Você está na página 1de 59

O Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva

surgiu em 2007, com o apoio de profissionais de


referência nacional e internacional. Trouxe para
Curitiba o primeiro curso de especialização em
Terapia Cognitivo-Comportamental do Paraná.

Desde então, anualmente novas turmas têm sido


lançadas com sucesso. O IPTC apoia a divulgação
nacional das Terapias Cognitivas através da
Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.
A primeira turma formada pelo IPTC, surgiu em
março de 2007, com 14 alunos, já na sequência em
agosto de 2007 a segunda turma. Desde o início
formamos turmas com o apoio de docentes
referência nacional e internacional,
comprometidos com a capacitação para os
desafios complexos e crescentes em saúde mental.

Dando continuidade a nossa atuação como


vanguarda, abrimos a primeiro curso de
especialização do Paraná em Neuropsicologia
Clínica em 2008 e de Terapia Cognitivo-
Comportamental da Infância e Adolescência em
2013. Esses entre os primeiros do Brasil. Finalmente,
trouxemos pela primeira vez para Curitiba, a
Formação em Terapia do Esquema em 2015.
O que é a TCC para casais

Qual a diferença entre a TCC tradicional para


a TCC de casais

Como a TCC pode ajudar na terapia de casal

Quando a terapia de casais é recomendada

Problemas mais comuns e motivadores

Questões sexuais na terapia

Disfunções sexuais

Distorções cognitivas

Esquemas em relacionamentos

Como funcionam as sessões no tratamento

Técnicas da TCC utilizadas com casais

Como identificar o sucesso no tratamento

E MUITO MAIS...
Problemas em relacionamentos conjugais sempre
foi uma das pautas mais comuns em consultórios
terapêuticos, sendo um dos principais estressores
na vida das pessoas. E, nos últimos anos, o
aumento de queixas têm sido cada vez mais
frequente.

Segundo o Instituto Brasileiro de Estatísticas e


Geografia (IBGE), em 2020, o número de divórcios no
país cresceu 75% em comparação aos 5 últimos
anos, sendo registrados mais de 43 mil pedidos de
dissolução matrimonial, de acordo com registro do
Colégio Notarial do Brasil, entidade que representa
os cartórios de notas do país.

O aumento das taxas de dissoluções matrimoniais


mostrou-se tão crescente que passou a ser
percebido como uma oportunidade de negócio,
resultando no crescimento de empreendimentos
como a plataforma IDivorcei, que oferece serviços
que vão desde a assessoria jurídica durante o
processo como reúne profissionais para o cuidado
da saúde mental das partes envolvidas.
Cada vez mais casais veem-se diante de situações,
sentimentos e comportamentos que afetam
diretamente seus relacionamentos, e condições
como a pandemia, isolamento social, necessidade
de reclusão e maior período de convivência fizeram
com que esses fatores fossem agravados, o que
gera um maior número de conflitos que podem
resultar numa separação.

O rompimento de relações amorosas estáveis vem


sendo apontado como um dos principais fatores
geradores de estresse, podendo influenciar no
desenvolvimento de transtornos psíquicos como
ansiedade e depressão. (Epstein,1985 ; Beck, 1995)

Por isso, é necessário que os profissionais de saúde


mental possuam o conhecimento de instrumentos e
técnicas cientificamente comprovadas que
viabilizem o desenvolvimento de intervenções que
venham a solucionar as divergências nos
relacionamentos de seus pacientes, contribuindo
para um relacionamento saudável.

Neste e-book iremos abordar o processo de


utilização da Terapia Cognitivo Comportamental
(TCC) aplicada a casais, apresentando o conceito,
aplicação e as principais técnicas utilizadas.
Para adentrar no assunto vamos imaginar a
seguinte situação, utilizando personagens fictícios:

Mônica e João são casados há 5 anos, ambos com


suas carreiras e atividades individuais.

Mônica não consegue parar de sofrer e de pensar:

“Mais uma vez me sinto sozinha, desamparada,


recebendo pouca ou nenhuma atenção. Gostaria
que ele me desse o mesmo valor que dá ao seu
celular ou seu vídeo game. E parece que quanto
mais busco a atenção dele, mais ele se afasta e é
rude comigo. Assim não sei como poderemos
continuar!”

João por outro lado rebate:

“Ela exige demais de mim! Dou duro o dia inteiro no


trabalho, recebo pressão dos meus superiores e
quando estou em casa e só quero descansar, são
cobranças e mais cobranças! Não consigo me
sentir confortável nem mesmo no ambiente que
deveria ser meu lar e a Mônica tem sido cada vez
mais irritante e emocional!”
Relatos como este são bastante comuns em
sessões de terapia de casal. A história de Mônica e
João é a ilustração da realidade na vida de muitos
casais que buscam em seu parceiro um ponto de
apoio e compreensão, mas que, por diversos
fatores, acabam sendo fonte de dor e sofrimento.

Relacionamentos conflituosos tendem a surgir


quando um ou ambos parceiros possuem crenças e
expectativas disfuncionais e irreais sobre eles
mesmos, seus parceiros e seus relacionamentos.

São geradas atribuições e percepções negativas


sobre o comportamento do outro que conduzem a
opiniões generalizadas que focam excessivamente
em atitudes negativas e reduzem a percepção das
ações positivas.

Isso faz com que o casal se encontre num ciclo de


interações conflituosas, resultando em constantes
discussões ou na ação de ignorar um ao outro.

A aplicação da Terapia Cognitivo Comportamental


para casais tem o objetivo de oferecer princípios e
técnicas que atuem na expansão da perspectiva
dos parceiros do relacionamento sobre seus
comportamentos, auxiliando no processo de
consciência e reestruturação de pensamentos e
respostas não adaptativas.
Geralmente na formação do psicoterapeuta ele
aprende muito o ponto individual, mas não se
aprofunda tanto na questão conjugal. A TCC para
casais vem para sanar essa dificuldade.

Diferentemente do modelo de terapia individual, o


profissional terá a responsabilidade de identificar,
conceituar e alinhar os objetivos de dois pacientes
para um mesmo objetivo.

O psicoterapeuta deverá ir além da perspectiva


individual e abranger questões inerentes ao
relacionamento conjugal. É preciso entender que
não existe uma perspectiva correta ou incorreta,
um parceiro que tem ou não a razão sobre o
relacionamento, mas propor a construção de um
modelo que viabilize as interações e alinhamento
entre os parceiros.
Na tabela a seguir, é possível exemplificar algumas
diferenças existentes entre os modelos de terapia:
A Terapia Cognitivo Comportamental busca
realizar a análise sobre como o ser humano
interpreta os acontecimentos a sua volta e
entender a forma como aquilo vem a afetá-lo.

Quando é empregada nos relacionamentos, a TCC


permite que as partes envolvidas no
relacionamento saibam utilizar o mesmo processo
de identificação e classificação de pensamentos e
comunicações para as ações do outro, de modo a
evitar e/ou minimizar o surgimento de
desentendimentos.

A utilização da abordagem permite:

Reestruturar cognições inadequadas;

Modificar padrões de comunicação


disfuncionais;

Expandir as perspectivas de interpretação de


comportamentos;
Viabilizar a divisão igualitária de papéis e
responsabilidades na relação;

Realizar o manejo de emoções;

Trabalhar a dependência emocional;

Promover o equilíbrio das diferenças individuais


dentro do relacionamento;

Fortalecer as conexões psicológicas e sexuais;

Desenvolver estratégias eficazes para a


solução de problemas.
Quando duas pessoas decidem assumir uma união
estável, elas passam a buscar uma nova
identidade para o relacionamento.

Dessa forma, é necessário um período para a


adaptação e construção do processo, o que
envolve aspectos emocionais e a realização de
diversas escolhas e renúncias.

No entanto, fatores como rotinas pesadas,


nascimentos de filhos, dificuldades financeiras e na
carreira, insatisfações pessoais e atividades
desiguais podem ocasionar o desenvolvimento de
problemas e conflitos no relacionamento, que
podem possuir diferentes níveis de intensidade.

A terapia de casal é recomendada quando os


níveis de insatisfações e conflitos estão afetando
constantemente a saúde, qualidade e bem-estar
do relacionamento.
Dessa maneira, ela atua como uma solução para
quando o casal não consegue administrar e propor
soluções que venham a sanar os problemas.

Assim, o processo terapêutico irá oferecer aos


parceiros um ambiente de acolhimento e
compreensão, onde os dois poderão desabafar,
expor sem julgamentos as questões que afligem o
casal e desenvolver soluções para que o bem-estar
seja instaurado.
A busca de auxílio terapêutico para a melhoria do
bem-estar conjugal pode surgir a partir de diversos
fatores, dentre eles:

Falhas na comunicação;

Sentimento de falta de afeto;

Conflitos no gerenciamento de finanças;

Dificuldade em superar desentendimentos e


eventos (como traições);

Equilibrar diferenças individuais;

Insatisfações na vida sexual;

Presença de inseguranças entre o casal.

Ao tratar sobre o processo de acompanhamento


terapêutico de casais, é preciso entender que
existem diversos fatores que podem contribuir para
o surgimento do mal-estar no relacionamento,
dentre eles as distorções cognitivas e a formação
de esquemas de diferentes domínios, inclusive para
as questões de sexualidade.
A saúde, qualidade e bem-estar de um
relacionamento podem ser afetados quando existe
o comprometimento da satisfação sexual do casal
e se tornou um tema recorrente em consultórios
terapêuticos.

A compreensão sobre a satisfação sexual envolve


não só o componente físico (isto é, a frequência
das relações sexuais e orgasmos), como também os
fatores emocionais e comunicacionais.

A presença da sexualidade funcional no


relacionamento é importante, porém representa
apenas uma parcela de 15% a 20% da revitalização
e satisfação da relação. Em contrapartida, quando
o casal possui uma sexualidade disfuncional, o
impacto é de 50% a 75%, interferindo em fatores
como intimidade e estabilidade na relação
(MCCARTHY, 1997).

Dessa maneira, pode ser muito importante que o


psicoterapeuta tenha um bom conhecimento sobre
disfunções sexuais, elementos motivadores e seu
impacto na saúde e qualidade do relacionamento.
A disfunção é a dificuldade apresentada em
qualquer fase da atividade sexual, que pode ser
apresentada de maneira isolada, sequencial ou
concomitante em uma mesma pessoa.

Existem diversos fatores que podem desencadear o


desenvolvimento de disfunções sexuais, como a
presença de fatores orgânicos e psicológicos:

Fatores orgânicos:

Doenças cardiovasculares, álcool e drogas,


diabetes, tabagismo, sedentarismo, uso de
medicamentos, hipertensão, problemas genito-
urinários, traumas físicos, etc.

Fatores psicológicos:

Traumas na infância, depressão, transtornos de


ansiedade, problemas afetivos e/ou de
natureza emocional, falta de experiência sexual
e com o corpo, conflitos conjugais, problemas
financeiros, desemprego, etc.
A conceitualização dos fatores se dá de maneira
individual. No entanto, empiricamente, o
surgimento de uma ou mais disfunções se dá por
meio do complemento entre os fatores.

De maneira geral, as disfunções podem ser


classificadas em quatro grandes grupos, podendo
estar presentes tanto em homens quanto em
mulheres:

Perturbações no orgasmo

(ex.: dificuldade ou ausência do clímax sexual,


ejaculação lenta, inibida ou ausente);

Excitação sexual

(ex.: disfunção erétil, incapacidade de manter a


excitação ou ereção);

Desejo sexual

(ex.: diminuição ou ausência de libido).

Dor

(ex.: vaginismo, dispareunia);


Na pesquisa Perfil sexual da população brasileira:
resultados do Estudo do Comportamento Sexual
(ECOS) do Brasileiro (ABDO, 2002), foram
identificadas as disfunções sexuais mais
frequentes entre homens e mulheres, apresentadas
abaixo:

Homens:

Disfunção erétil (DE) – 46,2%;

Ejaculação precoce (EP) – 15,8%;

Falta de desejo sexual (FDS) – 12,3%;

Disfunção orgásmica (DO) – 10%.

Mulheres:

Disfunção orgásmica (DO) –29,3%;

Dor à relação sexual (DRS) – 21,1%;

Falta de desejo sexual – 34,6%.


Realizar o tratamento de possíveis disfunções
presentes no relacionamento do casal é muito
importante para que todo o processo terapêutico
venha a obter sucesso.

Quando a satisfação sexual dos parceiros está


comprometida, independentemente do gatilho que
ative o problema existente, todo o relacionamento
é afetado.

Isso porque a presença de uma ou mais disfunções


passa a afetar a saúde e o bem-estar do casal, da
mesma maneira que a presença de insatisfações e
problemas entre o casal poderá desencadear o
surgimento de uma disfunção sexual.

Dessa maneira, a relação passará a funcionar


como um eterno ciclo de insatisfações, ansiedade,
tensão e frustrações, pois apesar da disfunção ser
normalmente caracterizada como um fator
individual, o seu impacto passa a interferir na
dinâmica do relacionamento.
Além do conhecimento teórico necessário para que
o profissional possa desenvolver estratégias de
tratamento, lidar com casos de disfunção sexual
exige um maior nível de sensibilidade e cuidado do
psicoterapeuta.

A exposição e diálogo sobre as dificuldades


geradas pela presença de um quadro de disfunção
ainda são assuntos considerados tabus pela
sociedade. Portanto, para que o paciente se sinta
confortável e acolhido, alguns cuidados devem ser
tomados, que vão desde o ambiente onde os
encontros serão realizados como a abordagem e
comunicação do terapeuta.

Abaixo, alguns pontos essenciais para a


preparação e orientação sobre o processo
(CAVALCANTI, 2000):

O isolamento durante a consulta deve ser


assegurado, a fim de garantir o conforto do
paciente e sua segurança. Dessa forma, se faz
necessário evitar interrupções como batidas na
porta, circulação de pessoas, mensagens e
ligações, pois podem atrapalhar a terapia;
A comunicação do psicoterapeuta deve ser
aberta, na qual o profissional deverá saber
guiar o rumo da conversa com o objetivo de não
perder o foco do assunto;

Saber estar à vontade ao tratar sobre o assunto


e lidar com a sua própria sexualidade são
essenciais para a conduta segura do
profissional;

É essencial que, para o bom relacionamento


entre terapeuta e paciente, seja estabelecido
um rapport [conexão] desde as primeiras
sessões;

As metas não devem ser estipuladas pelo


terapeuta, mas guiadas em seu planejamento e
execução;

Ao surgirem perguntas como “Ficarei curado?”


ou “Com quanto tempo irei melhorar?”, o
psicoterapeuta deve evitar emitir respostas
categóricas, informando que o processo de
tratamento dependerá da dedicação e
dificuldades encontradas pelo paciente ao
longo da terapia.
Existem algumas distorções cognitivas que,
empiricamente, foram comprovadas como sendo
comuns de se apresentarem num relacionamento.

A tabela abaixo apresenta uma breve descrição


das distorções mais comuns e alguns exemplos,
reunindo a conceitualização de alguns autores.
FONTE: BECK, 1995; DATTILIO e FREEMAN, 2004.
Em relacionamentos conflituosos é comum que
sejam desenvolvidos esquemas disfuncionais, que
são precursores de desentendimentos e que
impõem, de maneira consciente ou inconsciente, a
maneira como cada um atua na relação.

De maneira resumida, esquemas são o conjunto de


crenças, memórias, emoções, sensações corporais
e cognições que se associam a padrões
disfuncionais que se perpetuam ao longo da vida.

Para saber mais sobre a Teoria do Esquema,


acesse o nosso e-book sobre Terapia do Esquema!
O desenvolvimento de esquemas em
relacionamentos conflituosos pode ser observado
a partir de cinco grupos prevalentes, descritos na
tabela abaixo:

FONTE: YOUNG, 2003.


O processo terapêutico da abordagem da TCC
para casais é composto por quatro fases,
representadas abaixo:

1ª FASE: Avaliação e conceitualização

Ao iniciar o processo, o terapeuta dará uma breve


explicação sobre como o processo de tratamento
funciona, oferecendo exemplos, conceitos e
materiais instrutivos para o casal, como o folheto
instrutivo sobre o assunto.

Veja abaixo um modelo de folheto:


FONTE: RANGÉ E DATTILIO, 2001.

A primeira fase do processo pode ser realizada


através da utilização de questionários, inventários,
observação comportamental das interações entre
o casal e entrevistas.

INVENTÁRIOS E QUESTIONÁRIOS

Ao iniciar o processo de investigação e


compreensão do relacionamento, é comum que
muitos terapeutas realizem a utilização de
questionários e inventários que viabilizem a
compreensão inicial sobre os membros do
relacionamento antes das entrevistas.

Existem diversos modelos de questionários e


escalas de avaliação, sendo alguns dos mais
comuns:
Escala de Satisfação Conjugal

É onde o parceiro avalia seu próprio nível de


satisfação com o relacionamento, dividida
entre a avaliação feminina e masculina;

Inventário de Habilidades Sociais Conjugais

Avalia habilidades sociais do relacionamento,


divididas em: empatia, civilidade, comunicação,
assertividade, autocontrole, resolução de
problemas e expressão de sentimentos
positivos;

Inventário de Empatia Conjugal

Utilizado para avaliar como o respondente


percebe o comportamento do companheiro em
relação a si próprio, dividido entre a avaliação
feminina e masculina.

A utilização dessas ferramentas deve servir como


ponto de partida para o início do processo de
avaliação e conceitualização sobre o casal e suas
percepções, não excluindo a realização de
entrevistas com o casal para que as demais
informações necessárias sejam recolhidas.
ENTREVISTAS

Na entrevista inicial o terapeuta irá buscar


entender, juntamente com os questionários de
investigação, as razões que motivaram o casal a
buscar ajuda profissional e, principalmente, qual o
objetivo buscado com a finalização do processo.

A entrevista engloba fatores como:

Entender a forma como o casal interage;

Como se conheceram;

O que os uniu;

Qual a queixa principal.

O principal objetivo da entrevista é responder a


três pontos cruciais para o processo:

Quem são as pessoas envolvidas na relação?

Quem é o casal?

O que deu errado?


Inicialmente as entrevistas são realizadas em
conjunto, podendo ser inserido dentro do processo
entrevistas individuais. Dessa forma, esse registro
inicial é essencial para que o terapeuta tenha as
primeiras informações sobre o casal.

É importante salientar que o processo de avaliação


não ocorre somente nas fases iniciais, mas deverá
estar presente no decorrer do tratamento,
levando-se em consideração que serão
descobertas diversas informações que podem não
ter sido apresentadas no processo formal de
avaliação.

Dessa maneira, todas as novas informações devem


ser consideradas, registradas e analisadas, com o
objetivo de verificar se podem ou não exigir uma
mudança no curso inicialmente planejado para o
processo terapêutico.

SUPORTE PROFISSIONAL ANTERIOR

Outro ponto importante no processo de avaliação


e conceitualização é entender se o casal já buscou
ajuda de outros terapeutas e/ou demais
profissionais de saúde mental, bem como se um
dos cônjuges está passando por um processo
terapêutico individual.
Saber dessa informação faz com que o terapeuta
alinhe os objetivos do casal e promova
intervenções que trabalhem com um mesmo
propósito.

2ª FASE: Firmação do compromisso com a terapia e


com o relacionamento

Após realizar o processo inicial de investigação e


entender os motivos que levaram o casal a buscar
auxílio, será preciso repassar o funcionamento da
terapia e estabelecer o compromisso das partes
com o relacionamento e processo.

Já foi cientificamente comprovado que, para se


alcançar bons resultados com o processo
terapêutico, o estabelecimento de uma relação
entre profissional e paciente é fundamental.

Nas terapias de casais, esse relacionamento exige


um nível ainda maior de complexidade, pois será
necessária a construção de um ambiente onde
haja a responsabilidade compartilhada,
contribuição e confiança entre as partes
envolvidas, sendo o posicionamento do terapeuta
o diferencial para o processo.
Diferentemente das terapias individuais, a terapia
de casais irá exigir que o profissional assuma uma
posição de interesse, empatia e respeito
verdadeiros por não somente uma, mas pelas duas
pessoas envolvidas no relacionamento, com a
responsabilidade de gerenciar suas necessidades
e interesses pessoais e em conjunto.

Nessa fase o terapeuta precisará antecipar que o


processo não será simples e que exigirá muita
colaboração e comprometimento dos parceiros,
antecipando que surgirão momentos difíceis e
muitos obstáculos, mas que todos estarão unidos
para enfrentá-los, sendo escolha dos parceiros
fazer com que seja obtido ou não sucesso na
jornada.

3ª FASE: Realização de intervenções

Na terceira fase do processo iniciam-se as


intervenções com o casal, baseadas em todas as
informações reunidas ao longo das investigações.
Será nesta fase que o profissional irá iniciar a
utilização das técnicas aplicáveis à terapia.
Esta fase pode ser dividida em alguns pontos
cruciais, como:

Criação do novo modelo de relacionamento;

Desenvolvimento da comunicação emocional


assertiva;

Engajamento emocional.

CRIANDO UM NOVO MODELO DE


RELACIONAMENTO

Não existe um modelo de relacionamento perfeito,


que possa ser julgado como certo ou errado.

Por isso, o terapeuta irá apresentar ao casal de


que está em suas mãos o processo de escolha
para decidir o que deve ou não ser inserido,
realizando questionamentos como: “que tipo de
parceiro você gostaria de ser?” ou “qual o modelo
de relacionamento gostariam de construir?”

Alguns pressupostos da Terapia de Aceitação e


Compromisso podem também contribuir no
processo de construção do novo modelo de
relacionamento, como Valores, Ações de
Compromisso e Mindfulness.
COMUNICAÇÃO EMOCIONAL ASSERTIVA

A comunicação é um componente inerente a


qualquer relação humana, sendo responsável por
ativar emoções nos indivíduos de maneira mais
intensa dentro do contexto amoroso, o que serve
como base para a construção de um processo de
interações.

Casais que possuem um nível de estresse elevado


tendem a se comunicar de maneira ineficiente. Isso
desencadeia crítica, exigências, desentendimentos
e o sentimento de rejeição, fazendo com que as
palavras proferidas sirvam para afastar ainda mais
os parceiros.

O treinamento em habilidades de comunicação faz


parte do processo terapêutico, visando o
desenvolvimento de uma boa comunicação
emocional e não-violenta.

Para que a prática seja desenvolvida, alguns


fundamentos precisam ser seguidos:

Criação de um ambiente seguro;

Estímulo da fala na primeira pessoa, usando


“eu” e “para mim”;
Foco em um tema de cada vez;

Dar e receber feedbacks;

Perceber os efeitos da comunicação do outro


durante as sessões, estimulando a expressão de
sentimentos.

O treinamento em habilidades de comunicação é


uma das técnicas utilizadas ao longo do
tratamento, sendo descrito mais à frente neste
material.

ENGAJAMENTO EMOCIONAL

Uma vez que o casal deixou cair as barreiras,


identificou valores e objetivos, compartilhou
sentimentos e desenvolveu um novo modelo de
relacionamento, é preciso reforçar a necessidade
do engajamento emocional no relacionamento,
pois isso estimula o sentimento de segurança entre
as partes.

Nesse ponto são estimuladas e entregues algumas


“tarefas de casa”, que têm os objetivos de:

Identificar e implementar ações que busquem


agradar o parceiro;
Perceber sentimentos e comportamentos de
quando sua atenção está concentrada
positivamente no outro;

Expressar emoções de forma não-violenta;

Desapegar-se de julgamentos e críticas.

Será possível a construção da base de um novo


modelo de relacionamento, envolvendo um maior
comprometimento emocional e estabelecendo um
vínculo de segurança e conforto na relação.

4ª FASE: Consolidação e finalização

Ao vivenciar cada uma das fases anteriores com o


comprometimento e envolvimento necessários
para o processo, o casal já experimenta o bem
estar em algum nível.

O objetivo da fase final é dar visibilidade às novas


percepções diante dos antigos eventos da vida do
casal, expondo o novo relacionamento que vem
sendo construído em conjunto, com muito mais
força e firmeza.

Será possível a construção da base de um novo


modelo de relacionamento, envolvendo um maior
comprometimento emocional e estabelecendo um
vínculo de segurança e conforto na relação.
Ao longo de cada uma das fases do tratamento do
casal, algumas técnicas são inseridas como
maneira de viabilizar a transformação de
comportamentos e reformulação de pensamentos
e perspectivas.

Dentre elas, estão:

Registro de conduta;

Treinamento em comunicação;

Treino em resolução de problemas;

Prevenção de recaídas.

REGISTRO DE CONDUTA

Entre as técnicas utilizadas para que os pacientes


tomem consciência da percepção do
comportamento e pensamentos diante de algum
evento, está o registro de conduta.
A técnica permite que, através do momento que
ocorre a situação, o parceiro tenha a possibilidade
de observar o próprio comportamento diante de
um evento estressor e qual seria a resposta para
esse evento, levando ou não a interpretação e
organização do pensamento.

FONTE: REYES, 2011.

TREINAMENTO EM COMUNICAÇÃO

Diversos estudos já apontaram que o ponto-chave


no tratamento de casais é o treinamento da
comunicação, que objetiva influenciar de maneira
positiva as interações conturbadas, diminuindo a
quantidade e frequência de distorções cognitivas
e promover a melhor qualidade de expressão de
ideias e pensamentos.

Dessa forma, são ensinadas algumas estratégias


para o falante e ouvinte:
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Para o desenvolvimento de estratégias para


solução de problemas cotidianos, o treinamento
em resolução de problemas é um dos mais
utilizados.

O processo consiste em ensinar ao casal o passo a


passo de negociação necessário para a realização
de uma negociação formal, envolvendo algumas
diretrizes essenciais para o sucesso do processo:

1ª Definição do problema;
2ª Geração de soluções e alternativas
(brainstorming);

3ª Avaliação dos riscos e benefícios de cada uma


das soluções propostas;

4ª Executar a solução encontrada;

5ª Avaliação dos efeitos da solução escolhida e


decisão sobre manter ou não a solução
encontrada.

PREVENÇÃO DE RECAÍDAS

Realizar o procedimento de prevenção de recaídas


é uma etapa fundamental para o processo
terapêutico.

Como regra geral, os pacientes são preparados


para o surgimento de possíveis recaídas desde a
primeira sessão de tratamento, sendo de
responsabilidade do terapeuta realizar a
preparação de seus pacientes para as possíveis
dificuldades.
O objetivo do modelo de intervenção é fazer com
que os parceirosampliem seu repertório de
respostas emocionais e comportamentais às
situações que irão surgir no dia a dia do casal,
construindo o novo modelo de relacionamento
pautado na conexão, respeito e cooperação das
partes.

Durante o processo de tratamento é preciso incluir


a possibilidade de que os objetivos do casal com a
terapia podem ser alterados conforme a evolução
do tratamento, incluindo a possibilidade dos dois
não estarem dispostos a continuarem juntos no
mesmo relacionamento.

No entanto, é de responsabilidade do terapeuta a


apresentação de técnicas, ferramentas e caminhos
para que a união seja viabilizada e, eventualmente,
orientar durante um processo de separação.

Como regra geral, a validação das conquistas, o


comprometimento, reformulação de percepções e
comportamentos e construção do engajamento
emocional entre as partes e a firmação do novo
modelo de relacionamento serão os indicadores
para definir o sucesso do tratamento.
O processo de aplicação da Terapia Cognitivo-
Comportamental em casais envolve diversas
particularidades e aspectos que devem ser
avaliados com cautela pelo psicoterapeuta.

É preciso ressaltar que o psicoterapeuta atua


como um elemento mediador e conciliador,
fornecendo ferramentas e meios para que o bem-
estar do relacionamento seja instaurado. Assim, a
energia e disposição das partes do relacionamento
é que irá determinar o resultado do processo.

Além disso, casos especiais como divórcio,


depressão, relações extraconjugais, casais não-
heterossexuais e abuso doméstico exigem um
maior nível de complexidade no tratamento.

Mas é muito importante que o terapeuta esteja


constantemente atualizado sobre as principais
técnicas, ferramentas e manejos utilizados no
processo de intervenção.

Para isso, conheça o nosso curso de formação:


Terapia Cognitivo-Comportamental de problemas
de casal e da sexualidade!

Você também pode gostar