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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Formando
Seres Integrais

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Formando
Seres Integrais

RENATO LESSA PEREIRA

Edição Independente

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

ISBN
978-85-5697-498-3

Título
Formando seres integrais

Primeira Edição

Ano Edição
2018

Tipo de Suporte

E-book – PDF

Conheça o site
www.autocuraintegral.com.br

Arte Capa e Diagramação


Marcelo Gomes Graciolli
www.marcelogomes.design

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Apresentação Autor

Renato Lessa Pereira


Formação em Psicanálise Junguiana
Formação e especialização em Programação Neurolinguística (PNL)
Formação e especialização em Hipnose Clínica
Pós-Graduação Internacional (EU) em Neuropsicologia Clínica
Membro da Sociedade Portuguesa de Neurociências
Membro da Associação Nacional de Psicanálise Clínica
Cofundador do projeto Minutos de Luz
Cofundador do projeto AutoCura Integral
Coach, empresário, escritor e orador luso-brasileiro, pai de 3 filhos

Renato Lessa Pereira é formado em Psicanálise Junguiana, com especialização em


Programação Neurolinguística ((PNL) e Hipnose Clínica. Se pós-graduou
internacionalmente em Neuropsicologia Clínica, é Membro da Sociedade Portuguesa
de Neurociências e da Associação Brasileira de Psicanálise Clínica. É co-fundador do
Projeto Minutos de Luz, que tem feito sucesso em redes sociais com vídeos curtos sobre
temas diversos. Também co-criou o projeto Auto Cura Integral, do qual este livro faz
parte, e trabalha com Coach, é Empresário, Escritor e Orador. É brasileiro, casado e pai
de três filhos, que ele busca formar como seres integrais.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Formando Seres Integrais


Ao completar a leitura deste livro você será capaz de mapear seu filho, detectar
mentiras e incongruências, identificar padrões e preferências de comunicação, praticar
comandos hipnóticos, entender a origem e modificar os comportamentos inadequados,
remover e evitar a formação de bloqueios ou crenças limitantes, entre muitas outras
técnicas.

Desafio você a não desejar a formação de seu filho de forma integral, de modo a
tornar-se um ser pleno e preparado para os combates do mundo interior e exterior.

Devo dizer-lhe, antes de tudo, que entendo o quão árduo é o desafio de


educarmos almas nesse momento desafiador que vivemos. Por isso, parabenizo-o por
estar buscando mais essa alternativa de apoio.

O que motivou a elaboração deste livro foi o desejo de contribuir de alguma


forma na construção de um mundo melhor através do aprimoramento do ser que
começa no início da jornada infantil.

Tenha a certeza de que esse trabalho tem sido realizado à luz de experiências
próprias como pai e profissional dedicado ao auxílio da alma, com muita dedicação,
estudo e amor.

No decorrer desta obra você encontrará um mundo novo que está surgindo da
integração dos campos que estudam a psique humana, a física, a fisiologia e a
neurociência.

Acredito que estamos no momento de unirmos forças e integrarmos o


conhecimento de cada área visando a cura do ser de forma integral, voltando os olhos
simultaneamente para as correntes que tratam do corpo, mente e espírito.

Também devemos alertar-lhe que o conteúdo inserido em todo este trabalho


trará um conhecimento único aliado a técnicas poderosas que deverão ser utilizadas
com sabedoria e princípios morais de melhoria individual e coletiva.

Se você acredita não estar preparado para utilizar o conhecimento que será
apresentado apenas para pavimentação do caminho do bem, NÃO prossiga.

A essência do conteúdo que é oferecido tem como meta principal o


empoderamento e aparelhamento dos pais e educadores para auxílio na construção
moral, social e psicológica de seus maiores tesouros, os filhos.

Destaco “empoderamento” porque você terá ferramentas para tornar-se


independente e libertar-se do conceito de que as soluções estão fora de você.

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Evidente que no decorrer da leitura das páginas você perceberá a transformação


ocorrendo também dentro de si mesmo. Então, esteja preparado!

Ego, Self, Sombra, Persona, Complexos, Consciente, Inconsciente, Níveis


Neurológicos, Conhecimento Cerebral, comandos hipnóticos, persuasão, Programação
NeuroLinguística (PNL), Sistema de Crenças e Valores, física quântica, técnicas
terapêuticas, exercícios, dentre outras ferramentas, serão apresentados de forma
OBJETIVA.

Apesar de todo o livro estar calçado na prática clínica e busca científica através
de pesquisas e experimentos realizados, tudo foi escrito visando utilizar uma
linguagem simples e prática tentando evitar o uso excessivo de nomes e trabalhos
científicos que poderiam levar a uma leitura cansativa.

Certamente você manterá esse livro sempre perto, como um amigo íntimo, para
consultas futuras nos momentos em que as problemáticas aparecerem.

Saiba que não bastará apenas a leitura, se você deseja resultados efetivos, terá
que usar sua criatividade e buscar a prática em seu dia a dia. Lembre-se que você não
poderá mais alegar ignorância.

Esteja certo que algumas partes de você estarão transformadas ao final desta
aventura literária. Tem a minha palavra que se você permitir-se a introjeção dos
conteúdos a seguir, estará preparado para ser um dínamo construtor do mundo que
almejamos para nossos descendentes.

Boa leitura!

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Índice
Navegando pela Psique Humana............................................................................. 11
Consciente X Inconsciente .......................................................................................... 19
Entendendo um pouco mais os Complexos ............................................................ 26
A Herança dos Padrões Mentais ............................................................................... 38
Em busca da menor sombra possível ....................................................................... 43
Os 4 Cérebros ............................................................................................................... 52
As Pirâmides Fundamentais ...................................................................................... 65
Sistema de Crenças e Valores..................................................................................... 80
Escaneando seu filho ................................................................................................... 97
Conquistando a sintonia com seu filho .................................................................. 116
As ondas cerebrais ..................................................................................................... 127
O Tabu da Hipnose.................................................................................................... 130
Metáfora A Linguagem do Inconsciente ................................................................ 133
Hipnopedia ................................................................................................................. 142
Comandos Hipnóticos .............................................................................................. 146
O poder da Imaginação............................................................................................. 151
As Âncoras .................................................................................................................. 168
Usando as afirmações................................................................................................ 181
O poder dos hábitos na formação ........................................................................... 191
O Destruidor de Hábitos .......................................................................................... 223
O Semeador de Hábitos ............................................................................................ 226
Criando Mini-Hábitos para seu filho ...................................................................... 229
Técnicas Bônus ........................................................................................................... 236
Parem de drogar as nossas crianças ........................................................................ 259
A tríade do ser ............................................................................................................ 262
A Integração das Partes ............................................................................................ 282

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Navegando pela
Psique Humana

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Navegando pela Psique Humana


Muito bem, apresentações feitas é hora de começar nossa caminhada.

Toda caminhada seja ela curta ou longa, sempre começa com o primeiro passo.

Então aqui estamos, no primeiro passo. Vou tentar transmitir de forma simples
alguns dos principais conceitos que estão relacionados à psique humana.

PSIQUE vem do grego e quer dizer: “ALMA”. Não seria de espantar se eu


dissesse a você como isso pode ser vago e ao mesmo tempo tão abrangente.

De uma forma estranha, temos a percepção de que algo muito maior, além do
que percebemos, existe dentro de nós. É aquela afirmação que nos deixa confuso só de
imaginarmos: “Algo pensa dentro de mim”.

Entender um pouquinho do que já foi possível mapear pelos estudiosos da


filosofia e da psicologia é fundamental para prosseguirmos com a construção do
conhecimento que precisamos para os próximos passos.

Antes de seguirmos preciso esclarecer que existem linhas de pensamento


diferentes dentro da própria teoria psicanalítica, eu no caso, tenho preferência por uma
corrente de pensamento que mais me convenceu diante de minhas experiências,
estudos e atendimentos que realizei.

Quero deixar claro que qualquer intenção de transformar o sistema psíquico


humano em um esquema padronizado é no mínimo equivocada, isso porque estamos
tratando de um tema extremamente complexo sob todos os prismas.

O que as ciências dedicadas ao estudo da psique humana até hoje conseguiram


perceber, é que existe um modelo que se repete praticamente em todos nós.

Um modelo que sugere divisões como se fossem partes que se relacionam


dentro do mesmo ambiente e que já demonstram ao menos um caminho, um ponto de
partida, para seguirmos o estudo individualizado de cada um.

Apesar de ter preferência por uma corrente de pensamento, acredito que


precisamos estar sempre de mente aberta para as novas teorias e experimentos
realizados que vão a cada momento nos dando pistas para atingirmos cada vez mais o
mapa ideal da mente.

Além disso, existem técnicas que fazem sentido e trazem resultados bastante
assertivos em todas as correntes e teorias que estão se formando nos últimos tempos.
Portanto, é preciso estarmos sempre atentos a todas as novidades que visam o nosso
equilíbrio.

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Veja, eu não quero mesmo assustar você, mas vou apresentar um diagrama
elaborado pelo grande mestre e médico psiquiatra suíço, Carl Gustav Jung.

Fique tranquilo, não entraremos em teses e teorias complexas, apenas tentarei


de forma resumida apresentar os conceitos das partes detectadas pelo Jung e seus
sucessores.

Não se assuste, confie em mim porque vou apresentar os conceitos de forma


informal e sem debates improdutivos. A intenção aqui é ter apenas uma noção, um
ponto de partida.

Devo dizer que se por curiosidade você pesquisar um pouco, encontrará ainda
mais diagramas que trarão outras definições e subdivisões desse modelo proposto.

Perceba no diagrama que temos no topo o “Mundo exterior” e na parte mais


baixa o “Mundo interior”.

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Entenda que deve visualizar o diagrama percebendo que as “partes” contidas


no mesmo estarão mais próximas do que chamamos de “Mundo exterior”, ou seja, o
mundo que está fora de nós, quanto mais próximas ao topo.

O inverso também é verdadeiro, ou seja, quanto mais próxima a “parte” estiver


da área inferior do diagrama, mais interior e profunda a mesma estaria em nosso
mundo psíquico.

Mas não se apegue a isso, não é uma ciência exata e não será possível tanta
precisão. No diagrama também foram apresentados dois itens (consciente e
inconsciente) muito importantes que trataremos em capítulo específico, e que na
verdade não seriam “partes”, mas talvez territórios.

Para facilitar vamos seguir a ordem exposta no diagrama.

PERSONA

Palavra derivada do grego e tem como significado “máscara”. Os atores na Grécia antiga faziam
uso das máscaras que identificavam seus personagens.

A Persona é a máscara que utilizamos no convívio social. É uma ferramenta do Ego para nos
integrarmos à sociedade e nos comunicarmos de forma melhor.

Temos várias personas, por exemplo: a persona do pai, do profissional, do filho, do amigo, do
cidadão e por aí vai.

Podemos facilmente ver esse reflexo necessário nos trajes médicos e suas cores, provavelmente
não confiaríamos em um médico utilizando chinelos e bermuda em seu consultório.

A Persona é de fato necessária, utilizamos a mesma tanto para proteção de nosso mundo íntimo
contra o mundo exterior, como para nos adaptarmos a ele.

Para exemplificar, você já percebeu que somos diferentes no ambiente de trabalho em


comparação de como somos nas casas de nossos amigos? Nós acabamos sempre tentando nos
adaptar de acordo com o ambiente que estamos. Poderíamos imaginar que a Persona é como uma
ferramenta de defesa, ou melhor, de adaptação ao meio.

E não é só isso, podemos ainda utilizar outras personas dentro de uma mesma persona. Confuso
isso? Aqui em casa, dentro da persona de Pai, existe o pai brincalhão e o pai disciplinador. Há a
hora de brincar e a hora que precisam respeitar a autoridade paterna para ajuste de algum
comportamento inadequado, percebe? Minha linguagem verbal e corporal muda totalmente de
acordo com o papel de diversão e correção.

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EGO

O Ego seria o centro de nossa consciência. A ferramenta que nos permite ver, interpretar tudo a
nossa volta que está relacionado ou não com nossas ações próprias.

Em uma concepção filosófica seria o “Eu de cada um”. É o que geralmente respondemos quando
nos perguntam: “Quem é você?”

Podemos também considerar ele como se fosse o gestor, o gerente de nossa realidade nas
atividades do dia a dia. Entenda que o Ego é necessário porque é a parte que nos permite a
vivência consciente.

Costumamos dizer que o problema do ser humano é o “Ego”, mas não é verdade, se você não
possuísse o Ego estaria em estado totalmente inconsciente e não viveria, ou perceberia a sua
realidade. Mas o fato do Ego ser essencial, nada tem de relação com ser egocêntrico ou egoísta,
que são derivações utilizadas para definição de comportamentos.

Dizemos que uma pessoa é egocêntrica quando se vê como o centro de tudo e egoísta quando
quer tudo para o seu “Eu”.

O Ego está muito ligado a sobrevivência, proteção e às reações do ambiente. Para exemplificar
melhor, é como se o Ego fosse um soldado que precisa defender o quartel general, sempre atento
aos perigos e necessidades, controlando quem entra e quem sai, ou o que entra e o que sai.

SELF

Seria o si-mesmo. Na verdade, não é uma parte e sim o “TUDO” que somos, nossa essência.
Para muitos seria a imagem de Deus dentro de nós, ou “princípio inteligente”. O verdadeiro
senhor da casa, o núcleo da alma.

O Self é o “eu maior”, o “eu superior”, mais elevado. Seria o ponto central da personalidade, o
que rege e sustenta todos os demais sistemas. Seria a sede ou a fonte das maiores virtudes
humanas, como a compaixão, o perdão, compreensão, gratidão, tolerância, humildade e o
altruísmo.

É necessária a busca constante do Self. A harmonia entre o Ego e Self seria a meta do processo de
equilíbrio psíquico.

Acho que não teria uma analogia melhor para o Self que não fosse a essência pura e divina que
existe dentro de cada um de nós.

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SOMBRA

Tudo aquilo que não temos consciência que está dentro de nós. Assim como projetamos uma
sombra física, também projetamos uma sombra psíquica. Essa sombra psíquica contemplaria
tudo aquilo que esquecemos, que guardamos, desconhecemos que já vivemos, e tudo que não
queremos reconhecer que está dentro de nós.

Não se engane, não imagine que só existam coisas ruins na sombra. É muito possível que muitas
coisas boas também estejam lá.

Em uma comparação mais simplificada, o que temos consciência, ou seja, tudo aquilo que é
percebido pelo Ego está à luz, e por isso é conteúdo consciente. O que não é percebido ou
admitido pela consciência estaria com ausência de luz, dessa forma na escuridão da psique.

É como se fosse o quarto escuro onde guardamos as coisas velhas e antigas.

Essa é talvez a parte mais importante de que falaremos, especialmente porque nosso foco
principal é a formação integral de nossos filhos. Portanto, terá capítulo exclusivo mais adiante.

ANIMA - ANIMUS

Anima é o conjunto de todas as características femininas da alma. Tais como: bondade,


compreensão, empatia, gentileza, justiça, emoção, intuição, capacidade de amar, cuidar, ouvir,
criatividade, beleza, espiritualidade, etc.

Animus é o conjunto de todas as características masculinas da alma. Tais como: coragem,


persistência, força de vontade, razão, ação, pensamento claro, raciocínio lógico, concentração,
cumprimento de metas, discernimento, empreendedorismo, etc.

Não tenho aqui a intenção de polemizar ou realizar debates sobre as questões fisiológicas e de
sexualidade. Trata-se de características anímicas, ou seja, da própria alma. Sabemos que é muito
comum encontrarmos mulheres com características psíquicas consideradas masculinas e vice-
versa, sem que isso tenha qualquer impacto imperativo na sexualidade do ser.

Por hora o que precisamos alinhar entre nós é que somos dotados de características consideradas
masculinas e femininas. A definição de anima e de animus na verdade é mais uma rotulagem
que utilizamos para facilitar a busca de interpretação de nossa psique.

A proposta é o desenvolvimento de todas elas, sejam masculinas ou femininas, visando o


equilíbrio do ser. Entender quais são as características predominantes e as que estão em atrofia é
de grande valia para os ajustes na conduta de qualquer um de nós, e principalmente de nossos
filhos.

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Que fique claro aqui que existem outros temas importantes que estariam
associados ao diagrama que apresentei, mas que omiti para não causar alguma
confusão mental que poderia atrapalhar ao invés de ajudar.

Para ilustrar melhor e ficar mais claro, levando em conta que o nosso alvo são
as crianças, e como o mundo hoje praticamente gira em torno de smartphones, queria
fazer uma analogia interessante sobre Ego, Self, Persona, Sombra, Anima, Animus e o
cérebro.

O smartphone em si, ou seja, a parte física é como se fosse o nosso cérebro. O sistema
operacional seria o Self porque contém toda a programação aparente e não aparente para o
funcionamento de todos os componentes que fazem parte do smartphone, independente do
conhecimento do usuário o sistema operacional está gerindo o uso da bateria, verificando
inconsistências e muitas vezes checando atualizações necessárias. O usuário do smartphone
seria o Ego porque tem acesso e interage com o que está sendo apresentado na tela, as Apps, que
são ferramentas para atender as necessidades do usuário, seriam as Personas. A sombra é como
se fosse aqueles programas que já usamos antes, mas que se mantém em execução em
background ocupando memória e capacidade de processamento (chega a travar o smartphone)
sem que a gente esteja vendo eles, temos geralmente que usar algum atalho do sistema
operacional para vê-los e fechá-los liberando memória e deixando o smartphone mais “leve”, ou
melhor, mais rápido e eficiente. As empresas quando estudam lançar um novo smartphone, não
pensam apenas na velocidade, na segurança ou na resistência física do aparelho (ANIMUS), é
fundamental também que o smartphone tenha beleza, leveza e elegância (ANIMA) atingindo
assim um produto consistente e equilibrado.

Não mencionei no diagrama um importante tema que também faz jus a um


capítulo próprio, os chamados “Complexos”.

Foram omitidos aqui também os conceitos de Consciência e Inconsciente que


aparecem no diagrama, por também merecerem um capítulo exclusivo.

Ok. Agora acho que já temos algum conhecimento sobre uma parte do
funcionamento da psique humana que nos faz preparados para dar o próximo passo.

Em linhas gerais, o equilíbrio psíquico estaria na harmonia entre Ego e Self,


aproveitando a analogia, entre o usuário e o sistema operacional.

Para atingirmos essa harmonia precisamos estruturar constantemente o Ego


através do conhecimento do que está escondido em nossas Sombras no território
inconsciente, aumentando assim o território da Consciência. Quanto mais o usuário
conhece o sistema operacional maior é o aproveitamento do mesmo sobre o smartphone.

De forma igual, temos que conviver harmoniosamente no mundo utilizando


Personas adequadas, com características importantes e necessárias em cada setor de

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nossas vidas, sem permitir jamais que confundamos as Personas com nosso verdadeiro
“eu”. Não devemos confundir as Apps com o sistema operacional.

Muitas vezes quando percebemos que somos mais valorizados pelos outros
quando estamos usando uma determinada Persona, costumamos imaginar que somos
de fato a Persona, o que pode nos levar a um processo de desequilíbrio e aumento da
Sombra, o que nos tornaria cada vez mais longe da autoaceitação, da autorrealização. É
como imaginar que o smartphone fosse feito para uma única aplicação.

Nosso verdadeiro “eu” deve ser o reflexo dos verdadeiros desejos do Self,
entendendo suas próprias qualidades e defeitos, honesto com seus sentimentos e
propósitos.

Um Ego desestruturado, além de aproximar-se cada vez mais das necessidades


primitivas de poder e posse, fica a mercê do mundo inconsciente, sendo alvo constante
dos conflitos e complexos que o levam ao desequilíbrio psíquico.

Por outro lado, um Ego estruturado capaz de reconhecer suas deficiências e


potencialidades, voltado para o trabalho de autoconhecimento e aprimoramento
contínuo, é o que almejamos para nossos filhos.

No decorrer dessa caminhada, falaremos mais sobre essas partes que compõem
nosso universo psíquico e a cada novo passo, novas peças serão juntadas ao nosso
grande quebra-cabeça.

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Consciente
X
Inconsciente

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Consciente X Inconsciente
Agora começamos para valer!

Já percebeu que ultimamente tem se falado muito sobre o mundo inconsciente?

Os holofotes estão voltados para o mundo cerebral, e isso envolve não só os


aspectos biológicos, mas também o maravilhoso funcionamento de nossas mentes.

Não tenho dúvidas que uma visão mais próxima a respeito do Consciente e do
Inconsciente será muito relevante se pretendemos ajudar no processo de formação
integral de nossos filhos, principalmente porque trará sustentação científica aos
exercícios e técnicas que veremos posteriormente.

CONSCIENTE

É o território da Consciência.

Consciência é toda percepção imediata do que se passa dentro ou fora de cada


um de nós.

É como se fosse o ato psíquico pelo qual enxergarmos nossa presença no


mundo.

O território onde o administrador é principalmente o Ego que já falamos


anteriormente.

Aqui podemos trabalhar conceitos importantes, pois é a área que percebemos


efetivamente nossos pensamentos, utilizamos a força intencional da vontade,
consultamos e gerimos nosso sistema de crenças e valores, definimos foco,
planejamento.

Para já começarmos as integrações entre Psicanálise e Neurociência,


poderíamos dizer que é a área que o Ego faz uso da maquinaria disponível
especialmente no Córtex Cerebral, seja nos lobos frontais, parietais, temporais ou
occipitais.

A “grosso modo” as áreas primárias do córtex cerebral percebem o mundo


externo através do mais diversos canais que possuímos, como visual, auditivo e
cinestésico, enquanto que as áreas secundárias tratam da interpretação dessas
informações percebidas.

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Eu lhe disse que o trabalho era complexo. Não é raro encontrarmos situações
onde crianças têm dificuldades de aprendizagem ou comportamento inadequado e são
encontradas anomalias ou lesões cerebrais.

E não é só, estudos de diversas áreas como da Psiconeuroimunologia, mostra


também que o desequilíbrio psíquico afeta nossos corpos e seus sistemas funcionais, tal
como o sistema nervoso e endócrino.

Já não é de hoje que a própria OMS (Organização Mundial da Saúde) admite as


doenças chamadas psicossomáticas.

Acho que não preciso dizer mais nada, isso justifica muito minha tese de que o
ser precisa ser analisado e trabalhado sempre de forma integral.

Somos e estamos de acordo com o histórico de nossas influências diretas e


indiretas de nosso mundo psíquico e ambiental. Veremos isso posteriormente de forma
mais consistente em “Tríade do Ser”.

Durante os estudos em minha especialização em Neuropsicologia na Europa,


pude ter acesso a um conteúdo científico muito vasto de como nossos comportamentos
e funções cognitivas são impactados por lesões ou anomalias cerebrais.

Através do campo da consciência podemos perceber e até identificar algo que


não está bem em nossa dinâmica diária. Podemos prever, precaver e constatar algum
desequilíbrio analisando o que flutua no território consciente.

Veremos no decorrer dessa caminhada muitas outras informações que


ratificarão a necessidade de analisarmos o ser sob os mais diversos panoramas.

A consciência é o que diferencia de fato o “animal homem” dos animais


irracionais. Como o próprio nome já diz, racional vem de razão, raciocínio, o que é área
integrante do território consciente que é expansível e não tem limites definidos.

Precisaremos desses conceitos especialmente quando falarmos a respeito do


Sistema de Crenças e Valores.

Aproveitando a analogia que fiz anteriormente sobre o smartphone, o


consciente seria tudo que o usuário (Ego) pode ver na tela.

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INCONSCIENTE

Tudo aquilo que não percebemos de forma consciente é território inconsciente.

Você sabia que, comprovadamente, tudo, absolutamente tudo que vimos,


ouvimos, sentimos ou vivenciamos, ou seja, tudo que foi captado pelos nossos canais
primários relacionados aos lobos cerebrais estão arquivados em nossa mente?

Obviamente que todo esse conteúdo não poderia permear a consciência, caso
contrário seria exaustivo para não dizer enlouquecedor vivermos e termos que
selecionar somente aquilo que nos importa realmente em nosso dia a dia.

O fato é que na verdade, muito pouco de tudo que captamos em nossa história
de vida está disponível à consulta consciente.

Mas, não são poucas as pesquisas que mostram que tudo está inserido em nosso
banco de dados mental.

Em outra especialização que pude realizar, em Hipnose Clínica, o mundo do


inconsciente se apresentou mais contundentemente para mim.

Dentre muitas experiências em atendimentos com o uso da hipnose, pude


constatar e assumir como verdade essa tese do banco de dados absoluto.

Não foram poucos os episódios de clientes que estavam em transe hipnótico,


onde pude experimentar o resgate de informações e lembranças que estavam
totalmente inacessíveis ao Ego.

Situações traumáticas, fatos, fotos, sons, cheiros, dentre outras lembranças


sinestésicas estão arquivados nos cantos mais profundos da mente. Por isso Jung
brilhantemente definiu que a “Sombra” estava no território da inconsciência.

Muitos experimentos foram e ainda são realizados para entendermos mais essa
força colossal que é o inconsciente. Para termos uma ideia mais clara, costuma-se dizer
que o consciente é a gota e o inconsciente o oceano, outros mais conservadores, no
entanto, dizem que a consciência é apenas a pontinha do iceberg enquanto o
inconsciente é todo o resto do iceberg.

Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras:

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Enfim, já deu para entender que o Inconsciente é muito, mas muito maior que o
território consciente. Desta maneira, não temos como despreza-lo em nossa caminhada,
tampouco subestimar a força que o inconsciente pode ter em nossas vidas.

É importante que tenha essa relevância do inconsciente em sua mente para uma
maior compreensão das técnicas que serão introduzidas em outro momento.

A criança é a própria imagem do inconsciente.

Voltando um pouco ao campo da psicanálise, é possível para efeitos de


esclarecimento mais detalhado, que separemos o inconsciente em dois:

Inconsciente Individual: tudo aquilo que está inserido em nossos arquivos


inconscientes e é produto de nossas experiências desde a vivência fetal.

Inconsciente Coletivo: tudo aquilo que está inserido em nossos arquivos inconscientes,
mas que não é produto de nossas experiências desde a vivência fetal. Talvez aqui esteja

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um dos maiores tesouros da teoria Junguiana. Sim, nós trazemos padrões e acervo
psíquico que não nos foi experimentado ou vivenciado desde nossa concepção.

Volto aqui a esquivar-me de maiores debates e teses, sejam as


reencarnacionistas ou puramente científicas. Apesar do inconsciente coletivo, ser no
mínimo intrigante, as possibilidades de discussões sobre o inconsciente coletivo e sua
real origem, é tema para outra proposta.

Não gostaria de omitir a tese de que existem conteúdos que não fazem parte da
consciência plena e nem do inconsciente profundo.

Seriam conteúdos que estariam permeando uma espécie de faixa entre


consciência e inconsciência, o chamado subconsciente.

Por conta dos trabalhos e dos estudos que realizei no campo do


autoconhecimento, arrisco dizer que existem materiais da Sombra tanto no
subconsciente como no inconsciente.

Mas para nossa proposta não será necessário mais essa subdivisão, vamos
considerar tudo o que não for consciente como inconsciente.

Para ficar mais clara a diferença entre consciente e inconsciente, veja esse
pequeno quadro comparativo:

Você pode estar se perguntando: “Tá legal, já entendi mais ou menos esse lance
do consciente e inconsciente, mas o que isso vai ajudar a mim ou na educação dos
meus filhos?”

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Estamos montando um quebra-cabeça, desculpe o trocadilho. Cada parte dessas


vai ser importante mais adiante.

Na analogia que fiz com o smartphone, o inconsciente é tudo aquilo que não
aparece ao usuário (Ego) através da tela, mas que é fundamental para o funcionamento
do mesmo.

Por agora, quero que você lembre sempre: “O inconsciente não sabe o que é
verdade ou não, quem sabe é o consciente. A linguagem do inconsciente é simbólica e
exige bem mais que a linguagem normal que acessa o consciente.”

Veremos em muitos momentos as estratégias para acessar o inconsciente e usar


a superforça dessa potência que está dentro de nós.

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Entendendo um pouco
mais os Complexos

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Entendendo um pouco mais os Complexos


“Essa mulher é complexada!” ou “Esse rapaz é doente, está cheio de
complexos.”

Frases como essas são muito comuns de ouvirmos, não é verdade?

Mas, e se eu dissesse a você que todos nós somos complexados? Você ficaria
ofendido?

Antes que seu Ego o force a abandonar a leitura porque se sentiu ofendido,
preciso explicar a você o que são os complexos, como eles interferem em nossas vidas e
porque devemos estar atentos a eles na formação de nossos filhos.

Quero que você agora imagine em sua mente diversos balões espalhados de
forma aleatória e desorganizados.

Pois bem, imagine que cada balão corresponde a personagens e experiências


importantes em sua vida.

Os complexos seriam esses balões, que conforme as experiências tornam-se


mais cheios que os outros, e se o Ego não estiver de olho nesses balões pode ser
invadido por uns ou outros complexos cada vez que alguma nova vivência precisar
acessar o balão correspondente.

Não seria possível dizer exatamente quantos são os balões que cada um de nós
possui na mente, mas posso assegurar que são muitos, mas muitos mesmo.

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Toda vivencia e experiência que temos desde a vivência fetal já começa a


encontrar seu próprio balão e assim vai se inflando a cada novo ato ou fato que
experimentamos. Para dentro de cada balão vão emoções, sensações, memórias e daí
por diante.

Um complexo constitui-se basicamente a partir das relações interpessoais da


história infantil.

Os complexos não são estáticos e não param de crescer em determinada fase da


vida, na verdade parece que os mesmos são flexíveis e alteram-se conforme novas
experiências são vividas.

Fora isso, é importante que tenha conhecimento que muitas das experiências
que vivemos podem inflar mais de um balão simultaneamente, o que tornam
determinados fatos mais intensos e significativos que outros. Isso explica porque
algumas coisas parecem ter muita importância emocional para uns enquanto para
outros nem tanto.

Mesmo não sendo possível elencar todos os balões, ou melhor, complexos que
possuímos dentro de nós, é possível elencarmos alguns dos mais importantes que
fazem parte do nosso mundo interior e que merecem maior explicação.

Como esses complexos estão entre os principais, ou seja, impactam


significativamente nossa forma de agir e sentir, fica fácil entender porque é tão
necessária uma noção maior dos mesmos nesse processo.

OS 7 COMPLEXOS CAPITAIS

COMPLEXO MATERNO

Acho que não precisamos dizer que o complexo materno está diretamente
ligado às mães. Tudo e todos os momentos que vivemos de forma direta ou indireta
que estiverem relacionados com nossas mães estarão nesse balão. Quanto maior a
influência materna nas experiências da criança, maior e mais ativo será o complexo
materno na mesma.

E não apenas as experiências que tivemos com as nossas mães vão para dentro
desse balão, todas as ocorrências que presenciarmos onde a imagem da mãe é
relevante, irão também para esse balão.

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Não para por aí, a menina quando se torna mãe acaba de certa forma inflando
mais esse balão (Complexo Materno) com as novas experiências que terá sendo a
genitora e protetora de um novo ser.

Dentre muitos casos, posso contar a você rapidamente um caso onde o


complexo materno estava impactando muito a vida de uma pessoa que atendi. Por
razões de privacidade vamos chama-la de “M”.

M era uma mulher de personalidade muito forte que estava tendo dificuldades de relacionamento
com seu marido. Em análise detectamos que a mãe de M a criou sozinha e era uma mulher
independente que acreditava não depender de um marido. Assim, M também parecia querer
impor esse padrão ao seu marido o que começou a desgastar sua relação quase chegando ao
divórcio. M só percebeu isso em análise e tomando conhecimento disso conseguiu ajustar seu
relacionamento passando a respeitar mais seu companheiro e dividir as responsabilidades do
planejamento familiar.

COMPLEXO PATERNO

Se o complexo materno está ligado às mães, obviamente, o Complexo Paterno


está ligado aos nossos pais e/ou figuras paternas de nossas vidas.

A regra é a mesma, tudo e todos os momentos que vivemos de forma direta ou


indireta que estiverem relacionados com nossos pais estarão nesse balão. Quanto maior
a influência paterna nas experiências da criança, maior e mais ativo será o complexo
paterno na mesma.

No caso dos meninos, quando se tornam pais, esse balão também passa a ser
inflado com as experiências de ser o genitor e/ou responsável pelo ser. É interessante a
flexibilidade desses balões, as vivencias que o pai passará acompanhar ao lado de sua
esposa, agora mãe, também irão de alguma forma compor o balão do Complexo
Materno dentro de seu mundo mental, e vice-versa.

Lembro-me de um caso de um homem que estava tendo problemas com seus


filhos adolescentes, principalmente por conta de seu complexo paterno. Vamos chama-
lo de “S”.

S é um homem bem sucedido, considerado um bom marido por sua esposa e amigos. Contudo S
tinha dificuldades de relacionar-se com seus dois filhos(8, 10 anos), ambos meninos. S tinha
grande dificuldade em demonstrar afeto por seus filhos, um bloqueio enorme apoderava-se dele
quando pensava em fazer algum carinho em seus filhos. S recebeu indicação de meus serviços e
em análise detectamos o padrão como seu pai o criou. O pai de S era extremamente frio e
raramente falava com os filhos, além disso, era tratado com muita autoridade o que acabou

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também inflando muito o complexo de inferioridade que não raramente atrapalhava S em outras
áreas de sua vida. Nosso trabalho foi focado na análise das experiências que S teve com seu pai, e
com o auxilio de algumas técnicas que também serão apresentadas posteriormente, conseguiu
vencer seu bloqueio afetivo com os filhos e até com seu próprio pai que estava diretamente
relacionado ao complexo paterno.

COMPLEXO DE SUPERIORIDADE

Aqui em casa às vezes ouço um de meus filhos me dizer: “Tá se achando...”

Sabe aqueles pensamentos que, às vezes, povoam nossas mentes e dizem que
somos melhores que alguém? Ou que se comparou com alguém, se perguntando o que
determinada pessoa tinha que você não?

E não venha me dizer que você nunca pensou isso porque senão teremos que
falar mais da Sombra antes da hora.

Todas as experiências onde fomos comparados e saímos como destaque em


relação aos outros compõem esse balão.

Seja aquela vez que você foi o primeiro escolhido para o time da escola, ou o
único menino da turma que conseguiu namorar alguém naquele ano escolar, ou até
quando você ouviu de sua mãe que você estava mais bonito ou era mais inteligente que
seu irmão, enfim, todas as experiências dessa natureza inflaram o seu balão da
Superioridade.

Que a gente não confunda a autoconfiança e autoestima com o Complexo de


Superioridade. Apesar do Complexo de Superioridade ser importante para auxiliar no
processo de construção de autoconfiança e autoestima, se esse balão estiver muito
cheio você poderá ter grandes problemas.

Queria citar o caso de um adolescente que veio em busca de minha ajuda, na


verdade sua mãe é quem o levou. Vamos chama-lo de R.

R já estava com os seus 16 anos e estava com problemas de relacionamento e de agressividade


tanto em casa como na escola. Devo confessar que não foi um trabalho fácil, trabalhar com
adolescentes que são filhos únicos nunca foi minha meta. Começamos a análise de R, como tem
que ser, pelos pais. Descobri que R era filho único como mencionei, até aí tudo bem, conheço
muitos que são pessoas muito equilibradas. O Fato de R ser filho único acabou sendo um
problema para ele mesmo. Para encurtar o caso, R cresceu sempre ouvindo que era o mais
especial, o mais bonito, o melhor do mundo em tudo. Os pais confundiram um pouco o que era
criar um filho autoconfiante com criar um filho sem limites e não consciente de que ninguém é
bom ou melhor em tudo. Assim R deparou-se, especialmente na adolescência, com um cenário

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bastante diferente do que ele estava acostumado. Criticava demais os colegas, achava-se melhor e
estava tentando mostrar sua superioridade através da agressividade. Foi um trabalho árduo, mas
conseguimos felizmente conscientizar os pais e o próprio R. Fizemos um programa de
treinamento especifico a ele para ampliar seu sistema de crenças (que veremos mais adiante) e
outras técnicas. Felizmente hoje R está muito bem, apesar de precisar vigiar constantemente
seus acessos de superioridade. Tratar o complexo de superioridade é um desafio grande porque
precisamos preservar a autoconfiança e autoestima. Se formos inábeis podemos transferir a
tensão para o complexo de inferioridade.

COMPLEXO DE INFERIORIDADE

É basicamente o inverso do Complexo de Superioridade.

Aqui vão algumas frases comuns que inflam o balão da inferioridade: “Você
não serve para nada”, “Você faz tudo errado”, “Você é feio”, “Você é uma topeira”,
“Você é muito atrapalhado”, e por aí vai.

Nota: Em breve você vai entender o poder da linguagem e como usa-la de acordo com os níveis
neurológicos, aprendendo a evitar a construção de crenças limitantes pelo uso equivocado do
verbo “Ser” (Identidade) associado a críticas destrutivas.

Neste balão estarão todas as experiências e suas respectivas tensões emocionais


onde você foi destacado como inferior, onde foi comparado de forma negativa com
outros.

Estariam aqui as experiências onde você foi o último do time a ser escolhido, o
único da turma a nunca ter namorado alguém, onde foi repulsado por alguém, e até
quando seus pais deram preferência clara para outro filho.

É um balão traiçoeiro dentro de nós, especialmente porque basicamente


“parece” não ter proveito algum em nosso padrão psíquico. Esse balão muito inflado
pode trazer problemas sérios de baixa autoestima e insegurança desproporcional.

Eu não disse “parece” sem motivo. O complexo de inferioridade é necessário


também porque em condições normais nos dá a projeção da humildade, da aceitação e
da tolerância dos defeitos que pertencem aos demais.

Recordo de uma mulher que estava com problemas em seu casamento. Tinha
crises de ciúmes doentias. Na tentativa de não acabar com seu casamento procurou
ajuda. Vamos chama-la de L.

Quando L me procurou parecia uma mulher muito equilibrada, de voz e movimentos calmos.
Quando detectamos casos assim onde nosso comportamento ocorre como se fosse um “estouro”

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fora da normalidade, é fácil perceber que por trás do problema há um complexo. Pois bem, não foi
difícil detectar o complexo de inferioridade assim que começamos o processo de análise e
autoconhecimento. Para não alongar muito vou direto ao ponto. L sofreu bullying frequente
quando criança e persistiu até o início da adolescência, era preterida entre seus irmãos e sofreu
duas traições em dois noivados antes de conhecer seu atual marido. Acho que não preciso dizer
muito para que a gente possa perceber como essa mulher devia estar com o balão da inferioridade
muito inflado. Chegamos ao entendimento que seu ciúme estava diretamente ligado ao seu
complexo de inferioridade, e sua baixa autoestima potencializava sua insegurança de forma
absurda. Com isso detectado, além da conscientização que já ajudou muito, pudemos partir para
um programa de treinamento específico que trouxe resultados excelentes. Hoje L está muito bem
e seu relacionamento consigo mesma e com o marido melhorou muito.

Gostaria de fazer um comentário breve sobre a psicogênese do ciúme. Não


necessariamente o ciúme estará ligado sempre ao complexo de inferioridade. Assim
como outras problemáticas, como raiva, necessidade de valorização, ressentimento,
ansiedade, depressão, entre outras, a origem pode ser diversa e multifatorial. Como
exemplo, o ciúme de L poderia estar ligado a uma sombra dela mesma não aceita, ou a
desejos não admitidos de trair seu companheiro, o que não era o caso.

COMPLEXO DE PODER

Muitas pessoas quando estão em uma posição de comando acabam por


tornarem-se autoritárias e com tendências ditatoriais.

Essa necessidade de estar acima de todos, em posições de comando e liderando,


está diretamente ligada ao complexo de poder. Que fique claro que todos nós temos
esse complexo.

São muitas as experiências que inflam esse balão, como por exemplo, quando
você foi escolhido para ser o líder da sala de aula onde estudava, quando você foi
designado o capitão do time, ou o líder de um grupo de estudo, ou o coordenador de
alguma atividade, quando foi o juiz do jogo de futebol no campeonato de sua escola e
até quando foi o escolhedor do time nas aulas de educação física.

Tudo isso vai formando nosso complexo de poder. Nada de errado nisso, o
problema está quando a ânsia de poder toma conta de nós, ou seja, quando esse balão
está muito inflado.

Esse complexo é um dos motivos que leva a humanidade constantemente forjar


ditadores e “donos do mundo”.

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A necessidade da posse e de poder é extremamente perigosa e requer atenção


diferenciada.

Quero compartilhar com vocês o caso de um Executivo que me foi indicado


para treinamento. Vamos chamá-lo de D.

D é um executivo reconhecido e muito capaz. Foi detectado pela empresa onde trabalha
que D apesar de ter aptidões de gestão brilhantes, não inspirava aos seus subordinados a
impressão de um bom líder, e foi muito criticado nas pesquisas internas realizada pelo
departamento de recursos humanos. A empresa, em conversa com D, decidiu
conjuntamente com ele a busca de ajuda para ajustes em sua Persona executiva. Nos
processos de análise chegamos a algumas experiências importantes que acabaram por
inflar um pouco além da conta o balão do Poder. D foi um aluno exemplar em seu
colégio e desde muito cedo sempre recebia de seus professores o cargo de líder da turma.
Além disso, D teve em sua infância uma presença masculina que tinha patente militar e
D admirava muito isso. Não foram poucas vezes onde entraram em restaurantes e
outros ambientes onde não precisavam pegar fila e até pagar pelo acesso ao evento.
Assim, dentre algumas outras experiências que seriam de complexidade maior para
tratarmos aqui, D teve seu balão do Poder inflado pelo padrão que recebeu de pessoas e
ambientes importantes em sua infância. D queria o mesmo respeito que seu ídolo
infantil recebia de seus liderados. A partir da conscientização disso foi possível
realizarmos um programa de treinamento ao D que trouxe resultados muito satisfatórios
a ele, seja como executivo, seja em outras áreas de sua vida.

COMPLEXO DE ABANDONO

Esse é um balão bastante subjetivo. Como se os outros não fossem, não é?

Aqui temos condições de entender melhor como existe correlação, ou melhor,


inter-relacionamento entre complexos.

Você alguma vez já teve algum sonho de que se perdeu no shopping ou no


mercado quando era criança? Ou melhor, você já se perdeu em algum lugar e sentiu-se
desamparado e desesperado?

Esse é o balão onde experiências dessa natureza são inseridas.

Momentos onde se perdeu, sentiu-se sozinho em determinado local, foi


colocado em um local escuro como corrigenda pelos pais, ficou aguardando na escola
seus pais virem busca-lo muito além do horário quando todas as demais crianças já
tinham ido embora, e até “levou um fora” da namorada ou namorado, certamente
inflaram esse seu balão de abandono.

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Experiências de abandono, como as que citei, relacionadas aos pais, acabam


inter-relacionando-se com outros complexos como o materno e paterno por exemplo, o
que potencializa muito a tensão desse complexo.

É muito comum serem poucas as experiências de abandono, mas as poucas que


ocorreram estão recheadas de tensão emocional por estarem envolvidas com outros
balões, e por isso acabam inflando mais rapidamente.

Umas das maiores problemáticas relacionadas ao complexo de abandono são: a


insegurança, as fobias, o pessimismo, a desconfiança e a necessidade de valorização.

Pessoas com esse balão muito inflado precisam tomar cuidado e buscar
conscientização dessas experiências, de forma a ressignificarem as mesmas para que
não tenham suas vidas impactadas pela ansiedade e medos constantes.

Para ilustrar quero contar em linhas gerais um caso relativo a uma senhora que
chegou até mim. Vamos chamá-la de T.

T é uma senhora bem apanhada, com boa cultura e bastante viajada. Teve 2 filhos e

casou-se 3 vezes. T estava com indícios de síndrome do pânico e por isso procurou ajuda.

Pessoalmente gosto muito de analisar pessoas mais velhas, a própria vida parece que já

ajustou e esclareceu muitas coisas nessas pessoas e parece que já se conhecem melhor.

Não todas, mas boa parte das pessoas que analisei de idade mais elevada já se conhecia

bem. E assim foi com T, ela tinha grande conhecimento e descreveu com muitos detalhes

muitas de suas experiências. T e sua mãe foram abandonadas pelo pai quando tinha 7

anos. Aos 10 sua mãe faleceu vítima de um infarto fulminante. Casou-se a primeira vez

e foi abandonada pelo marido quando já tinha o primeiro filho. No segundo casamento

não teve filhos, mas foi vitima de traição do mesmo e separou-se. No terceiro casamento,

tudo correu bem, era o pai de seu segundo filho e já tinham longos anos de convivência.

O terceiro marido de T havia sido diagnosticado, cerca de 3 meses antes de nossa análise,

com um câncer e estava controlado. Em análise detectamos que seu desequilíbrio

começou pouco após o marido ser diagnosticado. Não foi difícil associar que a possível

causa estaria relacionada ao seu complexo de abandono. Ora, ela já tinha perdido pessoas

importantes de forma súbita, teve casamentos que poderíamos caracterizar como

abandono, é claro que toda aquela tensão guardada estava à espera de um novo risco

para estourar, então levamos isso a discussão e conscientização. Juntamente com outras

técnicas conseguimos felizmente alcançar o reequilíbrio de T.

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COMPLEXO DE HEROÍSMO

O heroísmo sempre esteve presente na história da humanidade. Nas pesquisas


de Jung sobre os povos primitivos e a mitologia, ele pôde identificar que a
personificação dos deuses e heróis fez parte de todos os povos da antiguidade.

O momento é propício para falarmos de heróis, não perdendo o foco do que


almejamos que é estarmos mais preparados para formar nossos filhos.

Nunca antes na historia da humanidade, tivemos tanto acesso a heróis das mais
diversas formas e características.

Se me perguntarem se nos últimos anos fiquei 3 meses seguidos sem ter que
assistir um filme que envolvesse heróis e a salvação do mundo, minha resposta seria
negativa. Meus filhos adoram esse tipo de filme, e eu para ser honesto acabo gostando
também.

O fato de vivenciar e assistir com meus filhos esse tipo de filme tem lá suas
vantagens. Como sou um apaixonado e curioso por tudo que envolva o mundo mental
e suas variações, os filmes recentes de heróis são um prato cheio para análises e
divagações.

Esse complexo, devo admitir, é o que mais demanda cuidados pessoais de


minha parte.

Se pararmos para analisar friamente, desde muito pequenos, especialmente as


gerações dos anos 70 para frente, sempre estivemos envolvidos com a figura do herói.

E não estou falando apenas dos heróis de desenhos e quadrinhos. As próprias


religiões nos apresentam seus heróis, e é muito, mas muito difícil não inflarmos nossos
balões diante das conquistas desses heróis.

Cada vez que vemos um filme de heróis, que vemos alguém salvar um animal,
que vemos os bombeiros trabalhando, que defendemos ou somos defendidos por
alguém, lá estará nosso balão do heroísmo sendo inflado.

Não poderia deixar de falar sobre esse balão, precisaremos aprender um pouco
dele para entender melhor as últimas gerações.

O fato aqui é que a vivencia e exposição contínua ao mundo heroico vai inflar
significativamente o balão de heroísmo de nossas crianças, inserindo neles não apenas
a tensão de salvar o mundo, mas também as características específicas de cada herói.

Sabemos bem que hoje em dia a maioria dos heróis não são bem os maiores
exemplos de conduta e equilíbrio possível. Não estamos mais falando de figuras
messiânicas como Jesus que é impossível encontrarmos algo repreensível.

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Falamos agora de heróis muito complicados e cheios de distúrbios de


comportamento. Por isso requer nossa atenção como nossos filhos estão sendo
impactados por esses heróis. Na falta da presença ativa de um pai, que costuma ser o
maior o herói de uma criança, não será difícil que um ou outro herói assuma esse papel
na mente infantil.

Você pode se perguntar: “Mas, e agora? O que vamos fazer? O que esse balão
pode significar para todos nós?”

Pessoas com o balão do Herói muito inflado acabam por tornarem-se reféns de
um padrão de busca para serem messias ou detentores de missões únicas e especiais
que podem salvar a humanidade.

Quem não quer ser herói, não é verdade? Mas no mundo real as coisas não
funcionam bem assim. Pessoas com esse balão muito inflado podem se tornar alvos
fáceis da exploração afetiva e até material.

Além do que, convenhamos, alguém que imagina ter uma supermissão


superespecial designada por uma força maior, certamente será vítima da frustração e
até de estados depressivos quando perceber que essa missão não existe de fato.

Mas longe de dizer que esse complexo não serve para nada, muito pelo
contrário. Creio que se há um complexo capaz de mudar o mundo de verdade é esse o
tal.

Se esse balão estiver inflado no ponto certo, quem tiver esse privilégio pode ser
alguém muito importante na coletividade. Geralmente são aquelas pessoas que lutam
pela igualdade de direitos, por condições melhores para os mais necessitados, que
protegem os mais vulneráveis e que tentam sempre compartilhar conhecimentos para o
equilíbrio coletivo.

Bom, vou contar para você o meu caso. Acho que posso dar esse testemunho
com a missão de explicar a vocês como o complexo de heroísmo pode impactar nossas
vidas.

Honestamente não sei o porquê, já fiz muitas reflexões, exercícios de autoconhecimento,


exercícios de meditação, autohipnose avançada, entre muitas outras coisas, mas não
consegui chegar a um fato específico que explique o porquê do meu complexo de
heroísmo ser inflado. Sempre achei que precisava de alguma forma, fazer algo especial,
algo que fizesse a diferença por ter vivido. Ao longo do tempo fiz muitas coisas tentando
atender essa necessidade íntima. Fiz sites em troca de doação de cestas básicas para
entidades beneficentes, visitava asilos, servi sopa a moradores de rua, tentei sempre
ajudar a medida do possível quem estivesse ao meu lado, mesmo financeiramente. Acho
que queria salvar as pessoas. Como se a pessoa que eu mais precisasse salvar de fato não

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fosse eu. Comecei a perceber em alguns momentos que a fonte da minha motivação não
era apenas o amor, mas também o reconhecimento. O estudo da mente me trouxe muitas
vantagens, por conta disso percebi que o complexo de heroísmo que eu possuía estava
sendo alimentado por um verdadeiro gigante da alma: a necessidade de valorização. É
claro que muitos outros complexos estão relacionados à minha tentativa de jornada
heroica, mas a necessidade de ser valorizado estava dividindo espaço com o amor que eu
aplicava nessas tarefas. Tomar conhecimento de como esse balão estava inflado dentro de
mim fez toda a diferença em minha vida. Comecei a desenvolver uma habilidade capaz de
filtrar quando eu estava sendo motivado pelo amor e quando eu estava sendo motivado
pela necessidade de ser o herói valorizado. Isso mudou minha vida em muitos setores e
removeu de mim uma carga psíquica que não era minha responsabilidade. Hoje tento
fazer as coisas por amor, com propósito real, e não mais sendo refém de meu balão
heroico. Ainda luto com isso, é claro. Não foi do dia para a noite que consegui esse
equilíbrio nesse quesito. Levou tempo para aprender a separar a ajuda sincera, da
exploração e da acomodação alheia. Ainda resisto às vezes aos pensamentos que me
levam ao estereótipo do grande herói. Mas hoje raramente me submeto à necessidade de
valorização potencializada pelo complexo de heroísmo. Hoje sei que a primeira alma que
devo salvar é a minha, sem ser egoísta, mas para então estar apto e merecedor de salvar
mais alguma outra alma. Enquanto isso, estou tentando fazer o melhor que posso,
buscando e adquirindo algum conhecimento para compartilhar visando uma missão
mais simples, sem a necessidade de uma máscara e um símbolo no peito.

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A Herança dos
Padrões Mentais

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A Herança dos Padrões Mentais

“Minha dor é perceber, que apesar de termos


feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos
E vivemos,
Ainda somos os mesmos,
E vivemos,
Como os nossos pais...”

Trecho da música "Como nossos pais", de Elis Regina

Foi mais forte que eu. Não podia deixar de usar esse trecho da música “Como
Nossos Pais” da brilhante cantora, Elis Regina.

O tempo passa, vamos nos adaptando à sociedade, crescemos e quando


percebemos estamos repetindo padrões que herdamos de nossos pais, especialmente
na criação de nossos filhos.

Você já sabe a importância que os Complexos Materno e Paterno têm em nossas


vidas. Isso pode explicar facilmente porque acabamos por repetir tanto os padrões que
aprendemos em nossa formação.

E isso é maravilhoso quando recebemos uma herança que é cheia de padrões


potencializadores, mas terrível quando recebemos uma herança cheia de padrões
limitantes.

Pode parecer engraçado, e mais adiante quando eu lhe apresentar a pirâmide


dos níveis neurológicos, você vai entender com maior clareza porque esses padrões
que vivenciamos na convivência com nossos pais ficam tão impregnados em nós.

Alguns teóricos chegam a dizer que 75% de nossa personalidade é formada pela
influência de nossos pais. Eu particularmente procuro pensar que não temos como
quantificar isso, mas a experiência mostra que não há duvidas que nossos pais são, de
fato, a maior influência na formação de nossa personalidade.

Não é raro a gente perceber que está tendo algum comportamento que não
gostaríamos de ter. Temos até a consciência que é um comportamento que
recriminamos em nossos pais, mas de uma forma automática acabamos tendo as
mesmas ações e reações que não gostamos em nossos pais.

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Nossa mente é extremamente complexa e qualquer explicação, por mais


convincente que pareça, é passível de correção e opiniões contrárias.

Vou explicar da forma que eu entendo e você fica livre para criar suas próprias
teorias quando finalizarmos todos os passos desse livro.

Vamos criando padrões mentais. É como se nossa mente criasse caminhos


específicos para agir e reagir diante de determinadas situações.

Como se um mapa ficasse registrado de uma forma a facilitar o processo de


vivencia. Percebemos que nosso cérebro sempre busca o caminho que gerará menor
esforço, como se fosse um sistema de autopreservação de energias.

Como estamos muito expostos à convivência com nossos pais na fase mais
importante da formação de nossa personalidade, e não esquecendo a questão
emocional afetiva que potencializa todas as experiências junto às pessoas mais
significativas para nós, seria natural que os comportamentos e crenças de nossos pais
tivessem prioridade na formação desse mapa mental.

Assim, como é a rota mais fácil, acabamos repetindo os mesmos caminhos.

Percebe agora a importância da herança que vamos deixar aos nossos filhos? Se
você não detectar quais são os padrões que você herdou ou criou até esse momento,
não conseguirá ajustar o que é indesejável e transmitirá os mesmos padrões aos seus
filhos.

É como um ciclo vicioso que não acaba até que alguém tome conhecimento
dando um “basta”, e por amor busque a correção e mudança de seus próprios padrões
mentais indesejáveis.

Por isso é praticamente impossível, e digo praticamente porque toda


generalização é burra, que tenhamos êxito completo na formação de nossos filhos sem
a tentativa de transformação própria.

Você também vai entender porque dedicamos um pouco mais de tempo aos
complexos, tudo está diretamente relacionado e embaraçado em nossa mente.

Ninguém quer ser diretamente responsável por transferir uma herança


“podre”, por instinto de proteção e amor sempre queremos deixar o melhor aos nossos
filhos. Padrões limitantes, depreciativos e de escassez definitivamente não estão entre
os itens que queremos em nosso testamento.

Mas aí você pode pensar: “eu não tenho mais jeito mesmo... Vou impor aos
meus filhos o famoso – Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço!”

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Sinto muito, mas isso não funciona. Vou provar isso a você mais adiante,
quando apresentar a pirâmide da aprendizagem. E olha que eu experimentei isso na
própria pele.

Fique atento, vou te dar uma informação agora que vai mexer com você e talvez
se choque com algumas crenças que possui.

Quando mergulhei nos estudos sobre a formação de personalidade, encontrei


uma coisa muito, mas muito intrigante. Na obra “O desenvolvimento da
Personalidade”, Carl Gustav Jung explicou que mesmo que os pais não digam ou não
demonstrem nada, a criança detecta tudo e de uma forma mística, introjeta os conflitos
dos pais.

Isso não foi detectado apenas em estudos de sonhos, mas também na busca da
origem das neuroses que as crianças estavam apresentando. É como se fosse uma
conexão wi-fi de inconsciente para inconsciente.

Então, não adianta fingir. Se você quer deixar uma boa herança para os
pequenos, vai ter que fazer a sua parte. E garanto que quem vai mais agradecer por
isso vai ser você mesmo.

Ah, não se preocupe porque mais para frente eu vou te passar muitas
ferramentas para lhe ajudar, e se você empregar apenas um pouco de seu tempo e de
sua vontade, tenho certeza que vai conseguir transformar os padrões que desejar.

De antemão já lhe digo que não devemos culpar os nossos pais, eles fizeram o
melhor que puderam de acordo com as ferramentas que possuíam. Não seja
contaminado por desculpismos para justificar suas limitações. Comece seu processo
envolvendo seus pais e os acolhendo com muito amor, esse é primeiro passo.

Como já disse, tudo está embaraçado em nossas mentes. Os padrões mentais


não são itens que se formam isolados. Estão ligados a muitos sistemas psíquicos,
principalmente ao sistema de crenças e aos complexos.

Para ficar mais clara essa questão, eu quero contar a você dois casos que vem a
calhar com o tema da Herança dos Padrões Mentais.

O primeiro caso é de uma moça (20 anos) que estava engordando muito.
Seguindo ainda o critério da privacidade, vamos chama-la de B.

B começou a engordar muito a partir de seus 17 anos. A família de B a levou a médicos e


realizou exames, mas nenhuma anomalia relevante foi encontrada que justificasse o aumento
grande de peso. A família, por sugestão de parentes, buscou outro tipo de ajuda e foi assim que
nos conhecemos. Iniciamos o processo de análise e estávamos sem evoluir muito em nossos
primeiros encontros. Foi quando decidi utilizar técnicas de hipnose para tentar encontrar

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alguma pista, e BINGO. B não se alimentava muito bem quanto era pequena e sua mãe adorava
cozinhar. Até aí não há grandes novidades, o problema estava que a mãe começou a transferir
sentimentos e utilizou apelos afetivos para que B comesse. A mãe costumava dizer: “eu fiz com
tanto amor, com tanto carinho essa comida...” ou “você vai me deixar muito triste se não comer
essa comida”. Já percebeu? Formou-se um padrão mental em B que a comida estava associada a
sentimento e decepção, e não à necessidade nutricional do corpo. B sempre foi muito próxima de
sua mãe e por isso seu complexo materno era inflado, foi o que contribuiu muito para a formação
desse padrão. Aos 17 anos B estava se preparando para o vestibular, momento de muita angústia
e medo de “decepcionar” os pais, então o inconsciente começou sua interferência... Ficou fixado
um padrão que a comida tinha o carinho e ao mesmo tempo o medo de que pessoas que amava
ficassem tristes. Acredite, assim que detectamos esse padrão, só o fato de B tomar consciência
disso, tudo mudou. A conscientização aliada a algumas técnicas de ancoragem (que veremos
mais adiante) que criamos mudou completamente esse padrão. E o mais engraçado é que a
própria mãe também começou a emagrecer.

O outro caso que desejo dividir com você é de um homem (30 anos) que não
conseguia prosseguir para atingir seus objetivos. Vamos chama-lo de F.

F tinha dificuldades enormes de arriscar para tentar ganhos e realizações maiores. Um amigo me
indicou. Começamos o processo de análise e mapeamento do sistema de crenças de F. Não
demorou muito para percebermos o complexo paterno inflado em F. O pai de F é muito
importante para ele, um homem batalhador e bem querido pelos amigos. Mas o pai de F sempre
teve uma postura muito pessimista diante das finanças. Não foram raras as experiências que F
citou onde seu pai reclamava muito da falta de dinheiro e do medo de perder seu emprego.
Presenciou muitas discussões domésticas sobre a necessidade de controlarem gastos e da
necessidade de não perderem o emprego. Isso explicou o padrão mental de escassez e de
resistência para mudanças. F ficava muito mais preocupado em não perder o que tinha do que
motivado para arriscar em busca de suas ambições. F não tinha filhos ainda, o que não
justificava tanto medo de escassez e de mudanças, provavelmente quando tivesse filhos isso seria
potencializado. Depois da conscientização criamos um plano de treinamento focado no sistema
de crenças e F melhorou muito. F ainda luta com esse padrão, mas já não é dominado por ele.

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Em busca da
menor sombra
possível

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Em busca da menor sombra possível


Vou começar utilizando um trecho da obra “Ao encontro da Sombra”, de Robert
Bly:

“Passamos nossa vida até os 20 anos decidindo quais as partes de nós mesmos que
poremos na sacola e passamos o resto da vida tentando retirá-las de lá. Algumas vezes parece
impossível recuperá-las como se a sacola estivesse lacrada.”

Jung também costumava dizer isso em outras palavras. Nós passamos


praticamente os primeiros 20 anos de nossa vida construindo a sombra e o restante
dela tentando nos livrar da mesma.

Fica claro que é muito mais difícil nos livrarmos dela do que construí-la dentro
de nós.

Parte de nossa proposta para alcançar o equilíbrio psicológico é a


autorrealização, o encontro do si mesmo, tornar-se completo, tornar-se consciente do
que está inconsciente, alcançando a harmonia entre Ego e o Self, ou seja, entre o
usuário e o sistema operacional que falamos um tempinho atrás na metáfora do
smartphone.

Por isso, se queremos que nossos filhos alcancem o equilíbrio, precisamos


destrinchar e entender um pouco mais essa parte sombria que tem espaço importante
em nossas mentes.

E não é só isso, na missão de construirmos descendentes integrais e


equilibrados, temos que estar muito atentos a nossa própria sombra. Como já vimos,
nossos filhos costumam receber uma boa parte dela como herança.

Então, vamos lá!

Em primeiro lugar precisamos desmistificar a interpretação equívoca que


costumeiramente temos a respeito da Sombra.

Temos por hábito utilizar e associarmos a palavra sombra a significados ou


analogias ruins. Quantos de nós não utilizamos frases desse tipo: “Esse local é sombrio,
dá medo!” ou “Ele é apenas sombra do homem que deveria ser” ou ainda, “Aquele
rapaz é só sombra do irmão”.

Enfim, imaginamos que a sombra esteja apenas associada à falta de luz, o que
poderia abrir um extenso campo filosófico em torno dela. O que é luz é bom, divino. O
que é escuridão é ruim, então sem dúvidas, associamos isso ao medo do desconhecido.

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Mas o conceito real da sombra está muito longe destas primeiras associações
preconceituosas.

Assim como projetamos uma sombra física, também projetamos uma sombra
psíquica. Essa sombra psíquica contempla tudo aquilo que esquecemos ou não
queremos lembrar, tudo que desconhecemos que já vivemos, e tudo que não queremos
reconhecer que está dentro de nós.

O que temos consciência, ou seja, tudo aquilo que é percebido pelo Ego está à
luz, e por isso é conteúdo consciente. O que não é percebido ou admitido pela
consciência estaria com ausência de luz, dessa forma na escuridão da psique.

O uso da palavra Sombra também faz todo sentido se tivermos conhecimento


da tese dicotômica, ou seja, da dualidade que sempre está presente em nossas vidas.

Dicotomia é a divisão de um elemento em duas partes, em geral contrárias, como a


noite e o dia, o bem e o mal, o preto e o branco, o céu e o inferno etc.

Ficaria mais fácil de entendermos a “Sombra” se tivermos conhecimento dos


opostos, dos contrários.

Tantas e tantas referências poderíamos usar para mais exemplificações, como:


Yin e Yang, bonito e feio, forte e fraco, LUZ e ESCURIDÃO (ou, SOMBRA). Parei por
aqui para evitar a monotonia.

Agora que já entendemos de fato o que é a Sombra, temos condições para


descobrirmos como ela se forma e como podemos evitar que se torne muito densa em
nossos filhos. É parte do processo de estruturação do Ego de nossos pimpolhos para
que possam aproveitar um estado psíquico mais equilibrado por toda a vida.

A FORMAÇÃO DA SOMBRA

A construção de nossa sombra é algo que começa desde o início das nossas
vidas.

Vamos viajar no tempo e retornar ao período onde estávamos com 2 ou 3 anos,


onde nosso processo de educação estava começando. Certamente muito do que
vivenciamos nessa fase e que não temos consciência iniciou a formação de nossas
sombras.

Imagine que um menino de 3 anos, onde o Ego já começou a ter uma pequena
estruturação e a criança já percebia a diferença entre ela e os demais, tenha recebido
uma educação um tanto radical de que homem não chora, ou não mostra afetividade.

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Tal criança toda vez que demonstrou um comportamento amável, dócil demais,
ou expressou suas emoções através das lágrimas, foi duramente repreendida.

Para sentir-se aceita, amada pelos pais, essa criança começou a evitar os
comportamentos mais dóceis e emotivos.

Visualize como uma criança de 3 anos pensaria vivendo uma experiência como
essa: “Papai não gosta que eu chore, diz que sou feio quando choro, diz que isso não é
coisa de homem.... Eu gosto do papai, eu quero que ele goste de mim também”. Bingo,
tudo isso foi para a Sombra.

Citemos outro exemplo, imaginemos uma pequena garota com seus 6 ou 7 anos
que possui um comportamento irritado, que grita muito, fala muito alto, e sua mãe
reage duramente aplicando castigos severos.

Será natural que essa garota passe a reprimir sentimentos, retendo sua ira, sua
raiva, especialmente porque esse comportamento gera a desaprovação de sua mãe. Tal
garota passa a crescer optando pelo comportamento mais dócil, pacato, suave ao
extremo.

Essa garota tende a ser cada vez mais dócil e “boazinha”, uma vez ela que
detectou o padrão que é e será mais aceita dessa forma, escondendo perigosamente
dentro de si partes que também a integram. Bingo novamente, sombra ganhando peso.

E assim nossas sombras iniciam sua formação, principalmente com os


comportamentos que não são tão agradáveis no conceito de nossos pais, ou seja,
geralmente as pessoas mais importantes para qualquer criança.

Gostaria de aproveitar o exemplo dessa garotinha e falar rapidamente sobre


uma perigosa tendência que tenho observado nos últimos tempos.

Uma vez que somos mais aceitos pelo meio quando usamos nossas Personas (a
“máscara” que falamos um tempinho atrás), somos tendenciados a acreditar que
SOMOS a própria PERSONA, o que está muito longe da realidade.

Temos visto nossas crianças e jovens escolherem e imitarem ídolos


padronizados pela mídia, formatados pela ditadura da beleza e do consumismo. O
próprio ídolo não é realmente o que aparenta ser, no entanto seus admiradores acabam
se esforçando para criar uma Persona moldada aos padrões da imagem apresentada
pelo ídolo.

Quanto mais acreditamos que somos a própria Persona, maior e mais densa
torna-se a nossa sombra. Maiores serão os conflitos e desafios que deverão ser
superados para o encontro do equilíbrio.

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Estaríamos assim no caminho mais distante possível de nosso real ser, do si


mesmo.

Agora acho que já posso dizer-lhe uma coisa importante que estava esperando a
oportunidade ideal.

Nossa psique busca o equilíbrio mesmo contra nossa vontade, quanto mais
longe estivermos do autoconhecimento e quanto maior for o conteúdo em nossa
sombra, mais experimentaremos severos desequilíbrios, como psicoses, neuroses e
transtornos dos mais variados como tentativa de autoajuste.

Todo esse conteúdo que vai sendo armazenado em nossa sombra, em algum
momento será necessário ser retirado de lá. Caso contrário, não conseguiremos
alcançar nossa autorrealização.

Você pode me dizer agora: “OK! Já entendi que essa tal Sombra é importante.
Mas como evito que ela seja grande e atrapalhe meus filhos?”

Bem, não vou dizer que é fácil, mesmo porque é uma luta que tem exigido
esforço contínuo desse que vos escreve. Mas creio que poderei dar uma contribuição no
que tem sido produtivo para mim e para muitos outros que estão na batalha do
autoconhecimento.

Lembremos que na Sombra está em tudo aquilo que não tenho consciência, ou
até conheço, mas não aceito, e que faz parte de mim. A meta é nossa integração total,
descortinando o material inconsciente que construímos durante nossa existência.

Para identificarmos a Sombra, nada é mais verdadeiro que o antigo aforismo


grego presente na entrada do oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”.

Assim, quero sugerir mais abaixo algumas dicas para tentarmos que nossos
filhos tenham a menor sombra possível.

Digo “menor” porque sinceramente acredito ser praticamente impossível


criarmos filhos sem que existam sombras dentro deles. Não temos controle sobre todas
as vivências que eles terão nos ambientes fora de nossas vistas e que também
contribuirão na formação da sombra.

DICA 1

Busque o encontro com a sua própria sombra. Em outra oportunidade eu vou te


ajudar nesse processo de autoconhecimento. Se não tomar conhecimento do que está
dentro de você, fatalmente acabará transmitindo inconscientemente parte de sua
sombra aos seus filhos.

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DICA 2

Evite projetar em seus filhos os seus desejos não conquistados. É muito comum
projetarmos em nossos filhos desejos que não realizamos.

Muitas mães querem que suas filhas sejam modelos ou ganhem concursos de
beleza. Muitos pais querem que seu filho seja jogador de futebol ou escolha uma
profissão que na verdade é um desejo não concretizado por eles.

Você já sabe que para o seu filho você é uma das duas pessoas mais importantes
na vida dele, assim possivelmente ele vai querer atingir a sua aprovação. Não é raro
em atendimentos encontrarmos pessoas com grandes conflitos e frustrações por terem
seguido os sonhos dos pais e não os seus próprios sonhos.

Dê espaço para que seu filho construa sonhos próprios.

DICA 3

Não sobrecarregue demais seu filho com o pretexto de prepará-lo para a vida.
Alguns pais pensam que seus filhos são maquinas incansáveis e projetam em seus
filhos o medo de não serem bons pais.

Tudo tem o seu tempo. A infância tem um papel fundamental na formação do


ser. Não vai ser difícil seu filho ser infeliz caso não tenha curtido sua infância.

DICA 4

Deixe seu filho dizer o que realmente sente sem julgamentos, apenas ouça.
Muitos de nós temos dificuldade em dizer como nos sentimos. Estimule seu filho a
dizer sempre como se sente sem estabelecer julgamentos. Sentimento não exposto
torna-se a semente do desgosto.

DICA 5

Construa um banco de memórias detalhado para consultas futuras. Procure


registrar o máximo que puder da vivência de seu filho.

Faça fotos do dia a dia, realize filmagens, estimule que faça um diário onde
expõe o que sentiu e viveu no dia a dia, guarde desenhos e cartas que ele fizer para

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você, enfim, crie o máximo de história possível. Tente mostrar ao seu filho essas
experiências passadas sempre que possível.

Essa é uma boa herança para se transmitir. Você ficaria surpreso como isso é
útil nos trabalhos terapêuticos.

DICA 6

Por proteção, temos o péssimo hábito de “fazer de conta” que alguma


experiência ruim não aconteceu. Evite criar assuntos proibidos.

Acredite, conversar naturalmente sobre elas vai evitar que essas experiências
venham assombrar seu filho no futuro e tornem-se fobias ou outros tipos de neurose.

DICA 7

Evite o autoritarismo, converse com seu filho sempre explicando o porquê de


determinado limite que impôs. Mesmo que ele não entenda e discorde, mantenha o
limite criado nunca se esquecendo do motivo.

Pais que acreditam que o autoritarismo é a melhor forma de criar seus filhos
acabam gerando uma sombra tão densa em seus filhos que os mesmos desejam fugir
tão logo seja possível.

O Autoritarismo é sombra que pertence a quem faz uso dele e dá pistas que
algo muito significativo está por trás deste padrão.

DICA 8 (ESSA VALE O “INGRESSO”)

Aprenda a aceitar o mal dentro de seu filho.

O bem e o mal fazem parte de nosso mundo íntimo. Por isso falamos sobre a
dicotomia, ou dualidade, em nosso mundo psíquico. Só sabemos que algo é bom
porque conhecemos internamente seu lado oposto.

Assim, é preciso que você e seu filho saibam que dentro dele existe o bem e o
mal, sendo absolutamente um processo de luta e escolha que lado levará a melhor em
seus comportamentos.

Impor ao seu filho que só pode existir o lado bom dentro de si vai jogar todo o
oposto para a sombra gerando um processo autodestrutivo de seu mundo psíquico por
não aceitar em si próprio o que for “considerado” mal.

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Eu tenho um conto bastante interessante para ilustrar esse item.

É a história de um neto e de seu avô. Para resumir esse conto, tudo trata sobre uma relação
muito amorosa e divertida que um neto tinha com seu avô. O avô era um homem muito
divertido, afetuoso, sempre sorridente, brincalhão e feliz. Contudo subitamente passou a ficar
calado, impaciente e entristecido. Então, o neto não sabendo o porquê dessa mudança na forma
de ser de seu avô, tomou coragem e foi perguntar ao seu avô: “Vô, por que tem estado tão quieto
e triste nesses últimos tempos?”. O avô ficou surpreso e um tanto desconfortável, respirou
profundamente, começou a coçar seu próprio queixo e pôs-se em estado pensativo. Passaram-se
alguns minutos e o velho senhor começou a gargalhar. Seu neto, sem entender muito bem o que
estava acontecendo manteve-se à frente de seu estimado avô, e então recebeu a seguinte resposta:

Sabe meu neto, está acontecendo dentro de mim uma verdadeira batalha entre dois lobos. Um
dos lobos é preguiçoso, agressivo, impaciente, invejoso, ciumento, teimoso, raivoso, violento e
egoísta, o outro é animado, afetuoso, paciente, inspirado, seguro, perseverante, calmo, carinhoso
e caridoso.

O neto espantado, então perguntou: “Mas e então vovô, qual dos lobos vai vencer?”

Sorridente e já se levantando de sua cadeira, respondeu o avô: “Vai vencer aquele lobo que eu
alimentar!”

Deixei o conto do lobo para a última dica porque acredito ser a mais importante
dentre as que sugeri.

O objetivo é juntarmos nossos opostos criando uma terceira via. A via do


equilíbrio. Tudo em excesso precisa ser avaliado e trabalhado. Nem bom demais, nem
ruim demais, nem espaçoso demais, nem isolado de mais.

Precisamos perceber que existe algo de muito positivo no oposto indesejável. É


justamente por sua existência que podemos encontrar o almejado equilíbrio e ajustar
nossos comportamentos.

Temos que acolher todas as partes de nossos filhos, todas precisam ser ouvidas.

A maior parte das características que consideramos ruins no comportamento


humano está relacionada principalmente ao nosso cérebro instintivo, e por isso não há
razões para serem escondidas, e sim controladas. Mas adiante falaremos sobre o
cérebro e isso ficará ainda mais claro.

Se ensinar seu filho a tomar conhecimento e aceitar todas as partes que estão
dentro dele, especialmente as que não queremos admitir, sua força lógica e racional
tornar-se-á muito mais poderosa.

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Quanto maior for o conhecimento que seu filho tem a respeito das partes dentro
dele, sejam elas consideradas boas ou más, maior será o seu controle sobre o sistema
emocional. Desta forma o futuro psicológico equilibrado de seu filho será uma
realidade.

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Os 4
Cérebros

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Os 4 Cérebros
Uau!!! Agora sim você deve estar assustado e pode estar pensando: “Puxa,
comecei a ler um livro para ajudar na educação de meu filho e agora esse cara quer dar aula de
ciências... Quatro cérebros? Sabia que tinha 1, mas 4 já é demais.”

Quero dizer a você que entendo perfeitamente seu espanto. Mas fique
absolutamente tranquilo que o propósito aqui é termos uma noção apenas do essencial
dessa maquinaria maravilhosa que é nosso cérebro, ou melhor, cérebros.

Logo mais, vou mostrar a você porque entendo que temos 4 cérebros e tenho
certeza que será muito útil em sua missão de educar um ser integral.

Até aqui nós falamos basicamente do software, ou seja, da mente, mas agora
chegou a hora de falarmos do hardware, ou seja, dos cérebros.

Uma vez que queremos entender um pouco mais como é o funcionamento geral
do que é envolvido no processo de aprendizagem e integralidade de uma pessoa, não
há como não falarmos dessa ferramenta fantástica.

Mente e cérebro funcionam como um sistema simbiótico extremamente


complexo. Ambos são influenciados e dependem um do outro.

A ciência ainda está muito longe de conseguir interpretar e catalogar tudo que
ocorre nesse mundo cerebral. Muitos cientistas, sem sucesso, acreditam que nossa
personalidade é produto casual da formação genética de nosso sistema cerebral.

Um tanto ingênuo e perigoso esse pensamento, mas isso tem motivado alguns
pesquisadores que lutam para chegar a uma verdade próxima disso. Se tudo fosse
genética então não haveria mais mérito em nada.

Crer que somos apenas um resultado genético que nos impõe um padrão de
comportamentos mostraria claramente quão distante muitas áreas da ciência estão
umas das outras.

Não podemos afirmar que a questão genética não influencia nossos padrões de
comportamento porque sei que não seria verdade. Existem sim, muitas anomalias
genéticas que podem causar impactos patológicos. Basta realizar uma busca rápida
sobre temas ligados à psiquiatria e podemos encontrar muitos casos que atestam isso.

Mas não é bem assim que as coisas funcionam quando falamos da relação
psíquica e fisiológica. Na esmagadora maioria das vezes, o uso adequado da mente
pode amenizar e controlar muitos desconfortos trazidos por anomalias genéticas.

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E como podemos explicar isso? Bem, na verdade, acho que hoje ninguém pode
explicar isso apresentando uma teoria que jamais será discutida. Temos sim, muitas
pistas e análises baseadas em resultados que contribuem para teses bastante
convincentes, mas ainda estamos engatinhando nas áreas da neurociência.

Com base justamente nessas pistas é que todo esse trabalho que estou
apresentando a você foi realizado. Da integração de muitos estudos científicos e
práticos aplicados conjuntamente. Não mais isolando conceitos, mas os conectando e
encontrando uma lógica produtiva capaz de construir pessoas plenas.

Se você fizer um esforço para se lembrar da analogia que fiz entre o smartphone
e as partes da mente, entenderá que quando falamos da aparelhagem cerebral, estamos
falando do smartphone em si.

A relação que começamos a tratar aqui é Usuário x Sistema Operacional x


Smatphone. Para que o usuário e o sistema operacional possam estar bem alinhados, o
equipamento físico precisa estar em perfeita ordem, caso contrário teremos como
resultado um mau funcionamento.

Quanto maior for a compatibilidade e melhor for a gestão dos componentes


físicos, mais poderoso será o equipamento.

Há algo de muito extraordinário que vai além do equipamento cerebral. Algo


que dita as regras e usa o equipamento, e não o contrário. Uma espécie de energia
pensante independente que transcende o que os simples olhos e os equipamentos de
neuroimagem podem ver.

Toda essa força desconhecida é o que representa em parte o que falamos sobre o
inconsciente e o si mesmo, ou seja, nossa totalidade, o Self.

Não somos exatamente o quê pensamos como muitos afirmam. Podemos


escolher o que pensamos a maior parte das vezes, e em outras vezes pensamos coisas
que independem da nossa vontade consciente.

Duvida disso? Então tente NÃO pensar agora em um elefante cor de rosa.
Conseguiu? Muito provavelmente você imaginou o elefante cor de rosa. Isso prova que
respondemos a comandos internos. Mas se eu pedir a você para imaginar qualquer
coisa, você irá pensar em algo aleatório que independe de meu pedido.

Você pode escolher o que vai pensar na maioria das vezes. Em outras você pode
analisar o que está pensando e alterar o pensamento. Isso é escolha também. Seja qual
for a discussão que iniciarmos sobre a ideia de que somos apenas fatalidade de nossa
genética, não acho que encontraremos consistência em dizer que mente e cérebro são a
mesma coisa.

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Para ficar claro, nós podemos usar nossos cérebros. Eu não sou o cérebro, eu
uso o cérebro. Podemos decidir e analisar como ele opera dentro de nós, podemos
escolher e realizar ajustes para um funcionamento cada vez melhor.

E como falar sobre o funcionamento cerebral sem falarmos de neurônios? Eu sei


que você está cansado de ouvir por aí como os neurônios são importantes. Eles são
como agentes superespecializados que estão em algumas partes de nosso corpo,
especialmente nos cérebros, que fazem a “coisa toda” acontecer de verdade.

Eles se comunicam entre si de uma maneira espantosamente rápida e seu


combustível é o que chamamos de neurotransmissores, e esses por sua vez, são como
pacotes que um neurônio entrega ao outro para que a encomenda chegue ao seu
destino correto.

Se quisermos “manusear” o cérebro, temos de fato é que comandar os


neurônios oferecendo o combustível correto.

Bom, chega de preliminares e vamos ao que interessa.

O PRIMEIRO CÉREBRO

Já tem muito tempo que a cultura oriental entende que nosso intestino seria um
outro cérebro. Quando a cultura ocidental começou a entender isso poucas décadas
atrás, a área farmacêutica deu grandes saltos na descoberta de medicamentos.

Mas, por que devemos considerar o intestino como um de nossos cérebros?

Para responder essa pergunta precisamos voltar nossos olhos para os estudos
sobre evolução e teorias genéticas. Não sei se você já tinha reparado, mas procure pela
imagem de um intestino e uma do córtex cerebral.

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Vou facilitar para você.

Percebeu a semelhança? Pois então, os cientistas também, e com isso


desenvolveram a tese de que a evolução genética de nosso córtex cerebral derivaria do
intestino.

Tá certo, mas por que eu estou falando isso para você?

Quero que você tenha conhecimento de que existe uma relação entre o intestino
e nossos comportamentos em geral. Existem mais neurônios em nosso intestino que em
nossa medula espinhal, sabia disso?

Existe uma coisa bem íntima entre nossos intestinos e o que temos em nossas
cabeças, e apesar de engraçado, não é o que você imaginou.

Além da serotonina, que é um neurotransmissor muito importante para nosso


humor, o intestino fabrica e utiliza mais de 30 neurotransmissores. Como falei, os
neurotransmissores são substâncias envolvidas na transmissão e processamento das
informações pelos neurônios, tanto do intestino quanto do cérebro.

Pode parecer bobagem, mas você tendo conhecimento disso poderá perceber
como a alimentação e o equilíbrio intestinal está afetando seu filho, e dessa maneira
criar estratégias para ajuda-lo melhorando seu humor e comportamento. Mais tarde,
em “Tríade do Ser”, comentaremos a respeito da nutrição funcional, uma poderosa
aliada que você não deve ignorar.

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Sempre que falo deste cérebro, acabo lembrando um caso que atendi, onde o
sujeito sofria de ataques de ansiedade e insônia. Acredite ou não, ele consumia cerca de
18 xícaras de café por dia.

Algumas pessoas não sentem esse impacto da cafeína, mas não é conveniente o
consumo de qualquer alimento ou suplemento energético por pessoas que estão
sofrendo de ansiedade ou insônia.

Você já ficou sabendo de algum psicólogo que se preocupa com isso quando
realiza um atendimento? É necessário observarmos as pessoas com mais profundidade
para reduzirmos a margem de erro na avaliação.

Ao contrário do primeiro cérebro, os demais estão todos agrupados em nossas


cabeças. O cérebro humano é formado por diversas áreas que foram evoluindo e
ajustando-se durante os mais diversos períodos evolutivos.

Podemos dividir mais ou menos assim:

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O CÉREBRO DOS INSTINTOS - REPTILIANO

A serpente mora dentro de nós. Desculpe a analogia, é que precisava de alguma


forma ancorar o conceito do cérebro reptiliano. Muitos o relacionam como o
Complexo-R.

Há muito tempo atrás, muitos milhões de anos, esse cérebro começou a ser
desenvolvido entre as primeiras espécies que estiveram em nosso planeta.

Como você pode ver na imagem, esse cérebro reptiliano está localizado na parte
mais inferior. Também chamado de Cérebro Instintivo, esse é o cérebro mais primitivo
e oculto dentro de nós. Está relacionado às atividades instintivas, como de
sobrevivência, autopreservação, domínio e procriação.

Está muito vinculado aos automatismos animais. Quando esse cérebro é


ativado diante de determinadas situações relativas a sobrevivência e marcação de
território, podemos ter comportamentos e reações agressivas extremas.

O CÉREBRO DAS EMOÇÕES - LÍMBICO

Esse é o cérebro das emoções. Basicamente o lugar onde se processam e se


criam todas as emoções. É conhecido também como cérebro químico já que regula
muitos estados químicos internos.

Controla coisas importantes como temperatura corporal, pressão arterial, a


digestão, os níveis hormonais, dentre muitas outras. Outra informação que acho válida
destacar neste cérebro é o processamento das informações sensoriais do ambiente
externo.

É relevante destacar que esse cérebro também tem relações com as épocas mais
remotas da história da evolução, pois controla nosso sistema autônomo orgânico de
sobrevivência. Além disso, participa do processo de arquivamento de novas memórias
e das memórias de longo prazo.

Fazendo mais uma conexão entre mundo psíquico e cérebro, esse cérebro teria
significativa relação com a Persona, pois registra os padrões de comportamentos com
as emoções experimentadas.

É preciso ter cristalino em nossa memória que todas as partes do mundo


psíquico trabalham simultaneamente e de forma multissetorial com as áreas cerebrais.
Obviamente algumas partes psíquicas estarão associadas de forma mais preponderante
a uma ou outra área cerebral.

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Ainda na tentativa de relacionar mundo psíquico e cerebral, poderíamos dizer


que a Persona participa na área da consciência, do córtex cerebral, mais precisamente o
lobo frontal esquerdo, quando racionaliza e planeja o uso dos comportamentos que
compõem uma determinada Persona, e transita pela área do inconsciente, no sistema
límbico quando realiza automaticamente adaptações de acordo com o ambiente onde o
indivíduo está.

Ampliando seu conhecimento sobre o cérebro límbico, você estará mais


preparado para entender um pouco mais sobre algumas reações emocionais e
comportamentos praticados pelo seu filho.

Agora você também já é capaz de entender porque os complexos que falamos


anteriormente são tão importantes e geram tanto impacto no mundo psíquico e
comportamental de seu filho.

É no sistema límbico que as memórias e emoções são processadas e arquivadas


a cada nova experiência. Quanto maior a carga de emoção de uma experiência, mais
provável que ela fique registrada. É nesse cérebro que associamos as pessoas às
experiências que vivemos.

Seria uma das principais residências da Sombra. Podemos também relacionar


esse sistema aos padrões mentais que herdamos de nossos pais.

Apesar de ser um cérebro mais “novo” que o reptiliano, ainda assim podemos
dizer que é primitivo, pois está muito ligado ao cérebro instintivo, e é onde nossas
emoções primitivas, como medo e raiva, são gerenciadas.

Conhecer melhor esse cérebro de emoções, assim como o dos instintos pode nos
facilitar muito a jornada de conhecimento de nossa Sombra.

Mas falar desse cérebro de emoções sem falar da “Amígdala” seria no mínimo
displicência.

Esse componente do cérebro límbico apesar de seu tamanho reduzido tem uma
importância gigantesca no controle das emoções. Precisamos falar um pouco sobre ela.

“Conhecendo um pouco sobre a Amígdala”

Ela tem o formato de uma amêndoa, é responsável por nos alertar dos perigos e
está muito relacionada com as emoções.

Sua rota de ação é muito curta e os estímulos ocorrem antes que o córtex
cerebral possa racionalizar uma experiência. É por isso que primeiro sentimos e depois
pensamos quando estamos diante de situações que nos pegam de surpresa.

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É na amígdala que armazenamos as emoções mais primitivas que possuímos:


raiva, alegria, medo e tristeza.

Ela também ajuda a relacionar as mais diversas cargas emocionais com


recordações de longo prazo. Assim, quando falamos de fobias, traumas, ataques de
pânico, ansiedade e até mesmo depressão, lembre-se que a amígdala está atuando.

E mais, se queremos falar de equilíbrio comportamental, eu realmente preciso


explicar outra coisa a você, o chamado “Sequestro da Amígdala”.

O nome é pesado, mas serve para não esquecermos sua importância. Se


quisermos utilizar estratégias adequadas de controle emocional temos que entender
como a amígdala pode sequestrar nossa consciência provocando reações indesejáveis.

A amígdala nos predispõe e insita reações automáticas quando detecta algo que
pode nos colocar em perigo antes mesmo que possamos pensar sobre a ocorrência e
julgar se realmente estamos em perigo.

Uma vez ativada a amígdala, a raiva e a agressividade podem tomar conta de


nós, e muitas vezes acabamos por reagir de forma desproporcional ou totalmente
diferente do tipo de comportamento que temos habitualmente.

Ela também é a estrela quando falamos do sistema de resposta “Fight or Flight”,


ou melhor, “luta ou fuga”.

Como já falamos, diante de uma circunstância que pode nos colocar em risco, a
amígdala é ativada e quase que imediatamente estamos prontos para a situação de
combate (fight) ligada à agressividade, ou para fuga(flight) ligada ao medo.

Recorde que dissemos que o cérebro límbico controla o sistema autônomo


orgânico de nossa sobrevivência, podemos ilustrar isso destacando que quando
estamos com raiva, nosso fluxo sanguíneo fica mais concentrado nos membros
superiores nos preparando para o combate.

Já quando estamos com medo, nosso fluxo sanguíneo concentra-se nos


membros inferiores nos preparando para corrermos, ou melhor, fugirmos.

É muito interessante o que vou dizer-lhe agora, então peço que tome muita
atenção.

A amígdala é muito mais rápida que o córtex frontal.

Tenho um segredo importante para dividir contigo para você estar preparado e
não ser refém novamente do sequestro da amígdala.

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O fato está em definirmos e arquivarmos o que realmente pode ser considerado


perigoso para nós. Algumas pessoas praticamente surtam quando estão próximas a
uma barata ou rato, enquanto outras não ligam. E por que isso?

É aqui que descortinamos o mistério. Tudo depende do que você realmente


viveu ou acredita que seja nocivo.

Lembre-se que as recordações de longo prazo estão arquivadas nesse sistema,


assim, tudo que você viu e ouviu sobre uma determinada situação vai ser ou não
considerado perigoso de acordo com a carga emocional que estiver relacionada.

Nós vamos ainda falar sobre coisas importantes em outras etapas que ajudarão
ainda mais você a compor seu repertório sobre o assunto. Tenho que tomar cuidado
para não entregar parte do tesouro antes da hora.

Mas por hora posso dizer-lhe que só o fato de recordar, imaginar ou ritualizar
determinadas situações que foram ou poderiam ser perigosas eliminará muita tensão
emocional dessas experiências e assim você não será sequestrado facilmente pela
amígdala.

Podemos dizer que todas as técnicas que visam ampliar a consciência mediante
a prática das mais variadas possibilidades, não deixam de ser um processo de
estruturação do Ego. Anote isso!

O CÉREBRO DA RAZÃO - CÓRTEX

Chegamos à maior conquista do “bicho homem” como é atualmente conhecido.

Após milhões de anos de evolução, finalmente surge a casca. Isso mesmo,


Córtex vem de casca.

Graças a esse cérebro a espécie humana adquiriu consciência e vem evoluindo


ampliando seus horizontes.

Poderíamos imaginar que o córtex cerebral seria o principal território da


consciência, onde moraria o Ego. Ele tem grande importância e tem papel fundamental
na coesão psíquica e fisiológica.

Como fiz com os demais cérebros, não vou aprofundar nas especificações
fisiológicas e vou tentar apresentar a você apenas o essencial sobre as principais
funções relacionadas ao córtex e suas divisões cerebrais.

Devido à complexidade do córtex, precisamos “fatia-lo” para descrever as


principais funções e seu funcionamento resumido.

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Podemos dividir inicialmente o córtex entre hemisfério direito e esquerdo com


suas funções gerais, e depois subdividi-lo em lobos, sendo eles: lobo frontal, lobo
parietal, lobo temporal e lobo occipital.

A respeito das funções características correspondentes a cada lado, preciso


dizer que existem exceções e algumas pessoas são chamadas “invertidas”.

Na maioria dos canhotos os hemisférios cerebrais funcionam da mesma forma


que os das pessoas que preferem o uso da mão direita. Segundo estudos somente 4%
dos canhotos têm as funções dos lobos cerebrais invertidas e menos de 1% dos destros
têm as posições do criar e do recordar invertidas.

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Entendi que seria interessante mostrar as funções relacionadas a cada lobo


cerebral de forma bastante simplificada com a intenção de ficar claro que a mente e
todos “os cérebros” funcionam totalmente integrados.

Você poderá encontrar também alguns artigos que segmentam o que seria um
5º lobo do cortex cerebral, o lobo olfativo. Mas não vá meter o nariz aonde você não foi
chamado, ainda.

Nosso olfato tem uma influência poderosíssima em nossos sistemas emocionais


e até primitivos. Poderíamos dizer que há uma via direta entre nosso olfato e o cérebro
límbico. Isso explica muito o fato de que cheiros e sabores impactam em nosso estado
emocional.

Falaremos mais sobre isso futuramente.

Por hora, existe mais um fenômeno fantástico que preciso que tenha
conhecimento e que ajuda a comprovarmos que existe algo maior que comanda toda
essa estrutura biológica, a Plasticidade Cerebral.

Você já ouviu falar?

Plasticidade Cerebral, ou Neuronal como alguns preferem, é a capacidade que o


cérebro tem de se autorremodelar alterando suas propriedades químicas, físicas e
biológicas. As áreas onde as funções estão associadas podem mudar por diferentes
motivos, como por exemplo, lesões cerebrais.

Isso não é incrível?

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Mas para nós que estamos focados na educação de nossos filhos, melhor que
saber que o cérebro tem a capacidade de se autorremodelar, é saber que a
neuroplasticidade é uma ferramenta que podemos utilizar para aumentar a capacidade
de aprendizagem. Sim, é isso mesmo.

Quanto mais informações estiverem envolvidas no processo de aprendizagem


de determinada tarefa, melhor podemos usar a plasticidade neuronal e
consequentemente maior será o aprendizado.

Em outras palavras, poderíamos dizer que as rotas neurais seriam mais


variadas, com mais caminhos alternativos. Sabendo disso podemos alterar e criar
novos padrões mentais com mais facilidade usando simultaneamente diferentes áreas
do cérebro.

Eu sei que essa etapa é um pouco cansativa, mas perceba que não falamos
exatamente de ciência, e sim construímos um esquema simples para fixar alguns
pontos importantes. No decorrer desta jornada que estamos construindo juntos, em
algum momento, esses pontos se encaixarão como em um quebra-cabeça.

Veremos em breve como mapear nossos filhos, detectar mentiras e


incongruências, identificar padrões e preferências de comunicação, realizar comandos
hipnóticos, entender a origem dos comportamentos inadequados, produzir
neurotransmissores de formas diferentes, entre outras técnicas.

Conhecer um pouco sobre os cérebros facilitará muito seu entendimento nos


próximos passos.

A cada nova etapa, esse grande quebra-cabeça vai se tornando mais nítido.

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As Pirâmides
Fundamentais

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As Pirâmides Fundamentais
Não é de hoje que somos apaixonados por pirâmides.

Nos estudos antropológicos é muito comum encontrarem artefatos, templos e


hieróglifos que nos ligam aos triângulos e à pirâmide. Nossa relação com as pirâmides
vai bem além do Egito.

Com certeza foi com base nesse tipo de pista que Jung conseguiu de forma
brilhante formar o conceito de inconsciente coletivo. Temos muitas coisas dentro de
nossas mentes que não foram aprendidas desde a nossa concepção, de alguma forma
intrigante, já nascemos com algumas tendências e predisposições inconscientes.

É como se trouxéssemos, além da genética biológica, toda a história da


humanidade em nossas mentes.

As pirâmides são muito utilizadas nas tentativas de segmentação ou


categorização de coisas e conceitos.

Seria desperdício não utilizarmos essa força para começarmos a entender como
o mundo interior de nossos filhos funciona.

Vou apresentar a você 3 pirâmides fundamentais para integrarmos todos os


conceitos de mente e cérebro que já falamos.

Se após a leitura de todo o livro você ainda conseguir lembrar que essas
pirâmides existem, acho que já terá valido a pena todo nosso esforço.

Sempre faça uso delas para elaborar seu plano de atuação de acordo com o
momento e necessidades que surgirem no processo de criação de seu filho.

A cada nova dica, informação ou técnica que conhecer através dessa leitura,
tente associá-la ou adaptá-la com os níveis de cada pirâmide.

Leve o tempo que precisar para entender e meditar sobre elas. Um guia
fantástico está surgindo bem diante de seus olhos.

As chances de alcançar a formação integral de seu filho aumentarão


colossalmente a partir dessa etapa.

Vamos a elas então.

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A PIRÂMIDE DAS NECESSIDADES

Em respeito aos mais velhos, comecei por essa pirâmide que foi projetada pelo
psicólogo humanista americano Abraham Maslow, no início do século XX.

Esse psicólogo tornou-se famoso por dar vida à Teoria da Hierarquia das
Necessidades.

Maslow chegou a essa pirâmide após muitos estudos sobre o comportamento


dos povos primitivos e também de seus contemporâneos.

Ele iniciou suas pesquisas após ter acesso a um trabalho realizado por
antropólogos que acompanharam de perto as mudanças comportamentais de uma
tribo que estava em convívio muito harmônico e estruturado até ser migrada para
outra região.

A partir daí foram detectados comportamentos que começaram oferecer um


valioso material para o início da formação da teoria das necessidades de Maslow.

A tribo em questão desestruturou-se e começou a dedicar seus esforços à


procura de alimento e abrigo. Na sequencia começou a criar sistemas de defesa contra
predadores. Só então começou a harmonizar-se novamente.

Essa é a base da pirâmide que ilustra a Hierarquia de Necessidades.

O resultado de todo o trabalho desse psicólogo torna-se muito interessante


quando percebemos o topo de sua pirâmide.

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Assim como Jung ele também identificou que o objetivo da jornada é a


autorrealização e que esse caminho independe necessariamente da vontade do ser, em
outras palavras, quando um dos níveis da pirâmide está satisfeito, automaticamente o
próximo nível é almejado.

Apesar de existirem diferenças relevantes entre as teorias de Jung e Maslow, o


destino final é o mesmo.

Como você já sabe, o equilíbrio ideal, ou seja, a plenitude psíquica de cada um


de nós está na conclusão da viagem que nos conduz à harmonia entre o Ego e o Self, ou
equilíbrio entre energia consciente e inconsciente, ou supremacia do cortex sobre o
cérebro primitivo, ou ainda, o alinhamento das necessidades físicas com as espirituais.

Nessa pirâmide você pode ver que quando os níveis mais básicos são satisfeitos,
o ser busca e está preparado para o próximo.

Mas devo confessar que não é bem assim que acontece sempre, segundo o
próprio Maslow é muito difícil o homem atingir a autorrealização. Nas pesquisas que
ele mesmo fez com americanos, apenas cerca de 1% chegou a esse nível, o mesmo
resultado foi percebido por Jung.

Isso ocorre porque o homem ainda está muito ligado às necessidades do prazer
e da satisfação física. Para Jung é exatamente isso que causa os distúrbios psíquicos, o
Ego desestruturado sucumbe às necessidades mais primitivas porque está desprovido
de crenças e valores que o levariam a diluir sua sombra e almejar o encontro de si
mesmo.

Nossa energia consciente luta contra toda a história da evolução e traz um fardo
pesado em relação às necessidades de sobrevivência e de segurança. Veja que nossos
instintos são muito fortes, sendo muito difícil falarmos de amor, respeito e
autorrealização enquanto existir a privação do material.

Minha tese é que a humanidade caminha para a fatalidade da evolução. Em


uma visão otimista acredito que após superarmos os desafios que serão trazidos pela
ciência e tecnologia, estaremos com as necessidades básicas satisfeitas.

Assim os povos que herdarão a historia que estamos construindo, já terão


metade da pirâmide das necessidades atendida, ficando muito mais fácil chegarem à
meta final.

Hoje o cenário da maioria é o seguinte, o Self chama, o Ego não ouve, e assim os
distúrbios como as neuroses e o vazio existencial tomam conta do ser. Temos povos
com necessidades básicas totalmente atendidas mais ainda sem a conquista do amor e
do respeito.

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Tudo isso é facilmente observado quanto vemos pessoas com posses e títulos,
que são respeitadas e admiradas pelos demais, mas são miseravelmente infelizes.

Se almejamos o melhor para os nossos pequenos, temos que estar atentos e


identificarmos se estamos atendendo as necessidades antes de exigirmos algo deles.

Para vermos como essa pirâmide funciona na prática, imagine que você quer
negociar algo com seu filho para que ele atenda algum desejo seu. Se ele estiver com
fome, com sede ou frio, vai ser muito difícil ganhar a atenção dele e motivá-lo, certo?

Errado, você pode usar justamente essa necessidade básica para que consiga a
atenção dele, provavelmente vai funcionar melhor que oferecer um abraço (afeto). Veja
que hoje muitos pais já fazem isso de forma equivocada e inconsciente quando
prometem brinquedos (propriedade) para que seus filhos cumpram determinada meta.

Outra coisa importante é perceber que será muito difícil que seu filho tenha
autoconfiança ou autoestima elevada, se não tiver o amor e as demais necessidades de
segurança e sobrevivência atendidas.

Eu disse muito difícil, mas jamais diria impossível. Não creio que as teorias
sejam inflexíveis, e precisam ser revistas com um olhar mais criativo e personalizado a
cada nova geração.

Os critérios de algumas necessidades dependem de valores e crenças que


podem influenciar no que é segurança para cada um de nós.

Para alguns privar-se de alimentos pode ser um caminho de iluminação, isso é


uma crença, e ainda nessa etapa veremos como as crenças são mais importantes que as
condições do ambiente.

E não é só isso. Há muito mais profundidade nessa hierarquia de necessidades


do que parece. Não é a toa que muitos a chamam de teoria da motivação.

Vejam um exemplo de como foi importante tudo o que já falamos nas etapas
anteriores. Todo o conhecimento que você já tem é fundamental para dar o devido
valor a essa e às demais pirâmides que vou apresentar a você.

Imagine uma mãe faminta. Sabemos que ela é capaz de ceder sua parte do
alimento pela sobrevivência de seus filhos. A pirâmide mostraria que a necessidade do
alimento seria pré-requisito para o nível do amor, o que tenderia ao fato da mãe não
respeitar o amor que sente pelos filhos e ceder à sua necessidade básica de alimentação.

Não vamos cair nessa armadilha, a base da pirâmide coincide com o cérebro
instintivo límbico, ou seja, aqui não falamos necessariamente do amor mas do instinto
materno.

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Anote aí também que todos os mamíferos precisam de algo que vai além das
necessidades básicas, querem ser livres. Não haverá sucesso se você não aceitar e
prever que seu filho precisa de alguma liberdade monitorada.

Também acho relevante mencionar que se tratando do topo dessa pirâmide, ou


seja, da autorrealização, não devemos imaginar que a mesma seja uma meta razoável
para exigirmos de uma criança ou adolescente.

Essa meta é projeto de uma vida madura e consciente que pode ser muito mais
facilmente atingida se conseguirmos ajudar nossos filhos a entenderem e a satisfazerem
essas necessidades.

Você já será um vencedor se entregar seu filho à fase adulta com os 3 níveis
mais básicos das necessidades satisfeitos. Se conseguir então, que ele entre na fase
adulta já com o 4º nível atendido, então você será uma das pessoas mais admiráveis do
nosso tempo.

Eu acredito fielmente que podemos estar entre elas. Nós vamos ter que suar a
camisa e estar com todas as pirâmides fundamentais claras e estampadas em nossas
mentes.

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A PIRÂMIDE DA APRENDIZAGEM

Muito bem, agora estamos prestes a acessar informações valiosíssimas que o


tornarão mais preparado para nossa missão.

Essa pirâmide foi criada por um psiquiatra americano chamado William


Glasser, depois de muita dedicação sobre os formatos de educação e aprendizagem a
que somos expostos.

O que ele descobriu é de utilidade e valor imensurável. A partir de suas


descobertas os sistemas e técnicas de aprendizagem começaram a ser transformados.

Você percebeu bem, eu disse começaram. Infelizmente o sistema padronizado


de ensino que temos na maior parte do mundo está bem longe de atender o que essa
pirâmide apresenta.

Na verdade essa pirâmide pode ser considerada um desmotivador de escritores


voltados ao aprimoramento humano. Apenas olhando para ela você entenderá porque
estou dizendo isso.

Pois é, apenas 10% do que lemos em média pode se tornar aprendizado.

Você pode me perguntar: “Se você sabe disso, por que está escrevendo esse
livro?”

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O motivo está na base da pirâmide. Estou apresentando uma proposta nova


para que você exercite, pratique e ensine seu filho.

Talvez o maior beneficiado por essa obra não seja seu filho, e sim você.

E claro, para escrever esse livro tenho que dizer que tive que estudar e
pesquisar muito, ou seja, nessa minha tentativa de trazer algo novo para ajudar na
educação e formação de nossos filhos estou potencializando o meu aprendizado.

Essa pirâmide explica também porque estamos vivendo uma época onde a
criação de vídeos explicativos supera muito a elaboração de um livro. Afinal, quando
vemos e ouvimos assimilamos cerca de 50% de todo conteúdo, uma luta entre Davi e
Golias.

Perceba que a cada nível que seguimos em direção à base desta pirâmide, o
aprendizado torna-se cada vez maior.

Hoje, como membro da Sociedade Portuguesa de Neurociências, posso sugerir


que isso ocorre porque quanto maior for o número de canais cerebrais distintos que
envolvemos em uma experiência, maior será a quantidade de rotas neurais geradas,
dando assim um claro aviso de importância ao nosso cérebro para que as informações
recebidas tornem-se memórias efetivas.

Quando lemos estamos basicamente utilizando o canal visual associado ao


nosso lobo occipital sem o uso de imagens associativas, quando observamos já estamos
tendo um novo acesso a um banco de imagens que traz grandes variações, quando
observamos e ouvimos mais um novo canal (o auditivo) participa do processo, e assim
por diante.

Observe que nas tarefas onde absorvemos mais conhecimento, segundo a


pirâmide de aprendizagem, estamos utilizando outros canais complexos que envolvem
o sistema motor, cinestésico (sensações) e de planejamento.

É promissor imaginarmos os benefícios que teremos quando as instituições de


ensino e seus professores estiverem alinhados com essa teoria.

Não tenho dúvidas que já deve ter entendido que se quiser que algo seja
realmente absorvido pelo seu filho com mais rapidez e velocidade, deve criar
estratégias que envolvam principalmente os 3 níveis mais básicos da pirâmide.

Mas isso não significa que os demais não sejam válidos e não devam ser
utilizados. Pelo contrário, ter o conhecimento de como o sistema de aprendizagem
ocorre de forma geral dá a você a liberdade de usar técnicas que atendam todos os
níveis.

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Quero dar minha contribuição sobre essa pirâmide. Ela não prevê
necessariamente o impacto que pessoas diferentes podem gerar na assimilação do
aprendizado. Recordemos que os pais têm uma penetração e importância muito maior
na vida da criança.

Isso explica porque uma criança pode absorver muito mais aprendizado do que
os 30% apresentados, quando observa seus pais tendo um ou outro comportamento,
gerando um novo padrão mental.

A partir desse momento você tem condições de entender porque o diálogo e o


exemplo são tão importantes para o aprendizado de seu filho.

Apesar da teoria de aprendizagem ser compatível com os princípios


motivacionais, fatores como a motivação não são mensurados, mas exercem impacto
extremamente significativo no processo de aprendizado.

É por isso que a última pirâmide que vou lhe apresentar é tão importante. Ela
prevê e define o poder neurológico que fatores como ambientes e crenças possuem em
nossas mentes.

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A PIRÂMIDE DOS NÍVEIS NEUROLÓGICOS

Funciona assim, quanto mais próximo do topo, maior é o poder que a categoria
exerce sobre nós. É como se em cada um desses níveis houvesse uma potência
equivalente gerada pelas conexões neurais. Quanto mais alto o nível neurológico,
maior o choque.

Essa pirâmide teve seu desenvolvimento a partir dos estudos da teoria da


comunicação de Gregory Batson, um antropologista inglês. Depois, brilhantemente
Robert Dilts deu vida à pirâmide de Níveis Neurológicos de Aprendizagem e
Mudança, levando em conta as suas análises sobre a pirâmide da aprendizagem de
William Glasser.

Dilts é uma das grandes mentes que contribuíram muito na área da


Programação Neurolinguística (PNL) ao lado de seus fundadores Richard Bandler e
John Grinder.

Essa pirâmide que estou lhe apresentando já está um pouco mais detalhada e
traz as perguntas que levam ao seu nível correspondente, o que facilita muito o seu
entendimento.

Gostaria de destacar que quando falamos de espiritualidade no topo desta


pirâmide, na verdade devemos entender como se fosse o impacto que causamos nas
pessoas e coisas que estão além de nós, é mais no sentido de transcendência.

Outro detalhe que acho pertinente é que falar em missão tratando-se dos
pequenos não seria adequado. Ao invés disso usemos “sonho”.

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Uma criança com um “sonho”, se bem direcionada poderá facilmente inserir


crenças e adquirir as capacidades necessárias para que esse sonho se realize.

E não vamos confundir o sonho de “ter” com o sonho de “ser” de uma criança.
O sonho de ter estaria na base da pirâmide das necessidades de Maslow(posse),
enquanto que o sonho de “ser” estaria vinculado ao topo da mesma pirâmide.

Para ilustrar um pouco mais, devo dizer para você que as questões e problemas
ligados ao ambiente são mais fáceis de corrigir e com recompensas mais rápidas,
seguidas pelas situações relacionadas ao comportamento, depois capacidade, e assim
por diante.

Dilemas ligados à identidade ou sistema de crenças são bem mais complicados


de serem resolvidos.

Seguindo do topo em direção à base, cada nível ordena os seus inferiores, ou


seja, recebem prioridade em nosso sistema psíquico.

Calma, eu vou explicar melhor porque essa pirâmide é muito importante para
nós.

Se eu disser assim: “Você é um desajeitado mesmo!”. Em que nível você acha


que essa afirmação entraria na mente de seu filho?

Na identidade, claro. Sempre que utilizamos o verbo “ser” em uma frase


estamos nos relacionando diretamente com o nível de identidade de nossos filhos. Fica
aqui a dica de que podemos usar expressões sempre potencializadoras com o verbo
“ser” para ajudar nossos filhos em qualquer situação que envolva algo que precisa ser
melhorado.

Quando a própria criança fala, podemos investigar qual é a crença que está
associada para planejar nossas ações de auxilio. Quando a criança ouve é diferente, é
como um sistema de feedback, ou seja, ela recebe um retorno de como alguém a vê ou
uma informação que ela poderá ou não assimilar.

Nós então podemos atuar de duas formas, uma delas é ativa, usando
corretamente a nossa linguagem e ações para fortalecermos ou enfraquecermos algo no
mundo psíquico de nossas crianças, e a outra é passiva, agindo através da aplicação de
estratégias após percebermos que algo está errado na maneira de falar e/ou
comportamento de nossos filhos.

A linguagem é apenas uma das ferramentas que podemos usar aplicando a


teoria dos níveis neurológicos, isso precisa ficar claro. Nossa linguagem alinhada aos
níveis da pirâmide é uma capacidade que estamos aprendendo para alcançarmos à
nossa missão.

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Agora se eu disser: “Você fica muito agitado quando está no meu quarto!”. De
qual nível estaríamos falando?

Do ambiente, uma vez que ligamos a ocorrência ao local em que ela ocorre. Essa
expressão tem bem menos intensidade psicológica porque se encontra na base da
pirâmide.

Seu filho não passará a crer que é agitado sempre, mas apenas quando está em
um local especifico. Dessa forma, é muito mais fácil corrigir o problema gerando
adaptações diretamente onde o problema ocorre.

Agora citemos um exemplo onde é o nosso filho quem diz: “Eu sou um idiota”.
Aqui perceba que ele usou a linhagem no nível de identidade, e assim, essa crença
depreciativa está tomando grande energia dentro dele.

Nesse caso temos que ter mais habilidade para entendermos porque ele está
achando-se idiota e aí então partirmos para uma estratégia assertiva.

Imaginemos que na sequencia do diálogo seu filho diga a você que pensa ser
um idiota porque se afasta do grupo no momento de jogar futebol devido não saber
jogar. Você poderia usar uma estratégia assim:

1- Ajuste a linguagem direcionando o fato para um dos níveis mais baixos da


pirâmide. Ex: "Filho, você se sente mal apenas “quando” (ambiente) vai
jogar futebol.
2- Você pode matriculá-lo em uma escola de futebol para que ele consiga
(capacidade) aprender o mínimo para participar do jogo sem sentir-se mal,
ou, pode tentar inserir uma crença fortalecedora de que o fato de não saber
jogar futebol não o faz um idiota. Mostre a eles que muitos gênios (um dos
antônimos de idiota) não eram bons em esportes.
3- Ou ainda poderia sugerir a ele a missão de conseguir participar do jogo
superando a vergonha.
4- Quem sabe, até ajudá-lo a transcender indo para o topo da pirâmide,
sugerindo que ele deve jogar mesmo sem saber, para impactar
positivamente outras crianças através de seu exemplo (legado), que acabam
sendo isoladas pelo fato de não sentirem-se aptas para alguma atividade.

Perceba que criei uma estratégia, primeiro oferecendo o antídoto da linguagem


e enquadrando o fato no nível de ambiente, e depois busquei alternativas que
estivessem relacionadas a níveis acima, como capacidade, crença, missão e até
transcendência.

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Agora, imagine que seu filho chega da escola e você diz a ele: “Você não precisa
ser agressivo com seus irmãos!”. Aqui estaríamos atingindo o nível neurológico de
comportamento, e segundo essa pirâmide, somente uma estratégia vinculada a alguma
das categorias acima poderia corrigir o comportamento indesejável. Portanto, use sua
criatividade.

Citei o comportamento porque geralmente é onde os pais mais se focam no dia


a dia dos filhos.

Não é difícil percebermos que o que mais nos incomoda são os comportamentos
inadequados de nossos pequenos, seja em que ambiente for.

Quero aproveitar essa oportunidade para lhe dizer que todo comportamento
tem uma intenção positiva. Isso é importante, independentemente de você concordar
ou não, qualquer comportamento visa atender alguma necessidade interna de quem o
realiza. Portanto, identificar essa necessidade vai facilitar muito sua vida.

Agora você já sabe que atuar junto ao seu filho alvejando os níveis de
capacidade, crenças e identidade, é o caminho mais aconselhável quando pretende
corrigir algum comportamento. Utilize as ferramentas que tiver em mãos.

Para ter uma ideia do empoderamento que terá quando souber usar essa
pirâmide, gostaria de trazer a você uma análise que pode mostrar claramente que se os
níveis superiores estiverem corretamente alinhados, seremos quase que imbatíveis.

Na verdade, são dois exemplos.

Neste primeiro exemplo, recordemos da segunda grande guerra mundial. Como


Hitler conseguiu que seus homens seguissem praticando atos desumanos? Assim como
todo ditador, ele iniciou o processo usando a sombra coletiva da intolerância sob o
pretexto de defesa. Ofereceu como meta, uma Alemanha ou mundo futuro com uma raça
pura (transcendência), impregnou no nível de identidade de seus soldados, o orgulho de
ser alemão e deu a missão de tornarem-se o povo dominante, aí ficou fácil implantar a
crença que outros seres eram inimigos, o que deixou caminho aberto para que
desenvolvessem capacidades e estratégias que culminariam com o maior genocídio da
história.

Neste segundo exemplo quero citar o trabalho de alguns seguidores de


“determinadas” correntes religiosas que se tornam verdadeiros soldados incansáveis nas
ruas para captação de novos fiéis. Seus líderes, inicialmente implantam o conceito da
transcendência divina, ou seja, o que estarão fazendo impactará no mundo. Seguido a
isso, essas pessoas são iniciadas e assim são atingidas no nível de identidade como
“escolhidos,” com a missão de “converter” e salvar todas as almas. Na sequencia a

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crença que a religião professa é inserida. Pronto, dificilmente alguém conseguirá mudar
o que essa pessoa pensa.

Se você revisar tudo que vimos até aqui, vai perceber que estou usando os
níveis neurológicos em todo momento.

Até esse instante, fortaleci o seu sistema de crenças através de um arsenal


poderoso de conhecimentos, busquei a fixação de nossas identidades como pais
destacando a missão de formarmos nossos filhos, que por si só já são o maior legado
que podemos deixar ao mundo.

Muitos de nós estamos incongruentes nesse momento. Todos queremos o


melhor para nossos filhos, queremos deixa-los preparados para a vida adulta, mas não
estamos com as capacidades e comportamentos alinhados com essa meta.

Toda a trajetória que já percorrermos, e ainda vamos percorrer nesse livro, tem
como pressuposição básica oferecer o máximo de recursos capazes de alinhar nossos
próprios níveis neurológicos potencializando muito as nossas chances de sucesso.

Começamos pelo nível do legado, ou seja, transcendendo nosso próprio “eu”


impactando na vida de nossos filhos que por sua vez impactarão o mundo. Depois fica
fácil nos identificarmos como pais, o que está liberando acesso para inserirmos novas
crenças relacionadas às capacidades e comportamentos que precisamos para formar
nossos filhos da melhor forma possível, seja onde for, ou melhor, em qualquer
ambiente.

Lembre-se, os níveis superiores ordenam os inferiores.

Mas entre todos os níveis, tem um que considero o mais importante na fase de
criação de nossos filhos, o nível de Crenças e Valores.

É aí que o espetáculo acontece. Na prática podemos dizer que o conteúdo


inserido no sistema de crenças e valores de seu filho é o que vai motivá-lo e prepará-lo
de fato para os desafios do crescimento e da vida adulta.

Você ficaria muito surpreso com a quantidade de pessoas que buscam apoio
terapêutico para superação de bloqueios, onde a origem do problema são crenças
extremamente limitantes, impeditivas e depreciativas formadas em seu processo de
formação.

E adivinhe de quem é a culpa? Pois é, dos pais na grande maioria das vezes.

Podemos até dizer que o grupo de amigos ou a escola sejam também


responsáveis, mas as crenças apenas serão prejudiciais se os pais não estiverem atentos

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para oferecer a vacina correta no momento oportuno. Lembremos que para a criança
nada tem maior poder construtivo ou destrutivo que os pais.

Podemos entender isso com certa facilidade, até brincando um pouco com essa
pirâmide. Os pais estão ligados diretamente ao nível de identidade, isso explica porque
os complexos materno e paterno são tão poderosos em nossas vidas.

O sistema de crenças e valores é tão importante para nós que receberá atenção
exclusiva a seguir.

Mais uma dica importante, procure sempre enquadrar os problemas nos níveis
inferiores e as soluções nos níveis superiores.

Pronto! Com a pirâmide dos níveis neurológicos, completamos as pirâmides


fundamentais que são peças que não devem sair de sua mente durante a sua missão
como educador.

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Sistema de
Crenças e
Valores

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Sistema de Crenças e Valores


A crença é uma profecia autorrealizável.

A partir dessa etapa as coisas vão começar a mudar. Estava tão ansioso quanto
você para começarmos a colocar a “mão na massa” para valer.

Como eu falei antes, o sistema de crenças e valores é o nível da pirâmide


neurológica que eu acredito ser a mais importante em nossa missão de formadores.

Tudo o que fazemos está ligado diretamente ao sistema de crenças, ele é o


motivador de nossas vidas.

Podemos associar uma crença a qualquer nível da pirâmide de níveis


neurológicos, e por isso é como se ela tivesse vida própria. Como se estivesse sempre
conectada com todas as demais partes.

Temos crenças ligadas ao ambiente, outras ligadas à capacidade, algumas


ligadas às nossas missões e por aí vai. Funciona sempre da mesma forma, quanto mais
alto o nível onde a crença estiver conectada, maior é o poder que ela exerce sobre nós.

Se conseguiremos usá-las a favor ou contra nossos filhos, vai depender muito


da nossa habilidade em transitar pelos níveis da pirâmide neurológica.

Vou dar um exemplo, se sua filha chega a você e diz: “Eu sou ansiosa.” Tente
perceber que ela criou uma crença sobre identidade. Ela acredita que a ansiedade faz
parte do que ela é, e sabemos que isso não é verdade, ansiedade é um estado interior
que muda de acordo com as experiências que vivemos.

Ou então, se eu disser a você: “Sou um bom escritor.” Aqui estou utilizando


uma crença sobre identidade. Perceba que “escrever” é uma capacidade, não
identidade. Mas como usei o verbo “ser” eu potencializei uma capacidade usando
outra crença sobre identidade.

Se eu dissesse que sou um bom escritor quando estou de férias, perceba que o
poder desta crença é bem menor porque está vinculada ao ambiente (quando ou onde)
e não no nível exclusivo de identidade ou missão.

Se eu quiser estimular meu filho a escrever, qual das seguintes frases você acha
que terá mais poder sobre ele e acabará o motivando mais?

“Filho, você escreve bem sobre heróis.”

“Filho, você é um ótimo escritor. Acho que você pode escrever para fazer as
pessoas felizes.”

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Escolha fácil, certo? Na primeira frase, eu defini acesso ao sistema de crenças no


nível de ambiente, talvez associado à capacidade. Mas já na segunda é como se não
dependesse de nenhuma condição, ou seja, ele é um bom escritor e pronto. Além disso,
a frase já contém o ingrediente mais alto da pirâmide, a transcendência, porque ele
pode impactar os outros através de sua capacidade de escrever.

Perceba o estrago que você pode fazer quando diz com frequência ao filho:
“Você é terrível!”, ou “Você é distraído!”. Se sua intenção é criar crenças limitantes
impedindo a formação de segurança, autoconfiança e autoestima, parabéns, esse é o
caminho.

Lembre-se que a perguntinha chave para o nível de crenças é: “Por quê?” ou


“Por qual motivo?”

Recorda-se dos padrões que herdamos dos nossos pais? Todos, sejam eles os
que consideramos bons ou ruins, estão diretamente relacionados ao sistema de
Crenças. As crenças dos pais acabam se tornando em boa parte, as crenças dos filhos.
Tudo o que a criança vê, ouve e experiência, gera suas crenças.

Não é só isso, muitas vezes os pais inserem crenças através da linguagem e


comportamento inadequados, mas que não são necessariamente crenças que eles
possuem. Como no exemplo que citei sobre dizer ao filho que o mesmo é terrível ou
distraído.

Os pais não pensam que os filhos são assim em todos os aspectos, mas quando
estão em estados de irritação, utilizam a linguagem de forma equivocada e imprimem
essa identidade na criança que pode trazer prejuízos psíquicos no futuro.

É muito importante dar a atenção devida a essa etapa. O sistema de crenças é o


que vai praticamente nortear a jornada de vida de seu filho.

Para termos uma ideia, muitas teorias biológicas já estão sendo minuciosamente
debatidas e estudadas comprovando que a crença é o gatilho de determinada doença
que podemos desenvolver por heranças genéticas.

Posso citar o trabalho de um brilhante biólogo americano Ph.D., Dr. Bruce


Lipton, que gerou uma tese minuciosa chamada “A Biologia da Crença”. Em linhas
gerais ele conseguiu mostrar como as células desenvolvem-se e comportam-se de
acordo com o ambiente. Em suas pesquisas o sistema de crenças é o ambiente.

Você já deve ter ouvido também a respeito do “efeito placebo”, pois é, ele
também está diretamente relacionado ao poder da crença e pode ser explicado, ao
menos em parte, pela mesma teoria.

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Imagine você, o poder que a crença tem em nossas vidas, elas impactam até o
nível celular. Uma vez que mente e corpo estão sempre conectados como uma rede
cibernética, fica fácil entender que as crenças são como a fundação para construirmos
um ser dotado de saúde integral.

Existem muitas variáveis além da linguagem que podem imprimir na criança


uma crença de forma significativa. Ouvir algo de um professor não tem o mesmo peso
que ouvir dos pais.

Busque em sua memória a etapa que falamos sobre os complexos. Quanto mais
inflado for o balão associado à crença, mais facilmente será inserida. Isso explica
porque os pais são a peça principal na formação do sistema de crenças da criança ou
adolescente.

O tema é tão significativo que existem livros inteiros apenas sobre o sistema de
crenças. Não quero e não tenho a pretensão de esgotar o tema aqui.

Como nosso foco principal é a formação de nossos pequenos, vamos dividir as


crenças em dois grupos. Um grupo são as Crenças Limitantes, o outro as Crenças
Potencializadoras ou Fortalecedoras.

Uma CRENÇA pode ser qualquer verdade psíquica, seja ela imaginária ou real,
em que a criança acredite consciente ou inconscientemente como verdade absoluta
para sua vida.

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CRENÇAS LIMITANTES E CRENÇAS FORTALECEDORAS

Ok, vamos adiante.

Crenças Limitantes, como o próprio nome já diz, são as crenças que “limitam”
nossos filhos.

Preciso deixar claro que nem sempre a pessoa ESCOLHE viver por determinada
crença, especialmente no caso das crianças, elas são condicionadas a acreditar em algo,
e isso se torna um sistema inconsciente que a leva a um automatismo mental.

As crenças limitantes minam o potencial do ser, causando bloqueios mentais


que o impedirão de progredir em diversos setores de sua vida.

Outra coisa que preciso explicar é que na verdade, toda crença, seja ela qual for,
em um determinado contexto pode tornar-se limitante, mas não é nesse ponto de vista
que estamos catalogando as crenças limitantes dessa etapa.

Explicando melhor, imagine que você tenha a crença que precisa ser uma
pessoa honesta. Essa crença o impedirá de roubar alguém. Assim, essa crença
impediria, ou melhor, limitaria você.

Além disso, todos sabem que na educação de uma criança, precisa haver
limites. Muitos pais confundem Crenças Limitantes com os limites necessários da
educação.

Anote aí, existe uma nítida diferença entre os limites da educação e os limites
que poderão impedir ou dificultar, e muito, o bom desempenho do ser em sua
trajetória.

Os “limites” de educação precisam existir, a criança também precisa se frustrar


às vezes, caso contrário, estaremos criando pequenos tiranos. Não devemos considerar
amor com o sinal de fraqueza, e nem limites como sinônimo de dureza.

É preciso estabelecer limites em seu lar que estejam alinhados com o amor e
com os valores da família.

Muitos pais por medo de perderem o controle sobre os filhos acabam por
escolher o caminho mais extremo de imposição de limites, e assim não permitem que
eles desenvolvam confiança e habilidades importantes como a criatividade.

Dessa forma, para facilitar, eu achei melhor dividir em 4 tipos as Crenças


Limitantes com seus respectivos antídotos, isto é, Crenças Fortalecedoras. Devemos a
qualquer custo evitar inserir limitações na mente de nossos filhos.

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No processo de formação de nossos filhos, mais importante que não inserir


Crenças Limitantes é inserir Crenças Fortalecedoras.

Poderíamos definir Crenças Fortalecedoras como um conjunto de ideias


positivas que nos empoderam. Aquelas crenças que nos fazem pensar positivo e crer
que somos capazes de conquistas extraordinárias quando reconhecemos e colocamos
em prática o nosso potencial.

Essas crenças fortalecem a nossa autoestima e autoconfiança, nos motivam a


agir na direção dos nossos sonhos e metas, nos encorajam a sermos fortes e,
especialmente, a superar e vencer nossas limitações e bloqueios.

É basicamente o inverso das crenças limitantes, e por isso também servem de


antídoto para limitações já inseridas.

Além das 4 categorias de crenças limitantes que falaremos a seguir, podem


existir mais. Aproveitando o trocadilho, não vamos “limitar” nosso horizonte e achar
que todas as crenças limitantes estão apenas nesses grupos que vou sugerir.

CRENÇAS LIMITANTES SOBRE DIFICULDADE

As crenças limitantes sobre dificuldade estão ligadas ao entendimento de que as


coisas boas devem ser de difícil acesso. Em outras palavras, para alcançar uma meta, o
sujeito acredita que deve passar por muitas dificuldades.

Sabemos que quanto maior for um objetivo, mais empenho e dedicação serão
necessários. Contudo, não é por essa razão que se deve acreditar que é necessário
sofrer ou enfrentar odisseias traumáticas para alcançar um sonho ou meta.

Se seu filho tiver crenças limitantes sobre dificuldade, terá um padrão mental
de geração de dor e sofrimento quando quiser mover-se a um objetivo. Isso culminará
em desgastes de energia sob todos os aspectos e infelizmente poderá impedi-lo de
avançar.

Esse tipo de crenças é muito comum em famílias que utilizam constantemente


linguagem e comportamentos dramáticos em suas vidas.

Frases como: “A vida está muito difícil”, “Nada dá certo para nós”, “Por que
tudo tem que ser difícil para mim?” “Hoje para ser rico só fazendo coisa ilegal.” “Do
jeito que as coisas estão caminhando não sei como vamos sobreviver”, “Se você quiser
algo vai ter que ralar muito”, “As coisas serão muito difíceis para você no futuro”, são
comuns nas famílias de crianças que possuem este tipo de crença limitante inserida.

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Muitos pais costumam dramatizar bastante quando contam suas histórias para
seus filhos na tentativa de suprir alguma carência ou necessidade de valorização.

ANTÍDOTO

O caminho é evitar utilizar esse tipo de expressões pessimistas e


comportamentos dramáticos no convívio com seu filho.

Mas você está sabendo disso apenas agora. Não se desespere. Uma das
melhores formas de remediar essas crenças limitantes é aceitar e declarar que as coisas
são tão fáceis quanto possível, e que qualquer esforço vale a pena. Tudo pode ficar
mais fácil e tranquilo com prática e experiência.

Algumas expressões que traduzem crenças fortalecedoras capazes de reverter


crenças limitantes de dificuldade: “O sucesso e as oportunidades estão ao alcance de
todos”, “A vida só é dura para quem é mole”, “A maioria dos homens mais ricos veio
de baixo”, “Toda longa caminhada começa com o primeiro passo”, ”Dias melhores
virão”, e por aí vai.

CRENÇAS LIMITANTES SOBRE IDENTIDADE

Como já falamos, as crenças estão espalhadas em todos os níveis da


personalidade humana, e podem se mostrar mais acentuadas em um deles, o nível
neurológico de IDENTIDADE.

Já mencionei exemplos sobre esse tipo de crença no início dessa etapa.

Nesse tipo de crença limitante, encontramos uma afirmação que determinada


característica ruim faz parte da IDENTIDADE ou da NATUREZA intrínseca do sujeito.

Frases como: “Você não é bom o bastante”, “Você é atrapalhado”, “Você não é
capaz de fazer isso”, “Você não é inteligente”, “Você é devagar demais”, “Você é
desorganizado”, “Você é hiperativo”,”Você é muito ansioso”, “Você é muito
desatento”, são comuns nas famílias de crianças que possuem este tipo de crença
limitante inserida.

Geralmente quando estamos irritados ou impacientes diante de algum


comportamento que consideramos ruim em nossos filhos, costumamos usar frases
depreciativas direcionadas a eles. Algumas vezes, também ocorre que a frustração dos
pais diante de suas realizações, acaba por projetar essa necessidade de inferiorizar os
filhos em decorrência de uma competição inconsciente, primitiva e instintiva.

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ANTÍDOTO

A primeira coisa a se fazer é evitar sempre esse tipo de expressão depreciativa.


Contudo, somos humanos e por isso somos imperfeitos. Ficamos irritados e não
sabemos lidar com determinadas situações, dessa forma acabamos usando expressões
agressivas que podem minar o mundo psíquico de nossos pequenos.

Quando isso ocorrer, reavalie, desculpe-se, e se for o caso refaça a sentença


diminuindo a CRENÇA DE IDENTIDADE para uma CRENÇA DE
COMPORTAMENTO. Ao invés de dizer “Você é devagar demais”, diga “Você come
muito devagar”, ou até melhor, pode dizer “Às vezes você come muito devagar”.

Uma das melhores formas de lidar com essas crenças limitantes é reposiciona-
las para ESTADOS e COMPORTAMENTOS maleáveis.

Algumas expressões que traduzem crenças fortalecedoras capazes de reverter


crenças limitantes de identidade: “Você é muito bom em várias coisas”, “Ser devagar é
importante em algumas atividades que demandam atenção”, “Você é demais”, “Você é
capaz de se tornar mais organizado”, ”Tenho certeza que você pode melhorar isso”, e
assim por diante.

CRENÇAS LIMITANTES SOBRE CAPACIDADE

Muitas pessoas estão dominadas pela crença de que não são capazes de fazer
qualquer coisa de valor em suas vidas.

Sentem-se incapazes para praticar uma atividade física, mudar sua alimentação,
aprender algo novo ou trabalhar em uma determinada função.

Pessoas que possuem essas crenças de capacidade inseridas não conseguem


imaginar que podem fazer algo que sempre tiveram certeza de que não eram capazes.

Atendi um caso interessante de uma mulher que não conseguia dirigir. Foi um
pouco confuso para chegar à origem do problema. Imaginei que fosse algum trauma,
como não era consciente fui à busca de algum conteúdo inconsciente.

Para encurtar a história, ela cresceu ouvindo de seu pai uma expressão muito
comum: “Mulher no volante, perigo constante!”.

Aqui podemos constatar novamente como uma crença é potencializada quando


a origem da inserção está associada aos pais. Também explica o que disse
anteriormente sobre padrões que podem ser transmitidos mesmo não sendo uma
crença real dos pais.

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E ainda que nesse caso, o bloqueio foi pequeno. Expressões dessa natureza
podem ser insculpidas no inconsciente e levar a um estado de incapacidade feroz que
contamina todas as áreas da vida de uma mulher.

Imagine quantos padrões não são transmitidos dessa forma. Um dos mais
cruéis é o preconceito.

Frases como: “Você não consegue”, “Você não sabe fazer isso”, “Você não pode
correr”, “Você nunca vai conseguir”, “Você não sabe o que fazer”, “Tudo que você faz
é mal feito”, “Você não consegue terminar nada”, “Você só se machuca”, são muito
comuns em famílias onde crenças como essa são inseridas na criança.

É neste tipo de crença que o “não”, o “sim” e o “ainda não”, podem fazer toda a
diferença, especialmente se logo após delas utilizarmos “pode”.

Felizmente acredito que se tratando de bloqueios, tudo que foi feito, pode ser
desfeito. Uma nova contextualização ou ressignificação de uma crença limitante de
incapacidade pode ocorrer e esta se tornar fortalecedora.

ANTÍDOTO

Assim como nos demais tipos de crenças limitantes, no que tange às de


incapacidade, o ideal é que se evite usar expressões ou jargões que estejam
relacionadas à impossibilidade de se fazer algo.

Pode-se falar e citar muitos casos onde alguém também tinha alguma limitação
em alguma atividade e conseguiu superar. Os casos de superação são muito indicados
para ajudar na implantação de crenças fortalecedoras no intuito de reverter um
bloqueio.

Expressões que traduzem crenças fortalecedoras capazes de reverter crenças


limitantes de capacidade: “Você é capaz de fazer isso”, ”Você pode aprender qualquer
coisa”, ”Ninguém nasce sabendo”, ”Nunca aceite que digam que você não pode fazer
algo”, ”Se alguém pode, você também pode”, ”Gostaria de ter muitas habilidades que
você possui”, “Nunca deixe de tentar pelo medo de falhar” e assim por diante.

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CRENÇAS LIMITANTES SOBRE MERECIMENTO

Chegamos a uma das crenças limitantes mais doloridas em minha opinião.

O individuo acredita que não é merecedor de qualquer tipo de felicidade ou


reconhecimento. Nos refolhos da sua alma algum motivo o automatiza a se satisfazer e
a crer que deve viver com pouco ou nada. Isso “porque” não é digno de possuir mais
do que isso.

Esse tipo de crença pode ter diferentes origens. A mais comum é o sentimento
de culpa, seja estabelecido em uma causa plausível ou não.

Às vezes as pessoas se culpam por não terem atingido uma meta que tinha sido
planejada. Com o intuito de se punirem, a maior parte das vezes de maneira
inconsciente, acabam por se autoenquadrarem nas divisas de um complexo de
indignidade.

Assim acabam por não se permitirem avanços ou conquistas, caso contrário o


ciclo de punição acabaria.

A grande verdade é que pessoas que têm esse tipo de crença inserida se
conformam com qualquer vida que possuem, e mesmo quando fatos felizes se
apresentam a elas, sentem que estão longe de merecerem. Na primeira oportunidade
acabam desistindo de qualquer conquista mínima.

Esse tipo de crença acaba também por gerar um padrão de comportamento


chamado vitimização, ou melhor, quem a possui se coloca sempre na posição de vítima
das circunstâncias mantendo a alimentação de seu ciclo de culpa.

Por isso acho que esse tipo de crença é um dos piores. Enquanto a maioria das
pessoas corre atrás da felicidade, alguém que possui esse tipo de crença limitante
acabado correndo para o lado contrário, como se fosse uma fuga interminável.

Desta forma, porque não se sentem merecedores, fogem de relacionamentos


melhores, casas melhores, amigos melhores, empregos melhores, e seguem para um
caminho solitário e perigoso que tende a comportamentos depressivos.

Uma pessoa com tendências depressivas por outras razões diversas, se por uma
fatalidade também tiver esse tipo de crença, comporá um quadro perigosíssimo e
poderá requerer acompanhamento profissional especializado.

Então, vamos ligar a luz de alerta para não inserirmos esse tipo de crença em
nossos filhos.

Frases como: “Não sou feliz por sua causa”, “Por causa de você não podemos
viajar”, “Você nos impede de curtirmos a vida”, “Se não fosse por você teria dinheiro

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para ser mais feliz”, “O que gasto com você daria para trocar de carro todo ano”,
“Quando você nasceu tive que parar de estudar”, “Você merece ser castigado”, “Você
não merece ser feliz”, “Se eu não posso ser feliz você também não pode”, “Criança que
ri demais vai dormir chorando”, “Você não consegue porque não merece”, são mais
comuns do que se imagina na família de crianças que inserem crenças limitantes de
merecimento.

Não muito diferente de outros tipos de crenças limitantes, lamentavelmente


muitos pais culpam seus filhos pelo seu insucesso ou infelicidade. Projetam assim seu
próprio desequilíbrio nos filhos.

Além de expressões como essas que mencionei, é muito comum que crianças
portadoras desse tipo de crença, tenham sido alvo de castigos constantes, inclusive
vitimas de agressão física e punições restritivas ligadas às necessidades básicas
apresentadas na pirâmide de Maslow.

São essas mesmas punições restritivas que acabam ajudando a formar o padrão
desse ciclo vicioso de não merecimento.

ANTÍDOTO

Como nos demais tipos anteriores, o ideal é que não sejam usadas as expressões
e comportamentos que possam acarretar na criança o entendimento de que são
culpadas pela infelicidade alheia, ou que não sejam merecedoras de alguma conquista,
tanto de metas que atingiu como as que não foram atingidas.

Da mesma forma que transcender, impactando positivamente os demais, é o


mais potente nível neurológico, a criança que achar-se a causa da infelicidade alheia,
ou seja, pensar que está impactando negativamente os outros, será vítima dessa mesma
potencia neurológica, mas para associar uma crença limitante de merecimento como
contrapartida ao sentimento de culpa avassaladora.

Castigos constantes e punições severas podem facilmente gerar o padrão de


culpa e não merecimento de afeto. Assim, não preciso nem dizer que é para evitar. Não
faça jamais.

Além de educação e formação, filhos precisam de amor, entendimento e


carinho.

Não vou julgá-lo, mas se você já causou esse impacto ao seu filho, você vai
precisar mudar a forma como seu filho percebe o que é ser merecedor. Você deverá
desculpar-se e tentar de alguma forma criar estratégias de compensação e de
reconhecimento para qualquer conquista, mesmo que muito pequena.

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É imprescindível que seu filho faça as pazes com o passado. Será preciso que
seu filho aprenda a se valorizar. Ele precisa aprender a acreditar que ele nasceu para
ser e ter o melhor que puder ser e ter.

Faça o necessário para que seu filho entenda que não é mais, nem menos digno,
do bom e do melhor como qualquer outro ser humano.

Valorize sempre os momentos felizes, as brincadeiras e os sorrisos. Presenteie e


reconheça as qualidades de seu filho. Elogie mais e critique menos.

AS 14 CRENÇAS CAPITAIS

Agora que você já sabe como as crenças são importantes, eu gostaria de propor
um conjunto de crenças, todas fortalecedoras, para que a medida do possível você
implante em seu filho.

Particularmente gosto muito das pressuposições básicas utilizadas na


Programação Neurolinguística (PNL). Através da prática e do conhecimento
psicanalítico, as utilizei como base e realizei algumas adaptações.

Crença 1 – Não seja o coitado – você não é vítima de nada e nem de ninguém

Diga ao seu filho: Você deve olhar para as situações mal resolvidas em sua vida de
cabeça erguida, com dignidade, respeitando a si próprio. Não é culpa de ninguém, nem
das circunstâncias.

Crença 2 – Seja paciente. Tudo tem a sua hora

Diga ao seu filho: Deseje que as coisas aconteçam no tempo certo, evite antecipar
experiências e pular etapas. A paciência é o adubo do sucesso.

“Um estudo realizado na Universidade de Stanford em 1.970, chamado experimento


marshmallow, desafiou crianças a não comerem um marshmallow durante determinado
tempo. Como recompensa, caso não comecem o marshmallow, ganhariam mais outro,
isto é, teriam 2 marshmallows. O estudo foi realizado isoladamente, ou seja, durante o
tempo combinado as crianças não tinham mais ninguém junto a elas. Essas crianças
foram monitoradas por diversos anos depois. A conclusão é que as crianças que
souberam esperar e não comeram o primeiro marshmallow, tornaram-se adolescentes
centrados com melhor aproveitamento e performance nos estudos, tendenciando a serem
adultos bem-sucedidos e com boa estrutura familiar. Já as crianças que não esperaram e
comeram o primeiro doce antes do tempo combinado, apresentaram dificuldades com
menor desempenho na adolescência e fase adulta.”

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Crença 3 - Não é errado errar!

Diga ao seu filho: Aconteceu o que aconteceu porque era o que você sabia fazer de
melhor naquele momento, você não foi programado para acertar o tempo todo. Errar
faz parte da vida.

Crença 4 – Perdoe aos outros e a si mesmo.

Diga ao seu filho: Não tem nada de errado com você! Você é um ser como todos os
outros! Não se deprima! Se errar, peça desculpas e siga em frente. Você só fez o que
sabia fazer, com o conhecimento que tinha no momento. Hoje, você consegue enxergar
de uma forma diferente porque tem novos conhecimentos. É hora de perdoar aquilo
que você não soube fazer e se libertar da necessidade de ter que acertar sempre.
Lembre-se que os outros também erram.

“Você sabia que quando carregamos mágoa e culpa dentro de nós, não perdoando aos
outros ou a nós mesmos, nosso corpo nos coloca em posição de luta, produzindo de forma
consistente e abundante, hormônios como o cortisol e a adrenalina. Essa rotina biológica
causa impactos negativos drásticos ao nosso corpo, principalmente ao sistema nervoso e
imunológico. Não há saúde sem perdão.”

Crença 5 - Não existe perfeição sem dualidade

Diga ao seu filho: Dentro de todos nós existem coisas boas e ruins. Foque-se nas coisas
boas, admita e controle as ruins.

Crença 6 - Se quer um resultado diferente, faça diferente

Diga ao seu filho: Se você quer mudar algo na sua vida precisa mudar o que está
fazendo. Fazer as mesmas coisas não vai produzir um resultado diferente.

Crença 7 – Dê atenção e não ignore o que sente

Diga ao seu filho: A dor, a irritação ou o incômodo vieram para você porque são seus e
você tem total condição de lidar com isso de forma inteligente. Sinta o incômodo e
abra-se para enxergar o que ele está querendo dizer. É sempre algo seu que você não
está querendo ver e, então, vem de fora como dor/incômodo/irritação para que preste
atenção!

Crença 8 – Respeite a opinião dos outros

Diga ao seu filho: Cada um tem sua forma de ver o mundo. Para que respeitem a sua
forma de ver, você precisa respeitar a forma dos outros verem. Converse e discuta de
forma positiva, não obrigue os outros a verem as coisas como você vê.

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Crença 9 – Seja grato por tudo!

Diga ao seu filho: Agradeça sempre por tudo que vive e possui. Agradecer pelas coisas
boas mostra o valor que você dá a elas, e agradecer pelas coisas ruins mostra que você
entende que elas são fontes de aprendizado. Exercite diariamente a gratidão. Para fazer
com que seu dia comece de forma positiva, já pela manhã experimente pensar nos
diversos motivos que você tem para sentir gratidão. Termine seu dia refletindo sobre
as realizações que lhe deram prazer.

“Você sabia que quando geramos sentimentos de gratidão em nossos pensamentos,


ativamos o sistema de recompensa do cérebro, localizada numa área chamada Núcleo
Accubens. Este sistema é responsável pela sensação de bem estar e prazer do nosso
corpo.
Quando o cérebro identifica que algo de bom aconteceu, que fomos bem sucedidos e que
existem coisas na nossa vida que merecem reconhecimento e somos gratos por isso,
ocorre liberação de dopamina, um importante neurotransmissor que aumenta a sensação
de prazer. Por isso, pessoas que manifestam gratidão vivem em níveis elevados de
emoções positivas, satisfação com a vida, vitalidade e otimismo. A gratidão deve ser
construída pelo nosso pensamento. Construa o reconhecimento interno pensando em
suas conquistas. Por outra via neural, a gratidão estimula as vias cerebrais para a
liberação de outro hormônio chamado ocitocina, que estimula o afeto, traz tranquilidade,
reduz a ansiedade, o medo e a fobia. Exercitar o sentimento da gratidão dissolve o medo,
a angústia e os sentimentos de raiva. Fica mais fácil controlar os estados mentais tóxicos
e desnecessários. O nosso cérebro não é capaz de sentir, ao mesmo tempo, gratidão e
infelicidade.”

Crença 10 – Se alguém pode e consegue fazer você também pode

Diga ao seu filho: Em igualdade de condições e seguindo exatamente os mesmos


passos, se alguém consegue fazer algo você também consegue.

Crença 11 – Seja flexível

Diga ao seu filho: Quem sobrevive não é o mais forte e sim o mais flexível. Aprenda a
adaptar-se às situações que vivenciar.

Crença 12 – Não se preocupe com o julgamento ou a crítica dos outros

Diga ao seu filho: Não se preocupe com o que os outros vão pensar ou falar de você se
demonstrar as suas fraquezas e os seus erros. Todos estão no mesmo barco, ninguém é
superior ou inferior a ninguém. Estamos aqui aprendendo alguma coisa e fazendo o
que podemos com o que sabemos, portanto, a opinião dos outros não pode ser tão
relevante assim em sua vida. Ninguém está vivenciando a sua situação no seu lugar,
então, ninguém pode saber o que é melhor para você, além de você mesmo!

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Crença 13 – Tudo é escolha!

Diga ao seu filho: Independente da situação tenha certeza de que tudo é escolha. Você
pode escolher como quer se sentir diante de qualquer problema. Use a sua Inteligência
para aprender tudo aquilo que a situação desagradável traz. Você não precisa sofrer
para aprender, você só precisa manter-se atento para perceber, absorver e entender o
que precisa ser aprendido. Você pode escolher ver as coisas sempre por um ponto de
vista positivo e otimista. Escolha ser feliz.

“Você sabia que o riso ou gargalhadas além dos benefícios relacionados ao bom humor,
produzem uma substância chamada imunoglobulina que tem como função atacar
proteínas estranhas ao corpo realizando assim a defesa do corpo, isto é, melhorando
nosso sistema imunológico? Ensinar seu filho que rir é sempre o melhor remédio é
fundamental.”

Crença 14 – Não acredite em pílula mágica!

Diga ao seu filho: É tentador pensarmos que qualquer um dos nossos problemas
podem ser resolvidos por algo que está fora de nós como em um passe de mágica. Mas
não existe pílula mágica que resolva seus problemas sem a sua própria ajuda. Se existir
pílula mágica, ela é a sua vontade e sua busca por todos os caminhos que possam lhe
tornar melhor.

No decorrer dessa jornada você terá acesso a diversas técnicas que poderá fazer
uso frequente para inserir crenças como essas em seu filho.

Sugiro que NÃO IGNORE esse conjunto de crenças. Apesar de simplificadas,


perceba que elas atendem os requisitos de vacina e antídoto dos principais tipos de
crenças limitantes que mencionamos anteriormente.

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A MATEMÁTICA DA CRENÇA

Calma! Fique tranquilo que a matemática da crença que vou propor não é a que
você imaginou. No entanto, teremos que fazer uso de uma fórmula simples.

INTENSIDADE DA CRENÇA LIMITANTE


< (MENOR)
INTENSIDADE DAS CRENÇAS FORTALECEDORAS

Antes de explicar melhor como usamos essa fórmula, preciso dizer que não é
possível remover uma crença que já está inserida em alguém.

Isso mesmo! Imagine que o sistema de crenças começa a ser formado


praticamente desde que abrimos nossos olhos pela primeira vez.

É como uma grande colcha de retalhos, onde cada fio novo está entrelaçado em
outros. Se você remover um fio vai danificar toda colcha.

Se puxássemos a ponta de um fio, todo o tecido iria se desfazer.

Cada crença que possuímos está sustentada em outra e assim por diante. Se
fosse possível remover uma crença, provavelmente todo o sistema de crenças ficaria
seriamente comprometido, para não dizer demolido.

Assim, quando ouvimos que precisamos remover um bloqueio que está


associado a uma crença limitante, na verdade não estamos removendo absolutamente
nada.

A palavra certa que temos que utilizar nesse caso é superação, ou talvez,
sobreposição.

Para superar bloqueios relacionados a crenças limitantes, como já vimos,


podemos inserir novas crenças fortalecedoras que ressignifiquem a limitação.

Porém, cada crença está associada a experiências específicas que podem conter
maior ou menor intensidade de emoções. Assim, se uma determinada crença limitante
estiver impregnada com muita intensidade, será necessário produzir uma intensidade
fortalecedora que a supere.

Aí é que entra a tal matemática da crença.

A experiência mostra que muitos profissionais enganam-se quanto à estratégia


de superação e acabam não levando em conta as intensidades que comentei.

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A proposta é que a cada nova crença limitante detectada, sejam criadas no


mínimo três novas crenças fortalecedoras que combatam diretamente os conceitos
associados à limitação.

Às vezes, três novas crenças fortalecedoras podem não ser suficientes, e assim a
estratégia da matemática prossegue até que a intensidade limitadora seja superada.

Até aqui estamos dando maior destaque à linguagem, mas ela não é a única
ferramenta que possuímos para inserir uma nova crença.

Sempre use a sua criatividade e faça uso de todas as possibilidades que


estiverem ao seu alcance. Além da linguagem, eu costumo usar muito as metáforas,
músicas, filmes e livros que tenham conteúdo capaz de combater determinada crença
limitadora.

Por falar em crença, sobre tudo que já falamos e o que ainda vamos falar, VOCÊ
não PRECISA ACREDITAR, basta fazer!

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Escaneando
seu filho

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Escaneando seu filho


“Conheço meu filho como ninguém mais!”

Quantas vezes você ouviu algo parecido com isso? Estou certo que muitas.

Mas acho que tenho uma informação nova que pode surpreendê-lo. Pensamos
que conhecemos nossos filhos, mas costumamos estar bem longe dessa realidade.

Especialmente nos dias de hoje, onde pais e mães estão muito voltados às suas
rotinas profissionais, tem sido muito difícil os pais estarem conectados aos seus filhos a
ponto de terem clara noção do que os pequenos estão realmente sentindo ou pensando.

Por falar em “conexão”, tempos atrás ouvi uma teoria muito engraçada e que
não deixa de ser verdade. Descobri que faço parte da geração chamada Wifi.

Você pode me perguntar como isso é possível se minha infância aconteceu


muito antes de sabermos o que era uma conexão sem fio.

“Nossos pais olhavam para nós a 100 metros de distância e já sabiam se


estávamos escondendo ou fazendo algo errado. E não era só isso, ainda disparavam
comandos que eram perfeitamente entendidos por nós apenas por pequenos gestos ou
expressões corporais.”

As coisas mudaram muito e não quero discutir o que é o certo ou errado. É


apenas uma constatação.

Na maioria dos lares essa conexão se perdeu justamente em uma era onde as
facilidades de comunicação estão bem mais disponíveis.

É difícil para os pais admitirem que não conhecem boa parte de seus filhos. Não
é raridade nos depararmos em atendimentos onde os pais acreditam que sabem com
profundidade como seus filhos são.

Ledo engano, infelizmente. Em poucas perguntas já é possível deixá-los sem


resposta.

Responder perguntas como: “Do que ele gosta de comer?”, “Que roupa ele mais
usa?” ou se “Ele gosta de jogos?”, é muito fácil e não nos dá garantia de que
conhecemos de fato nossos pequenos.

As perguntas mais úteis, e que se forem respondidas, nos ajudarão muito na


missão que estamos envolvidos aqui, têm uma pitada de mistério e sutileza bem mais
complexa.

“Seu filho costuma ver mais, ouvir mais ou sentir mais em que tipo de situações?”

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“Você é capaz de detectar qual é o sistema de comunicação que melhor será entendido
pela mente de seu filho?”

“Que forma de falar com seu filho o deixa mais seguro ou feliz?”

“Você tem certeza de que está realmente percebendo o que está por trás de um sorriso?”

“Ou melhor, sabe quando seu filho está dizendo a verdade ou escondendo algo de você?”

“Consegue perceber um sorriso que não é verdadeiro?”

Essas são apenas algumas das perguntas que provavelmente você respondeu
positivamente com base em sua percepção, mas que ficaria surpreso ao ver que na
verdade não é tão fácil quanto parece.

Mas esteja confiante que isso vai começar a mudar. Entendendo boa parte do
que vou apresentar, muitas coisas vão melhorar no processo de análise e comunicação
entre vocês.

Isso vai lhe dar maior poder e precisão para formar suas estratégias para tornar
seu filho um ser cada vez mais feliz e completo.

Vamos lá, comecemos pelos sistemas representacionais.

Você sabe qual é o sistema dominante que seu filho está utilizando para ter sua
própria representação do mundo em determinado momento?

Todas as informações que temos arquivadas em nossos cérebros precisaram ser


percebidas por nós para que fossem acolhidas e mantidas. Esse sistema de percepção
do mundo ocorre pelo que costumamos chamar “Sistemas Representacionais”.

Podemos receber essas informações através dos canais de INPUT (entrada) que
possuímos, sendo eles basicamente os nossos sentidos, como a visão, audição, olfato,
paladar e tato (tanto o tato profundo como o superficial).

Seguindo a lógica neurológica, podemos dividir esses sistemas em: VISUAL,


AUDITIVO e CINESTÉSICO, sendo que este último agrupa também o olfato, o
paladar, o tato e as sensações.

Da mesma forma como captamos, também projetamos ao mundo exterior


nossas experiências através desses mesmos canais. Geralmente temos um preferencial.

Antes que caia na tentação de rotular seu filho como sendo um ser visual,
auditivo ou cinestésico, saiba que isso pode variar a cada situação.

Dependerá da intensidade recebida pelos canais de INPUT, além de outras


variáveis que não convém falarmos agora.

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Em que tudo isso vai nos ajudar na comunicação com nossos filhos?

Boa pergunta, e a resposta é melhor ainda.

Se você tiver a habilidade de detectar o sistema preferencial que está sendo


usado pelo seu filho durante uma conversa, suas chances de se fazer entender e chegar
ao objetivo desejado usando o mesmo sistema crescerão de maneira exponencial.

Depois de treinar um pouco perceberá que não é tão difícil assim e terá
melhoria em todas as áreas de sua vida.

Veja essa lista abaixo onde temos “algumas” palavras que indicam qual é o
sistema preferencial que seu filho está usando. Entenda que eu disse “preferencial”,
dificilmente em um diálogo não serão utilizadas palavras dos três sistemas, mas
fatalmente um deles será mais relevante.

No começo se você achar complicado, você pode fazer como eu fazia. Criei um
pequeno quadro e quando era possível eu contava a quantidade de palavras ditas
pelos meus filhos quando estava conversando com eles. Era mais ou menos assim:

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Nesse caso, como o que está no quadro acima, você vai utilizar principalmente
palavras do sistema visual.

Quando fazemos isso atingimos a mente de nossos pequenos com maior


intensidade. Isso ocorre porque nos assemelhamos na forma como estão representando
o mundo naquele momento.

Lembre-se que nossas mentes funcionam usando rotas já criadas. Se a


informação volta pelo mesmo caminho que fez na saída, a velocidade é muito maior e
existe menos esforço de interpretação.

Mas só temos essa forma de detectar o padrão preferencial dos nossos filhos?

Não, e vou dar a você mais pistas a seguir.

Pistas oculares:

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Outras pistas não verbais:

Detectar os sistemas utilizados, apesar de ser uma das partes mais importantes
na comunicação, não é tudo.

É muito importante aprender a detectar o que chamamos de Movimentos


Corporais correspondentes a Representações Internas, ou M.C.R.Is.

E o que isso significa?

Como mente e corpo formam um sistema único, o que se passa em nossa mente
reflete em nossas reações corporais e vice-versa.

Quando algo ocorre na mente de nossos filhos, seus corpos nos apresentam
alterações, isto é, mudanças.

Assim, é preciso termos atenção e “calibrarmos” nossos filhos detectando o que


seus corpos estão nos dizendo, como: cor da pele, espessura e cor dos lábios, tensão
facial e corporal, respiração, mudança nas rugas de expressão, tremores, gestos
involuntários de partes do corpo, e daí por diante.

Se você conseguir detectar o que o corpo de seu filho está dizendo, poderá
trabalhar prontamente para ajuda-lo caso detecte que algo está errado.

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“USANDO A FISIOLOGIA AO SEU FAVOR”

Você já ouviu alguma vez a expressão “Fingir, fingir, até sentir”?

Aqui em casa chamamos de FFAS.

Os estudiosos da fisiologia associada aos estados emocionais humanos


chegaram, através de pesquisas científicas, a conclusões muito interessantes sobre essa
conexão interdependente entre a mente e o corpo.

Permita-me falar rapidamente sobre um estudo que foi feito. Você já deve ter
ouvido falar da terapia do riso, certo?

Pois então, na verdade são vários os estudos que comprovaram isso, mas acho
que posso comentar rapidamente sobre um dos mais simples. Trata-se de um
experimento que foi realizado na Califórnia, nos Estados Unidos.

Separaram dois grupos, em um deles realizaram comandos para que as pessoas


começassem a rir, mesmo sem o desejo de rir. Foi sugerido que rissem de formas
diferentes e variadas, forçando inclusive gargalhadas.

Em alguns segundos as pessoas estavam rindo de verdade, ficaram felizes. Não


estavam mais simplesmente respondendo aos comandos dos pesquisadores.

Em outro grupo, os comandos estavam ligados a realizarem reclamações, que


fizessem postura de vulnerabilidade e fingissem que estavam chorando.

Igualmente como ocorreu com o grupo que recebeu os comandos para rirem,
em pouco tempo houve mudanças reais neste grupo, as pessoas ficaram deprimidas e
quase todos choraram verdadeiramente.

Da mesma forma que podemos verificar as mudanças do corpo quando


mudamos algo em nossas mentes, o inverso também é verdadeiro, isto é, podemos
modificar nosso estado interior através da mudança de nossa fisiologia.

Faça um teste você mesmo para comprovar isso.

Vamos entender fisiologia como o conjunto de ações e reações corporais


associadas ao nosso sistema de expressão verbal.

Levante-se, mantenha a coluna ereta, o queixo erguido, os olhos de águia, peito


estufado e mãos na cintura.

Cerca de 2 minutos serão mais que suficientes para que se sinta mais seguro e
confiante.

Sabe por quê?

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Lembra-se que somos o resultado de milhões de anos de evolução genética que


carregamos dentro de nós? A resposta é por aí.

Se ficar os dois minutos que propus no exercício acima, assim como ocorreu nas
pesquisas realizadas, o nível de testosterona terá sofrido um aumento aproximado de
20%, e o nível de cortisol (hormônio ligado ao stress) terá sofrido uma redução de 25%.

Mudanças químicas ocorrem dentro de nós e temos poder sobre algumas delas.

Sabendo disso você pode utilizar essa técnica ao seu favor, tanto para utilizar as
fisiologias de comando e confiança, como para ajudar seu filho a vencer a insegurança
e timidez.

Essas mesmas pesquisas mostraram que pessoas que utilizam a fisiologia da


confiança têm uma taxa de sucesso muito maior nos processos de seleção de emprego.

Quero acrescer que essas mudanças fisiológicas não mudam só os estados


interiores de quem as realiza. É um tanto intrigante, mas é como se houvesse sempre
uma conexão inconsciente entre todos nós, e assim, as pessoas à nossa volta também
respondem à nossa fisiologia.

Nossos filhos sentir-se-ão mais seguros se nós estivermos fisiologicamente em


posições de confiança. O mesmo ocorre com mulheres que se sentem instintivamente
mais atraídas por homens que apresentam essa fisiologia.

Lamentavelmente o inverso também ocorre.

Se estivermos em posições de vulnerabilidade e insegurança com olhos


voltados para baixo, falando baixo e com ombros arqueados para frente, teremos o
efeito contrário e repeliremos a atenção e a confiança das pessoas.

E não para por aí, essas reações que temos diante da fisiologia das pessoas, são
em sua maior parte, inconscientes.

A título de curiosidade, você sabia que deixar as mãos à mostra em reuniões e


conversas, gera credibilidade e transparência? Que não olhar nos olhos das pessoas
gera extrema desconfiança? Que cruzar os braços, ou manter as mãos com os dedos
entrelaçados na região do abdômen de frente para alguém mostra necessidade de
proteção e desconforto?

Ombros para trás, pouca movimentação, mãos com dedos entrelaçados atrás da
nuca e posições relaxadas estendendo os braços além do vértice de seu corpo, também
traduzem segurança e autoconfiança.

Ah, tem outra posição que gostaria de destacar para utilizar quando quiser dar
ordens e comandos, a chamada posição do Gorila.

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Para fazer uso dessa posição de comando, fique de pé com os dois punhos
apoiados em uma mesa ou bancada, queixo mais próximo do peito, sobrancelhas
tensionadas para o centro inferior e utilize voz firme.

Cuidado, se usar essa posição com outro “gorila” esteja preparado para o
combate.

Recordo de alertar uma amiga para não usar essa posição com seu marido que
era um tanto explosivo, seria um gatilho certo para uma briga conjugal.

Existem muitas formas de tentarmos conseguir algo que desejamos, fazendo


uso da fisiologia, dos sistemas representacionais e da habilidade de detectarmos os
movimentos corporais que correspondem a representações internas.

Da mesma forma que podemos ter maior facilidade para sermos obedecidos
pelos nossos filhos, podemos evitar desgastes se percebermos a fisiologia da irritação,
bem como podemos ajuda-los se detectarmos que precisam de carinho e proteção.

Não será momento de ser enérgico quando seu filho estiver em uma posição de
sofrimento e vulnerabilidade, ou de chamar a atenção dele em ambientes públicos
quando perceber ruborização e outros sinais de vergonha ou nervosismo.

Você será capaz de evitar formação de sombra e que muitos complexos sejam
inflados. Fora isso, saberá com mais precisão os momentos adequados para tentar
inserir crenças fortalecedoras.

Espero sinceramente que você faça uso desse conhecimento e dos outros que
veremos adiante com muita responsabilidade.

Saber tudo isso vai lhe dar o controle de identificar congruências e


incongruências entre o que seu filho diz e o que está realmente sentindo.

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DETECTANDO MENTIRAS E INCONGRUÊNCIAS EM SEUS FILHOS

Não sei bem se o que vou ensinar agora é uma benção ou maldição.

Confesso que hoje faço de tudo para não usar esse tipo de conhecimento.

Anos atrás quando comecei a aplicar essas técnicas de reconhecimento de


possíveis mentiras e incongruências fiquei um tanto depressivo em perceber que
mesmo as pessoas que mais amamos nem sempre nos dizem a verdade, ou são
congruentes entre comportamentos e o que realmente pensam ou sentem.

Outro conselho é evitar falar sobre essas técnicas com outras pessoas. É muito
comum nosso Ego desestruturado falar mais alto e dizermos que temos “algum poder”
em julgar se as pessoas estão sendo verdadeiras ou não conosco.

Além disso, as pessoas não se sentirão mais confortáveis perto de você.


Ninguém quer ficar se policiando o tempo todo perto de alguém.

Aos meus amigos e familiares, deixo aqui registrado que aprendi a desligar
(pelo menos a maior parte do tempo) esse filtro. Hoje costumo usa-lo mais para ajudar
a identificar as causas que levam as pessoas a não se sentirem seguras, mirando para
que não precisem mentir e sejam verdadeiras consigo mesmas.

A incongruência entre o que sentimos e pensamos realmente, e a nossa forma


de agir e representar, mostra claramente as divisas entre a Persona e o que realmente
somos.

Atenção! Não é raro que as incongruências visem especialmente atingir a


satisfação dos outros a nossa volta e assim nos sentirmos aceitos. Lembra-se das
pirâmides? A necessidade de pertencimento é uma necessidade humana e acaba sendo
um verdadeiro esterco para a não aceitação de si mesmo.

Nossos filhos muitas vezes agem para agradar amigos, família e principalmente
aos pais. Quando eles sentem necessidade de mentir ou “interpretar” para os pais, é
porque não estão sentindo-se confiantes e seguros em relação aos mesmos.

Você vai perceber que não é uma das tarefas mais fáceis. Procure usar essas
técnicas apenas buscando ajudar seu filho.

Não faça disso uma “caça às bruxas”. A mentira infelizmente faz parte da
natureza humana e quase sempre não quer prejudicar ninguém.

A principal motivação das mentiras ou das incongruências comportamentais


está ligada ao instinto de proteção e praticidade.

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Lá vamos nós novamente para os olhos. Eles são peças fundamentais e estão
extremamente conectados com o que se passa em nossas mentes.

Os neurologistas descobriram que quando pensamos e estamos utilizando um


determinado sistema representacional, seja ele visual, auditivo ou cinestésico, os olhos
se direcionam para um determinado lado.

Todos temos experiências e imagens que podem ser lembradas e outras


construídas a partir de nossa imaginação. Isso acontece também com os sons, afinal,
tenho certeza que consegue imaginar a voz de seu pai em tons e volumes diferentes,
até com parâmetros de distorção como a rouquidão.

Na imagem podemos entender com clareza que quando olhamos para o lado
DIREITO estamos construindo, inventando. Recorde que já vimos na etapa onde
tratamos dos 4 cérebros, que o hemisfério direito está ligado diretamente às funções
criativas.

Quando olhamos para a esquerda estamos lembrando experiências vividas e


coisas dos nossos arquivos mentais, aqui estaríamos falando do que é verdadeiro.

Perceba que na imagem existe a divisão dos sistemas representacionais.


Funciona mais ou menos assim, quando o sistema preferencial da criança naquele
momento e contexto é visual, os olhos seguem em direção superior (eu vejo), quando o
sistema preferencial é o auditivo ou o cinestésico, os olhos tenderão à lateral (eu ouço)
ou para baixo(eu sinto) respectivamente.

Ok, muito simples, correto?

Errado.

Assim como existe a inversão de funções dos hemisférios cerebrais em algumas


pessoas, existem pessoas que são invertidas. Para saber se uma pessoa é ou não

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invertida, é necessário “calibrá-la” fazendo perguntas simples que recorram à memória


verdadeira, como por exemplo: “qual o seu nome completo?” ou “que ano seu filho
nasceu?”.

Já me deparei com algumas pessoas invertidas e isso tirou de mim a crença


limitante que quem olhava muito para a direita quando falava comigo não era
confiável.

Seguindo por esse mesmo caminho, o fato da pessoa olhar para a esquerda
enquanto lhe responde algo não quer dizer que seja verdade. Se a mentira tiver sido
treinada antes, quando a pessoa for lhe contar, os olhos vão recorrer à “memória”.

Percebeu a complexidade?

Felizmente você não dependerá apenas dos olhos.

Além dos M.R.C.Is. que já falamos, vou também apresentar a você uma forma
de mapear as expressões ou microexpressões faciais para detectar o que está por trás
das palavras.

Mencionei novamente os M.R.C.Is. porque a maioria das pessoas quando mente


altera sua linguagem corporal, tom e ritmo da voz. Como você já está habituado com
seu filho, saberá perceber essas mudanças com mais facilidade.

Com as crianças costuma ser mais fácil porque ainda não desenvolveram tanta
malícia e habilidade, mas isso não é uma regra unânime. Surpreende às vezes como
algumas crianças têm grande facilidade em manipular seus pais.

Ainda tenho mais algumas “cartas na manga” para lhe passar. Com elas você
poderá identificar incongruências em seu filho e utilizar a melhor estratégia a partir
delas.

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EXPRESSÕES X EMOÇÕES

Vamos deixar claro novamente que nosso objetivo é ajudar nossos filhos. Não
transforme essas técnicas em ferramentas levianas para manipulação de qualquer
pessoa, principalmente seu filho.

Não sei se você já viu algo a respeito sobre as emoções estarem ligadas às
expressões de nossa face.

Se ainda não viu nada sobre isso, tenho certeza que ficará surpreso.

Para falar de expressões ou microexpressões faciais, tenho que lhe apresentar


um psicólogo que se tornou uma sumidade quando o assunto é detecção de emoções
através de nossas faces.

Paul Ekman é um dos Investigadores, se não o mais importante, na área das


expressões faciais ligadas às emoções. Ele é PHD em Psicologia Clínica e foi
considerado pela Associação Americana de Psicologia, um dos 100 psicólogos mais
importantes do século XX.

A ideia aqui é que você saiba a importância que nossas expressões possuem e
que através delas podemos detectar pistas de que algo pode não estar bem com nossos
filhos.

Nossas expressões faciais funcionam como um projetor de nossas emoções reais


e muitas vezes o que ouvimos não está congruente com o que a expressão nos
apresenta.

Antes dos estudos de Ekman, acreditava-se que as expressões eram um


comportamento aprendido, mas os estudos psicológicos em tribos, como Papua em
Nova Guine, deixaram claro que as expressões faciais podem predizer emoções
universais.

Mais uma vez nos deparamos aqui com a herança genética que recebemos de
nossos ancestrais.

A forma como os gestos são usados durante o convivio humano, possui um


padrão muito específico conectado a sentimentos, emoções e instintos primitivos, e
acredite, não estão vinculados à cultura de cada povo.

Para ficar ainda mais interessante, pode-se sugerir a existência de fontes


biológicas e genéticas na composição das expressões faciais das emoções.

No momento que são despertadas espontaneamente, até mesmo indivíduos


cegos de nascença, isto é, que nunca viram expressões faciais, geram as mesmas
expressões faciais.

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Estou dizendo tudo isso a você para que perceba que estamos tratando de algo
fundamentado e que pode realmente trazer uma grande ajuda se usado de forma
responsável na avaliação de nossos pequenos.

A mesma musculatura facial dos adultos, também existe em crianças recém-


nascidas, sendo totalmente funcional desde o nascimento.

Mais estudos nos dizem que quando as emoções surgem e não temos qualquer
razão para modificá-las ou esconde-las, tipicamente duram entre 0.5 a 4 segundos e
envolvem toda a face, por isso acabam sendo definidas como macro-expressões.

Se você souber o que procurar, estas expressões serão relativamente fáceis de


perceber. Infelizmente o mesmo não acontece com as micro-expressões, essas são
expressões que ocorrem em nossa face em uma fração de segundo.

Podemos deixar de percebê-las em um piscar de olhos. Micro-expressões são


sinais prováveis de emoções escondidas podendo também representar sinais de
processamento rápido segundo os estudos de Ekman.

As micro-expressões são tão breves que a maioria das pessoas “não treinadas”
não consegue reconhecer em tempo real. E, às vezes mesmo para pessoas bem
treinadas fica bastante difícil detectá-las.

Mas como estamos basicamente falando de filhos, temos uma boa vantagem,
conhecemos geralmente os padrões mais comuns e na maior parte do tempo temos
condições de estender uma conversa até detectar alguma pista significativa.

Uma vez que esse é o campo onde me sinto mais confortável, quero aproveitar
para rapidamente apresentar mais uma consideração importante para ser levada em
conta nesse processo de identificação de mentiras e incongruências.

Algumas pesquisas neuro-anatômicas a cerca das expressões emocionais


demonstram que existem dois caminhos neurais que estão relacionados às expressões
faciais.

Cada caminho parte de uma área distinta no cérebro. A área que chamamos
piramidal, é responsável pelas ações faciais “voluntárias”, e a área que chamamos de
extrapiramidal dirige expressões emocionais “involuntárias”.

Quando nossos filhos estão em situações onde suas emoções são intensas, mas
precisam controlar as suas expressões, as duas áreas do cérebro(piramidal e
extrapiramidal) são ativadas e causam quase uma “batalha neural” para o controle da
face.

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É isso que possibilita o vazamento rápido e passageiro de micro-expressões que


nos dão a oportunidade de detectarmos que algo está se passando dentro de nossos
pequenos além do que eles querem nos mostrar.

Esse tipo de assunto é tão motivante que muitas universidades e empresas no


mundo todo criam sistemas para detecção de emoções através da linguagem não
verbal.

Não pense que será um perito no assunto só por ler o que estou apresentando a
você, mas aliado a todo o resto que já falamos e um pouco de prática, suas chances
aumentarão muito na tarefa de sintonizar-se com seu filho.

As 7 expressões principais:

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Ao lado de cada expressão eu sugeri alguns fatos que podem estar encobertos
pela expressão detectada. Não se esqueça de que uma ou mais expressões podem estar
associadas a uma experiência.

Em uma conversa mais longa você poderá ver boa parte dessas expressões,
sendo que uma não invalida a outra, mas pode atestar que o estado interior de seu
filho está se modificando a cada instante.

Por exemplo, se você inicia uma conversa detectando a tristeza em seu filho,
quando obter expressões de alegria saberá que está no caminho certo, ou se vir a
expressão de medo quando falar de alguém já saberá que a tristeza pode estar ligada a
essa pessoa.

Uma criança que esteja sendo vítima de abuso sexual pode mostrar raiva, nojo,
medo ou tristeza quando ouve o nome de quem pratica o abuso, ou quando está na
presença do mesmo.

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O diálogo será sempre peça fundamental para detectar e tentar associar


expressões às pessoas, lugares e fatos.

Enfim, apesar de ser um excelente material de expressões padronizadas, é


preciso sutileza e paciência para saber o que fazer com o que conseguir detectar em seu
filho.

Se seu filho apresentar uma expressão incongruente com o que ele diz, você
saberá que precisa agir.

Logo mais vou lhe explicar o que é Rapport e você conhecerá outra forma
poderosa de usar as expressões de seu filho ao seu favor, conduzindo-o ao caminho
desejado.

OS 10 ENCOBRIMENTOS

Como já vimos, além dos olhos, das expressões faciais e de algumas variações
fisiológicas, muitos estudiosos detectaram alguns padrões de comportamento que
podem indicar alguma mentira ou incongruência.

Gostaria de dividir com você uma lista que chamo de “Os 10 Encobrimentos”.

Veja abaixo os comportamentos que se realizados por seu filho, possivelmente


indicam uma mentira ou omissão.

Encobrimento 1 - Tocar nervosamente a ponta do nariz, a região logo abaixo dos olhos ou
cobrir a boca ao falar.

Encobrimento 2 - Fugir da pergunta e evitar o essencial, dando excesso de detalhes sobre fatos
desconectados do ponto central.

Encobrimento 3 – Se seu filho costuma falar corretamente, e começa a cometer erros


gramaticais grosseiros quando o assunto central da questão é levantado, fique atento.

Encobrimento 4 - Afastar a cabeça ou jogar os ombros para trás como reação a uma pergunta
direta são movimentos defensivos de quem não quer responder (não necessariamente mentir, por
isso costumo usar “encobrimento”).

Encobrimento 5 - Fazer gestos incompatíveis com a emoção descrita revela um esforço mental
enorme em não fugir da história inventada.

Encobrimento 6 - Repetir a pergunta que acabou de ser feita integral ou parcialmente é sinal
de que a pessoa quer ganhar tempo para construir uma história falsa.

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Encobrimento 7 - Manter todo o tempo os punhos fortemente fechados ou as mãos no bolso é


indicador de que a pessoa não quer dizer algo que considera valioso para quem pergunta.

Encobrimento 8 - Cruzar e descruzar as pernas ou balançá-las descontroladamente são reações


defensivas ao mesmo tempo físicas e psicológicas de quem se sentiu incomodado com a pergunta.

Encobrimento 9 - Quem está dizendo coisas desconexas ou falsas, tende a terminar as frases
(mesmo as sérias) com um sorriso e encolher ligeiramente os ombros.

Encobrimento 10 - Quando uma pessoa está mentindo, ela tende a fechar os olhos por mais
tempo, como se procurasse internamente uma resposta.

Muito bem, acho que já tem um bom arsenal para escanear seu filho.

Recorde que não se trata de uma “caça as bruxas”. Se a todo momento você
transformar seu contato afetivo em um interrogatório para detecção de mentiras, vai
acabar perdendo sintonia com seu filho.

Use essas ferramentas quando for realmente preciso ou como estratégia de


conquistar a atenção de seu filho.

Uma dica que também acho justo oferecer é que evite dizer frequentemente ao
seu filho que sabe como perceber as mentiras dele. Isso só tornará mais difícil o
processo de confiança e detecção das omissões e incongruências.

Não posso deixar também de torna-lo consciente que perceber o que acontece
com nossos filhos, vai muito além de expressões faciais e da fisiologia.

É comum detectarmos coisas importantes sobre o momento emocional de


nossos filhos através dos desenhos que fazem, textos que escrevem, músicas que
ouvem, postagens em redes sociais, maquiagem que usam, roupas que preferem e da
simples observação de como agem quando não estão perto de nós.

Portanto, não se limite quando o assunto é ver e entender verdadeiramente as


pessoas mais importantes da sua vida.

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Conquistando a
sintonia com
seu filho

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Conquistando a sintonia com seu filho


Sem sintonia é quase uma missão impossível conseguir que nossos filhos
acatem ou assimilem o que desejamos.

Nesta altura vamos fazer uma viagem prazerosa sobre técnicas para
conseguirmos nos sintonizar com nossos filhos.

Alerto novamente que tome cuidado com os conhecimentos que estou


oferecendo a você. Ficaria muito desapontado se você utilizasse para manipulações
sociais que não visem o bem-estar coletivo.

Para falarmos dessa importante etapa, preciso apresentar a você uma nova
palavra: Rapport. A palavra Rapport tem sua origem na língua francesa e sua tradução
literal significa “relação”.

Sei que pode estar pensando que seria redundante falarmos de relação sendo
que as relações entre pais e filhos são as mais consistentes na vida da maioria de nós.

Mas não é bem nesse aspecto que voltaremos nossos olhos nessa etapa.

Rapport, na verdade, é mais que uma palavra, e se formos um pouco mais


ousados, podemos dizer que se trata de uma expressão ou um processo de conquista
de confiança e compreensão.

É muito utilizada pelos profissionais da área da psicologia e da programação


neurolinguística, mas não é limitada ou exclusiva a esses grupos.

Vai muito além. Vou explicar por que e como vamos utiliza-lo para entrar no
mundo psíquico de nossos filhos, encurtando os caminhos para que nossas diretrizes
de educação possam ser acatadas.

Não sei se já teve a oportunidade ou a curiosidade de observar a fisiologia das


pessoas que estão conversando em sintonia.

Se ainda não, faça esse exercício. Perceberá que elas utilizam um mesmo tom,
ritmo e volume de voz. Também perceberá uma similaridade entre as posturas
corporais.

Se quisermos alinhar nossas mentes às dos nossos filhos, o Rapport é uma


estratégia muito eficaz e com um pouco de treino você não terá dificuldades em utilizá-
la.

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Trata-se de um processo que busca a equalização dos estados internos das


pessoas com as quais desejamos estabelecer sintonia através do acompanhamento e
imitação dos diversos elementos da comunicação verbal e não verbal.

Para prosseguirmos, preciso dizer que em estudos muito específicos a respeito


da comunicação, ficou constatado que as palavras são responsáveis por apenas 7% da
mesma, sendo que a entonação da voz responde por 38%, sendo seguida pela
comunicação não verbal, corporal e facial, com 55% da importância na transmissão de
uma mensagem.

Em uma conversa com seu filho, o que você diz na verdade tem pouca ou muita
importância para ele de acordo com a entonação de sua voz e os aspectos não verbais.

Sei que já falamos um pouco sobre a fisiologia e como ela pode impactar nosso
estado interior e até o estado das pessoas que estão à nossa volta.

Mas agora estamos um passo mais a frente, estamos entendendo como


podemos usar todo o conjunto de comunicação de nossos filhos ao nosso favor para
nos sintonizarmos a eles.

Como já sabemos como detectar os sistemas representacionais (visual, auditivo


e cinestésico) que nossos filhos estão utilizando em determinado contexto, podemos
agora dominar e fazer uso dos outros 93% restantes para nos conectarmos
profundamente.

A regra aqui será: primeiro acompanha para sintonizar e depois conduz.

Vou explicar melhor.

Você vai ver logo a seguir algumas técnicas que vão mostrar o que você pode
acompanhar e espelhar na comunicação de seu filho para acessar a mente dele, e dessa
forma fazer a inserção das diretrizes que deseja.

Mas seja cauteloso, trata-se de um processo que deve ocorrer com discrição,
elegância e total sutileza. Caso contrário vai parecer ofensivo, isto é, se seu filho
detectar que você está imitando seus gestos parecerá que está “brincando” e
desrespeitando ele.

E mais, o Rapport vai além de simplesmente equalizar o conjunto de


comunicação de seu filho. O objetivo é que você consiga compreende-lo melhor, tentar
ver o mundo pelos olhos dele respeitando seus padrões.

Quando fazemos isso ganhamos uma espécie de “chave mestra” para acesso ao
mundo mental de quem desejamos. Essa é a “caixa preta” da persuasão.

Portanto, tenho que insistir: “Use para o bem e apenas para isso”.

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Mas claro, não vou ficar triste com você se utilizar em algumas situações para
legítima defesa.

Imagine que maravilhoso seria se todos tentassem se sintonizar com o mundo


mental do outro. Isso certamente não revolucionaria apenas atendimentos profissionais
da saúde, mas ajustaria as relações humanas em geral.

Certo. Chega de “vender o peixe” e vamos ao que lhe interessa.

Você poderá acompanhar tudo que perceber na pessoa, seja verbal ou não.

Para ficar bem claro, vamos dividir em duas categorias.

VERBAL

1- Você poderá acompanhar as qualidades vocais:

a. Tom: perceba o tom da voz que seu filho está utilizando e tente
igualar em sua própria voz. Lembre-se que tom é a maneira com que
a voz é usada.

b. Volume: equalize o volume da voz de seu filho e tente manter na


mesma faixa.

c. Ritmo: se seu filho falar com ritmo espaçado entre as palavras, tente
igualar quando for dizer algo a ele.

d. Velocidade: se a dicção utilizada pelo seu filho for muito rápida,


normal ou lenta, tente acompanhar. Perceba que ritmo não é igual
velocidade. É possível que seu filho fale cada palavra com
velocidade elevada, mas com ritmo pausado entre elas.

2- Repetindo frases: Se seu filho disser, por exemplo: “a escola é muito ruim!”,
você poderá repetir a frase para acessar a rota de confiança e depois
conduzir para a ressignificação. Ele também pode dizer: “Jogar futebol é
muito bom!”, e então você repete. Quando quem disse a frase inicialmente,
ouve-a na sequencia, oferece ao outro acesso ao sistema de confiança, um
ponto em comum.

3- Reconhecendo o estado interno: se você perceber que seu filho está nervoso,
poderá dizer: “percebo que você realmente está nervoso”. Isso mostra que
você está entendendo as emoções dele.

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4- Ideias ou pensamentos: isso é raro, mas às vezes pode ocorrer se estiver em


um momento tão desconectado com seu filho que acredite não ter ideias ou
pensamentos iguais para utilizar na estratégia de sintonia. Nesse caso,
costumamos sugerir a “técnica dos 101%”, ou seja, encontre o 1% para então
concordar 100% com o que achou, mesmo que o 1% não esteja relacionado
com o assunto de sua conversa.

NÃO VERBAL

1- Espelhando expressões faciais: você pode espelhar detalhes das expressões


faciais de seu filho, como por exemplo, levantar sobrancelhas, enrugar o
nariz e copiar movimentos dos lábios. Aqui posso fazer uma observação
sobre a detecção de mentiras e incongruências que vimos anteriormente.
Não se atente às microexpressões e foque-se nas macroexpressões. Se ele
está ou não falando a verdade e sendo congruente, não é o essencial
sabermos se o que queremos de fato é a sintonia plena. Lembre-se, primeiro
você segue e depois que estiver sintonizado, conduz.

2- Seguir movimentos corporais e gestos: tente copiar alguns gestos e


movimentos, como arrumar o cabelo, por exemplo, ou coçar os braços.

3- Copiando a postura: siga a postura de seu filho, se utiliza os ombros


arqueados para frente ou encolhidos, faça o mesmo. Também posso tecer
outro comentário sobre a fisiologia que vimos anteriormente. Inicialmente
você copia mesmo que seja uma fisiologia de pouca confiança, quando
atingir a sintonia você poderá reestabelecer uma postura de confiança que
será seguida por seu filho se já estiverem em sintonia.

4- Espelhamento cruzado: você poderá fazer uso de um comportamento ou


posicionamento seu para acompanhar um diferente de seu filho. É uma boa
técnica para quem tem dificuldades em ser sutil no espelhamento em busca
do Rapport. Por exemplo, se seu filho cruzar as pernas, você cruza os
braços. Se ele coça o braço direito, você coça o braço esquerdo.

5- Acompanhar a respiração: aqui mora um perigo que preciso que anote aí. A
respiração é a forma mais poderosa de estabelecer o Rapport. Evite alterar
sua respiração porque provavelmente vai acabar entrando no mesmo estado
interior de seu filho, e nem sempre isso é desejável, especialmente quando
estamos falando de um estado irritado ou angustiado. Você pode

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acompanhar a respiração de seu filho fazendo uso de movimentos com as


mãos ou até seu próprio ritmo de falar.

Apresentei de forma detalhada, técnicas potentes de estabelecer o Rapport com


seu filho e então ter acesso ao mundo psíquico dele.

Quanto maior for sua habilidade de usar essas técnicas simultaneamente, mais
garantida será a sintonia e a inserção de comandos, crenças ou diretrizes.

E não se esqueça de que deve aliar tudo isso ao mesmo sistema representacional
que seu filho estiver apresentando no diálogo, seja ele, visual, auditivo ou cinestésico.
Aí sim você estará em um campo seguro para ajudar.

Quando falamos de uma relação entre pais e filhos, é comum que imaginemos
que o Rapport é prerrogativa.

Infelizmente não é o que ocorre em todos os lares. Pais que demonstram afeto e
carinho potencializam muito as condições de sintonia, e mesmo que não consigam
equalizar alguns dos itens verbais e não verbais de que falamos, terão chances de
sucesso maiores.

A verdade é que o amor é o maior construtor de Rapport que existe. Entretanto,


muitos pais não conseguem traduzir o amor que sentem de forma que se torne
perceptível aos seus filhos.

Da mesma forma, tentar estabelecer o Rapport com seu filho através de todas as
técnicas que você teve acesso, não deixa de ser uma forma muito significativa de
expressar o amor pelo seu filho.

Através da experiência, posso afirmar a você que não há dificuldade que não
seja ultrapassada pelo amor dos pais.

Podemos até nos distrair e não saber muita coisa dos desejos e preferências de
nossas crianças, mas com amor e respeito tudo pode ser transposto.

Por falar em amor e respeito, é preciso termos claro que cada pessoa deve ser
entendida de sua própria forma. Nem sempre você deve fazer uso do Rapport para
tentar manipular seu filho a fazer o que você deseja.

Pense e avalie se você não está invadindo as linhas da individualidade dele. É


preciso oferecer liberdade de escolha ao seu filho, caso contrário terá consequências e
desequilíbrios indesejados no futuro.

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Empregue esforços principalmente no sistema de crenças e valores, na


superação de bloqueios e nas estratégias de empoderamento, deixando flexibilidade
para que seu filho busque seus próprios prazeres e desafios.

Você pode até não concordar com tudo. Quando se tratam de assuntos
desconhecidos para nós, costumamos não ver o mesmo brilho que nossos filhos vêm
em algo.

Mesmo assim, devemos apoia-los e instruí-los para que façam o melhor dentro
das possibilidades.

Temos que deixar claro que, mesmo se tudo der errado, estaremos lá por eles.
Isso é o Rapport de verdade.

Entenda que isso não é um “passaporte da alegria” onde você deve ser
permissivo com tudo. Estamos tratando de sonhos e desejos que não infrinjam regras
de conduta e valores familiares.

Outro ponto que acho relevante mencionar, é que se tratando de crianças muito
novas, abaixo de 7 anos principalmente, todas essas técnicas mecânicas não são tão
eficientes quanto a sensação de afeto, segurança e respeito.

Nesse caso o Rapport é mais intuitivo. Crianças até seus 7 anos são a imagem
do mundo inconsciente, sendo mais intuitivas e simbólicas, isto é, lúdicas.

A melhor estratégia para nos sintonizarmos com crianças muito novas é


agachar-se para que fiquemos na altura de seus olhos. Recorde que antes de comandar
também é preciso acompanhar, só que de uma forma diferente.

Vamos a um exemplo.

Imagine que seu filho de 3 anos está chorando muito. Geralmente isso consegue
nos tirar do estado de calma e se não tomamos cuidados, podemos cometer erros
graves e condenáveis como violência verbal e física.

Nesse caso o melhor caminho é agachar e ficar na mesma altura da criança


olhando em seus olhos, e observar por alguns segundos com a expressão de
compaixão.

Tente compreender a criança e dizer a ela que a entende, abrace-a algumas


vezes por alguns segundos e diga que sabe que é difícil para ela.

Compaixão vem do latim “compassione” e pode ser traduzido por compreensão


do estado emocional de alguém.

Essa técnica costuma ser chamada de “escuta ativa”.

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Somente então, quando você detecta que a criança encontra-se em um estado


mais calmo, mesmo que ainda esteja chorando, é que deve tentar o comando firme e
seguro acompanhado da ancora cinestésica, isto é, segurando o braço, a mão ou a
abraçando mais fortemente.

É quase um vício social tentarmos ameaçar crianças para conseguir que façam
algo ou parem com algum comportamento.

Pedimos que parem de chorar “OU” vamos castigá-las, tirar algo ou abandoná-
la onde estão, sem ao menos tentarmos algo diferente.

Temos que ter muito cuidado com isso! Podemos acidentalmente inflar muito
alguns complexos.

Crianças menores não entendem bem essa negociação e isso apenas amplia o
desespero e a frustração indevida. Para utilizar negociação, nesses casos, é mais sadio e
eficaz, oferecer coisas que a criança gosta como recompensa por acalmar-se.

Você pode me perguntar: “Mas isso não vai estabelecer um padrão onde a
criança vai chorar sempre para ter o que quer?”

Aqui entra em campo o bom senso. Se seu filho está em choro por não ter algo
que deseja e você oferece justamente o que ela quer para conter o choro, sem dúvida
estará implantando esse padrão.

É preciso também que a criança se frustre para entender as limitações e viver


adequadamente junto ao grupo social. Faz parte da experiência humana a frustração
por não ter tudo que deseja.

Mas não foi por esse caminho que eu quis seguir. A negociação ocorre com
alguma contrapartida diferente do desejado inicialmente pela criança, isso serve para
coisas e experiências.

Vou ilustrar melhor. Imagine que está em um Shopping com sua filha de 4 anos
e então ela visualiza a loja de brinquedos. O desejo dela é entrar na loja, contudo não
há tempo para isso naquele momento.

Inicia-se o choro de requisição, isto é, ela não entende porque não podem
entrar. Qualquer argumentação que der a ela nesse momento depende de uma
condição reflexiva que ela ainda não tem.

A tentativa, após a sintonia seguindo os passos acima, é oferecer algo que não
seja entrar na loja de brinquedos, mas que também cause prazer e satisfação.

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Alguns podem pensar que isso também pode se tornar um padrão. Mas via de
regra, claro que há exceções, uma criança de 4 anos não entende esses termos porque
ainda não tem condições reflexivas.

O fato é que isso ajuda a criança a entender que nem sempre é possível ter o que
quer imediatamente, e que existem alternativas saudáveis de negociação. A criança
teve a frustração de não acessar a loja de brinquedos, mas foi recompensada pela
flexibilidade.

A flexibilidade tem uma importância imensa na vida equilibrada de qualquer


um, não é à toa que é uma das 14 crenças sugeridas anteriormente.

Seguindo dessa maneira, você não só conseguiu administrar uma situação


desconcertante como aproveitou para criar uma estratégia de implantação de crença
fortalecedora.

Quanto mais cedo a criança tem acesso a uma crença, seja limitante ou
fortalecedora, mais intensa e forte é a energia psíquica vinculada a ela.

Além disso, haverá situações em que a melhor estratégia será a firmeza e a


paciência para que a criança entenda que o que ela deseja naquele momento, realmente
não está ao seu alcance.

Uma criança de 4 ou 5 anos não vai compreender muito bem o que é


responsabilidade, tampouco terá um pensamento reflexivo como já mencionamos. Isso
pode explicar porque volta a repetir o mesmo comportamento.

Ok, não vamos nos prolongar muito nesse tema para não perdermos o foco.

Fica aqui a dica. Para conquistar a sintonia com seu filho, é sugerido que tente
manter sempre a linha de seus olhos na mesma altura dos olhos dele e entenda a fase
que ele se encontra.

Depois de sintonizado, aí sim você pode conduzir, isto é, utilizar outra postura
para o comando.

Entendo que há situações que não temos o tempo necessário para conseguirmos
estabelecer Rapport e oferecermos alguma recompensa em contrapartida, aí nesse caso
a estratégia muda e, às vezes, temos que usar a Persona do pai ou mãe disciplinadora,
usando linguagem verbal e não verbal de confiança e comando.

Esse desafio de conexão também abrange pré-adolescentes e adolescentes. É


muito comum os pais entrarem em confronto e contestá-los sem se darem conta que o
filho tem seus próprios problemas e desafios pessoais.

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Assim como todo conteúdo integrante desta obra, essa etapa é particularmente
muito bem embasada em pormenores científicos que atestam o motivo de sua eficácia.

Pesquisadores italianos da Universidade de Parma, descobriram um novo tipo


de neurônio no ano de 1.995.

Durante pesquisas de mapeamento cerebral com macacos, eles conseguiram


encontrar os chamados “neurônios-espelho”.

Basicamente são os neurônios ativados quando vemos alguém realizar


determinado movimento. Mesmo quando não realizamos o movimento, quando vemos
outra pessoa fazendo, esses neurônios emitem sinais.

Esses neurônios-espelho são muito intrigantes porque têm a capacidade de


sinalizar uma determinada ação realizada por nós e também a mesma ação realizada
por outros.

No momento que uma pessoa regula as expressões de rosto e outras variáveis


não verbais para se alinhar com outra pessoa, ela está usando o mesmo padrão de
ativação cerebral da outra pessoa.

Percebeu porque as técnicas de sintonização que aprendeu são tão eficazes?

Isso pode explicar em parte também o poder que a compaixão pode ter em toda
humanidade.

Penso que ninguém merece mais essa conexão que nossos filhos.

São eles que mais precisam ser entendidos e compreendidos, principalmente


por quem os ama em maior intensidade.

Amplie seus horizontes. É possível fazermos muito mais para manter essa
conexão com seu filho em todo momento e não apenas quando estamos em contato
direto.

Rapidamente quero citar um caso que atendi de um pai com dificuldades de se


relacionar com seu filho mais novo. Ele estava tendo resistência para estabelecer o
Rapport.

Criamos uma estratégia onde ele compraria um saco de figurinhas da coleção


que seu filho mais gostava sem qualquer pretexto ou aviso. Na outra semana o levou
para tomar um sorvete no lugar predileto de seu filho.

Tinha que ser feito sem que a criança pedisse, usamos o efeito surpresa. É o que
chamamos de “mimo”.

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Esse pai saiu de seu próprio mundo e foi investigar o que o filho gostava, fez a
movimentação de enxergar o mundo interior da criança, assim estabeleceu o Rapport.

A partir daí foi possível utilizar as outras técnicas ajustando a relação e


atingindo os objetivos desejados.

Quando mexemos em relações, é como se as energias que envolvem toda a


família fossem potencializadas, e de uma forma impressionante o convívio transforma-
se em uma experiência harmônica e prazerosa.

Buscar o Rapport pleno com nossos filhos é mais que uma tarefa para educar. É
um ato de respeito, de compaixão e de amor, muito amor.

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As ondas
cerebrais

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As ondas cerebrais
Aproveitando o trocadilho, agora vamos navegar por águas não navegadas até
então. Não sei se você já viu resultados de um exame chamado eletroencefalograma,
mas se viu vai entender porque as atividades cerebrais são mensuradas em ondas.

Há impulsos e correntes elétricas em nossos cérebros. A intensidade como


ocorrem essas correntes são mensuradas por frequência. Quanto maior a quantidade
de impulsos, maior serão as frequências das ondas cerebrais.

Essas frequências são dividas pela quantidade de ciclos ocorridos por segundo.

Mas por que estamos falando sobre ondas cerebrais?

Simplesmente porque quero explicar a você uma relação entre elas e nosso
estado interior, deixando claro que podemos controlar boa parte delas de forma
consciente.

Nossos cérebros são como pilhas. O uso intenso do cérebro utiliza mais energia,
o que leva a um esgotamento mais rápido de nossas forças. Isso explica o cansaço
mental que muitas pessoas enfrentam em seu dia a dia.

Quanto mais pensamentos temos, mais rapidamente precisamos de uma parada


para recompor nossas baterias. Por isso, quando estamos preocupados e em estados de
ansiedade, boa parte de nossa potência é sugada por pensamentos repetitivos.

Entender o que são as ondas nos dá o poder de tentar controlá-las para nos
mantermos equilibrados.

Vou lhe dizer rapidamente quais são essas ondas.

Ondas HIPER-BETA: estado praticamente de loucura, as ondas atuam com


ritmos extremamente acelerados, de 25 a 30 ciclos por segundo. Fique tranquilo, se
você está conseguindo ler isso não está nessa frequência.

Ondas BETA: são as ondas que se repetem em ritmo acelerado, de 14 a 30 ciclos


por segundo. É nessa frequência que passamos a maior parte de nosso tempo e se
processam os principais momentos de nossas vidas. Isso explica porque muitos
reclamam de viver vidas vazias e superficiais. Essa é a onda onde grande parte dos
recursos estão atendendo aos desejos e necessidades do Ego.

Ondas ALFA: elas aparecem quando o ritmo cerebral cai para a frequência de 8
a 13 ciclos por segundo. A maioria de nós produz esse ritmo simplesmente fechando os
olhos, mas rapidamente desaparecem a qualquer estimulo externo ou interno por falta
de treinamento. É o ritmo mais comum conseguido na meditação.

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Ondas THETA: essas ondas surgem quando o ritmo cerebral está entre 4 e 7
ciclos por segundo. Seriam as ondas obtidas em transes profundos quando a
consciência perde força e libera o inconsciente das barreiras do Ego.

Ondas DELTA: essas são as ondas mais profundas e refletem o ritmo de 1 a 3


ciclos por segundo. Elas são experimentadas quando dormimos. Para termos um sono
realmente reparador, o sono tem que atingir pelo menos uma vez o nível DELTA.

Dependendo da frequência onde nossas ondas cerebrais estiverem, poderemos


ter mais ou menos resultados nas estratégias que vou apresentar posteriormente.

Baseado em um estudo feito pela Ritz Laussac Electronics, queria propor a você
uma pequena “arquitetura mental” na tentativa de realizar uma comparação resumida
entre a Mente, as Ondas Cerebrais e o Nível de Consciência. Será útil para explicar um
pouco mais a Hipnose logo a seguir.

Perceba que a quantidade de ciclos por segundo refletem diretamente no estado


interior. O estado interior é como costumamos “rotular” a maneira que estamos nos
sentindo em determinado momento. Expressão muito utilizada nas técnicas de
ancoragem que veremos no futuro.

Seguindo pela lógica da intensidade das atividades cerebrais podemos entender


um pouco do que costumamos chamar de hiperatividade. É um tema que trataremos
também posteriormente, mas muitas pessoas, principalmente crianças, têm sido
diagnosticadas equivocadamente.

Uma coisa é hiperatividade cerebral, outra é vitalidade ou excesso de energia.

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O Tabu
da Hipnose

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O Tabu da Hipnose
Chegou a hora de falarmos de uma coisa muito séria, a hipnose.

Como queremos seriedade no assunto, preciso dizer a você que antes de


continuarmos, é necessário desconstruir o conceito e preconceito que tiver sobre
hipnose.

Ficamos acostumados a ver o uso da hipnose em espetáculos de


entretenimento. Costumo chamar esse tipo de hipnose de “Hipnose Circense”.

Apesar de não poder dizer que é uma fraude, porque realmente as pessoas
envolvidas nesse tipo de hipnose estão à mercê de comandos temporários realizados
pelo hipnotizador, adianto que não chegaremos nem perto desse tipo de hipnose.

O espetáculo ocorre porque a vontade inconsciente do hipnotizado de


participar da brincadeira é maior que as resistências do Ego, então ele se deixar levar
pelo processo.

Hipnose vem de grego “Hypnos” e quer dizer “sono”. Apesar do nome estar
relacionado ao sono, a hipnose pode ocorrer em todos os níveis de ondas cerebrais.
Obviamente que quanto menor o ciclo, melhores serão os resultados.

A hipnose nada mais é que atingirmos um estado alterado de consciência, e


assim termos acesso e trabalharmos com o que está sendo bloqueado quando o nível de
consciência está quase que totalmente ativo.

Para ajudar um pouco mais, deixa eu te apresentar mais um quadro específico


sobre níveis de consciência (exterior e interior) e seus efeitos.

A Hipnose pode ser considerada como um estado de dupla consciência. Através


dela reduzimos o nível de consciência exterior aumentando o nível de consciência
interior, saindo da frequência BETA para a ALFA, facilitando o acesso aos mecanismos
da memória inconsciente.

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Para não fugirmos do nosso foco, não vamos nos aprofundar demais em
particularidades da Hipnose e suas variáveis. O que quero aqui é que você tenha
ciência de que podemos utilizar essa ferramenta para ajudar na formação de seu filho.

Conhecendo como a hipnose funciona você vai entender quando poderá usar
algumas das técnicas que terá acesso mais para frente.

Lembre-se que tudo que estamos falando nesse livro se mistura e se embaraça o
tempo todo. Quase todas as técnicas que envolverem implantação ou mudança de
padrões comportamentais terão maior êxito se você realizá-las acessando outro estado
de consciência em seu filho.

Quando falamos em Hipnose nossos Egos ficam ouriçados. Isso ocorre porque o
Ego, especialmente quando está desestruturado, busca a todo momento formas de
tornar-se mais poderoso e comandar os demais para que façam sua vontade sem
questionamentos.

Isso parece bem ligado ao Complexo de Poder que já conhecemos antes, você
não acha?

Obviamente que não vou ensinar a você como hipnotizar seu filho e
transformá-lo em um cumpridor de ordens a simples estalos de dedos. Mas será bem
possível criar alguns gatilhos para facilitar que seu filho faça o que você deseja.

E quando terminar a leitura desse livro você saberá também como fazer isso
porque vou lhe apresentar o uso de metáforas e outras técnicas para inserir maiores
informações no inconsciente de seu filho.

A linguagem hipnótica é a linguagem capaz de alterar nossos estados interiores


e padrões mentais, sempre atuando nas ondas cerebrais mais lentas ou encontrando
atalhos para o inconsciente.

Falarmos de forma calma, lenta e suave, levando sempre nossa audiência para
seu mundo interior é a plataforma básica da linguagem hipnótica.

Existem muitas formas de rompermos a barreira do Ego mesmo não estando em


um transe hipnótico profundo, sendo as metáforas um dos principais destaques.

Tudo que estamos fazendo nesse trabalho, não deixa de ser hipnose! Ou
melhor, estou tirando um pouco de sua atenção do mundo exterior e fazendo você se
voltar para o que acontece dentro de você, aumentando assim seu nível de consciência
interior.

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Metáfora
A Linguagem do
Inconsciente

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Metáfora – A linguagem do inconsciente


Antes que seja levantada a questão de porque consideramos a metáfora como a
linguagem do inconsciente, precisamos defini-la corretamente.

A primeira definição clássica sobre metáfora nos leva ao filósofo grego


Aristóteles.

Ele dizia que a metáfora é a interpretação comparativa, isto é, a base de toda


relação metafórica é a analogia que permite realizarmos relações de correspondência
entre coisas distintas.

A maioria de nós pode até não perceber, mas a metáfora toma conta de boa
parte de nossa comunicação, sendo em alguns casos, muito difícil terminarmos um
diálogo sem termos feito uso dela ao menos uma vez.

Grandes comunicadores já sabem do poder impresso na metáfora, mas


podemos “apimentar um pouco mais o molho” dizendo que apesar de saberem,
podem ter dificuldade em explicar porque essa forma de analogia é tão poderosa.

Nosso córtex cerebral, em linhas gerais, possui a área primária responsável pela
captação dos estímulos externos, e a área secundaria que é a parte interpretativa, ou
nesse caso, podemos usar associativa.

É nessa área secundária que as analogias seguem seu caminho mais complexo.

Sempre que captamos alguma nova informação externa, nosso cérebro busca
encontrar em nossos arquivos mentais os símbolos que correspondem a ela.

É um trabalho natural do cérebro para que a comunicação possa ocorrer.

Símbolo origina-se da palavra grega symbolon, e significa um sinal que nos leva à
interpretação de algo abstrato por semelhança.

Aqui é onde quero chegar, metáfora é uma linguagem simbólica e desta forma
torna-se a linguagem primária de nosso inconsciente.

Quando ouvimos uma metáfora fazemos um caminho diferente de


interpretação e analogia que envolve áreas diferentes das que normalmente ficam
ativadas em uma comunicação clara e direta.

Muitos chamam a metáfora de “linguagem figurada”, obviamente porque a


figura é por si só um símbolo.

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Qualquer associação é uma metáfora, por exemplo: “firme como um prego na


areia” ou “minúsculo como uma pulga”.

Falar de metáfora como estratégia terapêutica nos dias de hoje, sem falar do
grande psiquiatra americano Milton Erickson, é quase impossível.

Foi através dele que muitos trabalhos constataram a grande eficácia das
metáforas e da hipnose.

Seus resultados foram tão brilhantes que acabaram por criar um tipo “novo” de
uso da hipnose, a chamada “Hipnose Ericksoniana”.

E não paramos por aí, John Grinder e Richard Blander, criadores da


programação neurolinguística, focaram seus estudos iniciais principalmente nas
técnicas de linguagem utilizada pelo eminente psiquiatra.

Não é necessário dizer que Erickson desenvolveu uma habilidade ímpar no uso
da linguagem metafórica, tratando e curando muitos pacientes. Através de análises
aprofundadas acabou ficando claro que a linguagem figurada atingia resultados
surpreendentes.

Quando falamos de criar filhos, especialmente nos dias de hoje, não temos
como abandonar e esquecer a grande ajuda que esse tipo de linguagem pode nos
oferecer.

Contos de fada, parábolas, histórias e filmes infantis são metáforas.

Sempre trazem em suas analogias um objetivo de lição moral, e infelizmente em


alguns casos, imoral também.

Aconselho sempre que ao desenvolver uma metáfora, você utilize a linguagem


hipnótica e faça uso de animais e seres não verdadeiros.

É uma técnica relativamente simples e extremamente eficaz quando tratamos de


nos comunicar com as crianças. Recorde que a criança é a própria imagem do
inconsciente.

Grandes comunicadores abusam do uso das analogias figurativas e não é para


menos.

O processo automático de interpretação que realizamos em nossas mentes


quando precisamos fazer o caminho de interpretação comparativa, exerce um efeito
poderoso de fixação de conteúdos capaz de se manterem acessíveis por toda a vida.

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Vejamos as grandes mensagens deixadas por grandes pensadores que


transitaram na história da humanidade, como Platão e o “Mundo das ideias”, Sidarta
Gautama (Buda), e Jesus com suas parábolas que viajam através dos séculos.

Se você já está convencido da grande oportunidade que temos aqui para


melhorar a interação com seu filho, creio que é hora de partirmos para os tipos de
metáfora.

Podemos dividir as metáforas em dois tipos.

METÁFORA PRÓXIMA

Trata-se de uma metáfora menos profunda, mais superficial. Contudo pode-se


utilizar com mais frequência e com um pouco de técnica, poderá ter grande sucesso em
inserir ideias e sugerir diretrizes ao seu filho.

Vou dar um exemplo que vivi aqui em casa com minha filha mais velha.

Ouvi minha filha conversando com uma amiga. Ela dizia que estava com
dificuldades em uma matéria escolar. Como ela não sabia que eu tinha ouvido, aproveitei
um momento onde estávamos caminhando juntos e citei um caso que aconteceu comigo
no passado. Eu disse que certa vez tive dificuldades em uma matéria (diferente da que
ela mencionou à sua amiga), e que um professor me ensinou a ler a matéria que tinha
sido apresentada em aula sempre que chegasse em casa, e isso me ajudou muito. Para
chegar nesse ponto da conversa, eu comecei o diálogo falando dos desafios que a vida nos
apresenta. Ela não respondeu nada e continuamos nossa caminhada. Não tardou para
que ela começasse a leitura da matéria sempre que retornasse ao lar.

Mas por que não falei isso diretamente a ela quando a ouvi conversando com
sua amiga? Simples, se ela não disse diretamente para mim, não queria que eu
soubesse, pelo menos naquele momento. Podem ser várias as razões, inclusive medo
ou vergonha.

Se eu dissesse a ela que tinha ouvido a sua conversa, mesmo sem querer, teria
dificuldades em estabelecer o Rapport naquele momento.

Tenho outro caso interessante para ilustrar um pouco mais a metáfora próxima.
Desta vez posso contar-lhe um caso com meu filho.

Meu filho estava se tornando um pouco combativo quando o assunto era limitar
o uso de seu celular. Parece familiar? Pois é, todos temos que lutar com as variáveis que
o mundo apresenta. Tenho uma convicção pessoal de que não devemos permitir que os

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eletrônicos se tornem babás eletrônicas de nossos filhos para que eles não nos
“incomodem”. Isso pode ter um preço caro a se pagar. Estávamos em um almoço entre
amigos e nossos filhos estavam presentes. Pedi ao amigo que contasse durante o almoço,
a respeito de um caso que ele teria lido sobre um jovem que estava com ataques de
ansiedade e perda de concentração por causa do uso excessivo de seus eletrônicos. Fitei
discretamente meu filho, sem que ele percebesse e vi claramente que sua expressão se
alterou subitamente, BINGO! A mensagem foi recebida. Durante os dias seguintes ele
passou a respeitar o horário de uso combinado sem queixas.

Por que não disse isso diretamente a ele? Apesar de ainda ser uma metáfora
próxima se eu tivesse contado a ele o mesmo caso dito pelo amigo em questão,
perderia os potencializadores da metáfora.

Quando usamos a metáfora próxima, dita por outra pessoa que não os pais, e
mais, sem o olhar direto ao real destinatário da mensagem, conseguimos driblar o Ego
e seus mecanismos de defesa.

A mensagem vai diretamente ao destino sem pedágios.

Use sua criatividade, existem muitas formas de usar a metáfora próxima. Posso
citar mais um caso interessante onde usei essa mesma técnica.

Um amigo, vou chama-lo de R, estava com problemas em seu casamento. Nossas


esposas também são amigas. A esposa de R contou à minha esposa que eles estavam com
problemas e ele não queria procurar ajuda de um profissional habilitado para realizar
uma terapia de casal. Passaram alguns dias e estive em um encontro informal com um
grupo de amigos, grupo esse onde R também faz parte. Depois de algum tempo de
conversa, olhei para um outro amigo que estava ao lado de R e disse que eu estava muito
feliz por ter conseguido ajudar um casal no reencontro da harmonia de seu lar através de
técnicas terapêuticas. Pude ver nos olhos de R um interesse imediato, mas sem
confissão. Duas semanas depois minha esposa trouxe a notícia que R e a esposa haviam
começado a terapia.

Demais, não? Imagine o que você pode fazer para ajudar seu filho se souber
fazer uso de metáforas próximas com técnicas capazes de “burlar” o Ego.

Infelizmente o Ego não permite que conversas claras e diretas atinjam o ponto
mais poderoso da mente. É como se obstáculos fossem sendo colocados para que a
mensagem não chegasse até seu alvo.

Medo, vergonha, arrogância, vaidade e timidez são alguns dos escudos do


EGO.

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METÁFORA DISTANTE

Essa é a metáfora mais profunda que exige um pouco mais de preparo para ser
utilizada. Basicamente é uma história mesmo, dessas que a gente lê para os filhos antes
de dormir. Nesse tipo de metáfora nós utilizamos o estado atual de nosso ouvinte com
sua problemática, logo no começo da história.

Na sequência, destrinchamos a história buscando o máximo de analogias com o


que se passa com o ouvinte, e no final, a história encerra-se com a solução da
problemática.

Eu sugiro que sempre crie as metáforas que melhor se encaixarem ao momento


de seu filho.

Entendo que, muitas vezes, é difícil para os pais conseguirem criar histórias. Se
esse for o seu caso, aconselho que busque essas histórias em livros, contos, desenhos,
filmes e peças de teatro.

Mais uma vez quero convida-lo a usar sua criatividade. Hoje temos muito
material disponível e estou certo que você é capaz de fazer adaptações para atingir seu
objetivo.

Para ficar claro, quero apresentar duas metáforas que utilizei em situações com
meus filhos.

Esta primeira, a seguir, criei para ajudar minha filha em um momento em que
ela estava com problemas de socialização.

Em uma Galáxia muito distante, há um planeta com uma espécie de vida muito
inteligente e evoluída capaz de realizar grandes feitos. Esta espécie de vida é composta
por seres maravilhosos em sua essência. Eles são os LifeBots.

Como são seres mais evoluídos, os Lifebots possuem uma constituição familiar muito
unida capaz de auxiliar os seres mais jovens a tornarem-se poderosos, desenvolvendo
seus próprios talentos e capacidades.

É muito comum nesses seres mais jovens, ocorrer uma fase de difícil convivência, pois
não conseguem controlar os grandes poderes que possuem dentro de si. Nesta fase,
alguns deles demoram um pouco mais para se aceitarem e se entenderem, e assim
procuram se manter isolados dos demais seres de idades próximas. Costumam se
defender do convívio com os demais alegando que os mesmos não são tão bons e
especiais, contudo, estão na verdade inseguros e com medo de serem eles mesmos.

Nessa fase de crescimento, alguns desses seres têm vergonha de seus corpos, vergonha de
falarem, vergonha dos outros, vergonha e medo de competirem, vergonha de

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simplesmente serem quem são, e até mesmo têm vergonha de serem comparados com
qualquer pessoa de seu convívio. Acabam tornando-se até agressivos com os seres que
mais lhe amam.

Mas, tudo isso faz parte do desenvolvimento dessa espécie que é muito especial e
evoluída, pois são dotados de capacidades e talentos maravilhosos. Uns demoram um
pouco mais, outros um pouco menos, mas suas capacidades de convivência tornam-se
cada vez mais poderosas com o passar das semanas, sem que seja feito nada de
extraordinário. Eles simplesmente começam a correr riscos, experimentam-se nos grupos
sociais e aceitam que apesar de evoluídos, todos estão muito longe da perfeição.

Esses jovens seres têm conflitos interiores sobre a forma como recebem o aprendizado.
Isso ocorre porque não concordam como recebem o conhecimento dos ancestrais. Porém,
não demora muito e eles descobrem que podem aprender o que quiserem através das
fantásticas ferramentas disponíveis, como a leitura e as pesquisas eletrônicas.

Mais cedo ou mais tarde, eles conseguem entender a todos e começam a aceitar as
diferenças entre si, além de adquirirem uma missão muito especial de tornar aquele
planeta cada vez melhor, desenvolvendo sempre novas formas para todos conviverem e
amarem-se mais.

Quando esses seres mais jovens despertam, aprendem a extrair da vida a felicidade e o
aprendizado em todo lugar e a qualquer momento. Tudo a sua volta é motivo de alegria e
auto aperfeiçoamento.

Além disso, através dos ancestrais começam a entender a enorme importância do


autoconhecimento, sabendo quais são suas qualidades e quais são as suas características
que merecem atenção para melhoria contínua.

Não é a toa que esse planeta torna-se cada vez melhor, pois esses seres mais jovens, que
enfrentam com grande coragem os desafios do crescimento, tornam-se sábios e acabam
sendo os melhores líderes das próximas gerações.

Perceba que nessa metáfora usei itens que são bem específicos ao momento que
minha filha estava vivendo. Usei Galáxia porque sei que ela adora o espaço. Mencionei
a dificuldade de obter conhecimento dos ancestrais (no caso pais e avós) uma vez que
ela não aceitava nossas sugestões e inseri o autoconhecimento como ferramenta de
transformação.

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Nesta segunda metáfora a seguir, busquei reverter um padrão alimentar ruim


que meu filho estava apresentando.

Era uma vez em um planeta cibernético distante, uma família de tablets, onde havia um
tablet pequeno que era muito potente, veloz e especial.

Mas havia um problema, ele estava auto instalando softwares e jogos de pouca
qualidade, e assim estava se tornando fraco e com problemas de funcionamento.

Contudo, o tablet mãe o levou até uma grande central de diagnóstico de sistemas e
tecnologia, e após consulta com um grande desenvolvedor e construtor de tablets,
conseguiu entender que precisava parar de instalar softwares e games de pouca, ou
nenhuma qualidade, e começar a instalar softwares de qualidade, além de aplicativos
potentes de defesa contra hackers do mundo exterior, que sabotam até mesmo os
melhores sistemas.

Até então, o pequeno tablet tinha um grande preconceito e achava que os softwares de
qualidade eram chatos, sem divertimento. Contudo, o grande construtor instalou um
chip de informação no pequeno tablet, que lhe deu grande poder de auto reparação e
consciência do que ele podia ou não instalar em seu sistema.

Assim, o pequeno tablet com grande competência, uma vez que tinha um grande poder
de processamento e memória, começou a experimentar os novos jogos e softwares de
qualidade que eram necessários para que ele sempre se atualizasse com as melhorias
mais poderosas do mundo.

Assim, ele também aprendeu a controlar tudo que entraria em seu sistema a partir
daquele dia, e descobriu que dada sua nova força e poder, por usar novos softwares de
qualidade e proteção, ele poderia às vezes matar as saudades dos jogos e softwares que
não eram ideais. Cada vez que ele instalava softwares e aplicativos de qualidade, mais e
mais ele se tornava melhor, e divertia-se muito com as novas funções.

Foi uma grande transformação que esse pequeno tablet viveu, e desta forma deixou o
tablet pai e o tablet mãe, muito mais felizes, o que gerou uma melhoria fantástica
também na qualidade e durabilidade desses tablets, que mesmo obsoletos diante do
grande poder do pequeno tablet, possuíam um sistema com um banco de dados muito
extenso e poderosíssimo, sendo utilizados pelo pequeno tablet com grande confiança e
admiração, para consultas sobre aventuras que ele ainda não tinha vivido.

Assim como na metáfora da interação social da minha filha, utilizei um planeta


distante para que meu filho conseguisse aceitar uma história mais lúdica. Perceba que

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também menciono os ancestrais para aproveitar a metáfora e fortalecer positivamente


os complexos paterno e materno.

Também deixei a flexibilidade inserida quando mencionei que às vezes poderia


“jogar ou usar os softwares que não eram ideais”, quando tivesse saudades.

Não usei o contexto de “tablets” à toa, lembre-se que mais acima citei outro
exemplo, na metáfora próxima do uso excessivo de eletrônicos, que também envolveu
meu filho.

Seja ela próxima ou distante, saber usar a metáfora vai colocá-lo em outro nível
de exploração da mente de seu filho, e você será capaz de realizar grandes feitos,
principalmente se não perder de vista a necessidade de um bom escaneamento do
pequeno, bem como estabelecer o Rapport.

Além disso, recorde do que mencionamos sobre a linguagem hipnótica, quanto


mais habilidades você utilizar em cada técnica, mais facilidade e sucesso você terá.

Tenha em mente também que se trata de um trabalho continuo. Cada filho tem
seu momento e sua própria história. Não é sempre que apenas contar uma história vai
dar conta do recado.

Fazer uso de metáforas não depende necessariamente que seu filho esteja em
transe hipnótico, seja em ondas Alfa ou menores, mas sem dúvida o resultado será
mais efetivo.

Utilize as mesmas e novas metáforas sempre que possível quando perceber que
ainda não atingiu o alvo, especialmente quando sua intenção estiver vinculada a
inserção ou superação de crenças.

Algumas vezes a estratégia precisa ser mais bem elaborada e envolver toda sua
criatividade, persistência e habilidade.

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Hipnopedia

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Hipnopedia
Vou lhe apresentar agora mais uma ferramenta eficaz que você não deve
ignorar, ok? Sabe o que é Hipnopedia?

Essa tal de hipnopedia é a tentativa de inserirmos informações em nossas


mentes enquanto estamos adormecidos, geralmente através de gravações.

Quando procuramos informações a respeito, encontramos alguns resultados


que concluem sua eficácia e outros que não são conclusivos.

Como neurocientista preciso dar o meu “pitaco” aqui.

Assim, como a própria hipnose tornou-se um pouco mitológica e sofre


preconceito pelo seu uso inadequado ou circense, essa técnica também acabou
herdando uma dose elevada de preconceito por promessas falsas de resultados.

Você sabe do que estou falando, certo?

“Aprenda Inglês dormindo”, é só um exemplo.

Como hipnólogo, posso atestar que é possível termos resultados práticos com o
uso correto da hipnopedia.

Não apenas possível, acho que será difícil você não ter nenhum resultado se
souber como fazer.

O fato é que existe um momento entre a mudança de faixa das ondas cerebrais
onde o que ouvimos vai direto ao ponto.

Pesquisas sugerem que essa “brecha”, se é que podemos dizer assim, ocorre
quando nossas ondas cerebrais estão saindo do padrão Alfa, e entrando no padrão
Theta.

Assim se conseguir organizar uma estratégia focada para inserir uma ideia ou
informação quando seu filho estiver nessa fase entre faixas, ela vai mergulhar no
campo inconsciente e terá “prioridade” ou “facilidade” de interferência nos padrões de
comportamento.

A lenda do “Aprenda um idioma dormindo”, não é de toda errada.

Existem pesquisas que mostraram maior facilidade em aquisição de vocabulário


e entendimento de uma nova língua por pessoas que fizeram uso da técnica de ouvir
aulas durante o sono.

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Perceba que não é que acordamos e sabemos uma nova língua. O que ocorre é
que de alguma forma, o conteúdo está permeando nosso campo inconsciente e quando
CONSCIENTEMENTE estudamos, conseguimos fazer a ponte e o aprendizado é
facilitado.

Deixar uma gravação se repetindo a noite toda não vai ser necessário.

Podemos concluir que essa faixa objeto da hipnopedia ocorre apenas em poucos
minutos, podendo em alguns casos ser até de segundos.

Por isso, a hipnopedia é uma técnica que precisa de conhecimento para ser
praticada com eficácia, e agora você está tendo acesso a mais essa possibilidade para
aprimorar a formação de seu filho.

Quero transmitir a você, duas formas que pode praticar com tranquilidade.

1ª. TÉCNICA USANDO GRAVAÇÕES

1- Faça a gravação de um áudio onde esteja a mensagem que deseja inserir na


mente de seu filho
2- Quando seu filho se deitar, estiver já um pouco relaxado e fechar os olhos, inicie
o áudio em repetição.
3- Após algum tempo que seu filho estiver dormindo pode desligar, eu sugiro
deixar ao menos uma hora

As regras são simples:

- Use frases curtas em repetição


Exemplo: “é importante que eu seja cada vez mais flexível e adaptável, é
importante que eu seja cada vez mais flexível e adaptável, é importante que eu
seja cada vez mais flexível e adaptável...”

- Use palavras em repetição


Exemplo: “Love Amor Father Pai Mother Mãe Home Lar, Love Amor
Father Pai Mother Mãe Home Lar, Love Amor Father Pai Mother Mãe Home
Lar....”

- Comandos ou sugestões
Exemplo: “Você precisa se alimentar melhor...” ou “A partir de agora
você vai se alimentar melhor...”

- Volume audível, nem muito alto, nem muito baixo


- Aconselhável, mas não imprescindível, uso de fones de ouvido

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Não limite-se! As metáforas, como já dissemos, são potencializadas quando


estamos em ondas Alfa. Apesar disso já não ser mais hipnopedia, não queria perder a
oportunidade de lhe dizer isso.

Você pode fazer gravações com as metáforas se repetindo, e assim que seu filho
se deitar, inicie o áudio.

2ª. TÉCNICA USANDO COMANDOS VERBAIS

Simples. Nessa técnica você precisa estar junto ao seu filho quando ele está
realmente adormecendo.

Sabe quando seu filho se deita em seu colo e você está lhe fazendo um cafuné
gostoso?

Quando perceber que ele já não consegue manter os olhos abertos é o momento
de executar o comando.

Repita algumas vezes o comando em voz calma e suave, bem próximo do


ouvido e seu filho.

Exemplo: “Você está se tornando cada vez mais seguro e confiante!”, “Você é
um filho muito amado por todos nós”, e assim por diante.

Obviamente a dica aqui é que você use frases congruentes com o que seu filho
esteja precisando. Se estiver em um momento inseguro, elabore um comando que vise
deixa-lo seguro.

Metáfora e Hipnopedia são alguns dos motivos do porquê expliquei


anteriormente os níveis de consciência e estados relativos a cada faixa de ondas
cerebrais.

Conhecê-las deu um pouco mais de poder a você.

Uma peça vai completando e potencializando a outra.

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Comandos
Hipnóticos

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Comandos Hipnóticos
Vamos combinar uma coisa. Quando falarmos de comandos hipnóticos evite
imaginar que poderá mandar seu filho comer uma cebola e sentir gosto de maça, ou
que vai fazer tudo o que você quiser como um robô programado.

Os comandos hipnóticos fazem parte desse conjunto de ferramentas que


estamos disponibilizando ao seu favor para que suas chances de sucesso aumentem na
missão de formar seu filho.

Já falamos do Milton Erickson, do John Grinder e do Richard Blander. Mas eu


não expliquei a você, como dizem por aí, como foi o primeiro contato entre eles.

Toca o telefone no consultório de Erickson, daí teria surgido a seguinte


conversa:

M.Erickson – Alô..
R.Blander – Alô, Dr. Erickson?
M.Erickson – Sim, como posso ajudá-lo?
R.Blander – Dr. Erickson, estamos desenvolvendo um estudo a respeito da poder da
linguagem e o cérebro.........(Blander teria explicado brevemente o interesse nos trabalhos
de Erickson para que modelassem a forma como ele se comunicava com seus pacientes)
M.Erickson – Sinto muito, agradeço o interesse...mas não tenho tempo para atendê-los,
tenho muitos pacientes aguardando para serem atendidos.
R.Blander- DOUTOR MILTON ERICKSON, pessoas como o senhor sabem como
ARRUMAR TEMPO.

Pode parecer estranho, mas essa última frase foi determinante para que
Erickson encontrasse espaço em sua concorrida agenda.

Sabe por quê? Vou lhe explicar.

Na última frase da suposta conversa que transcrevi entre Erickson e Blander,


este último utilizou uma técnica que o próprio Erickson utilizava. As palavras onde
apresentei todas as letras maiúsculas e negrito, foram ditas por Blander em tom mais
alto e ritmo mais lento do restante das palavras da frase.

Essa técnica é a que costumamos chamar de comando embutido e será muito


útil a você para ordens de comando quando necessitar delas junto ao seu filho.

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Como a ideia principal é lhe aparelhar cada vez mais para ter ferramentas na
tarefa de condução e formação de um ser sob sua responsabilidade, consegui resumir o
que realmente interessa para que tenha um bom resultado em seus comandos.

Vou lhe expor duas técnicas.

1ª. COMANDO EMBUTIDO

Já não tem mais segredo, essa é a mesma técnica que expliquei e que foi
utilizada por Blander para conseguir a atenção do Dr. Erickson.

O esquema:

1- Olhar fixamente nos olhos preferencialmente na mesma altura


2- Utilizar na formulação do comando o mesmo sistema representacional
(V,A,C) preferido pelo filho, caso esteja em um diálogo
3- Postura espelhada com o Máximo de Rapport (sintonia) possível. Lembre-se
do tom de voz e dos movimentos corporais
4- Realizar o comando usando a mesma (ou o mais aproximado possível)
entonação e velocidade utilizada pelo filho para o conteúdo menos
importante da mensagem.
5- Aumentar o tom da voz e reduzir o ritmo para as palavras que formarão o
comando.

Vamos ao exemplo: “NOMEDOFILHO, está claro que todo mundo PRECISA


ESTUDAR MAIS”.

Acho válido explicar que o NOMEDOFILHO, levará o comando ao nível


neurológico da identidade, o que potencializará a intensidade do comando, como uma
missão.

Interessante como a maioria dos pais costuma usar o nome do filho de forma
intuitiva quando deseja aplicar uma “bronca”, não é verdade?

Obviamente as palavras com letras maiúsculas e negritas, representam onde a


entonação e o ritmo foram alterados. Ah, e usei no exemplo a palavra “claro”, supondo
que o sistema representacional seja o Visual.

2ª. COMANDO CLARO E DIRETO

Também não há segredos aqui. Basicamente o que muda com relação à técnica
do comando embutido é que aqui o comando é claro e direto, como o próprio nome já
diz.

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Geralmente esse tipo de comando é aplicado quando é preciso um


comportamento mais enérgico.

Vamos ao esquema:

1- Busque posição de confiança e comando. Lembra-se da parte que vimos


sobre a fisiologia? É uma ótima oportunidade para usar a posição do
“Gorila”
2- Aqui o ideal é que o nível de seus olhos esteja bem acima dos olhos de seu
filho
3- Use a expressão facial de “raiva”. Veja, não é que você precisa demonstrar
raiva de seu filho, mas essa expressão vai atingir “em cheio” a mente de seu
filho. Muitas vezes nem é preciso dizer o comando, a expressão facial e a
fisiologia como um todo já produzem o resultado desejado.
4- Você deve dizer o comando claro e direto, utilizando tom de voz mais grave
e alto.

Vamos ao exemplo: “NOMEDOFILHO, VÁ JÁ PARA O SEU QUARTO”.

O motivo de usarmos o nome do filho é o mesmo que da primeira técnica e


nesse caso você não precisa de sintonia, pelo contrário, a energia psíquica está
fortemente ligada à quebra de sintonia.

Infelizmente, a gente sabe que tem situações que só essa atitude cabe melhor,
não é? Provavelmente você já faz isso de forma intuitiva, mas agora você pode
aprimorar seu comando.

Potencializadores

Não queria fechar esse tema sem citar duas coisas que podem potencializar
tanto o comando embutido, como o comando claro e direto.

Potencializador 1 -> Você pode repetir o comando duas ou 3 vezes.

Potencializador 2 -> O toque. Isso mesmo, segurar a mão, o braço ou ombro de


seu filho com firmeza ampliará a intensidade psíquica envolvida no comando. Afinal
de contas é mais uma rota cerebral interligada. Perceba que tendemos a seguir alguém
quando segura nossas mãos, braços ou ombros. E intuitivamente, acabamos por fazer
isso quando queremos conduzir alguém para algum local.

Para concluir essa etapa queria dizer a VOCÊ que um comando hipnótico
também PODE SER realizado através da escrita.

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Quando destacamos as palavras utilizando letras maiúsculas e negritas, nosso


cérebro inconscientemente SEMPRE gera prioridade para o que foi MELHOR
diferenciado, chamando nossa atenção.

Agora que você já conhece basicamente as partes que compõem nossa psique,
sabe a importância dos complexos, entende a herança de padrões mentais que
podemos transmitir aos nossos filhos, estudou os 4 cérebros, conhece as necessidades
humanas e os níveis de aprendizagem, dissecou os níveis neurológicos, tem o poder de
inserir e superar crenças, sabe escanear minuciosamente seu filho, possui a habilidade
de detectar incongruências e mentiras, prioriza sintonizar-se com seu filho, navegou
pelas ondas cerebrais, aprendeu a usar a linguagem do inconsciente, executa comandos
superando as barreiras do Ego e sabe que pode ser sempre melhor, é hora de imaginar
o que todo esse poder pode fazer por você e pelo seu filho.

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O poder da
Imaginação

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O poder da Imaginação
“A imaginação é mais importante que a ciência,
porque a ciência é limitada, ao passo que a
imaginação abrange o mundo inteiro.”
(Albert Einstein)

A imaginação é muito mais do que parece ser, acredite.

Se estudarmos os povos e civilizações que ocuparam nosso planeta nos tempos


mais antigos, veremos que a imaginação sempre esteve presente como ferramenta de
interpretação e realização do mundo.

Aproveitando a sabedoria que nos foi emprestada pela autoridade científica,


Albert Einstein, queria acrescentar que a imaginação não apenas abrange o mundo
inteiro, mas vai além, muito além.

Não existem porteiras para o uso da imaginação, ela não tem limites e
contempla tudo, e mais um pouco.

E isso não passou despercebido para o eminente psiquiatra suíço Carl Gustav
Jung. Em seus trabalhos e estudos, Jung conseguiu detectar que podemos utilizar nossa
imaginação para solução de conflitos e integração da personalidade, a chamada
“Imaginação Ativa”.

No entanto, da época de Jung para cá, muitas coisas foram evoluindo na área
científica. As pesquisas realizadas pela neurociência com a utilização de equipamentos
capazes de obter neuroimagens cerebrais nos presentearam com grandes avanços para
entendermos um pouco mais sobre a relação Mente x Cérebro.

Já falamos sobre isso, mas é importante relembrarmos que em nosso


entendimento o cérebro é uma ferramenta integrada à mente. Em uma analogia que
acho interessante usar, podemos dizer que a mente é o software e o cérebro é o
hardware.

Por mais que existam alguns cientistas que queiram resumir nossas
complexidades existenciais dizendo que somos apenas o resultado da formação
genética de nossos cérebros, quanto mais aprofundo meus estudos e análises, mas fica
claro que isso não tem fundamento.

Mas então, falaremos da “Imaginação Ativa” de Jung? Na verdade não.

Vou tentar passar a você de forma prática porque sabermos aplicar nossa
imaginação pode nos ajudar muito na linda tarefa de formarmos nossos filhos.

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Neste ponto que estamos, já sabemos que o inconsciente NÃO sabe o que é
verdade. Quem tem essa percepção é a consciência.

Vou dar um exemplo fácil para compreendermos isso.

Sabe quando estamos assistindo aquele filme de suspense e nossos corações


batem mais forte? Nossa respiração torna-se mais rápida e somos tomados por um
estado interior como se estivéssemos vivendo realmente o que está acontecendo no
filme.

Não sei se já teve a oportunidade de usar esses óculos de realidade virtual ou


ver filmes em 3D que apresentam uma cena de grande emoção como descidas
alucinantes de montanhas russas, mas se já experimentou isso sabe que temos a nítida
sensação de que estamos de fato vivendo aquela cena.

Você nunca se perguntou por que isso ocorre?

Nossa consciência sabe que estamos seguros e que tudo é apenas um filme, mas
é raro alguém que consiga evitar as sensações que são provocadas por essas situações.

Basicamente isso ocorre porque quem comanda nossas funções vitais e de


impulsos de sobrevivência é o nosso inconsciente.

Novamente preciso dizer isso a você: “Nosso inconsciente não sabe o que é
verdade!”

Assim, quando estamos diante de qualquer experiência visual nossos corpos


respondem e nossos cérebros utilizam as rotas já criadas para situações similares.

Hormônios como o cortisol e a adrenalina são produzidos imediatamente


diante de alguma possibilidade de perigo, combate e fuga.

Mesmo não sendo necessário, nossos corpos acabam preparando-se sem que
precisemos acionar nenhum comando consciente.

Pois bem, é nesta altura que preciso ligar mais algumas peças.

A imaginação é na verdade uma experiência visual que podemos produzir a


partir de nossa vontade, ou seja, de nossa consciência.

Queremos e então imaginamos. Na verdade também ocorrem processos


imaginativos que não são frutos de nosso desejo.

Para as intenções que temos, nós vamos trabalhar apenas com a imaginação que
podemos acionar pela vontade.

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Portanto, não é difícil deixarmos claro que imaginarmos algo seja muito
parecido com um filme que assistimos.

Diria até que a imaginação é mais forte e real que filmes, pois as rotas neurais e
ondas cerebrais envolvidas estão mais vinculadas ao nível de consciência interior, isto
é, estamos com o nível de inconsciência maior nas técnicas imaginativas.

Eu sei que pode parecer brincadeira, mas é coisa séria.

Muitos estudos ligados aos benefícios curativos da meditação, técnicas de


visualização e de programação neurolinguística, podem ser parcialmente explicados
por essa mesma tese.

Seja pelos olhos ou pela imaginação, temos canais de percepção muito


particulares envolvidos. Esses canais se alinham e se embaraçam em nossos cérebros
de acordo com nossa história e acervo de vivências.

Precisamos deixar bem claro que a imaginação não é uma coisa tola que não
possui amparo científico. É comprovado o impacto cerebral gerado pelas técnicas
imaginativas.

Antes de “pormos a mão na massa”, quero explicar a você que podemos


realizar uma técnica de imaginação por dois prismas, ou melhor, por dois pontos de
vista.

IMAGINAÇÃO ASSOCIADA

Quando usamos a imaginação de forma associada, participamos da cena imaginada do


mesmo modo ou prisma de como vivemos quando estamos acordados.

É o mesmo padrão que está usando nesse momento quando lê esse livro.

Se eu pedir a você que feche os olhos agora e se imagine lendo o livro da mesma forma
que está agora, perceberá que é como vivemos normalmente.

Nesse tipo de imaginação, sentimos e vemos tudo da mesma forma, “atrás de nossos
próprios olhos” ou se preferir “dentro de nossa própria pele”.

Estarmos associados na imaginação é excelente para potencializarmos as sensações e


intensidade psíquica envolvida.

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IMAGINAÇÃO DISSOCIADA

Já nesse caso, quando usamos a imaginação nos assistimos na cena imaginada como se
estivéssemos nos vendo em um filme, somos na verdade um expectador.

É como se estivéssemos em uma gravação que fizeram de nós em uma cena qualquer.
Estamos dissociados do personagem.

Se eu pedisse para você imaginar que estivesse fora de sua cama e visualizasse “você
mesmo” lendo seu livro na cama, você estaria usando a imaginação dissociada da cena.

Não tem segredo, os próprios nomes já dizem praticamente tudo. Associado e


dissociado da cena imaginada.

Mas para que não fiquem dúvidas, podemos fazer uma comparação simples.

Se eu disser para que se imagine associado em sua cama sentindo muito frio,
você sentirá frio porque está vivendo a cena, ou seja, atuando nela.

Mas se eu disser para que se imagine dissociado em sua cama sentindo muito
frio, você se verá na cama com muito frio, mas não sentirá frio porque é um expectador
e dessa forma tem sensações diferentes menos potencializadas do que se estiver
associado.

É relevante que isso fique entendido porque tanto a técnica imaginativa


associada quanto a dissociada são maravilhosas e podem corrigir padrões importantes
em nossos pequenos.

Parece covardia falarmos de imaginação tratando-se de crianças ou


adolescentes que por essência já são muito imaginativos, mas acredite, é bem diferente
quando sabemos como ajudar nossos filhos a usar a imaginação ao seu favor.

Imaginar em seu sentido mais amplo nos dá o poder de ajustarmos e alterarmos


nossos caminhos e rotas mentais, tanto para potencializar nossas qualidades como para
superar bloqueios e padrões indesejáveis de comportamento.

Quem sabe utilizar a imaginação pode viver a vida que desejar, ter o prazer que
quiser e ressignificar seus maiores traumas.

Apesar de soar meio maluco o que vou dizer, quando Einstein apresentou sua
teoria da relatividade em Berlim no ano de 1.915, ele abriu precedentes filosóficos em
tudo que contemplar uma relação espaço-tempo.

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Quando usamos a imaginação, como ele próprio deixou claro, estamos usando
forças muito além das que compreendemos. Para nosso propósito nessa etapa,
podemos dizer que quando imaginamos, estamos funcionando em uma dimensão
paralela integrada ao momento que estamos vivendo presencialmente.

A RECEITA DA IMAGINAÇÃO

Vou lhe passar a “receita do bolo” e tudo vai ficar mais fácil.

A seguir sugiro um pequeno protocolo que pode servir como ponto de partida
para ajudar seu filho.

1- Acomode seu filho para que ele fique confortável


2- Peça que feche os olhos. Fechar os olhos facilita a concentração e
atingimos mais facilmente as ondas Alfa
3- Diga que ele tome algumas respirações mais longas e profundas
4- Quando perceber que ele está já em um estado mais relaxado é hora
de iniciarmos a condução
5- Você conduzirá seu filho para o enfrentamento, ressignificação e
mudança de padrões de comportamento não desejados usando tanto
a imaginação associada como a dissociada

Sei que isso parece complicado inicialmente, por isso vou passar a seguir,
algumas técnicas para ajudar nesse processo.

Precisamos ter em mente que você já sabe o que é estar associado ou dissociado,
mas seu filho provavelmente nunca teve contato com isso.

Para usarmos as técnicas de imaginação com nossos filhos, precisamos prepara-


los passo a passo. Caso contrário você não aproveitará todo potencial desta ferramenta.

EXERCÍCIOS INICIAIS PARA PREPARAÇÃO


DE USO EM TÉCNICAS IMAGINATIVAS

PRIMEIRO

1- Acomode seu filho de forma confortável


2- Diga a ele para tomar algumas respirações longas e profundas
3- Peça que imagine qualquer coisa fora da normalidade, por exemplo: “Um
elefante cor de rosa”

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4- Depois peça para ele colocar acessórios no elefante, como patins por
exemplo. Use a criatividade, você pode usar qualquer objeto e pensar em
qualquer acessório.

Esse primeiro exercício tem como objetivo principal começarmos a


familiarizar nossos filhos com a imaginação. Não deixa de ser um treino
também para você que em breve vai conduzir seu filho em experiências
imaginativas mais complexas.

SEGUNDO

1- Acomode seu filho de forma confortável


2- Diga a ele para tomar algumas respirações longas e profundas
3- Peça para ele imaginar que está correndo e brincando em algum local. É
importante que você comece a usar palavras que mostrem que ele precisa
estar associado à experiência. Por exemplo: “Sinta o sol, o vento”, “Sinta a
grama em seus pés” ou “Pegue a bola e sinta ela entre suas mãos”

Esse segundo exercício tem como objetivo introduzir seu filho à


experiência imaginativa de forma associada.

TERCEIRO

1- Acomode seu filho de forma confortável


2- Diga a ele para tomar algumas respirações longas e profundas
3- Peça que ele agora se imagine sentado em uma das cadeiras do cinema e na
tela está se vendo, correndo e brincando no parque.

Caso seu filho tenha dificuldades em se imaginar, não se preocupe, isso


é muito comum. Uma boa sugestão é que tenha um espelho de fácil acesso ou
pegue uma foto de seu filho, preferencialmente de corpo inteiro. Peça que ele
abra os olhos, veja sua própria imagem e feche novamente os olhos. Repita isso
umas 3 a 4 vezes que já deve ser o suficiente para que ele consiga fazer o
exercício.

Nesse exercício o que queremos é preparar o pequeno para que ele


consiga fazer uma cena imaginada de forma dissociada.

QUARTO

1- Acomode seu filho de forma confortável

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2- Diga a ele para tomar algumas respirações longas e profundas


3- Peça que ele se imagine sentado em uma das cadeiras do cinema e na tela
está se vendo, correndo e brincado em um parque qualquer
4- Diga a ele para imaginar alguns segundos desse filme
5- Peça que ele congele a imagem
6- Solicite que ele rebobine o filme até o começo. Da mesma forma que
fazemos quando estamos voltando um filme qualquer.
7- Peça que ele se imagine saindo da cadeira e caminhando até a tela de
cinema onde ele “entra” no personagem que está na tela, no caso ele. Aqui
você precisa usar palavras que o associem ao filme, já fizemos isso no
segundo exercício. Informe seu filho que você vai descongelar o filme, só
que agora ele vai seguir com ele “vivendo a cena”, isto é, atuando no
próprio filme.

Aqui nesse exercício demos um salto importante porque trabalhamos


modalidades e padrões neurológicos bastante complexos.

Fique tranquilo, geralmente as crianças adoram esse tipo de experiência. A


criança tem muita facilidade em imaginar, ela é a própria expressão do inconsciente.

O que pode ser mais complicado nas técnicas de imaginação é mantê-lo


concentrado. Eu costumo sempre usar uma “alavanca emocional” e oferecer alguma
recompensa se finalizar a “brincadeira”. Falaremos mais sobre “alavanca emocional”
quando estivermos expondo detalhes sobre os hábitos nas próximas etapas.

Disse “brincadeira” porque é a melhor forma de induzir seu filho a fazer esses
exercícios, isto é, fazê-lo pensar que não se trata de algo sério ou terapêutico.

Antes de apresentar os exercícios preparatórios eu forneci a você uma pequena


“receita de bolo”, agora é hora de nos focarmos no quinto passo desta receita:

5-Você conduzirá seu filho para o enfrentamento, ressignificação e mudança de


padrões de comportamento não desejados usando tanto a imaginação associada como
a dissociada

Muito bem. O maior desafio na utilização nas técnicas de imaginação é a sua


própria criatividade.

Na verdade não temos como padronizar isso, infelizmente.

Cada filho tem sua própria história, suas próprias preferências e necessidades.

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Em todo caso acho que posso tentar ao menos dar pontos referenciais de
quando é possível utilizarmos as técnicas de imaginação.

Isso que tabelei é um resumo muito simplista de como fazer uso do poder da
imaginação. Não se esqueça de que não deve se limitar. O epicentro das técnicas é que
consiga alterar a forma como seu filho está respondendo a determinadas situações,
mudando e inserindo novas rotas neurais.

Uma dica, quanto mais sensações e detalhes conseguir utilizar na aplicação da


técnica, maior será o resultado. Vou passar a você algumas situações onde utilizei as
técnicas de imaginação com grande sucesso.

CASO 1

Nome: L. (11 anos)


Problema: sentia-se intimidada pelo professor
Técnica usada: imaginação associada

L. sentia-se muito intimidada por um professor de sua escola. Ela não conseguia
comunicar-se adequadamente com ele, ficando assim sem responder algumas perguntas.
Quando o professor entrava em sala de aula, L. sentia suas pernas trêmulas, o coração
acelerava e ficava praticamente impossibilitada de usar sua voz, que literalmente não
saía. Após atendimento percebemos que aparentemente não havia uma causa
traumática, contudo tratava-se de um professor que tinha uma postura enérgica e um
tanto ríspida. É natural que, às vezes, por conta do medo, esses sintomas apareçam.

Utilizamos a técnica da imaginação associada pedindo que L. imaginasse que estava na


sala de aula, sentada diante do professor em questão. E começamos então a “brincar”
com a cena. Pedi que ela imaginasse inicialmente que seu professor estava sem sapatos,
com as meias rasgadas, sem calças e usando uma fralda. Depois inserimos um nariz de
palhaço, seguido da mudança da voz do professor para uma bem fina e engraçada. Na
sequencia pedi a ela que imaginasse que seu professor estivesse reduzindo de tamanho
até que ficasse no centro da cadeira do tamanho de um coelhinho, aproveitamos e

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colocamos um rabinho de coelho. Pedi que ela praticasse essa mesma imaginação antes
da próxima aula com o professor. Isso ajudou L. a superar o medo deste professor e os
sintomas não ocorreram mais.

CASO 2

Nome: J. (10 anos)


Problema: sentia-se tímido perto de meninas
Técnica usada: imaginação associada + dissociada

J. tinha dificuldades de se relacionar com meninas de sua idade. Tudo parecia bem
quando estava com seus amigos, mas quando havia alguma garota por perto ele se
isolava e não sabia como se portar. Parece uma coisa comum de acontecer, mas não era o
caso de J. que sofria e se paralisava quando havia alguma menina de sua idade no
ambiente que precisava frequentar. Restaurantes e aniversários estavam se tornando
sinônimo de sofrimento. Foi então que aplicamos a técnica da imaginação associada +
dissociada para ajudá-lo a elaborar um plano de ações e comportamentos na presença de
meninas. Criamos algumas cenas onde ele se imaginava em ambientes onde houvesse
meninas de sua idade, contudo nessa imaginação ele estava se observando como em uma
tela de cinema. Começamos a “brincar” com as cenas e pedi que ele começasse a se
visualizar atuando da forma que ele achava ideal. No início teve um pouco de
dificuldade para encontrar a forma que deveria agir, então perguntei se tinha algum
amigo que ele achava que se comportava da forma que queria agir. Felizmente tinha.
Então conduzi J. em suas cenas para que se visualizasse agindo da mesma forma que seu
amigo, com descontração, sorrindo e se sentindo a vontade. Consegui que ele se
visualizasse até contando piadas para um grupo de garotas. Em cada uma dessas cenas,
depois de se visualizar pedi que voltasse as cenas até o início e revivesse elas da mesma
forma, porém desta vez atuando. Depois de alguns exercícios como esse e algum treino,
J. superou esse bloqueio.

CASO 3

Nome: R. (13 anos)


Problema: superação de episódio de bullying
Técnica usada: imaginação associada+dissociada

R. foi vítima de uma situação no final do ano letivo onde foi vítima de bullying dentro
da sala de aula. Alguns colegas, se é que podemos chama-los assim, o assediaram
fisicamente e moralmente, abaixando as suas calças a força na frente de todos os demais
e segurando-o para que não pudesse se vestir. Era um daqueles dias de final de ano
escolar, não havia professor na sala de aula. A intensidade daquela experiência, como
não poderia ser diferente, foi tão grande que R. suplicou que os pais o mudassem de

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escola.Seu pedido foi atendido mas R. não conseguia tirar aquela experiência de sua
mente e isso estava afetando inclusive sua integração na outra escola. Utilizamos a
técnica de imaginação dissociada para tentarmos ressignificar o episódio, diminuindo a
intensidade psíquica que estava vinculada. Pedi que R. imaginasse que estava sentado
na cadeira de um cinema e na tela ele veria tudo que ele passou na sala de aula naquele
dia. Inicialmente pedi que ele assistisse observando como tudo aconteceu. Pedi que ele
congelasse a imagem quando já estava mais calmo e com suas calças. Então disse a ele
que retornasse até o momento próximo antes de tudo acontecer na sala de aula, como
fazemos quando queremos voltar um filme. Chegando na cena antes de tudo ter
acontecido, onde ele estava seguro e calmo, pedi que ele congelasse novamente. Conduzi
ele para que saísse de sua cadeira e fosse até a tela e se posicionasse em frente ao seu
personagem na tela. Então pedi que ele conversasse com ele mesmo, dizendo para o seu
personagem (que ainda iria viver a experiência ruim) tudo que iria acontecer com ele e
que tudo ia ficar bem depois, sendo sincero que seria difícil, mas que tudo ia ficar bem e
que ele era bem mais forte do que imaginava. Então pedi para R. novamente sentar-se na
cadeira do cinema como expectador e antes de reiniciar o filme sugeri que pensássemos
em um filme que ia ocorrer de forma diferente, de um jeito diferente de tudo que
aconteceu. Assim, quando chegamos a um filme bem diferente e até divertido que seria
visto na tela, disse a ele para sair de sua cadeira e ir novamente à tela, só que desta vez
ele entraria em seu próprio personagem, ele seria o ator e viveria esse novo filme criado.
A experiência foi muito boa, pude ver claramente a alegria nas expressões de R.
enquanto estava se imaginando no novo filme. Ah, o que aconteceu nesse novo filme?
Resumidamente, R. foi bem criativo e imaginou que enfrentou os colegas com a ajuda de
seu super-herói preferido, tirando as calças de todos e ainda sendo admirado pelas
meninas da turma. Lembre-se que a ideia é mudar a intensidade da experiência, e se bem
utilizada, como nesse caso, a imaginação é uma ferramenta poderosa.

CASO 4

Nome: M. (9 anos)
Problema: problemas de relacionamento com irmãos
Técnica usada: imaginação dissociada

M. tinha 2 irmãos, um de 8 e outro de 11 anos. Utilizamos uma estratégia onde


utilizaríamos a imaginação dissociada em cenas isoladas com cada um de seus irmãos.
As queixas de M. estavam ligadas ao comportamento dos irmãos. Usamos praticamente
as mesmas cenas para que M. pudesse analisar melhor como “ele” mesmo estava se
comportando. Os pais e irmãos de M. reportaram que ele não via seu próprio
comportamento e mesmo quando uma pergunta simples era feita, suas respostas eram
sempre agressivas. Pedi que M. imaginasse sua última briga com os irmãos, seguindo a

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mesma técnica do cinema, sugeri que se visualizasse na tela do cinema onde seria
apresentada a briga como um filme. Nessa técnica precisei atuar mais de perto,
paralisando as cenas e pedindo que ele descrevesse detalhadamente o que estava vendo da
tela. Assim foi possível que pausássemos o filme a cada frase dita pelo irmão, e
interpretássemos essas frases imparcialmente, comparando com o tipo de resposta e
comportamento que M. apresentou. Com isso pude explicar de forma didática que as
reações dele estavam desproporcionais. Conforme ele se via na cena, percebia que estava
agindo de forma agressiva demais. Pudemos perceber que M. estava com ressentimentos
guardados e conseguimos aproveitar os exercícios para ressignificarmos as experiências
anteriores que causaram esse padrão indesejável de comportamento. Tudo isso foi
possível porque ele teve a oportunidade de se ver através da técnica de imaginação
dissociada, ficando muito mais fácil ajudá-lo.

POTENCIALIZADORES DAS TÉCNICAS DE IMAGINAÇÃO

A verdade é que falar sobre imaginação já daria material para um livro


exclusivo.

Existem muitos potencializadores que podemos utilizar durante a aplicação das


técnicas imaginativas e assim termos resultados ainda melhores. Gostaria de dividir
alguns com você.

SUBMODALIDADES

O potencializador “Submodalidades” nada mais é que você conseguir aplicar


alterações de algumas características dentro das cenas imaginadas.

Você pode aumentar ou diminuir cores, temperatura, som, cheiros, vozes,


tamanhos e outros componentes presentes na experiência imaginativa.

Quanto maior for a quantidade de alterações, maior será a quantidade de rotas


neurais aplicadas, dando assim maior intensidade psíquica à experiência.

Usei esse potencializador no Caso 1 (L.).

LINHA DO TEMPO

É possível que você crie uma linha imaginária, onde nos extremos estarão
definidos o passado, o presente e o futuro da criança.

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Você pode colocá-la no meio da linha definindo como presente.

Induzindo passos para trás você pode encontrar situações passadas e trabalhá-
las uma a uma.

Quando chegar até determinada lembrança, você pode tirar a criança da linha
do tempo e elaborar junto com ela uma estratégia para reviver a experiência da forma
que ela gostaria.

AUTOCONSOLAÇÃO

Em experiências onde seu filho estiver revivendo na imaginação algum fato


desagradável ou experiência traumática, por exemplo, você pode sugerir que ele
mesmo se visite no momento exatamente anterior de ter ocorrido o indesejado.

Essa é uma ação poderosa porque trabalha com as rotas do autoamor, do


autoperdão e de liberação de culpas.

Veja que usei o autoconsolo no Caso 3 (R.).

TOQUE

Durante um quadro imaginativo, podemos fazer uso dos toques para que mais
rotas neurais sejam ativadas e assim conseguirmos maior sucesso na estratégia.

Por exemplo, no caso de seu filho estar revivendo uma ocorrência de


insegurança, abraça-lo sem tira-lo do exercício trará a sensação de proteção justamente
no momento onde ele estava em sofrimento.

Em uma experiência de tristeza, o carinho, seja nos cabelos ou nas mãos, trará
conforto.

Esse tipo de potencializador é muito limitado em consultório por razões óbvias.


Mas como estamos falando de nossos filhos, não podemos deixar de usar mais esse
potencializador.

COMEDIZAÇÃO

Conseguir imaginar uma ressignificação utilizando o humor ampliará muito o


bem-estar.

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Além da própria reação química que ocorre com a geração dos


neurotransmissores da felicidade, como a serotonina, dopamina e endorfina, rotas
neurais importantes de alegria são ativadas.

Veja que usei isso no Caso 2 (J.) quando inserimos piadas na recontextualização.

O IMPOSSÍVEL

Parece redundância, mas não tem lugar melhor para trabalharmos com o
impossível do que na imaginação.

Quando inserimos elementos impossíveis nos processos de recontextualização e


ressignificação em uma experiência imaginativa, algo mágico ocorre em nosso cérebro.

Ao mesmo tempo em que nosso hemisfério cerebral direito é acionado no


processo de criação, nós podemos ativar também arquétipos de nosso inconsciente.

Veja que no Caso 3 (R.) foi utilizado o herói preferido dele, desta forma
trouxemos para a aventura seu complexo de heroísmo, o que traz em sua origem uma
quantidade grande de energia psíquica.

RITUALIZAÇÃO

Como já vimos em outra etapa, trazemos em nossa herança genética a história


da humanidade e, segundo Jung, também trazemos uma herança psíquica em nosso
inconsciente coletivo.

Os rituais estão presentes em toda nossa história e engana-se quem acredita que
já não os fazemos mais.

A estratégia de ritualização é como um treino, se ritualizarmos o que estamos


imaginando, durante ou após o exercício de imaginação, o novo padrão será fixado
com maior facilidade.

No caso Caso 2 (J.), por exemplo, após o exercício de imaginação, ritualizamos,


ou seja, ajudei-o a atuar fisicamente da forma mais próxima de como ele agiu na
atividade que desenvolvemos.

RAPPORT, SISTEMA REPRESENTACIONAL, RELAXAMENTO


E LINGUAGEM HIPNÓTICA

Estou apresentando esses quatro elementos juntos porque já falamos sobre eles
com maior profundidade antes.

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O fato é que tudo que já vimos se complementa e se potencializa sempre em


qualquer técnica que falamos e ainda vamos falar sobre.

Conduzir um exercício de imaginação em seu filho, estando sintonizado


(Rapport) com ele, usando o sistema representacional predominante no momento e
utilizando uma linguagem hipnótica com uma voz calma e suave, vai facilitar o êxito
da técnica.

O relaxamento é importante para alcançarmos as ondas cerebrais Alfa que já


esmiuçamos. Nesse padrão de ondas ficará muito mais fácil seu filho imaginar.

Perceba que nos exercícios preparatórios que sugeri, sempre iniciamos com a
acomodação confortável de seu filho, pedindo uma respiração lenta e profunda com os
olhos fechados.

ESPAÇOS PSICOGRÁFICOS

Durante a prática dos exercícios de imaginação, especialmente nos casos onde


envolvemos a associação e a dissociação na mesma oportunidade, é possível que
criemos espaços definidos no local onde estamos realizando a atividade e que eles
correspondam às áreas imaginadas.

Não disse nada a você antes porque estava esperando esse momento.

Durante os exercícios, perceba que direcionei os imaginativos para um cenário


de cinema.

Nesses casos, eu costumo utilizar uma cadeira real para ser a cadeira do cinema
e a coloco geralmente de frente para uma parede ou janela, que defino como a tela do
cinema.

Antes de iniciar o exercício eu já digo à pessoa que aquela é a cadeira do cinema


aonde vai se sentar, e aponto a parede ou janela que será a tela de cinema onde ele verá
o filme.

Sempre conduzo exercícios de imaginação mantendo os olhos do conduzido


fechados. Contudo, quando congelamos a imagem e é hora de se dirigir a tela, peço
que os olhos sejam abertos e que se dirija até a “tela”, isto é, parede ou janela.

Assim que o conduzido está em frente à “tela” peço novamente que feche os
olhos e prossiga com o exercício.

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A mesma coisa ocorre quando é hora de retornar para a cadeira do “cinema”,


ou seja, peço para abrir os olhos e sentar-se novamente. Somente então, induzo mais
uma vez o fechamento dos olhos e a continuidade do exercício.

Definir espaços psicográficos ajuda muito na definição das posturas de


associação e dissociação, o que torna a experiência mais real para seu filho.

PONTE PARA O FUTURO

Estou tomando emprestada essa expressão das técnicas que usamos na


programação neurolinguística.

Fazer a ponte para o futuro consiste basicamente em imaginar uma experiência


no futuro, após termos feito as técnicas imaginativas de recontextualização e
ressignificação.

O intuito é que nosso filho se veja em uma experiência futura que


anteriormente o levaria a apresentar os padrões de comportamento indesejável,
contudo não os apresentando mais.

Faço uma observação que também podemos usar uma técnica imaginativa no
futuro.

É o que chamamos de Visualização Criativa, veremos a seguir.

VISUALIZAÇÃO CRIATIVA

Imaginar uma ocorrência futura onde estamos de posse dos recursos e


comportamentos desejáveis é um excelente potencializador.

Quando criamos uma visualização futura acionamos os mecanismos e rotas


neurais da motivação, o que nos gera uma boa dose de energia psíquica que pode ser
aplicada prontamente para superação de bloqueios e aquisição de novos padrões
comportamentais.

A Visualização Criativa, além de ser motivadora, se feita corretamente ajuda no


planejamento e aprimoramento de estratégias.

AS ÂNCORAS

Chegamos agora ao último potencializador que separei para você, mas sem
dúvida trata-se de um dos mais importantes.

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Tão importante que decidi dedicar atenção especial a elas.

Além de serem potencializadores poderosos, as âncoras também podem ser


criadas a partir de um estado interior alcançado através dos exercícios de imaginação.

Por essa complexidade, reservei a próxima etapa para falarmos sobre essas
grandes aliadas.

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As Âncoras

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As Âncoras
Já navegamos pela psique, conhecemos as ondas e agora vamos falar de
âncoras. Você vai acabar achando que somos praticamente marinheiros.

Perdoe-me a brincadeira e as analogias. Elas são boas para descontrairmos um


pouco mais.

Vamos falar das âncoras, provavelmente não no sentido inicial que você pode
ter pensado. Não falaremos de nada que vai atrapalhar ou fixa-lo no lugar onde está
impedindo que caminhe adiante.

Muito pelo contrário, as âncoras aqui têm o papel de ajuda-lo e facilitar sua
caminhada. Quando ouvimos a palavra “âncora”, é comum imaginarmos algo pesado,
que nos afunda e nos impede de seguir.

Antes de falarmos mais detalhadamente sobre como elas podem nos ajudar,
precisamos passar rapidamente pelo território científico que comprova e embasa tudo
que vamos tratar nessa etapa.

Quero apresentar a você Ivan P. Pavlov, um fisiologista russo premiado com o


prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, no ano de 1.904.

Ele é conhecido principalmente pelo seu trabalho no condicionamento clássico.

Pavlov conseguiu provar em suas pesquisas com animais que é possível


condicionarmos alterações comportamentais a partir das informações captadas pelos
canais ligados ao sistema de senso-percepção.

Podemos citar um dos estudos que realizou com cães. Pavlov sempre que ia
servir a comida tocava um sino, e desta forma, após algum tempo realizando essa
rotina, conseguiu condicionar os cães a salivarem abundantemente quando eles
ouviam as badaladas do sino mesmo sem haver qualquer alimento por perto.

Basicamente, o que nos interessa nessa descoberta de Pavlov, é a correlação


entre um estímulo incondicionado (comida) e a reação incondicionada (salivação).

Nesta etapa teremos a oportunidade de entender como podemos utilizar esses


condicionamentos ao nosso favor.

Uma definição clara que gosto de usar para âncora, seria: “qualquer estímulo
interno ou externo que seja capaz de produzir um determinado estado interno”.

Sabe aquele cheiro do bolo da vovó, ou do prato predileto que sua mãe fazia
aos domingos, ou até o cheiro do café quando estamos prontos para enfrentar nosso
dia?

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Estou certo que nesse momento sentiu algo diferente só de lembrar-se de algum
desses itens que citei.

Em nossas vidas estamos cercados por essas âncoras que alteram nosso estado
interior a todo momento, seja nos fortalecendo ou nos enfraquecendo.

Ao final do que veremos nessa etapa, você perceberá claramente que muitos
dos bloqueios que todos nós possuímos, estão diretamente ligados a âncoras dos mais
diversos tipos.

Disse “tipos”, você leu bem.

Podemos segmentar as âncoras de acordo com o tipo de canal de percepção


vinculado. Saber disso pode ajudá-lo quando for a hora de criar as âncoras em seu
filho.

ÂNCORAS VISUAIS

São os estímulos captados pelo nossa visão capazes de mudar nosso estado
interior.

A bandeira da pátria, por exemplo. Pessoas patriotas quando veem a bandeira


de seu país, podem sentir orgulho, segurança, proteção, etc. Veja que, objetivamente,
trata-se apenas de um pedaço de pano colorido, mas é capaz de trazer à tona um
conjunto complexo de sensações e sentimentos.

São as âncoras das logomarcas.

Se você usar sempre aquela camisa amarela quando levar seu filho para passear
no parque, possivelmente ver uma camisa amarela em um professor pode deixa-lo
mais descontraído e feliz.

Você pode usar as âncoras visuais ao seu favor das mais variadas formas.
Imagine que seu filho goste de ficar muito tempo no quarto dele.

Isso deve ocorrer porque ele entende esse local como seguro e protetor. Se a
parede do quarto for branca, você pode usar uma blusa dessa cor como mais um fator
facilitador quando quiser desenvolver alguma técnica que precise deixa-lo mais
seguro.

O inverso também acontece. Saber que tipo de cores ou locais são preferidos ou
detestados pelo seu filho, pode tornar tudo mais tranquilo ou confuso quando quiser
transmitir alguma nova informação.

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Interessante o que vou dizer, mas às vezes, vestir peças de roupas da mesma
cor que seu filho pode ajudar até na conquista mais rápida do Rapport.

ÂNCORAS AUDITIVAS

São os estímulos que são recebidos pelos nossos ouvidos e que alteram nosso
estado interior.

Podemos citar o nosso nome como uma âncora auditiva.

Na maioria das vezes nos sentimos bem quando alguém diz nosso nome.

Ou ainda, aquela música do casal que tocou no primeiro encontro.

As músicas são poderosas para alterar nosso estado interior, especialmente


quando estão vinculadas a experiências anteriores com grande intensidade psíquica.

Colocar para tocar a música do filme, do jogo ou do desenho que ele mais gosta,
seria uma amostra de facilitador quando quiser a atenção de seu filho.

As músicas também são excelentes facilitadores de conquistar um bom Rapport


com qualquer pessoa.

Lembro-me de uma experiência algum tempo atrás quando fizemos uma


divertida viagem com nossos filhos, e só tínhamos no carro as músicas de um artista
que nem gostávamos tanto assim.

Acredite, hoje quando minha filha mais velha ouve alguma daquelas músicas
que tocaram exaustivamente em nossa viagem, ela fica muito feliz e lembra-se da
viagem.

Um dia desses percebi que ela estava um pouco desanimada. Sem que ela
percebesse, coloquei algumas músicas daquele cantor para ficar tocando em meu
notebook.

A mudança de humor dela foi impressionante naquele momento e isso mostra


que o poder das âncoras auditivas não pode ser desprezado.

Isso explica parcialmente porque sugeri em algumas técnicas de comando que


você falasse alto e mais grave. Quanto maior for a quantidade de vezes onde utilizar
um determinado padrão de sua voz para realizar comandos, maiores serão as reações
ancoradas em seu filho quando usar esse mesmo padrão.

ÂNCORAS CINESTÉSICAS

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Essas são as âncoras vinculadas ao toque.

Se quando você era criança, sempre era beliscado por sua mãe em uma
determinada área do corpo quando fazia algo de errado, é comum que se sinta muito
incomodado quando receber um toque mais firme na mesma área.

Quando você conseguia boas notas nas provas e seu pai dava alguns “tapinhas”
em seu ombro com sinal de satisfação, quando alguém fizer a mesma coisa em seu
ombro, você sentirá uma sensação boa de reconhecimento.

Tratando-se da relação entre pais e filhos, as âncoras cinestésicas são


particularmente especiais.

Afinal de contas, é a âncora da demonstração do afeto e do carinho. Geralmente


a que mais está relacionada ao amor materno.

Não vamos nos esquecer de que a relação humana é demasiadamente ligada ao


toque desde o nosso nascimento.

O colo, o beijo, o abraço, o carinho na face e no corpo, enfim, é o que os bebês


mais costumam receber. Quanto mais perto de nossa origem, ou seja, de nosso
nascimento, maior é a intensidade psíquica que as experiências podem imprimir em
nossas mentes.

Foge um pouco da essência dessa etapa, mas aqui vai um “toque”:

“Não economize no carinho, beijos, abraços, aconchego e na ternura com seus filhos.
Quanto mais cedo melhor. Estudos já conseguem mostrar respostas fisiológicas até
mesmo quando o bebê ainda está na barriga. Não há dúvidas que todo esse afeto
demonstrado pode ajudar muito seu filho a se sentir um ser mais amado, seguro e feliz.
Trata-se de uma forma excelente de criarmos rotas neurais positivas e poderosas já no
inicio de existência dos nossos pequenos.”

Atualmente, as âncoras cinestésicas têm estado em alta, na moda.

Muitos políticos, executivos e esportistas têm as utilizado com muita frequência


nas suas rotinas no intuito de alterar seus estados interiores diante de necessidades
específicas como falar em público e competições.

ÂNCORAS OLFATIVAS E GUSTATIVAS

Alguns costumam separar as âncoras olfativas e gustativas, mas achei melhor


deixarmos elas juntas para o propósito que queremos.

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O paladar, na verdade, está interligado ao olfato, sendo praticamente um canal


perceptivo do mesmo.

A maioria de nós não dá muita atenção ao que o cheiro pode causar de reações
em nosso sistema biológico como um todo.

Em nossos narizes possuímos milhões de neurônios que fazem uma ponte


direta ao cérebro.

Recorda-se que nossos cérebros mais primitivos (reptiliano e o límbico) são


muito mais rápidos que nossa capacidade de processamento racional?

Tratando-se de estado interior, o olfato talvez seja o mais poderoso.

Alguns odores estão ligados à nossa herança genética como espécie. É o caso
dos cheiros de putrefação que nos repele o consumo de comida estragada por
segurança biológica.

Além disso, outras substâncias como os feromônios estão vinculadas ao olfato e


envolvem-se às necessidades de perpetuação da espécie.

Enfim, as âncoras olfativas e gustativas são muito poderosas.

Como dissemos um pouco antes, o cheiro do bolo da vovó, entre tantos outros
que fizeram parte de nossas experiências especiais, podem nos levar prontamente a um
estado interior diferente.

Isso já não é mais segredo nos dias de hoje. Temos técnicas terapêuticas como a
aromaterapia e até um novo tipo de ferramenta coorporativa, o marketing olfativo.

No entanto, vamos nos focar no que esses cheiros e sabores podem nos ajudar, e
esse é um caminho muito pessoal.

O cheiro de algo pode ser extremamente potencializador para uns, e para


outros, muito enfraquecedor.

Aqui em casa costumamos utilizar a essência de lavanda nas roupas de cama


que utilizamos. O momento onde dormimos é a parte de nosso dia onde alcançamos,
ou pelo menos devemos alcançar, o estado de relaxamento mais profundo.

Quando percebemos que um de nossos filhos está em um momento mais


ansioso ou agitado, ou terão algum teste na escola, costumamos pingar a essência de
lavanda na gola de suas camisas.

É uma estratégia para que seja alcançado um estado interior mais relaxado e
calmo, como o que experimentamos durante nosso sono.

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Quando um de nossos filhos está adoentado e sem apetite, minha esposa


costuma preparar seus pratos prediletos para que o apetite seja induzido.

Esses são apenas alguns exemplos, e como já disse, é absolutamente


personalizável. Se nas roupas de cama você utilizar uma essência de laranja, é claro
que é essa a essência que deve utilizar para tentar o estado interior de relaxamento.

Em alguns momentos nos deparamos com receitas prontas que confesso ficar
um tanto desapontado. Nem sempre os aromas que são apresentados como antídotos
para um determinado estado indesejado produzirão o efeito desejado.

Aqui entramos um pouco na psicanálise. Imagine você que se a lavanda era o


perfume utilizado por uma madrasta que violentava seu enteado, a essência da
lavanda não é recomendado.

Isso porque a quantidade de energia psíquica envolvida associada ao cheiro da


lavanda, nesse caso, é muito grande. Fatalmente o cheiro de lavanda não trará boas
sensações a esse enteado fictício.

Para encerrar esse trecho a respeito das âncoras olfativas-gustativas, quero


contar um caso que atendi certa vez. Foi o caso de um rapaz que sentia fortes enjoos, a
ponto de regurgitar, quando sentia o cheiro de gasolina.

Após alguns atendimentos e através de técnicas de regressão hipnótica,


chegamos a uma experiência onde o rapaz se recordou de ter ingerido um pouco de
gasolina quando era muito pequeno e a senhora que trabalhava em sua casa, em
desespero, o forçou a vomitar.

Foi uma experiência intensa onde ele foi levado ao hospital e passou por um
procedimento de lavagem estomacal.

Toda essa experiência ruim ancorou neste rapaz um estado interior muito ruim
de enjoo e regurgitação quando sentia o odor de gasolina.

Apesar de ter sido ingerida, mencionamos apenas a ancoragem olfativa nesse


caso, porque obviamente a ingestão de gasolina não é algo que ocorreria se não fosse
por acidente e, portanto, dispensamos comentários sobre a ancoragem gustativa.

Quando falamos de ancoragens gustativas, associamo-las a sabores dos mais


diversos, não nos restringindo apenas às modalidades do paladar como: doce, salgado,
amargo ou azedo.

Tempos atrás minha filha me ofereceu uma bala que eu adorava em minha
infância. Claro que o seu sabor me trouxe uma excelente sensação, e isso não ocorre
com qualquer doce, percebe?

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Acho que cumprimos nosso papel quanto à explicação a respeito de como as


âncoras olfativas-gustativas podem impactar nosso dia a dia. Cabe-nos usar agora mais
esse conhecimento para ajudarmos nossos filhos.

INSTALANDO UMA ÂNCORA

Como você pode ter percebido, os tipos de âncoras estão diretamente


relacionados com os sistemas representacionais.

A diferença com relação aos sistemas representacionais que utilizamos na etapa


de escaneamento de nossos filhos, é que em se tratando de âncoras, achei relevante
subdividir a cinestesia em toque, cheiro e gosto, ao invés de ficarem agrupadas.

Com um pouco de dedicação, as possibilidades para utilizarmos as âncoras são


incontáveis.

Outra informação importante que quero dividir com você é que, como as
âncoras são processos neuroassociativos, podem ao mesmo tempo estarem
correlacionadas em mais de um tipo.

Por exemplo, abraçar sua mãe que costuma utilizar um determinado perfume,
embaraça um pouco mais as nossas rotas neurais e podemos dizer que tanto o abraço
de nossa mãe quanto o seu perfume estão potencializados um no outro.

Assim como a cor e modelo daquele carro de tantas viagens divertidas, onde
seu pai costumava usar uma determinada essência, transformaram a cor, o modelo e o
cheiro em âncoras visual e olfativa.

Mais adiante falaremos sobre o empilhamento de âncoras e isso ficará mais


claro.

Agora eu quero ensinar você como instalar uma âncora em seu filho
intencionalmente.

Como já falamos sobre as formas indiretas de ancoragem quando apresentamos


os tipos de âncoras, nesta técnica de instalação de âncoras que vou ensinar a seguir,
vamos usar basicamente a receita das técnicas imaginativas, mas daremos maior
destaque, e buscaremos potencializar as sensações e recursos que nos interessam no
momento da instalação.

Assim como a âncora pode ser usada para potencializar as recontextualizações e


ressignificações das técnicas imaginativas, o inverso também ocorre, isto é, podemos
utilizar a imaginação para criar âncoras.

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Isso atesta um pouco a complexidade envolvida em um potencializador que


tem “vida própria”, e justifica darmos atenção especial a essa ferramenta.

Segue abaixo uma receita sugerida para instalação de uma âncora em seu filho:

1- Acomode seu filho de forma confortável


2- Diga a ele para tomar algumas respirações longas e profundas
3- Peça agora que ele se recorde de uma experiência onde sentiu o recurso que
desejamos ancorar. Se ele não se recordar peça que “imagine, faça de conta” que está
vivenciando uma experiência onde está com o recurso desejado. No caso de crianças,
pode ocorrer que não consigam imaginar exatamente o recurso que precisamos, e
neste caso, você pode fazer uso de personagens e recursos de heróis ou amigos que
tenham o recurso desejado. Por exemplo, se estiver tentando instalar “otimismo ou
bom humor”, você pode pedir que seu filho imagine que está atuando como o “Bob
Esponja”.
4- Nesse passo precisamos contar com um pouco mais de habilidade. Lembra-se dos
MRCIs e das expressões faciais? São importantes porque o ideal é que você consiga
identificar o “pico” de maior intensidade na imaginação para realizar a ancoragem.
5- Quando identificar esse momento “pico”, utilize submodalidades através de
comandos que potencializem os recursos da imaginação, por exemplo: “Isso, agora a
imagem está maior, mais colorida, você está ficando maior, todos à sua volta
parecem estar diminuindo de tamanho, sua voz está potente, etc...”. Esse seria um
exemplo caso estivéssemos tentando instalar um recurso de segurança ou coragem.
6- Agora é o momento da ancoragem. Escolha um dos pontos do corpo de seu filho e
pressione por cerca de 3 a 5 segundos. Tenha o cuidado de escolher um local fácil
onde seu filho consiga reproduzir depois, pode ser pulso, dedos, orelhas, pintas, etc.
É importante dizer que quanto mais precisa for a reprodução, melhor será o
resultado. Outro detalhe, antes de aplicar essa técnica, é sugerido que você explique
todos os passos ao seu filho. Assim ele não vai se assustar quando você tocá-lo no
momento mais intenso da imaginação.
7- Depois peça para abrir os olhos. Pergunte duas ou três coisas sobre qualquer tema
para quebrar o estado interior do exercício. Peça para que seu filho reproduza o
toque no mesmo lugar e pelo mesmo tempo, quanto mais preciso melhor. Confirme
se o recurso está instalado. Caso o recurso não tenha sido instalado, você pode
repetir quantas vezes for necessário, inclusive usando imaginações diferentes.

Nessa receita, utilizamos apenas o “toque”, assim estaríamos falando de uma


âncora cinestésica.

Mas como sempre venho dizendo, não se limite. Já fiz instalações de âncoras
potentes, quando encontrei o momento “pico”, além do toque utilizei o olfato e o
paladar.

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Como?

Simples, quando identifiquei o momento “pico”, pedi que a boca fosse aberta e
coloquei uma bala. Logo na sequência, pedi que uma essência fosse cheirada.

Tudo isso de olhos fechados e mantendo o estado interior desejado. Isso é muito
rápido, e creio que você não levará mais de 10 segundos em todo o processo final.

É sempre gratificante conhecer seu filho. Usar a bala que ele mais gosta, e uma
essência que seja agradável, criará ainda mais rotas neurais no momento da instalação
da âncora, o que vai deixa-la mais potente.

E não é só isso, tudo que utilizou no processo de instalação, também surtirá


efeito se utilizados isoladamente, ou seja, quando seu filho chupar aquela mesma bala
fatalmente sentirá a presença do recurso desejado.

Objetos também podem ser usados para ancoragem. São os amuletos da


“sorte”, por exemplo. Em crianças são muito úteis, fica aqui a dica.

Vamos lembrar que uma âncora é um processo neuroassociativo, então, o ideal


é que seu filho consiga acionar a âncora com precisão para que seu cérebro reconheça o
mesmo conjunto de rotas.

Nesta etapa estou subentendendo que você já está “craque” e sabe que sempre
terá mais êxito se estabelecer sintonia, se utilizar uma linguagem calma e suave, se
utilizar comandos alinhados com o sistema representacional, e se seu filho estiver
confortável e relaxado para trabalharmos ao menos nas ondas Alfa.

Mas é preciso entender um pouco mais as âncoras para não se iludir


acreditando que ela é a solução para tudo. Existem cuidados que precisam ser
observados.

Em linhas gerais, temos duas variáveis enfraquecedoras importantes que


preciso que tenha em mente sempre que trabalhar com âncoras.

Uma é a “Ferrugem” e a outra é a “Sobreposição”.

Deixe-me explicar melhor.

Ferrugem: a âncora que não é usada enferruja. Isso mesmo, se você instalar uma
âncora, mas seu filho não usá-la, muito provavelmente perderá potência e talvez não
cause o efeito desejado quando quiser utilizar.

Sobreposição: essa é a que ocorrerá se seu filho acionar sua âncora sempre que
estiver em um mesmo estado indesejado. Para ilustrar essa variável vou contar a você
um caso rápido que ocorreu nos Estados Unidos.

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Uma empresa americana que realiza transportes através de caminhões, começou a


perceber um aumento significativo de acidentes com seus motoristas. Em análise
perceberam que a causa era a distração e o cansaço. Dirigir em estradas tem de fato um
efeito hipnotizador. Assim, contrataram uma renomada empresa da área de programação
neurolinguística para instalação de âncoras de “alerta”. Os motoristas passaram pelas
técnicas de instalação desse tipo de âncora. Basicamente, quando o motorista sentia-se
distraído e cansado, deveria apertar fortemente o volante com sua mão direita. No início,
a técnica surtiu resultados impressionantemente positivos, contudo depois de duas
semanas os índices de acidentes cresceram, e se tornaram ainda maior do que eram antes
do treinamento. Isso ocorreu porque depois de muitos dias acionando a âncora quando
estavam em estado sonolento, os cérebros dos motoristas sobrepuseram o estado interior
que foi instalado inicialmente quando apertavam suas mãos no volante. Para o cérebro
vale sempre as experiências com maior rotina e intensidade.

Tanto a “ferrugem” quanto a “sobreposição” ocorrem porque as âncoras estão


relacionadas ao nível mais baixo da pirâmide de níveis neurológicos.

É o nível de ambiente (Quando e Onde). Portanto, elas são ferramentas eficazes


quando quiser auxiliar seu filho em situações que estejam vinculadas a esse nível.

Espero que não tenha se esquecido das pirâmides. Elas são fundamentais e
nunca devem ser desconsideradas em nossas estratégias de formação integral dos
pequenos.

Então, esteja ciente que é preciso repetir a técnica eventualmente, ou ao menos


reforçá-la, quando seu filho souber que vai vivenciar algo onde quer fazer uso do
recurso ancorado.

Como falamos de enfraquecedores, também temos que falar de algo que


fortaleça.

Positivo. Também temos opção de fortalecermos uma âncora, além da repetição


da técnica que ofereci na pequena receita mais acima.

Quero sugerir uma forma poderosa de fortalecer suas âncoras.

Eu costumo chamar esse fortalecimento de “fixação”.

A “fixação” é simples. Basta que você acione a âncora precisamente quando


estiver vivenciando o estado interior desejado em qualquer cenário.

Para deixar mais claro, tenho que dizer a você que tenho uma âncora de alegria.
Toda vez que estou vivendo um momento bem alegre eu aciono essa âncora.

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Sempre que faço isso, estou comunicando ao meu cérebro que o gesto que faço
está diretamente ligado ao estado interior de alegria. Sabe quando um jogador de
futebol dá um soco no ar sempre que marca um gol? Ele está fixando uma ancoragem,
tornando sua âncora cada vez mais potente.

Agora que já estamos mais familiarizados com essa ferramenta, podemos falar
do “empilhamento” de âncoras.

O nome já diz tudo, você pode colocar mais de um recurso em uma mesma
ancoragem.

Como podemos fazer esse empilhamento em nossos filhos?

Basta aplicar a receita sugerida, e após ter instalado uma âncora, refaça a técnica
buscando um “outro” recurso ou estado interior que deseja instalar na “mesma”
âncora.

Se você instalou o primeiro recurso na parte inferior da orelha direita de seu


filho, fará a instalação do novo recurso exatamente no mesmo local.

Perceba que os recursos fortalecedores não são contraditórios ou concorrentes


entre si. Por isso podemos “empilhar”.

Abaixo estou fornecendo um pequeno quadro com alguns recursos que você
pode ancorar em seu filho. Existem mais, fique à vontade para utiliza-los ao favor de
seu filho.

Podemos encarar as âncoras como antídotos ou simplesmente para


fortalecimento.

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Utilize-a como antídoto quando estiver em um estado interior indesejado e


queira que ele perca intensidade, ou desapareça. Nesse caso você precisa utilizar uma
âncora que seja o “oposto” do estado interior que deseja superar.

Tratando-se de antídoto, por exemplo, você pode acionar uma âncora de


coragem se estiver sentido medo, ou uma de calma se estiver com raiva. Se o estado
interior indesejado vai reduzir sua intensidade ou desaparecer por completo vai
depender da intensidade da experiência e da potência existente na âncora instalada.

Usar as âncoras para fortalecimento significa que está utilizando as mesmas


para fazer uso de um recurso que ache necessário no momento que está vivendo, sem
que haja o estado interior indesejado oposto a ser superado.

Suponha que vai disputar uma competição e então queira um pouco de


agressividade para potencializar seu desempenho, acionará a âncora correspondente
independente do estado interior antes de dispará-la.

Ah, e antes que eu me esqueça.

Como já falamos, as âncoras podem ser utilizadas nas técnicas imaginativas de


recontextualização e ressignificação. Basta acionar a âncora instalada com o recurso desejado
quando estiver recontextualizando ou ressignificando uma determinada experiência.

Desta forma fechamos esse processo de simbiose existente entre as técnicas


imaginativas e as âncoras.

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Usando as
afirmações

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Usando as afirmações
As afirmações funcionam como uma espécie de autoconvencimento.

Ouvimos muito a respeito em treinamentos de desenvolvimento pessoal pelo


mundo a fora.

Mas existem algumas formas de tornar as afirmações realmente eficazes


seguindo o que a neurociência de fato consegue atestar.

Em nosso cérebro temos uma área chamada Reticular Activating System (RAS).

Essa área está diretamente ligada ao nosso sistema de atenção e é onde também
acontecem processos de agrupamento das informações que entram em nossos cérebros.

É como se fosse um portal de travessia onde todas as informações (com exceção


às captadas pelo sistema olfativo) precisam atravessar para seguir sua rota.

Nossa mente inconsciente é capaz de absorver 40 milhões de bits de informação


por segundo, e somente percebemos de 5 a 9 bits por segundo após um processo
cerebral de filtragem.

Como falamos na etapa onde detalhamos um pouco mais nosso mundo


consciente e inconsciente, tudo que vivemos é registrado por nosso “computador”
cerebral.

Mas somente esses 5 a 9 bits por segundo acabam permeando nossa


consciência, ou melhor, nosso mundo perceptivo, analítico e lógico.

E o que isso tem a ver com as afirmações?

O Reticular Activating System (RAS) está relacionado com o processo que


permite que as palavras, ou melhor, as informações que repetimos ao longo do tempo,
sejam associadas à nossa identidade e padrões de comportamento.

Cada vez que fazemos uma afirmação, seja da forma que for, estamos
atravessando esse portal, e desta maneira estamos plantando “sementes” em nosso
cérebro.

A teoria é que quanto mais sementes nós plantamos, mais espaço em nossa
“fazenda cerebral” estará ocupado pelo resultado dessas sementes, invadindo os
“campos” da nossa consciência.

Mas calma, não ache que a melhor forma é simplesmente repetir frases com o
que deseja mudar.

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Nossas mentes e cérebros são muito complexos e envolvem muitas variáveis.

Baseado nessas variáveis, formulamos para você um conjunto de regras e dicas


sugeridas para que possa fazer uso das afirmações e potencializar seus resultados.

UTILIZE AFIRMAÇÕES DA FORMA MAIS ESPECÍFICA POSSÍVEL

É muito comum encontrarmos materiais direcionados à autoafirmação que


dirão a você que deve dizer a si mesmo frases como essa: “Você é seguro!”, “Você é
demais!”, “Você é bom!”, e por aí vai.

Apesar do foco de nossa proposta ser ajudar crianças e adolescentes, afirmações


como essas são um tanto infantis e por conta disso são facilmente abandonadas.

O primeiro passo para potencializar suas afirmações é que as elabore da forma


mais precisa possível.

Como exemplo, se você deseja que seu filho seja menos tímido na sala de aula,
crie afirmações como essa: “Estou me tornando cada vez mais descontraído quando
estou na sala de aula”, ou “Estou me tornando cada vez mais comunicativo quando
estou na sala de aula”.

Ser específico facilita muito ao seu cérebro que não precisará adicionar
estratégias de análise de quando exatamente tal recurso precisa ser usado.

PROCURE UTILIZAR SEMPRE VERBOS NO GERÚNDIO

Perceba que no exemplo que usamos na dica acima, colocamos o verbo no


“gerúndio”, isto é, ao invés de utilizar “sou”, usamos “me tornando cada vez mais”.

Não estamos falando apenas do cérebro, mas também da mente.

Possuímos um sistema poderoso de análise, julgamento e autocrítica.

Se você disser: “Sou muito comunicativo na sala de aula”, sua mente não vai
aceitar essa ideia e retrucará: “Não, eu não sou... se eu fosse comunicativo não estaria
usando essa afirmação para me tornar”.

Consegue perceber?

Então, sempre utilize verbos no gerúndio, trata-se de um processo.

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ALINHE AS AFIRMAÇÕES COM OS NÍVEIS NEUROLÓGICOS

Ainda seguindo o mesmo exemplo da afirmação que já demos, perceba que


quando fomos específicos direcionei a afirmação para um local ou período definido,
assim, alinhei a afirmação ao nível neurológico de ambiente.

É o nível onde as afirmações costumam funcionar mais rapidamente, nossas


mentes terão pouco trabalho para escolher o padrão quando damos o alvo.

Dizer que já “somos” ou “estamos” algo envolve muitas análises sobre o que ou
qual é de fato nossa identidade ou missão.

Se quiser utilizar afirmações mais poderosas alinhadas aos níveis mais elevados
da pirâmide de níveis neurológicos, procure utilizar por exemplo: “Eu estou me
tornando um excelente filho”.

Mencionei “filho” apenas como modelo, quis deixar claro que filho está mais
ligado à nossa identidade do que uma habilidade, entende?

No caso da afirmação exemplo, “comunicativo” ou “seguro”, estão mais ligados


ao nível de comportamento ou talvez capacidade.

Tente recordar dos casos que já vimos na etapa das pirâmides. Ninguém é
“ansioso” 100% de seu tempo, isto é, ficamos ansiosos diante de determinado contexto.

Aproveitando o ensejo, se seu filho estiver vivendo estados ansiosos,


identifique o mais especificadamente possível, diante de que pensamentos e
experiências ele tem o estado interior de ansiedade.

Uma afirmação como: “Estou me tornando cada vez mais calmo quando estou
em época de provas”, ajudaria muito mais que “Eu sou calmo”.

NUNCA USE O QUE NÃO QUER, USE OPOSTOS

Nesta altura você tem cristalino em sua mente que somos o conjunto de
opostos.

Sabemos o que é ser bom, porque conhecemos o mal, ou pelo menos


deveríamos conhecer, dentro de nós.

O equilíbrio psíquico como já falamos nas etapas iniciais é alcançado diante da


integração dos opostos que residem em nós. Não se “faz de conta” que não tem inveja,
egoísmo, vaidade, ciúmes e orgulho.

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O caminho é a identificação, acolhimento e controle dessas características


consideradas ruins, potencializando seus pares positivos.

Para reduzir a intensidade do egoísmo dentro de nós, precisamos ativar e


potencializar o altruísmo. No caso do orgulho, a humildade, e daí por diante.

É nessa linha que desejo ancorar esta dica.

Nunca utilize o que você “não quer”. Estabeleça afirmações que possuam o que
você “quer”.

O “não”, na verdade, não existe para o nosso inconsciente. Se você disser que
“não quer ficar ansioso”, é como se estivesse dizendo que “quer ficar ansioso”.

Nosso mundo inconsciente não é lógico e analítico, é simbólico.

Desta forma, para compor suas afirmações sempre utilize o que você deseja
através do oposto do indesejado.

Ainda fazendo uso do exemplo inicial, perceba que não utilizamos a


característica indesejada “timidez” na afirmação. Se tivéssemos utilizado: “Não quero
mais ser tímido quando estiver na sala de aula”, na verdade o recado que estaríamos
enviando ao nosso mundo mais profundo é que a timidez faz parte do ambiente
escolar.

Se desejar que seu filho fique menos nervoso quando estiver em contato com
seus irmãos, utilize por exemplo: “Estou me tornando cada vez mais calmo quando
estou com meus irmãos”, ou “Eu quero ficar calmo quando estou com meus irmãos”.

Obviamente, você não deveria utilizar: “Eu NÃO quero mais ficar nervoso
quando estiver com meus irmãos”, e sim: “Eu quero ficar mais CALMO quando estiver
com meus irmãos”.

Como o próprio nome já diz, estamos falando de “afirmação” e não de


“negação”.

EVITE FAZER USO DE MAIS DE DUAS AFIRMAÇÕES POR VEZ

Isso mesmo, às vezes, somos tentados a fazer afirmações para tudo que
queremos melhorar.

Fazer uma lista enorme vai tornar o processo muito cansativo e fatalmente será
abandonado rapidamente pelo seu filho.

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Minha sugestão é que use no máximo duas características por afirmação, e que
evite fazer uso de mais de duas afirmações distintas.

Por exemplo: “Estou me tornando cada vez mais feliz e calmo quando preciso ir
à escola”.

REPITA O MÁXIMO QUE PUDER (10X)

Para que tenha uma boa fixação, sugiro que faça sequencialmente ao menos 10
repetições da mesma sentença afirmativa.

A repetição é uma das ferramentas que sugere ao nosso cérebro que algum
conteúdo deve ser retido e acessível à nossa consciência.

DEVEMOS ESTAR ASSOCIADOS

Conforme tratamos na etapa a respeito das técnicas imaginativas, tínhamos lá a


estratégia “associada” e “dissociada”.

Quando uma afirmação é feita, estarmos associados e focados no momento da


afirmação tem relevância.

Se quero me tornar mais calmo, é importante que eu esteja calmo quando estou
fazendo as afirmações.

É preciso que busquemos sentir o que estamos afirmando.

TEATRALIZAÇÃO

Na verdade isso não serve apenas para potencializar as afirmações.

Serve para aprimorar e melhorar qualquer recurso que queira utilizar.

Quando teatralizamos estamos utilizando um sistema ritualístico em nossas


mentes.

É basicamente um treino, uma preparação para o jogo. Quanto mais treinamos,


mais preparados estaremos para o momento onde temos que utilizar os recursos
desejados.

Trata-se de uma técnica já bem difundida nas terapias comportamentais e será


de grande ajuda se utilizá-la tanto para potencializar suas afirmações como para ajustar
qualquer padrão comportamental.

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Para teatralizar uma afirmação, imagine e ritualize fisicamente a experiência


que vai viver.

Se seu filho vai apresentar um seminário e está muito ansioso por isso, fazer a
afirmação e segui-la de uma teatralização, ou seja, “fazer de conta” que está
apresentando o seminário, trará resultados excelentes.

HEMISFÉRIOS SIMULTÂNEOS – CRUZAMENTO CORPORAL

Falando um pouco mais sobre neurociência, existem indicadores que nos levam
a crer que realizar as afirmações com as mãos e pernas cruzadas, automaticamente
ativam nossos dois hemisférios cerebrais, o que pode potencializar muito a assimilação
de um novo padrão comportamental.

Vamos lembrar que nosso hemisfério direito controla os movimentos do lado


esquerdo dos nossos corpos, assim como, o hemisfério esquerdo controla os
movimentos do lado direito.

Essa técnica também pode ser utilizada em situações onde deseja reduzir a
intensidade emocional de uma determinada experiência, seja em um processo de
recontextualização ou ressignificação.

Através dos aparelhos de ressonância e neuroimagens, temos fortes indícios


para atestar que as quantidades de rotas neurais têm papel muito significativo para
alterar nosso funcionamento cerebral, e assim padrões de ações e reações.

SONS BINAURAIS

Em linhas gerais, não é diferente do que dissemos no uso simultâneo dos


hemisférios cerebrais.

Mas como traz um conceito um tanto diferenciado, decidimos separa-lo nessas


dicas de potencialização.

Originalmente, os sons binaurais foram descobertos em 1839 pelo físico


Heinrich Wilhelm Dove.

Heinrich descobriu que quando os sinais de duas frequências diferentes são


ouvidos separadamente, uma em cada orelha, nossos cérebros detectam as variações e
diferenças entre elas.

Essa diferença é que chamamos de som binaural. Para ilustrar melhor, se uma
frequência de 100 Hz for direcionada à sua orelha esquerda e uma frequência de 108

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Hz for apresentada à sua orelha direita, seu cérebro “entenderá” uma terceira pulsação
de frequência a 8 Hz.

Quando conseguimos a sincronização dos nossos hemisférios cerebrais, nossos


cérebros mostram alterações extremamente benéficas no fluxo sanguíneo hemisférico e
na bioquímica.

Existe a tese de que podemos alcançar estados mais poderosos de concentração


focada ou relaxamento profundo enquanto estimulamos partes de nossos cérebros a
trabalharem em sincronização.

Assim como falamos na técnica de cruzamento corporal, você pode utilizar os


sons binaurais durante as afirmações, em qualquer técnica imaginativa ou situações
onde deseja reduzir a intensidade emocional de uma determinada experiência, seja em
um processo de recontextualização ou ressignificação.

Destaco que obviamente será mais fácil utilizar as ondas binaurais enquanto
fazemos as técnicas imaginativas sem condução, isto é, quando utilizamos fones de
ouvido será difícil conduzir seu filho.

Em alguns casos podemos fazer gravações sobrepostas, onde gravamos nossos


comandos por cima do áudio binaural. Se você tiver condições técnicas para fazer isso,
terá um grande aliado para ajudar seu filho.

Muitos psicólogos e hipnoterapeutas estão aos poucos integrando sons


binaurais e outros processos de ondas cerebrais no tratamento de seus pacientes.

CENA IDEAL IMAGINADA

Se durante as afirmações seu filho tiver uma cena ideal imaginada em mente,
sua eficácia será maior.

Quando formular as afirmações e for orientar seu filho sobre como deve utilizá-
las, elabore junto com ele uma imagem ideal onde ele está de posse dos recursos e
comportamentos desejados.

Pode até desenhar uma cena para ajudá-lo na orientação.

Mas aqui use a técnica de imaginação associada, crie uma foto mental e
potencialize utilizando submodalidades como tamanho, cor e brilho. Pode até ancorar
essa imagem em algum ponto do corpo, caso seu filho tenha dificuldades de se lembrar
da mesma.

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USAR ÂNCORAS

Perceba que na dica acima eu trouxe novamente a âncora para o jogo.

Você pode instalar âncoras com o recurso desejado e orientar seu filho que as
ative quando for realizar as repetições afirmativas.

Usar as âncoras vai potencializar também a associação de seu filho durante as


afirmações, além de enviar uma mensagem direta ao cérebro que aquele novo padrão é
importante e deve ser priorizado.

BÔNUS PARA AJUDAR NAS AFIRMAÇÕES

As afirmações costumam ser muito bem aceitas pelas crianças. Percebemos que
elas adoram repetir frases, perguntam várias vezes a mesma coisa ou até veem muitas
vezes o mesmo desenho animado, certo?

Você poderá utilizar todas as técnicas que já apresentamos, e algumas delas


possivelmente terão o mesmo conteúdo e objetivo. Mantenha o foco, lembre-se do
poder da repetição para fixação de padrões e informações.

Pode surgir uma dúvida a respeito de quanto tempo devemos fazer uso de uma
afirmação. Isso é muito relativo e pode variar de pessoa para pessoa.

Houve casos que fazer as afirmações apenas um dia antes do evento já trouxe
grandes resultados, mas isso é muito abstrato. Quanto mais alinhadas aos níveis
neurológicos superiores, maior é o tempo sugerido.

Em geral costumamos aconselhar ao menos 21 dias, segundo os estudos


relacionados ao “poder do hábito”, que veremos mais adiante, é um tempo médio
sugerido para que um hábito se instale.

O hábito está basicamente vinculado à base ambiental da pirâmide neurológica,


portanto, 21 dias é um período mínimo que sugerimos.

Mas não se prenda a isso, se você não tiver todos esses dias para uma
determinada situação, faça o que puder, nem que sejam horas ou até minutos antes de
alguma ocorrência que poderá deixar seu filho desconfortável.

A experiência nos mostra que se forem bem realizadas utilizando as dicas que
forneci, as afirmações podem mudar completamente um cenário emocional
independente do tempo praticado.

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Temos ainda como criar oportunidades para que nossos filhos se mantenham
em contato com as afirmações.

É possível escrevermos as afirmações e coloca-las em locais de acesso rotineiro


de nossos filhos, como espelho do banheiro, na mochila, mensagens nos aplicativos de
comunicação instantânea e daí por diante.

Certa vez coloquei uma mensagem impressa bem na capa do livro de uma
matéria que minha filha estava tendo dificuldades: “Você está se tornando cada vez
MAIS ATENTA nas aulas de história!”.

Perceba que utilizei letras maiúsculas e negritas no que eu quis que fosse mais
bem percebido pelo inconsciente dela. Já falamos sobre isso quando discutimos a
respeito da linguagem hipnótica.

Isso mostra que todas essas dicas fortalecedoras e potencializadoras não têm
restrições para serem utilizadas, e certamente você deverá utiliza-las sempre que achar
conveniente.

Quando estivermos falando de crianças muito novas, o uso de afirmações é um


pouco comprometido, mas não é excluído.

O que muda é que você poderá dizer-lhe através da linguagem hipnótica as


afirmações que deseja. Como a repetição é importante, sugiro que use a hipnopedia
que apresentei em etapa anterior.

Não se esqueça de que tudo está integrado e entrelaçado!

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O poder dos hábitos


na formação

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O poder dos hábitos na formação


“Uma jornada de mil milhas começa
com um simples passo.”
(Lao Tse)

A missão de criarmos os filhos é de fato uma longa jornada.

Nesta fase iremos tratar de uma variável importante que pode tanto nos ajudar
muito como também boicotar nossas melhores intenções no processo de formação dos
filhos.

O hábito pode ser definido como nossa maneira frequente de fazermos algo, de
agirmos, sentirmos e nos comportarmos nos ambientes que vivemos.

Mas por que reservamos atenção exclusiva para os hábitos?

Estudos descobriram que em média, 60% de nossas ações no dia são decisões e
40% são hábitos. Isso quer dizer que praticamente em metade de nosso dia, estamos
agindo no piloto automático.

Isso ocorre porque nosso cérebro é programado com um sistema de economia


de energia mental, deixando nossa consciência mais livre para focarmos nas demais
vivências.

Podemos citar a habilidade de dirigirmos um veículo como um exemplo


comum para definirmos claramente de que forma o “hábito” libera nossa atenção
consciente.

Perceba que quando dirigir se torna algo habitual, mesmo utilizando


praticamente todos nossos membros, além de checarmos os espelhos laterais e o
retrovisor central, podemos acompanhar a música que toca no rádio e ainda conversar
com as pessoas que estão conosco no interior do automóvel.

Não precisamos mais focar nossa atenção integral consciente ao ato de dirigir.
Isto ocorre porque a maior parte da energia envolvida em uma atividade habitual
provém de nosso inconsciente.

Isto dito, é maravilhoso saber que você tem a capacidade de programar ou


reprogramar seu cérebro para qualquer ação cognitiva que envolva o pensamento, a
linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio e o intelecto.

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Cientes ou não, podemos dizer que é através da repetição que adquirimos


novas formas de pensar, sentir e agir.

Quando algum comportamento se repete, nossos cérebros constroem vias de


comunicação (sinapses) mais rápidas, de forma que uma ação aciona a ação seguinte,
em um contexto quase automático.

Após o cérebro se considerar treinado o suficiente para uma determinada


atividade, é como se uma chave fosse acionada transferindo a origem de energia de
nossa mente consciente para nossa mente inconsciente.

Nesse processo de execução de um hábito, cerca de 95% das nossas ações são
comandadas pelo inconsciente. A esta altura você já sabe que estamos tratando de uma
parte psíquica análoga a um computador poderosíssimo carregado com uma base de
dados de comportamentos programados.

O tema é apaixonante e muitos autores, como Charles Duhhig, trouxeram


informações e teses interessantes sobre o mesmo, que não foram desconsiderados por
nós nos estudos de análise psíquica e neurológica dos hábitos.

Nossa ideia não é destruir conceitos anteriores, mas abrir o leque. Demonstrar
que existe mais atrás da formação e remoção de um hábito que a simples repetição.

Já vimos anteriormente, quando falamos das afirmações, que as repetições são


importantes sem dúvida quando tratamos de instalar um novo hábito ou padrão. Essas
ações repetidas de forma consistente e periódica acabam sendo identificadas como algo
importante quando atravessam muitas vezes nosso “portal” RAS (Reticular Activating
System).

Apesar de tentador, não podemos reduzir a eficácia de instalação de um hábito


simplesmente às repetições sem levarmos em conta uma série de fatores psíquicos
importantes como os níveis neurológicos e estudo de impacto que um novo hábito
desejado poderia gerar em outro hábito importante já instalado.

Que fique claro que o hábito não é a salvação para todos nossos problemas. Ele
tem suas limitações se não estiver bem fomentado e estruturado.

Apesar de podermos considerar o hábito como o primeiro passo para todos nós
que queremos nos tornar melhores pais e seres humanos, precisamos nos manter
firmes para não ceder à tentação de acreditar que apenas os hábitos sejam suficientes
para transformar o que desejamos.

Você poderia agir equivocadamente se quisesse implantar hábitos desejados


nas rotinas de seu filho e não levasse em conta tudo aquilo que já discutimos nessa

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

obra, como as partes psíquicas, nossos padrões herdados, as pirâmides (com destaque
para a dos níveis neurológicos) e nosso sistema de crenças.

Perceba como é comum tentarmos incluir um hábito, e mesmo depois de


bastante tempo perseverando, o hábito acaba simplesmente desaparecendo de nossas
rotinas.

Iniciamos dietas, pagamos mensalidades de academias, entre muitos outros


exemplos, que poderiam ilustrar bem como um hábito, mesmo repetido por um bom
período, acaba dissolvendo-se sem qualquer explicação aparente.

Disse “aparente”, porque na verdade existem explicações e elas variam de caso


para caso.

Instalar um hábito de alimentação saudável em uma pessoa que acaba de


perder seu pai em decorrência de um infarto terá muito mais intensidade psíquica
envolvida que em outra pessoa que não passou por qualquer experiência como essa.

Ou ainda, alguém que deseja perder o hábito de fumar por ter um caso de
doença recentemente ligado ao tabagismo.

O próprio tabagismo pode ser um bom exemplo de que em uma determinada


atividade, existem bem mais partes envolvidas do que imaginamos. O hábito de fumar
está associado, na grande maioria das vezes, com uma dependência química vinculada
à nicotina, fugas e bengalas psicológicas, e toda uma ancoragem de prazer que alguns
fumantes depositam ao fumo.

Muitas vezes os fumantes associam o tabaco ao cafezinho, aos momentos de


descontração e alegria. O tabaco acaba também por tornar-se uma âncora de prazer, o
que dificulta ainda mais a remoção desse hábito.

Falar de ancoragem ligada ao hábito nos abre uma janela para falarmos da
“gênese”, ou seja, de como um hábito padrão pode ser constituído.

Um hábito, em sua essência, possui um mapeamento resumido que envolve um


gatilho, uma rotina e uma ou mais recompensas.

O gatilho é aquilo que nos leva à prática do hábito, no caso do tabaco que
mencionamos, o café poderia ser um gatilho para o ato habitual de fumar.

A rotina é o que nós de fato fazemos, isto é, o ato de acender o cigarro, fumar,
tragar e despojar as cinzas. Essa é etapa do hábito que realmente desejamos inserir ou
remover.

O prêmio ou recompensa. É a fatalidade da ação, ou seja, o que realizar


determinada rotina nos traz de sensação ou conquista, por exemplo. Essa

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nomenclatura precisa ser alterada para “dano” ou “prejuízo”, quando sua intenção for
remover um hábito.

Então para facilitar, sempre que falarmos em algum hábito, recorde desses 3
integrantes essenciais. Como já mencionei existem mais coisas presentes em um hábito,
mas vamos falar delas sempre associadas, de alguma forma, a esse trio.

A partir daqui já começaremos a abrir nossos horizontes e vamos pontuar 6


regras para serem observadas sempre que pensar em instalar ou remover um novo
hábito:

1- O hábito está vinculado basicamente ao nível neurológico de ambiente, ou seja,


quando e onde. É o nível de menor intensidade dos níveis neurológicos. Isso explica
porque é equívoco adotarmos estratégias vinculadas apenas aos hábitos. Apesar disso,
podemos dizer que um hábito pode se tornar um facilitador para que outros níveis
neurológicos sejam acionados.

Geralmente um hábito positivo acaba agregando outros hábitos associados e


interligados. No caso de uma dieta, a recompensa de perder peso e sentir-se melhor lhe
dará mais energia, e então você pode ter muito mais facilidade para iniciar uma outra
atividade física habitual.

Hábitos como esses ligados ao bem estar e saúde, terão grande influência para que você
fortaleça “crenças” vinculadas à necessidade de cuidar de seu corpo.

Posso citar outro caso atendido por mim onde uma mulher conseguiu eliminar muito
peso através de uma reeducação alimentar, e então conseguimos “subir” para o nível
neurológico da “transcendência” porque começou a fazer palestras e ensinar para outras
pessoas como podiam eliminar peso através da alimentação saudável. Esse é um exemplo
excelente de como hábitos podem ser usados para vincularmos outras estratégias
neurológicas.

2- Um hábito nunca está só. Isso mesmo, podemos não perceber, mas muitas das coisas
que fazemos estão absolutamente relacionadas. É preciso sempre ter uma visão clara do
que a inclusão ou remoção de um hábito pode impactar em sua rotina prática.

Podemos usar esse mesmo exemplo da reeducação alimentar. A instalação de um hábito


como esse pode ser um fator de isolamento ou mudança de grupo de convivência.
Imagine que o programa predileto de seus amigos seja reunirem-se para
confraternizações repletas de guloseimas.

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Não é que você não consiga permanecer no mesmo grupo, mas precisa avaliar o impacto
que cada novo hábito trará ao seu mundo como um todo. Na PNL (Programação
Neurolinguística), costumamos chamar isso de verificação ecológica.

Ou então, remover um hábito como o de jogar futebol com seus amigos 3 vezes por
semana com o intuito de ficar mais tempo com a família em casa, poderá levar ao ganho
de peso e perda de saúde se uma outra atividade física não for inserida em sua rotina.

3- Quanto maior é a recompensa ou dano, mais fácil será para incluir ou remover
um hábito. Assim, quando desejamos incluir ou remover um hábito, não podemos
esquecer de potencializar ao Máximo a racionalização de todo bem e todo mal gerado por
ele.

Se o ato de fazer algo novo não lhe trouxer um bom benefício, será difícil você implantar
essa ação como um hábito. Às vezes direcionamos muita energia para incluir um novo
hábito que nos traz muito pouco benefício se compararmos com outro hábito que poderia
ter nossa energia depositada.

Caso sua reeducação alimentar não traga redução de peso em alguns dias,
provavelmente você abandonará essa rotina.

4- Nunca tente instalar um hábito que esteja incongruente com os demais níveis
neurológicos. Ele precisa estar congruente principalmente com os níveis mais
superiores. Se você quiser perder peso e ganhar saúde através de uma reeducação
alimentar, vai ser muito difícil manter esse hábito se tiver uma crença de que ser feliz é
comer somente o que gosta. Percebe a complexidade? Tratando-se da remoção de hábitos
destrutivos, saber isso é muito mais importante porque crenças limitantes estão
diretamente ligadas a eles.

Realizar algo constantemente que não esteja congruente com suas crenças, missão e
transcendência, vai causar conflitos importantes. Esses conflitos são grandes
“furtadores” de energia.

Sempre vai prevalecer em seu sistema psíquico, as rotinas vinculadas aos níveis
neurológicos mais superiores e associadas à maior carga emocional.

5- Os hábitos não estão ligados necessariamente a uma rotina diária. É possível


termos hábitos apenas em um determinado dia ou contexto. No domingo, muitos
costumam ler o jornal impresso, outros preferem cozinhar somente nos finais de semana.
A ideia dessa regrinha é que saiba que os hábitos realizados estão muito mais ligados ao

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gatilho qualitativo que à manutenção de sua repetição diária sequencial. Não são bem os
hábitos que são diários ou semanais, são os gatilhos que são temporais, isto é, sempre
que o gatilho for acionado, o hábito será apresentado.

Assim, dos 40% de nossas ações habituais diárias, muitas não ocorrem todos os dias.
Alias, é bem possível que se você joga cartas com um grupo de amigos apenas uma vez
por mês, já há bastante tempo, os hábitos vinculados a esse momento somente serão
executados nesse contexto, e fatalmente se ficar uns bons meses sem jogar, quando
retornar o hábito será repetido.

Isso explica porque muitas pessoas só fumam quando estão jogando. Nesse caso o tabaco
está inserido apenas como hábito, possivelmente ancorado nas sensações vinculadas ao
jogo e sem a dependência química.

Lembre-se que nosso inconsciente trabalha de forma simbólica e não respeita cronologia,
definindo ações por qualidade e intensidade.

6- A repetição e a intensidade são mães do hábito. Como falamos no início desta


etapa, os hábitos são a maneira frequente como agimos. Portanto, para falarmos de
hábito temos que falar da repetição.

Quando algum comportamento se repete, o cérebro cria vias sinápticas mais rápidas, de
maneira que uma ação aciona a ação seguinte, de forma quase automática.

A pergunta que todos querem saber: “quanto tempo preciso repetir uma ação para que se
torne um hábito?”

A resposta não é conclusiva infelizmente. Agora você já sabe que existem muitas
variáveis relacionadas aos hábitos. As principais nós resumimos nessas regras, como a
da repetição e da intensidade.

Seguindo as considerações de Charles Duhhig, autor do Best seller “O Poder do


Hábito”, são necessários 21 dias de repetição de uma ação para que ela se torne um
hábito. Claro, como já dissemos, existe a individualidade de cada um, que leva a uma
variação.

Mas nós fomos além e, segundo o estudo de Phillipa Lally, pesquisador de psicologia da
saúde na University College London, publicado no European Journal of Social
Psychology, ficou evidenciado que a partir de 18 dias consegue-se instalar ou mudar um
hábito. Nessa pesquisa também ficou esclarecido que o tempo pode variar dependendo da

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pessoa, do comportamento e circunstâncias. Agora eu estou certo que você já sabe por
quê.

Nesse estudo, o tempo médio foi de 60 dias para um comportamento tornar-se


automático.

Isso já é suficiente para desmistificar teses muito simplistas e mais focadas em


vender do que ajudar propriamente, que definem os 21 dias como regra.

Mas fique calmo, se fosse para dizermos o que já foi dito antes, honestamente,
esse livro não teria nascido. É nosso dever trazer à luz novas discussões e técnicas
respaldadas tanto na psicanálise quanto na neurociência. Essa é justamente a nossa
missão e o que dá um valor único e especial para essa obra.

Desta forma, ainda nesta etapa que estamos tratando de hábitos, vamos sugerir
receitas para inclusão ou remoção de hábitos seguindo uma estratégia capaz de reduzir
muito o tempo necessário para automatização.

Agora que já falamos das regras que consideramos importantes para nosso
contato com os hábitos, gostaríamos de falar sobre três peças fundamentais para
instalar ou remover um hábito: a motivação, a força de vontade e a alavanca
emocional.

MOTIVAÇÃO

Quando falamos da motivação, nos remetemos prontamente para a recompensa


ou dano. Como o próprio nome já diz, motivação = motivo + ação. Ou para muitos, o
motivo da ação.

Focarmos uma atenção maior à motivação é darmos importância ao motivo que


vai gerar um determinado hábito.

Pelos estudos do comportamento humano, foram detectadas basicamente duas


esferas motivadoras para nossa espécie, uma delas ligada à recompensa que algo pode
nos trazer e a outra ao “medo” do dano que algo pode gerar.

Tratando-se o medo, como já vimos anteriormente na etapa dos 4 cérebros, de


uma das emoções mais básicas, primitivas e ligadas à sobrevivência, podemos justificar
porque um grande número, para não dizer a maioria das pessoas, motiva-se a fazer
algo pelo medo de sofrerem algum impacto negativo.

Em pesquisas realizadas, quando pessoas foram perguntadas, por exemplo, por


que dirigiam dentro do limite de velocidade ou por que pagavam impostos, as

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respostas da esmagadora maioria foram relacionadas ao “medo” de serem multadas ou


de serem presas por sonegação.

Assim, podemos concluir que o medo é um fator poderosíssimo utilizado como


motivador, e não podemos desperdiça-lo. Se usarmos com critério e prudência,
poderemos potencializar muito as chances de inserir um hábito novo sem criarmos
bloqueios.

A outra esfera é a da recompensa. As pessoas que responderam que dirigiam


dentro do limite de velocidade e pagavam seus impostos porque era mais seguro e
recebiam benefícios em troca, respectivamente, estavam motivados pela esfera da
recompensa positiva.

Mas por que estamos falando sobre isso agora?

Primeiro, porque quero deixar claro para você que sabermos quais são as duas
esferas motivadoras, nos dará clareza para planejarmos como inserir ou remover um
determinado hábito.

Segundo, porque é possível usarmos as duas esferas, tanto o medo quanto a


recompensa para garantirmos potência máxima na inserção ou remoção de um hábito,
essa é a grande “sacada”.

A FORÇA DE VONTADE

Dizemos com frequência que falta força de vontade para realizarmos algo. E
não estamos errados de fato.

Nos estudos da neurociência, percebeu-se que a área envolvida diretamente


com a “força de vontade” é o córtex pré-frontal.

É nessa área que nossos sistemas de planejamento e direcionamento de energia


para alcançarmos nossos objetivos estão associados.

A informação que temos para contribuir com esse aspecto fundamental na


inserção ou remoção de hábitos é que devemos pensar que a “força de vontade”
funciona como um músculo.

Quanto mais treinamos, maior e mais forte ela se torna.

Outro detalhe importante é que sempre que conseguimos realizar algo, nosso
“sistema de força de vontade” se fortalece, servindo de fermento para a autoestima e
autoconfiança.

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Trata-se de um componente tão importante quanto a motivação, talvez até mais


importante. É difícil definirmos quais são os limites de atuação e intersecção entre a
motivação e a força de vontade.

Sabemos que a motivação nos auxilia a exercermos a força de vontade, mas


também sabemos que sem a força de vontade dificilmente uma motivação é suficiente
para gerenciarmos nosso conjunto de hábitos.

Muitos estudos já apresentam resultados muito promissores e benéficos ligados


ao hábito da meditação. Após semanas de prática diária, as regiões corticais cerebrais
ligadas ao controle, planejamento, vontade, escolha e gerenciamento de ações e
emoções sofreram alterações importantes, inclusive de massa.

Então, fica aqui mais essa dica, a meditação pode ser um “novo hábito” capaz
de facilitar seu domínio sobre outros tantos hábitos que deseja adquirir ou mudar.

ALAVANCA EMOCIONAL

Não faz muito tempo, lembro-me de ter visto um comercial de televisão onde a
família estava reunida para o café da manhã. Resumidamente, o pai escolhe o alimento
mais saudável porque imagina sua filha (criança no comercial) casando-se no futuro.

É um perfeito exemplo de alavanca emocional, a escolha de um hábito mais


saudável de um pai que deseja ver sua filha se casando no futuro. Tanto o casamento
de sua filha como o medo de não chegar até aquela altura da vida, atestam as duas
esferas da motivação.

Isso também serve para manusearmos com mais facilidade o sistema de


crenças.

Não despreze o poder de uma boa alavanca emocional. Seja ela ligada a um
desejo de prazer ou de proteção, uma alavanca emocional é como uma motivação
ligada a uma ou às duas esferas que já falamos (recompensa ou medo), temperada com
uma boa intensidade emocional capaz de acionar com maior facilidade nossa força de
vontade.

Agora é hora de nos perguntarmos se sabemos quais são nossos hábitos e como
eles impactam a vida de nossos filhos. E mais, que hábitos podem ser inseridos no
cotidiano de nossos filhos que podem ajuda-los a se tornarem seres integrais.

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OS HÁBITOS DESTRUTIVOS
Coragem! É hora de conhecermos alguns dos hábitos mais destrutivos em
nossas relações humanas, especialmente tratando-se da dinâmica entre pais e filhos.

Certamente você poderá se identificar com um ou outro hábito destrutivo,


talvez com todos eles.

Mas não se aflija. Conhecê-los dará uma ampla consciência de como e quando
executamos esses hábitos mortais, sendo o primeiro passo na missão de os reduzirmos
ao máximo, ou quem sabe, eliminá-los de vez de nossos relacionamentos.

É hora de fazermos um esforço adicional para rompermos nossos padrões e


hábitos destrutivos, que sem dúvida acabarão por serem herdados pelos nossos filhos.

O pior é que a maioria deles só vai começar a aparecer realmente na vida de


nossos filhos a partir da adolescência e na vida adulta, quando já é tarde para fazermos
algo, e assim como nós e os nossos pais, eles terão que fazer a maior parte de seus
ajustes sozinhos.

Não tenho dúvidas que o fato de conseguirmos demolir hábitos destrutivos de


nossas vidas, bem como inserir hábitos construtivos, será um dos pontos principais
para que nossos filhos tenham a menor sombra possível.

Você ficaria surpreso com o tamanho que uma lista teria se considerássemos
todos os hábitos que podem ser destrutivos em nosso processo de convivência com
nossos filhos. Contudo, tentaremos reduzi-la ao máximo mantendo somente o que
consideramos como os principais.

Fizemos essa seleção de hábitos baseado nos estudos de William Glasser, que
brilhantemente criou sua “Teoria da Escolha” (Choice Theory). Demos nossa
contribuição e ampliamos a lista de acordo com nossas convicções e experiência.

Preparado? Então lá vamos nós...

RECLAMAR DOS FILHOS

Quando reclamamos de nossos filhos para outras pessoas, principalmente


quando eles estão próximos a nós, estamos cometendo um erro gravíssimo na ilusão
que tal desabafo fará com que algum comportamento seja alterado.

O trabalho de criação é árduo e nos sentimos tentados a desabafar, esquecendo


do que isso pode causar ao mundo psíquico de nossos filhos. Não se trata apenas de

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abalar a autoestima, mas da criança ou adolescente não achar-se merecedor do amor


dos pais.

Reclamar dos filhos é como se uma quebra de intimidade fosse gerada, além de
uma perda de sintonia afetiva. Como conseguiremos inserir crenças fortalecedoras de
autoaceitação se demonstramos ao mundo que não os aceitamos como são?

Aproveitando a oportunidade, perceba que a palavra “reclamar” é a junção de


“Re+Clamar”, ou seja, clamar (pedir) novamente por aquilo que não desejamos.

Comparar

Você já tentou fazer seu filho mudar de ideia ou de comportamento citando a


forma de agir de outra criança?

Por exemplo: “Fulano come isso, não sei por que você não come”, ou “O filho
de Fulana, diferente de você, é tão dedicado e estudioso”.

Soa como uma flecha no peito ouvirmos esse tipo de comparação. Imagine
agora um filho ouvir isso dos pais.

Na verdade, sugiro que evite a comparação tanto para elogiar, que poderá gerar
uma crença de superioridade perante os demais, como para depreciar, que fará o
inverso, isto é, alimentará o complexo de inferioridade.

Evite usar as comparações diretas para não inflar os complexos de


superioridade e inferioridade.

Você pode fazer uso positivo de comparações “indiretas” sem culpa como já
vimos na etapa que tratamos da linguagem hipnótica, podendo citar outras crianças ou
adolescentes, sem falar diretamente ao seu filho e sem mencionar seu filho na
evidenciação.

Uma afirmação indireta seria dessa forma: “Fulana, seu filho deve dar-lhe
muito orgulho por respeitar os mais velhos”.

Perceba que a frase não foi dita para o próprio filho e não houve a
“comparação”. Muito provavelmente um pensamento embrionário será inserido em
seu filho para que tente adequar seu comportamento.

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CRITICAR

Nossa, como criticamos nossos filhos. A maior parte das vezes nós nem
percebemos, mas não perdemos a chance de critica-los.

Diria que este seja um dos hábitos destrutivos mais repetidos.

“Filho, você é muito desajeitado. Quebra tudo!”, “Você é muito bagunceiro e


desorganizado”, “Você não estuda direito”, e muitas outras frases poderiam ser
citadas.

Precisamos deixar claro que as ordens de comando não são críticas. Assim, ao
invés de dizer que seu filho não estuda direito, deve utilizar uma estratégia consistente
com inserção de crenças focadas na necessidade do estudo e comandos direcionados
como já vimos anteriormente.

“NOMEDOFILHO, você sabe que É PRECISO ESTUDAR”.

Perceba que não é necessário criticar o que seu filho faz ou não faz.

BRIGAR NA FRENTE DOS FILHOS

Brigas entre casais na frente de seus filhos parecem uma crise pandêmica nos
dias de hoje.

A falta de sintonia entre os pais acabam gerando muitas situações


desagradáveis aos seus filhos, que acabam os tornando expectadores de um show de
ofensas e julgamentos trocados entre as pessoas mais importantes de suas vidas.

Como dizer ao seu filho que o correto é a paciência e o diálogo, se os exemplos


que ele vive em casa são exatamente o contrário?

Mahatma Gandhi já dizia que a palavra convence, mas o exemplo arrasta.

Assim meus caros, ajustem-se e dialoguem longe do alcance dos filhos. Ou


melhor, se conseguirem fazer uso do diálogo franco, afetivo e sincero entre vocês, será
até bom que seus filhos presenciem.

Mas caso contrário, se estiverem vivendo uma fase onde não estão conseguindo
atingir um padrão de comunicação maduro e tranquilo, façam isso longe do alcance de
seus filhos.

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Não que isso seja uma vacina completa para eles, lembre-se que como Jung
detectou, existe uma participação mística e intrigante entre os inconscientes de pais e
filhos. A insatisfação e a infelicidade dos pais sempre acabam impactando no universo
psíquico dos pequenos.

Mas certamente, evitar as discussões e brigas ao redor de seus filhos, amenizará


muito a intensidade emocional vinculada aos complexos materno e paterno. Lembre-se
que os pais são o primeiro e o maior exemplo do que uma relação afetiva é de fato.

As brigas constantes em frente ao seu filho poderão leva-lo a uma desilusão


sobre relações amorosas e até um conceito equivocado agressivo de como lidar com
situações futuras que não sejam do seu agrado.

CONTROLAR AS ESCOLHAS

Achamos que tudo o que é bom para nós será bom para eles.

Nessa crítica destrutiva não estamos falando dos valores familiares que devem
obviamente ser prioridade na rota de formação, mas estamos falando de nossa
necessidade de “poder” e querermos controlar tudo que esteja relacionado com nossos
filhos.

Isso não se limita apenas na roupa que devem vestir, ou no tipo de comida e
quantidades que preferem comer, ou no tipo de viagem que preferem.

Vai muito além. Não é raro vermos pais que querem controlar praticamente
todas as escolhas de seus filhos, induzindo inclusive na escolha de profissões.

Aulas de tênis, futebol, inglês, xadrez, caratê, música, natação, e por aí vai.
Muitos estão depositando em seus filhos toda sua vida não vivida. Pergunte ao seu
filho o que ele quer, o que ele pensa e o que deseja.

Se o que seu filho prefere ou deseja não afronta o sistema de valores da família,
suas escolhas devem ser respeitadas.

Esse hábito “engessa” nossos filhos e acaba por enfraquecer uma importante
ferramenta do ser, a criatividade.

A criatividade deve ser sempre encorajada para formarmos seres capazes de


serem flexíveis e encontrarem soluções diante dos obstáculos de suas vidas.

Dar a opção de escolha ao seu filho dará a ele a sensação de autonomia e


plantará sementes potentes de autoconfiança e autoestima.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Aqui cabe uma das frases que mais gosto de Jung: “Onde há o Amor não há
necessidade de Poder, e onde há necessidade de Poder, certamente não há Amor. Um é a sombra
do outro.”

Se você sente a necessidade de controlar tudo que está relacionado às


experiências de seu filho, muito provavelmente seu balão do Poder (veja a etapa que
falamos sobre os Complexos) está inflado e demanda sua humildade e coragem para
analisá-lo.

Portanto, lembre-se que certa liberdade é necessária no processo de formação.


Podar radicalmente todas as expressões de escolha dos pequenos trará grandes
desafios de conduta e amadurecimento no futuro.

CULPAR

Ah, como gostamos de culpar os outros.

Isso está totalmente ligado à nossa incapacidade de assumirmos


responsabilidades pelo o que ocorre à nossa volta.

E nossos filhos não estão imunes aos nossos canhões destrutivos que alvejam
culpados.

Quando percebemos que algo diferente do que esperávamos ocorreu, muito


frequentemente buscamos os culpados. E geralmente não percebemos que nós mesmos
somos os culpados.

Já falamos sobre isso anteriormente, mas vale aqui a repetição.

Culpamos nossos filhos por não estarmos vivendo “nossas vidas” e nossos
sonhos. Culpamos direta e indiretamente nossos filhos pelo que não temos, as viagens
que não fazemos e as histórias que não construímos.

Covardia nossa! Para não dizer outra coisa. Os filhos são resultados de nossas
ações antes de ocorrer o contrário.

Vamos evitar culpar nossos filhos ou mostrar-lhes que o que ocorre em nossas
vidas é responsabilidade dos outros e não nossa. Temos que ensina-los que nós é que
construímos nosso destino fazendo nossas próprias escolhas.

Se for para culpar seu filho, culpe-o por ter lhe tornado uma pessoa melhor, por
ter lhe ensinado a ter mais paciência, a ter lhe dado um propósito de vida, por ter lhe
amadurecido e ter lhe ensinado o que é o amor incondicional.

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PEGAR NO PÉ (INCOMODAR)

Não deixa de ser mais uma faceta da nossa necessidade de poder e de controlar
tudo.

Ficamos repetindo comandos e atordoando nossos filhos com tantas ordens,


críticas, comandos, etc.

Tem momentos que sufocamos os pequenos com tanta energia que depositamos
no processo de criação.

Não faz muito tempo me peguei fazendo isso com minha filha mais velha. Em 2
minutos acho que direcionei umas 10 ordens seguidas.

“Arrume seu material para amanhã. Escove os dentes. Arrume sua cama.
Guarde sua roupa. Endireita essa postura. Quando acabar de comer põe o prato na pia.
Já sabe as datas das provas dessa semana?”

Até eu fiquei atordoado, imagine ela.

Perceba que tudo que disse a ela não deixa de ser necessário acompanhamento
e direcionamento. Mas eu soltei tudo em uma sequencia sem dar espaço para que ela
respirasse.

É esse “pegar no pé” que precisamos evitar ao máximo. Isso desorganiza a


rotina mental de nossos filhos ao invés de organizar.

Imaginemos o contrário onde nós sejamos o alvo. Se tudo que estamos fazendo
tiver um olhar crítico seguido de uma voz ininterrupta de comando ficaremos muito
descontentes e confusos.

Esse tipo de hábito tolhe os aspectos de racionalização e escolha de nossos


filhos e, portanto, temos que evitar.

AMEAÇAR

Preciso deixar claro que não devemos confundir com o aspecto motivacional do
“medo”.

As ameaças de que tratamos aqui são principalmente as que podem inflar os


balões dos complexos de que já falamos muitas etapas atrás.

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Quero citar duas facetas da ameaça que devem ser abolidas fazendo uso do
máximo de nossas forças: ameaça da violência e a ameaça do abandono.

Exatamente. Não vou incluir aqui as ferramentas de negociação que podem e


devem ser utilizadas muitas vezes no processo de criação de nossos filhos.

Se eu não os (filhos) tivesse também, poderia enfeitar e florear as teorias que


primam pela estratégia de dar tudo que nossos filhos querem e entender tudo como
natural.

Acredito que além de muito amor, nossos filhos precisam de limites, firmeza e
certa dose de frustração para que não se tornem tiranos do futuro.

Assim, “ameaçar” confiscar os brinquedos se seu filho não os guardar após ter
brincado com eles, mesmo após as orientações definidas, é perfeitamente normal e até
aconselhável.

Isso não tem nada de parecido com uma ameaça de violência ou de abandono
que estamos citando aqui.

“Se você não me obedecer vou lhe dar uma surra!”, ou “Se você não fizer o que
estou mandando vou manda-lo para um internato”, ou ainda “Se não for bonzinho vou
ligar para o bicho-papão vir pegá-lo”, são exemplos condenáveis que atestam a
inclusão do ato de ameaçar como destrutivo.

Não precisamos ser peritos para vermos que estamos falando de violência e
abandono. Uma estratégia que criará um panorama de medo muito grande no mundo
interior de nossos filhos.

Assim, não seguirão nossos comandos por respeito, mas por medo. Um medo
que vai contra o amor que nossos filhos precisam sentir de nossa parte.

Muito provavelmente entenderão que só serão amados se fizerem o que


mandamos, e que para nós é muito fácil abandoná-los ou violentá-los pelo não
cumprimento de nossas regras.

E não é raro vermos crianças extremamente obedientes a pais que fazem uso
dessas ameaças. Ledo engano que estejam fazendo o melhor para seus filhos, pelo
contrário.

Estão tendo uma atitude egoísta que terá sua conta amarga no futuro,
infelizmente com danos psíquicos complicados para todos.

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PUNIR EQUIVOCADAMENTE

Seguindo pela mesma linha do hábito destrutivo anterior onde falamos das
ameaças, partimos para as punições equivocadas.

Nossas rotinas diárias, muitas vezes cheias de intensidade agressiva e


frustração, podem nos levar a atos punitivos equivocados e exagerados.

Não vamos falar aqui das punições educadoras através da imposição de limites
para ajustes de comportamentos, mas sim das punições exageradas e sem parâmetros
coerentes.

Temos que evitar que nossas frustrações deságuem em nossos filhos, isto é, que
descontemos nossa fúria não resolvida em nossos pequenos.

Sei que quando lemos em um livro isso parece um absurdo e não admitimos
que somos capazes de exageros, mas basta ocorrerem situações específicas para que
sejamos duros e até violentos com nossos filhos.

Punir em exagero ou de forma desproporcional não deixa de ser também um


ato de covardia e transferência de insatisfação de nosso Ego.

Quando me recordo de anos atrás ter punido minha filha mais velha por ter
derrubado seu copo de suco no tapete da sala, confesso que me sinto envergonhado.

Tenho plena consciência de que foi um acidente mesmo tendo pedido para ela
não ter sua refeição em cima do tapete. Estamos falando de uma criança que não tem as
dimensões de risco ainda definidas.

Assumi o risco e assim devo assumir as responsabilidades.

O intuito é removermos de nós o hábito de punirmos equivocadamente nossos


filhos assumindo a responsabilidade de mantermos nosso equilíbrio, evitando a criação
de traumas, confusão afetiva e bloqueios que tendem atrapalhar nossa missão de
formadores.

SUBORNAR OU RECOMPENSAR PARA CONTROLAR

Assim como a ameaça que citamos, o suborno ou recompensa manipuladora


precisa ser mais bem explicado.

É perfeitamente normal ofertarmos recompensas para metas alcançadas pelos


pequenos, é um dos alicerces de nossos hábitos e uma das esferas da motivação.

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Mas não devemos confundir isso com uma estratégia frequente que acabará por
transformar nossos filhos em mercenários do comportamento.

Temos que separar as estratégias de motivação para enquadramento dos


comportamentos de forma alinhada com nossos valores, da tentativa de suprirmos a
falta de afeto que oferecemos através de presentes e recompensas.

Esse tipo de hábito é muito comum em pais divorciados que acabam tentando
comprar a preferência dos filhos através de um “suborno” material, ou também em
pais muito dedicados às suas profissões com muito pouco tempo disponível aos seus
filhos.

É um equívoco grande achar que educação e afeto se conquistam com suborno.


Se existe alguma recompensa que pode ser ofertada é o amor e o carinho tão
necessários para a imposição de limites, visando um futuro equilibrado e consistente
aos pequenos.

CONSUMISMO

Não pude deixar de mencionar esse terrível hábito que vem tomando conta das
vidas de todos nós e está sendo fixado cada vez mais cedo nos padrões
comportamentais de nossos filhos.

Nunca antes na história houve registro de tamanha necessidade de ter para


aparecer. Um círculo vicioso e aparentemente sem fim parece estar se instalando em
quase todos os povos da atualidade.

Se não tomarmos cuidado nossa era será lembrada como a do consumo


desenfreado.

Nossos olhos são bombardeados por campanhas publicitárias que prometem


emoções nobres como a felicidade e a autorrealização se tivermos o que está sendo
oferecido.

E nossos filhos estão sendo contaminados em velocidade recorde, sem que


tenhamos tempo hábil para tentar reverter essa triste tendência onde o “ter” está sendo
mais valorizado que o “ser”.

Assim, cabe a nós protegermos nossos filhos desse padrão de que é preciso ter
mais, cada vez mais, para que sejam felizes e aceitos pelo meio. Muitos de nós, nesse
momento, estamos presos em um círculo social onde todo nosso tempo é dirigido para
atendermos os desejos de posse e status.

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Uma rotina escravizante que nunca satisfaz de fato. A cada conquista, uma
nova logo se instaura em nossas mentes como a “próxima” que tomará nosso tempo e
nossa saúde em um jogo de ilusão.

É a grande armadilha do Ego primitivo, ainda infantil e desestruturado.


Portanto, é hora de rever se não estamos também nesse mesmo padrão habitual de
focarmos nossas vidas e valores no que é absolutamente perecível e efêmero.

Nada de errado em querer ter conforto e bem estar. Muito pelo contrário, a
ambição de crescimento é algo sadio que nos impulsiona para a evolução.

A questão aqui é saber o que é de fato essencial e primordial, diferenciando com


clareza do que faz parte do grande “buraco negro” que estamos vivendo nos dias de
hoje.

É o momento de refletirmos se não estamos transmitindo e/ou permitindo que


nossos filhos sejam “atropelados” por esse hábito consumista.

LIXO MENTAL

Aproveitando a “deixa” do hábito anterior, precisamos falar agora do tipo de


conteúdo que você tem permitido em seu lar e em sua vida como um todo.

Durante algum tempo pude realizar um trabalho voluntário em um lar de


idosos em uma cidade muito querida por todos nós aqui em casa.

Não era raro vermos a tristeza e comportamentos depressivos em boa parte


deles.

Em nosso trabalho pudemos detectar que muitos desses idosos passavam boa
parte de seu tempo assistindo programas de televisão com conteúdos muito ruins.

Notícias de roubo, acidentes, morte, problemas e crise econômica, são apenas


exemplos do tipo de informações que estavam assimilando.

Não seria surpresa que pessoas que permitem esse tipo de conteúdo em suas
vidas estejam mais propensas a desenvolverem problemas psíquicos relacionados ao
medo e à depressão.

Parece que nós temos uma tendência a preferirmos a desgraça aos conteúdos de
beleza e encorajamento. Mas isso é perfeitamente explicado quando falamos das
“muletas psicológicas” que costumamos utilizar em nossas vidas para encontrarmos
algum consolo ou motivo para agirmos da forma que agimos.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Certa vez fui visitar um amigo e me deparei exatamente com esse cenário. A
família toda, incluindo os filhos, estava vendo um desses programas de notícias
sensacionalistas e de violência. Um verdadeiro crime para o mundo psíquico daquelas
crianças, e dos pais também.

Muitas vezes por conta de nossas próprias frustrações e infelicidade, buscamos


de forma consciente ver coisas ruins que também acontecem aos demais. Como se isso
fosse um consolo possível de amenizar nossos conflitos e insatisfações internas.

E o que isso fará com nossos filhos? Pois bem, não será surpresa se
apresentarem padrões depressivos, desânimo, transtornos psicológicos, sistema
imunológico enfraquecido, síndrome do pânico, entre outras neuroses.

Esse tipo de “lixo mental” precisa ser extinto de nossas vidas se queremos
preservar a vida psíquica e física de nossos filhos, e também a nossa. Eu disse física
porque como você já sabe nosso inconsciente não sabe o que é real ou não.

E como ocorre em um verdadeiro filme de terror, nossos corpos são


bombardeados por hormônios como cortisol e adrenalina, que se fizerem parte
rotineira de nossas vidas causarão danos fisiológicos muito sérios.

Queremos ir um pouco além e inserir nesse mesmo “latão” todo tipo de


conteúdo que possa de alguma forma ir contra os ideais de bem estar e de educação,
citando, por exemplo, músicas com letras ofensivas, filmes e vídeos que banalizam o
respeito, entre tantas outras vias que possam alcançar nossos canais perceptivos.

Como conseguiremos motivar nossos filhos a progredirem e a serem felizes se a


todo momento temos um comportamento contrário, permitindo que nossos lares sejam
infectados por uma quantidade absurda de conteúdos desencorajadores?

PESSIMISMO

Óh céus, óh dor, óh azar...

Tenho certeza que você conhece alguém assim. Talvez a gente mesmo esteja
agindo assim boa parte de nossas vidas sem perceber.

Se você costuma ver sempre o lado negativo da vida, crendo que o copo está
sempre “meio vazio” ao invés de “meio cheio”, é tempo de repensar se você não está
transferindo isso para seu filho.

Atitudes pessimistas são hábitos terríveis que podem destruir qualquer sonho e
desejo de felicidade.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Como já vimos na etapa relacionada às crenças, muitos bloqueios importantes


que impedirão que nossos filhos tenham conquistas no futuro, estão ligados às crenças
limitantes de não merecimento ou de que tudo dá errado em suas vidas.

Desta forma, chegou o tempo limite para que você tome a decisão de mergulhar
em sua própria sombra e ressignificar o que trouxe a você essas atitudes e padrões de
comportamentos pessimistas.

ALIVIANDO UM POUCO SUA TENSÃO

Depois de vermos os hábitos destrutivos, sei que é muito difícil não ter se
identificado com alguns deles, para não dizer todos.

É muito natural que possa se sentir um pouco culpado ou deprimido após ter
consciência de que esses hábitos são destrutivos e são verdadeiros vilões que atuam
contra tudo o que já falamos a respeito dos padrões herdados, sistema de crenças e
valores e nossos complexos psíquicos.

Mas vamos deixar claro que somos humanos e por isso não somos perfeitos.
Cometermos deslizes é uma coisa absolutamente normal, o que precisamos agora é
tomar as rédeas de nossas ações e evitar que nossos equívocos se tornem frequentes.

Portanto, comece se perdoando pelos erros que já cometeu, sacuda a poeira e


mãos à obra.

Atente-se que todos esses hábitos destrutivos são mortais para qualquer tipo de
relacionamento. Se você conseguir ajustar isso em sua forma de ser terá ganhos
incalculáveis em todas as relações que usufruir.

Agora se não se esforçar para modificar seu conjunto de hábitos, removendo os


que são destrutivos, a conta disso será cobrada no futuro. Se é que já não está sendo
cobrada agora.

Nossos hábitos não deixam de ser padrões comportamentais que fatalmente


serão herdados pelos nossos filhos.

Perceba que praticamente tudo que falamos a respeito do mundo psíquico, de


uma forma ou de outra, está ligado aos padrões ancestrais, intensidade emocional e
sistema de crenças.

Sei que é difícil. Muita informação nova e tomar consciência de que não somos
exatamente o que achamos que somos não é das sensações mais agradáveis.

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Darmos conta que somos reféns desses hábitos destrutivos pode nos desmotivar
um pouco, ou bastante.

Como já falamos, somos complexos. Não se iluda que apenas tomar


conhecimento desses hábitos destrutivos evitará que os realize novamente. Lembre-se
que cada um de nós é o produto de histórias diferentes e de padrões herdados
distintos.

Se errar peça perdão e perdoe-se. A culpa deve ser seguida pelo


arrependimento e depois pela reparação.

Sejamos sinceros com nossos pequenos quando errarmos, tentemos fazer uso de
nosso momento de fraqueza para mostrar nossa maior força. A alma se torna mais forte
justamente quando nos vulnerabilizamos.

De tantas formas capazes de ajudar nossos filhos a se tornarem pessoas plenas e


equilibradas, mostrarmos que somos humanos, que erramos, que também carregamos
dentro de nós todos os opostos, que sabemos pedir perdão e reparar, vai exemplificar e
facilitar muito que nossos filhos absorvam nossas melhores intenções gerando um
Rapport único e absoluto.

Costumo dizer que desaprender é mais difícil que aprender na maioria das
vezes.

Remover os hábitos destrutivos costuma levar mais tempo e precisa de mais


dedicação que incluir hábitos construtivos.

Então meu caro leitor, não desanime, enquanto todos estamos trabalhando na
remoção de nossos hábitos destrutivos, podemos fazer uso de outros hábitos que são
construtivos e podem nos ajudar imensamente.

Esses hábitos, veremos logo a seguir.

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OS HÁBITOS CONSTRUTIVOS
Pode parecer falta de criatividade, mas provavelmente você identificará nos
hábitos construtivos algumas características opostas dos hábitos destrutivos.

A intenção é justamente essa.

Além de trabalharmos na remoção e controle dos hábitos negativos, vamos


fazer nosso esforço total para inserirmos novos hábitos construtivos que atuam
geralmente como antídotos.

Já falamos mais de uma vez que o equilíbrio e a plenitude psicológica passam


pelo reconhecimento do que está em nossas sombras, a aceitação de todo conteúdo que
não admitimos possuir e a perfeita integração dos opostos.

Alinhando as necessidades apresentadas por Maslow, na pirâmide das


necessidades que já analisamos algumas etapas atrás, com o que outros estudos
trouxeram, como os realizados por William Glasser, podemos sintetizar que a raça
humana tem necessidades claras como: amor, liberdade, alegria, pertencimento e
sobrevivência.

Elaboramos a lista dos hábitos destrutivos e também essa próxima dos hábitos
construtivos, levando em conta principalmente essas necessidades.

APOIAR

Não podemos esquecer que o foco aqui são crianças e adolescentes.

E nesta condição eles são a expressão da vulnerabilidade. Ainda não têm


condições de enfrentarem tudo sozinhos sem apoio e suporte.

Esse é o hábito que sustenta e que dá a segurança de que não estão sozinhos.

Entenda-se que não terem condições de fazerem tudo sozinhos, não dá a você
permissão para fazer tudo por eles.

Precisamos deixar que enfrentem seus desafios como atores principais. O nosso
papel é ajuda, direcionamento, aconselhamento e suporte.

A frase aqui é: “Mesmo que tudo dê errado, estou aqui por e para você!”

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ENCORAJAR

Às vezes nossos filhos despertam vontades de realização súbita, como por


exemplo, de repente querem aprender a tocar violão ou qualquer outro instrumento.

E não para por aí, os desejos são os mais surpreendentes algumas vezes, como
por exemplo, aprender a falar uma língua que nem conhecemos.

A regra nesta altura é encorajar e não desestimular como frequentemente ocorre


em muitos lares.

Costumamos transferir as nossas inseguranças e incapacidades aos outros e aos


nossos filhos. O fato de não nos acharmos capazes de fazer algo é como um
impulsionador para aniquilarmos desejos de nossos pequenos sob o pretexto de perda
de tempo e energia.

Encorajar é dar força aos sonhos e desejos deles. Mesmo que achemos que
aquilo não tem utilidade aparente, muito provavelmente pode ter algo ligado à
vocação da criança ou do adolescente e, portanto, deve ser encorajada.

Mas cuidado para não cair na armadilha dos “projetos nunca acabados”.

Você já deve ter se deparado com alguma pessoa que sempre começa muitas
coisas e nunca as termina, certo? Então, encorajar não consiste só em dar força para
começar, mas se esforçar ao máximo para continuar encorajando o projeto mesmo
quando seu filho começar a desanimar.

Fique atento, não deixe que seu filho comece e abandone as coisas com
facilidade. Poderá estar fixando um padrão de nunca finalizar o que começa, e isso
possivelmente trará consequências importantes que abalam a autoestima e a
autoconfiança.

A frase aqui é: “Vá atrás de seus sonhos e não desista facilmente!”.

OUVIR

É interessante o que vou lhe dizer, mas muitas vezes só o que a gente precisa é
de ouvidos que realmente nos ouçam.

Não queremos conselhos ou críticas, apenas que alguém nos ouça.

É hora de fazermos uso das estratégias de Rapport, isto é, da empatia.

Muitos pais não dão a importância devida ao que seus filhos querem dizer por
acreditarem não saberem o que desejam de fato.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Precisamos recordar que quanto mais próximo do nascimento, mais força


inconsciente o ser possui em suas expressões. Assim, “ouvir” vai além de “escutar”
apenas.

É preciso captar o que está nas entrelinhas, no que não está dito de fato, mas
apresentado no contexto e expressão geral dos pequenos.

Depois de tudo que já vimos você também já sabe “ouvir com os olhos” e é
capaz de detectar possíveis pistas através da linguagem verbal e corporal de seu filho.
Use isso ao seu favor.

Esse hábito construtivo contempla além da escuta amorosa e paciente,


necessária para o desabafo emocional de seu filho, escuta abstrata que vai além das
palavras.

Pergunte e ouça o que se filho tem a dizer com atenção. Mostre a ele que se
importa com o que ele diz e sente.

Transforme-se no principal canal terapêutico de seu filho deixando que ele


exponha suas ideias, sentimentos e necessidades.

A frase aqui é: “Eu realmente ouço você!”

ACEITAR

Lembra-se do hábito destrutivo do controle?

Aceitar é o seu oposto.

Precisamos aceitar as escolhas e as preferências de nossos filhos, desde que não


estejam contrários aos valores da família.

Não confunda a aceitação pela preferência de seu filho por jogar xadrez ao
invés de jogar futebol, com a escolha de seu filho estudar ou não estudar.

A frase aqui é: “Eu aceito suas escolhas desde que estejam dentro dos valores da
família”.

CONFIAR

Não é raro vermos pais se tornarem detetives da vida de seus filhos,


ultrapassando muito os limites necessários de autonomia e privacidade.

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Nossos medos de que eles se envolvam com amizades ruins, drogas e tantas
outras ameaças, nos faz exagerar na desconfiança de nossos filhos.

E aqui cabe mais uma observação relevante. Confiar não é abdicar.

Exatamente. Temos que confiar, mas monitorar também. Estamos falando de


seres ainda despreparados para entender os riscos e podem ceder ao meio em um
momento de deslize nosso.

Sinceramente não há limites para o monitoramento. Estamos falando do projeto


mais importante de nossas vidas e creio que isso nos dê a licença para ficarmos atentos
aos conteúdos que nossos filhos estão absorvendo através dos grupos, tanto físicos
como digitais.

Confiar é dar a chance e torcer boa parte das vezes. O fato da internet, como
exemplo, estar cheia de conteúdos impróprios não pode nos limitar a não dar acesso a
essa ferramenta aos nossos filhos.

Impedir totalmente o acesso ao mundo vai formar um ser isolado e incapaz de


lidar com os desafios do mundo, além de abrir uma janela psíquica para seu filho
cometer todos os erros quando estiver “livre” de seu controle.

É preciso oferecer, instruir e acompanhar. E no caso de perceber e comprovar o


uso indevido da confiança depositada, não hesite em “suspender” essa confiança
temporariamente até ajuste de comportamento.

A frase aqui é: “Confio em você, mas estou de olho!”

RESPEITAR

Esse hábito costuma gerar confusão com o hábito da aceitação, mas tem uma
particularidade significativa quando vemos sua definição.

Respeito vem do latim respectus que é um sentimento positivo e significa


apreço, consideração, deferência.

Oras, quem merece mais apreço e consideração que nossos filhos?

Respeitar não é aceitar tudo, mas levar a opinião de seu filho em consideração
nas suas tomadas de decisão.

Também está ligado de forma oposta ao hábito destrutivo do controle.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Para ilustrar vou dar um exemplo de quando vamos todos ao Shopping para
almoçar, e meus filhos têm desejos diferentes ao que eu e minha esposa desejamos
comer.

Antigamente nós costumávamos impor que comessem o que tivesse onde eu e


minha esposa desejávamos, da mesma forma como ocorria quando éramos crianças.

Tínhamos a ilusão de que assim eles estariam nos respeitando. Mas depois de
muita análise e observação percebemos que no fundo estávamos respeitando um
padrão que mostrava justamente o desrespeito ao que eles gostariam de comer.

Veja, estamos falando de um passeio familiar e de um local onde existem


muitas outras possibilidades de refeição. Desta forma, achamos melhor levar em
consideração (respeitar) a vontade e o desejo de cada um. Isso tornou nossas
experiências muito mais agradáveis e nossos filhos mais gratos e felizes.

Quando levamos em consideração as escolhas e desejos de nossos filhos,


estamos abrindo um canal de mão dupla onde eles também acabam por respeitar nosso
posicionamento quando não é possível atendermos alguma outra necessidade.

A frase aqui é: “Eu sempre considero o que você pensa e sente antes de tomar
uma decisão!”

NEGOCIAR DIFERENÇAS

Se subornar ou recompensar para manipular é um hábito destrutivo, saber


negociar as diferenças é um dos hábitos mais poderosos ao seu favor na grande jornada
de formação de seu filho.

Esse é o hábito da flexibilidade e que sintetiza praticamente um pouco de cada


um dos demais hábitos construtivos.

Precisamos ter clareza e boa vontade para negociar as diferenças. Boa parte das
vezes as diferenças são extremamente opostas e não conseguimos atender o que uma
situação mais estressante demanda.

O diálogo é a ponte que liga as diferenças. Com maturidade é possível


ajustarmos as diferenças e criarmos uma terceira via.

Somos humanos e mesmo sendo uma relação entre pais e filhos, nossa forma de
pensar dificilmente é exatamente igual ao que o outro pensa.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

É preciso entender e observar bem quais são as diferenças que estão


atrapalhando nossa convivência e então buscar uma negociação que atenda critérios
importantes em nossas relações.

A frase aqui é: “Vamos juntos tentar encontrar uma solução flexível capaz de
atender a todos!”

OTIMISMO E POSITIVISMO

Não sei se você sabe, mas na Harvard, uma das melhores e mais prestigiadas
universidades do mundo, o curso mais popular e bem sucedido tem como objetivo
ensinar como podemos ser mais felizes.

A aula de Psicologia Positiva ministrada pelo professor Tal Ben Shahar, atrai
cerca de 1400 alunos por semestre e aproximadamente 20% dos graduados de Harvard
desejam esse curso eletivo.

Compartilhamos da essência desse trabalho realizado pelo professor Shahar,


que em linhas gerais tem em seu núcleo o comportamento otimista e positivista.

Atitudes Otimistas e Positivas são hábitos maravilhosos que certamente


contribuirão para o tão almejado equilíbrio físico e psíquico de nossos pequenos no
futuro.

Fora isso, os pensamentos e visualizações otimistas e positivas produzem uma


verdadeira farmácia neurológica de bom humor e bem estar, acionando
neurotransmissores como a dopamina e serotonina.

Conseguir instalar hábitos como esses em sua vida fatalmente imprimirá nas
faixas mais profundas de nossas mentes, um verdadeiro mapa de felicidade, repleto de
rotas de fé e autoconfiança.

A frase aqui é: “Tenho certeza que vai dar tudo certo!”

CONTROLE FINANCEIRO

Não podemos tapar o sol com a peneira. Vivemos em um mundo materialista e


sabermos gerenciar nossos recursos é fundamental para termos uma vida equilibrada.

Tendo cristalino em nossas mentes que nossos padrões e hábitos transferem-se


aos nossos filhos, como já dissemos anteriormente, para que nossos filhos tenham
controle financeiro no futuro é imprescindível que nós também nos ajustemos nesse
quesito.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Recordo de um caso que ocorreu com um amigo de meu filho tempos atrás,
onde sua família teve os serviços de energia elétrica suspensos por falta de pagamento.

Antes que você se sensibilize, espere um pouco.

Ocorre que essa família não deixou de pagar a tal conta por falta de recursos
financeiros e sim simplesmente por descontrole.

Até aí tudo bem. Quem nunca se esqueceu de pagar algo que atire a primeira
pedra!

Mas isso era uma rotina na família desse garoto. Apesar dos pais terem bons
empregos, o controle financeiro era um verdadeiro caos.

Contas de luz, água e boletos todos misturados e abarrotados no porta-luvas do


carro da família. Um ambiente propício para formarmos futuros adultos que terão
problemas em lidar com dinheiro.

Termos hábitos de controle financeiro, onde o assunto é abertamente tratado e


se faz presente na vida doméstica da família, é essencial se almejamos que nossos filhos
não tenham dificuldades em gerenciar o dinheiro no futuro.

E que não confundamos controle financeiro com “medo” financeiro, como já


vimos quando falamos das crenças limitantes.

Nossos filhos precisam entender de alguma forma que existem contas e que as
coisas ou os serviços são pagos por recursos ganhos através de alguma atividade
produtiva.

Além disso, ações rotineiras de controle financeiro são hábitos muito eficazes
para o combate aos seus pares opostos ligados ao consumismo desenfreado que
mencionamos nos hábitos destrutivos.

A frase aqui é: “Temos que saber quando custa e organizar nossas contas”.

ELOGIAR

Quem não gosta de receber um elogio, não é verdade? E antes que você pense
que estamos falando na vaidade que fermenta o Ego desestruturado, preciso dizer a
você que nosso objetivo é o fortalecimento da autoestima, do autoamor e da
autoconfiança.

A diferença é gritante quando um elogio é feito para construir autoestima e


quando ele é proferido para ser “agradável” ao ouvido dos demais.

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Se por um lado temos que fazer esforços para aniquilar os hábitos destrutivos
da crítica, não será muito difícil aprendermos a elogiar mais e tornar essa atitude um
hábito.

Isso porque estudos recentes mostram que quando fazemos algo de bom à outra
pessoa, e isso pode ser um presente, oferecer uma informação relevante ou como neste
caso um elogio, nossos cérebros parecem encontram o caminho do paraíso.

Como assim? Você pode estar se perguntando.

Parece que nosso chip mental, ou seja, nosso núcleo da alma tem uma
programação maravilhosa que ativa as áreas de recompensa em nossos cérebros,
gerando uma incrível satisfação e bem estar quando fazemos algo que satisfaça ou
ajude o outro.

Esse mesmo sistema de recompensa, entre outras partes, é o que ativamos


quando realizamos exercícios de gratidão e compaixão.

Vai além da ativação de neurotransmissores vinculados aos estados de


felicidade e satisfação, como dopaminas, endorfinas e serotoninas.

Parece incrível, mas elogiar com sinceridade desencadeia inclusive um estado


interior de saúde, fortalecendo nossos sistemas imunológicos que recebem um upgrade
nas quantidades de substâncias orgânicas fortalecedoras como ocitocinas e
imunoglobulina.

Em quem ouve um elogio puro e sincero, o mundo mental vinculado aos


sistemas de autoestima e autoconfiança parece receber uma dose cavalar de
anabolizante.

Apesar de poderosos, os elogios infelizmente para a maioria de nós não são tão
potentes quanto as críticas recebidas.

Dessa forma, podemos fazer uso de outros estudos cerebrais que apresentam
uma matemática onde é sugerido que para cada 3 críticas feitas, seriam necessários 8
elogios compensatórios.

Entenda que esses estudos deixam claro as particularidades e outras tantas


variáveis que exercem seu papel e intensidade emocional específica.

Assim, seu filho receber um elogio seu, terá muito mais potencia emocional que
um elogio de alguém não vinculado emocionalmente a ele.

Infelizmente muitos pais acreditam que o elogio pode “estragar” seu filho, e
perdem a chance de usar essa ferramenta para facilitar o Rapport absoluto que

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

facilitaria muito o processo de formação, inserção de valores e de crenças


fortalecedoras.

A frase aqui é: “Saiba que você tem muitas qualidades!”

PERSEGUIR CONTEÚDOS EDIFICANTES

Como o próprio nome já diz: conteúdos “edificantes”, isto é, que constroem.


Seria tudo aquilo que ao contrário do “lixo mental”, poderá ajuda-lo a potencializar as
estratégias que buscam o equilíbrio e o fortalecimento psíquico.

Bons filmes, bons vídeos, bons livros, boas músicas, boas revistas, boas
conversas, entre muitos outros, fazem parte dos conteúdos edificantes que são grandes
aliados quando se tornam parte de nosso conjunto de hábitos.

Perceba que esse hábito de perseguição por conteúdos que edificam é


exatamente o oposto dos hábitos destrutivos relacionados ao “lixo mental” que já
tratamos.

A busca e a inserção desses hábitos são estratégias vencedoras quando o


assunto é criarmos um ambiente adequado para que nossos filhos sejam criados dentro
dos valores familiares e sem bloqueios que limitem seus potenciais.

A frase aqui é: “Persiga os bons conteúdos que nos motivam, nos equilibram e
nos melhoram como pessoas.”

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O Destruidor
de Hábitos

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O Destruidor de Hábitos
Perdoe-me o trocadilho, mas não encontrei titulo melhor para essa pequena
receita sugerida, capaz de remover hábitos destrutivos.

1- Defina claramente o hábito que deseja remover.


Usaremos como exemplo a Crítica.

2- Encontre qual é o gatilho que dispara esse hábito.


Quando meu filho tapa os ouvidos quando quero dizer-lhe algo.

3- Verifique se não há alguma crença limitante relacionada ao hábito. Caso haja,


retorne à etapa das crenças limitantes para realizar a estratégia de superação e
inserção de crenças fortalecedoras.

4- Defina claramente qual é o dano/prejuízo que esse hábito gera.


Afasto-me de meu filho e ele se sente mal, inseguro, culpado e reduz sua
autoestima.

5- Defina qual será a recompensa/ganho se você conseguir remover esse hábito.


Ficarei mais feliz por conseguir ensinar algo ao meu filho sem que ele se sinta
culpado, inseguro e tenha sua autoestima comprometida.(crença a ser lida
sempre antes do exercício da imaginação.)

6- Qual comportamento acha adequado ao invés da critica?


Queria manter a calma e esperar pela confiança dele. Depois então com calma e
sem criticar, quero conseguir passar minha mensagem. (motivação para ser lida
sempre antes do exercício de imaginação)

7- Crie uma ancora que traga a você um ou mais recursos que deseja possuir no
momento do gatilho.
Ancora de calma e paciência. (reforce a ancora ao menos 1x por semana)

8- Faça um exercício consigo mesmo de imaginação associada e dissociada onde


você vivencia o momento em que ocorre o gatilho e o hábito destrutivo, da
forma ideal, isto é, do jeito que você gostaria de se comportar diante do gatilho.
Procure criar a âncora no momento mais intenso da imaginação onde você
estiver usufruindo dos recursos desejados.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Utilize o exercício de imaginação associada e dissociada. Imagine que está


revivendo um momento onde seu filho tapou os ouvidos quando você queria
falar algo. Esse momento pode já ter ocorrido de fato ou você pode criar um
novo. Só que desta vez você estará agindo do jeito que gostaria de agir. (1x ao
dia pelo menos por 21 dias)

9- Crie uma Afirmação Especifica que esteja ligada ao antídoto do hábito


destrutivo
Estou me tornando cada vez mais calmo e paciente quando meu filho tapa os
ouvidos e quero explicar algo a ele. (10x por dia durante pelo menos 21 dias)

10- Não se esqueça, quando ocorrer o gatilho, dispare a âncora. Não é essencial,
mas pode potencializar muito, especialmente se ocorrer antes dos 21 dias.

IMPORTANTE: tudo que já vimos de técnicas e exercícios onde o foco era o


ajuste de comportamentos diretamente em nossos filhos, pode ser aplicado em
você mesmo! Então, aproveite todo o conhecimento que já tem. NÃO deixe de
tomar atenção a todas as regras e potencializadores de cada técnica. Essa é
apenas uma sugestão, você pode usar a criatividade e ao mesmo tempo em que
trabalha a remoção de seu hábito destrutivo, pode utilizar todas as outras
técnicas também para o ajuste de comportamento de seu filho, como linguagem
hipnótica, hipnopedia, etc.

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O Semeador
de Hábitos

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O Semeador de Hábitos
Hora da receita sugerida para inserir hábitos construtivos e/ou desejados. Nessa
receita utilizei o caso real de um executivo que me procurou para ajuda-lo em algumas
dificuldades que estava enfrentando.

1- Defina claramente o hábito que deseja inserir e seu intervalo.


Meditar 10 minutos diariamente depois de almoçar.

2- Verifique o que em sua rotina poderá ser impactado e seria indesejado pela
inserção desse novo hábito
Vou precisar almoçar mais rapidamente e escolher alimentos mais leves, de fácil
digestão

3- Cheque se em existe alguma crença limitante que possa impedir a instalação do


hábito. Caso exista, retorne para a etapa das crenças limitantes e realize as
estratégias de superação e inserção de crenças fortalecedoras.
Uma crença limitante foi detectada. Acreditava que meditação era coisa muito
complicada e não podia pensar em nada durante a meditação. Realizei a técnica
de inserção de crenças fortalecedoras. Pesquisei mais sobre meditação e descobri
que não é uma atividade complicada, que não se trata de não pensar em nada e
sim de perceber os pensamentos estando concentrado em minha respiração.

4- Defina claramente qual será a recompensa positiva vinculada ao hábito. (crença


fortalecedora)
De acordo com as pesquisas cientificas, após algum tempo de pratica meu
cérebro estará mais desenvolvido e preparado especialmente nas áreas de
controle de emoções, planejamento, memória e raciocínio. (repetiu essa crença
motivadora sempre antes do exercício de imaginação)

5- Defina também um motivador ligado ao dano/prejuízo (medo)


Não fazer meditação pode me levar a um descontrole emocional e acabar
reagindo de forma agressiva em meu ambiente de trabalho. Isso pode me levar a
perder meu emprego. (repetiu essa crença motivadora sempre antes do exercício
de imaginação)

6- Tente encontrar uma alavanca emocional que potencialize sua força de vontade
Meu filho. Quero ter mais calma e aprender a curtir os momentos que estou
com ele de forma plena. (repetiu esse desejo sempre antes de realizar o exercício
de imaginação)

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7- Crie uma âncora com o estado interior similar ao estado gerado pela
recompensa positiva
Criei uma ancora com estado interior de tranquilidade, paciência e calma.

8- Crie um gatilho que será a “deixa” para que o hábito seja lembrado e executado
Na mesa de meu escritório deixei uma almofada que costuma ser usada para
meditação. Assim, sempre que retorno do almoço, VEJO a almofada e me dirijo à
uma área de descanso na empresa onde posso realizar a meditação por 10
minutos.

9- Realize o exercício de imaginação associada e dissociada fazendo uso dos


potencializadores, principalmente a “teatralização”. Sempre utilizando o
gatilho criado nas técnicas de imaginação.
Fiz o exercício da imaginação associada e dissociada como se estivesse vivendo
detalhadamente o momento que retorno do almoço, VEJO e pego a almofada,
dirijo-me para a sala de descanso e faço a meditação. Quando atingi na
imaginação o estado interior mais intenso de calma e tranquilidade, disparei a
âncora já criada anteriormente com esses mesmos estados. Assim potencializei
os estados e a própria âncora que já tinha sido criada. Realizei a teatralização da
rotina que envolveria o hábito. (2x por dia em períodos diferentes durante 2
semanas)

10- Crie uma Afirmação específica vinculada ao gatilho, à rotina e à recompensa.


Estou me tornando cada vez mais calmo, paciente e tranquilo, porque sempre
que retorno do almoço vejo minha almofada e me dirijo à sala de descanso onde
realizo minha meditação. (10x seguidas por dia durante 2 semanas)

11- Sempre que finalizar sua meditação, dispare sua âncora criada para
potencializa-la. Essa âncora poderá ser um importante aliado quando precisar
de calma, paciência e tranquilidade em seu dia a dia.

IMPORTANTE: tudo que já vimos de técnicas e exercícios onde o foco era o


ajuste de comportamentos diretamente em nossos filhos, pode ser aplicado em
você mesmo! Então, aproveite todo o conhecimento que já tem. NÃO deixe de
tomar atenção a todas as regras e potencializadores de cada técnica. Essa é
apenas uma sugestão, você pode usar a criatividade e ao mesmo tempo em que
trabalha na inserção de um novo hábito desejado, pode utilizar todas as outras
técnicas também para o ajuste de comportamento de seu filho, como linguagem
hipnótica, hipnopedia, etc.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Criando
Mini-Hábitos
para seu filho

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Criando Mini-Hábitos para seu filho


Até agora falamos basicamente dos nossos hábitos como pais e como eles
impactam na vida de nossos filhos.

Mas você pode estar se perguntando: “Como podemos criar hábitos em nossos
próprios filhos?”

Foi pensando nisso que dedicamos um tempo adicional nessa etapa relacionada
aos hábitos para desenvolvermos uma forma de usa-los a favor da rotina que
queremos para os pequenos.

O fato é que em se tratando de crianças podemos ter dificuldades no processo


de implantação de hábitos porque ainda não possuem maturidade e projeção de
recompensas complexas.

Com certeza será mais fácil seu filho fazer a lição de casa se você oferecer um
chocolate como recompensa do que tentar convencê-lo das esferas motivacionais. Não
é que seja impossível, porque não é e já tivemos casos de sucesso, mas é muito mais
trabalhoso o processo de inserção de hábitos em crianças.

Não que seja fácil com adolescentes, mas em tese já estão mais conscientes das
necessidades, recompensas e riscos envolvidos em suas rotinas.

A grande verdade é que devemos até evitar que nossas crianças estejam dentro
dos 40% de ações habituais diárias para que possam viver e desenvolver seu sistema
criativo que será muito útil no futuro.

Com a grande automatização e extinção de profissões que deve ocorrer no


futuro por conta da evolução tecnológica, além de inteligência emocional, interpessoal
e intrapessoal, temos que incentivar e lutar para que nossos filhos mantenham-se longe
desses 40% mecanizados até sua fase adulta.

Mas então, o que faremos? Desistimos?

Jamais!

Analisamos um trabalho interessante de Stephen Guise, intitulado Mini Habits,


extremamente alinhado com o que pensamos e entendemos dos resultados mais
recentes que envolvem as terapias comportamentais e as pesquisas neurológicas.

E foi baseado nele que fizemos nossas contribuições para sugerir como
podemos utilizar os Mini Hábitos em nossa missão de educadores.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Um Mini Hábito é uma versão mais simples de um hábito maior e mais


complexo.

Se criarmos um hábito muito pequeno é quase impossível que não seja feito.

A grande “sacada” é que geralmente fazemos mais do que o proposto na


estratégia dos Mini Hábitos, e isso nos dá uma ancoragem cada vez maior de
autoestima e confiança.

Outros pensadores já cansaram de dizer que o segredo é seguirmos devagar e


sempre.

Imagine aprender apenas 5 palavras novas em uma outra língua, por exemplo,
em 1 ano estaremos falando quase 2.000 palavras, percebe?

Ou nos comprometermos a ler 5 páginas de um livro qualquer, possivelmente


em cerca de 2 meses teremos lido um bom livro, 6 em um ano, 30 em cinco anos, 300
em 50 anos.

É impressionante, não é mesmo?

Deixamos de aproveitar o tempo, um de nossos maiores patrimônios, de forma


adequada e produtiva simplesmente porque nos parece cansativo, exaustivo e distante
realizarmos algo se projetarmos todo o tempo que precisaremos dedicar em
determinada tarefa.

Dessa forma, acreditamos que o ideal para nossos pequenos, seja escolhermos
muito bem até 5 Mini Hábitos conforme as necessidades e o momento de nossos filhos.

Sugerimos no máximo 5 porque certamente o acúmulo do tempo necessário


acabará por tornar-se cansativo para os pequenos.

Estamos fazendo sugestões baseadas na experiência e nos respaldos das


pesquisas, mas entendemos que isso não é suficiente para esgotar o assunto e suas
possibilidades.

A intenção é facilitar e sugerir outra receita que pode ser aplicada por você
como apoio no desafio da criação.

Outro ponto relevante, sugerimos que cada mini-hábito criado para a criança,
não ultrapasse 5 minutos, e que também não sejam sequenciais.

É isso aí, 5 x 5 = 25 minutos. Esse é o tempo máximo que sugerimos para o dia.
Então escolha bem esses mini-hábitos.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Não contemplamos nessa etapa rotinas higiênicas e obrigatórias. Queremos


propor um algo a mais, um foco diferenciado que poderá contribuir na saúde física e
psíquica de nossos filhos.

Veja algumas vantagens que associamos a essa estratégia.

1- Não há barreira mental, são tarefas pequenas que não nos leva ao desânimo
projetado por uma atividade que precisaria de mais esforço e tempo.

2- Superação frequente. Como estamos falando de tarefas muito pequenas, quase


sempre conseguimos superar o que nos comprometemos e assim estamos sempre
fazendo mais, isto é, elevamos e ancoramos nossa autoestima nesse “bônus”

3- Não há fracassos e frustrações. Diferente de rotinas que exigem mais força de


vontade, como são muito rápidas e exigem pouco, não há os fracassos e frustrações
comuns que acabam aniquilando aos poucos a confiança e a autoestima.

4- Realização constante. Como o conjunto de até 5 Mini-Hábitos ainda se traduz em


um tempo muito pequeno, podemos projeta-lo por um longo período de tempo,
adaptando as tarefas que forem se tornando prioridade.

Muito bem. A sugestão é que você crie um pequeno quadro, que você pode até
replicar colocando em locais visíveis.

Se conseguir manter a proximidade dos horários sempre que fizer uma


determinada tarefa, melhor, mas não é essencial. O importante mesmo é que as 5
tarefas sejam completadas ao final do dia. Ok?

Estamos deixando uma sugestão de mini-hábitos a seguir. Mas lembre-se que é


apenas uma sugestão e você deve analisar o momento e necessidades de seu filho.

MINI HÁBITO 1 – O PODER DA ORAÇÃO

Vamos deixar bem claro que não estamos falando de religião aqui, ok? Cada um
tem a sua e muitos nem sequer gostam de religião. Nosso objetivo aqui é tratar dos
benefícios comprovados pelos estudos científicos.

Em sua grande maioria, pessoas que oram possuem sistemas imunológicos


mais fortalecidos, se curam mais rápido, tendem a ter menos medo e ansiedade,
apresentam condutas mais humildes e são mais positivas.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Não vamos confundir religião com a religiosidade que faz com que
transcendamos o mundo das coisas e nos eleva a um padrão energético superior.

Sob o aspecto psicanalítico, quando oramos é como se nosso Ego fizesse uma
ponte até o Self.

Recorde-se da pirâmide dos níveis neurológicos. Ela mostra em seu topo a


transcendência, que é alcançada sempre que conseguimos enxergar além de nós, ou
seja, além do Ego.

A oração tem um papel terapêutico importante que nos desperta para a


existência de algo maior do que nossos olhos podem captar e encontra consolo para
explicar tudo que não há explicação ainda, e que talvez nunca seja explicado,
auxiliando muito no combate ao grande mal da sociedade moderna: o vazio existencial
individual e coletivo.

Ensine e habitue seu filho a orar de forma que ele consiga perceber que há algo
muito maior que nós mesmos. (1-2 minutos já são suficientes para esse mini-hábito).

MINI HÁBITO 2 – ATENÇÃO PLENA

Atualmente já é comum encontrarmos muitas expressões e técnicas ligadas à


Atenção Plena, ou se preferir, Mindfullness.

O objetivo da atenção plena é que paremos por alguns instantes para ouvirmos
o que nosso corpo diz e percebermos o que estamos pensando e sentindo.

Segundo algumas pesquisas e estudos realizados com crianças, esse tipo de


hábito traz resultados muito positivos no controle de emoções e concentração.

Ensine e habitue seu filho a realizar esse exercício de atenção plena, parando
por um instante, respirando algumas vezes profundamente e perceber o que está
sentindo e pensando. (2-3 minutos já são suficientes para esse mini-hábito).

MINI HÁBITO 3 – GRATIDÃO

Como já vimos nas notas das 14 Crenças Capitais em etapas anteriores, a


gratidão traz benefícios comprovados ao nosso corpo físico e psíquico.

Crianças costumam ter um pouco de dificuldade para identificar o que


agradecer. Uma boa dica é induzir seu filho a pensar como seria caso não tivesse algo,
e então identificar seu valor emocional.

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Por exemplo, se você disser ao seu filho para que imagine como seria se não
tivesse um pai ou uma mãe, ele imediatamente identificaria um valor afetivo vinculado
e, portanto, estaria pronto para agradecer por ter um pai ou uma mãe.

Ensine e habitue seu filho a realizar esse exercício de gratidão dizendo a ele
para agradecer de forma sincera tudo que desejar. (1-2 minutos já são suficientes para
esse mini-hábito).

MINI HÁBITO 4 – LEITURA DE UMA DAS 14 CRENÇAS CAPITAIS

Como você já sabe, o sistema de crenças é uma das peças mais importantes em nosso
mundo psíquico.

Assim, resolvemos sugerir nesse mini-hábito uma forma de manter essas crenças
presentes na vida de nossos filhos, potencializando elas através da habitualidade, ou seja, da
fixação pela repetição, como já estudamos nas Afirmações.

Na verdade, o mini-hábito aqui é reapresentar sempre uma das crenças fortalecedoras.


Imagine que em 3 meses seu filho terá tido contato no mínimo 6 vezes com cada uma das crenças
capitais que consideramos importantes no processo de formação dos pequenos.

Habitue seu filho a ler ao menos uma crença fortalecedora por dia. (1-2 minutos já são
suficientes para esse mini-hábito).

MINI HÁBITO 5 – FALA OU ESCRITA TERAPÊUTICA

Esse é um dos meus preferidos.

Oferecer um tempo do dia para que seu filho rapidamente exponha o que está sentindo,
tal como seus medos, ansiedades, frustrações e desejos, transformará seu filho em um ser
preparado para lidar com suas próprias emoções.

É como se todos os dias seu filho estivesse esvaziando sua cesta de tensões emocionais.
Isso resultará em uma harmonia psíquica capaz de facilitar toda sua jornada de crescimento.

Entendo ser relevante dizer que, o que seu filho disser ou escrever, não deve ser
discutido ou criticado. Ele precisa ter a clara impressão de que não há filtros e limites durante o
exercício.

Caso perceba alguma resistência de seu filho por algum receio de seu julgamento, sugira
que ele escreva tudo o que quiser e depois “rasgue e jogue fora”. A meta aqui é que seu filho crie
um sistema de output de tensões emocionais.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Você deve sugerir ou intervir apenas se ele pedir seu auxilio.

Se levar esse mini-hábito a sério, é bem capaz que você não precise fazer uso de mais da
metade do conhecimento que apresentamos nesse livro. Maravilhoso isso, não?

É hora de mencionar novamente, que tudo que estamos vendo e aprendendo a cada etapa
dessa obra, se entrelaça e se complementa incessantemente.

Outra dica para esse hábito é que seja realizado apenas no final do dia.

Ensine e habitue seu filho a realizar o exercício da fala ou escrita terapêutica. Vocês
podem ouvi-lo por um pequeno tempo, ou ele pode se preferir, escrever tudo o que esteve ou
ainda está em seu mundo interior desde que acordou até o momento do exercício. (3-5 minutos
serão suficientes para esse mini-hábito).

Muito bem. Agora você já sabe como usar a estratégia dos mini-hábitos a favor
de seu filho.

Mas assim como fizemos com os hábitos construtivos e os hábitos destrutivos,


onde focamos basicamente os nossos hábitos como pais, além dos mini-hábitos que
usamos até aqui com o conceito positivo, temos alguns hábitos que precisamos evitar
que ganhem espaço na vida de nossos filhos.

Também fizemos uma pequena lista sugerida, mas sem dúvidas cada criança ou
adolescente terá seus próprios hábitos que podem ser considerados equivocados.

Segue a lista dos hábitos que sugerimos que sejam combatidos na rotina de seu
filho:

1- Tempo excessivo na internet e no uso de eletrônicos (celulares, tablets, computadores,


jogos, etc)
2- Gritar com os pais
3- Agir agressivamente quando não tem o que deseja
4- Desleixo e desorganização com seus brinquedos e material escolar
5- Linguagem vulgar e uso de palavrões
6- A preguiça
7- A procrastinação
8- O isolamento excessivo
9- O Egoísmo

A regra que você deve utilizar para compor sua própria lista de hábitos
indesejados é o desrespeito aos valores que você considera essenciais. Desta forma a
sua lista pode ser completamente diferente ao que sugerimos que deva ser combatido.
Ok?

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Técnicas
Bônus

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O Negociador de Comportamentos
Penso que se fizéssemos uma analogia entre o ser humano e uma fruta, sem
dúvidas poderíamos dizer que seríamos muito próximos de um cacho de uva.

Temos muitas partes dentro de nós, ao contrário do que muitas teses simplistas
insistem em dizer.

Dentro de nós existem personagens com características distintas prontas para


serem utilizadas ao nosso chamado, e em alguns casos também sem o nosso chamado.

Fizemos a elaboração de um exercício seguindo algumas adaptações de


programação neurolinguística, exercícios de terapia cognitiva comportamental e
processos psicanalíticos, capazes de ajudá-lo na solução de conflitos e substituição de
comportamentos indesejáveis.

Tivemos o cuidado de pensar em algo que tivesse chances de sucesso quando


estamos querendo ajudar crianças e a adolescentes.

Esse exercício que vamos expor logo mais é na verdade uma espécie de jogo
que envolve uma dinâmica muito poderosa de negociação de nossas partes.

Recomendamos que esse exercício seja tentado em crianças a partir dos 8 anos
apenas, e obviamente, o perfil e maturidade da criança deve ser verificado para que
tenhamos êxito na execução da técnica. Para crianças menores, o Rapport, as metáforas,
a hipnopedia e a teatralização (com ou sem brinquedos) serão alternativas melhores.

A fundação, ou melhor, a “pedra filosofal” desse “jogo” parte da certeza de que


TODO COMPORTAMENTO TEM UMA INTENÇÃO POSITIVA.

Em outra oportunidade já foi dito isso, mas vale aqui uma explicação mais
detalhada e embasada.

Precisamos entender que um comportamento mesmo que indesejado aos


“olhos” do EGO, traz uma mensagem nas entrelinhas com o intuito de alguma
recompensa, ou seja, algum benefício que supra os desejos e interesses de alguma parte
de nosso mundo interior.

Nós sabemos que o Ego é apenas uma parte muito pequena de nosso mundo
psíquico e isso explica porque geramos comportamentos indesejados independente de
nosso desejo aparente.

Parece confuso, mas mesmo quem comete crimes das mais diversas gravidades,
também está atendendo as requisições de alguma parte interna. Seja o roubo para

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suprir uma carência material, seja a violência para atender sua parte raivosa ou
qualquer outra contravenção que vise o interesse do EGO criminoso ou ignorante.

Isso não é difícil de detectar dentro de nossos próprios mundos psíquicos.


Imagine você que qualquer comportamento indesejado que possuímos também quer
atender alguma requisição de alguma de nossas partes internas.

Assim, a intenção é positiva para essa parte que deseja atender alguma lacuna
que possuímos, mas ela disputa sua energia com outras partes.

A busca do equilíbrio psicológico precisa estar alinhada com a negociação


dessas partes internas que reclamam atenção para serem percebidas pela nossa
consciência.

Quando você come em demasia e arrepende-se depois, está atendendo alguma


parte sua que demanda atenção, mas que está afetando outras partes em sua totalidade
como ser.

Voltando ao nosso mundo, na qualidade de pais, quando dedicamos atenção


demais aos nossos trabalhos em detrimento do tempo com nossos filhos, estamos
dando uma atenção prioritária à nossa necessidade de prover as condições de
sobrevivência a todos da família, porém, outras partes nossas que desejam dar atenção
maior aos filhos, curtir a vida e ter um tempo para nós mesmos, ficam desatendidas.

A proposta dessa técnica é essa, negociar essas partes dividindo nossa energia
psíquica para atender e controlar cada uma delas.

Não podemos fechar nossos olhos e negar que todos temos uma vida não
vivida. Aquela que desejamos experimentar muitas vezes, mas que o mundo e suas
exigências nos aprisionam em um castelo sem acesso aos portões de saída.

Essa técnica que vamos apresentar pode contribuir muito para que possamos
integrar nossas partes e conviver com todas elas em harmonia dando atenção especial
aos desejos de nossa alma sobrepondo os padrões materialistas e vaidosos do mundo
contemporâneo.

Pode ser usada para mudança de comportamentos, ressignificação de culpas e


qualquer incongruência que sinta entre o que está fazendo e seu estado de paz interior.

Como já falamos, as adaptações foram feitas para atender o universo infantil,


mas você pode usar com grandes chances de êxito em qualquer pessoa.

Nesse “jogo” teremos 4 personagens, onde 3 delas serão realizadas pela própria
criança ou adolescente, e 1 será executada por outra pessoa.

Vamos às apresentações:

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Na escolha dos nomes e das posições desse jogo, uma boa dose dos conceitos
arquetípicos estudados na psicanálise foi utilizada.

Mas obviamente precisaremos explicar qual é a função de cada um nesse “jogo”


que vamos apresentar.

O GUARDIÃO

Representa a nossa parte que está gerando o comportamento indesejado.


Lembre-se que todo comportamento tem uma intenção positiva para atender
requisições próprias e particulares, assim “O Guardião” está protegendo algum
interesse que precisamos descobrir.

O CRIATIVO

Como o próprio nome já diz, representa a parte criativa dentro de nós. Aquela
que busca a solução diante de qualquer necessidade que temos.

É essa parte que buscará alternativas, ou melhor, comportamentos que atendam


a demanda do “Guardião” e desta forma o comportamento indesejado se tornará
desnecessário.

O NEGOCIADOR

Representa nossa condição de imparcialidade diante das partes. O que


realmente queremos não é apenas eliminar o comportamento indesejado, mas atender
essa demanda interna que gerou o mesmo.

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É a nossa parte que administra todos nossos interesses internos em busca do


equilíbrio. O negociador é quem vai propor ao “Guardião” as opções de novos
comportamentos geradas pelo “Criativo” que podem atender sua demanda,
eliminando assim o comportamento indesejado.

O ANJO

Trata-se de alguém que pode apoiar as outras 3 partes durante os seus


momentos no exercício.

O Anjo pode ser o pai, a mãe, um terapeuta, e até um amigo que tenha
condições de conduzir a criança ou adolescente durante a execução do exercício.

Ajudará o “Negociador” a assumir a postura de negociação e imparcialidade, o


“Guardião” a expor sua real intenção positiva e a aceitar as opções pensadas e o
“Criativo” a elaborar alternativas que atendam a necessidade do “Guardião”.

Evidente que essa “peça” do jogo terá chances de maior êxito se estiver em
sintonia, isto é, em Rapport com o verdadeiro “jogador”.

Tratamos como “jogador” a criança ou adolescente que desenvolverá a ação


isolada das partes do “Guardião”, do “Criativo” e do “Negociador”.

O TABULEIRO DO JOGO
O “tabuleiro” deste jogo na verdade é bastante simples e você poderá adaptar
de acordo com suas possibilidades.

Pensamos nas posições seguindo critérios e estudos da mente, e chegamos à


conclusão que a criação dos espaços psicográficos para cada uma das “peças” do jogo
seria extremamente necessária para o melhor aproveitamento da técnica.

Precisaremos de 4 cadeiras, onde cada uma representará uma “peça” em nosso


jogo.

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A disposição inicial será a seguinte:

Perceba que o “Guardião” e o “Criativo” em nenhum momento se conversam


no jogo. Isso representaria o conflito das partes. Sim, esses mesmos conflitos que
vivemos internamente.

Por isso não nos sentimos congruentes diante de um comportamento


indesejado, ele representa um conflito entre partes nossas.

O “Negociador” utiliza o “Anjo” como apoiador, direcionador e conselheiro.


Assim como o “Anjo”, o “Negociador” dialoga com todas as peças do jogo.

O “Anjo” ajuda o jogador a focar-se no papel que está exercendo no espaço


psicográfico de cada uma das partes, garantindo que nenhuma informação ou
oportunidade se perca na execução da técnica.

Vamos agora ver como realmente essa técnica funciona?

1º. Passo – Organize as 4 cadeiras na posição inicial que sugerimos

2º. Passo – Defina quem será o “Anjo”

3º. Passo – O “Anjo” busca Rapport com a criança ou adolescente que será o
jogador, explicando como será o jogo, deixando claro que dentro de nós existem muitas
partes, apresentando os personagens (peças), quais são as suas funções e suas
respectivas cadeiras. Aconselhamos que imprima ou escreva em um papel o nome de

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cada posição colando o mesmo no encosto da cadeira, assim sempre que o jogador
estiver em uma determinada posição não se confundirá.

4º. Passo – Mantendo as cadeiras na posição inicial, o “anjo” senta-se na sua


cadeira e o jogador senta-se na cadeira do “negociador”. Perceba que a cadeira do
“anjo” está direcionada para a lateral direita do “jogador”.

5º. Passo – O “negociador” move sua cadeira para que ela fique exatamente de
frente para a cadeira do “Guardião”, convida a parte que representa o “Guardião” para
participar do jogo, e pergunta: “Guardião, qual é a sua intenção positiva quando gera o
comportamento xxxxxxxxxx (discorra o comportamento e quando ocorre com exatidão)?”

Exemplo: “Qual é a sua intenção positiva quando não estuda para os testes da escola?”

6º. Passo – Ainda com as cadeiras alinhadas, o jogador move-se para a cadeira
do “Guardião”. O “Anjo” pede que o jogador feche os olhos e tome algumas
respirações profundas e assuma o papel do Guardião, tentando encontrar qual é a
intenção positiva (recompensa) que possui quando gera o comportamento indesejado.
O “Anjo” permanece instruindo cada parte, nesse passo pode repetir a pergunta
algumas vezes sempre falando de forma clara, suave e tranquila. No caso das crianças
o “Anjo” pode fazer perguntas para obter sim ou não do “Guardião” uma vez que pela
pouca idade seja complicado para o pequeno entender e perceber o que está por traz de
um comportamento. Nesse passo o “Anjo” deve anotar a intenção positiva do
“Guardião”.

Exemplo: “O guardião diz que não estuda para as provas porque prefere ter um motivo para não
ter bons resultados. Tem medo que seu esforço não traga boas notas e os pais achem que não é
inteligente. Prefere a atenção e reação dos pais diante de avaliações ruins por não esforçar-se, do
que uma possível decepção por perceberem que mesmo estudando não teria sucesso.”

7º. Passo – O jogador retorna então para a cadeira do “negociador” e antes de


mover a mesma para que fique exatamente em frente à cadeira do “Criativo”, agradece
ao “Guardião” pela intenção positiva. O “Anjo” instrui o “negociador” a pedir ao
“Criativo” que elabore 3 ações que possam atender a intenção positiva de evitar notas
ruins e a possível decepção dos pais.

8º. Passo – O jogador senta-se na cadeira do “criativo”. O “Anjo instrui que o


jogador tome algumas respirações e assuma o papel do “Criativo” na busca de solução,
sem filtros ou julgamentos. Apenas buscando criar as melhores soluções possíveis. O
“Anjo” pode auxiliar sugerindo aprimoramentos das soluções criadas. Como nosso
alvo são as crianças, nessa etapa o “Anjo” acaba exercendo um papel de
convencimento, uma vez que as crianças costumam ter maior dificuldade para
encontrar “soluções” nesse contexto. Diante de um possível “congelamento” ou
dificuldade do jogador nesse passo, o “Anjo” trabalha como a própria parte criativa da

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criança. É preciso que a criança diga quais sãos as alternativas criadas, mesmo que
sugeridas pelo “Anjo”. O “Anjo” deve tomar nota das sugestões criativas, no caso,
estamos falando de 3, usando a mesma matemática estratégica que utilizamos na
gestão do sistema de crenças.

9º. Passo – O jogador retorna para a cadeira do “Negociador” e antes que seja
posicionada novamente à frente da cadeira do “Guardião”, deve agradecer ao
“Criativo” pelas alternativas sugeridas. O “anjo” explica ao “negociador” que ele
precisa dizer ao “Guardião” quais foram as sugestões sugeridas pelo “criativo” para
atender a intenção positiva por trás do comportamento indesejado. Uma vez que o
“Anjo” as possui anotadas, passa uma a uma ao “Negociador” que deve falar
diretamente à cadeira do “Guardião”.

O “negociador” diz qual é primeira alternativa – Ex: o “criativo” sugeriu o diálogo sincero
com os pais sobre o que sente e seus medos de pensarem que ele não é inteligente o bastante.

Dita a primeira alternativa, o jogador dirige-se à cadeira do “Guardião” e o “Anjo”


repete qual foi a sugestão dada pelo “Criativo”. Nesse momento, o jogador precisa ser
orientado pelo “Anjo” para representar novamente a parte guardiã responsável pelo
comportamento indesejado. Assim, o “Guardião” deve avaliar se o “novo”
comportamento sugerido pelo “Criativo” e trazido pelo “Negociador”, pode ou não
ajudar na intenção positiva que o leva a gerar o comportamento indesejado. O “Anjo”
deve anotar se a alternativa sugerida foi aceita ou não pelo “guardião”. O jogador
retorna à cadeira do “Negociador”.

O “Negociador” diz qual é a segunda alternativa – Ex: o “criativo” sugeriu que fosse
realizado estudo dedicado nas próximas provas para que os resultados pudessem ser avaliados,
não tomando atitudes baseadas em “medo”. É preciso levar em conta as chances dos resultados
serem satisfatórios e que os pais já estão desapontados pelo esforço não realizado.

Dita a segunda alternativa, o jogador dirige-se novamente à cadeira do “Guardião” e o


“Anjo” repete qual foi a sugestão dada pelo “criativo”. O “Guardião” deve avaliar se o
“novo” comportamento sugerido pelo “Criativo” e trazido pelo “Negociador”, pode ou
não ajudar na intenção positiva que o leva a gerar o comportamento indesejado. O
“Anjo” deve anotar se a alternativa sugerida foi aceita ou não pelo “Guardião”. O
jogador retorna à cadeira do “Negociador”.

O “negociador” diz qual é a terceira alternativa – Ex: o “criativo” sugeriu que fossem feitas
as aulas de revisão e reforço que a própria escola oferece. Nessas aulas poderá verificar se tem

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domínio ou não dos conteúdos, depositando ou não um possível insucesso nas avaliações a
outros fatores que não a falta de inteligência ou à falta de estudo.

O “Guardião” deve avaliar se o “novo” comportamento sugerido pelo “Criativo” e


trazido pelo “Negociador”, pode ou não ajudar na intenção positiva que o leva a gerar
o comportamento indesejado. O “Anjo” deve anotar se a alternativa sugerida foi aceita
ou não pelo “Guardião”. O jogador retorna à cadeira do “Negociador”.

• Se uma ou mais alternativas não forem aceitas pelo “Guardião” o jogador deve retornar
e repetir o 8º. Passo, e depois o 9º Passo. Esse ciclo se finaliza quando 3 alternativas são
aceitas pelo “Guardião”.

10º. Passo – Levando em conta que 3 alternativas sugeridas pelo “Criativo”


foram aceitas pelo “Guardião”, o “Negociador” posiciona as duas cadeiras (do
“Guardião” e do “Criativo”) frente a frente, e posiciona a sua ao centro das duas.
Sentado em sua cadeira, o “Negociador” diz ao “Guardião” que sua mão esquerda o
representa, e diz ao “Criativo” que sua mão direita o representa.

O “Anjo” diz ao “Negociador” que deixe cada uma de suas mãos deitadas sobre cada
perna com as palmas voltadas para cima, pedindo para que agradeça (falando) tanto o
“Guardião” como o “Criativo” pelo empenho em encontrarem o equilíbrio através dos
ajustes de comportamento.

11º. Passo – Ainda na mesma posição solicitada no 10º. Passo, o “Negociador”


deve receber a instrução do “Anjo” para que mantenha seus olhos fechados, e diga a si
mesmo que se houver mais alguma parte que queira ser atendida, ela será atendida no
momento certo.

12º. Passo – O “Anjo” instrui o “Negociador”, ainda de olhos fechados, que una
suas mãos e entrelace seus dedos como sinal de união e acordo das duas partes. Após 5
segundos nessa posição o “Negociador” pode abrir os olhos e distanciar as mãos.

13º. Passo – Ainda sentado na cadeira do “Negociador” e as cadeiras do


“Guardião”e do “Criativo” permanecerem de frente uma para outra, o “Anjo” pede
que o “Negociador” levante-se da cadeira e que fique em pé atrás da cadeira do
“Negociador”. Então o “Anjo” solicita ao jogador que feche novamente seus olhos e
imagine, de forma associada, uma situação no futuro onde ele estará agindo de acordo
com os 3 novos comportamentos acordados entre as partes ao invés do comportamento
indesejado.

14º. Passo – Esse é o passo da “documentação do acordo”. O “Anjo” prepara


um documento simples, que pode ser o próprio modelo que usou nas anotações da

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intenção positiva e das alternativas sugeridas pelo “Criativo”, e aceitas pelo


“Guardião”. Ao final das anotações deverá incluir o seguinte:

“E assim, a parte responsável pelo antigo comportamento indesejável (Guardião) que possuía
uma intenção positiva, e a parte responsável pelos novos comportamentos sugeridos capazes de
atender a mesma intenção positiva, acordam-se entre si buscando o equilíbrio integral do
jogador.”

Negociador Guardião Criativo Anjo


(testemunha)

Acho que não preciso dizer que esses comportamentos novos sugeridos
precisam de fato ser realizados para que o acordo seja cumprido. Caso contrário o
quadro indesejado não mudará.

Ufa! Sabemos que parece longo o exercício. Mas depois de se habituarem não
levará mais de 15-20 minutos para finalizar o “jogo”.

Principalmente se a pessoa que for representar o “Anjo” já tiver em mente


algumas sugestões para discutir com o “Criativo”.

Não pule nenhum passo desse exercício. Evitamos fazer maiores comentários
para não correr o risco de deixarmos essa etapa muito grande e cansativa.

Só tenha em mente que todos os passos seguem embasamentos psicanalíticos e


neurolinguísticos.

Nas entrelinhas desse exercício existem muitas variáveis como crenças


limitantes, traumas, complexo materno e paterno, níveis neurológicos, teatralização,
ritualização, ressignificação, recontextualização, imaginação, entre outras.

Esse exercício é muito fértil e pode trazer informações importantes a respeito do


jogador, sendo útil para ajuste de crenças, gestão de hábitos e oferecer outras condições
de aprimoramento associadas a todo material que trouxemos nesse livro.

Portanto, faça uso dessa técnica bônus sempre que precisar.

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Lidando com as críticas


Após algumas análises a respeito dos atendimentos que fizemos e da
observação contínua da maneira como as pessoas comportam-se em diferentes locais
do mundo, independentemente da cultura e educação de um povo, percebemos que de
todos os hábitos destrutivos, a “Crítica” poderia ser considerada um dos 3 piores,
senão o mais prejudicial ao convívio humano harmônico.

Então achamos que esse hábito merecia uma ajudinha a mais.

Vamos apresentar uma técnica que você pode utilizar em suas relações e
ensinar seu filho a lidar com as críticas tirando proveito delas.

Antes, precisamos pontuar que quando falamos das relações entre pais e filhos,
o ideal é que procuremos sempre deixar claro aos nossos pequenos que “Pais” não
criticam os filhos, e sim “Orientam”.

O fato dos pais serem a fonte de maior intensidade psíquica no mundo mental
dos filhos e o desejo desses em atender às expectativas de seus ascendentes, pode fazer
com que nossas orientações soem sempre como críticas e não como orientações.

É claro que a forma como realizamos essas orientações contribuem para que as
mesmas sejam consideradas como críticas ou não.

Portanto, nunca é demais repetir isso aos nossos filhos. Sem dúvida trará um
conjunto positivo na forma como nossas relações com eles se desenrolam com o passar
dos anos.

O fato, psicologicamente falando, é que nós temos a “escolha” de entender uma


orientação ou crítica, como construtiva ou destrutiva.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Pensando em apresentar um modelo que pudesse nos auxiliar nesse processo


de tratamento das críticas, tanto as que fazemos como as que recebemos, chegamos ao
seguinte quadro fundamental:

Já falamos de matemática e de física. Chegou a hora de falarmos de química.

Calma, estamos brincando. Deixe-nos explicar melhor:

F+ = a forma considerada positiva de como a crítica foi feita

F- = a forma considerada negativa de como a crítica foi feita

C+ = quando após análise pessoal uma crítica tem a concordância de quem a recebeu

C- = quando após análise pessoal uma crítica “NÃO” tem a concordância de quem a
recebeu

Muito bem, agora ficou melhor, não é? Perdoe-nos pela travessura.

Mas agora, brincadeiras a parte, vamos usar mais uma vez uma matemática
simples para tentar ilustrar nosso propósito com essa técnica que estamos
apresentando:

F+C+ = gratidão, autoconhecimento, motivação e transformação

“Quando alguém recebe uma crítica de uma forma positiva e após análise concorda com
o conteúdo da mesma, gera em seu mundo interior energias importantes e salutares, como a
gratidão, a motivação e a transformação.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

F+C- = gratidão, autoconhecimento e autoafirmação

“Quando alguém recebe uma crítica de uma forma positiva e após análise não concorda
com o conteúdo da mesma, gera em seu mundo interior duas energias importantes e salutares, a
gratidão e a autoafirmação.”

F-C+ = mágoa, culpa, autoconhecimento e destruição de autoestima

“Quando alguém recebe uma crítica de uma forma negativa e após análise concorda com
o conteúdo da mesma, gera em seu mundo interior três processos destrutivos, a mágoa, a culpa e
a destruição de autoestima.”

F-C- = mágoa, autoconhecimento e revanche/vingança

“Quando alguém recebe uma crítica de uma forma negativa e após análise não concorda
com o conteúdo da mesma, gera em seu mundo interior dois processos destrutivos, a mágoa e o
desejo de vingança.”

Obs: Evidente que em cada uma dessas 4 “fórmulas” é possível a geração de outros estados
interiores de acordo com a individualidade e história de cada um. Nossa tentativa é ao menos
elencar alguns dos principais.

Se observar atentamente essas fórmulas apresentadas, possivelmente vai


perceber que quem dá o maior tom emocional de uma crítica é a “FORMA” com que
ela é feita.

Após a autoanálise de quem recebe uma crítica, a concordância ou não é quem


de fato transforma a crítica em uma ferramenta construtiva de autoaprimoramento, ou
em destrutiva capaz de levar à tona sentimentos ruins dentro de nós.

Em nossas relações fazemos ou somos alvos constantes de orientações e críticas.

Se nosso Ego estiver desestruturado ou despreparado, possivelmente sempre


vamos “rebater” as críticas logo em seguida, perdendo assim a chance de utilizá-las ao
nosso favor no processo de autoconhecimento e autoaprimoramento.

É a chance do “Ego” utilizar um dos seus mecanismos de “defesa” ou de usar


suas potencialidades construtivas para a reforma íntima.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Não vamos falar muito sobre isso, mas perceba sempre quando os seguintes
mecanismos de defesa do “Ego” podem estar “cegando” sua percepção, tanto quando
você é a origem da crítica, como quando é o alvo dela.

Compensação: para compensar algum defeito ou fragilidade, costumamos desenvolver


outras aptidões. Ex: timidez compensada por intelectualidade. Não é raro criticarmos
usando essa aptidão desenvolvida. O Ego acredita que tal aptidão o isenta da
necessidade de desenvolver o que não está bom em nós.

Deslocamento: quando sentimos raiva ou animosidade contra algo ou alguém, e as


circunstâncias não permitem nos expressarmos, nosso Ego costuma deslocar-se para
reações com violência a objetos ou pessoas não envolvidas na problemática. Ex: impulsão
por alimentos ou quando “descontamos” em nossos filhos nossas frustrações no
trabalho. Nesse processo de “descontarmos” acabamos por utilizar críticas destrutivas e
destemperadas.

Projeção: necessidade de combater nos outros aquilo que é desagradável em nós


mesmos. Aquilo que não admitimos ou desconhecemos (Sombra) de negativo em nossa
essência. Também ocorre com qualidades e potencialidades que gostaríamos de ter e
vemos em outras pessoas. Ex: existem pessoas que nos incomodam muito quando estão
por perto ou algumas características de nossos filhos que nos irritam profundamente,
nossas críticas geralmente mostram essa projeção defensiva.

Introjeção: achamos que as qualidades das pessoas, ou dos filhos, nos pertencem. Ex:
criticamos filhos de outras pessoas como se as características dos nossos nos
pertencessem. Às vezes, introjetamos características de pessoas que admiramos e heróis,
pensando que somos a “persona” que estamos usando, e temos a falsa impressão que isso
nos coloca em posição de juízes.

Racionalização: quando achamos motivos lógicos e aceitáveis para pensamentos e


ações inaceitáveis. A razão e o intelecto nos afastam do eu profundo (Self). Podemos
dizer que é um dos piores, senão o pior dentre os mecanismos de defesa do Ego. É o
mecanismo das desculpas que usamos para não assumirmos nossa responsabilidade
pelos nossos erros. Criticamos muitas vezes usando essa racionalização. Ex: o que os
ditadores ou lideres radicais conseguem de aprovação quando apresentam motivos
racionais e lógicos para explorar a “sombra” coletiva de um grupo ou povo.

Repressão ou Recalque: fazemos questão de esquecer coisas desagradáveis,


escondemos as lembranças incômodas e emoções dolorosas. Afastamos essas experiências
desagradáveis da consciência e as transformamos assim em um material reprimido na
alma (psique). Esse mecanismo pode nos levar à crítica e a autocrítica destrutiva de
forma inconsciente. Ex: as pessoas querem esquecer o bullying que sofreram quando
crianças e adolescentes ao invés de ressignificá-los/recontextualizá-los.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Regressão: retornamos a um nível infantil diante de problemas e conflitos. Ex: pessoas


que se infantilizam quando ficam doentes pensando que somente serão “cuidadas” se
ficarem doentes, criticando os demais pela falta de atenção ou tudo ao seu redor, cedendo
à sua necessidade de vitimização.

Conhecer e detectar esses mecanismos de defesa de nosso “Ego”, e a medida do


possível levá-los também ao conhecimento de nossos filhos no processo de formação,
pode fazer toda diferença na forma como nossas relações se desenvolvem e se tornam
prazerosas e construtivas.

Além disso, a identificação destas defesas certamente tenderá nossas


orientações para o formato construtivo quando as fazemos, assim como quando
recebemos críticas ou orientações, podemos controlar nosso ímpeto pelo “rebate”
imediato, perdendo a chance de usá-las ao nosso favor.

Também é preciso que percebamos se não estamos criticando algo ou alguém


pela influência de nossos balões (complexos) de superioridade, heroísmo e de poder,
OU se não estamos rebatendo ou sucumbindo diante de uma crítica por estarmos
impactados pelos nossos balões (complexos) de inferioridade, culpa ou de abandono.

Apesar de não ser o foco dessa etapa, também é preciso ter atenção à forma
como fazemos os elogios aos nossos filhos, evitando que inflemos o Ego dos mesmos e
seus balões de superioridade.

Ao invés de elogiarmos assim: “Você é o melhor! Muito melhor que todos os


demais!”, devemos tentar dessa forma: “Você é muito bom nisso. Se continuar assim
ficará cada vez melhor!”.

Perceba que o segredo é evitar o destaque comparativo com os outros, o que


pode levar a uma percepção equivocada de superioridade de quem recebe o elogio.

Na prática, tratando-se de uma crítica, o desafio para quem a recebe é não


deixar o Ego “se doer” e para quem faz, o desafio é não deixar que o Ego “se infle”.

COMO FAZER UMA CRÍTICA?

Sejamos francos. Tratando da relação que temos com nossos filhos,


praticamente vivemos em função das orientações. Com tudo que já falamos nessa
etapa, é hora de finalmente sugerir como podemos fazer uma crítica.

1- Verifique se a orientação que vai fazer não está impactada por padrões
negativos herdados de sua criação ou por algum dos mecanismos de defesa de

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

seu “Ego”. Se usar esse filtro, terá um poder incrível para que seus filhos
entendam sua crítica como orientações, além de reduzi-las exponencialmente.
Muito provavelmente, na maioria das vezes, você acabará fazendo a
orientação/crítica ao seu filho de forma impulsiva. Mas sabendo tudo que já
sabe, você poderá “consertá-la” a tempo.

2- Utilize uma FORMA POSITIVA de orientar com uma fala calma, suave e
linguagem corporal de acolhimento. Sempre importante citar o Rapport, a
linguagem preferida de seu filho e todo o arsenal de possibilidades que já
vimos, como aliados essenciais nos processos de orientação.

Exemplo da forma positiva de se fazer uma orientação construtiva ao seu filho:

“Filho, entendemos que não é fácil para você. Mas gostaríamos que você pensasse se a
forma como tem falado conosco não tem sido agressiva. Nós amamos você e queremos o
melhor para você. Talvez se você nos dissesse se há algo que possamos fazer para ajuda-
lo isso seria resolvido.”

ENTENDEMOS -> EXPOMOS A CRÍTICA -> OFERECEMOS AJUDA

Modelo CORRETO

Como citamos um exemplo que reflete a forma positiva de fazermos uma


crítica, podemos também apresentar um que reflete a forma negativa:

“Você não tem jeito mesmo! Isso é jeito de falar conosco? Parece um animal. É essa a
educação que estamos lhe dando? Seu mal criado, etc...”. Na forma negativa a fala é alta
e agressiva, além da postura estar associada ao enfrentamento na busca da submissão do
ouvinte.

DEPRECIAMOS -> POTENCIALIZAMOS A CRÍTICA -> IMPOMOS SUBMISSÃO

Modelo ERRADO

COMO REAGIR DIANTE DE UMA CRÍTICA?

Sabermos como agir diante de críticas e nos esforçarmos para atendermos essa
receita que vamos passar sem permitir que os processos destrutivos se instalem em
nosso mundo psíquico fará de nós pessoas autoconhecedoras e autotransformadoras.

1- O primeiro passo é na verdade o maior desafio. Não nos afetarmos e não


rebatermos a crítica sem autoanálise.
2- Após autoanálise:

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a. Se F+C+:
i. Se gostamos da forma como a crítica foi feita e concordamos
também com o seu conteúdo, agradecemos quem a realizou,
vamos em busca da correção desse comportamento
equivocado, ampliamos nosso autoconhecimento e
motivação.
b. Se F+C-:
i. Se gostamos da forma como a crítica foi feita e NÃO
concordamos com o conteúdo da mesma, agradecemos quem
a realizou, nos reafirmamos, ampliamos autoconhecimento e
autoestima.
c. Se F-C+:
i. Se NÃO gostamos da forma como a crítica foi feita e
concordamos com o conteúdo da mesma, provavelmente
ficaremos magoados e teremos dificuldade na aceitação da
crítica. O esforço é redobrado para não reagirmos
prontamente à crítica e talvez iniciarmos uma discussão.
Porém, o fato da autoanálise detectar que a crítica tem
fundamento, amplia nosso autoconhecimento e ficará a nosso
encargo canalizar essa energia gerada pela forma ruim
vinculada à crítica para reparação ou vitimização. A
reparação trará autoestima e autoconfiança, enquanto que a
vitimização permanecerá cultuando a culpa e a destruição da
autoestima.
d. Se F-C-:
i. Se NÃO gostamos da forma e NÃO concordamos com o
conteúdo da mesma, assim como na fórmula anterior (F-C+),
provavelmente ficaremos magoados, teremos dificuldade na
aceitação da crítica e sentiremos raiva, o que poderá nos levar
a reações agressivas e de contestação. Não estamos dizendo
que não devemos reagir adequadamente diante de uma
injustiça, mas a autoanálise leva um tempo maior que nossos
instintos defensivos como já vimos, assim, se nossa intenção é
utilizar a crítica sempre ao nosso favor, o autocontrole é a
melhor ferramenta, para então nos reafirmamos e ampliar
nosso autoconhecimento.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Obs: Às vezes nosso Ego dificulta muito a sinceridade na autoanálise para identificarmos se
alguma crítica tem de fato algum fundamento. Uma boa dica é questionarmos a outras pessoas
de nossa confiança e convívio se realmente a crítica procede ou não.

No caso da forma ser negativa, sempre haverá a possibilidade de


posteriormente colaborar com o orador da crítica, ensinando como se deve realizar um
processo criativo.

Se a F-C+ = “Eu concordo que eu preciso melhorar a forma como falo com vocês, mas
talvez, se você me orientasse de forma mais calma e amorosa eu teria mais facilidade de
compreender e aceitar o que me diz.”

Se F-C- = “Eu pensei sobre o que me disse e acho que não estou falando de forma
agressiva com vocês. É meu jeito de me expressar. Mas se você me orientasse de forma mais
calma e amorosa eu teria mais facilidade de compreender e perceber que algo está incomodando
vocês.”

A nobreza de nos reportarmos depois ao orador da crítica não deixa de ser uma
poderosa oportunidade de ressignificação que contribuirá para nossa autoestima e
bem-estar.

Perceba que com um pouco de boa vontade e criatividade, em cada uma dessas
fórmulas encontraremos razões para agradecê-las.

Apesar das fórmulas onde existe o componente da “forma negativa” serem bem
mais difíceis de acatarmos, elas não tiram de nós a possibilidade da introspecção e de
ampliarmos nosso autoconhecimento.

DICA: Se não nos importarmos com a opinião alheia quanto ao que somos ou
parecemos ser, não ficaremos tentados a corresponder às expectativas do meio forjando
uma “Persona” resistente e pregada à face, acatando críticas que de fato não trarão
melhoria significativa e nos afastarão do encontro com nossa verdadeira essência.

Não se trata de quem tem razão, mas de conseguirmos adotar essa postura
perante qualquer crítica ou orientação. Imagine como seria o convívio humano em
todas as relações se a postura que propomos para esse hábito considerado destrutivo
fosse regra e não a exceção.

Ensinar nossos pequenos a lidar com as críticas dessa forma vai torná-los aptos
a possuir a grande “chave mestra” do autocontrole e equilíbrio, o autoconhecimento.

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E se eu fosse você?
As nossas decisões e comportamentos são sempre baseados em nosso mundo
interior e mapa mental.

Quando fazemos ou decidimos algo, o fazemos por acreditar ser o melhor.

Defendemos uma opinião porque acreditamos que ela é a ideal, caso contrário
não seria nossa escolha.

Muitos dos problemas de convivência estão associados por uma falta de


percepção do que é o mundo e o mapa mental do outro.

Queremos impor nossas ideias como se uma conversa fosse uma oportunidade
de conquista egóica, tentando superar e vencer os pontos de vista contrários aos
nossos.

Faltam na maioria de nós a compaixão e a empatia, tão necessárias para


tentarmos sentir e entender o universo do outro.

Pensando nisso é que vamos propor essa técnica poderosa capaz de ajudar
muito nossos relacionamentos no lar, ajustando nossos papéis de pais e abrindo a
possibilidade dos pequenos aprenderem a enxergar o mundo também pelos olhos dos
outros.

Essa técnica é considerada por nós como um grande “coringa”, pois não requer
muito preparo e exige pouco tempo da dinâmica familiar, mas ao mesmo tempo causa
impactos muito importantes em todos que participam dela.

Também é uma maneira fantástica de ensinar empatia e compaixão aos nossos


filhos.

Além de princípios psicanalíticos e de neurolinguística, trabalhos importantes


como a técnica de Constelação Familiar, criada pelo psicoterapeuta alemão Bert
Hellinger, foram adaptados e complementados.

Para executarmos esse exercício, sugerimos a participação mínima de 3 pessoas,


como o pai, a mãe e o filho.

Se tiverem mais filhos e o objetivo não for muito específico a um dos filhos,
sugerimos que todos participem.

Para nosso exemplo utilizaremos o mínimo necessário, ou seja, 3 participantes.

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O Cenário
Sugerimos que utilize 3 cadeiras organizadas de forma que os 3
participantes possam estar alinhados visualmente.

A mesa ao centro pode ser substituída por qualquer outra peça que sirva de
apoio. Precisaremos também de papel e caneta.

EXECUTANDO A TÉCNICA

1- Fixe no encosto da cadeira o nome dos personagens representados pelos


participantes. Ex: Pai, Mãe e Filho.

2- Escreva qual é a problemática. Ex: filho não arruma o quarto

3- Deixe a folha e a caneta na mesa de centro

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4- Defina quem será o líder do exercício, não pode ser o filho. O líder deverá
explicar como será o exercício e quais são as regras, basicamente são essas:

a. Só uma pessoa pode falar por vez. Quando um fala os outros dois
apenas escutam e observam. Uma boa dica para famílias onde um ou
mais participantes tenham dificuldade em esperar que o outro
termine sua fala, é criar uma espécie de “amuleto da expressão”.
Pode ser a mesma caneta que será utilizada no final do exercício. O
Líder deixa claro que só pode falar quem estiver segurando a caneta.

b. Escolha um tempo máximo para a fala da cada personagem.


Sugerimos que não passe de 90 segundos, mas isso é flexível.
c. O exercício terá 3 ou mais etapas, depende da quantidade de
participantes. Tem que haver a oportunidade de cada um estar na
cadeira e representar o outro.

d. Quando cada participante estiver na cadeira de outro participante,


precisará interpretar o papel do mesmo diante da problemática que
está sendo discutida.

5- A Primeira Etapa: Começando pelo Líder, é a hora de expor tudo que


incomoda diante da problemática. Deve-se usar dos sentimentos e da razão
sempre voltadas para o problema que desejam resolver. Além do que sente
de ruim deve-se antes de finalizar a fala, dizer o que deseja dos outros
participantes para que não se sinta mais desta forma diante da situação a ser
corrigida. Após o líder expor, segue-se no sentido horário. O próximo
participante faz a mesma coisa feita pelo líder, mas sob a sua própria
percepção e sentimentos ligados ao problema, e por fim o último
participante também expõe seus sentimentos, pontos de vista e o que deseja
dos outros participantes.
Nessa primeira parte, perceba que o problema já foi exposto e todos tiveram
a chance de dizer o que pensam, sentem e o que desejam. Desta forma, já
existem as demandas que cada posição poderá negociar. Ao final desta
etapa o líder anota as demandas que cada uma das posições fez.

6- A Segunda e a Terceira Etapa é a troca dos papéis. Como todos ouviram


como cada um dos participantes se sente e o que deseja, é hora de
“interpretar” (copiar), ou melhor, representar o “outro”. Essas são as etapas
onde a mágica começa a acontecer. O fato de alterarmos nossas posições
dentro de espaços psicográficos e termos a função de vivenciar o mundo do
outro, causa transformações psíquicas e gera alterações no padrão mental de

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cada um. Veja, aqui cada parte vai interpretar as queixas, sentimentos e
desejos que cada posição fez na primeira etapa. Ao final, cada participante
senta-se em sua cadeira original.

7- Na Quarta Etapa, o líder explica que cada participante precisará agora


ocupar as outras duas funções “atuando” do seu próprio jeito e com suas
próprias convicções. Como cada um agiria se estivesse no lugar do outro. O
filho precisará se projetar na posição do pai e da mãe, como responsável e
não mais como alvo. Por isso o nome da técnica: “E se eu fosse você?”.

8- A Quinta e a Sexta Etapa é onde cada participante atuará como se fosse o


outro, não interpretando (não copiando) como cada um agiu na 1 primeira
etapa, mas como se fosse o próprio personagem. É a hora que mostramos
aos demais como gostaríamos que agissem conosco. Lembrando que nesta
etapa os participantes já estão afetados pelas etapas anteriores, e
dificilmente cada um abrirá mão das responsabilidades que cada posição
exige.

9- Na Sétima Etapa todos devem estar em suas posições iniciais. O Líder então
proporá um acordo entre todas as partes de forma que atenda o Máximo
possível as demandas de cada um, gerando novas atribuições a todos.

10- Na Oitava Etapa o líder pergunta aos outros dois se concordam, e caso não
concordem com as novas atribuições, questiona o que desejam. Esse
processo continua até que todas as posições concordem. A dica aqui é que
para atender uma demanda se peça outra, quando alguma sugestão não é
aceita por uma das partes, prontamente oferece-se outra.

11- Na Nona Etapa, todos os participantes assinam o “termo de acordo” que


deverá contemplar as novas atribuições e comportamentos que cada um dos
participantes deverá ter diante da problemática que motivou a execução da
técnica.

12- Na Décima Etapa, o Líder desculpa-se a cada um dos outros participantes


caso o comportamento dele causou sofrimento. Na sequência sugere que os
outros participantes façam o mesmo, seguindo o mesmo sentido horário.

13- Na Etapa Final, o líder diz que se o acordo for plenamente cumprido na
próxima semana (por exemplo) todos os participantes terão uma premiação,
que deverá ser conjunta e não isolada. Como cada família tem suas
preferências, a premiação é variável e dependerá também de quão desejado

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e importante é que esse acordo seja cumprido por todos. Um passeio, uma
viagem, presentes, e assim por diante.

Segue uma revisão simplificada:

1- Arrume o cenário
2- Explique o problema e o exercício aos participantes
3- Cada um diz o que pensa, sente e deseja
4- Cada um interpreta o outro “copiando” a forma de ser e o que cada parte
expôs inicialmente
5- Cada um atua como se fosse o outro, porém agindo como acreditam ser o
correto na posição do “outro” (E se eu fosse você? )
6- O Líder propõe e discute um acordo que atenda todos os participantes
7- As partes assinam o termo de acordo (simplificado que diz apenas o que
cada um deve fazer)
8- O pedido de desculpas
9- A premiação quando o acordo for plenamente cumprido

Cada uma dessas etapas tem nas entrelinhas um grande acervo psíquico capaz
de gerar mudanças profundas na forma como vemos e percebemos as coisas em nossas
dinâmicas familiares.

Você também pode criar suas próprias variações dessa técnica simplificando-a
ou complementando-a.

Não é raro que esse exercício traga à tona outros temas importantes que se
encontram escondidos no convívio familiar e que acabam muitas vezes sendo a origem
de muitos comportamentos inadequados.

Portanto, se eu fosse você não perderia a chance.

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Parem de drogar
as nossas crianças

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Parem de drogar as nossas crianças


Essa etapa é praticamente um AVISO DE SAÚDE PÚBLICA.

Nunca antes na história se viu tantas crianças sendo drogadas a partir de seu
início na jornada escolar. E isso também se repete com os adolescentes.

Estamos vivendo um verdadeiro duelo entre a razão e a ambição médica-


farmacêutica.

Muitos médicos portadores de nossa confiança que deveriam ZELAR pela


saúde integral de seus pacientes, vêm abusando desta confiança para prescrever
drogas que certamente causarão danos ao funcionamento cerebral e psicológico de
nossas crianças no futuro.

Temos cada vez mais doenças da moda, uma delas, como exemplo, é a TDAH
(Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade).

Os níveis de indicação de drogas para as crianças estão assustadores e não


param de crescer.

Há pouco tempo tivemos acesso a uma pesquisa que mostra que só em Portugal
entre os anos de 2011 e 2015, o consumo da substância METIL-FENI-DATO, aumentou
77%.

O consumo diário deste medicamento é de mais de 7 milhões de comprimidos.

Mas você sabe os danos que essas drogam podem causar aos nossos filhos?

Sob o pretexto do aumento de atenção, inteligência, concentração e até tirar


nossos pequenos de momentos depressivos, essas drogas podem comprometer
seriamente a saúde neurológica e psicológica de nossas crianças, gerando danos
severos além da assustadora dependência e do efeito rebote.

Se permitirmos que nossas crianças sejam expostas a drogas dessa natureza sem
a devida cautela e responsabilidade, enquanto tudo deve estar em perfeita ordem para
o quartel farmacêutico, estaremos permitindo que uma geração de adultos
dependentes e “zumbitizados” seja criada.

Não estamos dizendo que não existam de fato crianças que precisem de
acompanhamento médico psiquiátrico e talvez o uso responsável de medicamentos.

Mas comparado ao volume total de crianças, são ocorrências raríssimas.

O momento é desafiador, isso não há dúvida. Nossos filhos estão sendo


bombardeados por informações e estímulos cada vez mais cedo.

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Obviamente toda aquela energia que nós gastávamos nos parques, nas ruas e
no convívio infantil com as demais crianças está acabando aos poucos, e já vemos que
hoje nossos filhos estão tornando-se cada vez mais irritados, ansiosos e sem capacidade
de foco.

Muitos pais têm abandonado seus filhos, praticamente terceirizando a educação


seja para a escola ou qualquer outra opção que não envolva a sua participação.

FUJA da armadilha de seu filho ser diagnosticado equivocadamente por conta


de sua vivacidade e de sua energia contida.

Vamos dar um basta à busca pela PÍLULA MÁGICA. Vamos dar espaço,
elaborar e proporcionar atividades ao ar livre, oportunidades para que nossos
pequenos gastem toda essa energia contida.

Como já sugerimos na etapa dos “Hábitos”, devemos controlar e evitar o uso


excessivo dos eletrônicos que estão funcionando na verdade como babás tecnológicas.

É mandatório dar afeto, atenção e amor às nossas crianças.

Perceba, que na verdade, os pais muitas vezes também estão perdidos e


sufocados pelas necessidades de conquista e sobrevivência de hoje em dia.

A psiquê das crianças, antes de qualquer coisa, é a psiquê dos próprios pais
como já falamos antes.

Nós, os pais da atualidade, temos grande responsabilidade pela geração futura


que estamos formando. É tempo de mudar, de refletir e tomar conhecimento que
nossas frustrações e ansiedades influenciam diretamente nos seres que estamos
criando.

Isso é o que nos motivou essencialmente na elaboração dessa peça literária.

A drogadição de nossas crianças é realmente um caso de saúde pública e não


podemos ficar de braços cruzados. Faça sua parte para que essa mensagem alcance o
maior número de pessoas.

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A tríade
do ser

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A tríade do ser
Muito bem. Já tinha dito antes que se fosse para escrever o que já estava escrito em
outros livros não teria começado essa obra.

Até aqui nós falamos muito sobre a mente e sua ligação íntima com o cérebro.

Mas se pretendemos falar realmente de uma formação “integral”, precisamos


olhar nossos filhos sob todos os aspectos que os compõem.

E isso envolve dissecarmos um pouco mais como somos compostos de verdade.

Não vou mentir para você. Passei muitos dias e noites pensando em como seria
possível abordarmos essa etapa sem comprometer a essência da obra.

Minha preocupação estava ligada principalmente ao fato de que nesse ponto


será preciso abrir nossas mentes e sairmos das “caixinhas” onde normalmente
vivemos.

O fato de não entendermos ou vermos algo, não significa que esse “algo” não
existe.

Assim meu caro leitor, é hora de controlar alguns preconceitos que ainda
existam dentro de você e a partir de agora percebermos que somos mais, muito mais,
do que acreditamos ser.

A Tríade do Ser é uma representação segmentada de nós, que para essa


proposta achamos importante ter 3 partes: a mente ou alma, o corpo físico (onde o
cérebro é contemplado) e o corpo quântico (que muitos chamam de energético ou
vibracional).

Que fique claro que existe uma intersecção constante e vias de mão dupla entre
essas 3 partes. Desta forma, um problema com o corpo físico pode comprometer tanto a
mente quanto o corpo quântico, ou um problema com a mente certamente
comprometerá tanto o corpo quântico quanto o corpo físico.

Portanto, não temos como deixar de fora esse aspecto quando estamos tratando
do maior projeto de nossas vidas. O deslize de não nos atentarmos para o “conjunto da
obra” entendendo nossos filhos de forma holística, ou seja, integral, poderá colocar
tudo que já vimos a perder.

Nessa etapa assumo o compromisso que passaremos superficialmente por tudo


evitando os por menores que possivelmente poderão fazer parte de outra jornada
literária.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Tem a minha palavra de que estaremos falando apenas de coisas que fazem
parte de pesquisas comprovativas do mundo científico e que nossa experiência pôde
atestar resultados.

Para podermos atingir a plenitude como seres é fundamental que estejamos


bem alinhados com todas as nossas partes, por isso a importância do que vamos tratar
nessa etapa.

Isso posto, é hora de partirmos para as explicações.

A MENTE OU ALMA

Não investiremos muito tempo nessa etapa porque basicamente foi o que vimos
até essa altura do livro.

Já sabemos que a mente é o comandante de fato e precisa estar equilibrada para


que nossos filhos possam se desenvolver com sucesso.

A observação principal neste ponto é que problemas relacionados à alma são os


mais contundentes ao ser, gerando impactos destrutivos nas outras duas partes da
Tríade.

Precisamos deixar claro que para essa proposta entendemos que nossos filhos
são almas que possuem corpos e não o contrário.

Desta forma é possível que estejamos atendendo 100% as condições e


necessidades físicas dos pequenos, e eles não estejam bem mentalmente.

Se fosse possível fazermos uma disputa para decidirmos qual das partes da
tríade é a mais importante, estamos certos que a mente levaria larga vantagem.

É muito difícil que os corpos quânticos e físicos estejam em perfeita harmonia se


a mente não estiver bem.

Mas é possível que nossos corpos físicos não estejam em perfeita harmonia e
nossas mentes estejam em plena força existencial. Apesar de terem impacto relevante,
se sua mente é consciente e resiliente, as demais partes da tríade não serão capazes de
impedi-lo do equilíbrio psíquico.

Costumo utilizar muito o exemplo do brilhante e renomado físico britânico


Stephen William Hawking. Apesar das limitações físicas tornou-se um expoente genial da
atualidade.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Também costumo citar o famoso psiquiatra que já mencionamos quando


tratamos das metáforas e hipnose, o americano Milton Erickson. Apesar de suas
condições físicas limitantes de locomoção, seguiu sua missão brilhantemente
auxiliando muitos pacientes.

Para ilustrarmos melhor esta parte onde estamos focados na mente, acho
importante falarmos sobre o placebo. Apesar de não existir uma explicação orgânica
conclusiva, merece destaque pois atesta o poder que a alma exerce sobre os demais
corpos gerando curas parciais ou totais.

No mundo das pesquisas farmacológicas, hoje a variável placebo é sempre


levada em conta para justificação e comprovação de eficácia de medicamentos.

Como já falamos em uma das etapas anteriores, computa-se que


aproximadamente 30% das reações curativas é placebo, isto é, a autocura gerada pela
força psíquica do próprio ser.

Assim, quando detectam resultados superiores a esse índice, comprovam a


eficácia de determinada droga.

Outro ponto que podemos utilizar para defender a tese de que a mente é
dominante às demais partes, é a própria hipnose, onde é possível driblarmos o sistema
de senso percepção do ser para redução ou eliminação temporária da dor.

Evidente que os demais corpos atuam sobre a mente significativamente, e


utilizamos isso ao nosso favor. Nós que até agora focamos nossos estudos na mente e
no cérebro, sabemos da importância dessa simbiose entre mente e corpo.

Afinal, o cérebro faz parte do corpo físico. Entenda que quando falamos sobre a
prevalência da mente sobre os demais corpos, existe a exceção clara de que alguns
componentes do corpo físico são vitais e dessa forma sua avaria e mau funcionamento
impactará de forma avassaladora a mente, como é o caso do cérebro e o coração.

A mente em sua faceta inconsciente orquestra o cérebro e o funcionamento


orgânico total, mas ficará impedida de agir e interagir praticamente no mundo se peças
importantes desse sistema vital não estiverem em funcionamento total ou até parcial.

Como nossa proposta é conseguirmos tornar prática a interação de todas as


partes envolvidas na tríade em busca da saúde integral de nossos filhos, vamos elencar
ao final desta etapa um quadro com algumas das ferramentas curativas disponíveis.

Essas ferramentas, em sua maioria, atuam principalmente em cada uma das


partes da tríade, gerando benefícios em todas as demais.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Se utilizarmos uma técnica psicoterapêutica, o alvo é a mente, mas


inevitavelmente teremos reflexos no corpo quântico e físico, ao passo que podemos
utilizar a nutrição funcional (vinculada ao corpo físico) para auxílio no controle de
algum desequilíbrio psíquico.

Percebeu a intersecção e a complementação que falamos?

O CORPO QUÂNTICO

Para falarmos sobre corpo quântico precisaremos desmistificar algumas coisas e


banalizações que tomaram conta do nosso cotidiano.

Parece que hoje tudo que não pode ser explicado tornou-se quântico. Na
verdade não é bem assim.

Não se assuste, mas falaremos um pouco de física agora. Será de forma bem
didática e tenho certeza que ficará claro para você porque o corpo quântico é tão
importante para todos nós.

Quando uma coisa nova surge e mexe com as bases teóricas que o mundo
conhece, ela geralmente é chamada de loucura e não recebe atenção. Depois de um
tempo ela é discutida e debatida para tentar se provar que está errada, e por fim parece
que ela sempre foi uma verdade conhecida.

Perceba se isso não aconteceu, por exemplo, com a acupuntura. Depois de tanto
tempo e discussão, acabou sendo comprovada e até os centros médicos
governamentais estão oferecendo como alternativa de tratamento.

Apesar de considerarmos a acupuntura uma técnica mais vinculada aos centros


físicos e apenas sequencialmente atuando no corpo quântico, não queríamos perder a
chance dessa ilustração.

Essa “verdade finalmente aceita como se sempre soubéssemos”, é o que está


acontecendo agora com a Física Quântica. Em linhas gerais a física acabou sendo
dividida em duas partes:

Física Clássica ou Newtoniana

Como nossa intenção é atestar a importância do corpo quântico, não daremos


muita atenção para maiores explicações a respeito da física clássica.

Basicamente, é a física da matéria percebida e das leis que encontraram uma


matemática lógica para cálculos relativos. Leis como da gravidade e relatividade são o
núcleo dessa física.

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FÍSICA QUÂNTICA

Se você acha que física quântica é uma coisa deste nosso século, está enganado.

Foi no início do século passado que ela foi descoberta pelo físico alemão Mark
Planck, ganhador do Premio Nobel de Física em 1.918.

É a física que fala do mundo atômico e subatômico, onde as leis clássicas da


física de Newton são incapazes de encontrar explicações.

Quando falamos desse mundo das partículas, tempo e espaço se tornam


variáveis inexplicáveis.

Não sei se você sabe, mas toda matéria perceptível por nós se for subdividida
chegará ao átomo. Pode parecer estranho, mas nossos corpos e a cadeira que você mais
gosta tem a mesma origem atômica.

Intrigante isso não? Como é que as coisas se tornam diferentes?

Para nos aprofundarmos nesse tema teríamos que falar muito de bioquímica e
ainda assim existiriam lacunas inexplicáveis uma vez que estamos sempre falando do
efeito e não da causa.

Às vezes temos a impressão que enquanto a mente não for aberta para a
magnitude universal, boa parte dos cientistas estará correndo “atrás do próprio rabo”.

Isso porque podemos até identificar e descobrir uma nova lei física universal,
mas o fato é que não fomos nós que a criamos.

A ciência é maravilhosa e deve continuar seu papel. Possivelmente será através


dela que descobriremos que o grande filósofo grego Sócrates estava certo quando dizia:
“tudo que sei é que nada sei”.

O próprio Stephen William Hawking, parece ter se rendido a essa conclusão


quando utilizou a expressão “Mind of God”, ou melhor, a “Mente de Deus”, para
depositar a origem de tudo em uma inteligência suprema responsável pela complexa
arquitetura universal.

Parece um caminho sem destino final. Podemos dizer que o universo foi criado
pelo BigBang, que a bioquímica poderia explicar tudo, mas o que explicaria o próprio
BigBang e a própria bioquímica?

O fato de não termos explicações não significa que inexistam.

267
Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Perdoe-me investir um tempo maior nessas divagações, mas faz parte da


estratégia de abrirmos nossas mentes para esse universo microscópico desconhecido
que gera de alguma forma o que nossos olhos não podem ver.

E os devaneios na param por aí. Saiba que não temos equipamentos capazes de
checar esse mundo quântico ainda nos dias de hoje.

Sabemos de sua existência pelo que a ciência consegue perceber, o que é muito
pouco.

Eu vou explicar de forma bem fácil como é esse átomo que está presente em
toda matéria conhecida.

Calma, respira fundo e se tranquilize. Não usaremos fórmulas e nada


complicado para chegar ao ponto de entendimento que desejamos.

Você sabia que a maior parte do átomo é na verdade “vácuo”?

E que apesar das imagens que encontramos para explicar o átomo serem muito
bonitas, elas estão fora da proporção real.

Imagine que se essa imagem estivesse em uma proporção real, poderíamos


fazer uma comparação onde no centro de um campo de futebol estaria uma maçã
(representando o núcleo) e lá no alto, na última fileira da arquibancada estariam os
elétrons.

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Ou seja, todo o resto é vácuo!

Mas então, o que transforma ou torna a matéria nessa terceira dimensão que
nossos olhos podem ver?

Uma das respostas possíveis é a velocidade. Em nossos corpos, esses elétrons


estão circulando em torno dos núcleos a uma velocidade aproximada de 300.000
quilômetros por segundo (km/s). O que torna algo invisível para nós é a velocidade
maior desses elétrons.

É como se fosse um ventilador, quanto mais rápido ele estiver mais invisível ele
será.

Os elétrons quando recebem uma dose extra de energia, saltam de uma órbita
para outra. Como não é possível que ele esteja em dois lugares ao mesmo tempo, isso
abriu uma tese de que não estamos falando de apenas um universo, mas talvez de
multiversos.

Maluco isso? Essa teoria dos universos “paralelos” é consistente e


fundamentada pelo cientista americano Hugh Everett. Como não é possível detectar
onde esses elétrons estão quando saltam de uma órbita para outra, restou essa
possibilidade das múltiplas dimensões, que para muitos é “fantasmagórica”.

Esse salto dos elétrons entre as órbitas é o que conhecemos como Salto
Quântico. É basicamente quando os elétrons se aceleram e se afastam do núcleo
atômico, partindo para outra órbita diferente da anterior.

Nossos corpos quânticos são como uma camada energética sobreposta aos
nossos corpos físicos, que muitos chamam de aura, onde seus elétrons estão a uma
velocidade muito maior que os do nosso corpo físico.

A ciência hoje já ensaia e detecta esse corpo energético utilizando, por exemplo,
instrumentos que fazem uso da tecnologia Kirlian.

E se você acha que isso é coisa recente, eu preciso que você tenha conhecimento
sobre a existência de muitos estudos realizados na UCLA nos anos 70 conduzidos pela
Dra. Thelma Moss.

Ela conseguiu determinar que nossos estados interiores afetam as cores que são
vistas nesse corpo energético, como por exemplo, azul e branco quando estamos em
estado de relaxamento e a predominância de manchas vermelhas quando estamos em
estados de tensão, ansiedade e excitação.

269
Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

E olha que esses estudos foram realizados com uma tecnologia de muitos anos
atrás. Hoje já é possível termos um verdadeiro show de cores através das fotografias
Kirlian.

Isso explica muito sobre as possíveis gêneses das doenças psicossomáticas já


catalogadas inclusive pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Como podemos verificar nos resultados dos estudos da Dra. Moss, o que
pensamos e sentimos afeta nosso corpo energético ou quântico, e a continuidade e
intensidade de um determinado estado interior ruim acaba por comprometer o próprio
corpo físico.

Similar a uma cascata, o impulso segue da mente para o corpo quântico, e então
para nossos corpos físicos. É como se houvesse um entrelaçamento invisível entre as
células orgânicas e as células do corpo sutil.

Nada está totalmente desassociado em todas as etapas que vimos


anteriormente. Recorde quando citamos o trabalho “A Biologia da Crença” do Dr. Bruce
Lipton, onde ele detectou que nossas células respondem ao que acreditamos, e um
gatilho genético de predisposição a alguma doença pode ou não ser disparado de
acordo com o ambiente.

Uma vez que nossos pensamentos afetam nosso corpo quântico e que o corpo
quântico parece estar entrelaçado em nossas células físicas, podemos nos atrever e
também ampliar o conceito de “ambiente” trazido pelo Dr. Lipton, dizendo que o
“estado” de nossos corpos energéticos pode da mesma forma, ser ou não o tal gatilho
genético.

Para que fique claro, no trabalho “A Biologia da Crença” de Lipton, o ambiente é o


nosso sistema de crenças. Nosso atrevimento é dizer que há algo entre o sistema de
crenças e o gatilho genético de uma predisposição patológica herdada, no caso, os
conteúdos energéticos de nossos corpos sutis.

E obviamente, nossa proposta vai além, e de acordo com os especialistas e


estudiosos das doenças psicossomáticas, existe a interferência direta de um estado
emocional negativo contínuo e o surgimento de uma anomalia orgânica, seja ela
predisposta geneticamente ou não.

O contrário também se aplica, ou seja, da mesma forma que o estado emocional


negativo gera um impacto destrutivo, nosso estado emocional positivo contínuo
transforma a qualidade de nossos corpos energéticos e auxilia no fortalecimento ou
cura de nossos corpos físicos.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Isso explica os trabalhados ligados ao otimismo e positivismo que demonstram


sua associação a condições imunológicas superiores capazes de evitar a evolução de
um processo patológico ou acelerar o processo de cura, atestando também o poder da
resiliência.

Acredite, tudo que estamos apresentando nessa obra é fruto de muito estudo e
amor, e não desconsidere nada mesmo que acredite ser aparentemente inútil. Recorde
que no preâmbulo dissemos que provavelmente VOCÊ LERÁ esse livro MAIS de uma
vez.

Aconselhamos muito que o mantenha como um pequeno companheiro de


consulta sempre que achar necessário um apoio na superação dos desafios com seu
filho.

Sem a necessidade de nos aprofundarmos mais, com essas breves explicações, é


possível atestarmos com tranquilidade a existência do corpo quântico que não
conseguimos observar, pelo menos a grande maioria de nós.

Acredito que agora já estamos prontos para entender porque algumas técnicas
terapêuticas, consideradas alternativas, produzem eficácia muito superior ao placebo,
mas não podem ser organicamente acompanhadas.

Algo muito pequeno, muito diluído, mais quintessenciado, que não é possível
ser detectado pelos olhos transita pelos nossos corpos, seja esse processo proveniente
de nosso interior ou do mundo externo.

Dentre as principais ferramentas ligadas ao corpo quântico que você pode


utilizar para ajuda-lo na missão desafiadora de formação de seu filho, queremos dar
destaque para algumas que consideramos dignas de confiança e podem ser explicadas
pelo que chamamos de salto quântico.

São elas (por enquanto):

HOMEOPATIA

FLORAIS (destaque para os Florais do Dr. Edward Bach)

CROMOTERAPIA

BIOENERGÉTICA (como Reiki, Jorei e Passes Magnéticos)

Estamos mantendo nosso compromisso e sugerindo apenas o que possui estudos e


respaldo científico. Boa parte das terapias apresentadas não são exclusivas de uma ou
outra parte da tríade, e estão normalmente associadas a mais de uma parte,
simultaneamente. Como é o caso da homeopatia que deve ser ingerida e possui o nosódio
extremamente diluído que realiza o tal salto quântico.

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UMA FORÇA A MAIS PARA ABRIR SUA MENTE

No intuito de termos certeza que sua mente se abrirá definitivamente para tudo
que estamos expondo sobre esse universo das micropartículas, resolvemos citar mais
alguns estudos “científicos” intrigantes que certamente sob um olhar atencioso vai
fazer você repensar a forma como enxerga as coisas.

Vamos começar falando brevemente dos trabalhos do pesquisador japonês


Masaro Emoto(1943-2014), que dedicou a maior parte de sua vida nos estudos da
influência dos pensamentos, emoções, palavras, sons e outras vibrações, nas moléculas
da água.

Seus principais experimentos consistiram em detectar as formações


microscópicas de águas obtidas de diferentes fontes e expostas a vibrações distintas.

Para encurtar a história, a técnica consistia em expor a água a determinadas


variáveis, congelar através de uma estrutura laboratorial e então fotografar os cristais
formados.

O resultado das imagens obtidas nesses experimentos conseguiu comprovar a


interferência dessas variáveis não detectáveis nas moléculas de água. Acredite, o que
esse pesquisador conseguiu comprovar não foi pouco.

A mesma água, ou seja, obtida da mesma fonte e no mesmo momento,


apresentou imagens com diferenças gritantes quando expostas a diferentes
interferentes.

Quando a água foi exposta a bons pensamentos e emoções, como os ligados a


paz e amor, ou músicas calmas e agradáveis, as imagens eram lindíssimas e totalmente
harmônicas.

O que ocorreu de forma contrária quando a água foi exposta a pensamentos e


sentimentos de raiva, xingamentos e músicas agressivas. Nesse caso as imagens eram
terríveis e distorcidas.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Usando do aforismo de que “uma imagem vale mais que mil palavras”, quero
que veja algumas das imagens extraídas dos estudos de Emoto:

Acho que não precisamos dizer mais nada, certo?

Temos aqui uma das grandes comprovações de como toda nossa tríade está
interligada. Não podemos nos esquecer de que nossos corpos são basicamente
formados de 65% de água em homens adultos e 60% de água em mulheres.

Essa diferença se dá pela composição muscular distinta entre homens e


mulheres.

Já se formos falar especificamente sobre nosso sangue, aproximadamente 95% é


água.

Portanto, meu caro leitor, fica claro o que ocorre com nossos corpos quando
estamos presos a padrões de pensamentos ruins, sentimentos negativos e também os
conteúdos desequilibrantes de maneira geral.

Podemos aproveitar a chance de novamente lembra-lo sobre a importância de


vigiarmos nossos pensamentos e sentimentos, além de removermos hábitos destrutivos
como o lixo mental.

Além dos danos de natureza psíquica, temos a certificação de que nossos corpos
quânticos e físicos sofrem alterações importantes que podem ser positivas ou negativas
para nosso alvo de saúde integral.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Temos que ampliar nossa visão e perceber que isso não ocorre apenas por
construções internas próprias. Imagine toda a quantidade de água que consumimos em
nosso dia a dia nos mais diversos ambientes, seja ela in natura ou nos alimentos.

Sei que é difícil acatarmos que nossos corpos em sua estrutura molecular são
impactados pelo humor e ambiente de onde nossos alimentos foram preparados.

Quando vivemos em família precisamos entender a amplitude que nosso estado


interior afeta as nossas vidas de uma maneira geral.

Se nosso lar é um ambiente onde há muita discussão, raiva, pensamentos


inadequados, sentimentos ruins, lixo mental dos mais variados como músicas
agressivas e banalizantes, estamos envenenando nossos filhos sem perceber,
comprometendo seriamente a saúde orgânica e energética dos mesmos.

ABRA SUA MENTE

E os estudos que mostram e perseguem todo esse universo, ou universos


desconhecidos até então, não param.

Gostaríamos de levar ao seu conhecimento que o mundo já começa a mudar sua


forma de tratar as pessoas levando em conta esse mundo energético e quântico.

Os doutores americanos David Bowne e Stuart Wolf, em seus estudos e


experiências defendem que nós produzimos fótons “curativos” quando produzimos o
bem.

Isso é realmente profundo. Primeiro porque a definição do que é o “bem” pode


variar em determinadas culturas, certo?

Errado! Parece que para essa superestrutura universal da qual fazemos parte,
existem pensamentos, sentimentos e comportamentos que são inquestionáveis.

Para resumir, esse tal “bem” capaz de gerar fótons “curativos” em nossos
corpos energéticos consiste basicamente em fazer ou pensar algo que auxilie, seja
positivo e gerador de bem-estar a qualquer outra pessoa. O mal seria sempre a
ausência do bem e não existiriam pessoas más, porém ainda ignorantes.

A oração também entraria nesse grupo do “bem” capaz de gerar fótons


curativos. Perceba que essa é mais uma razão para termos incluído a oração na lista de
mini-hábitos sugeridos anteriormente.

Creio que quando a humanidade descobrir que a CURA INTEGRAL está na


COLABORAÇÃO e não na competição, o mundo começará a mudar e então
poderemos sonhar com a predominância do verdadeiro amor fraternal. (AJUDE A
DIVULGAR ISSO)

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Quando competimos temos carga elevada das substâncias do nosso


primitivismo. Quando colaboramos acontece uma verdadeira mágica química e
energética em nossas vidas.

Provavelmente você conhece pessoas de quem não quer sair de perto. São leves
e suaves. A doçura, a ternura e a amabilidade são filhas diletas da colaboração.
Verdadeiros dínamos de saúde que atingem um padrão elevado de existência,
contribuindo em todas as partes da tríade, individual e coletiva.

Não paramos por aqui. O célebre cientista americano, cancerologista e


especialista em medicina holística Dr. Bernie Siegel, garante através de seus estudos
que a música é capaz de harmonizar novamente nossas células.

Siegel garante que ouvirmos a 5ª. Sinfonia de Bethoven, por exemplo, faz com
que nossas células busquem o caminho da harmonia funcional. Isso não é novidade
para nós que já vimos as experiências do Dr. Masaru Emoto, não é verdade?

Outra informação digna de destaque é a relação simbiótica fantástica existente


entre nossas mentes, nossos corpos e a natureza.

Você já ouviu falar da glândula pineal?

Para os especialistas e pesquisadores desta glândula, existe muito mais em


nossas cabeças do que percebemos.

Também conhecida como epífese, a pineal tem esse nome pelo seu formato de
pinha. Na cultura oriental você poderá encontrar referencias a essa glândula como a
“terceira visão” ou a visão da alma.

Fisiologicamente falando, as documentações sobre a pineal definem a mesma


como um ditador de ritmo orgânico interno. Nossos corpos interagem com o cosmo em
geral, como exemplo mais próximo, podemos falar dos efeitos da lua em nossas vidas.

Como explicar as salas de parto lotadas quando ocorrem mudanças dos estágios
da lua? Ou ainda nossos cabelos e unhas terem ritmos de crescimento diferentes
ligados ao momento em que realizamos o corte?

É a glândula que produz a melatonina e nos leva ao sono, até as ondas cerebrais
mais lentas.

Muitos dizem que nossas pineais são verdadeiras antenas ligadas à natureza e
ao mundo invisível. A pineal é um tema muito discutido e difundido pelas atividades
mediúnicas e paranormais estudadas nos laboratórios em algumas das principais
universidades do mundo.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Intrigante dizer que essa glândula está presente inclusive em painéis egípcios e
em muitas doutrinas orientais.

O grande e respeitado pensador, filósofo, matemático e cientista francês, René


Descartes, afirmava ser a glândula pineal o ponto da união substancial entre corpo e
alma — um órgão com funções transcendentes. Além de Descartes, um escritor inglês
com o pseudônimo de Lobsang Rampa, entre outros, dedicaram-se ao estudo desta
glândula.

Assim, apesar de existirem muitas outras formas possíveis de validarmos que


somos muito mais que os corpos físicos, achamos suficiente o que foi exposto.

Ainda estamos começando um novo caminho bastante promissor de trazer às


nossas vidas tudo que pode nos auxiliar no processo de conquista da saúde integral.

Assim, partimos para a outra parte da tríade, otimistas que nossas mentes já
estão ampliadas e voltadas para novos horizontes.

O CORPO FÍSICO

Sobre esta parte da tríade, creio que já não há segredos a respeito de sua
importância, especialmente no mundo ocidental.

Afinal, nossa medicina e farmacologia até pouco tempo atrás, basicamente, só


voltava seus olhos para nosso corpo físico.

Alguns poucos já estão se arriscando e integrando as outras duas partes da


tríade existencial nos processos curativos.

Não que isso esteja mudando muito o quadro geral. Ainda somos reféns de um
sistema que dificulta muito sairmos desse patamar reduzido e nos torna escravos de
uma era de drogadição.

Drogadição essa que nos faz buscar remédios como “Pílulas Mágicas” para
nossas questões internas, físicas ou psíquicas.

É o exemplo claro que mostra como estamos fugindo da responsabilidade de


assumirmos a rédea de nossos próprios destinos.

Buscamos as soluções milagrosas, o médico ou psicólogo milagroso, e até os


“gurus”.

Nossa, acho que o mundo nunca viu antes tantos “gurus”.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Não é para menos, a falta de uma consciência desperta nos coloca a mercê da
busca e da projeção de nossas questões mais profundas, bem como das soluções mais
urgentes que necessitamos, em qualquer outro ser que se apresente como um líder
salvador.

Vou aproveitar essa oportunidade e pedir a você que insira em seu sistema de
crenças a seguinte regra: “NÃO EXISTE PÍLULA MÁGICA”. Sei que isso já está
mencionado nas 14 crenças capitais, mas não custa nada repetir.

Se existir, essa pílula mágica é você mesmo.

É hora de darmos um basta a essa tentativa desenfreada de resolvermos


problemas sem nossos próprios esforços. As pessoas buscam remédios, manipulações,
rituais, chás, dietas e muitas outras coisas, tentando resolver seus desafios como em
um passe de mágica.

Rapidamente caem na descrença quando o elixir da salvação, seja ele qual for,
não atinge seus objetivos de uma pseudo plenitude.

Claro que tudo que é comprovadamente positivo e traz resultados efetivos


precisa ser utilizado ao seu favor como mais uma ferramenta facilitadora.

Mas esqueça definitivamente a ideia de que tomar apenas um remédio, ou um


floral, ou frequentar sessões de Reiki, é o suficiente. Uma coisa não invalida a outra.

Especialmente aqui no Ocidente temos por regra apenas buscarmos apoio de


terapias “alternativas” quando os tratamentos alopáticos e tradicionais não estão
atingindo sua meta curativa.

Perceba aí o preconceito, definimos conceitualmente tudo que não é “hospitalar


e farmacológico” como “alternativo”. De forma que todas as incontáveis possibilidades
de ajuda não utilizadas nos protocolos convencionais se tornem a última tábua de
salvação atrasando o ser na busca da saúde integral. Seria mais justo chamarmos todas
essas possibilidades de terapias complementativas, ou melhor, terapias integrativas.

Que mal teria em fazermos uso de tudo que a ciência e os novos estudos têm
trazido nos últimos tempos?

É claro que cada caso deve ser analisado sempre de forma individualizada. Mas
não encontramos qualquer efeito colateral negativo que justificasse o impedimento de
utilizarmos as opções de fortalecimento físico corporal, conjuntamente com todo o
arsenal de possibilidades vinculadas à mente e ao corpo quântico. Muito pelo
contrário.

Precisamos deixar claro que a medicina é uma ciência aplicada, mas não é a
ciência. Assim, não se limite aos conceitos vinculados a qualquer tipo de medicina

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

exclusivista focada apenas na estratégia simplista de confecção de receitas e das


pílulas.

Nos últimos tempos tenho levantado uma tese consistente que costumo chamar
de “Empilhamento de Placebo”.

Você provavelmente ainda se recorda do que falamos sobre o placebo e seu


efeito intrigante que atesta a verdadeira farmácia mental que possuímos.

Quando não limitamos nossas opções e vamos à busca de tudo que pode nos
ajudar em algum processo patológico, é como se bombardeássemos nossos corpos com
os gatilhos do placebo.

Não importa se foi uma coisa ou outra que teve papel definitivo em qualquer
jornada de reestabelecimento físico. O grande segredo é que a meta estará muito mais
próxima se não restringir-se aos limites preconceituosos e fizer uso de um super
coquetel de terapias que integram todas as partes da tríade.

Tudo que puder utilizar como potencializador deve ser usado, mas como um
aliado a mais e não como a solução definitiva aos seus problemas.

A cada nova busca por uma estratégia que vise contribuir com o
reestabelecimento ou manutenção do bom estado de nossos corpos, estaremos na rota
vencedora onde o “Empilhamento de Placebo” se justifica e complementa os resultados
isolados de cada escolha feita.

A chave mestra é a autocura. TODA CURA É UMA AUTOCURA.

Podemos buscar tudo que estiver ao nosso alcance, mas isso é só uma
consequência de nossa decisão de melhorarmos, nos equilibrarmos e evoluirmos.

Ajudarmos nossos filhos, muitas vezes, será optarmos pela troca da busca
constante de receitas médicas por dedicação, paciência e amor através dos exercícios e
técnicas que introduzimos nessa obra, além de todo o mar de novas opções que a
ciência vem comprovando a cada dia.

De forma alguma queremos dizer que medicamentos, isto é, a alopatia, não


deve ser utilizada. Pelo contrário, trata-se de mais um poderoso “aliado” em qualquer
estratégia que tenha como destino a saúde. Apenas precisa ficar claro que não é sua
única ou exclusiva opção.

Já sabemos que a mente e o corpo quântico são peças fundamentais se


queremos formar seres integrais, agora é hora de dar a devida importância à nossa
maquinaria orgânica.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Atividades físicas regulares, boa higiene e uma alimentação saudável e


equilibrada, já são mais do que difundidos como padrões que fortalecem e tornam
nossos corpos mais sadios.

Se conseguirmos que esses 3 itens estejam inseridos no sistema de crenças e


rotinas de nossos filhos, certamente já atenderemos o que é necessário para essa parte
da tríade do ser.

Mas você já percebeu que nosso papel é abrir sua mente e não nos
acomodarmos.

Estamos certos que você deseja saber que já existem outras tantas rotinas
ligadas aos nossos corpos físicos que são capazes de trazer grande ajuda em nossa
caminhada como pais.

Como por exemplo, os estudos que comprovam fortalecimento do sistema


imunológico em pessoas que recebem massagens. É basicamente o mesmo resultado
trazido pelo toque afetivo.

Somos seres que valorizam e precisam do toque recheado de afeto. Beijos,


abraços, carícias e os toques fraternais geram verdadeiros espetáculos luminosos em
nossos cérebros e são gatilhos poderosos de neurotransmissores que geram bem-estar e
felicidade.

Fora isso, as ciências aplicadas à nutrição já conseguem comprovar a verdadeira


farmácia que existe nos alimentos.

Falamos de uma Nutrição Funcional capaz de produzir e ativar


neurotransmissores e substâncias benéficas através dos alimentos e que atuam por
todo o ser.

Desta forma podemos utilizar os alimentos no auxilio das estratégias que visem
também o equilíbrio psíquico de nossos filhos.

Você sabia que existem alimentos estimulantes ou calmantes? Se seu filho


estiver transitando por uma fase de ansiedade, oferecer alimentos estimulantes tornará
seu estado interior ainda mais agitado, ao passo que utilizar alimentos que podem
tranquilizar e acalmar será uma atitude acertada.

Já existem muitos trabalhos sobre isso, portanto vá em frente e faça sua lição de
casa. Encontre quais são os alimentos que podem ajudar seu filho diante de cada novo
desafio.

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

Para facilitar, na qualidade de pai, quero sugerir uma pequena lista de alguns
alimentos que podem ajudar em estados comuns dos nossos pequenos. Vamos lá:

Nota: existem alimentos que podem contribuir com mais de um estado interior. Como
por exemplo, a banana, o chocolate, o amendoim, etc. Alguns ainda podem ser
antiansiolíticos e antidepressivos como as castanhas, um não invalida o outro. A dica é
você ver qual seu filho aceita melhor e se acha prudente usar alimentos que também
tragam algum estado indesejado na tentativa de combater outro.

Leve em conta que em se tratando dos alimentos, obviamente seu efeito é


relativo e está associado ao tempo metabólico de cada um. Não é porque seu filho
tomou um copo de suco de laranja pela manhã que ele terá o auxilio das substâncias
calmantes produzidas o dia todo.

Por isso, a estratégia é saber jogar com os alimentos no tempo certo. Se seu filho
fica muito ansioso quando vai realizar seus testes na escola, comer um chocolate 60%
de cacau 15 minutos antes do começo do teste seria aconselhado. Usamos como
exemplo o chocolate porque além de calmante é também estimulante, parecem
opostos, mas não são.

Tenha atenção na armadilha de não oferecer alimentos que potencializam o


estado interior indesejado. Por exemplo, oferecer alface no caso de seu filho estar
desanimado certamente pode piorar o quadro.

Tudo está interligado. Como vimos na etapa dos 4 cérebros, o intestino é um


deles e isso justifica os benefícios de uma nutrição funcional direcionada.

Aqui na proposta deste livro, nosso foco é principalmente preventivo e


queremos preparar nossos filhos para serem plenos e equilibrados nas três partes que
compõem a tríade do ser, contudo, também existem os alimentos para auxilio no

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Formando Seres Integrais Projeto Auto Cura Integral Renato Lessa Pereira

tratamento de patologias diversas, como problemas na tireoide, pancreatite,


hipertensão arterial sistêmica, doença celíaca, diverticulose, etc.

Hoje temos muitas e variadas técnicas que trabalham como foco inicial nossos
corpos físicos e que acabam por contribuir para todo nosso sistema funcional cerebral,
como por exemplo, a dança.

Já existem muitos estudos que comprovam o beneficio da dança em nossas


vidas, sendo inclusive indicada por alguns especialistas da depressão. Permita-se
experimentar as opções, veja qual se ajusta melhor às preferências de seu filho.

Apesar das novidades que têm sido apresentadas, é o que dissemos no começo,
não há grande segredo sobre a importância que nossos vasos físicos possuem e,
portanto, toda atenção que busque seu preparo e fortalecimento orgânico deve ser
investida.

Quanto mais forte o vaso, maiores são as condições de suportar as grandes


plantas e suas raízes.

Quadro Sugestão com a lista de algumas possibilidades fortalecedoras da tríade do ser

Nota 1: algumas das possibilidades sugeridas possuem similaridade em alguns pontos de


seus processos, como é o caso da auto-hipnose e da meditação guiada, porém possuem
nuanças que justificam sua distinção.

Nota 2: algumas das possibilidades sugeridas agrupam em seus nomes um universo com
outras técnicas inseridas, como é o caso por exemplo, da Psicanálise, da PNL e do
Autoconhecimento, que por si só abriria um novo universo que trataremos em outra
oportunidade.

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A Integração
das Partes

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A Integração das Partes


Sensacional! Isso é o que quero dizer a você.

Estamos muito felizes e satisfeitos que tenha chegado até aqui. Consideraremos
nossa missão plenamente cumprida se tiver conseguido perceber o quão necessário é
que nossas 3 partes estejam alinhadas e integradas.

Sabemos que termos êxito na formação de nossos filhos requer atenção a cada
uma das facetas da tríade do ser.

Nesta nossa trajetória, juntos passamos por muitas coisas. Fomos além do
comum e atingimos níveis elevados de entendimento quando conseguimos integrar
nossa psique ao nosso cérebro, correlacionando também nossos corpos quânticos e
físicos.

A saúde integral não é apenas estar aparentemente bem em um determinado


momento, mas um processo contínuo e um tanto complexo que pode trazer o tesouro
do equilíbrio como também as mazelas doentias.

Temos que ter claro em nossas mentes que utilizamos um veículo que envelhece
e se deprecia conforme o tempo vai passando.

Assim como o universo ou multiversos onde tudo está em constante


transformação, nossos corpos se transformam e se adaptam a cada dia.

Crer que estamos imunes a sermos acometidos por alguma patologia ou doença
mesmo acreditando que fazemos e fizemos tudo certo, é infantilidade.

Ninguém está livre da vida que existe ao lado das nossas.

Reações virais, bacterianas, doenças genéticas que independem de gatilhos e o


próprio envelhecimento são variáveis que fazem parte do mundo que vivemos.

Mas se conseguirmos integrar essas 3 partes: mente, corpo quântico e corpo


físico, em uma caminhada contínua de prevenção e ajustes comportamentais, nossas
chances de reduzir muito essas mazelas e/ou superá-las mais velozmente serão
esmagadoramente maiores.

Equilíbrio psíquico, energético e orgânico é o pesticida mais poderoso que


temos ao nosso dispor.

Olhe a sua volta e perceba como as pessoas respondem de forma diferente a


uma doença. Pessoas que são capazes de lutar bravamente contra suas mazelas por
anos a fio prolongando seu tempo entre nós, e outras sucumbindo e desistindo
rapidamente diante de seus desafios existenciais.

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Nesse momento nós temos o conhecimento para vencermos a ignorância e


começarmos a forjar o maior escudo possível contras as flechas venenosas das doenças
psíquicas e fisiológicas que serão disparadas também em direção aos nossos filhos.

Esse escudo é a Resiliência.

Por definição, resiliência é a propriedade que alguns corpos apresentam de


retornar à sua forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica,
ou a capacidade de se reconstituir facilmente, se adaptar à má sorte ou às mudanças.

Detemos agora um novo mapa mais detalhado com rotas e destinos mais
definidos, tendo a clareza que cada uma das partes da tríade interfere no
funcionamento da outra, ou melhor, no funcionamento do todo.

Em nossa caminhada juntos conseguimos integrar muitos conceitos


psicanalíticos à neurociência. Visitamos até a física do mundo invisível.

Entre soluções imaginadas e a habilidade de acionarmos emoções ancoradas em


nosso mundo interior, um inventário imenso de energia psíquica foi trabalhado.

Partimos da alavanca emocional de formarmos filhos plenos para um


verdadeiro trabalho de reforma íntima através do autoconhecimento e da remodelação
de nossos hábitos.

Descobrimos e escalamos pirâmides moldadas pela nossa arquitetura mais


sublime.

Mergulhamos na linguagem simbólica das metáforas, navegamos pelas ondas


cerebrais e ficamos mais próximos da relação consciente x inconsciente.

Na matemática das crenças, chegamos a equações capazes de resolver ou


amenizar problemas complicados que herdamos e que transferimos aos nossos
descendentes.

Desbravamos o território das afirmações, adquirimos a habilidade de “ler” e


entrar no mundo de nossos filhos.

E chegamos então à meta da integração de todas as partes que estão em nós


como antídoto e vacina para os desafios da alma humana que estão atrelados ao
conhecimento e acolhimento do lado sombrio que possuímos, facultando-nos então a
possibilidade de controlarmos o indesejado e potencializarmos as virtudes.

Diante dos desafios que cada um de nós enfrenta e ainda enfrentará nessa
jornada heroica de produzirmos filhos melhores a este mundo que está tão carente de
equilíbrio e fraternidade, façamos nossos maiores esforços sem esmorecer para

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colocarmos em prática tudo aquilo que nos é ofertado como recurso fortalecedor e
adaptativo.
A gente já ouviu por aí que filhos não trazem manuais de instrução. Podemos
fazer tudo exatamente igual, mas cada filho responderá a sua maneira. O motivo?
Enquanto não conseguirmos atingir uma visão científica totalmente alinhada com as
premissas da alma, estaremos longe de sabermos.

Só podemos fazer aquilo que está ao nosso alcance. Ninguém é capaz de


entregar aquilo que ainda não tem.

Temos o hábito de não percebermos como o tempo passa rápido, não volta
mais. O sabor do tempo perdido é amargo e muitos de nós só conseguiremos
compensar parte disso com os filhos dos filhos já no entardecer de nossas vidas. Se
tivermos essa chance.

Portanto, lembre-se que apesar de todos nossos esforços, nossos filhos são seres
únicos forjados em uma fôrma exclusiva e têm seu próprio livre arbítrio, direito de
escolha. É o que dá o tempero da vida.

Você pode até achar que eu faço tudo isso que escrevi e mais um pouco. Engano
seu, existe uma diferença enorme entre ter conhecimento e usá-lo de fato. É preciso
empenho e motivação constantes.

Tenho meus desafios, talvez até mais que você, e estou tentando o melhor que
posso para superá-los e fazer com que meus filhos se tornem preparados para viverem
suas próprias vidas dominando seu mundo interior com equilíbrio e perseverança.

Mas eu posso lhes garantir que se conseguirem usar ao menos 30% de tudo que
viram nessa obra, suas vidas irão se transformar como a minha está se transformando.
E não tenho dúvidas que seus filhos serão portadores de grande sorte por tê-los como
pais.

Hoje estamos adubando a terra e plantando as sementes para assistirmos no


futuro grandes árvores capazes de produzirem os frutos mais belos e doces.

Cobre-se menos, culpe-se menos. Somos todos imperfeitos e estamos no mesmo


barco. Errou, desculpe-se, perdoe-se, repare, seja paciente e ame, ame muito.

Despeço-me de você com o desejo sincero de ter contribuído de alguma forma


para encorajar e facilitar sua missão de formador, fazendo o convite humilde para
juntar-se a essa corrente de divulgação das estratégias de conquista do equilíbrio
integral do ser vinculadas à paz e ao amor incondicional, tornando-se um verdadeiro
dínamo construtor de uma nova era povoada por almas que transcenderão os desejos
imediatistas do “ter” e transformarão o mundo como o conhecemos, construindo
pontes capazes de unir os corações mais distantes e destruindo os muros da
intolerância e segregação.

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Agradecimentos

“Agradeço principalmente a Deus pela oportunidade da vida e por sua


bondade infinita, a minha esposa pelo amor e parceria, aos meus filhos por
terem me ensinado o que é o amor incondicional e pela motivação em
tornar-me uma pessoa melhor, aos meus pais por todo ensinamento e
dedicação, ao meu irmão pela cumplicidade juvenil, aos amigos, familiares e
colaboradores por todo apoio e consideração, e a você caro leitor pela chance
de ser útil.”

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