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E-BOOK

P O S S I B I L I D A D E S
D E I N V E S T I G A Ç Õ E S
F E N O M E N O L Ó G I C A S Q U E
F A V O R E Ç A M A C O M P R E E N S Ã O
D I A G N Ó S T I C A

LAÍS NADAI TAVARES - 2023


PSICÓLOGA CRP- 08/21107
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INVESTIGAÇÃO
FENOMENOLÓGICA
São as crianças que vêem as coisas – porque elas vêem-nas sempre pela primeira vez com espanto, com
assombro, surpreendidas de que elas sejam como são. Os adultos, de tanto as verem, já não as vêem mais. As
coisas – as mais maravilhosas – permanecem banais. Ser adulto é ser cego. - Rubem Alves

Segundo Ribeiro (2011), a No momento da relação


fenomenologia é um método, uma terapêutica a atitude
maneira de ser, de se obter a fenomenológica pressupõe colocar
realidade, é um espaço de abertura entre parênteses os conhecimentos
onde o ser se dá. do modelo teórico do
psicoterapeuta, para desenvolver
Na utilização da investigação essa compreensão somente no
fenomenológica, somos convidados momento seguinte (CARDELLA,
a desenvolvermos a curiosidade da 2002).
criança, a treinarmos nossa
capacidade de questionarmos o que Neste mesmo sentido, Rehfeld
está posto, a abrir mão do já (2013) reforça a importância de sair
conhecido e experienciar a da visão prévia para buscar novas
realidade como nova, afinal, de compreensões, colocando em
fato, ela realmente é. Nenhum aqui- questão o que é apresentado e
agora é idêntico a todos os outros questionando imediatamente os
que já foram vividos por nós. fenômenos que surgem na relação.

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A fenomenologia não
garante a previsibilidade
da estrada, pois se é
verdade que o caminho
se faz caminhando, é
mais verdade que o
caminho constrói o
caminhante -Jorge
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Ponciano Ribeiro.
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Fazer investigação
fenomenológica é desenvolver
uma postura de curiosidade,
abrindo mão do que já é
sabido e se colocando frente
ao outro como alguém que
auxilia este outro no encontro
com suas próprias respostas.
Um bom terapeuta sabe mais
fazer perguntas do que
respondê-las.

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COMPREENSÃO
DIAGNÓSTICA
A impermanência é a virtude da realidade. Exatamente como as quatro estações, sempre em contínuo fluxo –
o inverno transformando-se em primavera e o verão em outono. Assim, como o dia torna-se noite, a luz torna-
se escuridão e luz mais uma vez – da mesma forma, tudo se transforma constantemente. A impermanência é a
essência de tudo. -Pema Chodron

Segundo Pimentel (2003), o Isso significa compreender as


diagnóstico é uma tentativa de diferentes características que esta
compreensão de como está se pessoa apresenta, suas dificuldades,
processando, momento a momento, seus adoecimentos se existirem, mas
a experiência de determinada sem dúvida nenhuma, suas
pessoa. A compreensão diagnóstica potencialidades, suas habilidades e
não é estática, afinal, o ser humano facilidades. Uma boa compreensão
não é. diagnóstica deve abarcar a
totalidade do ser, seus aspectos Bio-
Podemos evidenciar então, que psico-socio-culturais e espirituais.
a compreensão diagnóstica é uma Por isso, tanto as dificuldades,
ferramenta do psicoterapeuta, em quanto as potencialidades, devem
que ele, a partir da relação que ser incluídas e atualizadas, assim
desenvolve com a pessoa, e como as questões sociais, culturais e
juntamente com ela, identifica políticas do contexto onde vive esta
elementos que respondam a pessoa.
seguinte pergunta: Como essa
pessoa funciona no mundo? Como Somos seres-no-mundo, como afirma
ela funciona no mundo em Martin Heidegger (1995), e só
determinado momento de sua vida podemos ser compreendidos como
e em determinados contextos em tal.
que ela habita?

0 4
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Procura no próprio ser: e tu
encontras o mundo;
Procura na ação do mundo:
e tu encontras a ti próprio;
Atenta ao pendular entre o
próprio ser e o mundo:
E se revelam entidades de
mundo, no ser e entidades
de seres, no mundo -
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Rudolf Steiner
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Algumas
perguntas
fenomenológicas
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O QUÊ ? O quê? É a pergunta


fenomenológica que evidencia o
fenômeno:

O que é isso?

O que você sente quando me


conta isso?

O que é estar ansioso para


você?

O que é fundamental para sua


vida hoje?

O que você está fazendo com


seus pés enquanto fala?

O que te impede de fazer


diferente?

Quando você me conta essa


história, o que você está
dizendo de você?
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COMO ? Como? É a pergunta


fenomenológica que evidencia o
processo:

Como isso acontece?

Como essa história que você me


conta te impacta hoje?

Como você interrompe seu


próprio crescimento? -Fritz Perls

Como, sem perceber, você


contribui para a situação em
que se queixa? -Helen Guzman

Como você expressa suas


emoções?

Como seu corpo reage a isso


que você me conta?
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PARA QUÊ ?
Para quê? É a pergunta
fenomenológica que evidencia a
essência, a função do fenômeno:

Para que você age desta


maneira? A serviço de quê?

Qual a função deste sintoma na


vida hoje? Para que ele surgiu?

Para que essa situação esta


acontecendo em sua vida? Qual
a mensagem que essa situação
te traz, a que ela te convida?

Para que você escolheu ter essa


experiência?

Para que você evitar tanto as


relações?

Para que você procurou a


psicoterapia neste momento?
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PERGUNTA A SER EVITADA:

POR QUÊ ?
A pergunta “por quê?” busca encontrar uma causa única, geralmente no
passado. A resposta para a pergunta “por quê?” é geralmente uma
justificativa, uma explicação, um reducionismo. Observe a diferença:

Por que você não faz diferente?


-Porque eu não consigo...
-Porque eu aprendi assim...
-Porque minha mãe...

O que te impede de fazer diferente?


-Meu medo de não agradar.

Por que você tem medo de não agradar?


-Porque quando eu era criança fui muito criticada. (passado)

Para que esse desejo de agradar?


-Para pertencer, acredito que não serei aceita sendo quem sou. (presente)
E você? Aceita quem você é ? (autorresponsabilidade)
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PERGUNTAS QUE PODEM


SER INSPIRAÇÕES PARA SUA
INVESTIGAÇÃO

Perguntas que podem ajudar a


autoconcientização, segundo Perls (1988):

O que você está fazendo?


O que você sente?
O que você quer?
O que você evita?
O que você espera?
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PERGUNTAS QUE PODEM


SER INSPIRAÇÕES PARA SUA
INVESTIGAÇÃO

O que te mantém nesta relação?

O que sua ansiedade te comunica? Se ela


pudesse ganhar voz, o que ela te diria?

Quem é você para além da dor? -


Karina Okajima Fukumitsu

Além do sintoma que você trouxe, quem é você


em outros âmbitos da vida? O que você gosta?
O que você não gosta? Que músicas você ouve?
Que séries você vê?
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PERGUNTAS QUE PODEM


SER INSPIRAÇÕES PARA SUA
INVESTIGAÇÃO

O que te faz bem?

Como seria uma vida ideal para você?

O que você não quer mais na sua vida?-


Karina Okajima Fukumitsu

O que dificulta você a ir adiante? -


Adelma Pimentel

O que facilita você a ir adiante? -


Adelma Pimentel
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PERGUNTAS QUE PODEM


SER INSPIRAÇÕES PARA SUA
INVESTIGAÇÃO

Como essa experiência afetou sua percepção


de si mesmo?

Como essa experiência se compara a outras em


sua vida?

Como eu escolho agir a partir de agora?


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PERGUNTAS QUE PODEM


SER INSPIRAÇÕES PARA SUA
INVESTIGAÇÃO

Outras perguntas abertas que ajudem a explorar a


totalidade dos fenômenos que aparecem podem
ser bem-vindas também:

Desde quando você percebe estes sintomas?

Houve mudanças significativas na sua vida


nesta época em que surgiram os sintomas?
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PERGUNTAS QUE PODEM


SER INSPIRAÇÕES PARA SUA
INVESTIGAÇÃO

Como esse sintoma mudou seu cotidiano? O


que ele fez com você?

Como as pessoas ao seu redor passam a se


relacionarem com você após estes sintomas?

Lembrando que o objetivo dessas perguntas não é


encontrar um causa para justificar os sintomas,
mas compreender em que contexto eles foram se
constituindo e a serviço de quais necessidades eles
ainda se mantêm.
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LEMBRETE
Cabe sempre ressaltar que, seguindo a própria
proposta fenomenológica, toda pergunta deve
estar conectada com o que está surgindo no
aqui-agora da relação.
Conhecer possibilidades de perguntas que
podem auxiliar na investigação fenomenológica
nos ajuda a cuidar dos caminhos investigativos
que fazemos no setting terapêutico, evitando
perguntas que podem nos direcionar para uma
investigação reducionista, focada em uma visão
de causa e efeito.
Porém, o que perguntar? Quando perguntar?
Como perguntar? E para que perguntar? Precisa
ser claramente contextualizado nas necessidades
de cada vivência em particular.
REFERÊNCIAS

CARDELLA, BEATRIZ HELENA PARANHOS. A CONTRUÇÃO DO


1 PSICOTERAPEUTA: UMA ABORDAGEM GESTÁLTICA. SUMMUS
EDITORIAL, 2002.

FUKUMITSU, KARINA OKAJIMA. SAÚDE EXISTENCIAL:


2 EDUCADORES EM BUSCA DOS RECOMEÇÕS DE UMA PURA
VIDA. EDIÇÕES LOYOLA, 2022.

GUZMAN, HELEN MESSIAS DA SILVA. AULA DE


3
FENOMENOLOGIA, DISCIPLINA DE PSICOLOGIA EXISTENCIAL
HUMANISTA. MARINGÁ, 2012. NOTAS DE AULA.

HEIDEGGER, MARTIN. SER E TEMPO (PARTE I). PETRÓPOLIS:


4 VOZES, 1995.

PERLS, FRITZ. A ABORDAGEM GESTÁLTICA E TESTEMUNHA

5 OCULAR DA TERAPIA. IN: A ABORDAGEM GESTÁLTICA E


TESTEMUNHA OCULAR DA TERAPIA. 1988.
REFERÊNCIAS

PIMENTEL, ADELMA. PSICODIAGNÓSTICO EM GESTAL-TERAPIA.


6 GRUPO EDITORIAL SUMMUS, 2003.

REHFELD, ARI. FENOMENOLOGIA E GESTALT-TERAPIA,

7 IN:FRAZÃO, LILIAN MEYER; FUKUMITSU, KARINA OKAJIMA.


GESTALT-TERAPIA: FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS E
INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS. SUMMUS EDITORIAL, 2013.

RIBEIRO, JORGE PONCIANO. CONCEITO DE MUNDO E DE

8 PESSOA EM GESTALT-TERAPIA: REVISITANDO O CAMINHO.


SUMMUS EDITORIAL, 2011.

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