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A Relação Terapêutica na

Prática Clínica das Psicoterapias


Cognitivo-comportamentais
Aline Duarte Kristensen
Christian Haag Kristensen (orgs.)

É com satisfação que formalizamos o convi- lo(s). Este arquivo contém, ainda, o sumário
te para sua participação no livro A Relação da obra, que lhe proporcionará uma visão
Terapêutica na Prática Clínica das Psicote- geral desta a partir dos tópicos abordados.
rapias Cognitivo-comportamentais, organi- Para que seja possível lançar o livro na data
zado por Aline Duarte Kristensen e Christian prevista, é imprescindível que todos os capí-
Haag Kristensen. A presente obra apresenta: tulos sejam entregues à Editora, via sistema
(1) os princípios e fundamentos transteóricos Obras, até 30 de março de 2023. Quando da
da relação terapêutica, (2) a relação terapêu- publicação da obra, cada autor receberá um
tica nas principais abordagens teóricas das (01) exemplar desta, independentemente da
psicoterapias cognitivo-comportamentais e quantidade de capítulos em que tiver parti-
(3) as especificidades da relação terapêutica cipado.
na prática clínica, com especial atenção para Ficamos à disposição para esclarecimen-
os principais transtornos mentais. Sendo o tos adicionais após a leitura das orientações
principal foco a instrumentalização do psi- que seguem e durante o desenvolvimento de
coterapeuta na construção e manutenção da seu(s) capítulo(s).
relação terapêutica na prática clínica.
Preparamos este material especialmente Cláudia Bittencourt
para fornecer-lhe as orientações necessárias (cbittencourt@grupoa.com.br)
para o desenvolvimento de seu(s) capítu- Coordenadora Editorial - Artmed Editora

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Sumário

Prefácio / Foreword

Parte I Princípios e fundamentos teóricos da relação


terapêutica / Principles and theoretical foundations
of therapeutic relationship

1 Fundamentos transteóricos da relação terapêutica /


Transtheoretical foundations of the therapeutic relationship
2 A pessoa do psicoterapeuta e a relação terapêutica / The self of
the psychotherapist and the therapeutic relationship

3 Avaliando a relação terapêutica / Assessing the therapeutic


relationship

Parte II A relação terapêutica nas abordagens cognitivo-


comportamentais / The therapeutic relationship in
cognitive-behavioral psychotherapies

4 A relação terapêutica na terapia cognitivo-comportamental /


The therapeutic relationship in cognitive-behavioral therapy

5 A relação terapêutica na terapia do esquema / The therapeutic


relationship in schema therapy

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4  Sumário

6 A relação terapêutica na terapia comportamental dialética


/ The therapeutic relationship in dialectical behavioral
therapy

7 A relação terapêutica na psicoterapia on-line / The therapeutic


relationship in online psychotherapy

Parte III A relação terapêutica na prática clínica /


The therapeutic relationship in clinical practice

8 A construção da relação terapêutica com o paciente / Building


the therapeutic relationship with the client

9 A manutenção da relação terapêutica e manejo de rupturas /


Maintaining the therapeutic relationship and managing rupture

10 A relação terapêutica na prática clínica da infância / The


therapeutic relationship in clinical practice with children

11 A relação terapêutica na prática clínica da adolescência/ The


therapeutic relationship in clinical practice with adolescents

12 A relação terapêutica na prática clínica com casais e famílias


/ Therapeutic relationship in clinical practice with couples
and families

13 A relação terapêutica na prática clínica com pacientes com


transtornos da ansiedade / Therapeutic relationship in
clinical practice with patients with anxiety disorders

14 A relação terapêutica na prática clínica com pacientes com


transtornos do humor / Therapeutic relationship in clinical
practice with patients with mood disorders

15 A relação terapêutica na prática clínica com pacientes


dependentes químicos / Therapeutic relationship in clinical
practice with patients with substance use disorder

16 A relação terapêutica na prática clínica com pacientes vítimas


de traumas / Therapeutic relationship in clinical practice
with trauma survivors

17 A relação terapêutica na prática clínica com pacientes com


transtornos da personalidade / Therapeutic relationship in
clinical practice with patients with personality disorders

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Sumário  5

18 A relação terapêutica na prática clínica com pacientes


enlutados e terminais / Therapeutic relationship in clinical
practice with bereaved and end-of-life patients

19 A relação terapêutica na psiquiatria clínica / Therapeutic


relationship in clinical psychiatry

20 Perspectivas futuras da relação terapêutica no contexto das


psicoterapias / Future perspectives of the therapeutic
relationship in the context of psychotherapies

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A Relação Terapêutica na Terapia
Cognitivo-comportamental
Aline Duarte Kristensen

Nas primeiras décadas após seu surgimen- do a “terceira onda” das TCCs (Hayes, 2004).
to, as terapias cognitivo-comportamentais O fenômeno da relação terapêutica passou a
(TCCs) apoiaram-se na pesquisa empírica ter protagonismo junto às técnicas, tornan-
para credibilizar-se como uma nova abor- do-se foco tanto da pesquisa empírica como
dagem psicoterápica e atribuíram os bons do treinamento e da formação dos psicotera-
resultados do processo terapêutico a variá- peutas.
veis específicas, especialmente aos aspectos Nos dias atuais, a importância da relação
ambientais e à eficaz aplicação das técnicas terapêutica é amplamente reconhecida, as-
no tratamento das psicopatologias. Nessa sim como a hipótese de que as intervenções
“primeira onda” das TCCs, as variáveis ines- e técnicas psicoterápicas são mediadas pela
pecíficas (contexto interpessoal) não eram relação estabelecida entre o paciente e seu
consideradas nos procedimentos pesquisa- terapeuta, sendo seu impacto diretamente re-
dos, tampouco constavam como parte do lacionado à qualidade desse vínculo. Ou seja,
treinamento dos clínicos. A partir da década não são as técnicas ou abordagens teóricas
de 1970, no entanto, a comunidade científica específicas, mas sim o fator humano e a qua-
passou a questionar a primazia das técnicas lidade do vínculo estabelecido pelo pacien-
na eficácia dos resultados e a incluir outras te e seu terapeuta que vão nortear a eficácia
variáveis na compreensão da psicopatologia de qualquer psicoterapia (Buttler & Strupp,
e do tratamento: o sujeito e suas cognições, 1986; Norcross & Wampold, 2018; Safran,
além da variação do contexto em que ele era 2002).
inserido. Esse amadurecimento científico
constituiu a “segunda onda” das TCCs, com
as variáveis relacionais ganhando cada vez FUNDAMENTAÇÃO
mais força. O amplo resgate dos aspectos sub- TEÓRICA
jetivos do paciente e do terapeuta, bem como
da relação interpessoal estabelecida entre O fenômeno da relação terapêutica tem
eles no processo terapêutico, foi constituin- sido estudado há muitas décadas por diver-

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sas abordagens teóricas. Um dos conceitos lidade do paciente e do terapeuta de trabalha-


transteóricos mais empregados define re- rem juntos de forma ativa e colaborativa para
lação terapêutica pela forma como a mu- o atingimento dos resultados. A transferência,
tualidade dos sentimentos e as atitudes se por sua vez, é o fenômeno que compreende
estabelecem e se expressam no vínculo tera- o conjunto de crenças e esquemas centrais
peuta-paciente (Gelso & Carter, 1985). Com disfuncionais do paciente, e também do tera-
isso, as características pessoais do paciente, peuta, que irão interferir na relação terapêu-
a qualidade pessoal do psicoterapeuta e a in- tica de forma a criar resistência ao processo
teração entre ambos vão constituindo de for- terapêutico, com a repetição dos conflitos
ma objetiva e subjetiva tal fenômeno (como pregressos do paciente vivenciados com pes-
explorado em profundidade no Cap. 1). Na soas significativas da sua história, bem como
última década, uma força-tarefa da Ameri- suas respectivas respostas de enfrentamento.
can Psychological Association liderada por E, por fim, o último componente da relação
Norcross e Wampold (2018) comparou os terapêutica é a relação real, que abarca o con-
resultados de diferentes abordagens psicote- junto de crenças, percepções e reações realis-
rápicas, evidenciando que a relação terapêu- tas do paciente e do terapeuta em sua relação,
tica é o grande diferencial das “psicoterapias incluindo a expressão dos sentimentos autên-
de boa fé”. Coerente com tal achado, a su- ticos de gostar, respeitar e confiar um no ou-
perioridade das abordagens de psicoterapia tro. Gelso e Carter (1985) afirmam que esses
intermediadas por um psicoterapeuta em três componentes (aliança, transferência e
relação àquelas sem essa intermediação evi- relação real) estariam presentes em todas as
dencia a importância da relação terapêutica. relações terapêuticas, independentemente da
Logo, as características do clínico, incluin- abordagem teórica na qual um processo psi-
do seus aspectos demográficos, os traços da coterapêutico está fundamentado.
sua personalidade, sua formação técnica e Como mencionado, a importância atribuí-
sua competência para formar e manter for- da à relação terapêutica nas TCCs foi se modi-
tes alianças de trabalho têm recebido ênfase ficando ao longo do tempo. As abordagens da
como contribuintes para o resultado e o pro- segunda onda passaram a valorizar a relação
cesso terapêutico, sobressaindo-se inclusive terapêutica para a eficácia das intervenções
às características do paciente. De fato, uma técnicas e direcionaram os psicoterapeutas
revisão de estudos sobre resultados em psi- para a importância da construção de uma
coterapia (Lambert, 1989) concluiu que a forte aliança terapêutica entre terapeuta e pa-
pessoa do terapeuta tem efeito oito vezes ciente. O conceito de empirismo colaborativo,
maior no sucesso de um processo terapêutico que tão bem caracteriza a relação terapêutica
do que a abordagem teórica em si. nas TCCs, estabeleceu maior horizontalização
Conforme descrito no Capítulo 1, o mo- do vínculo profissional, aumentando o enga-
delo teórico tripartido da relação entre o jamento e a participação do paciente no pro-
paciente e o psicoterapeuta inclui três fenô- cesso terapêutico. O empirismo colaborativo
menos que interagem entre si: aliança terapêu- implica que paciente e terapeuta trabalhem
tica, transferência e relação real (Gelso & Carter, de forma igualmente ativa e colaborativa na
1985; 1994). Tais conceitos também foram identificação e resolução dos problemas que
incorporados no escopo das TCCs, e a aliança originaram a demanda para a psicoterapia.
terapêutica se tornou um dos pilares centrais Nas TCCs, o terapeuta geralmente mantém
de intervenção nessa abordagem. seu papel de autoridade, aquele que conhece
A aliança terapêutica é a parte consciente a psicopatologia e os procedimentos proto-
do contrato psicoterapêutico e define a habi- colares para tratar os sintomas do paciente.

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A Relação Terapêutica na Prática Clínica das Psicoterapias Cognitivo-comportamentais   9

Mas, desde a avaliação do caso, ele compar- te para o clínico, tampouco sua competência
tilha com o paciente – em um processo de para a construção de uma aliança terapêutica
constante revisão – suas hipóteses sobre o forte sustenta o vínculo por si só. É esperado
funcionamento psicológico deste (conceitua- que ocorram com mais frequência rupturas
lização cognitiva do caso). O paciente, por sua na relação terapêutica, e a própria manuten-
vez, costuma aceitar e receber com confiança ção da aliança terapêutica passará por mais
as orientações do terapeuta, sendo cada vez desafios, tanto devido à natureza do relacio-
mais estimulado a empreender os esforços namento entre eles como pela psicopatologia
necessários para sua melhora, desde uma do paciente, que se expressa na própria rela-
participação responsiva na sessão e fora dela, ção terapêutica. Em virtude disso, é desejável
o automonitoramento, a mudança ativa de que o profissional desenvolva competência
pensamentos e de comportamentos proble- específica para o manejo da transferência e
máticos, até a realização das tarefas de casa. da contratrasferência, conforme aprofunda-
A confiança do paciente no psicoterapeuta e do em capítulo anterior deste livro, de modo a
o relacionamento estabelecido por ambos irão manter a aliança terapêutica forte e aumentar
impactar na colaboração empírica e, por con- a eficácia do processo terapêutico (Norcross &
sequência, no resultado do processo terapêu- Wampold, 2018).
tico. Algumas das “regras de ouro” na constru-
Já no tratamento dos transtornos da per- ção da relação terapêutica aplicadas à prática
sonalidade e das psicopatologias crônicas clínica se mostram essenciais para a eficácia
que incluem dificuldades nos relacionamen- dessa abordagem, dentre as quais Judith Beck
tos interpessoais, o próprio relacionamento (2019) destaca: trate cada cliente em cada ses-
terapêutico passa a receber atenção maior são como você gostaria de ser tratado se fosse
do clínico. Para que sua influência seja acei- cliente; use as técnicas rogerianas e adapte-as
ta pelo paciente e as barreiras transpostas, o individualmente a cada cliente; e seja colabo-
psicoterapeuta empregará mais tempo ob- rativo e peça feedback. É evidente que a pessoa
servando os fenômenos presentes na relação do terapeuta, sua capacidade empática, seu
individual estabelecida com cada paciente e alto grau de autenticidade, afeto e conside-
suas respectivas associações com as deman- ração positiva são alguns dos componentes
das por atendimento. Assim, os fenômenos essenciais para a construção de relações te-
da transferência e da contratransferência rapêuticas fortes. A pessoa que ocupa o papel
passaram a ser incorporados pelas TCCs, tor- de terapeuta é percebida de forma mais real,
nando-se parte das intervenções terapêuticas com suas características de personalidade.
para a construção de crenças mais saudáveis A relação real construída exigirá que o tera-
e estilos de enfrentamento mais adaptativos, peuta seja percebido pelo paciente de for-
em substituição aos estilos disfuncionais. ma positiva, ou, nas palavras de Aaron Beck
O relacionamento construído entre terapeuta (2009), como “um bom ser humano”. Suas
e paciente abre espaço para a autenticidade, boas habilidades relacionais, sua capacida-
a genuinidade e o realismo, características de resolutiva, sua maturidade para gerenciar
fundamentais da relação real que fortalece conflitos interpessoais, sua capacidade de ex-
o vínculo entre a dupla terapêutica. Com o pressar emoções e regulá-las, bem como um
tempo, o psicoterapeuta vai se tornando uma sólido conhecimento sobre a natureza das re-
espécie de conselheiro amistoso, um mode- lações humanas o tornarão mais competente
lo de papel que inspira e modela o paciente para construir uma relação interpessoal real,
(Beck et al., 2005). O domínio dos protocolos afetiva e terapêutica com seu paciente. Além
de intervenção não se mostra mais suficien- disso, vale ressaltar que a confiança e a em-

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patia são os pilares centrais de todas as rela- engaja-se no acolhimento da demanda e na


ções terapêuticas positivas, pois, como afirma construção do vínculo, de forma sistemática
Sudak (2008), uma das formas mais impor- e concomitante. A construção do setting exige
tantes de demonstrar empatia é por meio da do psicoterapeuta uma postura mais objeti-
autenticidade. Os terapeutas que exibem au- va na definição do contrato de trabalho e, ao
tenticidade são capazes de se comunicar ver- mesmo tempo, subjetiva e sensível, visando
bal ou não verbalmente de maneira honesta, estabelecer uma conexão emocional com o
natural e emocionalmente conectada a fim de paciente. O verdadeiro setting se propõe a
mostrar aos pacientes que verdadeiramente criar as condições necessárias, ou ideais, para
entendem a situação (Wright et al., 2019). que o processo terapêutico ocorra. O paciente
Em pesquisa recente, Norcross e Wampold precisa confiar no profissional que irá aten-
(2018) demonstraram que a genuinidade e a dê-lo, ao mesmo tempo que precisa se sentir
congruência do psicoterapeuta são variáveis à vontade e confortável para se abrir com ele.
relacionadas ao sucesso de um tratamento e O psicoterapeuta que tiver uma conduta cor-
à construção de relações terapêuticas fortes. dial, amistosa, empática e de acolhimento
Os achados também apontam a expressão terá mais facilidade de estabelecer o vínculo
emocional, as considerações e as expectativas com o paciente. Tal postura norteia a forma
positivas como variáveis provavelmente efe- como conduzirá a entrevista, direcionan-
tivas no processo terapêutico. Acrescenta-se, do perguntas ao paciente que possibilitem
ainda, que os psicoterapeutas cognitivo-com- identificar demandas terapêuticas, levantar
portamentais devem ter postura aberta, cor- hipóteses diagnósticas e obter informações
dial, ativa e manter uma escuta ativa e o cli- relevantes da história de vida relacionadas
ma de harmonia com o paciente, mas sempre à queixa. À medida que vai obtendo essas
respeitando os limites éticos norteadores da informações, o terapeuta vai construindo a
natureza profissional do vínculo. conceitualização do caso e, sistematicamen-
te, oferecendo resumos ao paciente sobre
os conteúdos explorados em sessão, refor-
PRÁTICA CLÍNICA çando positivamente o senso de conexão e
E INTERVENÇÕES – O QUE compreensão emocional percebidos por ele.
FAZER E O QUE NÃO FAZER Ao final da avaliação, que pode durar um ou
mais encontros, é fundamental que o clínico
A construção da relação terapêutica e sua possa verificar com seu paciente se juntos
manutenção constante são o principal predi- formaram uma boa dupla terapêutica e es-
tor do sucesso de um tratamento e, portan- tabeleceram uma boa aliança de trabalho:
to, seguirão os passos inerentes ao processo acordando consensualmente sobre os obje-
terapêutico das TCCs, com o acolhimento da tivos da terapia, tendo compatibilidade para
demanda, a construção do setting, a concei- trabalharem juntos, estabelecendo um con-
tualização do caso seguida das intervenções trato viável para ambos e verificando o grau
focadas nos objetivos terapêuticos e a alta. de cooperação do paciente para o processo
terapêutico. As sessões iniciais constituem a
Setting fase de compatibilização, em que o terapeuta
deve ajustar seu estilo pessoal e intervenções
Desde os primeiros contatos, da marcação às necessidades específicas de cada paciente
da consulta aos encontros iniciais, o clínico para a construção da aliança terapêutica.

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A Relação Terapêutica na Prática Clínica das Psicoterapias Cognitivo-comportamentais   11

VINHETA CLÍNICA Terapeuta – Agradeço a sua confiança e


sinto por dizer que, ao avaliar a sua
Ao final da entrevista inicial, o clínico faz um
demanda, percebo que não sou a pro-
resumo da demanda, ao mesmo tempo que
fissional mais adequada para atender
consolida a conexão emocional estabeleci-
você em psicoterapia. Mas gostaria de
da na dupla terapêutica:
poder ajudar indicando um colega da
Terapeuta – Você está me dizendo que vem minha confiança que tenha a compe-
se sentindo constantemente angustia- tência necessária. Como você se sente
da no trabalho e, conforme fomos con- com relação a isso?
versando, já conseguiu identificar que
um dos gatilhos dessas emoções são
as solicitações do seu chefe. Nesses
momentos, você tem pensamentos de Feedback
incapacidade, como “não vou dar con-
Uma das ferramentas usadas em todo o pro-
ta, essa tarefa é muito difícil para mim”,
cesso de construção desse relacionamento
seguidos do aumento dos sintomas
terapêutico, desde as consultas iniciais, pas-
de ansiedade, especialmente o aperto
sando por todo o tratamento até a alta, é a
no peito, a falta de ar e a aceleração
solicitação de feedback. Pedir feedback é uma
cardíaca, certo? Você relata estar tão
ferramenta amplamente utilizada e con-
desesperada por se sentir assim que
resolveu buscar terapia. Você acha que
sistentemente validada em pesquisas como
compreendi bem o que está vivendo?
forte aliada para a construção, a avaliação
Eu percebo você bastante emocionada e a manutenção da relação terapêutica e
e ansiosa quando lembra e narra esses dos progressos da psicoterapia (Norcross
momentos para mim. E me senti muito & Wampold, 2018). O psicoterapeuta cog-
compassiva com seu sofrimento e mo- nitivo-comportamental deve solicitar fee-
tivada a acolher e ajudar você a lidar dback verbal direto sobre a sessão, ao mesmo
com essas situações. Como você está tempo que observa as respostas verbais e
se sentindo, aqui comigo, comparti- não verbais do paciente. “Esse feedback in-
lhando essas experiências dolorosas e forma ao terapeuta sobre as modificações
desafiadoras? e intervenções necessárias para garantir
que o paciente permaneça sendo um parti-
cipante envolvido e ativo” (Sudak, 2008, p.
O estabelecimento de um contrato de tra- 41). O terapeuta deve estimular que o pa-
balho exige a compatibilização da dupla te- ciente manifeste feedback tanto de conteú-
rapêutica. Quando o terapeuta ou o paciente do positivo como também negativo a seu
percebem que não são compatíveis por al- respeito e a respeito das suas intervenções.
guma razão, como, por exemplo, pela inex- O clínico deve ter uma atitude aberta e hu-
periência do clínico com relação à demanda milde, estando disposto a receber críticas e
específica ou pelo valor de consulta do profis- a lidar com suas próprias falhas, fazendo a
sional para o orçamento do paciente, é ético autorreflexão quanto à sua postura. Tam-
o encaminhamento para outro profissional bém é desejado que o psicoterapeuta ofereça
mais adequado ao caso, como no exemplo a feedback aos pacientes de forma diplomática,
seguir. autêntica e empática, sem deixar de lhes fa-

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lar a verdade. O conteúdo dos seus feedbacks tas devem incluir a evolução do tratamento,
deve incluir a descrição dos fatos reais, reco- os objetivos da terapia e os sentimentos e
nhecidos como tal, e dos conteúdos e com- atitudes de cada um na relação terapêutica.
portamentos manifestos a serem reforçados O feedback oportuniza que terapeuta e pacien-
ou reparados. Ao mesmo tempo, também é te percebam a si mesmos através do olhar do
papel do terapeuta buscar encontrar nos pa- outro, um olhar que pode ser terapêutico.
cientes seus pontos fortes, crenças positivas Os feedbacks são um instrumento para ex-
e/ou adaptativas e estilos de enfrentamento pansão do self, para avaliação e readequação
saudáveis, que os ajudarão a lidar melhor das intervenções e, fundamentalmente, para
com as vicissitudes da vida e irão instrumen- manutenção e reparação da relação terapêu-
talizá-los para superar suas dificuldades, tica.
trazendo-lhes, assim, esperança de melhora
(Wright et al., 2019). Tratamento
Para ilustrar essa intervenção, sugerem-se
a seguir alguns exemplos de falas para solici- Estabelecido o setting, o tratamento visará a
tação de feedback nas sessões iniciais, sendo resolução dos problemas que motivaram a de-
adaptáveis para o decorrer do tratamento: manda pela psicoterapia, e o relacionamento
terapêutico estará fundamentado no empiris-
• Como você avalia nosso primeiro encontro? mo colaborativo, em que paciente e terapeuta
O que você achou da nossa sessão hoje? trabalharão juntos de forma ativa e colabo-
• Como você se sente emocionalmente ao fi- rativa para atingir os objetivos do paciente.
nal desta sessão? Muitos clínicos optam por construir a concei-
• Como você avalia a minha compreensão a tualização do caso de forma colaborativa com
seu respeito? E a respeito da sua deman- o paciente, aumentando com isso seu engaja-
da? mento no tratamento. O terapeuta orienta o
• Você acredita que eu poderei lhe ajudar? paciente sobre o seu papel para o atingimento
• Como você avalia a nossa relação de con- dos seus objetivos, e o psicoeduca no modelo
fiança? Como você se sentiu emocional- cognitivo, com a identificação de seus pensa-
mente comigo? mentos, emoções e comportamentos associa-
• Algo que falei ou fiz para você ao longo des- dos aos seus sintomas/problemas.
te encontro gerou algum desconforto? Na fase do tratamento propriamente
• Você se sentiu à vontade para me contar dito, ocorrerão flutuações na relação tera-
todas as coisas que pensa? pêutica, alternando-se momentos de maior
• Você gostaria de acrescentar ou modificar engajamento e evolução do caso com outros
algo sobre os seus objetivos na psicotera- de maior estabilidade e resultados menos ex-
pia? pressivos. Tais flutuações são normais, com a
• Quanto você se sente motivado a cooperar atenção constante do clínico para a manuten-
para alcançar os seus objetivos de tera- ção da aliança terapêutica, fundamental para
pia? a continuidade do processo. Variar a forma de
• Você sentiu vontade de voltar na próxima apresentar as hipóteses, diversificar as técni-
semana? cas de intervenções, usar metáforas, humor e
encenações (role-play) são exemplos criativos
O espaço para a dupla conversar sobre a para o psicoterapeuta manter o interesse do
relação terapêutica e o processo terapêutico paciente no processo terapêutico, pois este
deve ocorrer sistematicamente, e as pergun- pode se tornar tedioso com o passar do tempo

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A Relação Terapêutica na Prática Clínica das Psicoterapias Cognitivo-comportamentais   13

(Beck, 2008). Outros fenômenos relacionais


VINHETA CLÍNICA
também irão permear o relacionamento te-
rapêutico, devendo receber atenção especial Paciente com problemas familiares crôni-
dos clínicos, como a transferência e a contra- cos, histórico de abandono e abuso sexual,
transferência. fica insegura na relação terapêutica após
uma sessão difícil.
Transferência Paciente – Eu sei que sou uma pessoa mui-
A transferência é compreendida pelas TCCs to problemática. Acho que você não vai
como a reedição, na relação terapêutica, dos mais querer me atender e eu vou ter
elementos-chave de relacionamentos prévios que entender.
Terapeuta – Você está com medo de que eu
importantes. O foco de trabalho desse fenô-
lhe abandone? Que atitudes minhas a
meno consiste na exploração das maneiras
fazem pensar isso?
habituais de pensar e agir do paciente nesses
Paciente – Sinto medo, mas você não fez
relacionamentos, que são repetidas no setting
nada; eu que sempre sinto dessa forma.
terapêutico. O terapeuta cognitivo-compor-
Terapeuta – Que pensamentos você está
tamental deve reconhecer a transferência
tendo agora?
e, de forma colaborativa com o paciente,
Paciente – Eu sou uma paciente muito pro-
identificar os pensamentos e as crenças, ava-
blemática. Ninguém vai suportar ter
liando os esquemas disfuncionais presentes,
uma relação com uma pessoa com tan-
bem como os padrões associados de com-
tos problemas como eu.
portamento desenvolvidos em contextos de
Terapeuta – Como pensar assim faz você se
relacionamentos passados, reconhecendo os
sentir?
seus efeitos na relação terapêutica, no aqui Paciente – Triste, ansiosa e com medo de ser
e agora. A checagem das evidências é uma abandonada.
estratégia útil para a correção das distorções Terapeuta – Durante a nossa relação, eu agi
transferenciais experienciadas na relação de forma a validar esses pensamentos?
terapêutica (Wright et al., 2019; Beck et al., Paciente – Acho que você me olhou com
2005). Tal fenômeno transferencial costuma cara de pena quando eu contava meus
estar carregado de forte ativação emocional problemas...
do paciente, e o setting terapêutico se torna Terapeuta – Compreendo. E de fato eu senti
o palco mais propício para as intervenções compaixão por você. Você também se
curativas. O aproveitamento adequado desse sente ou sentiu dessa mesma forma na
fenômeno exige que a dupla terapêutica pos- relação com alguma pessoa importante
sa compreender o conteúdo transferenciado da sua vida?
e seu significado, usando como ferramenta Paciente – Sim, me sinto assim com meus
o diagrama de conceitualização cognitiva amigos. Acho que sou um peso e que
do paciente. Ao identificar crenças e com- nenhum deles vai querer estar próximo
portamentos desadaptados, o clínico deve a mim porque tenho muitos problemas
escolher as intervenções mais adequadas ao que eles não têm. Meu pai também
atendimento das necessidades e dos objeti- me faz sentir assim, pois ele nunca me
vos terapêuticos do paciente. Um exemplo procura e nas raras vezes que ficamos
dessa relação transferencial e sua interven- juntos ele não se interessa por mim. Eu
ção é apresentado a seguir. sinto que há algo de errado comigo.

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14   Kristensen & Kristensen (Orgs.)

denominado de contratransferência. Tais pen-


Terapeuta – Eu compreendo que você se
samentos, crenças e emoções despertados
sinta dessa forma na relação com seu
no clínico tendem a reproduzir aqueles des-
pai, afinal de contas, ele foi muito au-
pertados em outras pessoas significativas na
sente na sua vida e o vínculo de vocês
vida do paciente, servindo de instrumento
é esporádico e superficial. Essa relação
de informação à identificação de padrões de
deixou você tão insegura sobre sua
interação disfuncionais do paciente a serem
autoestima, com medo de ser abando-
trabalhados em psicoterapia. O monitora-
nada, que sente dificuldade de confiar
mento, por parte do terapeuta, sobre seus
nas pessoas e se abrir com seus amigos,
pensamentos e sentimentos em relação ao
optando por se proteger e se manter
paciente deve ser constante, visando a iden-
superficial e distante nas relações. E
tificá-los e relacioná-los à demanda terapêu-
me mostrou isso aqui: quando se abriu
tica. As reações emocionais, os pensamentos
um pouco mais e senti compaixão por
você, suas crenças de abandono foram
automáticos e mesmo os comportamentos e
acionadas e você se sentiu insegura na
as atitudes do terapeuta devem ser alvo de
relação comigo. Isso faz algum sentido reflexão, no intuito de elencar as melhores
para você? intervenções terapêuticas para correção e
Paciente – Sim, faz total sentido. Mas você reparação dos sintomas e problemas do pa-
não vai mesmo me abandonar? ciente (Beck, 2007). O automonitoramen-
Terapeuta – Não, eu não irei abandonar to quanto à sua contratransferência exige
você. Eu estarei ao seu lado pelo tempo que o clínico também reconheça seu caráter
que for necessário para reconstruirmos humano, o que inclui a consciência de seus
juntas a forma como você se relaciona, próprios esquemas e crenças disfuncionais,
até que você se sinta mais segura para bem como de seus estilos de enfrentamento
construir vínculos mais profundos e desadaptativos que possam estar interferin-
alinhados com os seus objetivos na do negativamente na relação terapêutica, de
terapia. modo a usar tais informações como mate-
rial terapêutico em prol da mudança clínica
desejada (Leahy, 2007). Uma dica útil para
O terapeuta identifica a transferência, as identificar problemas na relação terapêuti-
crenças e o estilo de enfrentamento do pacien- ca oriundos dos pensamentos e sentimentos
te na relação terapêutica, compreendendo seu de contratransferência é sugerido por Judith
significado a partir da conceitualização cog- Beck (2007): Quem eu gostaria de cancelar
nitiva do caso. De forma reflexiva, questiona a sessão de hoje ou que não comparecesse à
o componente real da relação terapêutica para terapia desta semana? Quais os pensamen-
o acionamento da transferência, ajudando o tos que eu tenho sobre ele e como tenho me
paciente na correção das distorções e inter- sentido na nossa relação terapêutica? Como
vindo para sua adequada reparação. tenho lidado com esses pensamentos? Tenho
feito as intervenções adequadas dentro do
Contratransferência objetivo terapêutico desse paciente?
Ela acrescenta, ainda, que os pacientes
A repetição dos padrões interpessoais dis- identificados nessa categoria merecem atenta
funcionais na interação com o terapeuta avaliação e um preparo mais adequado para
(transferência) é um gatilho para acionar a sessão, considerando que sejam realizadas
esse um conjunto de sentimentos e cogni- mudanças nas estratégias terapêuticas em-
ções a respeito do paciente, fenômeno esse pregadas.

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A Relação Terapêutica na Prática Clínica das Psicoterapias Cognitivo-comportamentais   15

Autorrevelação VINHETA CLÍNICA


No intuito de favorecer a aproximação do O psicoterapeuta usa a autorrevelação para
vínculo entre paciente e terapeuta, criar um acolher empaticamente paciente com pen-
sentimento de vulnerabilidade comparti- samentos de fracasso e sentimentos de cul-
lhada, normalizar sentimentos disfóricos pa ao receber o diagnóstico psiquiátrico do
e fortalecer a aliança terapêutica, tem sido filho, aproximando-se mais dela:
discutida e amplamente usada a autorre- Terapeuta – Eu percebo como está sendo
velação como estratégia de intervenção. Ao difícil para você lidar com o diagnóstico
sensibilizar-se e identificar-se com o sofri- do seu filho. Percebo que pensamen-
mento do paciente em alguma situação re- tos de fracasso e de culpa têm vindo
latada, o clínico sente empatia e é remeti- constantemente à sua mente. No pas-
do a alguma experiência pessoal que tenha sado, eu também vivenciei algo pare-
vivido de forma análoga. Ele compartilha cido quando descobri o diagnóstico
com o paciente essa vivência, descrevendo do meu próprio filho. Me sentia triste
brevemente a situação passada, as seme- comigo mesma pensando em todas as
lhanças percebidas, a forma como se sentiu experiências difíceis que vivemos em
e como lidou com o fato. Pode ainda relatar família, as brigas que poderiam ter sido
como a vivência do paciente o tocou. A au- evitadas, o sofrimento dele, e me culpa-
torrevelação tem como propósito aumentar va por ter falhado como mãe. Durou um
o senso de conexão e empatia na dupla te- tempo toda essa dor, mas gradualmen-
rapêutica, e pode servir como modelagem, te lembro de ir me sentindo de outra
inspirando o paciente a lidar com a sua pró- forma... De ter querido aprender sobre
pria experiência (Beck, 2007). A modela- o diagnóstico e seu manejo, de sentir
gem estimula a aprendizagem vicária, cujo esperança de me tornar uma mãe me-
propósito é ajudar o paciente a ampliar ou lhor para ele e nossa relação melhorar.
mudar sua forma de pensar e agir sobre a E as coisas realmente melhoraram mui-
própria experiência. Devido aos poucos mas to desde lá. Acho que, no fundo, me
promissores estudos quanto à validação da sentia culpada porque sabia que errava,
sua eficácia para a relação terapêutica (Nor- mas essa consciência ainda não era o
cross & Wampold, 2018), o uso da autorre- suficiente para saber como acertar. Foi
velação como estratégia terapêutica deve o diagnóstico que me ajudou a dar ou-
ser avaliado cuidadosamente pela dupla te- tro significado para nossas dificuldades,
rapêutica, tanto a partir da observação do entender onde eu errava e finalmente
clínico sobre a receptividade do paciente à aprender a me tornar uma mãe melhor
intervenção e os seus efeitos como solici- para ele... [silêncio]. Como é para você
tando feedback diretamente sobre como ele ouvir isso que estou contando?
se percebeu beneficiado ou afetado pessoal- Paciente – É reconfortante saber que você
mente pelo compartilhamento de alguma também passou por isso, que também
experiência do terapeuta. O uso da autorre- erra e se culpa, que na sua casa também
velação não é aleatório, deve estar sempre existem problemas e brigas. Não me
conectado aos objetivos terapêuticos do pa- sinto a única pessoa passando por tudo
ciente, e seu relato deve respeitar os limites isso. Obrigada por me contar, foi impor-
éticos profissionais que norteiam todas as tante para mim ver você mais real e isso
psicoterapias. me ajuda a me aceitar um pouco mais.

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16   Kristensen & Kristensen (Orgs.)

A autorrevelação se mostrou particular- para um aprendizado e o profundo senso de


mente útil no exemplo descrito, aproximando possibilidade, esperança e coragem requerido
o vínculo terapêutico e diluindo sentimentos pelas arriscadas incursões pelo desconhecido
de culpa, inadequação, idealização e solidão (Mahoney, 1998). Desde que respeitados os
da paciente, que demonstrou padrões eleva- limites da relação terapêutica, o afeto com-
dos de autocriticismo e exigência. O psicotera- partilhado se manifesta durante todo o pro-
peuta costuma representar uma figura potente cesso terapêutico e não se resume às intera-
para o seu paciente, mas igualmente precisa ções sociais usuais, como os cumprimentos
poder se mostrar vulnerável e humano. O sen- afetuosos na entrada e saída de uma sessão.
so de sofrimento compartilhado e pertenci- A experimentação e a demonstração do afe-
mento diminui a distância entre eles e contri- to na psicoterapia se dão de diversas formas,
bui para a desidealização de qualquer imagem observando as características de cada dupla.
de perfeição irrealista que o paciente possa ter O terapeuta pode evidenciá-las, por exemplo,
construído a respeito do terapeuta, ao mesmo prestando atenção de forma interessada e ge-
tempo que lhe instila esperança de melhora. nuína no paciente; demonstrando-lhe empa-
tia e compaixão; estabelecendo conexão emo-
Afeto cional com ele; usando palavras de afirmação,
como elogios sinceros; expressando como se
A experiência de fazer psicoterapia é rela- sente de forma diplomática e verdadeira; de-
tada de forma muito subjetiva por cada pa- monstrando interesse espontâneo e se impor-
ciente: há os que amam, os neutros e os que tando com aquilo que é significativo para o
têm aversão a consultar um psicoterapeuta. paciente; tendo um olhar afetivo e fraternal;
Dentre as muitas variáveis que influenciam modulando o tom de voz a fim de sintonizar
a experiência terapêutica e a forma como com a emoção do paciente; se comunicando
cada dupla se sentirá nessa relação, o afeto e por meio de expressões faciais e da linguagem
a experiência emocional compartilhada têm corporal; sendo compassivo; fazendo contato
ganhado ênfase nas últimas décadas, espe- extrassessão em situações pontuais e de es-
cialmente nos estudos sobre aliança terapêu- pecial relevância para a vida do paciente, tais
tica e a relevância dos aspectos pessoais do como mensagem no aniversário ou outras da-
terapeuta nas psicoterapias (Mahoney, 1998). tas significativas para ele; se mostrando mais
A relação terapêutica evidencia a importância disponível e presente em situações de crise
do afeto como uma das variáveis percebidas ou de luto; estando genuinamente disposto e
nessa avaliação sobre o fazer psicoterapia, e a aberto a ser igualmente afetado e transforma-
capacidade do clínico de experienciar e com- do pela relação com ele. As manifestações de
partilhar afeto genuíno com seus pacientes é afeto genuíno demonstram a importância que
influenciada por sua vivência pessoal em ter um tem para o outro. Sabemos que terapeu-
experimentado afeto dos outros (Mahoney, tas e pacientes desenvolvem fortes vínculos
1998). O afeto não é uma mercadoria, e sim de afeto, justamente por isso, um dos desafios
um sentimento espontâneo, produto do vín- com que se deparam esses profissionais é o
culo e do processo de desenvolvimento de de cultivar o comprometimento contínuo em
uma relação. Isso implica o reconhecimento construir e proteger os muitos tipos de limites
respeitoso do outro, uma sensibilidade aos (físicos, temporais e emocionais) necessários
ritmos do seu desenvolvimento, a paciência à manutenção da natureza desse vínculo, de
com a velocidade desse processo, o compro- forma a não comprometer ou prejudicar sua
metimento com a confiança e a honestidade boa prestação de serviço – mantendo-se éti-
mútuas, a humildade que reflete a abertura cos e capazes de ocupar o papel de terapeutas,

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A Relação Terapêutica na Prática Clínica das Psicoterapias Cognitivo-comportamentais   17

favorecendo a saúde mental a seus pacientes


Paciente – Adoraria!
(Mahoney, 1998).
Terapeuta – Eu sei que você tem uma me-
O afeto e as emoções que são geradas na
mória do menino gordinho e nerd, que
terapia, bem como a natureza do relaciona-
teve uma infância toda sendo magoado
mento terapêutico em si, podem ativar cren-
pelos colegas. Mas hoje eu vejo que ele
ças disfuncionais nos pacientes. Tal ativação
se tornou um homem alto, bonito, forte
emocional pode ser percebida como uma
e afetuoso. Um profissional respeitado e
ameaça para o psicoterapeuta que não souber
adorado. Uma pessoa de caráter forte e
manejá-la, mas clínicos competentes para li-
coração generoso. Vejo um ser humano
dar com a ativação emocional e a transferência
amável e atencioso, que genuinamen-
as consideram um aspecto positivo para a sua
te se importa com o outro. E comigo, é
mudança, desde que tais crenças e emoções
um paciente gentil, querido, educado e
sejam trabalhadas a serviço dos objetivos con-
respeitoso. Um homem que eu teria or-
tratados (Sudak, 2008). As TCCs acreditam
gulho de apresentar para uma grande
que as principais mudanças com relação às
amiga, se fôssemos apenas bons ami-
crenças centrais dos indivíduos ocorrem com
gos. Percebo que o homem que você
mais facilidade quando experienciadas com
é precisa enxergar que aquele menino
uma quantidade substancial de carga emocio-
sensível cresceu, e você precisa ser ca-
nal (Sudak, 2008). Quando tais crenças estão
paz de olhar para si mesmo de forma
associadas à pessoa do terapeuta e à relação
mais realista e generosa.
entre eles, torna-se mais favorável para o clí-
Paciente – Nossa, me emocionei com es-
nico realizar as intervenções reparadoras que
sas palavras. Você pensa isso de mim
têm o poder de mudar a experiência emocional
mesmo?
do paciente com relação a determinada cren-
Terapeuta – Sim, eu penso. Você acredita
ça. Esse fenômeno, denominado experiência
nas minhas palavras, me sente genuína?
emocional corretiva, tem grande impacto na
Paciente – Sim, eu sinto que você gosta
mudança terapêutica, incluindo efeitos nos
mesmo de mim e acredito no que diz.
sintomas, nas crenças disfuncionais e, em par-
Mas não sabia que me via dessa forma!
ticular, no autoconceito e na autoestima. Um
Nossa, me sinto muito feliz! Ganhei o
exemplo desse fenômeno é descrito a seguir.
melhor presente vindo de você! Por
mais que eu já tenha ouvido de algu-
VINHETA CLÍNICA mas pessoas, é diferente ouvir de você,
pela importância que tem para mim!
Paciente com baixa autoestima e excessiva- Porque você me conhece como nin-
mente autocrítico. Relata se achar feio, de-
guém mais, e isso faz muita diferença
sinteressante e inseguro na relação com as
para mim. Muito obrigado por me di-
mulheres. A terapeuta o percebe de forma
zer... de verdade!
diferente e oportunamente oferece a ele
Terapeuta – Fico genuinamente feliz em sa-
um feedback respeitoso e validante:
ber isso também. Como você se sente
Terapeuta – Já trabalhamos a origem des- agora?
ses seus pensamentos autocríticos e da Paciente – Diferente... me sinto mais con-
sua insegurança com as mulheres. Mas fiante... mais feliz!
eu vejo você de forma muito diferente Terapeuta – Então registra esse sentimento,
de como você se vê, e gostaria de com- sente no seu peito e registra as minhas
partilhar isso. O que você acha? palavras verdadeiras e a relação genuína

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18   Kristensen & Kristensen (Orgs.)

parecer doloroso com o fim dos encontros se-


que temos construído juntos quando
manais e o inexorável distanciamento que se
você se sentir inseguro com alguma mu-
dará entre eles. Por isso, durante o processo
lher. Isso vai ajudar você a se sentir con-
de alta é importante que consolidem a relação
fiante para ter coragem de mostrar como
terapêutica como uma relação segura para
você é para ela, da forma mais confiante
a qual o paciente possa querer voltar, como
sobre o seu valor pessoal, como tem fei-
uma espécie de lar simbólico onde ele possa
to para mim. Pois essa é a única coisa que
se sentir acolhido e amparado caso esteja no-
pode fazer por si mesmo.
vamente vulnerável e precisando do cuidado
de um profissional de saúde mental.
A vinheta ilustra o impacto da interven-
ção no paciente. A genuinidade do terapeuta DESAFIOS DA RELAÇÃO
impactará na relação real construída com ele,
tornando as intervenções mais potentes e re- TERAPÊUTICA NAS TCCS –
paradoras. Quanto maior a valência da rela- MANEJANDO PROBLEMAS
ção real, mais efeito tem a intervenção, pois
a mediação do seu significado é afetada pela É da natureza das relações humanas expe-
forma como o paciente percebe seu psicotera- rienciar momentos de tensão nos vínculos
peuta e a sua relação com ele. interpessoais. Todas as relações interpessoais
enfrentam tais desafios, e não é diferente na
Alta psicoterapia. Sendo essa uma condição ine-
xorável, é possível preparar-se para melhor
À medida que os objetivos terapêuticos são identificar, comunicar e reparar rupturas no
atingidos e o paciente demonstra estar mais vínculo terapêutico.
saudável e adaptado à sua vida, o processo
terapêutico se encaminha para o fim, com a Manejo de rupturas na
previsão da alta. O processo de alta é cons- aliança terapêutica
truído gradualmente na relação terapêutica
durante algumas sessões, feito a partir de Safran (2002) chamou as crises na aliança te-
feedbacks mútuos sobre os resultados e a me- rapêutica de rupturas. Como esse tema é apro-
lhora do paciente, tanto a partir de dados ob- fundado no Capítulo 9, veremos aqui como
jetivos como do relato subjetivo do paciente, sua manifestação se dá na prática clínica das
corroborado pela percepção do psicoterapeu- TCCs, identificando os principais problemas
ta sobre ele e sobre a relação terapêutica. Não percebidos na relação terapêutica. No dia a
raramente, a alta costuma representar um dia, psicoterapeutas observam oscilações na
momento de ambivalência para a dupla tera- cooperação, problemas na comunicação e na
pêutica, pois, ao longo do processo, paciente compreensão empática, frustração de expec-
e terapeuta constroem um vínculo de afeto tativas e, ainda, queda na motivação de um
profundo um com o outro. É fundamental que ou ambos componentes da dupla terapêutica.
possam conversar sobre esses sentimentos Tais fenômenos costumam ser comunicados
e, paralelamente, reforçar os aprendizados tanto de forma direta, a partir do confronto
construídos ao longo da psicoterapia, para do paciente com o terapeuta, como de forma
que a autonomia seja estimulada. O senso indireta ou silenciosa, a partir do distancia-
de autoeficácia e de realização pelo sucesso mento do paciente do processo terapêutico.
do tratamento é experienciado na alta com O estilo de comunicação da ruptura é nor-
alegria; ao mesmo tempo, o desvínculo pode teado pelo estilo de enfrentamento predomi-

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A Relação Terapêutica na Prática Clínica das Psicoterapias Cognitivo-comportamentais   19

nante do paciente, previamente identificado


VINHETA CLÍNICA
em sua conceitualização cognitiva. Pacien-
tes mais evitativos, por exemplo, tenderão a Paciente que era assíduo cancelou e se atra-
manifestar tais rupturas distanciando-se do sou para algumas sessões no último mês e
processo terapêutico a partir da resistência, parece desmotivado em sessão.
da baixa adesão ao tratamento, da mudança
Terapeuta – Nas últimas semanas tenho
no seu padrão de comportamentos na relação
percebido uma mudança na sua atitu-
terapêutica, do aumento de faltas às sessões,
de: você tem cancelado e se atrasado
dos atrasos não usuais, da baixa adesão a
mais para as nossas sessões e parece
combinações e tarefas extrassessões, da des- menos engajado em trazer os assuntos
motivação e do baixo engajamento durante que lhe incomodam. Como você perce-
a psicoterapia, bem como da mudança do be isso?
padrão dos pagamentos (atrasos, pagamen- Paciente – É verdade. Me sinto desesperan-
to por sessão, não pagamento), entre outros. çoso de que irei conseguir resolver as
O clínico, constantemente atento ao funcio- questões do meu relacionamento, mas
namento do paciente, irá perceber mais ra- não me sinto capaz de me separar. Me
pidamente tais problemas e deverá intervir sinto sem saída e deprimido.
junto ao paciente de modo a trabalhar seu Terapeuta (Assente com olhar compassi-
conteúdo, reparando-o sempre que possível. vo para o paciente) – E com tudo isso
Quando o estilo de comunicação do paciente que vem sentindo e pensando sobre
se dá a partir do confronto com o terapeuta, sua vida, o que você pensa sobre a
esse deve se manter aberto e receptivo, traba- terapia?
lhando igualmente em busca de uma solução. Paciente – Tenho a sensação de que a gente
É frequente que as rupturas tragam consigo a conversa sobre estratégias de mudan-
reedição dos conflitos relacionais do indiví- ça, mas a minha esposa não muda e eu
duo, bem como suas distorções cognitivas e também não consigo mudar. Me sinto
seus modos de enfrentamento disfucionais. fracassando.
A intervenção terapêutica nesses fenôme- Terapeuta – Você se sente desapontado que
nos, como já mencionado, representa uma eu não esteja conseguindo lhe ajudar?
oportunidade com alto potencial reparador, Paciente – Um pouco, mas percebo que
corrigindo tais disfuncionalidades a partir da eu também não consigo fazer o que
relação terapêutica. O terapeuta deve explo- deveria fazer. É como se eu não saís-
rar as expectativas, as crenças, as emoções e se do lugar... as mudanças são muito
os processos de avaliação que desempenham difíceis!
um papel central no funcionamento cogni- Terapeuta – Eu percebo sua frustração con-
tivo-interpessoal disfuncional do paciente sigo mesmo, com sua esposa e comigo
(Safran, 2002), desacionando seus conteúdos também, pois as mudanças que deseja
mantenedores, substituindo-os por cogni- não estão acontecendo. Você relata es-
ções e atitudes alternativas mais funcionais tar ficando desesperançoso quanto à
e compatíveis com os objetivos terapêuticos. psicoterapia, é isso?
Em contrapartida, o fracasso na identificação Paciente – Sim... me sinto dessa forma. Não
de uma ruptura e na adequada intervenção tenho visto uma evolução.
pode levar ao fortalecimento negativo desses Terapeuta – A psicoterapia não está ajudan-
esquemas, ao enfraquecimento da aliança te- do da forma como você esperava. Como
rapêutica e até mesmo à interrupção precoce você tem se sentido na relação comigo
do tratamento. e como está sendo falar sobre isso?

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Paciente – É muito difícil falar sobre isso, é Paciente – Percebo que você está atenta a
desconfortável me sentir assim... mim.
Terapeuta – Eu gostaria de poder com- Terapeuta – E receber minha atenção
preender um pouco melhor porque é dessa forma faz você se sentir como,
desconfortável se sentir dessa forma. emocionalmente?
Paciente – Eu gosto de você e acho que Paciente – Estranho... embaraçado... mas
estou sendo injusto por me sentir desa- bem, feliz eu acho.
pontado com a terapia, pois não gosta- Terapeuta – Quando expressa suas neces-
ria de magoar você e sei que não tenho sidades para sua esposa, é dessa forma
feito a minha parte. que você gostaria de se sentir?
Terapeuta – Fico satisfeita por estarmos Paciente – Sim, nossa relação seria mui-
falando sobre isso e que você esteja to diferente se ela me ouvisse e me
conseguindo me falar sobre como tem compreendesse.
se sentido na nossa relação. Creio que Terapeuta – Você conseguiria encenar co-
precisamos identificar onde estamos migo como se aproxima da sua esposa
falhando se quisermos trabalhar para para conversarem? Procure ser o mais
melhorar. O que você acha? fiel possível à realidade, pois preciso
Paciente – Acho importante, pois acredito ajudar você a identificar como se comu-
que você ainda possa me ajudar! nica para aperfeiçoarmos sua comuni-
Terapeuta ­– Tenho vontade de aprofundar cação. Vamos tentar isso?
seus pensamentos sobre não estar con-
seguindo mudar e as expectativas que
tem com relação à minha ajuda. O que O diálogo do caso ilustra uma situação de
pensa sobre isso? manejo de uma ruptura silenciosa na relação
Paciente – Penso que a minha esposa não terapêutica. O terapeuta, ao perceber essa
presta atenção em mim, não se importa ruptura, deve estimular o paciente a falar so-
com como me sinto. Quando tento co- bre isso, realizando a metacomunicação sobre
municar algo que preciso, ela diz estar seu funcionamento na relação terapêutica.
muito cansada para conversarmos e E também solicitar ao paciente feedback direto
muda o assunto. E eu acabo desistindo sobre seus sentimentos e pensamentos, aco-
e me sentindo cada vez mais desespe- lhendo-o e validando-o de forma empática,
rançoso sobre nosso futuro. diluindo assim sua resistência. O terapeuta
Terapeuta – E a forma como você se sen- se mantém receptivo e compreensivo sobre
te com ela, se assemelha à forma o funcionamento do paciente e as situações
como vinha se sentindo na terapia? ativadoras, realizando a adequada reparação
Desesperançoso? e restabelecendo o vínculo com ele.
Paciente – Exato! Não tinha me dado conta.
Terapeuta – E o motivo de você desistir de
Falhas na empatia
falar como se sente é o mesmo que tem
na relação com sua esposa: não achar Outro problema comum na relação terapêu-
que seria ouvido e validado? tica é o clínico cometer falhas de empatia,
Paciente – Sim. Não acredito que as pessoas provenientes do pressuposto equivocado de
se importam realmente com como se que, depois de conhecer o paciente por algum
sinto. tempo, é possível saber o que ele pensa e como
Terapeuta – E como você está percebendo se sente, sem questioná-lo (Basco & Rush,
agora a nossa relação? 2009). Manter-se aberto a questionar cada

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A Relação Terapêutica na Prática Clínica das Psicoterapias Cognitivo-comportamentais   21

hipótese sobre a forma como o paciente pen- ra reativa ou defensiva quando o paciente o
sa e sente, bem como sistematicamente con- acionar em emoções negativas. Deve manter-
versar sobre a relação terapêutica, minimiza -se um observador atento do funcionamento
a chance de ambos cometerem “leitura men- do paciente, comunicando-o sobre seus com-
tal”, distorção cognitiva que frequentemente portamentos e questionando-o sobre pen-
gera falhas de comunicação e de empatia nas samentos e emoções, construindo com ele o
práticas terapêuticas. Embora o clínico possa significado da transferência na relação tera-
ter uma percepção bastante precisa e realista pêutica. A metacomunicação sobre os conteú-
do seu paciente, é prudente que se mantenha dos emitidos na transferência é feita pelo psi-
fazendo perguntas e solicitando feedbacks. coterapeuta, auxiliando o paciente a tornar-se
Suposições equivocadas são prejudiciais à consciente de si mesmo e o mantendo enga-
relação terapêutica, pois geram intervenções jado positivamente no processo terapêutico.
não efetivas, com consequências negativas ao Ao compreender o conteúdo transferenciado e
processo, incluindo o abandono precoce e o a forma como o paciente o enfrenta na relação
fracasso da psicoterapia. Um exemplo de in- terapêutica, é tarefa do clínico decidir como
tervenção inadequada que pode prejudicar a intervir.
relação terapêutica é ilustrado a seguir.

VINHETA CLÍNICA
VINHETA CLÍNICA
Ao observar que o paciente se fecha ante a
Ao perceber que a expressão facial do pa- intervenção de estilo confrontativo, o psi-
ciente mudou a partir de uma intervenção coterapeuta se sente irritado e intolerante
sua, o clínico reage: com ele:
• Exemplo do que não fazer: Sei que você • Exemplo do que não fazer: Não me achei
está frustrado comigo porque se fechou. muito crítico com você como está fazen-
Às vezes me frustro com você também, do parecer. Você nunca se mostra aberto
faz parte das relações a gente se frustrar a ouvir algo não seja aquilo que deseja.
um com o outro... Mas faz parte da terapia eu dizer verda-
• Exemplo de intervenção terapêutica: des para você, pois estou aqui para tentar
Percebo que sua expressão facial mudou ajudar.
com o que acabo de dizer. Estou perce- • Exemplo de intervenção terapêutica:
bendo adequadamente? O que passou Percebo que você cruzou os braços e se
na sua cabeça neste momento? Como manteve em silêncio após o que falei, me
você se sente a respeito do que eu falei? parecendo frustrado e querendo se pro-
teger. Percebi corretamente? Me ajude a
compreender quais foram as minhas falas
Contratransferência negativa ou atitudes que fizeram você reagir dessa
forma? O que pensou e sentiu? Você cos-
Outro problema comum na prática clínica é
tuma reagir dessa forma em outras situa-
o psicoterapeuta agir em contratransferência
ções parecidas da sua vida? Como se sen-
negativa. O clínico precisa estar atento ao seu
te falando sobre isso comigo? Você está
próprio acionamento emocional, seus pen-
disposto a compreendermos o significa-
samentos e crenças, bem como seus estilos
do dessa reação no seu funcionamento e
de enfrentamentos desadaptativos, de forma quais têm sido as consequências disso na
que consiga diferenciar-se do seu paciente. sua vida?
É fundamental que não tenha uma postu-

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22   Kristensen & Kristensen (Orgs.)

Manter o paciente engajado nas situa-


VINHETA CLÍNICA
ções de transferência e não ter uma atitude
reativa quando acionado em contratransfe- Paciente tem sistematicamente evitado fa-
rência é um desafio para boa parte dos clíni- lar dos assuntos conflituosos e esquecido
cos, mesmo os mais experientes, pois é uma de realizar as tarefas combinadas.
reação natural do ser humano se proteger • Exemplo do que não fazer: Você tem evi-
quando se sente atacado e buscar se justifi- tado falar sobre os seus problemas e está
car quando se percebe frustrando ao outro. fracassando ao fazer as tarefas da terapia.
Para se manter terapêutico, o clínico deve Não adianta só eu me esforçar. Se não
praticar o automonitoramento sobre suas fizer a sua parte, a terapia não vai fun-
próprias distorções cognitivas e esquemas, cionar e me sentirei desmotivado para
diferenciando-os daqueles que fazem parte atender você.
do funcionamento do paciente. E pode usar • Exemplo de intervenção terapêutica:
tais conteúdos como instrumento de inter- Eu percebo que você tem evitado falar
veção para a manutenção da aliança tera- de assuntos que geram ansiedade e es-
pêutica em prol dos objetivos do paciente na quecido de realizar algumas tarefas que
psicoterapia. combinamos juntos. Me questiono se es-
sas atitudes sugerem alguma ambivalên-
Não colaboração cia quanto à mudança que você deseja.
Isso faz algum sentido para você? Como
Outro desafio comum das relações terapêuti- você tem se percebido na psicoterapia?
cas é a postura não colaborativa do paciente, Consegue acessar seus pensamentos au-
sua pouca adesão ao tratamento e a constata- tomáticos sobre isso? Está disposto a tra-
ção de sua baixa motivação para a mudança balhar junto comigo na resolução dessas
(Beck et al., 2005). Não querer mudar nem dificuldades?
sempre é baseado em uma crença racional
do paciente, mas em esquemas mentais não
conscientes que sustentam sua resistência Após cada pergunta, o terapeuta aguarda
no processo. Trabalhar a aliança terapêutica a resposta e conduz novas perguntas explora-
inclui o psicoterapeuta confrontar o paciente tórias para identificar os conteúdos cognitivo
empaticamente sobre seus objetivos na tera- e emocional do paciente no intuito de resta-
pia e sobre seu papel colaborativo, desafian- belecer a aliança terapêutica e engajar colabo-
do-o a questionar sua motivação à mudança. rativamente o paciente para a resolução dos
O clínico deve auxiliar o paciente a identificar problemas identificados na relação terapêu-
suas resistências, suas crenças e atitudes asso- tica.
ciadas ao seu funcionamento não colaborati-
vo, bem como os obstáculos reais ao processo, Manutenção de crenças
intervindo colaborativamente para modifi- disfuncionais e frustração
cá-las. A manutenção da aliança terapêutica de objetivos terapêuticos
inclui ajustes constantes na psicoterapia e no
contrato de trabalho, de forma a aumentar a E, finalmente, outro problema comum na re-
senso de engajamento para o atingimento dos lação terapêutica é a frustração dos objetivos
resultados. Um exemplo de confronto empáti- terapêuticos em virtude da manutenção de
co é exposto a seguir. crenças centrais disfuncionais do paciente,

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A Relação Terapêutica na Prática Clínica das Psicoterapias Cognitivo-comportamentais   23

em especial crenças de incapacidade/incom- te interrompidos evidenciam um sinal de


petência e de fracasso. Nessa situação, é co- alerta: os problemas na relação terapêutica
mum observarmos dependência patológica ainda são negligenciados por boa parte dos
do paciente em relação ao psicoterapeuta e clínicos. Perceber as rupturas nessa relação
atitude inconsciente de boicote à psicotera- ainda se mostra desconfortável para alguns
pia. O receio da autonomia oriundo do su- psicoterapeutas por questões pessoais, pois
cesso, a dificuldade de agir de forma bem- implica algum questionamento à sua pró-
-sucedida e capaz e a inibição da expressão pria competência profissional. A verdadeira
emocional genuína acabam reforçando o ciclo competência, no entanto, implica reconhe-
de dependência/fracasso/desesperança. Esse cer suas limitações profissionais e os proble-
fenômeno precisa ser identificado pelo clíni- mas na relação terapêutica, pois somente a
co, de forma que ele consiga apoiar o paciente partir disso o terapeuta poderá desenvolver
para a adequada expressão de necessidades, estratégias adequadas para manejá-las de
ao mesmo tempo que reforça seu senso de forma ética e respeitosa com aquele que o
competência, sucesso e autonomia. Caso não contrata, na construção de relações terapêu-
consigam evoluir no tratamento, é importante ticas fortes e efetivamente reparadoras para
que possam trabalhar para o enfrentamento seus pacientes, objetivo final de toda prática
saudável do paciente, considerando inclusive clínica.
o encaminhamento ético a outro profissional.
A interrupção do ciclo de reforçamento de
crenças negativas na relação terapêutica visa
RESUMO
a estimular novos e mais saudáveis estilos
de enfrentamento às suas crenças negativas, • A relação terapêutica é composta por três
fundamentais à mudança e ao atingimento fenômenos: aliança terapêutica, transfe-
dos objetivos terapêuticos. rência e relação real.
• A aliança terapêutica constitui o contrato
de trabalho que viabiliza o processo tera-
CONSIDERAÇÕES FINAIS pêutico; a transferência é o conjunto de
A construção da relação terapêutica nas TCCs pensamentos e sentimentos disfuncio-
representa uma área do conhecimento em nais que o paciente manifesta na relação
crescente expansão. Os estudos de eficácia terapêutica; a relação real é o vínculo ge-
dos tratamentos indicam que a capacitação do nuíno e afetivo estabelecido pela dupla
terapêutica.
psicoterapeuta não se mostra completa quan-
• Solicitar feedback constantemente é fer-
do não inclui o treinamento específico para
ramenta fundamental para a construção
a construção e a manutenção da relação te-
e a manutenção da relação terapêutica.
rapêutica. Da mesma forma, além da forma-
• Os fenômenos da transferência e da con-
ção profissional, a pessoa do psicoterapeuta e
tratransferência são valiosos para inter-
suas características pessoais e competências
venções terapêuticas curativas por esta-
relacionais contribuem, igualmente, para que
rem carregados pela ativação emocional
seja capaz de construir relações terapêuticas
do paciente.
mais fortes com seus pacientes, impactando
• A autorrevelação visa a gerar mais proxi-
de forma direta e positiva os resultados da
midade na dupla terapêutica, normaliza
psicoterapia.
sentimentos disfóricos e proporciona mo-
No entanto, relatos de processos psico-
delagem para aprendizagem vicária.
terapêuticos malsucedidos e precocemen-

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24   Kristensen & Kristensen (Orgs.)

Butler, S. F., & Strupp, H. H. (1986). Specific and


• Paciente e terapeuta frequentemente nonspecific factors in psychotherapy: A problematic
desenvolvem um vínculo afetivo. O afe- paradigm for psychotherapy research.  Psychotherapy:
to pode potencializar os resultados das Theory, Research, Practice, Training, 23(1), 30–40.
intervenções, mas é dever do psicotera- Gelso, C. J., & Carter, J. A. (1985). The real relationship
peuta cuidar da relação terapêutica, pre- in counseling and psychotherapy: Components, con-
sequences, and theoretical antecedents. The Counseling
servando os limites éticos. Psychologist, 13(2), 155–244.
• Estar atento à manutenção da aliança te-
Gelso, C. J., & Carter, J. A. (1994). Components of the psy-
rapêutica é fundamental para atingir os chotherapy relationship: Their interaction and unfold-
resultados terapêuticos nas TCCs. ing during treatment. Journal of Counseling Psychology,
• Problemas comuns da relação terapêu- 41(3), 296-306.
tica incluem: resolução das rupturas na Hayes, S. C. (2004). Acceptance and commitment
aliança terapêutica; falhas de empatia; therapy, relational frame theory, and the third wave of
behavioral and cognitive therapies. Behavior Therapy,
transferência negativa; não colaboração
35(4), 639-665.
e manutenção de crenças disfuncionais.
Lambert, M. J. (1989). The individual therapist’s contri-
• Negligenciar problemas na relação te-
bution to psychotherapy process and outcome. Clinical
rapêutica pode ocasionar interrupções Psychology Review, 9(4), 469–485.
prematuras e o fracasso do processo Mahoney, M. J. (1998). Processos humanos de mudança.
terapêutico. Porto Alegre: Artmed.
Norcross, J. C., & Wampold, B. E. (2018). A new therapy
for each patient: evidence-based relationships and
REFERÊNCIAS responsiveness. Journal of Clinical Psychology, 74(11),
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Basco, M. R., & Rush, A. J. (2009). Terapia cognitivo- Safran, J. D. (2002). Ampliando os limites da terapia cogni-
comportamental para transtorno bipolar. (2. ed.). Artmed. tiva: o relacionamento terapêutico, a emoção e o processo de
Beck, A. T., Freeman, A, & Davis, D. D. (2005). Terapia mudança. Artmed.
cognitiva dos transtornos da personalidade. Artmed. Sudak, D. M. (2008). Terapia cognitivo-comportamental na
Beck, J. S. (1997). Terapia cognitiva: Teoria e prática. prática. Artmed.
Artmed. Wright, J. H., Brown, G. K., Thase, M. E., & Basco, M. R.
Beck, J. S. (2007). Terapia cognitiva para desafios clínicos: (2019). Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental:
O que fazer quando o básico não funciona. Artmed. Um guia ilustrado. (2. ed.). Artmed.

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Orientações gerais

ORIENTAÇÕES GERAIS os aprovadores farão alterações na forma do


texto para que atenda aos padrões gerais a
Cada autor possui ampla liberdade para a seguir indicados. As alterações no conteúdo,
criatividade de seu texto e para a preservação se ocorrerem, serão previamente combinadas
de seu estilo pessoal de redação e composição. com o(s) autor(es) do capítulo.
No entanto, para que o livro mantenha uma
necessária uniformidade, são indispensáveis
algu­mas normas de padronização.
TEXTO, FIGURAS
E ARQUIVOS
GERENCIAMENTO TÍTULO E AUTORIA – Deverão constar no
DO PROCESSO arquivo entregue o título do capítulo e os no-
mes de seus autores – respeitando o limite
Comunicações e gerência do workflow dos ca- de quatro (04) autores por capítulo –, com
pítulos serão feitas principalmente dentro a mesma grafia a ser utilizada na obra a ser
da plataforma Obras, cujo processo, embora publicada e a ser indicada no termo de cessão
amigável, tem a total assessoria da analis- de direitos que a Editora enviará para preen-
ta administrativa da produção editorial da chimento e assinatura dos autores (Obras).
Artmed, Michele Petró Kuhn, sob o e-mail TAMANHO DO CAPÍTULO – Os capítulos
obrascoletivas@grupoa.com.br e o WhatsApp devem ter em torno de 20 laudas, ou cerca
51 99345-8878. de 39.000 a 40.000 toques (cada laudas tem
1.950 caracteres), incluindo espaços, qua-
APROVAÇÃO DOS dros, tabelas, figuras e a lista de referências
(limitadas a 30 referências por capítulo).
CAPÍTULOS
FORMATAÇÃO – Formatar no Word com
A aprovação dos capítulos será feita pelos fonte Arial, tamanho 12, com espaçamento de
organizadores da obra. Quando necessário, 1,5 linha.

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26  Orientações gerais

ELEMENTOS GRÁFICOS – Utilize-se sem- caso de crianças e adolescentes, será


pre que possível de tabelas, quadros, imagens necessária a autorização dos pais ou
e fluxogramas, pois estes tornam o conteúdo responsáveis). No caso de a ilustração
mais didático. ser do próprio autor, informe à editora.
Tabelas: As tabelas devem ter legenda (acima • Imagens retiradas de livros publicados
da tabela) e linha de cabeçalho (identificação pelas editoras que fazem parte do Gru-
das colunas), além de serem chamadas no po A não necessitam ser escaneadas,
texto na ordem sequencial (repetir o núme- podendo ser fornecida somente sua
ro na legenda da tabela). Quadros e tabelas referência completa (título da obra,
têm numeração independente. (Por exemplo: autores, edição, página, ano).
Conforme mostra a Tabela 1.1, é possível...) • Dúvidas sobre direitos autorais: con-
tate nossa analista administrativa pelo
Quadros: Os quadros devem ter título (acima
e-mail obrascoletivas@grupoa.com.br.
do quadro), além de serem chamados no texto
na ordem sequencial (repetir o número no tí-
SIGLAS – Utilize as mais conhecidas, sejam
tulo do quadro). Quadros e tabelas têm nume-
elas derivadas do inglês ou do português, mas
ração independente.
não esqueça de apresentá-las por extenso
Figuras: Assim como as tabelas e os quadros, sempre na primeira ocorrência. Veja a seguir
devem ser chamadas no texto e ter legenda os exemplos de utilização de siglas derivadas
(abaixo da figura). Sua numeração é indepen- de termos em português e inglês:
dente de quadros e tabelas.
• A terapia cognitivo-comportamental
Algumas orientações no caso de utilizar fi-
(TCC)
guras no capítulo:
• O fator de crescimento endotelial vas-
cular (VEGF, do inglês vascular endo-
• O uso de ilustrações (fotografias, sli-
thelial growth factor)
des, raios X, desenhos) é livre, com
ressalva para a reprodução em cores
NEGRITOS – Use para identificar itens e ter-
(as imagens fornecidas em 4 cores
mos principais dentro do texto, evitando seu
serão transformadas em P&B). Ob-
uso em parágrafos.
servação: deve-se ter cuidado com as
imagens de internet, pois raramente ITÁLICOS – Utilize somente para estrangei-
sua qualidade é suficiente para im- rismos (nomes de instituições, atos e decretos
pressão em livros, embora pareçam estrangeiros ficam sem itálico); títulos de li-
muito boas na tela. Quando a editora vros, guias, manuais e conferências; nomes
entender que seja necessário, as ima- científicos.
gens serão redesenhadas a fim de que
se mantenha um padrão gráfico em REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS – As re-
todo o livro. Atenção: para a repro- ferências bibliográficas devem manter o sis-
dução de fotos e ilustrações de outras tema APA de re­ferenciação. Limitar o núme-
publicações, o autor do capítulo deve ro de referências a no máximo 30. Em caso
obter a permissão do detentor dos de dúvidas a respeito das referências, nossa
direitos autorais. Para fotografias, bibliotecária, Karin Lorien Menoncin, está à
é imprescindível que se obtenha o disposição (kmenoncin@maisaedu.com.br).
termo de autorização tanto do fotó- Para orientações sobre o uso do sistema APA
grafo quanto dos fotografados (no de referenciação, veja anexo a seguir.

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Orientações gerais   27

ENTREGA E FORMATOS DE ARQUIVOS – bibliográficas + figuras + tabelas e quadros)


A entrega da versão final do capítulo será rea- em arquivo RTF ou DOC; figuras em formato
lizada através do sistema Obras, e os arquivos JPG (para outras orientações, ver sobre ima-
devem ser divididos da seguinte forma: par- gens no item Figuras, descrito anteriormen-
te textual (título do capítulo + nome dos au- te), cada figura devendo ser enviada em um
tores + texto propriamente dito + referências arquivo separado.

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Anexo
ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO
DE REFERÊNCIAS E CITAÇÕES
EM APA (baseadas na 7ª edição)

• Quando o documento indicar até sete mais relevantes como autoria, título,
autores, todos os nomes são indica- edição, quem publicou o material e
dos na referência; ano de publicação;
• quando o documento indicar oito ou • mesmo que você não vá padronizar
mais autores, indicam-se os seis pri- as informações neste momento, é im-
meiros, seguidos de três pontos e do portante anotá-las de forma correta e
nome do último autor. Não se usa a ex- completa;
pressão “et al.”; • se consultar o capítulo de algum livro,
• se o sobrenome possuir o sufixo Filho, anote não só o nome do(s) autor(es)
Jr. ou III, a forma correta de referen- do livro, como também o(s) do(s) au-
ciar é: Mendonça, A. A., Jr., & Alva- tor(es) do capítulo;
renga, B. B. e na citação no texto, não • na lista de referências, não substitua
aparece o sufixo, apenas o sobrenome: o(s) nome(s) do autor(es) por um traço
(Mendonça & Alvarenga, 2018) sublinear – equivalente a seis espaços
• é necessário citar a fonte, ou seja, a (_____);
referência de cada trecho, figura, qua- • no caso de consulta a periódicos, pro-
dro, gráfico, etc., utilizado no texto, cure anotar, além do volume, também
tanto de forma direta (quando é uma o número do fascículo e as páginas ini-
citação entre aspas) como de forma in- cial e final do artigo;
direta (quando é uma citação baseada • informações complementares do do-
em algum texto consultado); cumento podem ser adicionadas como
• após a consulta de qualquer tipo de notas, no final da referência.
material, procure anotar os dados

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Anexo  29

EXEMPLOS: Capítulo de livro:


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Rosner (Ed.), Principles and practice of forensic psychiatry
(2nd ed., pp. 7–13). CRC.
Até 8 ou mais autores:
Rose, M. E., Huerbin, M. B., Melick, J., Marion, D.
W., Palmer, A. M., Schiding, J. K., ... Graham, S. H.
Obra original publicada
(2002). Regulation of interstitial excitatory amino acid em outro ano
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Research, 935(1-2), 40-46.
Edição Standard da Obra Brasileira das Obras psicológicas
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Na internet: publicada em 1900).

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nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawatch.htmArticle
Harris, L. (2014). Instructional leadership perceptions and
practices of elementary school leaders [doctoral thesis].
Artigo de jornal: University of Virginia.
Gilli, D. (2005, maio 23 a 29). Inserção social é o lema. Frizzo, G. B. (2004). A qualidade da interação pai-mãe-
Folha Universitária, pp. 3-5. bebê em situação de depressão materna [Dissertação de
mestrado não-publicada]. Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
Artigo sem autoria:
Teles, F. (2015). Um jogo educativo para a formação do
O despertar dos valores. (2005). Pátio: Educação Infantil, psicólogo escolar [Tese de doutorado]. Universida-
3(7), 5-7. de Federal do Rio Grande do Sul. http://hdl.handle.
net/10183/122035
Livros e outras monografias
Autor pessoal:
Documentos na internet
Murray, P. R., Rosenthal, K. S., Kobayashi, G. S., & Pfaller, Foley, K. M., & Gelband, H. (Eds.). (2001). Improving
M. A. (2002). Medical microbiology (4th ed.). Mosby. palliative care for cancer. http://www.nap.edu/books/
0309074029/html/

Editor ou compilador como autor:


Blog
Gilstrap, L. C. 3rd, Cunningham, F. G., & VanDorsten, J. P.
(Eds.). (2002). Operative obstetrics (2nd ed.). Mc-Graw- Ouellette, J. (2019, November 15). Physicists capture first
-Hill. footage of quantum knots unraveling in superfluid. Ars
Technica. https://arstechnica.com/science/2019/11/
study-you-can-tie-a-quantum-knot-in-a-superfluid-
Instituição como autor: but-it-will-soon-untie-itself/
American Psychiatric Association (APA). (2014). Manual Pereira, E. B. M. (n.d.). Transtorno de pânico. Interface Psi-
diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 (5. cologia Clínica. https://nucleointerface.com.br/blog/60-
ed.). Artmed. diferencas-entre-tcc-e-act

2023_Kristensen_Capitulo_Modelo_17,5x25.indd 29 11/01/2023 14:16:00


30  Anexo

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Website sem data
Boddy, J., Neumann, T., Jennings, S., Morrow, V.,
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White, B. [@BettyMWhite]. (2018, 21 de junho). I treasure Idoeta, P. A. (2020, 3 de outubro). Cinco técnicas para
every minute we spent together #koko [Imagem anexada] estimular a memória, segundo a neurociência. BBC
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status/1009951892846227456 al-53603640

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