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Como interpretar os sonhos – segundo Freud

Uma das coisas mais fascinantes de estudar a obra de Freud é a sensação

de que “o que não quer dizer nada sempre quer dizer alguma coisa”. Talvez

vocês já tenham ouvido a frase “Freud explica”, que quer dizer que Freud

explica tudo, ou quase tudo. E para falarmos sobre a genialidade de Freud,

gostaria hoje de compartilhar alguns trechos e ideias contidas no livro A

Interpretação dos Sonhos, publicado pela primeira vez em 1900.

A interpretação dos sonhos antes de Freud

Basicamente, podemos falar em dois tipos de interpretação antes da

psicanálise: a interpretação por decifração e a interpretação simbólica.

O primeiro tipo de interpretação é encontrado nos famosos dicionários de

sonhos. Se eu sonho com cobra significa que eu devo tomar cuidado com

pessoas falsas. Se eu sonho com cadáver, significa que eu estou realizando

um desejo oculto e assim por diante.

A questão é que interpretar o sonho dessa forma é um engano. Não há

uma lógica que possa ser defendida por trás dos significados de cada

elemento. Em algumas culturas, sonhar com cobra também pode significar

um contato com o divino e o sagrado

Então sonhar com cadáver pode significar o medo da morte ou uma

doença?

Depende muito do estado psicológico, emocional ou espiritual de cada um.

Para além do mais, conhecer tudo o que está a nossa volta pode nos ajudar

a compreender o sonho melhor.

Bem, como era de se esperar, este tipo de significação acabou trazendo

para a interpretação dos sonhos muitas das vezes uma interpretação

generalizada, que por vezes não se enquadra com algumas pessoas.

É preciso entender os padrões coletivo, que ao longo do tempo vai

guardando no inconsciente de cada um como um código.


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Por isso que muitos desses símbolos trazer para os tempos de hoje, e

utilizar as ferramentas do passado, pode nos induzir ao erro ao interpretar

os sonhos.

O segundo tipo, a interpretação simbólica, pode ser encontrada em sonhos,

digamos, mais proféticos, que indicam um desenrolar dos eventos futuros.

O exemplo mais fácil e mais conhecido é a interpretação de José do sonho

do faraó, descrito no Gênesis. O faraó sonha o seguinte Gênesis 41:17-24:

“Eis que em meu sonho estava eu em pé na margem do rio, E eis que subiam do

rio sete vacas gordas de carne e formosas à vista, e pastavam no prado. E eis

que outras sete vacas subiam após estas, muito feias à vista e magras de carne;

não tenho visto outras tais, quanto à fealdade, em toda a terra do Egito. E as

vacas magras e feias comiam as primeiras sete vacas gordas; E entravam em

suas entranhas, mas não se conhecia que houvessem entrado; porque o seu

parecer era feio como no princípio. Então acordei. Depois vi em meu sonho, e

eis que de um mesmo pé subiam sete espigas cheias e boas; E eis que sete

espigas secas, miúdas e queimadas do vento oriental, brotavam após elas. E as

sete espigas miúdas devoravam as sete espigas boas. E eu contei isso aos

magos, mas ninguém houve que interpretasse” dos próximos sete anos e as sete

vagas magras como símbolo da fome que adviria logo em seguida.

Este tipo de interpretação dos sonhos, é muito simbólica, sempre foi muito

admirada e louvada. Esse tipo de sonhos até hoje deixa muitas pessoas

intrigada e também fascinada, principalmente por não entender a mecânica

desse processo.

O único problema é que seria necessário para que a interpretação se

realizasse um sujeito especialmente capaz, intuitivo, místico ou espiritual.

De outro modo, o sonho continua sem interpretação.

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A partir de agora vamos falar um pouco mais sobre os sonhos psicológicos

e os seus efeitos físicos no curso. Quando falamos de sonhos psicológicos,

claro que remetemos os nossos pensamentos por alguma coisa que nos

preocupa.

Através dos seus livros, que na época fizeram grande sucesso nessa

matéria sobre os sonhos vamos abordar um pouco na lente de Freud e

Jung.

Claro que para além do meu ponto de vista, é apenas um resumo ainda

precário para vos apresentar. Por isso deixo o link dos seus livros no power

point para quem quiser saber mais um pouco.

A interpretação dos sonhos de Freud

No Interpretação dos Sonhos, Freud introduz um elemento para a

interpretação até então inédito, ou seja, ele é o primeiro autor a considerar

um elemento a mais para fazer a análise da nossa vida onírica. Além do

conteúdo manifesto do sonho – o que contamos sobre o que acabamos de

sonhar – Freud também leva em conta as associações do próprio sonhador.

Temos, portanto, dois elementos agora:

1) o conteúdo manifesto – o que o sonhador conta, a narrativa do

sonho tal qual o sonho é lembrado ao acordar ou nos dias seguintes;

2) o conteúdo latente – que é o significado do sonho, depois de

analisado.

Para chegar ao conteúdo latente, o analista parte das associações

individuais do sonhador de cada parte do que sonhou. No capítulo II,

Análise de um sonho modelo, Freud escreve:

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“Nosso primeiro passo no emprego desse método nos ensina que o que

devemos tomar como objeto de nossa atenção não é o sonho como um

todo, mas partes separadas de seu conteúdo. Quando digo ao paciente

ainda novato: “Que é que lhe ocorre em relação a esse sonho?”, seu

horizonte mental costuma transformar-se num vazio. No entanto, se

colocar diante dele o sonho fracionado, ele me dará uma série de

associações para cada fração, que poderiam ser descritas como os

“pensamentos de fundo” dessa parte específica do sonho”.

Assim, cada elemento do sonho deve ser separado dos demais e para cada

elemento devemos buscar as associações individuais para os elementos,

para as partes do sonho. Por isso, o que contamos ao acordar, o conteúdo

manifesto, praticamente nunca vai trazer logo de início o significado

subjacente do sonho. Existem sim sonhos que são claros e até fáceis de

entender, mas a maior parte vai precisar das associações individuais para

que se possa descobrir o significado real, por trás do conteúdo manifesto.

Por exemplo, Freud relata um sonho de uma paciente. No sonho, ela via o

seu sobrinho morto, em um caixão. A princípio, não podemos dizer nada

sobre o significado do sonho, sem as associações da sonhadora.

Deste modo, Freud começa a pedir para que ela associasse, dissesse o que

cada elemento do sonho a fazia lembrar e pensar. E logo chegaram ao

sentido do sonho: realmente, há pouco tempo, um outro sobrinho seu

havia falecido e naquela ocasião uma pessoa por quem ela era apaixonada

apareceu no enterro. Com isto, o que o sonho mostrava é que ela desejava

ver novamente a pessoa por quem ela era apaixonada e que, por motivos

alheios à sua vontade, não conseguira estabelecer um relacionamento

amoroso.

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Portanto, entre o conteúdo manifesto e o conteúdo latente nós temos as

associações:

Conteúdo manifesto: sobrinho morto em um caixão associações:

Sobrinho: sobrinho morto (há pouco tempo). No enterro do sobrinho:

presença do homem por quem era apaixonada.

Conteúdo latente: desejo de reencontrar o homem por quem era

apaixonada. Importante: na perspetiva da psicanálise de Freud, portanto, a

interpretação é sempre individual. Cada pessoa é que vai associar aos

elementos do que sonhou outras representações.

Esta paciente do Freud sonhou com caixão e pode associar a presença de

um pretendente. Outra pessoa poderia sonhar com caixão e lembrar do

avô, outra pessoa poderia sonhar com caixão e se lembrar do tempo em

que trabalhou em uma funerária, quer dizer, a associação de cada

elemento de um sonho vai ser sempre de cada um, vai ser sempre

individual.

Segue o livro de Freud para quem quiser saber mais. Vamos abordar uma

outra visão dos sonhos com Jung.

A simbologia dos sonhos na análise junguiana

Carl Jung se distanciou bastante da ideia freudiana de que os sonhos

representavam desejos não realizados. Ele desenvolveu outros conceitos

para a interpretação dos sonhos de seus pacientes. A simbologia dos

sonhos na análise junguiana é muito mais rica e interessante no meu

ponto de vista.

Essa abordagem psicológica sugere um inconsciente coletivo além do

pessoal. Identifica figuras do mundo onírico como símbolos que

transportam mensagens do mundo do inconsciente.

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A análise junguiana lida com arquétipos. Ela os identifica com atitudes

inconscientes que se escondem na mente consciente. Esses arquétipos

se manifestam através de símbolos, mais ou menos universais, que

ajudam a melhorar o entendimento das atitudes inconscientes. Cada

figura que aparece em um sonho pode representar um aspeto do

sonhador. Algumas escolas psicológicas atribuem essa característica

também aos objetos inanimados que surgem no sonho

A simbologia dos sonhos: a análise da linguagem

Da perspectiva do paciente que se submete à terapia com um analista

junguiano, a experiência resulta, em muitos casos, em uma verdadeira

descoberta. Abrir a porta do entendimento ao significado dos sonhos a

partir da abordagem junguiana também abre as portas a um mundo

fascinante.

Os símbolos são, para a psicologia junguiana, a linguagem na qual nos

expressamos nos sonhos. Uma linguagem que nem sempre se mostra

simples de colocar em palavras.

De fato, na nossa vida consciente também utilizamos muitos símbolos

para expressar ideias. Por isso, a psicanálise junguiana dá ênfase ao fato

de que, apesar de a simbologia dos sonhos parecer ter características

universais, não se deve interpretar um símbolo sem ter uma

compreensão profunda da situação pessoal de quem sonha

O fantástico mundo da simbologia dos sonhos

Os arquétipos mais importantes são o animus, a anima ou a sombra.

Todos representam uma parte da pessoa que sonha. Podem ser

encontrados nos sonhos na forma de um ancião ou uma anciã que


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também pode ser um mestre que admiramos, uma mulher jovem ou um

inseto enorme. Além de identificá-los, o terapeuta ajuda a pessoa a

desvendar o que significam para ela.

Símbolos como a floresta, na escola junguiana atual e em especial no

ocidente, representam um lugar enigmático e estranho, que está

relacionado com o medo de enfrentar o que aflora do inconsciente. É

um exemplo de como o analista junguiano não atribui um significado

fixo a uma imagem onírica. O que ele faz é buscar o significado pessoal

para a pessoa que sonha, indo além da aparência óbvia da imagem.

Simbologia dos sonhos mais comuns

Há uma certa simbologia dentro dos sonhos que parece se repetir em

muitas pessoas. Sonhar que está grávida é um tipo de sonho que gera

sentimentos mistos quando interpretado literalmente. Segundo a

perspectiva junguiana, pode estar relacionado com algum tipo de

criação incipiente. Um crescimento interno transformador.

Quando um ou uma ex aparece em um sonho, na verdade pode

simbolizar uma parte do indivíduo que sonha com isso. Por isso, sempre

é importante fazer uma análise com base no que a imagem representa

para nós emocionalmente. Ou seja, como a evocação dessa imagem nos

faz sentir.

Sonhar com perda de dentes é outro sonho que apresenta um padrão

repetitivo na população. É um símbolo onírico que costuma aparecer em

períodos de transição ou mudanças importantes.

Sonhar com animais também é terreno arquetípico. Na interpretação,

influencia de maneira significativa o ambiente sociocultural da pessoa

que sonha e a emoção que o animal sonhado nos transmite. Se causa

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medo ou confiança, se foi um sonho agradável ou produziu uma

sensação de hostilidade. Os símbolos animais têm um vasto terreno de

interpretação na mitologia.

Os sonhos recorrentes costumam estar associados a experiências

negativas que interiorizamos em forma de trauma emocional. Podem

ser interpretados como um aviso de que é preciso prestar atenção para

sanar algum aspecto que foi reprimido sem cura.

Outra forma de entender a psicologia

A abordagem psicanalítica não goza de plena aceitação na psicologia

clínica mais convencional e não é considerada psicologia científica. No

entanto, para se formar como analista é preciso enfrentar anos de

formação em Psicologia.

Além disso, é necessário cursar uma pós-graduação oferecida por

instituições acadêmicas muito prestigiadas. Também requer que o

futuro terapeuta se submeta à análise antes de poder exercer. Não é um

método que possa ser usado levianamente, e a formação desses

profissionais é muito intensa.

Com base nessa abordagem, os sonhos podem ser uma grande

ferramenta que oferece a oportunidade de aprender e conhecer melhor

a si mesmo. Anotar os sonhos também pode ser útil para relacionar os

significados pessoais e a simbologia onírica.

Apesar disso, caso haja a possibilidade de fazer terapia com um bom

analista junguiano, a experiência pode ser um dos elementos mais

gratificantes no caminho do autoconhecimento.

Edmar da Silva 24/04/2021

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