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O casal: casais saudáveis e

disfuncionais

PROF. MARIA ISABEL WENDLING


PUCRS
FUNÇÕES DO SUBSISTEMA CONJUGAL

O casal desempenha funções específicas que são


vitais para o funcionamento da relação.
Eles devem conseguir que cada um apoie o outro,
ou seja, devem desenvolver padrões de
complementaridade.
Entretanto, é importante que cada esposo se
entregue ao relacionamento sem ter a sensação
de renuncia a sua individualidade ou as suas
questões familiares (Minuchin, 1982).
PODER E IGUALDADE

Os casais bem sucedidos conseguem manter uma


complementaridade diante das obrigações e, ao mesmo
tempo, um sentido de igualdade e liderança partilhada.
Um estado de desequilíbrio de poder ocorre quando a
área de responsabilidades de um dos dois cônjuges é
subvalorizada.
O ideal é a negociação de um acordo que estabeleça
uma igualdade entre as respectivas contribuições.
ADAPTABILIDADE

Equilíbrio entre a manutenção de uma estrutura


estável e, ao mesmo tempo, flexível em resposta às
mudanças da vida.
Regras claras, mas passíveis de serem
renegociadas e alteradas. As variações inesperadas
da vida exigem flexibilidade e tolerância para o caos
que ocasionalmente pode produzir.
COESÃO
Os casais saudáveis conseguem encontrar um
equilíbrio entre proximidade e respeito ao
distanciamento e às diferenças individuais.

EU TU NÓS

Fronteira em torno do casal para proteger a


integridade e prevenir a intrusão e a ruptura do
vínculo.
PROCESSOS COMUNICATIVOS

Na comunicação dos casais saudáveis, é levado em


conta o conteúdo da comunicação (relato) e a forma de
expressão (ordem).
Para que um casal seja considerado saudável, é preciso
clareza de mensagens.
Devido à complexidade e ambigüidade da vida
contemporânea, os parceiros devem constantemente
redefinir e tornar explícitas as suas idéias e expectativas em
relação ao casamento, ao companheiro(a) e a si mesmo(a).
EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES

Cada casal deve chegar a um acordo sobre como se


exprimem reciprocamente os sentimentos de amor, afeto e
cuidado.
É comum:

MULHERES: Lamentam falta de demonstração de


afeto por parte do marido.
Não pedem ao marido o que querem
porque ele deveria saber e porque sendo
pedido não tem valor.

HOMENS: Lamentam a falta de interesse sexual


das esposas.
SATISFAÇÃO CONJUGAL/QUALIDADE DA
RELAÇÃO
Atualmente fala-se em qualidade da relação conjugal e não mais
satisfação conjugal, lembrando que é algo único e subjetivo para
indivíduo e para cada casal.

Não comparar o que são prioridades para um casal e para outro.

Cada casal possui um contrato no qual estão incluídos os elementos


necessários da qualidade conjugal.

Cuidar da influência da mídia e da família de origem ao determinar ou


influenciar sobre o que seria “estar satisfeito conjugalmente”.

É um processo construído ao longo dos anos, dinâmico e flexível com


cada etapa do ciclo vital.
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

A grande diferença entre os casais que dão certo e os que não dão
certo não é a presença ou ausência de problemas, mas sua
capacidade de enfrentar e resolver as dificuldades que surgem no
curso da vida a dois.
O processo de resolução de problemas pode ser considerado uma
progressão que vai da identificação partilhada de um problema, através
do contrato, até a sua resolução.
Os casais podem paralisar-se em um ponto qualquer desse
caminho. Os mais seriamente disfuncionais têm dificuldade desde o
ponto de partida. A pouca clareza na comunicação e um baixo nível
de diferenciação bloqueiam a definição do problema e o
reconhecimento das diferenças nos sentimentos e nas idéias.
Todas as pessoas que vivem juntas têm diferenças que, ao longo do
tempo, confundem-se. O casal deve resolver algumas e reconhecer e
respeitar outras de modo que a relação possa continuar e os parceiros
possam manter uma boa noção de si mesmos.
Os casais disfuncionais geralmente têm dificuldades em exprimir as
diferenças por um medo enorme de que o conflito aumente e ocasione
violência ou ruptura do casamento.
Os casais com baixa tolerância ao conflito tendem a “concordar em
estar de acordo” e urgem por um prematuro encerramento dos
problemas.
Usam sempre a mesma técnica ou a mesma solução para todos os
problemas, considerando a experimentação como fonte de fracasso ou
de culpa.
Desse modo, os problemas não são enfrentados de modo eficaz
e trazem conseqüências negativas para o relacionamento.
As brigas sobre o controle da relação também
impedem a resolução dos problemas. Uma vez que vêm à
tona as diferenças, os cônjuges podem cair na armadilha
do “quem tem razão e quem não tem” sem qualquer
capacidade de considerar o ponto de vista do outro.
Acordo e adaptação são vistos em termos de vitória ou
de rendição. Os parceiros tornam-se inimigos em uma
batalha sem fim.
Em terapia, esse tipo de cônjuge esperará que o outro
mude primeiro.

TÊNIS E FRESCOBOL
TÊNIS E FRESCOBOL
 
Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos
(relacionamentos) são de dois tipos: há os casamentos do tipo Tênis e há os
casamentos do tipo Frescobol.

Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam


mal. Os casamentos do tipo Frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de
ter vida longa. Explico-me.

Para começar, uma afirmação de Nietzche, com a qual concordo inteiramente.

Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se


fazer a seguinte pergunta:
"Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua
velhice?"

Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo


são aquelas construídas sobre a arte de conversar.
Sherezade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da
cama são sempre decapitados pela manhã, e terminam em separação, pois
os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no
filme O Império dos Sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na
cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, Sherezade o
ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim,
que deveria durar mil e uma noites.

O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A


música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade:
é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se
fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. 

E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes. Fazer carinho


com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo:
"Eu te amo".

Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, eu te amo não quer dizer


mais nada". É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em
sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de
Adélia Prado: "Erótica é a alma". 
Tênis é um jogo feroz. O objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se
revela no seu erro: O outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para
fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto
fraco do seu adversário, é justamente para aí que ele vai dirigir sua cortada.
Palavra muito sugestiva - que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar,
interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, no momento em
que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de
jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

Frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma
bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a
bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço
do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-
la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os
dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra. O
erro de um, no frescobol, é um acidente lamentável que não deveria ter
acontecido. E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente
culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em
que ninguém marca pontos...
A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras.
Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá.... 
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera
do momento certo para a cortada. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro
para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão.. O que se busca é ter razão e
o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser


preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. 

O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão
do outro voem livres ao vento. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém
ganha, para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre,
eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
Nos casais saudáveis, há possibilidade de chegar sem
tantos percalços da identificação do problema à sua
resolução.

Esses casais estão em condições de manter um


sentimento de confiança, de enfrentar os problemas com
tolerância no que diz respeito às diferenças e incertezas e,
portanto, de construir ao longo do tempo um sentimento de
reciprocidades no ajustamento de um ao outro.

Eles estão em condições de experimentar soluções


novas, expandir as possibilidades de resposta e também de
mudar de direção quando necessário.
É necessária uma imagem evolutiva do casamento para
mudar a forma estática de “castelo” ou “prisão” e passar
para uma forma flexível que pode ser remodelada por
ambos os parceiros ao longo do tempo, para ir ao encontro
de necessidades, prioridades, exigências...
A cada transição, o quid pro quo deve ser levado em
consideração e renegociado.
A terapia de casal corre o risco de, às vezes, paralisar-se
em longas revisitações das insatisfações acumuladas ao
longo dos anos.
Pode ser útil, nesse momento, que o terapeuta indique
que o contrato que o casal havia negociado no início ia ao
encontro das necessidades daquele momento; o problema
é que aquele contrato não foi modificado para
acompanhar as mudanças das circunstâncias e das
necessidades.
CONFIGURAÇÕES DE CASAIS :
OLHAR ATRAVÉS DAS GERAÇÕES(Andolfi)

Casal Harmônico

- Composto por dois parceiros capazes de compartilhar as


experiências de vida e respeitar-se mutuamente em uma
relação estável e íntima.

- Ambos tem uma emancipação satisfatória da família de


origem: equilíbrio entre pertencimento e separação

- Ambos passaram com sucesso estágios evolutivos e foram


capazes de assumir novas responsabilidades, como cônjuges e
pais.
- Possuem rede social satisfatória, amigos em comum e
individuais
- Relacionamentos saudáveis com irmãos, sem
triangulações negativas.

CASA DE TRÊS ANDARES


Casal em conflito

-Muito encontrado em terapia : tensão e sofrimento trazem


os cônjuges para tratamento;

-Contrastes e discordâncias em muitos níveis;

-Aparecem questões não resolvidas com as respectivas


famílias de origem;

- Configuração: um dos cônjuges nunca se separou da


família de origem, mas sofreu um corte emocional precoce,
evitando qualquer vínculo familiar e alimentando raiva
sobre questões pendentes com pais e irmãos.
- O outro cônjuge, não conseguiu se separar/emancipar da
sua família, com quem ainda possui forte relação de
dependência emocional. Há nestes casos uma espécie de
“adoção do casal” pela família do parceiro indiferenciado.

- Nenhum dos dois foi capaz de nutrir e proteger a unidade


conjugal da intrusão da família de origem. Um muito
emaranhado e outro muito distante.

- O parceiro que teve privação emocional na sua família de


origem pode inconscientemente desejar uma relação de
dependência da família do outro para compensar a falta de
cuidado em sua FO.
CASA DE TRÊS ANDARES
Casal Instável

- Composto por duas pessoas muito inseguras e solitárias


que experimentaram uma condição de negligência e
desapego em suas famílias de origem.

- A atração entre os parceiros se dá centrada na privação


afetiva de ambos.

- Cada um “pede” ao outro para ser o pai/mãe que ele/ela


nunca teve, criando uma grande confusão sobre
expectativas e demandas do casal.
- Leva a dificuldades de intimidade entre o casal, mas um
pedido constante e urgente de presença e aproximação
emocional que limita a liberdade de ambos, não toleram
a distância.

- Falta de segurança e instabilidade são as características


principais do casal.

- Ambos se comportam como “órfãos”, mesmo com pais


vivos, mas não disponíveis.

- Casal desloca para o “andar dos filhos”: uma criança que


vem ao mundo para preencher um vazio e privada de
cuidados.
CASA DOS TRÊS ANDARES
Casal Sanduíche: “esmagado entre duas gerações”

- Casal que cuida dos seus pais idosos

- Casal que ainda tem filhos em casa (Ninho cheio)

- Muitas pessoas “alojadas no quarto do casal”: onde fica o


momento a dois?

- Podem se deprimir pelos vários papéis desempenhados;


falta de qualidade conjugal.
CASA DE TRÊS ANDARES

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