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UNIÃO E
CONCENTRAÇÃO,
VA M O S A O C E N T R O !

Autoria e Direção Geral: Caio Felix

Edição e Revisão: Mayara Pavanato

Identidade Visual: Henry Kage

Design Gráfico: Raphael Gaiani e Caio Felix

Agradecimentos especiais: À Gabriela, Aeon, Izi, Nice,


Radha-Krishna, S.B. Atulananda Acharya Maharaj,
Profª Rosanne Sabbag, Dr. Fabio Villar, Prof. Dr. Roberto Rosas,
Daniel Starling, Dra. Nathália Gaiani, Leonardo Coletti,
Lucas Porto, Lizzie Garcia, Tatiane J. Odorizzi, Cristina Lentz,
todos meu professores, amigos, irmãos, alunos e clientes que
direta ou indiretamente participaram desse trabalho.

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BOAS VINDAS!

Se você chegou até aqui, imagino que


as mandalas te despertam algo,
certo? Seja por um encantamento
estético, seja por alguma conexão
invisível, como um imã hipnótico, que
remexe com os seus sentimentos, ou
simplesmente a curiosidade para
saber mais sobre esse símbolo da
totalidade.

O que não podemos negar é que o


poder das mandalas está presente
desde a antiguidade, no micro e no
macro espaços, ultrapassando as
barreiras do tempo e apresentando-
se como um desafio ao nosso
entendimento racional.

E N TÃO P R E PA R E - S E

Com concentração, profundidade


teórica e leveza vamos viajar
brevemente pelo símbolo de uma

4
totalidade que não cabe em nossos
pensamentos, mas está presente em
cada átomo de nosso corpo, em cada
subpartícula de TUDO.

Permita-me lhe conduzir por esse


estudo quase que poético, a fim de
dar voltas em torno do misterioso
Centro, não apenas com a mente,
mas também com o coração.
Evite quaisquer distrações.
Serei sua companhia nessa linda
jornada.

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SOBRE O AUTOR

Caio Felix é artista e designer


multimídia, pós-graduando em
Arteterapia e Bacharel em
Comunicação Social (Faculdade
Paulus de Tecnologia e Comunicação).
Criou o Projeto EAI de Educação
e Artes Integradas em 2009,
moldado a partir da extensão em
Ciências Sociais que participou na
USP, tendo Paulo Freire e Augusto
Boal como principais inspiradores.

Viveu em um templo de origem


filosófica védica (clássica da Índia),
onde residiu 4 anos como estudante

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monástico celibatário, também
sendo presidente/diretor do Centro
Cultural Vrinda de Florianópolis.
Participou como estudante de
Psicologia Analítica no Núcleo
Junguiano de Florianópolis de 2014
a 2020, onde aprofundou seus
estudos sobre os símbolos e a alma.

Atualmente, apresenta cursos e


palestras on-line, além de viajar
o Brasil com suas mandalas e
oficinas arte-expressivas para
diversos públicos e perfis. Seu
objetivo maior é servir à humanidade
e auxiliar o encontro do ser com
sua identidade original, usando a
arte e os círculos mágicos como
ferramentas de auto-realização.

Acima de tudo, Caio é uma alma em


construção, que se dedica na prática
de seus estudos e agora aspira a te
apresentar novos horizontes nesse
tema tão rico quanto poderoso: as
mandalas e seus reflexos.

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PREFÁCIO

Como e por onde começar a falar sobre


o todo infinito? Quais são as palavras
ou imagens que podemos usar para
expressar o supremo Centro, o Núcleo,
de onde tudo veio, para onde tudo vai
e onde tudo permanece?

Sinto que esse é meu desafio para


toda a vida, mas neste material farei
um humilde ensaio a partir de meus
estudos e, acima de tudo, da minha
experiência prática com a magia dos
círculos, não apenas pessoal, mas em
tantos irmãos e irmãs que foram
meus alunos ou atendidos.

Para isso, contei com o referencial


teórico de grandes professores
que também se dispuseram a
compreender o poder das mandalas,
como o psiquiatra suíço e fundador
da Psicologia Analítica, Carl Gustav
Jung (1875-1961);

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o mitologista, escritor e professor
universitário norte-americano,
Joseph Cambpell (1904-1987); a
psiquiatra brasileira Nise da Silveira
(1905-1999), o psiquiatra e escritor
Edward F. Edinger (1922-1998), entre
outros autores relacionados.

“ Já que em todo
centro há outro
centro, só nos resta
dançar em círculos
em torno desse
grande mistério
que é a totalidade.

– Caio Felix

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CAPÍTULOS NO EBOOK COMPLETO

Além dos capítulos acima descritos


apresentados com mais profundidade,
no e-book completo você ganhará
acesso a muito mais, com bônus extras
e os capítulos:

• A ação;
• Médico, cura-te a ti mesmo
• O sangue e o ciclo da vida
• O círculo
• Os 3 centros
• Mandalas, ego e inconsciente
• Mandalas e as Leis Herméticas
• Como funciona o processo com
mandalas
• A criação de padrões e simetria
• Mandalas: guerra e paz entre opostos
• Conclusão
• Bibliografia

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MANDALA: O ESPELHO DA ALMA
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P O R C A I O F E L I X – V E R S Ã O G R AT U I TA
O trabalho com mandalas tem um
enorme potencial, que pode ser
explorado desde a simples observação
até a produção arte expressiva.
Essa jornada, quando trilhada com
profundidade, conduzida por um
profissional ou de forma intuitiva, pode
revelar diversos benefícios.

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11 BENEFÍCIOS

1_ Desenvolvimento da criatividade;
2_Concentração, foco e equilíbrio;
3_Organização de conteúdos
psíquicos;
4_Observação de padrões pessoais
inconscientes;
5_Promoção de autoconhecimento
e reflexão sobre si-mesmo(a);
6_Potencialização do processo de
individuação (auto-realização);
7_Contato com parcelas mais sutis
do ser;
8_Desenvolvimento da intuição;
9_Insights e resoluções sobre
temas em andamento;
10_Compreensão análoga do todo,
material e espiritual;
11_Auxílio como terapia
complementar para casos de
ansiedade, depressão, stress e vazio
existencial.

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Chamo este e-book de “Espelho da
Alma” exatamente pela oportunidade
que os círculos mágicos possibilitam:
nos refletirmos por dentro e por fora,
para depois fazermos os reparos
necessários.

Aqui, vale ressaltar que a palavra


“reparo” pode ser entendida em
seus dois sentidos: o de constatação
como verificação, e o de restauração
como transformação, visando a
harmonização do caos.

Nos próximos capítulos, desbravaremos


novas camadas desta possibilidade,
mas já é possível perceber que os
benefícios das mandalas têm algo
em comum: um grande potencial
terapêutico, que pode ser trabalhado
por psicólogos, artistas, educadores,
arteterapeutas e, claro, todos aqueles
que tiverem interesse.

21

O círculo é uma
das grandes imagens
primordiais da
humanidade.
Ao considerar a
simbologia do círculo,
analisamos o nosso eu.”
Pensamento de C.G. Jung citado por
Joseph Campbell durante a série
documental O Poder do Mito, de 1988

Seja você especialista ou não, a


minha intenção aqui é expandir sua
perspectiva, a ponto de conseguir ver
o infinito, ainda que “emoldurado”.

Veremos adiante que as mandalas


podem ser comparadas com panelas,
por exemplo: um vaso alquímico
sagrado, que contém as preparações
de alimentos, organizadas pela figura
do alquimista ou do cozinheiro(a).

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Isso quer dizer que, embora estejamos
falando de um mesmo “modelo” ou
“fôrma” das expressões circulares
comuns à humanidade desde seus
primórdios, estamos falando de
algo extremamente pessoal e, ao
mesmo tempo, universal nas mesmas
proporções.


O círculo representa
uma totalidade.
Dentro dele fica uma
coisa circunscrita,
emoldurada...
De alguma forma,
o círculo sugere
imediatamente uma
totalidade completa
no tempo ou no espaço.”
Joseph Campbell
durante a série documental
O Poder do Mito, de 1988

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As mandalas são símbolos capazes
de abrigar e acolher muitas ideias,
reflexões, experiências, sentimentos
e sensações, ou seja, capazes de
refletir a nossa alma, desde a intuição
mais sutil, ao corpo mais denso.
Alma essa que oraconhecemos, e
ora desconhecemos profundamente,
assim como o sol que ilumina o dia e
sombreia a noite.

Mais adiante, veremos que esses


círculos mágicos representam a
oportunidade de captarmos “quadros”
de quem somos, da nossa existência
enquanto indivíduos e também das
nossas memórias coletivas mais


remotas.

A mandala, assim como a


magia de outros símbolos,
serve de veículo para
o inconsciente
se expressar.”
C.G. Jung em
“O Segredo da Flor de Ouro”

24
Ou seja, o poder presente nas
mandalas não nos movimenta
apenas ao redor do entendimento
racional. Pelo contrário, sua mágica
é especialmente maior nas camadas
mais profundas da nossa psique, onde
temos a chance de ficar frente a frente
com imagens do nosso inconsciente.

Quer saber de que mágica estamos


falando? Sigamos.

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MANDALA: O ESPELHO DA ALMA
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P O R C A I O F E L I X – V E R S Ã O G R AT U I TA
Uma etapa importante e fundamental
neste momento é compreendermos
a origem da palavra “mandalas”.
Com isso, desde sua etimologia
fundamental, poderemos dar rumo à
nossa meditação sobre o tema.

Trata-se de um percurso repleto de


significados, tão antigos quanto ricos,
que nos conduzem por diferentes
imagens e reflexões. Tais imagens
serão importantes ao longo deste
e-book, pois serão como guias
nesse mergulho que estamos
experienciando.

A origem do termo “mandalas” vem do


sânscrito, a complexa língua clássica
da Índia e uma das mais antigas da
humanidade. Diz-se que todas as
palavras neste código servem para
apresentar e comunicar mensagens
sobre Deus.

Para “mandala” há diversas traduções


possíveis, sendo que a mais simples e
conhecida significa “Círculo Mágico”.
Tal significado é facilmente encontrado

27
nas traduções oferecidas pelo Google,
mas não é só isso. Mandala também é
uma forma geométrica específica, que
está inserida no contexto do Tantra.
Muito além das técnicas sexuais que
tornaram o termo especialmente
famoso, o Tantra pode ser entendido
como um complexo filosófico, que faz
parte da cultura indiana pós-védica e
busca a libertação da alma.
Essa ideia se faz presente na sua
etimologia: Tantra significa “tat-tra”,
sendo “tat” traduzida por “isso” e “tra”
traduzida por “cruzar” ou “libertar-
se”. Unidas, essas sílabas podem ser
compreendidas como “libertar-se
disso” ou “cruzar esse mundo”.

Voltando à palavra “mandala”, vamos


dividi-la para melhor compreensão.

“Man”
pode ser traduzida como
“mente” e/ou “coração”;
“Da” tem o mesmo sentido que na
língua portuguesa, de pertencimento;
“La” se refere à “lila”, que significa
“jogo”, “passatempo”, “dança”;

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Unindo todos os significados,
chegamos à ideia de que “mandala”
pode ser entendida como:

“aquilo que permite que a mente e o


coração se unam no jogo da vida”, ou
ainda
“o que te permite entrar no sentido da
vida”.

Outra palavra que podemos usar


para exemplificar é “MANTRA”.

“Man”: “mente” e/ou “coração”


“Tra”: “cruzar” ou “liberta-se”

Dessa forma, “mantra” pode ser


entendido como “o que liberta a mente
e o coração”.

Também é importante destacar que


cada palavra em sânscrito pode ter
muitos significados possíveis. Suas
traduções e interpretações variam
de acordo com o contexto, e por
isso podemos desdobrar a palavra
“MANDALA” mais uma vez.

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“Dala”, por exemplo, tem diversos
significados, como “pétala”, “fração”,
“porção”, “metade”, “pedaço”, “folha” e
“desprendimento”.

Ora, nessa perspectiva, as mandalas


nos trazem uma ideia de desapego,
além de serem instrumentos para nos
libertar de nossos traumas e tensões
desde a sua essência linguística.

Além disso, também podemos dividi-la


da seguinte forma:

“Man”: “mente” e/ou “coração”


“Dala”: “pétala”, “fração”, “porção”,
“metade”, “pedaço”, “folha” e “despren-
dimento”

Ou seja,

“pétalas em torno
da mente e do
coração, que nos
convidam à essência
da vida.”

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Percebeu de qual riqueza de
significados estamos falando? De
uma tradição antiquíssima que já
considerava a real magia destes
c í r c u l o s . S e u n o m e , “ m a n d a l a ”,
também acolhe diversas ideias,
sentimentos e sensações, mas sempre
com algo em comum: a união entre
mente e coração.

Estamos falando de algo que


resistiu gerações após gerações,
e ainda estamos em processo, em
um movimento de “aproximar-se
circundando”, também chamado, no
latim, de circumambulatio.

Para o Dr. Jung, por exemplo, a


definição da circulação é como:


mover-se em torno
de si mesmo, de modo
que todos os lados da
personalidade sejam

envolvidos
Trecho da obra “O Segredo da
Flor de Ouro”

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Mas quais lados da personalidade?
Bem, por serem espelhos da nossa
alma, podemos considerar todos.
Especialmente aqueles que se
alternam entre polos.

Podemos pensar, por exemplo, em luz


e sombra, aceso e apagado, quente e
frio, feliz e triste, sagrado e profano,
ou quaisquer outros tantos pares de
opostos complementares.

E é neste movimento mandáli-


co, circular, que também de-
limitamos a área sagrada, e


nos aproximamos dela pela
concentração.

Movimento circular
também tem significado
moral da vivificação de
todas as forças luminosas
e obscuras da natureza
humana, arrastando com “
ela todos os pares de
opostos psicológicos
Carl Gustav Jung na obra
“O Segredo da Flor de Ouro”

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União dos opostos não
é uma questão racional
ou de vontade, mas
um processo de
desenvolvimento
psíquico que se

exprime em símbolos
Carl Gustav Jung na obra “O
Segredo da Flor de Ouro”

Sobre o amplo conceito de Deus e da


totalidade a partir da filosofia védica,
trato de forma mais aprofundada no
capítulo “Os 3 Centros”, presente na
obra completa e/ou impressa.

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MANDALA: O ESPELHO DA ALMA
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P O R C A I O F E L I X – V E R S Ã O G R AT U I TA
Além de todos os benefícios que o
trabalho com mandalas pode nos
proporcionar, considero que a maior
riqueza é o seu potencial de retratar o
que há de mais íntimo e profundo em
cada um de nós.

Falamos brevemente sobre quadros,


panelas e “uma coisa emoldurada”,
mas convido você a pensar nas
mandalas como espelhos novamente.
Colocados diante de indivíduos, de
pessoas diferentes e complexas, eles
refletem o fluxo do inconsciente único
e profundo de cada sujeito.

Diante desse espelho, estamos


diante dos nossos pensamentos,
sentimentos, sensações e intuições,
sempre com suas oposições entre si,
como escrito antes. Neste movimento
de alternação entre polos, percebemos
que somos parte do processo,
pois, enquanto as mandalas são
compostas, elas também compõem
o seu autor. Ou seja, à medida que
o sujeito a transforma, transforma
também a si mesmo.

35

“Ao elaborar uma
mandala para si mesmo,
enquanto você desenha
um círculo, você pensa
nos diferentes sistemas
de impulso da sua vida,
nos diferentes sistemas
de valores da sua vida,
e tenta compor todos
eles. Tenta encontrar o
centro. É uma disciplina,
para juntar esses
aspectos diversos.
Encontrar o centro e
organizar-se de acordo
com ele. Assim, você “
tenta coordenar o seu
círculo com o círculo
universal. No centro.
Joseph Campbell na série
documental O Poder do Mito,
de 1988

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MANDALA: O ESPELHO DA ALMA
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P O R C A I O F E L I X – V E R S Ã O G R AT U I TA
As mandalas são justamente como os
“quadros” ou frames de que falamos.
Enquanto produzidas, revelam
aspectos do nosso ser, como uma
“fotografia mágica” do filme que é
nossa vida e energia psíquica.

Isso também quer dizer que, para


sermos capazes de compreender um
capítulo ou um episódio, é preciso unir
uma cena atrás da outra, em uma
sequência, se possível, cronológica.
Não basta analisar uma única
mandala para concluir algo tão
complexo.

E esse é o trajeto considerado ideal e


respeitoso no trabalho de análise da
produção com mandalas e arte em
geral, seja própria ou em aplicação
profissional, feita por terapeutas
ou educadores. É preciso, antes
de analisá-las, observá-las em
movimento, em processo, em círculos
contínuos e ordenados.

38

As mandalas
comunicam as mais
íntimas informações
sobre nós mesmos em
códigos complexos,
em uma linguagem
simbólica e muito
profunda. Tentar
lê-las em um plano
cartesiano, com x e
y definidos, tal como

se lê um dicionário é
uma grande tolice ou
charlatanismo.
Caio Felix

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MANDALA: O ESPELHO DA ALMA
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P O R C A I O F E L I X – V E R S Ã O G R AT U I TA
Todo esse processo de descobertas
intensifica o que a filosofia védica
chama de “Auto-realização” e que o
Dr. C.G. Jung denominou de “processo
de individuação”, do latim “principium
individuationis”.

Tratam-se de conceitos muito


importantes e amplos, mas que por
hora relacionaremos ao seu resumo,
ou seja, na ampliação da consciência
de si-mesmo em sua totalidade.

Para compreendermos um de seus


aspectos simbólicos básicos, imagine
o seguinte:

Cada mandala pode ser representada


como uma panela vazia e neutra, po-
tencial para a preparação de diversos
tipos de comida ou até medicinas.

É nesse lugar onde podemos misturar


os alimentos que nos fornecem ener-
gia, matam nossa fome, satisfazem
nossos desejos. A figura do alquimista
se apresenta como aquele que conduz
o processo e as operações entre ele-

41
mentos dentro dessa mandala-pane-
la. Normalmente, usa-se água (solutio)
para a dissolução, fusão ou hidratação
dos alimentos que vêm da terra (coag-
ulatio), os expondo a mais ou menos
ar (sublimatio) e, claro, ao fogo (calci-
natio), que pode aquecer ou queimar
todo o processo.

Para compreendermos um de seus


aspectos simbólicos básicos, imagine
o seguinte:

Cada mandala pode ser representada


como uma panela vazia e neutra, po-
tencial para a preparação de diversos
tipos de comida ou até medicinas.

É nesse lugar onde podemos misturar


os alimentos que nos fornecem ener-
gia, matam nossa fome, satisfazem
nossos desejos. A figura do alquimista
se apresenta como aquele que conduz
o processo e as operações entre ele-
mentos dentro dessa mandala-pane-
la. Normalmente, usa-se água (solutio)
para a dissolução, fusão ou hidratação
dos alimentos que vêm da terra (coag-

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ulatio), os expondo a mais ou menos
ar (sublimatio) e, claro, ao fogo (calci-
natio), que pode aquecer ou queimar
todo o processo.


O mandala é o centro.
É o expoente de todos os
caminhos...É o caminho “
para o centro, para a
individuação.
Carl Gustav Jung na obra
“Memórias, Sonhos e Reflexões”,
de 1961

Por mais que você tenha um único re-


cipiente, uma única forma, nenhuma
preparação será igual, pois tudo de-
pende do que vamos colocar na
panela e de quem a opera. Quais
ingredientes serão escolhidos
e quais esquecidos? Quais
serão as intenções deposita-
das nesse preparo? Cada es-
colha resultará em algo par-
ticular e diferente para cada
indivíduo. Porque mesmo com
receitas idênticas, você e seus
amigos não cozinham da mesma
maneira. O mesmo se passa duran-
te o processo análogo com mandalas.
43
MANDALA: O ESPELHO DA ALMA
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P O R C A I O F E L I X – V E R S Ã O G R AT U I TA
Até aqui, é provável que você já tenha
percebido que as mandalas podem
fazer parte de muitas e muitas analo-
gias. Podemos pensar no formato cir-
cular desde os óvulos de nossas mães,
dos nossos olhos, dos átomos pre-
sentes em tudo, até os maiores plane-
tas e estrelas do universo. Todos apre-
sentam formas circulares.

Neste momento, observe rapidamente


o ambiente ao seu redor e você tam-
bém perceberá que está rodeado(a)
de objetos circulares.

Aproveite para refletir sobre outros cír-


culos e verá que estão por toda parte.


Deus é uma esfera (ou
círculo) espiritual cujo
centro está em toda parte “
e cuja periferia não está
em lugar nenhum
Nicolau de Cusa (1401-1464)

45
Podemos tentar nos lembrar, inclu-
sive, de quando éramos bebês. Pense
nos mamilos maternos, essa área cir-
cular composta por periferia e centro,
e dos quais dependíamos totalmente.
Você pode considerar somente o as-
pecto alimentar, bioquímico, mas não
podemos esquecer dos afetos envolvi-
dos e da nutrição do amor.

A analogia da relação entre as man-


dalas e mamilos é muito importante,
pois compara o momento em que es-
távamos no colo de nossas mães, re-
cebendo um alimento por meio destes
círculos, olhando para aquela mulher,
a grande mãe: a primeira imagem de
Deus.

O que quero dizer é que, potencial-


mente, as mandalas estão em tudo, do
micro ao macro cosmos. Seja de forma
consciente ou inconsciente, elas fazem
parte da história da humanidade ao
redor do mundo, desde tempos tão re-
motos que não somos capazes sequer
de precisar.

46

À medida que os filhos
crescem, a mãe deve
diminuir de tamanho.
Mas a tendência da

gente é continuar a ser
enorme.
Clarisse Lispector

O que quero dizer é que, potencial-


mente, as mandalas estão em tudo, do
micro ao macro cosmos. Seja de forma
consciente ou inconsciente, elas fazem
parte da história da humanidade ao
redor do mundo, desde tempos tão re-
motos que não somos capazes sequer
de precisar.

47

Essas coisas não podem
ser inventadas, devendo
ressurgir de profundezas
esquecidas para expressar
as mais elevadas percepções
da consciência e as mais
sublimes intuições do
espírito, unindo assim
o caráter singular da
consciência moderna “
com o passado milenar
da humanidade
Carl Gustav Jung em sua obra “O
Homem e Seus Símbolos”, de 1964

A frase de Jung recém citada encontra


embasamentos em diversos capítulos
da história humana.

E se estamos falando de algo que ul-


trapassou barreiras do espaço-tempo
e se fez presente em todos os lugares,
ao longo de gerações e gerações, es-
tamos falando de um símbolo que faz
jus ao seu significado essencial:
Círculo Mágico.

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MANDALA: O ESPELHO DA ALMA
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P O R C A I O F E L I X – V E R S Ã O G R AT U I TA
Agora mergulharemos em mais uma
camada do Infinito, ainda que partic-
ular. Estamos falando sobre o nosso
inconsciente, amplamente estudado
pelo pai da Psicologia Analítica, Carl
Gustav Jung.

Jung considerou diversos aspectos


sobre as mandalas, mas sempre le-
vando em consideração a sua relação
com a psique. Ele chegou inclusive a
registrar seus próprios círculos mági-
cos, que produziu pessoalmente e dos
quais relatou o seguinte:

“Meus mandalas eram criptogramas


relativos aos estados do self (...) Eu
tinha a nítida sensação de que eram al-
guma coisa básica e, na época, adqui-
ri com elas uma vívida concepção do
self. O self, pensei, era como a môna-
da que eu sou, e que é o meu mundo.
O mandala representa a mônada e
corresponde à natureza microscópi-
ca da psique...”

50

[...], todas as manhãs,
esboçava um pequeno
desenho de forma redonda,
uma mandala, que parecia
corresponder à minha
situação anterior
[...]. Só pouco a pouco
compreendi que significa
propriamente a mandala
[...]. A mandala exprime o“
Si-mesmo, a totalidade da
personalidade
C.G. Jung na obra “Memórias,
Sonhos, Reflexões”, de 1961

Se compreendemos que as mandalas


simbolizam a conexão entre o
consciente e o inconsciente, de forma
coletiva e individual, estamos agora
diante de um convite para atravessá-
las, usá-las como um portal para nós
mesmos.

Segundo Jung, o espaço mandálico


representa um refúgio seguro
para a turbulenta jornada da

51
individuação, onde também abriga-
se a possibilidade de reconciliação e
representação de si-mesmo.

De gerações em gerações, as mandalas


se tornaram imagens arquetípicas
(formas primordiais) para nós, capazes
de nos mostrar onde está presente
a ordem, a integração e a plenitude
psíquica.

Ora, em meio aos processos dos


nossos traumas e tensões, a nossa
psique parece fazer um esforço
natural de autocura, buscando
atender à necessidade de orientação
psíquica do ser humano. E eis que os
círculos mágicos são essa conexão.

Além disso, o círculo também é um


símbolo do Self, e expressa a
totalidade da psique em todos os
sentidos. Ou seja, o círculo indica o
aspecto considerado mais importante
da vida, a integração do ser em sua
totalidade.

52
MANDALA: O ESPELHO DA ALMA
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P O R C A I O F E L I X – V E R S Ã O G R AT U I TA
Seguindo o mesmo movimento,
notamos que os círculos mágicos
são capazes de conservar a ordem
de nossos pensamentos, ao mesmo
tempo em que podem restabelecê-la,
caso tenha dispersado-se.

Isso nos lembra algo que vimos lá


no começo deste e-book gratuito,
quando falamos sobre os dois
sentidos de “reparos”: o de
constatação e o de restauração. O
contexto dessa palavra era de que as
mandalas são a oportunidade de nos
observarmos por dentro, para depois,
por fora poderemos fazer as mudanças
necessárias.

A doutora Nise Magalhães da Silveira


(1905-1999), médica psiquiatra
brasileira e contemporânea de Jung,
tem um trabalho brilhante nesse
sentido.

A partir da arte expressão, ela


demonstrou em suas pesquisas
casos reais do restabelecimento
da ordem psíquica com pacientes

54
esquizofrênicos.
Nise fez parte do corpo clínico do
Hospital Pedro II, no Rio de Janeiro,
a partir de 1944. Dois anos depois,
ela fundou o Serviço de Terapia
Ocupacional, onde revolucionou a
forma de tratamento, trabalhando
com arte e mandalas.


As imagens do círculo
pintadas no Engenho de
Dentro eram realmente
mandalas. E davam
forma e força ao
inconsciente, que buscava
compensar a dissociação
esquizofrênica. Eu me via
diante de uma abertura “
nova para a compreensão
da esquizofrenia.
Nilse da Silveira na obra “Imagens
do Inconsciente”, de 1988

55
Para entendermos um pouco melhor
o trabalho de Nise da Silveira, vamos
partir de um rápido entendimento
sobre o que é a esquizofrenia. Em
resumo, ela pode ser entendida
como uma psicose, que aponta uma
fratura, ruptura ou cisão psíquica, e
que acarreta uma série de sintomas,
como afastamento social, anestesia
afetiva, delírios, alucinações, entre
outros.

Naquele contexto, em plena década


de 40, no Rio de Janeiro, a Doutora
Nise manifestou-se radicalmente
contra os tratamentos da época, com
métodos baseados em eletrochoques,
confinamento e lobotomia.
Ao invés disso, ofereceu materiais
como pincéis, argila, tintas e telas
brancas, aos pacientes, ou clientes,
como ela costumava chamar.

Ao analisar as produções, a psiquiatra


encontrou obras incrivelmente ricas
e que podem ser consideradas
artísticas. E para além disso, a Doutora
Nise também encontrou mandalas.

56
O que foi mais surpreendente é que
nada foi indicado ou sugerido aos
pacientes/clientes. Suas criações
eram livres, como múltiplas formas
de automanifestação. O universal e
o particular, unidos novamente na
magia dos círculos.
A doutora Nise era contemporânea
de Jung. Mais do que isso, referia-
se a ele como seu mestre, visto que
trocaram diversas correspondências
em que imagens e textos foram
compartilhados. Com o surgimento
das imagens mandálicas entre as
produções do Serviço de Terapia
Ocupacional, ela escreveu:

“Imagens circulares
ou tendendo ao círculo,
algumas irregulares,outras
de estrutura bastante
complexa e harmoniosa,
impunham sua presença na
produção espontânea dos
frequentadores do atelier
do hospital psiquiátrico”
Carta de Nise para Jung, datada em 12 de novembro de 1954

57
Pouco tempo depois,
a resposta chegou:

“ Os desenhos têm uma


incrível regularidade, o
que é raro nos desenhos
esquizofrênicos; isso
demonstra uma forte
tendência do inconsciente “
em formar uma compensação
ao caos do consciente
Carta de Jung para Nise, datada
em 15 de dezembro de 1954

E para fecharmos esse capítulo, pro-


ponho uma reflexão acerca do que a
Dra. Nise considerou sobre a linguagem:

“ Os pacientes e clientes
estão se comunicando
numa outra linguagem,
uma língua esquecida
por nós e que precisamos
reaprender. Essas “
imagens são imagens
do inconsciente.
58
Você já parou para pensar na im-
portância da linguagem? Seja ela ver-
bal ou não-verbal, os seres humanos se
comunicam. A comunicação é essen-
cialmente o fundamento de qualquer
estrutura cultural e tecnológica.

O que a Doutora Nise nos desperta é a


curiosidade, científica ou intuitiva, so-
bre qual é essa língua que esquece-
mos. Essa que devemos reaprender.

Dra. Nise e Dr. Jung


no congresso internacional
de psiquiatria em Zurique (1957)

59
A partir da trans-forma-ação e do
símbolo somos capazes de movimen-
tar o Infinito, ir ao encontro ao Centro
e, aos poucos, captar a essência do
nosso próprio Ser.

Caso você queira conhecer um pouco


mais sobre a trajetória dessa brilhan-
te psiquiatra brasileira, eu recomendo
assistir ao filme “Nise: o Coração da
Loucura”.

60
MANDALA: O ESPELHO DA ALMA
61
P O R C A I O F E L I X – V E R S Ã O G R AT U I TA
Nesta jornada inicial pelo universo
das mandalas, quis apresentar para
você um breve resumo dos seus
potenciais, numa espécie de iniciação
sobre o símbolo do Centro Infinito.

É sempre um desafio falar sobre


algo tão profundo e grandioso, mas
é justamente aí que encontramos a
chave deste trabalho que considero
tão especial.

Partindo da sua motivação inicial,


percorremos um caminho ao longo
dos benefícios e potenciais das
mandalas. Desbravamos e revelamos
muitos pontos de vista. Percorremos
toda sua memória arquetípica,
desde as imagens primordiais da
humanidade, por algumas analogias
didáticas e simbólicas para a sutil
compreensão do micro ao macro e,
claro, da conexão entre o consciente e
o inconsciente.

62
Espero que com este material você
tenha desnudado alguns dos véus
que cobrem esse círculo sagrado,
presente não apenas em expressões
artísticas, mas em tudo ao nosso
redor.

Neste momento, sinto que estamos


prontos para dar mais um passo
importante.

VAMOS!

63
O ebook completo e o livro físico “Man-
dala: o Espelho da Alma e seus Re-
flexos na Arte Expressão” guardam
desdobramentos do que foi apresen-
tado aqui. A obra aborda os temas
trabalhados nesta versão, porém com
diversos novos capítulos e possibilitan-
do maior amplitude. Lá também está
descrita toda a bibliografia para que
você siga seus estudos.

Será mais uma ferramenta impor-


tante nesse processo de descobertas
e revelações sobre nós mesmos e o
mundo que nos cerca.

64
65
66
“ Já que em todo centro
tem outro centro, nesse
campo infinito e misterioso
da totalidade, só nos resta

dançar rodando em círculos
Caio Felix
67
MANDALA: O ESPELHO DA ALMA
68
P O R C A I O F E L I X – V E R S Ã O G R AT U I TA
MÃOS À MASSA!

Agora que você já navegou pelo


universo das mandalas, chegou a
hora de mergulhar e colocar as mãos
na massa.
Para compreender melhor todo esse
processo simbólico, gostaria de propor
dois exercícios simples e práticos.

ATENÇÃO!

Não é necessária qualquer experiência


prévia com artes. Se você acha que
não consegue, que arte não é pra você,
ou se sente travado(a). Por favor, clique
abaixo e entenda mais sobre isso.

69
MATERIAIS BÁSICOS

Tenha em mãos:

- folha sulfite;
- régua;
- lápis grafite e borracha;
- lápis de cor;
- compasso (caso não tenha, use
copos, pratos ou o que puder servir
como molde circular)

Quaisquer outros materiais à sua


escolha serão bem-vindos!

70
PERMITA-SE !!!

Encontre seu espaço reservado de


intimidade e, em silêncio, flua sem
cobranças. Neste trabalho não existe
bonito ou feio, certo ou errado.
Você não precisa provar nada para
ninguém.

71
EXERCÍCIO 1
Mandala Intuitiva com desenho livre

Muito simples! Em uma folha em bran-


co, use o compasso para traçar um
círculo, onde e do tamanho que você
quiser. Depois, feche os olhos, respire
fundo e aguarde até que uma ima-
gem brote na sua visão interna. Quan-
do isso acontecer, não resista. Abra
seus olhos e desenvolva seu desenho.
Deixe fluir. Sem preconceitos, sem jul-
gamentos... só desenhe.

Ao final, é importante que você


escreva seu nome, o nome do seu
trabalho e a data atrás do papel.

Repita o processo quantas vezes


quiser, sempre lembrando desse
detalhe de arquivamento, caso
queira observar seu desenvolvimento
de forma cronológica depois.

72
EXERCÍCIO 2
Mandala simétrica

1- Corte o sulfite A4
na mesma distância
entre largura e altura,
criando um quadrado;

2- Trace 2 riscos
diagonais, de ponta a
ponta, formando um X;

3- Meça a metade de
cada uma das 4 faces
do quadrado para
depois traçar 2 retas,
formando uma Cruz +

4- Use o compasso para


traçar quantos círculos
quiser desde o CENTRO
da mandala;

73
PRONTO!

Essa é a estrutura mais simples e bási-


ca para sua primeira mandala simétri-
ca. Agora use as linhas, os “gominhos”,
os elos, as intersecções e os espaços
como um esqueleto para o corpo de
sua mandala. Desenvolva seus pa-
drões volta à volta e perceba que, ao
passo que você avance, novas portas
de oportunidade se abrirão.

74
75
CRIE sem medo ou restrições.
O espaço vazio guarda todas as possi-
bilidades. Mas não se assuste. Comece
do começo, do simples, e o caminho se
mostrará naturalmente ao passo que
você caminhar.

PERMITA-SE e boa jornada!!!

Caso deseje atendimento particular


para a observação de suas mandalas,
entre em contato diretamente comigo
pelo Whatsapp.

U I E MA
Q N
A
C LI Q UE

DE
UMA M
E

NS
AGEM

76
Foi, é, e sempre será um grande praz-
er estar com você nessa concentração.
Prestar esse serviço e contribuir em
nome desse símbolo tão profundo e
potencial é a minha grande missão
nessa vida e hoje você me permite
cumprir meu dharma.

Espero que tenha gostado e que siga-


mos estudando juntos.
77
78
Quero muito saber o que você
achou desse ebook. Responda
ao formulário e contribua com
apenas 1 minuto.

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