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libro: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-
americanas. Edgardo Lander (org). Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autónoma
de Buenos Aires, Argentina. setembro 2005. p.227-278
BREVE SUMÁRIO
RESUMO BÁSICO:
1. Globalização atual está em curso desde a constituição da América
2. O capitalismo em seus primórdios apresenta características básicas, ele é: é
colonial/moderno eurocentrado
3. A modernidade se iniciou a partir da constituição da América como nova id-
entidade
4. O capitalismo colonial/moderno e eurocentrado é um padrão de poder que
tomou dimensões mundiais
5. Este padrão de poder tem em um de seus eixos principais à classificação
social da população a partir da ideia de raça
6. A ideia de raça é uma construção mental a partir deste novo padrão de poder
mundial
7. O que requer dizer que este poder tem uma racionalidade específica que
opera a partir da ideia de raça
8. E esta racionalidade é o eurocentrismo
9. Que por sua vez tem origem e caráter colonial (1492)
10. Contudo a racionalidade colonial permanece mesmo o pós-colonial
(geograficamente), pois, a colonialidade é um padrão de poder hegemônico
que continua operando com a ideia de raça
11. O texto trata da especificidade desta racionalidade, da colonialidade do
poder, na América Latina.
Quijano ele vem destrinchandos os conceitos que ele usa e explicando o percurso
histórico da formação da América e da Europa Ocidental como novas id-entidades
1
[...] É muito interessante que apesar de que os que haveriam de ser europeus no futuro, conheciam
os futuros africanos desde a época do império romano, inclusive os ibéricos, que eram mais ou
menos familiares com eles muito antes da Conquista, nunca se pensou neles em termos raciais antes
da aparição da América. De fato, raça é uma categoria aplicada pela primeira vez aos “índios”, não
aos “negros”. Deste modo, raça apareceu muito antes que cor na história da classificação social da
população mundial. [Os europeus já tinham tido contato com os africano, Egito ne, mas sua raça/cor
não era relevante...
9. Instrumento de dominação social universal racial correlacionado ao de
gênero (mais antigo/anterior)
1. Temos que entender que a Europa não prosperou por uma razão divina ou
porque biologicamente são mais avançados, e sim porque a invasão e
dominação da América deu um lugar privilegiado na concorrência mundial aos
países invasores;
1.1. Pela exploração dos metais preciosos, especiarias e trabalho forçado e
gratuito de indígenas, negros e mestiços;
1.2. O tráfico comercial impulsionou um novo processo de urbanização;
2. Na distribuição geográfica, a Europa se constituiu como centro, ao concentrar
a relação social de controle do trabalho assalariado, em que as demais
formas histórica de controle do trabalho, de recursos e produtos se
articulavam em volta dessa.
3. Isso fez com que a Europa Ocidental fosse a nova sede central do controle do
mercado mundial.
4. Ou seja, Enquanto a Europa Ocidental subdesenvolvia outros países,
desenvolvia-se internamente, com novas relações sociais e de controle do
trabalho: cerne do trabalho assalariado;
5. Seria um anacronismo manter o controle do trabalho com formas “arcaicas”
(escravidão) enquanto impulsionava novas formas (salário)? Não, combinou
diferente formas num mesmo epaço/tempo, que mesmo com raízes em
momento histórico anteriores, combinavam-se com características adaptadas
a este novo movimento histórico a um objetivo central: a produção para o
mercado mundial...
5.1. dessa forma, os indígenas foram submetidos ao trabalho forçado –
mão de obra descartável – submetidos até sua morte;
5.2. em outro momento a partir da dominação ibérica (união Espanha e
Portugal – final do século XVI) os indígenas passaram a ser tratados como
servos; Frisando que não é uma relação que lembra o feudalismo, pois
não havia proteção etc
5.3. MINHA OPINIÃO A PARTIR DE MOURA: essa mudança ocorreu,
tendo como principal mão-de-obra os africanos, pela vantagem comercial
do tráfico de escravos, que inclusive, fomentou o desenvolvimento
econômico da europa.
5.4. MOURA – REBELIÕES DA SENZALA: “Mas, somado a essa
necessidade, para se compreender a sua substituição do indígena pelo
negro na escravidão brasileira não podemos deixar de analisar um dos
aspectos mais importantes, se não o fundamental: a transformação do
tráfico de simples atividade de pirataria em atividade mercantil, como o
emprego de grandes somas de dinheiro na aquisição de veleiros,
equipagens, portos e contratação de material humano para o comércio de
carne humana. […] O tráfico de escravos, como Sombart já demosntrou,
contribuiu enormemente para a acumulação capitalista”. (-//- 78)
6. Referência a atualidade: me lembra o pensamento abissal do Boaventura:
mesmo a colonização europeia tenha cessado no continente americano com
a “libertação” das colônias, a racionalidade colonial (colonialidade do poder,
saber e ser) ainda está presente no aparelho ideológico estatal, institucional e
social... é a classificação racial que explica enquanto teoria as reproduções
sociais que assimila pessoas não-brancas em papeis subalternos, o que
explica, por exemplo, o trabalho escravo contemporâneo
7. Explica Quijano: A divisão racial do trabalho, em que pessoas negras são
submetidas a menores salários, ou estão em menos número em profissões
“privilegiadas”, em espaços “não poderia ser, tampouco, explicado sem
recorrer-se à classificação social racista da população do mundo. Em outras
palavras, separadamente da colonialidade do poder capitalista mundial”.
(RESUMO DA TRANSVERSALIDADE DE RAÇA E TRABALHO NO
CAPITALISMO]
QUEBRA
Em dado momento, Quijano expressa que “A questão central que nos interessa
aqui é a seguinte: o que é o realmente novo com relação à modernidade? Não
somente o que desenvolve e redefine experiências, tendências e processos de
outros mundos, mas o que foi produzido na história própria do atual padrão de
poder mundial? 8
1. Não havia interesse comum entre a minoria branca [que estava no controle],
os índios, negros e mestiços. Consequentemente, não havia interesse
nacional comum a todos eles
2. Interesses antagônicos, já que, os privilégios dos brancos estava no
domínio/exploração dessa parte da população
3. Os interesses sociais dos brancos estavam mais próximos dos europeus, por
isso eram dependentes dos interesses da burguesia europeia. “os senhores
latino-americanos não podiam acumular seus muitos benefícios comerciais
comprando força de trabalho assalariado [ou seja, expandindo seu mercado],
precisamente porque isso ia contra a reprodução de sua condição de
senhores. E destinavam esses benefícios comerciais ao consumo ostentoso
das mercadorias produzidas, sobretudo, na Europa [o lucro era voltado para o
“investimento” da Europa, já que o foco estava em importar produtos de lá, e
não de expandir ou produzir]. 18
4. A colonialidade do poder era o que tinha em comum entre os brancos das
classes dominantes
5. Contudo, havia um limite, essa mesma colonialidade do poder impedia-os de
desenvolver os mesmos interesse sociais dos seus pares europeus, porque
isso implicaria em expandir o capital, que precisamente deve-se ter como
principal relação de trabalho o assalariado, já que é baseado num sistema de
exploração e troca, mas isso requereria a libertação das massas escravas e
servis e por isso não investiam no capital interno;
6. Processo de independência dos Estados na América Latina não foi em
direção ao desenvolvimento dos Estados-nação modernos, como alcunhada
pelo eurocentrismo:
a. Ocorreu com a rearticulação da colonialidade do poder sobre novas
bases institucionais [Gramsci, revolução passiva/pelo alto/
rearticulação de interesses da classe dominante, sufocamento dos
interesses das classes populares – processos violentos / em Carlos
Nelson Coutinho: a “revolução passiva” consiste numa sequência de
manobras “pelo alto”, de conciliações entre diferentes segmentos das
elites dominantes, com a consequente exclusão da participação
popular. Decerto, a “revolução passiva” opera mudanças necessárias
ao “progresso”, mas o fz no quadro da conservação de importantes
elementos sociais, políticos e econômicos da velha ordem... 210], já
que
b. Segundo a ideia de formação de um estado-nação com base na
perspectiva eurocêntrica que propunha a formação de uma id-entidade
com interesses em comum, uma participação mais ou menos
democrática na distribuição do controle do poder, o que reque uma
relativa homogeneização;
c. Nos países da américa latina formar este estado-nação colocaria em
risco seus próprios privilégios, são uma minoria branca que exercem o
domínio exploração racial da maior parte da população, logo os
interesses dessa massa era antagônicos aos da elite
d. A democratização é impossível nestes países de maioria negra,
indígena e mestiça, mais ainda se levado em conta as teorias raciais
que os propusera como estado de natureza anterior ao branco, logo, o
processo de descolonização das relações sociais, políticas e culturais
entre as raças coloca em risco o próprio eurocentrismo.
7. “Não obstante, a estrutura de poder foi e ainda segue estando organizada
sobre e ao redor do eixo colonial. A construção da nação e sobretudo do
Estado-nação foram conceitualizadas e trabalhadas contra a maioria da
população, neste caso representada pelos índios, negros e mestiços. A
colonialidade do poder ainda exerce seu domínio, na maior parte da América
Latina, contra a democracia, a cidadania, a nação e o Estado-nação
moderno”. 19 [não so na América Latina, mas acredito que em todos os
países majoritariamente formado por negros, mestiços, índios, amarelos,
dentre outros, a colonialidade do poder ainda exerce seu domínio de forma
mais ou menos latente, tendo em vista, que a colonialidade é o domínio de
uma raça sobre a outra, é o privilégio branco, logo, isso explica porque nem
todos podem experimentar os conceitos de liberdade, fraternidade e
igualdade, pois isso colocaria em risco o próprio sistema de poder, o próprio
capitalismo que em sua base se estrutura através da ideologia racista].
Atualmente podem-se distinguir quatro trajetórias históricas e linhas ideológicas
acerca do problema do Estado-nação: [...] 19
1. Na América, como em escala mundial desde 500 anos atrás, o capital existe
como eixo dominante;
2. Eixo que articula de forma conjunta todas as formas historicamente
conhecidas de controle e exploração do trabalho
3. Configurando assim um único padrão de poder
[capitalista/eurocêntrico/moderno/colonial...], histórico-estruturalmente
heterogêneo [com diferentes características], com relações descontínuas [não
é sequencial] e conflitivas entre seus componentes;
4. Não há sequência evolucionista entre os modos de produção, não há
feudalismo anterior, separado do capital e a ele antagônico, nenhum senhorio
feudal no controle do Estado [ao contrário, o controle estava na mão dos
representantes da Coroa – dos Estado-nação europeus], ao qual a burguesia
sedenta de poder tivesse que desalojar por meios revolucionários
5. A democratização dos países da América Latina deve ocorrer com uma
descolonização e com uma redistribuição radical do poder;
6. As classes sociais têm cor!
7. Logo, a classificação racial das pessoas se realiza em todos os âmbitos da
sociedade
8. A dominação é requisito da exploração, e a raça é o mais eficaz instrumento
de dominação que, associado à exploração, serve como o classificador
universal no atual padrão mundial de poder capitalista
9. Assim, “nos termos da questão nacional, só através desse processo de
democratização da sociedade pode ser possível e finalmente exitosa a
construção de um Estado-nação moderno, com todas as suas implicações,
incluindo a cidadania e a representação política”. 21
10. Revoluções socialistas, como controle do Estado e estatização do controle de
tudo [...] duas suposições teóricas falsas:
a. A ideia de uma sociedade capitalista homogênea , no sentido de que
só o capital como relação social existe e portanto a classe operária
industrial assalariada é a parte majoritária da população; [há outras
formas relações de controle de produção]. Quijano argumenta que não
foi assim nunca
b. A ideia de que o socialismo consiste na estatização de todos e cada
um dos âmbitos do poder e da existência social, começando com o
controle do trabalho, porque do Estado se pode construir a nova
sociedade. Quijano argumenta que, essa suposição coloca toda a
história, de novo, sobre sua cabeça. Inclusive nos toscos termos do
Materialismo Histórico, faz da superestrutura, o Estado, a base da
sociedade.
c. Requer, uma reconcentração do controle do poder, o que leva
necessariamente ao total despotismo dos controladores.