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RESENHA - Análise do Filme “A Origem” (Inception) na perspectiva da psicologia

junguiana sobre a interpretação dos sonhos

Maria Inez Sousa dos Santos – 01477925 – Psicologia – Parangaba – Manhã – B – Tópicos
Integradores 1

O filme “A Origem” de 2010 e dirigido por Christopher Nolan, contém uma história centrada
em Dom Cobb, um espião corporativo que se infiltra na mente de outros para roubar suas
ideias através dos sonhos (processo chamado de extração). Ele foi contratado por um
bilionário de grande poder, chamado Saito, para introduzir uma ideia (processo de inserção)
na mente de seu rival, Robert Fisher. Para isso Cobb monta uma equipe, onde cada um tem
uma função para o êxito da tarefa, o grupo é formado por: Arthur, pesquisador e sócio de
Cobb que rastreia informações; Eames, como personificador e falsificador; Yusuf, químico
que aplica o sedativo que induz a pessoa alvo ao sono e Ariadne, uma arquiteta jovem que
auxilia Cobb na projeção de espaços proporcionais nos sonhos.

A razão pela qual Cobb está motivado a arriscar aos perigos de se infiltrar nos sonhos é por
causa da culpa que sente envolvendo sua falecida esposa Mal, que se matou depois de pensar
que o limbo, última camada do sonho, era sua realidade e que o mundo em que eles viviam
era falso.

Na compreensão de Jung, os sonhos são representações simbólicas do aspecto inconsciente na


psique humana. A interpretação ou análise de um sonho se aplica no contexto da vida do
sonhador, por isso é importante compreender a jornada dos personagens da experiência,
entretanto o filme tem sua própria mecânica em relação ao funcionamento de um sonho, como
a questão da relatividade do tempo, para que faça sentido em seu roteiro não necessariamente
se aplicando a nossa vida real e é importante destacar o pião usado pelo personagem principal
como indicador de algo ser um realidade ou sonho assim como os totens dos outros
sonhadores mas, que nem sempre deixa claro o que seria considerado um objeto do sonho ou
da vida real pois a apresentação dos fatos segue os devaneios dos personagens.

A partir do momento que adentramos mundo dos sonhos, começamos a ser apresentados aos
personagens em diferentes camadas que correspondem ao modelo de Jung, sendo a porção
mais superficial o consciente e a mais profunda o inconsciente que são separados por níveis e
interferências, como: Self (si mesmo), Sombra, Ego, Persona, Anima e Animus, e a divisão de
Inconsciente pessoal e coletivo.
Na mente de Yusuf temos a cidade chuvosa, que pela descrição da equipe a chuva
representaria a vontade de urinar do sonhador, deixando claro o paralelo entre a realidade e o
sonho, ainda assim servindo mais como uma introdução para as outras camadas a seguir e
simbolicamente como passagem entre o consciente e o inconsciente.

Arthur sonha com um hotel, que podemos compreender como uma estrutura referente a sua
psique por ser um local organizado, em constante movimento de saída e entrada de pessoas
assim como ele se apresenta, que apesar de não ser o personagem principal, ele tem bastante
importância para Cobb e teria uma vida considerada como ideal (corajoso, bem sucedido,
inteligente e atraente).

Mais adentro temos o sonho de Eames, na neve, que em contraste com sua personalidade
temos um cenário frio, misterioso, onde a neve dificulta o senso de localização, embaça a
vista de objetos distantes. Ainda assim essa frieza e nevoeiro servem para encobrir o seu
verdadeiro eu, já que ele comumente utiliza de truques e fantasias podendo-se comparar com
o contexto de persona: uma espécie de máscara projetada, que serve para dissimular a
verdadeira natureza do indivíduo.

E como última camada temos o limbo, onde regem os impulsos do inconsciente mais
profundo e prendem o sonhador naquela realidade considerando ela como principal e
verdadeira sem realizar que há uma vida por fora daquela simulação, que por alguns palavras
chave entre Cobb e Saito foi possível compreender essa disparidade e acordar para a vida real.
Assim, cada personagem é deixado para trás e sobra apenas Ariadne e Cobb nessa última
camada.

Em geral é possível fazer interpretações profundas de cada “fase” desse filme, porém quero
destacar a individualidade de cada personagem e seus encaixes nos arquétipos. Seria como se
toda a trama se passasse dentro da mente de Cobb em busca de uma solução pela culpa que
sente pela morte de Mal, sendo ela a sua “sombra” constantemente interferindo no seu ego de
maneira negativa. Yasuf como “Si-mesmo”, colocando uma ponte entre consciente e
inconsciente; Eames e Arthur como “Persona”, constante adaptação com o meio e
preocupação com a imagem; e Ariadne como “Anima”, o princípio feminino. Todas essas
forças se juntas para a compreensão e superação desse trauma. O simbolismo do pião no final
do filme representa tanto um questionamento para o espectador quanto a superação de Cobb.
Inception é uma boa obra para construir interpretações profundas e tem um bom paralelo com
as teorias de Carl Jung, é uma boa inspiração para discussões dentro dos estudos de Psicologia
principalmente em seus subtextos.

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