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A LEITURA DE IMAGEM A PARTIR

DO MITO DE CRIAÇÃO

Elizabeth Christina Cotta Mello

Abaixo é uma síntese e discussão sobre leitura de imagens a partir do


processo de criação e da prática do mandala (MELLO, 2002).

A UNIDADE
Vamos primeiro exercitar a leitura do mandala e os números
1, 2, 3 e 4 para começar.
O número um tem o significado de UNIDADE, estou aqui resumindo a
ideia do número um como elemento e aquilo que eu conheço. É o eu
conhecido, normalmente o que podemos descrever sobre nós mesmos.
Antes de lidarmos com os conflitos e percebermos aspectos opostos de
nossa personalidade estamos somente nesse nível.
A associação do mandala feito em sala de aula com os arquétipos (persona,
sombra, animus e anima, e Self) foi realizado por Gislaine Assunção,
informação oral, nos idos de 2000. O estudo com os números foi realizado
em minha dissertação de mestrado e depois em meu doutorado. Sobre o
tema da aula desenvolvi posteriormente: o tema da criação e estudos sobre
leitura de imagens.

O MANDALA
A parte de cima do mandala está associado ao arquétipo da persona, o que é
conhecido. Como afirma Fürth em “O mundo secreto dos desenhos”
(1997): uma das únicas certezas na interpretação de uma imagem é o que
está mais acima está mais consciência, logo, associado com aquilo que eu
vivo e acredito que eu sou, meu ego e minha persona. Em geral podemos
associar esse momento com a vivência da criança, mais infantil onde não
há questionamentos sobre si, nem sobre o ambiente, fora quando passa por
traumas e conflitos graves.

Ou seja, o um é o aspecto da dita função sensação, da percepção de si, do


aprender a ver da arte, do medir e saber sobre os modelos matemáticos da
arte e fala no mandala da parte de cima. No caso é o olhar mais objetivo,
daquilo que acreditamos. Pode ser associado à infância e nossa ingenuidade
sobre o que somos de forma profunda.

Palavras sobre o um:


Unidade
O um
A consciência inicial
Momento da luz
O arquétipo da Persona e o ego

DOIS
Normalmente começo a interpretação do mandala pelo número dois. O
número dois, em seu sentido qualitativo, simbólico, é a separação, a
dualidade, aquilo que não conheço. Simboliza também a adolescência
falamos mais não do que sim, negamos os pais e pode ser associado ao que
nos revoltamos e busca do que não temos.
Na leitura do mandala, o número dois, como diz Jung, em seu livro
“Psicologia da civilização ocidental” (2017, 3): é o primeiro número. Este
número está relacionado ao que não sabemos de nós, o oculto e o sinistro, o
que os outros até podem ver mas não aceitamos, por um lado, e por outro,
não conhecemos em nós como um potencial a ser desenvolvido. Esse é o
conceito de sombra na psicologia analítica.
Um ponto essencial é que o número dois é aquilo que pode, mas precisa de
esforço para ser conscientizado. Eu chamo de “ainda não” ou seja, o que
existe disponível para consciência e é necessário mas eu não enxergo, e
quando enxergo, vou precisar de força de vontade, disposição para realizar:
precisamos nos dedicar, buscar tempo para realização. Jung – em sua dita,
obra completa (2017,2) fala sobre isso em seu livro “Desenvolvimento da
Personalidade”, no capítulo do desenvolvimento da personalidade.
Estamos diante da subjetividade, do eu desconhecido, do subtexto, da
dualidade.

Palavras sobre o Dois:


Dualidade
Separação
Conflito
O um e o outro
Momento da luz e da sombra ao romper com a totalidade no mito
O arquétipo da Sombra

O TRÊS
Ver a horizontalidade, o aspecto do feminino e do masculino da esquerda e
da direita é importante. Assunção (notas de aula) afirma que do lado
esquerdo os aspectos do feminino são observados e do lado direito os
aspectos do masculino. Mas o essencial é a relação que observamos ao
longo dos anos com o espaço horizontal de relação entre as partes como um
todo.

(3) Palavras para o Três:

após o conflito
relação
o intersubjetivo
A criação dos elementos no mito
Os arquétipos de animus e anima

QUATRO
O quarto para reflexão é justamente olhar o todo:
A relação desse lugar é pensar na integração do nosso feminino e
masculino, na aula foi citada a questão do Yang e Yin, e como sabemos
dentro do Yin tem o Yang e do Yang tem o Yin, ou seja, aparecem os
quatro elementos de novo.
O dito Tao está relacionado com este processo de encontro de nossas
polaridades femininas e masculinas e o equilíbrio também. Sugiro a leitura
de “Estudos Alquímicos” (2017,4) em Jung, especialmente no “O segredo
da Flor de Ouro” onde ele explica essa potência para equilibrar.
Como estão as polaridades em nosso mandala? Há a necessidade de mais
feminino ou masculino? Que imagens apareceram?
Segundo Jung, ao longo de sua obra, sabemos que a ideia do Self é a um só
tempo: síntese de si e totalidade psíquica. Essa indicação da temática mais
essencial está no centro do mandala, porém, a totalidade da “composição”
do mandala é importante ser observada, não só os elementos que se
repetiram. Voltamos até as perguntas das funções psicológicas: o que viu, o
que compreendeu, o que sentiu e o que acha que quer dizer?
A palavra composição na arte vale a pena ser pesquisada, fala justamente
dessa relação entre partes, dessa solidariedade entre a totalidade do que é
realizado no processo criativo.
O momento quatro está relacionado com o momento da busca de sentido
dos terapeutas em geral, mas nas pessoas que não se ocupam com o mundo
interior é mais comum vir na meia-idade, muitas vezes acompanhada de
transformação, mudanças de rumo. Enfrentamento verdadeiro da sombra, a
busca de nosso caminho mais pessoal, do nosso ser, do Self. Estamos
falando aqui de união de polaridade, de confrontos.
Se o número um era objetividade, o dois subjetividade, o terceiro
intersubjetividade / relação, esse quarto momento é além, integrando esses
aspectos.

4) Palavras do quatro:
Construção de sentido
Transformação
Self
Nos mitos a criação do homem como ser
Self
Totalidade múltipla = união do subjetivo e objetivo
Contexto

A CIRCULAÇÃO ENTRE ESSES NÚMEROS


Estamos lidando com a ideia de sabedoria quando estamos unindo o
múltiplo e da totalidade: para a Psicologia Analítica cabe ao homem se
recriar, incluindo o divino como o humano, e o infrahumano.

É a quinta essência, sem esquecer que há uma “simpatia entre as coisas”, e


sempre diferentes coisas irredutíveis ao todo e suas inúmeras
epistemologias: enfim, um todo que é maior do que as partes, mas partes
que excedem o todo dependendo do contexto.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES PARA NOS APROXIMARMOS DAS


IMAGENS (FRENQUENTARMOS O NOSSO PROCESSO DE
CRIAÇÃO)
No livro do Fürth (op. cit) ele aponta como é necessário ver o desenho todo
primeiro, qual a impressão deste para o terapeuta.
Na perspectiva da arteterapia junguiana eu reforcei também que para
começar uma reflexão sobre a produção criativa:
Primeiramente perguntar a percepção global de quem produziu. Podemos
seguir também as orientações que podem ver do tipo psicológico e da
prática de psicoterapia (2017,1), bem como o própria arte-educação ou
ensino da arte. Importante entender que é um guia inicial para o
arteterapeuta e para o terapeuta em geral, e que podemos perguntar, no
geral, o que percebeu (sensação), compreendeu (pensamento), sentiu ao
fazer (sentimento) e qual o sentido / contexto (intuição). Lembremos que
essas palavras guardam conceitos complexos e que é aqui uma orientação
geral. Pesquisem depois o significado de emoção, sentimento,
compreender, contexto e fenômeno, fenomenologia e cada uma das
funções.
E é necessário perguntar as associações do paciente / cliente para iniciar
sobre os elementos observados como vimos em aula mas também o que ele
pode dizer e associar, em especial, o que lhe chamou a atenção.
1 – Buscar ver, aprender a ver e perguntar: o que você percebe. Lembremos
da necessidade de aprender a ver. Como afirma Jung em Prática de
Psicoterapia (2017,1) há etapas, a primeira é a catarse e também necessita
do falar sobre e falar com alguém. Só se ouvir, e se ver através de sua
produção, já é uma importante reflexão.
2 – em seguida se há um entendimento (função pensamento) sobre o que
fez. Compreendeu algo? Lembremos que isso é para pacientes mais
conscientes do processo e quando você atende um terapeuta.
3 – em terceiro lugar o que sentiu
4 – E refletir com ele sobre o contexto. Sempre o contexto de sua vida, das
últimas sessões, dos sonhos, do momento que viveu e preocupações: ou
seja qual o contexto do fenômeno da imagem e qual o sentido desta,
incluindo a questão “de onde vem e para onde vai” e o “que aponta a
imagem” (a função intuição).
Olhe e veja o que observou em geral e está relacionado ao seu processo: as
formas que se repetem (formas geométricas – e numéricas)
Levante também o conteúdo que se repete
E, especialmente, as cores, porque são arquétipos poderosos e estão
relacionados aos fundamentos (alquimia) da psicologia analítica. No caso
as cores (e seus símbolos) seja da cartolina, seja das imagens colocadas ou
das palavras recortadas.

REFERÊNCIAS BÁSICAS E COMPLEMENTARES


FÜRTH, G. O. Mundo Secreto dos Desenhos. São Paulo: Paulus, 2009.

GREENE, L. & SHARMAN-BURKE J. Uma Viagem através dos mitos.


São Paulo: Zahar,2001.

JUNG C. G. A Prática de Psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 2017,1.


__________. A vida simbólica. Petrópolis: Vozes, 2017,2. dois volumes
nas Obras Completas.
__________. A Psicologia da Religião Ocidental. Petrópolis: Vozes,
2017,3.
__________. Estudos Alquímicos. Petrópolis: Vozes, 2017,4.
__________. O espírito na arte e na ciência. Petrópolis: Vozes, 2013.
MELLO, E. C. C. Casos, Cores e Vasos: Alquimia e os fundamentos da
arteterapia. Rio de janeiro. 2013.

VON FRANZ, M.L. Psicoterapia. São Paulo: Paulus, 1999.


MATERIAL
Uma folha de cartolina ou papel cartão, de qualquer cor. Um prato raso de
bom tamanho.

Escolher palavras imagens, sorteadas e escolhidas.


Como sortear? Você pode abrir uma revista de forma aleatória e cortar um
pedaço da mesma pequeno em torno de um palmo olhando o que está atrás.

Papel sulfite (folhas comuns sem pauta para impressão), lápis de cor, e
borracha opcional.

TRABALHO EM GRUPO
Fazer uma introdução e conclusão em grupo
e cada um faça um capítulo individual com essas respostas e com as
imagens produzidas por eles
Grupo de no mínimo três até cinco pessoas.

Parte 1
De arte que consiste em reler o processo de criação das pranchas em aula.

Qual era a proposta da atividade?


2. Quais foram os materiais e técnicas utilizados?
3. Quais foram os resultados alcançados?

Parte 2
Da Arteterapia Junguiana
Escreva em torno de duas folhas, ou um pouco mais, sobre o processo que
vivenciou ao longo desta disciplina, incluindo também as respostas abaixo:
1. Qual o tema observa que se repetiu?
2. Que formas lhe chamaram atenção?
2. Qual cor ou cores foram escolhidas e sorteadas?

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

FÜRTH, G. O. Mundo Secreto dos Desenhos. São Paulo: Paulus, 2009.

GREENE, L. & SHARMAN-BURKE J. Uma Viagem através dos mitos.


São Paulo: Zahar,2001.

JUNG, C. G. O espírito na arte e na ciência. Petrópolis: Vozes, 2013.

___________. A vida simbólica. Petrópolis: Vozes, 2017. dois volumes nas


obras completas.

MELLO, E. C. C. Casos, Cores e Vasos: Alquimia e os fundamentos da


arteterapia. Rio de janeiro. 2013.
_____________. Um estudo sobre Mito Cosmogônico: um paralelo com a
Criação da Consciência em um enfoque de psicologia analítica.
Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: FGV/ISOP, 1991.
_____________. O Espaço Transdisciplinar – Origem e Totalidade:
Contribuições Epistemológicas Interdisciplinares para a Comunicação entre
as Áreas do Saber: Psicologia, Física e Mitologia. Tese de Doutorado. Rio
de Janeiro, IP/UFRJ, 2002.

OBSERVAÇÕES FINAIS
Há uma lacuna de leitura de imagens em geral através da arte e da
psicologia. Na psicologia é ler como interpretar os sonhos e a imaginação
ativa, faremos um resumo.
Os livros acima são essenciais. É para ter e ler com calma.
Lembrarem de lerem o trabalho já enviado, vai valer para as duas
disciplinas.

AS ETAPAS DO PROCESSO EM A PRÁTICA DE PSICOTERAPIA (C.


G. JUNG)
E EM PSICOTERAPIA (VON FRANZ)
A LEITURA DE IMAGENS PELA PSICOLOGIA ESTÁ EM FÜRTH EM
O MUNDO SECRETO DOS DESENHOS
E A LEITURA DE IMAGENS PELA PSICOLOGIA ANALITICA E
ARTETERAPIA ESTÁ NO LIVRO CITADO ELIZABETH C. COTTA
MELLO, 1993.
Para ler sobre mito de criação e o modelo de criação:
www.praticajunguiana.com

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