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O CLUBE DA LUTA: NARCISISMO, IDENTIFICAÇÃO

E PSICOLOGIA DAS MASSAS1

Marion Minerbo* & Carmen Soto de Bakker Silveira, Claudia Cristina


Pereira Gomes Antila, Eloisa Helena Rubello Valler Celeri, Ethel Penna,
Fábia Badotti Garcia Herrera, Maria Regina Viegas de Almeida, Remo
Rotella Junior

RESUMO

Discute-se inicialmente a diferença entre interpretação psicanalítica e exercício


de psicanálise aplicada. Este texto é um exemplo de psicanálise aplicada, pois
utilizamos o filme O Clube da Luta para ilustrar os conceitos freudianos de identificação
e narcisismo e fenômenos de massa estudados durante um seminário no Instituto. O
objetivo do exercício é reconhecê-los em sua forma viva e encarnada no “material clínico”
do filme, e ao mesmo tempo usá-los na compreensão do filme. Na primeira parte, o filme
narra a psicotização do personagem, enquanto a segunda mostra os caminhos de sua
lenta recuperação, isto é, da possibilidade de efetuar a discriminação e o luto pela perda
da fusão com o ego ideal.

Palavras-chave: Narcisismo. Identificação. Fenômenos de massa. Psicanálise apli-


cada.

Introdução
1
Este texto é produto do seminário
É importante, para o que se segue, distin-
“Narcisismo e Identificação”, que acon-
teceu no Instituto da SBPSP no segundo guir entre um exercício de psicanálise aplicada e
semestre de 2005. Trata-se de uma sín- uma interpretação psicanalítica. Cada um tem a
tese do debate sobre o filme O Clube da sua hora e o seu lugar.
Luta, com o qual encerramos o seminá- Este é um texto de psicanálise aplicada.
rio. A proposta foi interpretá-lo à luz
dos textos estudados durante o curso.
Isto significa que um filme foi usado, durante o
Devo a Luís Claudio Figueiredo a suges- seminário, para ilustrar, com um bom exemplo, a
tão deste filme. Agradeço também por teoria; para praticar e firmar a compreensão dos
sua leitura dedicada e comentários preci- conceitos estudados — como se fosse um novo
osos.
*
conceito de português, ou de matemática; para
Membro Efetivo e Analista Didata da
SBPSP. Todos os co-autores são analis- reconhecê-los em sua forma viva e encarnada
tas em formação no Instituto de Psicaná- no “material clínico” do filme. A teoria nos é dada
lise da SBPSP. a priori; pode, então, ser aplicada ao filme. E

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isto em dois sentidos: como bússola, ori- anteriormente em lugar algum. Exige tra-
entando nosso olhar e escuta, sensibili- balho, um trabalho de imaginação e de
zando-os para determinados aspectos, an- criação, e não de tradução/ aplicação.
tes invisíveis, ou sem sentido, do que Vejamos. Em certo momento do
estamos vendo e ouvindo. E como uma filme funda-se o Clube da Luta, em que o
espécie de “dicionário” que nos permite objetivo dos sócios não é bater e vencer a
fazer uma aproximação, ou uma versão, luta. É apanhar e perder. O exercício
da linguagem cinematográfica em lingua- parte de uma teoria pronta, que podemos
gem psicanalítica. O importante é que a facilmente reconhecer: a dor física é uma
teoria entra e sai intacta (ou quase intacta, defesa, serve para estancar outra dor
pois alguma transformação sempre é ine- pior, a dor psíquica. Não estranhamos
vitável quando algo é usado) deste exer- mais a cena do filme. Ela foi encaixada no
cício. Se o exercício for bem feito, o filme já sabido. Entendemos.
pode se tornar bem interessante graças a Já a postura interpretativa, ao con-
este recurso. E a teoria se mostra absolu- trário, toma em consideração, potencializa
tamente viva. No caso, a teoria sobre o a sensação de total estranheza que expe-
narcisismo, sobre a identificação, e sobre rimentamos diante da cena. Além disso,
os fenômenos de massa. Diante de um apanhar nos repugna, e nos repugna por-
paciente espera-se que um psicanalista que não faz sentido em nossa cultura —
não faça qualquer aplicação da teoria, embora seja natural para os personagens.
mas sim uma interpretação. A teoria será Nossa estranheza e repugnância são um
usada para orientar sua escuta, e também ponto de partida possível para a interpre-
brotará, redescoberta, da interpretação. tação. E então imaginamos que os perso-
Já uma interpretação (de um filme, nagens têm razão: apanhar pode ser a
do discurso do paciente) é outra coisa. única maneira, no mundo contemporâ-
Não partimos de uma teoria pronta. Mu- neo, de não ser cooptado pelo sistema, de
nidos de um certo olhar, de uma certa manter um mínimo de autonomia com
escuta, ou, mais precisamente, adotando relação ao objeto primário. Mas, ao mes-
uma certa postura diante do objeto, pro- mo tempo, cria-se um sistema de franqui-
curaremos criar-achar uma “teoria do as mediante o qual o Clube da Luta passa
filme”. Não procuramos a tese central, a ser aberto por todo o país. O movimento
manifesta, do filme (o filme é sobre x). de autonomia foi cooptado pelo sistema
Ao contrário, prestamos atenção a cenas capitalista. Enfim, esta compreensão, que
que nos parecem destoar, de alguma fica em aberto, já nos exige e sugere um
maneira, do senso comum, que não pare- movimento interpretativo que vai além de
cem se encaixar em teses fáceis, ou em qualquer teoria já dada.
teorias já prontas. O resultado é algo que Feita essa distinção, passemos à
nos surpreende, já que não estava dado exposição de nosso exercício. Antes, po-

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rém, uma palavra sobre o processo de do, sob a mira de um revólver, por outro
produção deste texto. No início do curso, cujo rosto não vemos. Este pergunta algo
antes da leitura dos textos de Freud e como2: “Conhece Tyler Durden? Sabia
comentadores, foi proposto aos alunos de seus planos para explodir os edifíci-
que assistissem ao filme, e que, ao final do os?”. A resposta, “eu sei porque ele
seminário, o vissem novamente para o sabe”, lança-nos de chofre no campo do
debate na última aula. Segundo os alunos, duplo: eu e ele somos o mesmo no que diz
a diferença entre o antes e o depois do respeito a esse saber. Ficamos curiosos
curso foi notória. Antes, era um “filme para descobrir qual a relação entre esse
muito violento”, que repugnou especial- sujeito e Tyler Durden (Brad Pitt). O
mente às mulheres. Depois, passou a ser filme todo é o flashback que nos permi-
um filme instigante para todos. Este texto tirá responder a essa questão.
é a elaboração, feita pela coordenadora, a Somos apresentados ao protago-
partir do debate final. A co-autoria foi nista, personagem torturada pela insônia
dada apenas aos colegas que apresenta- crônica. Adentramos esse universo mar-
ram suas idéias por escrito. cado por um retraimento de tipo esquizóide.
O mundo, as pessoas, as coisas, estão a
O filme abre com uma viagem por uma enorme distância deste homem que
algo que vai parecendo uma trama de não consegue repouso — no duplo senti-
neurônios com um caráter um tanto sur- do de dormir e de encontrar alguma paz
realista, os quais parecem, finalmente, interior. Percebemos seu doloroso isola-
transformar-se em pele. De certa forma mento afetivo, o que o mantém num esta-
é a sinopse do filme, antecipando que do de angústia crônica, causa da insônia.
viajaremos pelo interior de um espaço “Que tipo de porcelana me define
mental, e que testemunharemos a tentati- como pessoa?” é uma de suas falas no
va de construção de uma pele psíquica. A início do filme. O vazio existencial é tão
atmosfera surreal da cena sugere que o intolerável que desejaria morrer. Este
filme pode ser entendido como um sonho, homem — qual é mesmo o seu nome? —
ou melhor, como um pesadelo, em que não chega a ser um cidadão do mundo,
situações e personagens carregam signi- apesar de viajar muito para a companhia
ficados cambiantes de acordo com o de seguros da qual é um medíocre funci-
momento em que surgem. onário. Cidadão dos aeroportos e aviões,
A primeira cena já é violenta e esses não-lugares em que se criam víncu-
bastante enigmática. Vemos um homem los fugazes e descartáveis, tenta preen-
(o ator Edward Norton) sendo interroga- cher o vazio existencial com objetos-

2
Tal como na apresentação de material clínico, não é a fidedignidade objetiva dos diálogos do filme que
nos interessa, mas a fidelidade ao sentido que captamos.

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fetiches. Sua compulsão a consumir coi- encontrada por Jack é uma solução psicó-
sas caras, de griffe, tem a função de tica. O filme narra a história de seu
garantir minimamente a sustentação de adoecimento e de sua cura, mas o interes-
seu narcisismo precário. “Compro, logo se maior reside no fato de colocar em
sou.” Ao longo do filme, veremos entrar evidência a produção de um fenômeno de
em cena uma ideologia anti-consumista massa a partir de um sintoma individual.
com função libertária: a personagem gos- Entretanto, Jack vai pedir ajuda
taria de romper com o sistema que o para o sofrimento causado por sua insônia
aprisiona a essa rotina ininterrupta e ab- a um médico. “Quer saber o que é sofri-
surda de trabalhar para consumir. No mento?”, diz ele. “Freqüente o grupo de
trabalho, nosso homem tem uma relação auto-ajuda de homens com câncer de
de submissão rancorosa ao chefe, que, testículo. Aquilo sim é que é dor.” A
tanto quanto ele, é um rato preso na posteriori entendemos que sua insensibi-
ratoeira da falta de sentido da vida. lidade reedita a falta de continência do
Afinal, o protagonista tinha ou não objeto primário. Em seguida temos a pri-
um nome? Durante o debate, tomamos meira aparição de Tyler, imagem quase
nossa dúvida como indício contratransfe- imperceptível, pois dura uma fração de
rencial da problemática narcísica tratada segundo. A seqüência temporal entre a
no filme. Por outro lado, vários colegas se falta de acolhimento do médico e a ima-
lembravam dos nomes fictícios que assu- gem fugaz de Tyler sugere que o precário
mia nos grupos de auto-ajuda que passou equilíbrio mental de Jack começa a ruir
a freqüentar, o que nos fez pensar em quando o sujeito desespera de encontrar
falso self. Enfim, seu nome era Jack. Um seu objeto. Essa imagem já faz parte do
nome tão comum quanto sem graça e, pródromo do surto psicótico que o acome-
principalmente, sem sobrenome, identifi- terá.
ca à maravilha esse sujeito que se sente Aceitando a sugestão do médico,
um nada, um ninguém, anônimo entre Jack começa a freqüentar o grupo de
tantos outros Jacks que existem por aí. auto-ajuda, embora seja perfeitamente
Certamente não tinha a força e a sonori- saudável. A dor desses pacientes termi-
dade de Tyler Durden, nome da persona- nais é “de verdade”, em contraste com a
gem marcante que entrará em cena adi- irrealidade de seu cotidiano. Por identifi-
ante, e de que tivemos notícia na primeira cação, ele encontra uma forma de entrar
cena do filme. em contato com suas próprias dores,
A tentativa desesperada para sair mesmo sendo incapaz de dizê-las. Come-
do anonimato, para dar um sentido à sua ça a sentir-se “re-humanizado” graças à
existência, e para escapar da ratoeira do continência do grupo e, principalmente,
consumo como modo de vida, pode ser de Bob, personagem que terá um papel
considerada o eixo do filme. A saída bastante significativo. Devido ao câncer,

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este precisou submeter-se a uma Jack torna-se dependente dos gru-


orquitectomia, isto é, à castração. O tra- pos de auto-ajuda, das mais variadas e
tamento à base de hormônios femininos terríveis doenças. Ali, todos falam de
tem como seqüela uma gigantesca suas dores num enquadre em que o máxi-
ginecomastia. O resultado é uma figura mo de anonimato permite o máximo de
grotesca, embora bastante afetuosa, e intimidade. Fala-se da doença, do medo
que nos sugere o par combinado pênis/ da morte, da solidão, do fracasso das
seio. Acompanhamos passo a passo sua relações familiares. O enquadre desses
identificação com a dor física e moral, grupos lembra bastante o enquadre ana-
com o sofrimento, a humilhação, a impo- lítico. Ao contrário do mundo, em que as
tência, destes homens que precisaram feridas narcísicas devem ser cuidadosa-
extrair o testículo, órgão-símbolo da po- mente escondidas para que todos pare-
tência, da virilidade, da afirmação narcísi- çam vencedores, na intimidade do grupo
ca do homem. Percebemos claramente a ou da sala de análise elas podem ser
importância da continência do grupo. reveladas e cuidadas. Enfim, Jack encon-
Neste, os participantes usam nomes fal- tra a possibilidade de uma relação de
sos e relatam suas experiências. Depois, objeto significativa em que não é preciso
em duplas, eles se abraçam, conversam, defender-se, e em que é possível estabe-
choram. Primeiro é a vez de Bob, que lecer uma relação de dependência com
abraça Jack e chora. Em seguida Bob lhe um objeto relativamente confiável. Em
diz: “Agora é sua vez, pode chorar”. E suma, o grupo funciona como uma família,
Jack chora, mergulhado nos seios acolhe- lugar de trocas afetivas, de pertencimento e
dores de Bob, entregando-se — ao que aceitação, o que vai dando algum lastro
parece pela primeira vez na vida — a essa afetivo e contornos psíquicos a Jack.
experiência que poderia nos parecer ridí- Nessa peregrinação bizarra conhe-
cula ou piegas, mas é comovente. No seio ce Marla (Helena Bonham Carter), uma
do grupo e de Bob, Jack experimenta o garota igualmente saudável, igualmente
alívio da regressão através do contato perdida na vida, igualmente dependente
corporal com o outro. Em seguida vai desses grupos. Marla representa também
para casa e dorme como um bebê, depois uma parte mórbida de si mesmo que, em
de meses de insônia. Em off, ele conta lugar do consumo desbragado, usa o sexo
que ali, nos grupos de auto-ajuda, “as e as drogas para preencher seu vazio e
pessoas escutam de verdade, não estão sentir-se viva. A ilusão de bem-
esperando a vez para falar; encontrei a aventurança é ameaçada quando ela apa-
liberdade na perda da esperança”. En- rece nos grupos, denunciando a falsidade
contra vida psíquica lá onde a vida bioló- da solução encontrada por Jack: não é
gica se esvai, obrigando os sujeitos a um possível manter o equilíbrio emocional
enorme trabalho mental. indefinidamente às custas desses grupos.

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“A mentira dela refletia a minha”, diz Agora ele habita a psicose franca. A casa
Jack. A garota funcionará, ao longo do retrata bem essa atmosfera afetiva: é um
filme, como objeto externo, real, altamen- lugar lúgubre em que tudo está em ruínas,
te investido, e terá a função de resgatá-lo um lugar sufocante, reflexo do que Jack
da loucura. vive interiormente.
Em uma viagem de avião conhece É de maneira bastante gradual que,
Tyler. A afinidade entre ambos é instan- ao longo do filme, vamos percebendo que
tânea e maciça, o que caracteriza as Tyler é Jack. O espectador é compensa-
relações de objeto narcísicas. Chama a do pela espera, e pelo ritmo algo descone-
atenção o fato de que ambos estão com a xo que deve tolerar até certo ponto do
mesma maleta executiva, o que nos re- filme. Esse suspense inteligente é a sur-
mete novamente à questão do duplo, presa e a grande sacada do filme —
anunciada na abertura do filme. O duplo, suspense que, infelizmente, se perde numa
por sua vez, vai-nos introduzindo aos pou- narração que já traz embutida uma certa
cos no campo da psicose. Parte da con- interpretação do filme, como essa que
versa entre os dois é sobre bombas, isto é, estamos apresentando ao leitor. No filme,
entra em cena a violência. Tyler tem uma vamos percebendo aos poucos que Tyler
vida bastante não-convencional: vive de é, em tudo, o oposto de Jack. Forte e
fabricar em casa sabão artesanal, o qual, corajoso, tem idéias próprias e é
como ficamos sabendo mais adiante, é carismático. É uma pessoa segura de si e
feito com gordura humana de lipoas- viril: é ele quem conquista a bela, sensual,
pirações. Como veremos, a gordura como Marla. Não se submete a nada, não de-
excedente é uma metáfora do consumo pende de nada e de ninguém. Tem espírito
do supérfluo do supérfluo, ardorosamente de liderança, todos o admiram, torna-se
combatido por ele. uma celebridade. Enfim, parece ter con-
Voltando dessa viagem, Jack des- seguido ser sujeito de seu próprio desejo,
cobre que seu apartamento explodiu e conduzindo sua vida como bem lhe pare-
está em chamas. É uma bela imagem da ce. Em certo momento fica claro que se
entrada no surto. A polícia investiga o que trata de uma construção delirante de Jack
aconteceu. Os restos mortais de seus e representa seu duplo. Em nossa inter-
caros e preciosos bens de consumo jazem pretação, Tyler representa o ideal de ego
pelas ruas, imagem do psiquismo frag- de Jack, com o qual se funde na psicose,
mentado. Não tendo para onde ir, telefo- tornando-se seu próprio ideal. Esses as-
na para Tyler, que se dispõe a ajudá-lo. pectos de Jack estarão ora mais confun-
Leva-o para sua casa, que é, em tudo, o didos (Jack-Tyler) ora mais discrimina-
exato oposto do apartamento bonitinho de dos (Jack e Tyler) ao longo do filme.
Jack. É uma casa abandonada, caindo Na noite após a entrada no surto
aos pedaços, sem qualquer conforto. seu “novo amigo” lhe pede: “Bata-me

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com toda sua força”. Seu lado Tyler o para estancar a dor psíquica, como ocorre
autoriza a viver e expressar sua violência com certos pacientes que se cortam para
e Jack vivencia seu potencial destrutivo, aplacar sua angústia. No texto Além do
que, agora já desconfiamos, está na ori- princípio do prazer Freud (1920/1976b)
gem do surto. O que se vê, depois dessa nota que pacientes que passaram pelos
primeira luta, surpreende o espectador: traumas de guerra não desenvolvem uma
depois de apanhar bastante, Jack-Tyler neurose traumática caso tenham tido, ao
está feliz, satisfeito, sente-se bem, como mesmo tempo, um grave ferimento cor-
que saído de uma experiência revigorante. poral. O aporte de libido necessário para
Sente-se vivo. A dor física parece tornear refazer a integridade corporal funciona
os limites da própria existência, formando como um escudo, que protege o sujeito do
um eu coeso no lugar da experiência trauma psíquico. No filme, quanto mais
anterior de fragmentação. No registro da sangrenta a luta, quanto maior a dor física,
dor e dos hematomas dá-se a passagem mais o sujeito se sente vivo psiquicamen-
do eu corporal para sua dimensão psíquica. te. É outra leitura do que acontecia nos
Encontramos na internet3 uma in- grupos de auto-ajuda, em que a dor tam-
terpretação bastante interessante do efeito bém tinha uma função estruturante do
revitalizante de “apanhar” que tanto nos psiquismo.
intriga no filme. Segundo Marco Antonio Enfim, essa primeira briga funda o
Dassori, o filme “subverte a lógica do que virá a ser o Clube da Luta. A solução
sistema ao afirmar que o importante não sintomática de Jack-Tyler irá, aos pou-
é bater, mas sim apanhar. Ao “baixar a cos, se transformando em um fenômeno
guarda”, abrindo mão do conforto e da de massa. Em pouco tempo, muitos ou-
segurança, o indivíduo encontraria a ver- tros homens aderem de maneira entusias-
dadeira “liberdade”. Ou seja, se o sistema mada a essa atividade altamente estimu-
é vivido como uma mãe engolfante, de lante, depois de uma jornada de trabalho
cujas injunções não é possível escapar, a totalmente desvitalizado e desinvestido.
única maneira de recuperar um mínimo De acordo com as regras, os membros do
de autonomia com relação ao desejo do grupo podem lutar dois a dois, um contra
objeto primário é abrir mão do desejo de o outro, em dias da semana prefixados,
“vencer”. Desejar “apanhar” é, parado- dentro de um código de ética que deve ser
xalmente, a única maneira de buscar o respeitado. Se o grupo de auto-ajuda fun-
próprio desejo. cionava como uma família, continente das
A luta não se inscreve no campo do angústias dos seus membros, o Clube da
prazer erótico, mas no do alívio da dor Luta se mantém e se reproduz apoiado
psíquica. A dor física está sendo usada sobre outras funções psíquicas que reali-

3
Site http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/clube-da-luta/critica22.html.

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za para seus membros. Do ponto de vista sua outra vida — que, por sinal, é a
econômico representa um aporte de libi- nossa!), não precisariam trabalhar em
do narcísica que falta a esses sujeitos serviços de que não gostam, apenas para
desvitalizados. Do ponto de vista dinâmi- ganhar mais dinheiro. Poderiam dedicar-
co, sua ideologia representa a possibilida- se àquilo que realmente lhes dá prazer.
de de recuperação do narcisismo perdido. Há uma cena violentíssima na qual um
Opondo-se ao consumismo sentem-se li- oriental é ameaçado de morte, para ser
vres. Em outras palavras, o grupo oferece libertado com a condição de voltar a
representações valorizadas que susten- estudar veterinária, sua paixão antes de
tam a identidade do sujeito. ser um funcionário de uma loja de conve-
A depressão narcísica que está na niência. Os membros do grupo são obri-
base do surto de Jack cede quando a libido gados a ter, na ponta da língua, um
volta a circular e a investir novos objetos: pseudoprojeto pessoal ou um hobby que
o líder, mas também o eu-amado-pelo- lhes daria prazer. Obviamente, como “ter
líder. O grupo funciona como um um projeto ou um hobby” é uma imposi-
exoesqueleto que sustenta, de fora para ção do líder, não tem nada a ver com
dentro, as frágeis fronteiras egóicas dos prazer ou realização pessoal. Ao contrá-
sócios do clube. O grupo de auto-ajuda rio, a adesão sem crítica é tão alienante
era composto por sujeitos castrados, quanto o consumismo que combatem.
perdedores, em plena posição depressi- Enfim, é tão contraditório quanto preten-
va. Aqui, pelo contrário, o ego se percebe der levar um país à democracia na marra,
coincidindo com o ideal do ego, o que cria custe o que custar.
um estado hipomaníaco em que tudo é Com tal ideologia libertária, os só-
possível. O ideal narcísico de tolerar a dor cios do clube veneram Jack-Tyler como a
física, em lugar de fugir dela como os um salvador — ele os salvou da existên-
comuns mortais, é essencial para que o cia medíocre e desvitalizada da escravi-
ego se perceba como sendo, novamente, dão consumista. Por outro lado, Tyler
seu próprio ideal. Isto, aliás, é ilustrado exige obediência cega. Aos poucos, a
pela cena em que Tyler queima a mão de coisa vai crescendo e se organizando, até
Jack com um ácido que produz uma dor se transformar em um exército paralelo
excruciante — e Jack deve ser capaz de que visa combater, com ações terroristas,
ser homem o suficiente para suportar a as instituições que fomentam o consumo.
dor. O narcisismo dos membros do grupo se
A ideologia anticonsumista confe- sustenta totalmente no fato de pertence-
re um novo sentido à existência. Tyler rem ao Clube da Luta, o que os torna, a
sustenta que, se as pessoas não sentissem seus próprios olhos, superiores aos outros.
a necessidade de consumir bens absolu- Em termos freudianos, estão muito próxi-
tamente supérfluos (como Jack fazia em mos do ideal do ego proposto pelo líder.

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O Clube da Luta: narcisismo, identificação e psicologia das massas

O Clube da Luta abre franquias Marco Antonio Dassori (no site já cita-
pelo país. Nos termos de hoje, Tyler do), o objetivo do Projeto Caos era
torna-se uma celebridade. Em termos
freudianos, ele se transforma no “pai da (...) minar a sociedade de consumo por
horda primeva”. Ou, segundo Janine meio de ações terroristas, tendo por alvo
Chasseguet-Smirgel (1992), ele se apre- organizações emblemáticas, como as em-
senta como uma mãe narcísica idealizada presas de cartão de crédito. Se no começo
a empreitada parece obter sucesso, irma-
que permite realizar, através de si, os
nando os personagens, a implementação
desejos mais regressivos de seus mem- do referido projeto resulta no nascimento
bros. O líder, longe de ser um pai, é aquele de uma organização de cunho nitidamente
que sustenta a ilusão de fusão regressiva fascista, militarizada e despersonalizante
com o objeto primário idealizado. que, ao negar o consumismo, também re-
jeita o humanismo.
A figura paterna é de fato expulsa,
excluída do grupo, como o Superego. Tudo Ao perder Bob, Jack não mergulha
se passa como se a formação coletiva em numa depressão narcísica. Ao contrário,
si constituísse a realização alucinatória da recupera seu lado mais humano e esta é
posse da mãe pela irmandade, de um modo a ocasião para que se dê o reconhecimen-
muito regressivo, o da fusão primária.
to da alteridade do objeto. O filme mostra
Entretanto, o chefe pode existir (basta
pensar nas massas nazistas). A meu ver,
que Bob é a primeira pessoa no grupo que
ele não saberia confundir-se com o pai: o pode ser chamado pelo nome e sobreno-
chefe é aquele que ativa o antigo desejo de me, e que merece um enterro digno.
união do Ego e do Ideal. Ele é o promotor Em seu processo de refazer conta-
da Ilusão (1992, p. 73). to com a realidade, começa a se interes-
sar por Marla, e preocupa-se em protegê-
A primeira parte do filme narra a la dele-Tyler. E começa a ser crítico,
psicotização de Jack, o processo de con- tanto com relação às ações predadoras
fusão entre Jack e Tyler, enquanto a do Clube, quanto com relação às franqui-
segunda mostra os caminhos de sua lenta as. Já não está fundido com a ideologia do
recuperação, isto é, da possibilidade de grupo. Agora fica horrorizado com o ideal
efetuar a discriminação e o luto pela que criou. Combatê-lo passa a ser seu
perda da fusão com o ideal narcísico. A novo ideal.
relação com a realidade começa lenta- Já fora do surto, percebe que ele-
mente a se recompor quando seu velho e Tyler havia criado um plano para destruir
querido amigo Bob morre em uma missão certos edifícios, símbolos do capitalismo e
do Projeto Caos — uma das atividades do consumismo. Vai à polícia e entrega-
colaterais do Clube da Luta a serviço da se. Quer reparar os estragos. Mas a
ideologia anticonsumista. Ainda segundo própria polícia pertence ao Clube da Luta,

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e não aceita opiniões divergentes, nem do mento de um modo de vida fundado na


próprio Tyler. “Você nos avisou que diria necessidade narcísica de adesão acrítica
isto, e não era para aceitar.” Aqui vemos aos signos de prestígio criados pela soci-
como o psiquismo se torna refém de seus edade de consumo.
objetos internos. Não é simples livrar-se Em nossa interpretação, o filme
deles. É então que começa a entender mostra como a solução sintomática de um
que está sendo ameaçado por uma parte indivíduo pode se transformar num fenô-
de si mesmo que já não lhe serve. meno de massa. O fenômeno se alastra,
Agora, no caminho da cura, o con- inclusive para fora das telas. Mateus da
flito se desloca e a luta passa a ser Costa Meira, estudante de medicina da
totalmente interna: Jack de um lado, e Faculdade de Ciências Médicas da Santa
Jack-Tyler de outro. A cena final, em que Casa de São Paulo, em 5 de novembro de
Jack dá um tiro em si mesmo, mostra a 1999 atirou sobre a platéia que assistia a
morte simbólica de seus aspectos dene- Clube da Luta no Shopping Morumbi. O
gridos, desvalidos, desvitalizados, que tor- rapaz de vinte e quatro anos matou três
naram o surto psicótico, e especialmente pessoas e feriu seis. Antes disso atirara
o sintoma — a criação de Tyler —, tão no espelho do banheiro. Disse ter proble-
necessário à sua sobrevivência psíquica. mas psíquicos e já ter sido internado. E
Ou, em outra interpretação, morre a ilu- ainda: “Sei que prejudiquei várias pesso-
são psicótica de ser o ego ideal e tudo as, mas era uma coisa que precisava ser
poder... Faz-se o luto pelo narcisismo feita”.
perdido. Em seu lugar, um ideal do ego O delírio individual se transforma
mais evoluído pode surgir. num fenômeno de massa porque encon-
Um fator decisivo em sua recupe- tra eco em muitas pessoas que se identi-
ração foi perceber que, apesar de todas ficam com Jack. Os sócios do Clube da
as suas “fraquezas”, Marla gostava dele- Luta coincidem no fato de precisarem de
Jack. Ela obviamente não conhecia Tyler, Tyler para dar algum sentido às suas
isto é, não percebeu que Jack estava em existências. Como diria Freud, em Psico-
surto. Achava-o apenas um tanto instá- logia de grupo e análise do ego, Tyler
vel, complicado. Marla faz as vezes de é o “ponto de coincidência entre seus
objeto primário no processo de fundação, egos”. Podemos imaginar que Mateus se
ou melhor, de instauração mínima de um considerava mais um sócio do Clube da
narcisismo de vida. Aos poucos ele vai Luta, engajado num atentado terrorista a
ocupando um novo lugar subjetivo, dife- um dos templos do consumo em São
rente da auto-representação do “corretor Paulo. No filme, após o enterro de Bob,
de seguros medíocre”. Na cena final, alguém diz: “Na morte, um membro do
ambos assistem à implosão dos edifícios Projeto Caos tem um nome”. Na vida real
imponentes, simbolizando o desmorona- do mundo contemporâneo o sujeito só tem

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O Clube da Luta: narcisismo, identificação e psicologia das massas

um nome se, e quando, consegue sair do de enfrentar Tyler. O espectador vê os


anonimato deixando de ser um Jack. E, de dois se engalfinhando, mas o sistema de
fato, Mateus se transforma em Mateus- segurança do prédio grava em vídeo uma
Tyler ganhando visibilidade na mídia com cena em que Jack luta com ninguém,
o seu ato. dando socos no ar. Nesse momento fica
Inversamente, o fenômeno de mas- claríssimo que Tyler é um objeto interno.
sa encobre delírios individuais. Para O mesmo objeto que fora idealizado tor-
Mateus, ele não está louco: apenas é mais nou-se persecutório e deve ser destruído.
um sócio do Clube da Luta. O problema é Mateus não captou essa sutileza,
que, no caso de Mateus, ele não fazia provavelmente porque no surto psicótico
parte da massa. Afinal, o Clube da Luta é o conflito precisa ser totalmente projeta-
uma ficção. Há um erro de cálculo: ele do para fora do espaço psíquico: os inimi-
atira sozinho e é preso. Há outro engano: gos realmente estavam nas poltronas do
no filme, os membros do Clube da Luta cinema. A incapacidade de simbolizar
não chegam a atentar contra a vida de impede que se distinga ficção de realida-
terceiros. Seu alvo é o sistema, ou então, de. O que não invalida a idéia de que todos
lutam uns contra os outros, mostrando nós podemos, em algum momento, preci-
que se trata muito mais de uma luta sar de algum tipo de Tyler para constituir
interna — relativa ao mundo interno — nossa identidade e dar sentido às nossas
do que externa. E, mesmo quando lutam vidas.
contra terceiros, o objetivo, como vimos
acima, é apanhar, e não bater. Há uma REFERÊNCIAS
cena em que cada um dos sócios deve
provocar os transeuntes na rua até que Chasseguet-Smirgel, J. (1992). O ideal do
um deles perca a paciência e o espanque. ego e o grupo. In J. Chasseguet-
Mas esse objetivo nem sempre é fácil de Smirgel, O ideal do ego (pp. 69-81).
se atingir. Por fim, no filme todo ninguém Porto Alegre: Artes Médicas.
morre, exceto Bob.
A luta é também uma metáfora do Dassori, M. A. Nota 10. Recuperado em
conflito psíquico. Há duas cenas bastante 17 abr. 2006 no site http://
engraçadas que expressam a intensidade adorocinema.cidadeinternet.com.br/
e concretude desse conflito. No escritó- filmes/clube-da-luta/critica22.html.
rio, certo dia Jack enfrenta seu chefe e
tem início uma luta. Entretanto, o alvo de Freud, S. (1974a). Sobre o narcisismo:
Jack não é o chefe odiado, mas ele mes- Uma introdução. In S. Freud. Edi-
mo. Vemos Jack socando a si mesmo até ção standard brasileira das obras
cair, bastante ferido. A outra cena se psicológicas completas de Sig-
passa numa garagem, em que Jack deci- mund Freud (J. Salomão, trad., Vol.

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Marion Minerbo & Carmen S. de B. Silveira, Claudia Cristina P. G. Antila, Eloisa Helena R. V. Celeri,
Ethel Penna, Fábia B. G. Herrera, Maria Regina V. de Almeida, Remo Rotella Junior

14, pp. 89-119). Rio de Janeiro: Ima- Freud (J. Salomão, trad., Vol. 18,
go. (Trabalho original publicado em pp. 91-179). Rio de Janeiro: Imago.
1914.) (Trabalho original publicado em 1921.)

Freud, S. (1974b). Luto e melancolia. In Freud, S. (1976b). Além do princípio de


S. Freud. Edição standard brasi- prazer. In S. Freud. Edição stan-
leira das obras psicológicas com- dard brasileira das obras psico-
pletas de Sigmund Freud (J. Salo- lógicas completas de Sigmund
mão, trad., Vol. 14, pp. 275-291). Rio Freud (J. Salomão, trad., Vol. 18,
de Janeiro: Imago. (Trabalho original pp. 17-85). Rio de Janeiro: Imago.
publicado em 1917.) (Trabalho original publicado em
1920.)
Freud, S. (1976a). Psicologia de grupo e
análise do ego. In S. Freud. Edição Korman, V. (1977). Teoría de la
standard brasileira das obras psi- identificación y psicosis. Buenos
cológicas completas de Sigmund Aires: Nueva Visión.

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O Clube da Luta: narcisismo, identificação e psicologia das massas

SUMMARY

Fight Club: narcissism, identification and group psychology

The difference between a psychoanalytic interpretation and the exercise of


applied psychoanalysis is initially discussed. This text is an exercise of applied
psychoanalysis, using the film Fight Club to illustrate the concepts of identification,
narcissism and group psychology. The idea was to recognize them in the film’s “clinical
material” and also to use them to better understand the film. The process of becoming
psychotic is shown by the character, and then his slow recuperation. This passes by the
recognition of the object as a separate being and a process of mourning a state of fusion
with the ideal ego.

Key words: Narcissism. Identification. Group psychology. Applied psychoanalysis.

RESUMEN

Club de la Lucha: narcisismo, identificación y psicología de masas

Se discute, inicialmente, la diferencia entre interpretación psicoanalítica y


ejercicio del psicoanálisis aplicado. Este texto es un ejemplo de psicoanálisis aplicado,
pues utilizamos la película Club de la Lucha para ilustrar los conceptos freudianos de
identificación, narcisismo y fenómenos de masas estudiados durante un seminario en
el Instituto. El objetivo del ejercicio es reconocerlos en su forma viva y encarnada en el
“material clínico” de la película y, al mismo tiempo, usarlos para la comprensión de la
misma. En la primera parte, la película narra la psicotización del personaje, mientras
la segunda muestra los caminos de su lenta recuperación, es decir, de la posibilidad
de efectuar la discriminación y la lucha por la pérdida de la fusión con el yo ideal.

Palabras-llave: Narcisismo. Identificación. Fenómenos de masas. Psicoanálisis


aplicado.

Marion Minerbo
R. João Moura, 647/152 — Pinheiros.
05413-100 São Paulo, SP
Fone: 3898-0074
E-mail: marion.minerbo@terra.com.br

Recebido em: 20/04/06


Aceito em: 25/05/06

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