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Dilmara Beatriz Alves Franco¹; Elizabeth Harumi Nabeshima2; Flávio Martins Montenegro³;
Carla Lea Camargo Vianna Cruz4
Nº 19239
RESUMO – O presente estudo visa desenvolver dois fermentos naturais ou massa ácida
(sourdough) para a produção de pães de forma isentos de glúten, elaborados a partir de fécula de
mandioca e farinha de arroz. Tendo em vista que o pão é um alimento nutritivo, prático, barato e
muito consumido, buscou-se aprimorar o desenvolvimento dos pães sem glúten para atender as
necessidades dos portadores de doença celíaca. A farinha de arroz e a fécula de mandioca foram
caracterizadas quanto a umidade e perfil de viscosidade em RVA, os fermentos desenvolvidos foram
avaliados quanto ao pH, contagem de bactérias lácticas e leveduras. Os testes em pães de forma
foram realizados e os pães obtidos foram avaliados quanto a atividade de água (Aw), textura e
volume específico. As massas ácidas elaboradas a partir de farinha de arroz e de mistura de fécula
de mandioca com farinha de arroz apresentaram ação fermentativa, com elevada contagem de
leveduras e bactérias lácticas e potencial para uso em pães sem glúten. Essas massas ácidas podem
ter efeito positivo no volume, textura e vida de prateleira de pães sem glúten, devendo serem melhor
estudadas as características desses fermentos, assim como os parâmetros de processo para a
produção dos pães sem glúten.
Palavras-chaves: farinha de arroz, fermento natural, fécula mandioca, pão de forma, sem glúten.
ABSTRACT – The present study aims to develop two natural yeasts or sourdough to produce gluten
free breads, produced from cassava starch and rice flour. Since bread is a nutritious, practical, cheap
and very consumed food, to tried to improve the development of gluten-free breads to meet the needs
of people with celiac disease. Rice flour and cassava starch were characterized as moisture and
viscosity profile in RVA, developed yeasts were evaluated for pH, lactic acid bacteria and yeast
counts. The tests on loaves were performed and the loaves obtained were evaluated for water activity
(Aw), texture and specific volume. The sourdough elaborated from rice flour and cassava starch
mixture and rice flour sourdough presented fermentative action, with high yeast and lactic acid counts
and potential for use in gluten - free breads. These sourdough can have a positive effect on the
volume, texture and shelf life of gluten-free breads, and the characteristics of these breads should be
better studied as well as the process parameters to produce gluten-free breads.
Keywords: rice flour, natural yeast, cassava, loaf bread, gluten free.
1. INTRODUÇÃO
O pão é um dos alimentos básicos mais populares do mundo, visto que possui preço baixo,
praticidade de uso e alto valor nutritivo. Atualmente é alta a procura por produtos que ajudem a
manter uma boa qualidade de vida, por isso a indústria tem se alinhado a esse movimento, ampliando
a oferta de produtos panificados que ofereçam algum benefício de saudabilidade (BRANDÃO; LIRA,
2011). Dentre as inovações desse novo mercado destaca-se a produção de pão sem glúten com
fermentação natural, que além de atender às necessidades restritivas dos portadores da doença
celíaca, desponta-se como uma tendência de consumo (QUEIROZ; NABESHIMA, 2014).
O glúten é uma rede proteica com propriedades viscoelásticas formada pelas proteínas
presentes na farinha de trigo, gliadinas e gluteninas, na presença de água e energia mecânica. Sendo
sua função conferir extensibilidade, elasticidade, viscosidade, mastigabilidade, textura e retenção de
gás da massa, facilitando o aumento de volume durante o processamento do pão.
Consequentemente a substituição desta proteína essencial em produtos de panificação é um desafio
tecnológico, pois altera o volume e a textura dos produtos. Além disso aumenta a taxa de
envelhecimento, devido à retrogradação do amido, em maior concentração nos produtos sem glúten
(ALMEIDA, 2010).
Além disso foram estudados dois fermentos naturais, ou também chamados de massa ácida
(sourdough). O fermento natural, que consiste na mistura de farinha e água, é fermentado por
bactérias lácticas e leveduras, ajudando a dar uma textura mais aerada após o processo de
fermentação, além de aumentar o sabor, caráter nutritivo e conservação dos pães (SABINO; SOUSA;
SANTOS, 2015).
2. MATERIAL E MÉTODOS
A elaboração de duas massas ácidas sem glúten se iniciou em projeto anterior. Foram
desenvolvidas duas massas ácidas, uma com base em farinha de arroz e água (FA) e outra com
fécula de mandioca mais farinha de arroz e água (FM), de acordo com as proporções descritas na
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30 e 31 de julho de 2019 – Campinas, São Paulo
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Análise de pH: foram pesados 20g de cada amostra utilizando balança analítica, e diluídos
com agitação em frasco com 180 mL de água deionizada. O pH foi medido com o pHmetro Denver
Instrument – modelo Ultrabasic. A medida de pH foi realizada a cada 2 horas para cada amostra de
fermento natural.
Análise de Rampa de Volume: foram pesados 10g de cada fermento (em triplicata)
utilizando a balança analítica, e colocados formatados em esfera em provetas graduadas, para
visualização e anotação do volume a cada hora. As amostras foram armazenadas na estufa
incubadora B.O.D. (Biochemical Oxygen Dermand) com controle de temperatura a 28ºC.
A produção dos pães de forma isentos de glúten foi baseada na formulação adaptada de
Cesar et al (2006) e utilizada por Messa et al (2018), com a utilização dos seguintes ingredientes:
farinha de arroz (Gluten Free), fécula de mandioca modificada (National 75 Ingredion), fécula de
mandioca (Pinduca), açúcar extra fino (Mais Doce), gordura vegetal de palma (Agropalma 370B),
leite em pó integral (Itambé), clara em pó (Clarapan Maxxiovos), fermento biológico (Saf-instant
Lesaffre), sal iodado (Cisne), mix de derivados de celulose (Wellence Gluten Free Dow),
emulsificante monoglicerídio destilado de ácidos graxos vegetais (Mycelle MHS 90 M), enzima
transglutaminase (AB Enzymes), glucoamilase (Granolab Granotec) e propionato de cálcio
(Metachem). As formulações utilizadas estão apresentadas na Tabela 2. Nas formulações FA1 e
FM1 foram utilizadas massas ácidas alimentadas no dia anterior e nas formulações FA2 e FM2 foram
utilizadas massas ácidas alimentadas 4 horas antes do processamento.
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Atividade de água (Aw): para cada amostra foram realizadas leituras diretas em higrômetro
elétrico AQUA LAB modelo 4TEV a temperatura de aproximadamente 25°C, em triplicata.
Textura: o parâmetro firmeza foi medido em texturômetro SMS, modelo TA-XT2i, segundo o
método 74- 09.01 (AACCI, 2010), com probe P/36R, plataforma HDP/90. Foram realizadas 10 leituras
de cada amostra.
Volume e volume específico: o volume foi medido segundo método 10-05.01 (AACCI, 2010)
em medidor volumétrico para pães, modelo MDMV03, série 60, marca Vondel Ind. e Com. O volume
específico foi obtido pela razão entre o volume do pão e sua massa em gramas. Esta análise também
foi realizada em triplicata.
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3. RESULTADOS E DISCUSSÂO
No decorrer da alimentação das massas ácidas, elaboradas com farinha de arroz (FA) e com
farinha de arroz e fécula de mandioca (FM) observou-se um desenvolvimento superior do fermento
natural à base de farinha de arroz em relação ao da massa ácida composta por fécula de mandioca
e farinha de arroz, apresentando uma consistência mais firme, além de uma aparente maior ativação
e fermentação, como ilustrado nas Figuras 1 e 2.
Figura 3. Gráfico da rampa de pH dos fermentos Figura 4. Gráfico da rampa de volume dos fermentos
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Os aspectos visuais dos pães de forma obtidos estão apresentados na Figura 5. Foi
observado nos testes FA1 e FM1 um aspecto visual similar ao de pão de forma e boa coloração,
porém com alguns comprometimentos como regiões de compactação do miolo. Nos testes FA2 e
FM2 houve melhora nessas características, o que pode ser atribuído a adição da enzima
glucoamilase e adição da massa ácida com menor tempo de alimentação. Também pode ser
observado um aumento no volume específico para essas formulações (Tabela 6). O volume
específico do pão é um dos parâmetros mais importantes para avaliar sua estrutura, porque afeta
principalmente a aceitação visual.
Os volumes específicos encontrados (Tabela 6) são baixos quando comparados aos pães de
forma tradicionais, que empregam a farinha de trigo como ingrediente, o que proporciona uma
estrutura de glúten bem definida e explicando o porquê do crescimento dos pães sem o glúten ser
comprometido, pois não há a formação da rede viscoelástica, comumente resultando num pão com
miolo compactado e borrachudo. A quantidade de gás carbônico produzido e a capacidade de reter
esse gás no sistema estão diretamente relacionados ao volume. Se massa produzida tem baixa
resistência à extensão, ela não consegue reter o CO2 e nem manter o seu volume. Por outro lado, se
a resistência é muito alta, a pressão do dióxido de carbono é insuficiente para expandir a massa,
resultando em pequeno volume (EL DASH, 1982). Além disso, fatores como a viscosidade, teor de
amilose e amilopectina, agregação de proteína, componentes ativos de superfície e o aquecimento
também interferem no seu crescimento (O'SHEA et al, 2015).
Já a atividade de água (Aw) indica a quantidade de água disponível para realizar o movimento
molecular e promover o crescimento microbiano (FENNEMA,2000). O pão de forma é um produto de
alta atividade de água (>0,80), ou seja, é favorável ao desenvolvimento de bolores e leveduras e
curta vida de prateleira. Os resultados apresentados na Tabela 6 comprovam esse fato, onde todas
as amostras apresentaram valores de Aw superiores a 0,90, não havendo diferença significativa
estatística entre eles.
Quanto ao parâmetro firmeza, força necessária para realizar deformação após a primeira
compressão do produto (SABINO; SOUSA; SANTOS,2015), houve um aumento da maciez dos
miolos dos pães sem glúten com a adição de massas ácidas com alimentação no mesmo dia de
produção. A utilização de massa ácida na produção de pão pode provocar mudanças nas
propriedades reológicas da massa, tornando-a macia e mais extensível (MARTINBIANCO, 2011).
4. CONCLUSÃO
positivo no volume, textura e vida de prateleira de pães sem glúten, devendo ser melhor estudadas
as características desses fermentos, assim como os parâmetros de processo para a produção dos
pães sem glúten.
5. AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pela bolsa PIBITI concedida. Ao Cereal Chocotec / Ital pela oportunidade de estágio.
6. REFERÊNCIAS
AACCI. American Association of Cereal Chemists International. Approved Methods, 11th ed., St. Paul:
2010.
ALMEIDA, O.P. Pão de forma gluten free a base de farinha de arroz. 2010, 250p. Dissertação (Mestrado),
Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2010.
BRANDÃO, LIRA. Tecnologia de panificação e confeitaria. 2011. 148f. Curso Técnico em Alimentos, Recife,
2011. Disponível em http://www.respostatecnica.org.br/dossie-tecnico/downloadsDT/Mjc2NjA. Acesso em: 15
jan. 2019.
BRASIL. Resolução RDC nº 263, de 22 de setembro de 2005. Aprova o "Regulamento técnico para
produtos de cereais, amidos, farinhas e farelos". Diário Oficial da União, Brasília, 5 p. 22 de setembro de
2005.
CESAR et al. Elaboração de pão sem glúten. Revista Ceres, 53 (306):150-155, 2006.
MESSA, S.; NABESHIMA, E.H.; MONTENEGRO, F.M.; CRUZ, C.L.C.V. Utilização de aditivos e massa ácida
em pães de forma sem glúten à base de derivados de mandioca. In: 120 CIIC - CONGRESSO
INTERINSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 2018, Campinas. Anais… Campinas: 2017, p. 1-9.
O'SHEA, N.; RÖßLE, C.; ARENDT, E; GALLAGHER, E. Modelling the effects of orange pomace using
response surface design for gluten-free bread baking. Food Chemistry, 166, p. 223-230, 2015.
13º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica – CIIC 2019
30 e 31 de julho de 2019 – Campinas, São Paulo
ISBN: 978-85-7029-149-3
QUEIROZ, M.B.; NABESHIMA, E.H. Naturalidade e Autenticidade. In: Brasil Bakery & Confectionery
Trends 2020. Campinas, ITAL, 2014, cap. 8, p. 158-195.
SABINO, SOUZA, SANTOS. Desenvolvimento de pão “sourdough” sem glúten a partir de culturas
starters. 2015, 51f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) – Curso Superior de tecnologia de Alimentos,
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Medianeira, 2015.
SALFINGER, Y.; TORTORELLO, M.L. Compendium of methods for the microbiological examination of
foods. APHA Press. Fifth edition, 2015.
STEFANELLO, R.F. Produção, liofilização e aplicação de fermento natural em pão tipo sourdough. 2014,
160 f. Dissertação (Pós-Graduação) – Curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Centro de Ciências Rurais,
Universidade Federal de Santa Maria, 2014.