da psique. Neste diagrama também
podemoster a concepção acerca dos estados de maior ou
menor consciência. Ou seja, com a flutuação do complexo
do ego, pode-se compreender também que temos
momentos de maior ou menor atividade consciente. Quando
estamos irritados, com fome, com sono, doentes, com dor,
podemos notar esta oscilação e uma movimentação em
sentido inconsciente,uma tendência a um estado de menor
consciência, ficamos afetados e dependendo do grau de
atuação dos aspectos inconscientes, teremos nossa
independência prejudicada naquele instante.

Ao contrário de Freud, para Jung, a consciência nasce


do inconsciente. A consciência nos humaniza. Ter
consciência está relacionado ao aspecto de reconhecermos
nossas limitações e nossos conteúdos inconscientes positivos e
negativos que nos afetam, perturbam e por vezes chegam a
possuir a consciência. Quando oeu se afasta do arquétipo da
totalidade, Self ou Si- Mesmo, falta de sentido e orientação
na vida, sentimentos de desesperança irão se manifestar
trazendo angústia e sofrimento. Tais sentimentos e
manifestações se fazem cada vez mais presentes em nossa
sociedade.As taxas de estresse, ansiedade e depressão e se
elevaram com o decorrer dos últimos anos.

Somos o país mais ansioso do mundo:

O Brasil sofre uma epidemia de ansiedade. Segundo


dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o País tem
o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões
de brasileiros (9,3% da população) convivem com o
transtorno. Fonte: https://exame.abril.com.br/ciencia/brasil-e-
o-pais-mais-ansioso-do-mundo-segundo-a-oms/

“O Brasil é considerado o país mais ansioso e estressado da América Latina.


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos últimos dez anos o
número de pessoas com depressão aumentou 18,4%, isso corresponde a 322
milhões de indivíduos, ou 4,4% da população da Terra. No Brasil, 5,8% dos
habitantes – a maior taxa do continente latino-americano – sofrem com o
problema. Em relação à ansiedade, o Brasil também lidera, com 9,3% da
população. Esse problema engloba efeitos como fobia, transtorno obsessivo-
compulsivo, estresse pós-traumático e ataque de pânico. As mulheres sofrem
mais com a ansiedade: cerca de 7,7% das mulheres são ansiosas e 5,1%,
deprimidas. Já entre os homens, o número cai para 3,6% nos dois casos.”

Fonte:https://jornal.usp.br/atualidades/brasil-vive-surto-de-depressao-e-ansiedade/
A dificuldade no acesso aos tratamentos de saúde
adequados, um estilo de vida com pouca qualidade de vida
em aspectos psíquicos, físicos, certamente acarretará em um
país que tem pouca consciência, pouca autonomia frente
aos poderes da sombra. Tempos sombrios! Que possamos
ampliar e propagar a consciência aonde estivermos,
promovendo oportunidade para que outros também possam
se desenvolver e ir em direção a uma qualidade de vida mais
digna.

PERSONA

A máscara no teatro grego, demonstrava qual o


personagem estava em cena naquele momento. Um mesmo
ator desempenhava mais de um papel durante a peça. O
ator troca de máscara e neste momento, outro personagem
está em cena.
Mediador entre o mundo externo e o eu, a persona
funciona como uma espécie de proteção ao Si-mesmo.
Figura arquetípica da função de adaptação social.

O bom filho, a boa esposa, o jovem desafiador ou


polêmico, o executivo empreendedor, a pessoa irritante, são
alguns exemplos de persona.

Cada estado ou cada profissão, por exemplo, possui sua


persona característica. O perigo está, no entanto, na
identificação com a persona; O professor com seu manual, o
tenor com sua voz. A identificação com a profissão ou com
alguma posição social é sedutora pelo fato de poder se
configurar como uma compensação para as frustrações
pessoais e a incapacidade do ego em lidar com estas de
maneira consciente.Durante a identificação com a persona
a pessoa corre o perigo de ser tragada pelo inconsciente
coletivo, se identificar com uma imagem interna e cair em
um estado de inflação. Neste momento as pessoas passam a
se achar os portadores da verdade universal, heróis, mártires,
todo o interior da personalidade reprimido, indiferenciado e
carregado desta dinâmica catastrófica. Quantomaior a
rigidez da persona, maior a tendência do egocair na
identificação arquetípica.

Nos sonhos aparecem os temas das roupas, uniformes,


chapéus e maquiagens fazendo a referência a esta figura
arquetípica.

Nos sonhos podemos ter dificuldades ao tirar a roupa, ou


estarmos nus em público, expostos vulneráveis. Pessoas se
identificam com suas profissões ou posições sociais, doutores
e doutoras, militares, classe política, líderes religiosos, artistas.
A esposa do fulano, o filho do beltrano. A frase “Você sabe
com quem você está falando”? Quando ocorre a
identificação com estas posições sociais e ocorre uma
restriçãoao desenvolvimento. A identificação com a persona
pode levar ao desenvolvimento de crises ou enfermidades
psíquicas e físicas.
Uma relação bem ajustada com a persona, será
apropriada, de bom gosto, refletindo nosso interior e nosso
senso exterior que possuímos de nós mesmos.

O arquétipo da persona tem aspectos positivos e


negativos, por vezes construtivos ou destrutivos.
Uma persona que funciona corretamente, dará conta de três
aspectos:

1) A imagem idealizada que o ego de todo ser humano


tenha de si e tenha a intenção de transmitir.
2) A imagem que o mundo ao redor do ser humano faz ao
seu respeito, de acordo com o gosto e o ideal de tal
mundo.
3) Dar conta das condições psíquicas e físicas que impõem
as limitações na realização da imagem idealizada de
ego ou do mundo idealizado ao seu redor.

Se estes três ou dois aspectos forem negligenciados, a


persona poderá se tornar um empecilho para o
desenvolvimento da personalidade.

Pode-se dizer, sem exagero, que a persona é aquilo que


não é verdadeiramente, mas o que nós mesmos e os outros
pensam que somos.

A Persona representa aquilo que queremos mostrar para


o mundo, escondendo o que também somos.

SOMBRA

A parte inferior da personalidade. Os elementos


psíquicos pessoais e coletivos que, incompatíveis com a
forma de vida conscientemente escolhida, não foram vividos
e se unem ao inconsciente, formando uma personalidade
parcial, relativamente autônoma, com tendências opostas às
do consciente. A sombra se comporta de maneira
compensatória em relação à consciência. Sua ação pode
ser tanto positiva como negativa.

No sonho, a sombra tem frequentemente o mesmo sexo


que o sonhador. Enquanto elemento do inconsciente
pessoal, a sombra procede do eu: enquanto arquétipo do
‘eterno antagonista’, procede do inconsciente coletivo.

Primeiramente, o inconsciente é dividido em


inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. O inconsciente
pessoal possui caráter individual e é a soma das lembranças
perdidas, dos conteúdos reprimidos pela consciência, das
ideias e pensamentos tidos como incômodos.

Os conteúdos que a consciência acaba por negar e


reprimir, são os componentes da sombra.

Darth Vader, personagem da série de filmes Star Wars. Anteriormente


Anakin Skywalker foi um guerreiro jedi do Lado de Luz. Ignorando os
ensinamentos Jedi, deixa-se dominar pelo medo de perder sua esposa e é
seduzido pelo Lado Sombrio da Força, pondo tudo a perder. Anakin passa a
ser conhecido como Darth Vader, o icônico vilão.
A Sombra personifica o que o indivíduo recusa conhecer
ou admitir e que, no entanto, sempre se impõe a ele, direta
ou indiretamente, tais como os traços inferiores do caráter ou
outras tendências incompatíveis.

A sombra não conscientizada irá acabar por gerar o


fenômeno da projeção de sombra, tudo que é “mal” cai
para o outro, outro toma sobre si as nossas culpas, nossas
falhas, o bode expiatório ou o Cordeiro de Deus que se faz
maldito em nosso lugar. Por falta de reconhecimento da
sombra temos tantas divisões entre as pessoas, hipocrisia,
tanto preconceito, tanta dor e sofrimento

O filme Coringa, apresenta a origem trágica do arqui-inimigo do


Batman. Arthur Fleck, um homem que vivenciou desde a infância situações de
violência, maus tratos e humilhações, acaba por não suportar as invasões do
inconsciente. Os impulsos sombrios tomam a consciência, a tristeza e a
agressividade reprimidas levam a destruição de Arthur Fleck.
POTENCIALIDADES DA SOMBRA

O potencial para o crescimento e desenvolvimento de Peter Pan estão


em sua sombra.

A sombra não representa somente a fonte de todo o


mal, é possível, olhando mais acuradamente, descobrir que o
homem inconsciente, precisamente a sombra, não é
composto apenas de tendências moralmente repreensíveis,
mas também de um certo número de boas qualidades,
instintos normais, reações apropriadas, percepções realistas,
impulsos criadores etc. (JUNG, 2002)

Aspectos criativos habitam na sombra, possibilidades de


desenvolvimento tidas como sendo aspectos inferiores, ao
serem conscientizados e integrados na consciência poderão
produzir acréscimos e ampliação na psique.

PROJEÇÃO

“Não se deve esquecer a seguinte regra: o inconsciente de uma pessoa se


projeta sobre outra pessoa, isto é, aquilo que alguém não vê em si mesmo,
passa a censurar no outro. Este princípio tem uma validade geral tão
impressionante que seria bom se todos, antes de criticar os outros, se
sentassem e ponderassem cuidadosamente se a carapuça que querem enfiar
na cabeça do outro não é aquela que se ajusta perfeitamente a eles”.JUNG –
1993 - Civilização em transição.

“As pessoas, quando educadas para enxergarem claramente o lado sombrio


de sua própria natureza, aprendem ao mesmo tempo a compreender e amar
seus semelhantes; Pelo menos assim se espera. Uma diminuição da hipocrisia e
um aumento do autoconhecimento só podem resultar numa maior
consideração para com o próximo, pois somos facilmente levados a transferir
para nossos semelhantes a falta de respeito e a violência que praticamos
contra nossa própria natureza”. (JUNG, 2004)

“Que eu faça um mendigo sentar-se à minha mesa, que eu perdoe aquele


que me ofende e me esforce por amar - inclusive o meu inimigo - em nome de
Cristo, tudo isto, naturalmente, não deixa de ser uma grande virtude. O que
faço ao menor dos meus irmãos é ao próprio Cristo que faço.

“Mas, o que acontecerá, se descubro, porventura, que o menor, o mais


miserável de todos, o mais pobre dos mendigos, o mais insolente dos meus
caluniadores, o meu inimigo, reside dentro de mim, sou eu mesmo, e precisa
da esmola da minha bondade, e que eu mesmo sou o inimigo que é
necessário amar?"(JUNG, 2004)

O grande obstáculo para o desenvolvimento humano


não é a existência da sombra. Toda a humanidade possui
sombra, isto é algo natural e faz parte da totalidade. Se
temos um lado claro, teremos um lado escuro. Os problemas
surgem devido a falta de atitude consciente e
responsabilidade diante dos poderes sombrios inconscientes.

PSIQUE

- Do Grego “ψυχή”, psykhé, usada para descrever a alma ou


espírito.
- São os aspectos conscientes e inconscientes, totalidade de
todos os processos psíquicos.
Não confundir com anima.
INCONSCIENTE PESSOAL

- Está relacionado com os aspectos individuais, históricos,


contém lembranças perdidas, reprimidas (propositalmente
esquecidas), evocações dolorosas, percepções que, por
assim dizer, não ultrapassaram o limiar da consciência, isto é,
percepções dos sentidos que por falta de intensidade não
atingiram a consciência.

INCONSCIENTE COLETIVO

- É a camada mais profunda da psique constituído de


padrões não individuais, mas universais.
- Formado de conteúdos coletivos das formas básicas de
pensamento, sentimento e instinto, de tudo aquilo que
consideramos universal.
- Aspecto curador.
- Aspecto transformador.

A base da psique é constituída pelos arquétipos


Da pesquisa dos produtos do inconsciente resultam ainda alusões claras
e estruturas arquetípicas que coincidem com os temas míticos, e entre
elas determinados tipos que merecem o nome de dominantes: trata-se
de arquétipos como anima, animus, ancião, bruxa, sombra, mãe-terra,
etc. e as dominantes de ordem do Si-mesmo, do círculo e da
quaternidade, respectivamente das quatro ‘funções’ ou dos aspectos
do Si-mesmo ou do consciente. Percebe-se sem dificuldades que o
conhecimento destes tipos facilita muito a interpretação dos mitos e ao
mesmo tempo a coloca no chão a que pertence, isto é, na base da
psique. (JUNG, 1995 par.611)

A base de todo funcionamento da psique, que tem


como matriz o inconsciente, é imagética ou mitológica, e a
relação compensatória que o inconsciente estabelece com
a consciência frequentemente se manifesta através das
imagens simbólicas que nos aparecem em sonhos
oufantasias. Quando observamos e compreendemos tais
imagens, facilitamos o entendimento sobre quem se é e sua
totalidade. Ao conhecer a dinâmica arquetípica, podemos
entender quais as compensações e projeções feitas pelo
inconsciente. (JUNG,1998)

ARQUÉTIPO

O arquétipo é uma espécie de aptidão para reproduzir


constantemente as mesmas ideias míticas; se não as mesmas,
pelo menos parecidas.

-Padrões universais, coletivo, traz em si o aspecto claro e


escuro, positivo e negativo. Podem aparecer em forma de
imagem personificada assim como a anima e o animus ou
simbólica, como aspectos ligados a morte, renascimento,
amor.
- A quantidade de arquétipos é relativamente limitada,
corresponde às possibilidades das vivências fundamentais
típicas que a humanidade já experimentou desde os seus
primórdios.

O arquétipo não é apenas um protótipo, mas também


uma manifestação processual-dinâmico. Todas as
manifestações da vida repousam na base arquetípica, em
níveis biológico, psicofísico ou espiritual. Representam
reproduções de reações instintivas

A descida do Espírito Santo com o batismo de fogo em Pentecostes

- A este conceito corresponde a ideia de alma, espírito, Deus,


saúde, força corporal, fertilidade, poder mágico, influência,
poder, respeito, remédio, bem como certos estados de
afetos. JUNG (2004).
- A forma do arquétipo é o aspecto herdado. O conteúdo do
seu preenchimento não é herdado. Como por exemplo
arquétipo materno e arquétipo paterno, inúmeras imagens
arquetípicas surgirão no preenchimento.
IMAGENS ARQUETÍPICAS

- O arquétipo funciona como um nódulo de concentração


de energia psíquica. Quando esta energia, em estado
potencial, atualiza-se, toma forma, então teremos a imagem
arquetípica. Não poderemos denominar esta imagem de
arquétipo, pois o arquétipo é unicamente uma virtualidade.
(SILVEIRA, 1974).

Deméter Kuan Yin Virgem Maria

Acima, Deméter deusa grega da agricultura, Kuan Yin


deusa chinesa da compaixão e a Virgem Maria a Mãe Santa
no catolicismo.

As três divindades acima, são imagens arquetípicas do


arquétipo da Grande Mãe, expressão do sagrado feminino. O
arquétipo é a forma, o conteúdo é a imagem arquetípica. O
conteúdo arquetípico terá relação direta com o contexto
cultural o qual está inserida a manifestação específica da
imagem.

NUMINOSO

Jung cria o conceito de numinoso, partindo do teólogo


alemão Rudolf Otto -25/09/1869 - 06/03/1937 - Alemanha
- Tremendum (que causa tremor); Majestas (avassalador);
Mysterium (o totalmente oculto).
- Experiência Religiosa = Numinoso; Efeito que arrebata e
controla.
- Elemento da inconsciência coletiva; Fascinante;
Assombroso.

Numinoso é o efeito fascinante e terrível que o arquétipo


produz sobre a consciência. Grandes manifestações coletivas
como passeatas, eleições, jogos de futebol, shows de rock,
cultos religiosos, são experiências que exemplificam o caráter
arrebatador numinoso. A experiência em contato direto com
o Sagrado traz o perigo da perda e dissolução da
consciência.

SÍMBOLO

O símbolo é uma linguagem universal infinitamente rica,


capaz de exprimir por meio de imagens muitas coisas que
transcendem das problemáticas especificas dos indivíduos.
- “Um símbolo não traz explicações, impulsiona para além de
si mesmo na direção de um sentido ainda distante,
inapreensível, obscuramente pressentido e que nenhuma
palavra de língua falada poderia exprimir de maneira
satisfatória" (Jung).

A serpente enquanto símbolo expressa múltiplas


possibilidades e significados. Dois pacientes podem sonhar
com serpente e o significado ser distinto. Devemos levar em
conta que a riqueza do símbolo consiste justamente de
carregar em si diversidades de significados.

Ao analisar os símbolos de um sonho é necessário termos


cuidados específicos. Em capítulo mais adiante será
detalhado como acolher e trabalhar os materiais de maneira
eficaz e coerente

SIGNO

Os Símbolos alcançam dimensões que o conhecimento


racional não pode atingir. Transmitem intuições altamente
estimulantes prenunciadoras de fenômenos ainda
desconhecidos. Mas desde que seu conteúdo misterioso
venha a ser apreendido pelo pensamento lógico, esvaziam-
se e morrem, viram apenas signos.

O signo encerra e esgota as possibilidades de


associações. Me recordo de conversar com um senhor
quando eu ainda era criança. Estava fazendo minha primeira
comunhão e o tema da cruz do Cristo para mim, tinha um
significado positivo. Tal homem era evangélico ao lhe dizer
sobre a primeira comunhão e falarmos sobre a cruz, descobri
pela primeira vez em minha vida que a cruz poderia ter um
significado distinto daquele o qual haviam me ensinado
como sendo o correto e único.

O senhor me contou que para ele a cruz tinha um


significado negativo, pois era um instrumento de destruição
para alguém querido por ele. Tive uma sensação estranha.
Como poderia ser que algo até então somente positivo,
também poderia ter um significado negativo? Assim,
compreende-se a complexidade que existe em meio as
associações e produções de signos

FUNÇÃO TRANSCENDENTE
A função transcendente se refere ao processo de
transpor, superar a unilateralidade ou conectar os opostos
consciente e inconsciente.

- É o processo psíquico da possibilidade de uma nova síntese.

É a superação dos opostos que leva à integração, com


a assimilação de conteúdos inconscientes. A superação dos
conflitos de estar polarizado e o fim da unilateralidade do
ego. A função transcendente é o processo, e a expressão
resultante é o símbolo.

Me recordo de um caso de um rapaz jovem, com


ataques de pânico, bastante envergonhado, com
dificuldades na área da sexualidade. Tinha tido apenas um
único relacionamento. Sua namorada, o havia traído e ele
decidiu terminar a relação. Seus ataques de pânico o
motivaram a procurar a psicoterapia. Começamos a
trabalhar com algumas técnicas corporais e de respiração,
sua ansiedade e o pânico foram baixando gradativamente,
também começamos a análise de seus sonhos. Sua timidez o
impedia de se aproximar das mulheres, impedindo o assim de
desfrutar os prazeres que um relacionamento e a sexualidade
podem ofertar ao ser humano.

Ele trouxe um sonho em que uma amiga gritava para


ele: “OUSADIA”! No sonho seguinte aparecia a figura típica
de um malandro, após este sonho, o próximo trazia a figura
de um homem negro sorridente com o pênis a mostra
apontando para o paciente e dizendo: “CHUPA”!

Analisamos os sonhos e as mensagens de incentivo ao


rapaz para se aventurar no caminho do prazer e da
descontração foram ficando evidentes. Nesta trinca de
sonhos tivemos a anima pedindo ousadia, a desenvoltura das
investidas de sedução na imagem de sombra do malandro.
Por fim, o homem negro que pedia ao paciente que ele
praticasse sexo oral nele,que o deixou encabulado. Perguntei
ao rapaz se ele tinha desejos sexuais por homens.

Ele disse que não.Trouxe a ele a imagem arquetípica de


Exu, o mensageiro dos Orixás, Senhor dos Caminhos, que abre
e fecha, brincalhão, comunicativo e expansivo. O sonho, não
se tratava da realização de um desejo reprimido. O sonhador
precisava chupar Exu simbolicamente, chupar, absorver suas
características inspiradoras.

Exu com seu porrete Ogó, em formato de pênis.

O paciente ficou impressionado, evangélico até então,


tinha começado a se interessar pelas religiões afros. Este
sonho despertou seu lado galanteador, começou a se
relacionar com as mulheres, seus caminhos para o prazer
estavam abertos. A expressão simbólica trouxe a
possibilidade de transformação.
COMPLEXOS

- A palavra complexo é baseada no latim, complexus, que


significa, conexão, liga, amarrado junto.

- O complexo é resultado de muitas partes que ficaram


entrelaçadas, formando um grupo ou núcleo, se tornando
uma unidade. O núcleo do complexo é o arquétipo.

Os complexos são aspectos normais da psique, mas


podem se tornar patológicos, autônomos, quando em termos
de energia, possuam um valor que supere a vontade
consciente, uma forte carga emocional que pode chegara
perturbar e a interferir `nas intenções da consciência,
prejudicando e influenciando nos aspectos da memória, da
tomada de decisões e na concepções de ideias e
pensamentos (JUNG,1998).

Segundo Jacobi, (JACOBI, 1995) ocomplexo em si é um


elemento estrutural da psique, e por isso mesmo, só pode ser
considerado saudável.
POSSESSÃO DO COMPLEXO

- Todo mundo sabe que as pessoas “têm complexos”. Mas o


que não é bem conhecido e, embora teoricamente seja de
maior importância, é que os complexos podem nos ter.

- Enquanto possuída pelo complexo, a consciência tem sua


autonomia e seu julgamento prejudicados.

-Durante a possessão surgem afetos avassaladores,


comportamentos agressivos, excessos, comportamentos de
risco a autopreservação, discursos em que a censura se
rompe e o que seria impensável em ser dito ou feito acaba
por encontrar sua expressão.

Como vimos anteriormente o arquétipo é o núcleo de


todo o complexo. O arquétipo materno evidentemente
constitui o núcleo do complexo materno. Na lista de atributos
abaixo, temos algumas características contraditórias, como
não poderia deixar de ser.

Esta enumeração não pretende ser completa. Ela


apenas indica os traços essenciais do arquétipo materno.
Seus atributos são o ‘maternal’ simplesmente a mágica
autoridade do feminino; a sabedoria e a elevação
espiritual além da razão; o bondoso, o que cuida, o que
sustenta, o que proporciona condições de crescimento,
fertilidade e alimento; o lugar da transformação mágica,
do renascimento; o instinto e o impulso favoráveis; o
secreto, o oculto, o obscuro, o abissal, o mundo dos
mortos, o devorador, sedutor e venenoso, o apavorante
e fatal.(JUNG,2003, pár.158)

Uma vez que o mundo só existe devido ao equilíbrio dos


opostos, o racional é contrabalançado pelo irracional e o
que é planejado pelo que é dado (JUNG, 2003). Temos
elementos estruturantes, positivos e construtivos para o
desenvolvimento da psique, presentes no complexo materno,
mas temos elementos regressivos, dissolvidores e negativos
também. Quando a consciência lida com o complexo
materno, não pode escolher somente a parte que lhe
interessa, ela recebe tanto a parte boa como a ruim.

COMPLEXO MATERNO POSITIVO

Capacidade de cuidar, ser cuidado, propiciar prazer, bem-


estar e nutrição.

- Estimula a capacidade lúdica, fantasiosa e criativa.

- Propicia a união e o vínculo afetivo de qualquer natureza.


COMPLEXO MATERNO NEGATIVO

- A atuação do complexo materno negativo acarreta em


baixa autoestima, passividade, falsa submissão,
dependência, hipersensibilidade à rejeição, depressão,
alcoolismo e outros vícios.

- Incapacidade de discriminação e tomadas de decisão


entre o que é apropriado ou não para si ou para a situação
são comuns.

COMPLEXO PATERNO POSITIVO

No núcleo do complexo paterno, temos o arquétipo paterno


que traz princípios de limites, autonomia, disciplina e
capacidade discriminatória.
- A técnica e a prescrição em detrimento da criatividade e
improviso.

- Espírito independente, senso do dever e capacidade lógica.

COMPLEXO PATERNO NEGATIVO

Cronos devorando seu filho

- Ausência, incongruência, desdém, ameaças de abandono,


indução de culpa (bode expiatório) e agressão física.

- Pai alcoólatra: filho que tem de se tornar “pai” da família


precocemente, “adultecer”.

ANIMA- ANIMUS

PROJEÇÃO
Projeção é a transferência imperceptível e involuntária,
de conteúdos inconscientes positivos ou negativos no outro.

- Onde nos falta conhecimento da realidade será


completado pela projeção.
- Quanto maior a falta de autoconhecimento, consciência e
discernimento, maior será a projeção.

Nas relações amorosas ocorrem as projeções de anima


e animus.

O príncipe encantado, a esposa dedicada, o amante


sedutor, a femme fatale, são alguns exemplos de imagens de
animus e anima projetados nos parceiros e parceiras que são
humanos, limitados e falíveis. Porém, em estado de paixão a
consciência rebaixa e as projeções dos arquétipos
contrassexuais.
ARQUÉTIPO DA ANIMA

- Personificação do inconsciente masculino. Comum


aparecer nos sonhos dos homens na imagem de uma mulher.
- A primeira imagem de anima será a mãe ou cuidadora.
Mediadora entre o inconsciente e a consciência do homem.
-Feminilidade inferior do homem, inferior por estar por trás da
personalidade consciente e por carecer de desenvolvimento.
- Sempre relacionada aos aspectos emocionais e afetivos,
realçando e alterando o humor da consciência masculina.
-Arquétipo da vida

ESTÁGIOS DA ANIMA:

Os estágios da anima, estão relacionados ao


amadurecimento e estruturação da consciência. A expressão
estágio, representa a ideia de que estes estágios podem
ocorrer por diversas vezes ao longo da vida do homem. Todo
início de relacionamento amoroso, muito provavelmente será
marcado pelo estágio 1 da Eva.

01 – Eva: representa para o homem o relacionamento


instintivo e biológico, sexualidade, do apaixonamento, do
desejo sexual mais forte no homem, por isso o homem se
masturba mais, projeta mais o instintivo (cérebro reptiliano),
ter prazer etc.
02 – Helena de Tróia: romântico e estético, da parceira, até
que a morte os separe, viver para sempre juntos.

03 – Virgem Maria:Estágio que eleva ao amor e à grandeza


espiritual. Ego maduro.

04 – Sophia simbolizado pela sabedoria. Sofia, amor pelo


saber.

POSSESSÃO PELA ANIMA

Incertezas, paralisações, impulsividade, agressividade.


- O homem necessita de desenvolvimento egóico, quanto
menor a consciência de si mesmo, mais o homem vivenciará
os aspectos instintivos e primitivos da Anima e se tornará
prisioneiro dela.

A FUNÇÃO POSITIVA DA ANIMA

Porém, quando o homem leva à sério e concretiza as


emoções, as fantasias, os sentimentos através das artes,
música ou dança, o homem poderá experimentar a Anima
como sendo sua guia inspiradora em seu processo de
desenvolvimento.
ARQUÉTIPO DO ANIMUS

Personificação do inconsciente feminino. Comum


aparecer nos sonhos das mulheres na imagem de um
homem.

-A primeira imagem de animus será o pai ou cuidador.


Personificação do inconsciente feminino. Comum aparecer
nos sonhos das mulheres na imagem de um homem.
-Realça as convicções e a razão.

ESTÁGIOS DE ANIMUS

Os estágios expressam a maturidade egóica da mulher.


Quanto mais evoluído for o ego feminino, tanto mais
avançado será o estágio do animus.

01 – Personificação da força física tal como o primeiro estágio


da anima, aspectos estéticos, físicos e maior atração sexual
são características presentes durante esta etapa.
02 – Homem romântico e de ação: poesia, letras românticas,
inteligentes e politizadas, maneira como o artista retrata as
mulheres; homem de negócios, ação.
03 – Condutor do Verbo, professor, conhecimento, grande
orador intelecto, mestre
04 – Sábio, o que guia e inspira no caminho de
espiritualidade, individuação.

POSSESSÃO PELO ANIMUS

- A mulher que não se conhece fica cada vez mais vítima dos
julgamentos e convicções do Animus, anulando cada vez
mais sua própria essência, subjugada por pensamentos
autodepreciativos, agressiva e intransigente.

A FUNÇÃO POSITIVA DO ANIMUS

- O lado positivo do Animus inspira um espírito de iniciativa,


coragem e na sua forma mais elevada, de grande
profundidade espiritual.

ENERGIA PSÍQUICA

Jung cria o conceito de energia psíquica no sentido de


ampliar o conceito de energia libidinal para além do sentido
único da sexualidade, sentido este delineado por Freud.
Concepção Causal X Finalista

A visão freudiana, corresponde a visão causal. Neste


tipo de visão busca-se a causa no passado da infância a
respeito dos problemas no presente. Freud está em busca do
“por que”.

A visão junguiana, corresponde a visão finalista, neste


tipo de visão busca-se o entendimento da dinâmica da
psique, no presente. Jung busca compreender o “para que”.
Qual a consequência do estilo de vida que eu tenho?
Qual a consequência do meu tipo de comportamento?

Opostos

A energia é uma abstração que expressa uma relação


com um determinado de tema, envolve uma predileção e
automaticamente exclusão. A energia é quantitativa,
transformável.

Processo psicofísico: psique e corpo são interligados.

Sistema de Valores Psicológicos


• Valores são avaliações quantitativas de energia
• Medidas, valores morais, estéticos, coletivos
• Quanto mais falamos a respeito de algo, maior o valor,
maior a carga de energia psíquica constelada, ativada
por aquele assunto, tema.
• Sistema coletivo – Sistema subjetivo
• Avaliação subjetiva individual, relativismo, cada um
definirá aquilo que lhe é importante, segundo seus
próprios valores.

Avaliação Quantitativa Objetiva

• Complexos: conteúdo emocional, associações


consteladas. Irão condicionar a experiência
determinada, fato vivido, causal vinculado ao
ambiente.
• Força constelada, constelação específica, relacionada
a um tema
• A força consteladora do elemento nuclear do complexo
corresponde à intensidade de valor do mesmo, ou seja,
à sua energia.

Avaliação do valor energético

1- Quanto mais frequentemente encontrar constelações,


maior valor psicológico.
2- Frequência e intensidade relativas dos sinais de
perturbação do complexo. Lapsos de linguagem,
esquecimentos, mal-entendidos.
ex: tempo que o paciente gasta falando sobre certos
assuntos- Intensidade de fenômenos afetivos: pulso,
condução de energia na pele, batimento cardíaco,
respiração.

Sistema subjetivo

Energia, como movimento, situação, força, condição,


potencial
• Fenômenos dinâmicos, instintos, desejos, vontade, afeto.
• Atenção, rendimento de trabalho
• Processo psíquico, processo de vida, energia da vida.
• Libido, esfera crítica da interação de corpo e alma.
Tradução de libido segundo Jung, não está relacionado
somente a sexualidade: avidez, desejo, impulso, também
são traduções pertinentes.

PROGRESSÃO X REGRESSÃO

• Energia em Progressão é o dia a dia do caminhar


evolutivo do processo psicológico de adaptação ao
contexto da realidade do mundo externo, nunca cessa.
Completar a adaptação por meio de nova a atitude,
dar satisfações à exigência das condições do ambiente.
Corresponde a extroversão.
• Energia em Regressão, é o investimento da energia no
mundo interno, este é movimento necessário para os
novos nascimentos e transformações. Corresponde a
introversão
• Não confundir progressão com evolução, não confundir
regressão com involução.
SELF (SI-MESMO)

Self representa o ser em sua totalidade.

- É o centro organizador, auto regulador e integrador da


psique;
- Eixo Ego-Self;
- Totalidade da psique;

Para Jung, o Si-mesmo é a vivência da manifestação


psicológica do sagrado.

Para a psicologia analítica, o Self, existe e a atua na


psique semelhante ao modo de Deus, não importa se a
pessoa tem uma crença consciente ou não.

A mandala exprime-se, simbolicamente, por um círculo,


um quadrado ou um quatérnio, num dispositivo simétrico do
número 4 e de seus múltiplos.

- Tornar-se único e integro é o próprio processo de


amadurecimento que envolve o fortalecimento do ego, o
reconhecimento do Self e sua realização.
Self – totalidade

VELHO SÁBIO – VELHA SÁBIA

O Self nos sonhos masculinos toma, muitas vezes, a


forma de “Velhos Homens Sábios”.

- O Self aparece nos sonhos usualmente em momentos


críticos da vida do sonhador – instantes decisivos em que suas
atitudes básicas e todo seu modo de vida estão em processo
de mutação.

O Self nos sonhos femininos toma, muitas vezes, a forma de


“Velhas Mulheres Sábias”.
Philemom, Velho Sábio que apareceu para Jung, pintura realizada por ele
próprio

CRIANÇA DIVINA

Pequeno Buda Menino Jesus


A criança, o jovem, representa o Self e o seu poder de
renovação. Uma nova orientação por meio da qual tudo se
torna cheio de vida e de iniciativa. Potencial do vir a ser.

INDIVIDUAÇÃO

Carvalho e Cerejeira ambas são árvores, cada qual ao seu modo, já contém
em suas sementes o potencial do seu vir a ser.

- O sentido e a meta do processo são a realização da


personalidade originária, presente no germe
embrionário, em todos os seus aspectos.
- É o estabelecimento e o desabrochar da totalidade
originária, potencial. [...] Chamei a esse processo de
processo de individuação.
- Tornar-se um consigo e um com o coletivo.
- (JUNG, 1987b, § 186, p. 186-187).
- Uso a palavra ‘individuação’ para designar um processo
pelo qual um ser torna-se um ‘individuum’ psicológico,
isto é, uma unidade autônoma e indivisível, uma
totalidade.

A individuação significa tender a tornar-se um ser


realmente individual; na medida em que entendemos por
individualidade a forma de nossa unicidade, a mais íntima,
nossa unicidade última e irrevogável; trata-se da realização
de seu Si-mesmo, no que tem de mais pessoal, e de mais
rebelde a toda comparação. Poder-se-ia, pois, traduzir a
palavra ‘individuação’ por ‘realização de si mesmo’,
‘realização do Si–mesmo’. (JUNG,2002,par.355)

Para que ocorra o processo de individuação é


necessário que se tenha um ego estruturado, a fim de que a
vida consciente se adapte as exigências do coletivo, bem
como a oportunidade para que o inconsciente se expresse
de maneira tal que ocorra a integração destes opostos.

Quando ocorre a unilateralidade da consciência, a


repressão dos conteúdos considerados hostis ou a
fragmentação do ego, não há realização do Self(Si-
mesmo).Para que a realização da personalidade ocorra é
necessário que o ego suporte a tensão entre os opostos,
somente na tensão ocorre a expressão da vida em sua
totalidade.

SINCRONICIDADE

Simultaneidade de um estado psíquico com um ou


vários acontecimentos que aparecem como paralelos
significativos.

Princípio de conexões acausais, mas que se relacionam


entre si, concedendo-lhes significado.

Coincidência de um estado psíquico com um


acontecimento futuro, portanto, distante no tempo e ainda
não presente, e que só pode ser verificado também
posteriormente.

A Sincronicidade é o estado que trará a possibilidade da


conscientização de aspectos inconscientes. Jung nos conta o
exemplo de uma paciente que o processo de análise se
encontrava bastante restrito. A paciente conta sobre o sonho
com um besouro dourado. No mesmo instante, Jung ouve um
barulho em sua janela, ele a abre, apanha um besouro
dourado, tal como descrito pela paciente em seu sonho.
Após este evento, a análise seguiu um rumo mais amplo.
Todos nós passamos pelos eventos sincronísticos, estes
ocorrem.

Cito aqui como exemplo, dois momentos distintos que


ocorreram em minha vida. Nas duas situações entrei em
conato com o volume V da Obra Completa de Jung, se trata
de Símbolos da Transformação.

Símbolos da Transformação marca o fechamento do


ciclo de colaborações e vínculo entre Jung e Freud. Nesta
obra, o criador da Psicologia Analítica expressa ideias
distintas e discordantes das defendidas por Freud. É a
jornada de individuação, o chamado que ocorre na
metanoia. Nos dois momentos em que entrei em contato
com o referido livro, encerrei vínculos importantes em minha
vida e iniciei processos de transformações bastante intensos e
profundos.
TIPOS PSICOLÓGICOS

A teoria dos tipos psicológicos nos ajuda a esclarecer as


afinidades, interesses, mal-entendidos e as dificuldades que
surgem nos relacionamentos entre os indivíduos. Na tipologia
junguiana as pessoas serão classificadas ematitudes e
funções psíquicas.

As atitudes são introversão e extroversão. Todos nós


temos as duas atitudes. Uma será mais desenvolvida do que a
outra.

- Existem duas atitudes: Introversão e Extroversão.


- No introvertido o foco de atenção está no mundo interno, já
o extrovertido seu foco de atenção é o mundo externo.

Atitude: Introversão

- Hesitantes; não podem viver antes de compreender a


vida; Atitude reservada e questionadora; Atenção
voltada para o interior.
- Seu mundo real é o interno, suas ideias; vão das
considerações para a ação e voltam para as
considerações; Tendência à não praticidade.

Atitude: Extroversão

- Impulsivos; não podem compreender a vida antes de vivê-


la; Atitude relaxada e confiante; Atenção voltada para
oexterior. Acessíveis e sociáveis, preferem o mundo das coisas
e pessoas ao mundo das ideias. Dedicam-se
exageradamente a exigências externas.

Funções da consciência
Todos nós temos quatro funções psíquicas. São elas:
sentimento, pensamento, sensação e intuição. Uma delas,
será a mais bem desenvolvida, denominada função principal,
em seguida teremos a função auxiliar, uma terceira também
auxiliar e por último, menos desenvolvida a função inferior.
Sobre a função inferior, Jung nos conta que:”Não é a
gente que a tem na mão, mas alguém a tem”. Quando
totalmente indiferenciada, misturada ao inconsciente,
caráter infantil e arcaico, instintiva.
Por isso somos surpreendidos por comportamentos
marcados por estados de humor, infantis, arcaicos e
instintivos.

Funções Psíquicas
Sensação Intuição

Pensamento Sentimento

Desenvolvimento
Desenvolvimento HumanoHumano
e Capacitação
e Capacitação Profissional
Profissional

A função sensação é a função ligada ao aqui e agora,


momento presente, detalhista, focal, grande capacidade de
execução, vinculada aos órgãos dos sentidos. Esta é função
do real, segundo Jung. A função intuição nos traz dados e
informações de forma perceptiva via inconsciente, visão da
totalidade, criativa, podendo até mesmo antecipar aspectos
futuros. A função pensamento está ligada ao intelecto, a
lógica, prós e contras, os fatos objetivos, tendência a priorizar
o que precisa ser feito ao invés de priorizar as pessoas e suas
subjetividades. A função sentimento é a função dos valores,
para Jung, sentimento não é sinônimo de emoção ou afeto.
O sentimento está relacionado com aquilo que é importante
para alguém sua subjetividade, tendência em valorizar o
outro e a sua subjetividade. As funções psíquicas também
serão classificadas em funções irracionais e racionais.

As funções sensação e intuição são funções irracionais.

Por irracional, entende-se a possibilidade de receber


informação, poder processá-la e agir. Alguns autores
posteriormente chamaram as funções irracionais de funções
de percepção. Existem duas maneiras de se obter
informações: pela sensação, via órgão dos sentidos, criando
uma ideia concreta; ou pela intuição recebendo a
informação e não se fixando na característica concreta, mas
em suas possibilidades do futuro. Sensação e intuição são
opostas entre si.

As funções pensamento e sentimento são funções


racionais. Por racional, entende-se a possibilidade de avaliar
as informações recebidas e como prefere tomar decisões.
Existem duas maneiras de tomada de posição: avaliação
pelo pensamento de maneira lógica e racional; pelo
sentimento a avaliação é feita através dos valores pessoais.
Pensamento e sentimento são opostos entre si (ZACHARIAS,
2006).

Vamos verificar alguns exemplos de diagramas:


FUNÇÃO PRINCIPAL

ATITUDE

FUNÇÃO AUXILIAR FUNÇÃO AUXILIAR

ATITUDE

FUNÇÃO INFERIOR

No diagrama, podemos ver a atitude predominante e a


função principal na superfície consciente. Na parte inferior
inconsciente temos a disposição da atitude oposta e da
função inferior. Nas laterais, as funções auxiliares.

FUNÇÃO PRINCIPAL
PENSAMENTO

ATITUDE EXTROVERTIDO

FUNÇÃO AUXILIAR FUNÇÃO AUXILIAR


SENSAÇÃO INTUIÇÃO

ATITUDE INTROVERTIDO

FUNÇÃO INFERIOR
SENTIMENTO

Neste diagrama temos o tipo pensamento extrovertido,


função principal pensamento, atitude consciente
extroversão, com função auxiliar intuição. A função sensação
também é uma função auxiliar, porém menos diferenciada
que a intuição.Na parte de baixo temos a função inferior que
é o sentimento introvertido.
FUNÇÃO PRINCIPAL
INTUIÇÃO

ATITUDE INTROVERTIDO

FUNÇÃO AUXILIAR FUNÇÃO AUXILIAR


PENSAMENTO SENTIMENTO

ATITUDE EXTROVERTIDO

FUNÇÃO INFERIOR
SENSAÇÃO

Neste diagrama temos o tipo intuição introvertido,


função principal intuição, atitude consciente introversão,
com função auxiliar sentimento.

A função pensamento também é uma função auxiliar,


porém menos diferenciada que a função sentimento. Na
parte de baixo temos a função inferior que é a sensação.

Vamos agora para a descrição dos oito tipos descritos


por Jung. São quatro tipos introvertidos e quatro tipos
extrovertidos. Não existe um tipo melhor ou pior do que os
outros todos terão suas habilidades e suas dificuldades.

A teoria dos tipos psicológicos não visa rotular ou


enquadrar as pessoas. A teoria visa esclarecer as diferenças e
promover a compreensão. Mediante o esclarecimento
podemos ter uma visão de acolhimento e entendimento do
indivíduo consigo e para com o outro.
PENSAMENTO INTROVERTIDO

Função Inferior: Sentimento Extrovertido

- Capacidade de organização dos fatos e ideias utilizando-se


de princípios lógicos.
- Interesse em questões relacionadas à ciência e tecnologia.
- Impessoais, sentem mais interesse por coisas do que
relacionamentos humanos.
- Imaturidade emocional com sentimento avassalador,
intenso e desmedido.

PENSAMENTO EXTROVERTIDO

Função Inferior: Sentimento Introvertido

- Estabelece passos, organiza e prioriza a ação em direção a


um objetivo único e imutável.
- Estabelece limites, regras, regulamentos e leis a serem
cumpridas sem questionamentos, sem perda de tempo.
- Tendência a não considerar o ponto de vista do outro.
- Dificuldades em expressar os sentimentos.

SENTIMENTO INTROVERTIDO

Função Inferior: Pensamento Extrovertido

- Possui uma escala diferenciada de valores, ética silenciosa,


valorizando a moral.
- Mais preocupados com as pessoas ao seu redor do que
consigo mesmo.
- Vagueia sobre uma imensa série de fatos e se perde tal
como num pantanal de detalhes.
- Dificuldade de ampliar fatos e ideias, caindo na monomania
intelectual.
SENTIMENTO EXTROVERTIDO

Função Inferior: Pensamento Introvertido

- Mais interessados nas pessoas do que nas coisas.


- Capacidade em promover no ambiente uma atmosfera de
aceitação muito agradável.
- Pensamentos autodepreciativos, negativos, cínicos e
destrutivos.
- Julgamentos críticos à respeito das pessoas.

SENSAÇÃO INTROVERTIDA

Função Inferior: Intuição Extrovertida

- Perfeccionismo, paciência e detalhista.


- Responsabilidade, precisão e organização.
- Dificuldade em lidar com as próprias fantasias; vendo com
desconfiança suas próprias intuições;
- Há uma grande dificuldade em lidar com o mundo do
futuro.

SENSAÇÃO EXTROVERTIDA

Função Inferior: Intuição Introvertida

- Imensa e exata consciência da realidade externa em todas


as suas diferenciações.
- Percebe a textura das coisas (se é seda ou lã) e geralmente
o bom gosto está presente.
- Tem dificuldade em lidar com múltiplas possibilidades, se
atendo apenas aos fatos.
- Tendência a intuições persecutórias, premonições suspeitas
e sombrias.

INTUIÇÃO INTROVERTIDA

Função Inferior: Sensação Extrovertida

- Alto senso poético, literário e cultural.


- Possuem sempre novas maneiras de resolver problemas,
valorizando sempre a inspiração e a imaginação.
- Dificuldade em lidar com o corpo concreto, desde cuidados
estéticos e saúde.
- Tendência à perplexidade das fantasias, ficando absorto em
si mesmo.

INTUIÇÃO EXTROVERTIDA

Função Inferior: Sensação Introvertida

- Capacidade de imaginar possibilidades e potencialidades


futuras ainda não realizadas.
- Visão do todo, personalidade criativa.
- Dificuldade em ser objetivo, semeia, mas não colhe.
- Dificuldade em lidar com o corpo concreto, desde cuidados
estéticos e saúde.

A IMPORTÂNCIA DA FUNÇÃO INFERIOR

- Entender a Função Inferior


- Confrontar a função inferior.
- Admitir a importância e o seu sentido.
- Tornar consciente aquilo que permanecia inconsciente.
- Utilizar a função auxiliar para se aproximar da função
inferior.
Ter a humildade de se descer com as outras funções para o
nível inferior.
- Sacrifício da função principal. Algo novo, diferente e inédito
em relação à vida, na qual se usam todas e nenhuma das
funções durante todo o tempo.

SONHOS e AMPLIFICAÇÃO

Quando lidamos com o conteúdo pessoal em análise o


trabalho de atribuição de significado deve sempre recair
sobre o paciente. O analista não tem muita licença para
interferir. Porém, quando lidamos com o conteúdo coletivo,
estamos lidando com um assunto onde toda a humanidade
foi, é e será participante das dores, paixões, tristezas e
alegrias presentes ali nos símbolos expressados pelo
inconsciente. Surge a amplificação, como ferramenta útil e
prática na tentativa de se interpretar o que há nestas
mensagens e bem como tais interpretações podem ser de
grande auxílio na vida do paciente. Na prática da
psicoterapia de orientação analítica, é comum a utilização
de trabalhos com sonhos, imaginação ativa, sandplay,
danças e outras técnicas que visam à expressão do
inconsciente. Busca-se a compreensão dos conteúdos, que
serão interpretados pelo analista e devolvidos ao paciente.

Mas, qual a utilidade deste trabalho para o paciente?


Não estaria o analista apenas expressando de forma soberba
talvez seu conhecimento intelectual e cultural, utilizando-se
de referências mitológicas, poéticas e artísticas para dar
forma ao seu pensamento? Não seria mais pertinente
pedirmos a associação livre do paciente frente tal material?

Frente a estas questões, devemos primeiro entender a


diferenciação entre a associação livre de Freud e a
amplificação de Jung.
-Diferenciação entre associação livre e amplificação.

Logicamente devo mencionar aqui o mérito de Freud, que


nos despertou para toda a problemática dos sonhos,
habilitando-nos a penetrar nesse mundo de imagens.
Sabemos que sua ideia era que os sonhos representavam
a distorção de um desejo oculto, não satisfeito, por
discordar do consciente. Devido a essa censura, ele surge
distorcido para que a consciência não o reconheça,
podendo assim, ao mesmo tempo, mostrar-se e viver.
Freud nos diz: ´Vamos corrigir por completo essa distorção;
seja natural, abandone suas tendências deformadoras,
deixe as associações correrem livremente, e aí
chegaremos aos fatos naturais`. Meu ponto de vista é
totalmente diverso. Freud está procurando os complexos,
eu não. Aí está a diferença central. Procuro saber o que o
inconsciente está fazendo com os complexos, porque isso
me interessa muito mais do que o fato de as pessoas terem
complexos. Todos nós os temos; trata-se de um fato muito
corriqueiro e desprovido de interesse. É apenas de
interesse saber o que as pessoas fazem dos complexos; aí
está o que realmente interessa, a questão prática central.
Freud aplica um princípio totalmente diferente e oposto,
que em lógica é chamado reductio ad primam figuram
(redução à primeira figura). Isto é um tipo de silogismo,
uma sequência complicada de conclusões lógicas, cuja
característica é começar de um juízo perfeitamente
sensato, racional, e, através de observações e insinuações
sub-reptícias, ir mudando a natureza da primeira assertiva
sensata, até atingir a distorção completa, o aspecto
insensato. (JUNG, 2004, par. 175)

Recordo-me de uma propaganda que mostrava de


forma irônica a maneira de como o pensamento freudiano se
desenvolvia em análise.

Na propaganda o psicanalista abre a porta olha para o


paciente e lhe diz:

“A culpa é da sua mãe!.”Em seguida, bate a porta na cara


do coitado do paciente. Se formos pensar a maneira do
raciocínio freudiano, vamos sempre buscar a existência dos
complexos na associação livre, e somente isso.
A culpa é da minha mãe. E agora? O que eu faço com
esta informação?

Esta propaganda evidentemente trata de forma lúdica


a maneira que o pensamento de Freud tem da psique. Na
psicanálise freudiana temos uma linha fixa, um silogismo, do
qual segue um exemplo:

O amor é cego.
Deus é amor.
Logo, Stevie Wonder é Deus.

Este é um exemplo do que vem a ser um silogismo, uma


linha lógica e desastrosa. Para Freud importa menos o
conteúdo presente no sonho, ou na fala do paciente, uma
vez que ele sempre vai nos remeter, no final de tudo, à
nomeação dos complexos – particularmente o de Édipo, e o
desejo reprimido. Com isto em mente, citarei o caso e um
sonho de uma paciente que atendo, para deixar mais claro a
diferença entre associação livre e amplificação.

Retomarei este sonho e a sua amplificação mais


adiante. Paciente A., 35 anos viúva, não trabalha desde que
seu marido morreu há sete anos, vivendo da pensão do
falecido marido, depressiva, sem filhos. No sonho, ela dança
com o falecido marido, os dois entram em coreografias bem
eróticas, ambos ficam com suas partes íntimas à mostra e
atritando, sem ter penetração. No fim, o marido
ejacula diretamente no chão. Imediatamente, uma
menininha entra no salão e aponta para a poça de esperma
no solo.

Vamos falar sobre o conceito de amplificação. Jung


comenta o seguinte:

Há uma máxima do Talmude que diz que o sonho é sua


própria interpretação. Ele é a totalidade de si próprio. E
se julgarmos que há alguma coisa por trás ou que algo foi
escondido, não há dúvida de que não o entendemos.
Portanto, antes de mais nada, quando os senhores
abordarem um sonho, pensem: ´Não entendo uma
palavra do que está aqui`. Recebo muito bem essa
sensação de incompetência, pois então sei que será
preciso um bom trabalho em minha tentativa de
entender o sonho. O que faço é o seguinte: Adoto o
método do filólogo que está bem longe de ser livre-
associação, aplicando um princípio lógico - a
amplificação, que consiste simplesmente em estabelecer
paralelos. Por exemplo, no caso de uma palavra muito
rara, com a qual nunca antes nos defrontamos, tenta-se
encontrar passagens de textos paralelos, se possível,
aplicações paralelas, onde a palavra ocorra. Aí tentamos
colocar a fórmula que adquirimos através dos
conhecimentos de outros textos frente à passagem que
nos trouxe dúvida. Se ela se tiver, então, tornado legível,
poderemos dizer: ´ Agora é fácil compreendê-la. ` Foi
assim que aprendemos a ler hieróglifos e inscrições
cuneiformes, e dessa mesma forma poderemos ler os
sonhos. (JUNG, 2004, par.172, 173)

Como se pode ver, a amplificação é uma técnica em


busca de se decifrar uma linguagem oculta e ou obscura. A
associação livre freudiana acaba por ser uma técnica que
visa atestar uma verdade teórica.

Na livre-associação psicanalítica, já sabemos


previamente o que iremos encontrar quanto aos conteúdos
da psique. Na amplificação, buscamos uma mensagem e ou
conteúdo expresso na linguagem simbólica dos sonhos, no
discurso do paciente e na sua dinâmica de funcionamento,
conteúdo este que não conhecemos previamente.A
amplificação tem uma utilidade prática e não apenas
nominal do conteúdo que foi amplificado, pois buscamos a
dinâmica do complexo, o modo como atua na psique do
paciente e em sua vida cotidiana, e não apenas nomeá-lo
ao sujeito.

Vamos agora procurar entender a ajuda que a


amplificação traz para o paciente

Na perspectiva junguiana, compreendemos que a


psique se expressa através de uma linguagem oculta, a
linguagem simbólica. A incerteza inicial do significado e a
certeza da natureza arquetípica são referências a que o
analista deve sempre se ater no trabalho com a
amplificação.

Jung comenta o seguinte sobre o fundamento da


psique e a necessidade de conhecimento do analista a
respeito de mitologias:

Devemos admitir, porém que os conteúdos arquetípicos


do inconsciente coletivo assumem muitas vezes uma
forma grotesca e horripilante em sonhos e fantasias. Até
mesmo a consciência mais racional não é imune aos
sonhos e fantasias. Até mesmo a consciência mais
racional não é imune aos sonhos de angústia que podem
perturbá-la profundamente, ou às representações
obsessivas e angustiantes. A elucidação psicológica
dessas imagens que não podem ser ignoradas ou
caladas conduz logicamente às profundezas da
fenomenologia histórico-religiosa. A história das religiões
em seu sentido mais amplo (incluindo mitologia, folclore e
psicologia primitiva) representa o depósito do tesouro das
formas arquetípica; o médico colhe nesse domínio
paralelos auxiliares e material comparativo eloqüente
destinado a tranquilizar e esclarecer a consciência
gravemente perturbada em sua orientação. É
indispensável, no entanto dar às fantasias emergentes,
estranhas à consciência e aparentemente ameaçadoras
em relação a ela, um contexto que as aproxime da
compreensão. Como a experiência mostra, isto ocorre
favoravelmente através do material mitológico
comparativo. (JUNG, 1994, par.38)

Quando estamos lidando com um símbolo estamos


lidando com um conteúdo imagético que, por ser de
natureza arcaica, carrega consigo uma série de significados,
daí a importância da amplificação.

Duas pessoas podem ter o mesmo sonho, porém, o


significado será sempre diferente, uma vez que são sujeitos
distintos, e estamos falando do relacionamento dinâmico dos
complexos com o resto da psique. Muitas vezes o sujeito pode
sonhar com o mesmo símbolo em sonhos diferentes e ainda
assim o significado ser outro naquele momento da vida
daquele indivíduo.
O símbolo é um elemento obscuro precisa ser
esclarecido e conscientizado para que mediante a
compreensão de sua mensagem, a consciência possa
integrar o conteúdo necessário e continuar a ter
perseverança e discernimento de suas ações, em sua
jornada. Compreendemos então que, os mitos se tornam
ferramenta de trabalho do terapeuta, o que justifica seu
estudo. Neste outro texto, Jung fala sobre o fundamento da
psique:
A psicologia moderna tem a vantagem de ter conhecido
uma área de fenômenos psíquicos que sem dúvida
representa a matriz de toda mitologia: sonhos visões,
fantasias e ilusões. Aqui ela não só encontra frequentes
analogias com temas míticos, mas também tem a
oportunidade ímpar de observar ao vivo e analisar a
origem e o funcionamento de tais conteúdos. No sonho
de fato podemos demonstrar a mesma ambiguidade e
multiplicidade aparentemente ilimitada das figuras. Por
outro lado, estamos em condições de verificar certas leis
ou pelo menos regras, que tornam a interpretação um
pouco mais segura. Sabemos, por exemplo, que os
sonhos compensam o estado consciente, isto é,
completam o que nele falta. Este conhecimento,
importante para a interpretação dos sonhos, também
vale para o mito. Da pesquisa dos produtos do
inconsciente resultam ainda alusões claras e estruturas
arquetípicas que coincidem com os temas míticos, e
entre elas determinados tipos que merecem o nome de
dominantes: trata-se de arquétipos como anima, animus,
ancião, bruxa, sombra, mãe-terra, etc. e as dominantes
de ordem do si - mesmo, do círculo e da quaternidade,
respectivamente das quatro ´funções` ou dos aspectos
do si - mesmo ou do consciente. Percebe-se sem
dificuldades que o conhecimento destes tipos facilita
muito a interpretação dos mitos e ao mesmo tempo a
coloca no chão a que pertence, isto é, na base da
psique. (JUNG, 1995 par.611)

A base de todo funcionamento da psique, que tem


como matriz o inconsciente, é imagética ou mitológica, e a
relação compensatória que o inconsciente estabelece com
a consciência frequentemente se manifesta através das
imagens simbólicas que nos aparecem em sonhos ou
fantasias. Quando observamos e compreendemos tais
imagens, facilitamos o entendimento do paciente sobre
quem ele é em sua totalidade.

Tanto na interpretação da dinâmica arquetípica como


na interpretação dos sonhos, o terapeuta também conta
com regras definidas, que o auxiliam bastante em seu
trabalho. Ao conhecer a dinâmica arquetípica, podemos
entender quais as compensações e projeções feitas pelo
inconsciente do paciente, que muitas vezes relata que se
sente perdido.

Desta forma, o perceber, sentir, pensar e interpretar do


terapeuta podem atuar como uma grande ajuda para o
paciente. Neste texto, Jung fala sobre a importância do
pensar do analista:

Quando um analista tem que lidar com um arquétipo, é


bom que comece a pensar. Ao tratar do inconsciente
pessoal não se tem o direito de pensar, nem de somar
nada às experiências do paciente. É possível adicionar
qualquer coisa à personalidade de alguém. Você é uma
personalidade definida. E o outro também tem vida e
estrutura mentais próprias, e por isso mesmo ele é uma
pessoa. Mas quando não se trata mais de sua pessoa,
quando eu também sou ele, a estrutura básica de
sua mente é fundamentalmente a mesma, aí eu posso
começar a pensar e fazer associações em seu lugar. É
possível até fornecer-lhe o contexto apropriado, pois o
paciente está completamente solto e sem orientação,
não sabe de onde vem o lagarto caranguejo, nem qual
o seu significado; mas conheço essas coisas e posso dar-
lhe o material. (JUNG, 2004, par.190)

Retomemos o sonho de minha paciente exposto acima.


Temos uma conotação sexual e erótica num primeiro
momento, o que um psicanalista freudiano provavelmente
entenderia como informação suficiente, a partir de sua base
teórica a respeito da função dos sonhos. Uma viúva,
deprimida, realiza seus desejos através dos sonhos. O que
mudará para a paciente saber desta informação?
Provavelmente ela já saiba. Falar para ela que era o animus
dançando com a consciência e a menininha era o
arquétipo da criança divina, também daria na mesma. Então
o mito se fez muito importante para a compreensão da
mensagem deste sonho. Conhecendo a dinâmica de minha
paciente, muito associada com a de uma puella, logo
poderia inferir hipoteticamente que o inconsciente irá propor,
em algum momento, nos sonhos, algo relacionado a ela
amadurecer e se tornar adulta de fato.

O termo puella deriva do latim e é o gênero feminino de


puer aeternus, em português significa a eterna criança. A
dança e o parceiro de dança dela estão ligados ao mito de
Dioniso, deus do vinho. Dioniso é uma imagem arquetípica de
puer, logo ele só pode estar lá representando a imaturidade
e a inconsequência da sonhadora. Mas eu sabia que não era
isso, pois o inconsciente já havia mostrado tal mensagem em
sonhos anteriores. O sêmen, as sementes caíram no solo.

Dioniso também é o deus da agricultura. Ser agricultor


exige responsabilidade e trabalho, um investimento de libido
com duração temporal definida em respeito aos ciclos da
natureza, justamente o que faltava para esta moça. Ela já
sabia de sua tendência dionisíaca de ser, mas não sabia que
Dioniso era também o deus da agricultura, tampouco eu
imaginava que a psique iria utilizar o mito de Dioniso para
comunicar algo relacionado a ser adulto ou responsável. Eu
lhe contei estas coisas, e a interpretação do mito.

No mesmo dia ela se encontrou com seu amigo, para


tratar de outro assunto. Ele disse a ela que estaria abrindo um
novo negócio e precisaria de alguém que tivesse uma
experiência específica – exatamente o tipo de experiência
que ela tem - de trabalho. Ela ficou muito feliz e pensando
que horas antes estivera falando sobre isso na sessão,
lembrou-se naquele momento da interpretação do mito de
Dioniso como sendo o deus da agricultura e não somente do
êxtase e do entusiasmo.

A paciente aceitou a proposta de trabalho. Este é um


exemplo de como a amplificação mítica pode ajudar
paciente e analista não somente no processo da
psicoterapia, como também em sua jornada de
individuação.

BIBLIOGRAFIA:

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viver num mundo novo. São Paulo: Cultrix, 2005.

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_______________. A Natureza da Psique. 4. ed. Petrópolis:


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_______________.Memórias, Sonhos, Reflexões. 22. ed. São


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Fronteira, 2002.

_______________. O Homem e seus Símbolos. 2. ed. Rio de


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_______________. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. 3.


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NEUMANN, Erich. História da Origem da Consciência. São


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VON FRANZ, Marie-Louise, HILLMAN, James. A Tipologia de


Jung. 7. ed. São Paulo: 2013

ZACHARIAS, José Jorge Morais. Entendendo os Tipos


Humanos. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2006.
E-book escrito por Rangel Fabrete psicólogo especialista em
psicologia analítica, mestre em psicossomática e
coordenador do curso de Extensão em psicologia analítica
do Instituto Freedom.

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