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Quijano, Anibal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina.

En
libro: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-
americanas. Edgardo Lander (org). Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autónoma
de Buenos Aires, Argentina. setembro 2005. p.227-278

LER: A INTERPRETAÇÃO DAS CULTURAS – TEXTO 24

BREVE SUMÁRIO

1. A América e o novo padrão de poder mundial


1.1. Raça, uma categoria mental da modernidade
1.2. O Capitalismo: a nova estrutura de controle do trabalho
1.3. Colonialidade do poder e capitalismo mundial
1.4. Colonialidade e eurocentramento do capitalismo mundial
1.5. Novo padrão de poder mundial e nova inter-subjetividade mundial
1.6. A questão da modernidade
2. Colonialidade do poder e eurocentrismo
2.1. Capital e capitalismo
2.2. Evolucionismo e dualismo
2.3. Homogeneidade/continuidade e heterogeneidade/descontinuidade
2.4. O novo dualismo
3. Eurocentrismo e experiência histórica na América Latina
3.1. O eurocentrismo e a “questão nacional”: o Estado-nação
3.2. O Estado-nação na América: os Estados Unidos
3.3. América Latina: Cone Sul e maioria branca
3.4. Maioria indígena, negra e mestiça: o impossível “moderno Estado-
nação”
3.5. Estado independente e sociedade colonial: dependência histórico-
estrutural
3.6. Eurocentrismo e revolução na América Latina

RESUMO BÁSICO:
1. Globalização atual está em curso desde a constituição da América
2. O capitalismo em seus primórdios apresenta características básicas, ele é: é
colonial/moderno eurocentrado
3. A modernidade se iniciou a partir da constituição da América como nova id-
entidade
4. O capitalismo colonial/moderno e eurocentrado é um padrão de poder que
tomou dimensões mundiais
5. Este padrão de poder tem em um de seus eixos principais à classificação
social da população a partir da ideia de raça
6. A ideia de raça é uma construção mental a partir deste novo padrão de poder
mundial
7. O que requer dizer que este poder tem uma racionalidade específica que
opera a partir da ideia de raça
8. E esta racionalidade é o eurocentrismo
9. Que por sua vez tem origem e caráter colonial (1492)
10. Contudo a racionalidade colonial permanece mesmo o pós-colonial
(geograficamente), pois, a colonialidade é um padrão de poder hegemônico
que continua operando com a ideia de raça
11. O texto trata da especificidade desta racionalidade, da colonialidade do
poder, na América Latina.

I. A América e o novo padrão de poder mundial

1. Da América para o mundo: o primeiro modelo de padrão de poder que se


torna mundial, ideias que acontecem em diferentes espaços/tempo
simultaneamente; [em outro momento Quijano diz que o Europeu
Ocidental pode não ter sido o primeiro a se pensar como o “melhor” de
todas as civilizações, contudo, o que tem de novo nisso, é que foi o
primeiro a tornar esta ideia um empreendimento mundial, ou seja, a
convencer diferentes populações disso]
2. A América como a primeira id-entidade da modernidade, é o ponto 0 da
modernidade [não foi a Europa]
3. Dois processos históricos associados são basilares nesse novo padrão de
poder mundial: ideia de raça; a articulação de todas as formas históricas
de controle do trabalho, de seus recursos e de seus produtos, em torno do
capital e do mercado mundial.
4. A ideia de raça se baseava na invenção de uma suposta distinção
biológica entre diferentes populações, essa classificação social também se
baseava em uma situação natural de inferioridade. Conquistadores X
Conquistados = Civilização X Barbárie
5. Classificação que se iniciou na América a partir da invasão do continente
pelos europeus, momento que se deu a partir do encontro com os nativos
desta terra, e mais tarde, para o mundo todo, em específico, os africanos,
ou seja, a primeira classificação racial operando como instrumento de
dominação foi aplicada aos indígenas. A invenção do negro, a
desconstrução de identidades e a reinvenção de personagens que
carregavam em sua estrutura biológica genes inferiores, bárbaros,
características animalescas. O Mito de Cam foi o primeiro argumento que
o eurocentrismo utilizou para o novo padrão de dominação. A religião
europeia foi fundamental para a manutenção deste poder... [Moura, em
rebeliões da senzala diz que a escravidão no Brasil ocorreu pela
confluência de dois fatores: continução do desenvolvimento interno da
sociedade colonial (ela já operava a partir da classificação racial); foi
consequencia dos interesses das nações colonizadas em fase de
expansão comercial e mercantil]

Quijano ele vem destrinchandos os conceitos que ele usa e explicando o percurso
histórico da formação da América e da Europa Ocidental como novas id-entidades

I.I. Raça, uma categoria mental da modernidade

1. A idéia de raça, em seu sentido moderno, não tem história conhecida


antes da América. Ou seja, Historicamente, a ideia de uma sociedade
estruturada a partir de identidades raciais se estabeleceu a partir da
América;
2. Relações sociais fundadas/formadas/construídas a partir da ideia de
raça;
3. América – identidades novas: índios, negros e mestiços.
4. Posteriormente e simultaneamente formaram-se identidades
geográficas: espanhóis e europeus. Em conseqüência, os dominantes
chamaram a si mesmos de brancos1.
5. Classificação social universal em que a raça converteu-se no primeiro
critério fundamental para a distribuição da população mundial nos
níveis, lugares e papéis na estrutura de poder da nova sociedade.
6. a partir da conquista da América, em que se iniciou a constituição da
Europa como uma nova id-entidade (europeus x não-europeus), a ideia
de raça serviu para legitimar a conquista, passou a ser definida
enquanto teoria e aplicada ao resto do mundo
7. As teorias serviram para legitimar as antigas práticas de relações de
superioridade/inferioridade entre dominados e dominantes;
8. As teorias raciais desde então vem se mostrado ser a mais eficaz e
durável instrumento de dominação social universal

1
[...] É muito interessante que apesar de que os que haveriam de ser europeus no futuro, conheciam
os futuros africanos desde a época do império romano, inclusive os ibéricos, que eram mais ou
menos familiares com eles muito antes da Conquista, nunca se pensou neles em termos raciais antes
da aparição da América. De fato, raça é uma categoria aplicada pela primeira vez aos “índios”, não
aos “negros”. Deste modo, raça apareceu muito antes que cor na história da classificação social da
população mundial. [Os europeus já tinham tido contato com os africano, Egito ne, mas sua raça/cor
não era relevante...
9. Instrumento de dominação social universal racial correlacionado ao de
gênero (mais antigo/anterior)

I.II. O Capitalismo: a nova estrutura de controle de trabalho

1. Na Colônia nós temos as diferentes formas de controle e de exploração do


trabalho e da produção, que seriam a escravidão, servidão, pequena
produção mercantil, reciprocidade e salário, todas essas formas acontecendo
de forma articuladas. Porém, todas eram históricas e sociologicamente novas.
Um novo padrão global de controle do trabalho. Pq?
1.1. Pq: Estabelecidas para um mesmo fim: organizadas para produzir
mercadorias para o mercado mundial;
1.2. Pq: ocorrem de forma articulada com o capital e com seu mercado, no
mesmo espaço/tempo.
1.3. Pq: para atender ao mercado mundial, cada uma delas desenvolveu
novos traços e novas configurações histórico-estruturais.

I.III. Colonialidade do poder e capitalismo mundial

Afirmativa importante: [...] raça e divisão do trabalho, foram estruturalmente


associados e reforçando-se mutuamente, apesar de que nenhum dos dois era
necessariamente dependente do outro para existir ou para transformar-se. 2

1. Sistemática divisão racial do trabalho- América espanhola:


1.1. Índios: servidão; prática da reciprocidade. Algum da nobreza indígena
tinham tratamento especial para serem mediadores das relações
1.2. Negros: reduzidos a escravidão
1.3. Espanhóis e portugueses: salários, comerciantes, artesãos,
agricultores;
1.4. Nobres: ocupar médios e altos postos da administração colonial, civil
ou militar.
2. Tecnologia de dominação/exploração articulando-se raça/trabalho = fomentou
papeis naturalmente associados, em que o privilegio de receber salários
pertencia aos brancos

I.IV. Capitalismo e eurocentramento do capitalismo mundial

1. Temos que entender que a Europa não prosperou por uma razão divina ou
porque biologicamente são mais avançados, e sim porque a invasão e
dominação da América deu um lugar privilegiado na concorrência mundial aos
países invasores;
1.1. Pela exploração dos metais preciosos, especiarias e trabalho forçado e
gratuito de indígenas, negros e mestiços;
1.2. O tráfico comercial impulsionou um novo processo de urbanização;
2. Na distribuição geográfica, a Europa se constituiu como centro, ao concentrar
a relação social de controle do trabalho assalariado, em que as demais
formas histórica de controle do trabalho, de recursos e produtos se
articulavam em volta dessa.
3. Isso fez com que a Europa Ocidental fosse a nova sede central do controle do
mercado mundial.
4. Ou seja, Enquanto a Europa Ocidental subdesenvolvia outros países,
desenvolvia-se internamente, com novas relações sociais e de controle do
trabalho: cerne do trabalho assalariado;
5. Seria um anacronismo manter o controle do trabalho com formas “arcaicas”
(escravidão) enquanto impulsionava novas formas (salário)? Não, combinou
diferente formas num mesmo epaço/tempo, que mesmo com raízes em
momento histórico anteriores, combinavam-se com características adaptadas
a este novo movimento histórico a um objetivo central: a produção para o
mercado mundial...
5.1. dessa forma, os indígenas foram submetidos ao trabalho forçado –
mão de obra descartável – submetidos até sua morte;
5.2. em outro momento a partir da dominação ibérica (união Espanha e
Portugal – final do século XVI) os indígenas passaram a ser tratados como
servos; Frisando que não é uma relação que lembra o feudalismo, pois
não havia proteção etc
5.3. MINHA OPINIÃO A PARTIR DE MOURA: essa mudança ocorreu,
tendo como principal mão-de-obra os africanos, pela vantagem comercial
do tráfico de escravos, que inclusive, fomentou o desenvolvimento
econômico da europa.
5.4. MOURA – REBELIÕES DA SENZALA: “Mas, somado a essa
necessidade, para se compreender a sua substituição do indígena pelo
negro na escravidão brasileira não podemos deixar de analisar um dos
aspectos mais importantes, se não o fundamental: a transformação do
tráfico de simples atividade de pirataria em atividade mercantil, como o
emprego de grandes somas de dinheiro na aquisição de veleiros,
equipagens, portos e contratação de material humano para o comércio de
carne humana. […] O tráfico de escravos, como Sombart já demosntrou,
contribuiu enormemente para a acumulação capitalista”. (-//- 78)
6. Referência a atualidade: me lembra o pensamento abissal do Boaventura:
mesmo a colonização europeia tenha cessado no continente americano com
a “libertação” das colônias, a racionalidade colonial (colonialidade do poder,
saber e ser) ainda está presente no aparelho ideológico estatal, institucional e
social... é a classificação racial que explica enquanto teoria as reproduções
sociais que assimila pessoas não-brancas em papeis subalternos, o que
explica, por exemplo, o trabalho escravo contemporâneo
7. Explica Quijano: A divisão racial do trabalho, em que pessoas negras são
submetidas a menores salários, ou estão em menos número em profissões
“privilegiadas”, em espaços “não poderia ser, tampouco, explicado sem
recorrer-se à classificação social racista da população do mundo. Em outras
palavras, separadamente da colonialidade do poder capitalista mundial”.
(RESUMO DA TRANSVERSALIDADE DE RAÇA E TRABALHO NO
CAPITALISMO]

ATÉ AQUI É A FORMAÇÃO INICIAL DA EUROPA COMO CENTRO –


CONSTRUÇÃO DA ID-ENTIDADE BRANCA/EUROPEIA

I.V. NOVO PADRÃO DE PODER MUNDIAL E NOVA INTER-SUBJETIVIDADE


MUNDIAL

1. Primeiro processo de re-identidade geocultural: América e Europa


2. Com a solidificação desse padrão de poder teve o avanço para as demais
partes do mundo: África, Ásia e Oceania;
3. Categoria Oriente criada em referencial ao Ocidente. Mesmo com
categorização inferior estes países ainda eram um lugar, tinham uma
definição, era o Outro em antagonismo mas como nome a ser “respeitado”
4. A categoria Oriente pôde-se ser formada pela preservação de sua cultura,
manutenção de suas subjetividades, a repressão na Ásia foi menor. Por que?
5.1. Pois, Argumentam a patente exclusiva da ideia de modernidade
através da história cultural do antigo mundo heleno-românico e ao mundo
do Mediterrâneo antes da América [exatamente os lugares que
preservaram os mitos fundacionais a partir da Grécia e Roma, sem eles
não seria possível formular toda essa falácia]

QUEBRA

5. Uma falácia a partir da colonização, uma Operação mental – formação de


intersubjetividades
6. Colonização pressupõe às perspectivas cognitivas, dos modos de produzir ou
dar sentido na vida material e subjetiva – processo de sociabilidade, de
relações sociais – processo de racionalidade que dá sentido a novas formas
de sociabilidade – a base do poder vem da dominação ideológica
7. A classificação depois da América serviu para fundamentar e justificar o
etnocentrismo;
8. A partir da classificação racial e o etnocentrismo colonial fundamentavam a
ideia dos europeus de sentir-se naturalmente superiores;
9. Essa operação mental se deu por uma nova perspectiva temporal da história:
2023 Depois de cristo – re-situaram os colonizados a partir de suas
perspectivas próprias – a história única;
10. Raça é a própria categoria básica desse binarismo/dualismo
11. há dois elementos nucleares do eurocentrismo:
a. Ideia-imagem da história da civilização humana como uma trajetória
que parte de um estado de natureza e culmina na Europa; uma historia
com direção única e linear. então, pressupõe-se que a racionalidade e
a modernidade só podem ser produtos desta sociedade, sendo ela a
mais avançada
b. E isso é o que deu sentido às diferenças entre Europa e não-Europa
(categorização que desqualifica) como diferenças biológica (ou seja,
raciais) e não de história do poder (ou seja, uma história social, vivida e
formada por homens, não por enunciação divina). Se a Europa é o que
há de mais avançado, os demais são diametralmente opostos, em
categorias binárias: Oriente x Ocidente; primitivo x civilizado; mágico x
mítico-científico (Grécia...); irracional x racional; tradicional x moderno;
Europa x não-Europa.

I.VI. A questão da modernidade

Em dado momento, Quijano expressa que “A questão central que nos interessa
aqui é a seguinte: o que é o realmente novo com relação à modernidade? Não
somente o que desenvolve e redefine experiências, tendências e processos de
outros mundos, mas o que foi produzido na história própria do atual padrão de
poder mundial? 8

1. A partir daqueles mitos fundacionais, os europeus forjaram uma história em


que toda a história da humanidade culminava na Europa – a história se
completava ali – logo, entendiam que eram os mais avançados de toda a
humanidade, assim, eram os atuais, os modernos;
2. Se a europa era a atual, os demais inferiores, eram anteriores à eles,
atrasados historicamente;
3. Nessa dualidade, os europeus imaginaram [eu gosto das terminologias que
Quijano usa – imaginaram] serem os criadores e protagonistas da
modernidade;
4. Quijano diz que se imaginar assim não é um privilégios dos europeus, mas “o
fato de que foram capazes de difundir e de estabelecer essa perspectiva
histórica como hegemônica dentro do novo universo intersubjetivo do padrão
mundial do poder”, ou seja, conseguiu difundir essa ideia em escala mundial e
estabelecer padrões a partir desta ideologia.
5. Essa ideologia passou a ser contestada principalmente após a II Guerra
Mundial - eurocentrismo contestado pela teoria da modernização
6. Teoria da modernização: contraria um padrão de desenvolvimento, ela diz
que a modernidade é um fenômeno de todas as culturas, e ela não se limita a
espelhar-se na cultura europeia, há outros caminhos para se trilhar...
7. Modernidade – termo/conceito dúbio:
a. Stricto sensu: novas ideias
b. Bernadino-Costa e Grosfoguel: a partir da análise decolonial “sistema-
mundo capitalista/patriarcal/cristão/moderno/colonial europeu” que se
localiza em 1492 – mudanças significativas no padrão de poder
mundial – colonialismo, formação e expansão capitalista,
geolocalização –
c. Crítica da decolonialidade ou teoria da modernização, dentre outras: a
modernidade pertence a toda sociedade, não há uma única maneira de
se desenvolver os diferentes espaços sociais, como economia, cultura,
produção de mercadorias etc.
d. “[...] a modernidade não foi um projeto gestado no interior da Europa a
partir da Reforma, da Ilustração e da Revolução Industrial [...] o
colonialismo foi a condição sine qua non de formação não apenas da
Europa, mas da própria modernidade [a que eles entendem como
modernidade – o divisor é fazer de uma ideia tomar proporções
globais]. Bernadino-Costa e Grosfoguel.
8. Características do que entendem por modernidade: ideias novas, avanço,
racional-científico, laico, secularização do pensamento [abandono da ideia
baseada na religião] – logo, é fenômeno possível de qualquer sociedade.
Egito, por exemplo.
9. Quijano contra-argumenta que muito provavelmente esta ideia de
modernidade defendida pela Europa Ocidental é uma falácia, não só pela
história única ou por todas as outras culturas que foram abafadas pelo
eurocentrismo, mas também pelo escamoteamento (esconder) alguns fatos
10. Pois, Argumentam a patente exclusiva da ideia de modernidade através da
história cultural do antigo mundo heleno-românico e ao mundo do
Mediterrâneo antes da América
11.1. Antigo mundo heleno-românico: após a morte de Alexandre (323
a.C.), o Grande, o império foi dividido entre seus generais, formando
três grandes reinos: Ptolomeu (Egito, Fenícia e Palestina); Cassandro
(Macedônia e a Grécia); Seleuco (Pérsia, Mesopotâmia, Síria e Ásia
Menor)
11.2. Mediterrâneo: Espanha, França, Grécia, Itália, Turquia... ; na
Ásia: Síria, Líbano, Israel e Palestina; na África: Egito, Líbia, Tunísia,
Argélia e Marrocos...
12. O que escondem para legitimar seus argumentos:
12.1. Parte realmente avançada do mediterrâneo, antes da América,
era islâmico-judaica, ou seja, ficava geograficamente no Oriente
Médio (Península Arábica)
1.1.2. Foi nesse mundo (Oriente Médio) que se manteve a herança
cultural greco-romana, as cidades, o comércio, a agricultura
comercial, a mineração, os têxteis, a filosofia, a história...
12.2. Pois a futura Europa Ocidental estava dominada pelo feudalismo
(arcaico) e seu obscurantismo cultural [quem ditava as regras era a
Igreja Católica, que por sua vez, considerava heresia qualquer
cultura/história que não fosse voltado ao cristianismo, desprezava o
pensamento racional. Logo, se pudessem “queimavam” a história
greco-romana;
12.3. Muito provavelmente, a mercantilização da força de trabalho, a
relação capital-salário, emergiu, precisamente, nessa área
(Mediterrâneo) e foi em seu desenvolvimento que se expandiu
posteriormente em direção ao norte da futura Europa Ocidental
12.4. Somente a partir da derrota do Islão e do posterior deslocamento
da hegemonia sobre o mercado mundial para o centro-norte da futura
Europa, graças à América, começava também a deslocar-se ao centro
da atividade cultural a essa nova região, ou seja, antes o centro era o
Oriente ... esse deslocamento sucede uma nova geografia do poder –
em volta do comércio
13. Dussel desenvolve a teoria da transmodernidade para rechaçar a pretensão
eurocêntrica de que a Europa é a produtora original da modernidade
13.1. Esclarece que o desenvolvimento unilinear [Grécia-Roma-
Europa] é resultado de um invento ideológico, ou seja, uma
manipulação conceitual eurocêntrica

14. A pretensão eurocêntrica de ser exclusiva produtora e protagonista da


modernidade, que toda sociedade em desenvolvimento deveria culminar na
Europa como ponto central, ultimo estágio evolutivo é uma ideia etnocentrista
(ato de julgar a cultura do outro baseado na sua própria crença, moral, leis,
costumes e hábitos – se colocar como central);
15. De fato, o atual padrão de poder mundial [capitalismo] é o primeiro
efetivamente global da história conhecida:
15.1. Os âmbitos da existência social estão articuladas as formas
historicamente conhecidas de controle das relações sociais – em que
a estrutura configura relações sistemáticas entre seus componentes e
o conjunto do todo;
15.2. Cada uma dessas estruturas de cada âmbito da existência
social, está sob a hegemonia de uma instituição produzida dentro do
processo de formação e desenvolvimento deste mesmo padrão de
poder;
15.2.1. Assim, no controle do trabalho, de seus recursos e de
seus produtos: capitalismo; no controle do sexo, de seus
recursos e produtos: família burguesa; no controle da
autoridade, seus recursos e produtos: Estado-nação; no
controle da intersubjetividade: eurocentrismo
15.3. Cada uma dessas instituições existe em relações de
interdependência com cada uma das outras. Por isso o padrão de
poder está configurado como uma sistema
15.4. Este padrão de poder mundial é o primeiro que a cobre a
totalidade da população do planeta.
16. A modernidade da europa ocidental constitui o primeiro sistema-mundo
global – é o novo
17. Este sistema-mundo global [capitalista] tem em comum três elementos
centrais: a colonialidade do poder [classificação racial – povos inferiores que
devem ser dominados, posição natural de um povo sob outro], o capitalismo
[expansão comercial; formas históricas de trabalho e apropriação de produtos
em volta de um mesmo objetivo: lucro e exportação] e o eurocentrismo [a
posição central do europeu, em que ele é o mais
moderno/avançado/civilizado, toda sociedade deve culminar na Europa].
Formação do sistema-mundo moderno europeu é formado por essas três
características básicas.
18. Mas essa homogeinidade implica um piso básico de práticas sociais comuns
para todo mundo [capitalismo – produção], e uma intersubjetiva [colonialidade
e eurocentrismo] que existe e atua como esfera central de orientação
valorativa do conjunto.
19. Com isso, operam Instituições hegemônicas que servem de modelos
intersubjetivos [interação de subjetividades]: Estado-nação [autoridade];
família burguesa [sexo; gênero]; empresa [controle do trabalho]; racionalidade
eurocêntrica [intersubjetividade/subjetividades, como Igreja/Escola...)
20. A marca da modernidade eurocêntrica é a constituição do ego individual?
NÃO ENTENDI

21. Há uma relação entre os processos históricos a partir da América e as


mudanças da intersubjetividade;
22. E essas transformações levam à constituição de uma nova subjetividade
coletiva – nova intersubjetividade; - fenômeno novo
23. Mudança histórica que afeta o mundo todo: a Américas e suas consequencias
no mercado mundial;
24. A partir disso houve de fato uma mudança no mundo;
25. E saber que essa mudança histórica não é simplesmente formada por
decisões divinas, a história é percebida como produto dos homens, algo a ser
produzido por mãos humans, e portanto algo que pode ser projetado.

26. A colonialidade está vinculada a concentração na Europa do capital (Europa


Ocidental) [onde se desenvolveu] o modo de produção/reprodução do
mercado capital, assalariados, enfim, da sociedade e da cultura
27. Em volta estava também, o capital intelectual, não por coincidência, para dar
conta desta amplitude ideológica de dominação foi necessário uma
elaboração intelectual que justificasse a colonialidade do poder, uma
elaboração eurocêntrica da modernidade [uma invenção que justifique o pq
deles serem os modernos]
28. Liberalismo – “liberdade” dentro do capital; desvinculação da sujeição de
outras instituições, pois é o mercado que confere essa liberdade
29. Ideia de liberdade é explorada pelo capital como individualismo
30. Europa Ocidental X o resto do mundo (América Latina):
30.1. Europa Ocidental: concentração da relação capital-salário; eixo
principal das tendências das relações de classificação social [da onde
vem as ideias que fortalecem a relação de dominação]; eixo principal
da nova estrutura de poder; conflito com antigas instituições de poder:
papado, Império (ideia de liberdade); os explorados se alinham a
burguesia nesses conflitos (melhores condições de negociar seu lugar
no poder e venda da força de trabalho) – condições históricas
favoráveis. LIBERALISMO (liberdade individual, direitos iguais para
lutar por sua posição no mercado que deve ser livre). Ideias
desenvolvidas na europa, mas que so vale para a europa;
30.2. América Latina: formas de controle do trabalho são não salariais,
mesmo voltada para o capital mundial – relações de exploração e de
dominação têm caráter colonial
31. Ou seja: o colonialismo foi fundamental para o processo de modernidade –
desenvolvimento – da europa ocidental, as colônias – formas de exploração e
dominação; o racismo - foram o cimento que alicerçou esta modernidade –
subdesenvolveram outros países a partir da espoliação de saberes e
mercadorias, saquearam, sequestraram os povos e as suas culturas, se
apropriaram, destruíram identidades, forjaram novas e falaciosamente
impuseram sua verdade sobre civilização.

II. Colonialidade do poder e eurocentrismo

1. Elaboração intelectual do processo de modernidade produziu uma


perspectiva de conhecimento e um modo de produzir conhecimento que
alicerça o padrão mundial de poder: colonial/moderno, capitalista e
eurocentrado;
2. Definição de eurocentrismo: é a produção de conhecimento em que a Europa
Ocidental está no centro do mundo
3. Eurocentrismo se tornou mundialmente hegemônica
4. O eurocentrismo se constituiu a partir da secularização (o rompimento como
um modo de vida que se estrutura na religiosidade) do pensamento burguês,
ou seja, da reprodução de novos hábitos associados a ideias burguesas-
liberais

II.I. Capital e capitalismo

1. Visão eurocêntrica sobre as formas de controle do trabalho: reciprocidade,


escravidão, servidão e produção mercantil independente são pré-capital por
ser anterior à mercantilização da força de trabalho. Incompatíveis com o
capital
2. Quijano argumenta que, contudo, na América essas formas não surgiram
numa sequência histórica unilinear, não foram mera extensão de antigas
formas pré-capitalistas, e não foram incompatíveis com o capital.
3. Na América o que chamam de formas pré-capitalistas: escravidão, servidão e
produção mercantil independentes serviam ao mesmo fim, foram
estabelecidas e organizadas para o mercado mundial, para servir aos
propósitos e necessidades do capitalismo.
4. Todas as formas e controle do trabalho na América atuavam
simultaneamente, articuladas em torno do eixo do capital e do mercado
mundial
5. Consequentemente, formam um novo padrão de organização e de controle do
trabalho em torno do capital. Juntas configuram um novo sistema: o
capitalismo
6. Ou seja, o capitalismo já nasce associado a colonialidade em que as
diferentes formas de controle do trabalho se articulam formando este novo
padrão de organização e de controle do trabalho.

II.II Evolucionismo e dualismo

1. Relações de trabalho: Capital x pré-capital = Europa x não-Europa


2. Mito fundacional da versão eurocêntrica da modernidade: estado de natureza
como ponto de partida do curso civilizatório cuja culminação é a civilização
européia ou ocidental;
2.1. Desse mito temos a visão evolucionista, onde a história da humanidade
é unilinear e unidirecional;
2.2. A visão evolucionista tem em sua base a classificação racial da
população do mundo
3. Essa visão só se concretiza, só tem valor a partir do exacerbado
etnocentrismo [julgamento da cultura do outro a partir da sua] quando a
Europa se torna central e dominante no capitalismo mundial
colonial/moderno, a partir de novas ideias sobre a humanidade e de
progresso, produtos da Ilustração [Iluminismo, século XVIII – valorização da
razão como única forma de progresso da humanidade] e da vigência da ideia
de raça como critério básico de classificação social universal.
4. Classificação racial – formação de novas id-entidades a partir do processo
colonial. Identidade racial, colonial e negativa:
4.1. Conquista/invasão da América: Diferentes povos, cada um com sua
própria história, linguagem, descobrimentos, produtos culturais, memória e
identidade. Astecas, maias, incas, etc. Os europeus os reduziram como:
índios
4.2. Povos trazidos forçadamente da futura África como escravos: iorubás,
zulus, congos, etc. Reduzidos a : negros
5. As implicações da manipulação de novas id-entidades a partir do poder
colonial:
5.1. Todos os povos foram despojados/espolidos de suas próprias e
singulares identidades históricas;
5.2. Sua nova identidade racial, colonial e negativa, implicava o
despojo/desapropriação de seu lugar na história da produção cultural da
humanidade. Sua racionalidade é negada
6. Esse processo implica o processo de inferiorização das raças não-europeias,
so produzem cultura inferior.
7. Ou seja, “o padrão de poder baseado na colonialidade implicava também um
padrão cognitivo [Fanon], uma nova perspectiva de conhecimento dentro da
qual o não-europeu era o passado e desse modo inferior, sempre primitivo”.
8. O europeu defende uma historia endógena, em que ele mesmo se
autoproduziu
9. Quando na verdade por uma confluência de fatores, de processos históricos,
como a exploração e dominação da América, conseguiram avançar seu
poderio e se fixar enquanto identidade universal, como padrão de poder
universal
10. Alguns dos elementos mais importantes do eurocentrismo:
10.1. Uma articulação peculiar entre um dualismo (pré-capital – capital, não-
europeu – europeu, primitivo-civilizado, tradicional-moderno) e um
evolucionismo linear, unidirecional, de algum estado de natureza à
sociedade moderna europeia; ou seja, Dualismo e evolucionismo se
combinam a partir da leitura de uma historia unilinear, em que aquele que
não é europeu, por exemplo, é primitivo
10.2. A naturalização das diferenças culturais entre grupos humanos por
meio de sua codificação com a ideia de raça; ou seja, a invenção da ideia
de raça é alicerce do eurocentrismo, serviu para naturalizar relações de
dominação
10.3. A distorcida relocalização temporal de todas essas diferenças, de modo
que tudo aquilo que é não-europeu é percebido como passado; ou seja,
na mesma ideia do evolucionismo e dualismo, o tempo a ser reconhecido
é apenas do europeu (2023 d.C.), só há história a partir dos ditames
europeus, pois o que não é europeu não é nem história...
11. Sem a colonialidade do poder estas operações intelectuais não seriam
cultivadas e desenvolvidas. Ou seja, a colonialidade do poder que se
constitui por estes elementos do eurocentrismo, no mesmo movimento, a
partir do colonialismo, ou seja, da dominação e exploração de outros povos,
que possibilita seu surgimento.

II.III. Homogeneidade/continuidade e heterogeneidade/descontinuidade

1. Quebra da ideia da história evolucionista/dualista em que há um sentido linear


e contínuo, o próprio capitalismo mundial demonstra que comporta uma
estrutura heterogênea, tanto em termos das formas de controle do trabalho-
recursos-produtos (ou relações de produção) ou em termos de povos e
histórias. Elementos que se relacionam entre si, de forma heterogênea,
descontínia e conflitiva
2. Maneiras simultâneas, articuladas, descontínuas e conflitivas em volta de um
objetivo. Um não precisa necessariamente deixr de existir para dar lugar ao
outro, assim como mostra as fases do capitalismo

II.IV. O novo dualismo

1. Foi com Descartes que teve início a teorização [processo de secularização


burguesa do pensamento cristão] da abordagem dualista sobre o “corpo” e o
“não-corpo”
2. Descartes: separação entre razão/sujeito [racionalidade] e “corpo” [objeto de
conhecimento].
3. O ser humano é um ser dotado de “razão”, dom que está na alma. O corpo
por si só é incapaz de raciocinar, pois está mais próximo da natureza [como
um fantoche], já o seu espírito, sua alma é dotada de razão. O sistema dual
ficou: razão/sujeito e corpo/natureza
4. Esse novo dualismo é a base da teorização “cientifica” do problema de raça
construído por Gobineau no século XIX [no Brasil tivemos Nina Rodrigues,
dentre outros, mas este foi um dos mais expoentes]
5. Dessa perspectiva algumas raças são condenadas como “inferiores” por não
serem sujeitos “racionais”. São objetos de estudo, “corpo”, mais próximas ao
estado de “natureza”. [Gobineau ou Nina primeiramente defendem que o
negro não tem alma, mais tarde, de que este tem um epirito infantil, seu corpo
chega a maturidade mais rápido porque o seu limite racional é inferior,
alcança poucos degraus da racionalidade]
6. Se são seres inferiores, convertem-se em domináveis e exploráveis, [onde o
europeu é o condutor da civilização, tem a missão divina de “evoluir” a
sociedade]
7. Ou seja, o Mito do estado de natureza, onde toda sociedade culminará na
civilização europeia [a mais avançada]
8. Meu: a nova teorização sobre as raças foi necessário para que se justificasse
ainda a dominação e exploração mesmo após o período escravocrata, já que
estava em andamento este processo. Não só por funcional para o
capitalismo, mas porque o próprio capitalismo é a história da dominação e
classificação racial, pelo controle das intersubjetividades que se baseia
nestes mitos fundacionais. No brasil, estas ideias começaram a ser discutidas
em 1850, quando estava em processo esta discussão sobre abolição
9. Século XVIII – novo dualismo radical foi combinado com as ideias mitificadas
de “progresso” e de um estado de natureza na trajetória humana
[evolucionismo, historia unilinear]
10. Quijano defende que toda essa teorização não pode se resumir como
“funcional” ao sistema capitalista, mesmo tendo sido o aspecto mais relevante
para o alicerce do desenvolvimento capitalista
Sem considerar a experiência inteira do colonialismo e da colonialidade, essa marca
intelectual seria dificilmente explicável, bem como a duradoura hegemonia mundial
do eurocentrismo. Somente as necessidades do capital como tal, não esgotam, não
poderiam esgotar, a explicação do caráter e da trajetória dessa perspectiva de
conhecimento. 13

III. Eurocentrismo e experiência histórica na América Latina

1. A perspectiva eurocêntrica de conhecimento aplicada à experiência histórica


latino-americana opera como um espelho que distorce o que reflete. Quando
nos olhamos no espelho não conseguimos nos enxergar por completo e mais,
alguns pontos vemos imagens que não são reais
2. Temos traços europeus em termos materiais e intersubjetivos, mas não
somos europeus
3. A imagem de uma identidade forjada. “Dessa maneira seguimos sendo o que
não somos”

III.I. O eurocentrismo e a “questão nacional”: o Estado-nação

1. Não obstante, se um Estado-nação moderno pode expressar-se em seus


membros como uma identidade
2. Os membros precisam ter em comum algo real,

III.II. O Estado-nação na América: os Estados Unidos

1. Formação do Estado-nação EUA:


1.1. Já se iniciou como colônia de povoamento e não fundamentalmente de
exploração;
1.2. Indígenas: Uma quantidade menor de indígenas, inicialmente, não foi
uma relação conflituosa. Reconhecidos como nação, relações comerciais
inter-nações, alianças militares nas guerras entre colonialistas ingleses
[ocupação mais violenta] e franceses
1.3. Posteriormente suas terras foram conquistadas e quase exterminados,
os sobreviventes foram colonizados
1.4. No início, portanto, relações colonial/raciais existiram somente
entre brancos e negros;
1.5. Negros na formação do estado-nação: foram fundamentais [assim
como em todos os processos coloniais] para a economia da sociedade
colonial [...]. Todavia, demograficamente os negros eram uma
relativamente reduzida minoria, enquanto os brancos compunham a
grande maioria.
2. Estados Unidos desde o início se configurou como estado-nação, pq
2.1. A população era majoritariamente formada por pessoas brancas: “é
inevitável admitir que esse novo Estado-nação era genuinamente
representativo da maioria da população”;
2.2. Imigração em massa no século XIX de europeus;
2.3. As terras [seus recursos] conquistadas dos indígenas foram
apropriadas para grandes latifúndios e distribuídas numa vasta proporção
de média e pequenas propriedades – uma distribuição “democrática” de
recursos
2.4. A distribuição de recursos deu aos brancos uma relativa participação
democrática no controle da geração e da gestão da autoridade pública
[máquina pública];
2.5. Esses recursos são negados aos índios e aos negros, o que configura
ainda uma relação de colonialidade deste novo padrão de poder
[Tocqville: a discriminação é o limite desse processo de formação do
Estado-nação moderno dos EUA]

III.III. América Latina: Cone Sul e maioria branca

1. Os índios foram vistos como inaptos a transformar-se em trabalhadores


explorados [isso não quer dizer que os negros eram mais dóceis, ou os índios
mais indisciplinados, mas os negros que foram escravizados eram de áreas
especificas que já conheciam o trabalho da forma que os colonos precisavam,
trabalhavam com certo tipo de agricultura, ferro etc, os índios tinham uma
sociabilidade diferente do que os colonos desejavam, logo ainda teriam que
passar por um processo de apreensão daquela forma de trabalho em
específico, acho que moura conta isso em algum livro]. Conquistaram suas
terras e exterminaram os índios
2. População negra era minoria durante o período colonial
3. Atraíram milhões de imigrantes europeus, consolidando em aparência a
branquitude destas sociedades
4. Estes três fatores contribuíram para homogeneizar a população nacional e,
desse modo, facilitar o processo de constituição de um Estado-nação
moderno, à européia.
5. ARGENTINA:
a. Extrema concentração de terra. Por consequência, se torna impossível
qualquer tipo de relações sociais democráticas entre os próprios
brancos, assim como, toda uma relação política democrática – afinal
não houve democratização de recursos;
b. Formou-se um estado oligárquico [estado agrário e tributário, cuja elite
dirigente emana das classes dominantes, e cujo monopólio do poder
político serve exclusivamente para o enriquecimento dos membros de
sua própria classe], desmantelado somente após a II Guerra Mundial
[1939]
c. “essa vasta população migratória não encontrou uma sociedade com
estrutura, história e identidade suficientemente densas e estáveis, para
incorporar-se a ela e com ela identificar-se, como ocorreu no caso dos
EUA e sem dúvida no Chile e no Uruguai. Em fins do século XIX a
população de Buenos Aires compunha-se em mais de 80% por
imigrantes de origem europeia...”
6. Chile forte concentração de terra;
a. Expansão territorial permitiu a burguesia o controle de recursos
b. Permitindo também a formação de um grande contingente de
assalariados operários – o primeiro da América Latina
c. Benefícios distribuídos entre a burguesia britânica e a chilena,
permitiram o impulso da agricultura comercial e da economia comercial
urbana
d. Formação de novas camadas de assalariados urbanos e novas
camadas médias relativamente amplas
e. Modernização de uma parte importante da burguesia senhorial
f. Tais condições possibilitaram que os trabalhadores e as classes
médias pudessem negociar com algum êxito, desde 1930-35, as
condições da dominação/exploração/conflito – uma democracia nas
condições do capitalismo
g. Configurou-se um poder, um Estado-nação, de brancos, já que, os
índios sobreviventes foram excluídos
7. Uruguai um pouco menor a concentração de terras;
8. Nestes países os imigrantes europeus encontraram um Estado, uma
identidade mais constituída a qual se incorporaram
9. Em suma, a constituição do Estados-nação modernos nesses países
supracitados com a homogeneização da população numa perspectiva
eurocêntrica foi feita a partir da eliminação massiva de índios, negros e
mestiços

III.IV. Maioria indígena, negra e mestiça: o impossível “moderno Estado-nação”

1. Formação do Estado-nação na perspectiva eurocêntrica se demonstrou até


agora impossível
2. Seria a solução, segundo Quijano, retoma no final: A descolonização social
através de um processo revolucionário mais ou menos radical só foi vista com
Tupac Amaru [Peru – ultimo rei da dinastia Inca/insurreição contra os
espanhóis/ideias de liberdade e luta por igualdade de direitos], Haiti [Colônia
da França – Revolução francesa: liberdade, igualdade e fraternidade/1791-
1804/ eliminação da escravidão e a independência do país como a primeira
república governada por pessoas de ascendência africana], México e Bolívia
[a descolonização do poder percorreu um trecho importante até a contenção
da revolução]
3. Maior parte da população era de negros, mestiços e índios – mas a eles,
foram negados a participação nas decisões sobre a organização social e
política
4. Pequena minoria branca tinha a vantagem de estar livre das restrições da
legislação da Coroa Espanhola; impuseram novos tributos coloniais aos
índios; mantiveram a escravidão dos negros por décadas; expandiram sua
propriedade às custas dos territórios indígenas.
5. Brasil: a maioria dos índios estavam na Amazônia, visto como estrangeiros
para o novo Estado; negros eram sumariamente escravos.
6. Ainda, não poderia ser considerado democrático já que era baseado na
dominação colonial, com relações de trabalho forçado, sem participação
política destes membros
7. Por mais que tenha havido escravidão nas demais colônias, e servidão, havia
uma maioria populacional com os mesmos interesses, ou interessem não
conflituosos. A maior fonte de trabalho era baseada nos salários e no capital,
voltada também para o mercado interno, dando aos trabalhadores a
vantagem de participar de decisões, pois havia um interesse nacional –
mercado interno deveria ser expandido e protegido.

III.V. Estado independente e sociedade colonial: dependência histórico-


estrutural

1. Não havia interesse comum entre a minoria branca [que estava no controle],
os índios, negros e mestiços. Consequentemente, não havia interesse
nacional comum a todos eles
2. Interesses antagônicos, já que, os privilégios dos brancos estava no
domínio/exploração dessa parte da população
3. Os interesses sociais dos brancos estavam mais próximos dos europeus, por
isso eram dependentes dos interesses da burguesia europeia. “os senhores
latino-americanos não podiam acumular seus muitos benefícios comerciais
comprando força de trabalho assalariado [ou seja, expandindo seu mercado],
precisamente porque isso ia contra a reprodução de sua condição de
senhores. E destinavam esses benefícios comerciais ao consumo ostentoso
das mercadorias produzidas, sobretudo, na Europa [o lucro era voltado para o
“investimento” da Europa, já que o foco estava em importar produtos de lá, e
não de expandir ou produzir]. 18
4. A colonialidade do poder era o que tinha em comum entre os brancos das
classes dominantes
5. Contudo, havia um limite, essa mesma colonialidade do poder impedia-os de
desenvolver os mesmos interesse sociais dos seus pares europeus, porque
isso implicaria em expandir o capital, que precisamente deve-se ter como
principal relação de trabalho o assalariado, já que é baseado num sistema de
exploração e troca, mas isso requereria a libertação das massas escravas e
servis e por isso não investiam no capital interno;
6. Processo de independência dos Estados na América Latina não foi em
direção ao desenvolvimento dos Estados-nação modernos, como alcunhada
pelo eurocentrismo:
a. Ocorreu com a rearticulação da colonialidade do poder sobre novas
bases institucionais [Gramsci, revolução passiva/pelo alto/
rearticulação de interesses da classe dominante, sufocamento dos
interesses das classes populares – processos violentos / em Carlos
Nelson Coutinho: a “revolução passiva” consiste numa sequência de
manobras “pelo alto”, de conciliações entre diferentes segmentos das
elites dominantes, com a consequente exclusão da participação
popular. Decerto, a “revolução passiva” opera mudanças necessárias
ao “progresso”, mas o fz no quadro da conservação de importantes
elementos sociais, políticos e econômicos da velha ordem... 210], já
que
b. Segundo a ideia de formação de um estado-nação com base na
perspectiva eurocêntrica que propunha a formação de uma id-entidade
com interesses em comum, uma participação mais ou menos
democrática na distribuição do controle do poder, o que reque uma
relativa homogeneização;
c. Nos países da américa latina formar este estado-nação colocaria em
risco seus próprios privilégios, são uma minoria branca que exercem o
domínio exploração racial da maior parte da população, logo os
interesses dessa massa era antagônicos aos da elite
d. A democratização é impossível nestes países de maioria negra,
indígena e mestiça, mais ainda se levado em conta as teorias raciais
que os propusera como estado de natureza anterior ao branco, logo, o
processo de descolonização das relações sociais, políticas e culturais
entre as raças coloca em risco o próprio eurocentrismo.
7. “Não obstante, a estrutura de poder foi e ainda segue estando organizada
sobre e ao redor do eixo colonial. A construção da nação e sobretudo do
Estado-nação foram conceitualizadas e trabalhadas contra a maioria da
população, neste caso representada pelos índios, negros e mestiços. A
colonialidade do poder ainda exerce seu domínio, na maior parte da América
Latina, contra a democracia, a cidadania, a nação e o Estado-nação
moderno”. 19 [não so na América Latina, mas acredito que em todos os
países majoritariamente formado por negros, mestiços, índios, amarelos,
dentre outros, a colonialidade do poder ainda exerce seu domínio de forma
mais ou menos latente, tendo em vista, que a colonialidade é o domínio de
uma raça sobre a outra, é o privilégio branco, logo, isso explica porque nem
todos podem experimentar os conceitos de liberdade, fraternidade e
igualdade, pois isso colocaria em risco o próprio sistema de poder, o próprio
capitalismo que em sua base se estrutura através da ideologia racista].
Atualmente podem-se distinguir quatro trajetórias históricas e linhas ideológicas
acerca do problema do Estado-nação: [...] 19

1. Trajetória histórica e linha ideológica do Brasil: imposição de uma ideologia de


“democracia racial”; cidadania restrita; racismo maquiado – cordial. Munanga
e Nascimento: por sermos uma maioria negra, medo de uma nova revolução
de influência haitiana

Isto quer dizer que a colonialidade do poder baseada na imposição da idéia


de raça como instrumento de dominação foi sempre um fator limitante destes
processos de construção do Estado-nação baseados no modelo eurocêntrico,
seja em menor medida como no caso estadunidense ou de modo decisivo
como na América Latina. O grau atual de limitação depende, como foi
demonstrado, da proporção das raças colonizadas dentro da população total
e da densidade de suas instituições sociais e culturais. 20

Eurocentrismo e revolução na América Latina

1. Debate latino-americano sobre a revolução democrático-burguesa [a maioria


da esquerda latino-americano, até há poucos anos, aderia a essa proposta
alinhada ao socialismo real]:
1.1. A burguesia organiza a classe operária, os camponeses e outros
grupos dominados
1.2. Arrancar dos senhores feudais o controle do Estado
1.3. Reorganizar a sociedade e o Estado nos termos do capital e da
burguesia
1.4. Ideia central: a sociedade na América Latina é fundamentalmente
feudal, ou semifeudal, já que o capitalismo é ainda incipiente, marginal e
subordinado.
2. O debate latino-americano sobre a revolução socialista:
2.1. Erradicação da burguesia do controle do Estado pela classe operária, a
classe trabalhadora por excelência
2.2. Controle estatal dos meios de produção pela coalizão das classes
exploradas e dominadas
2.3. Construir a nova sociedade por meio do Estado [controlado pela classe
operária]
2.4. Tese principal: a economia e portanto a sociedade e o Estado na
América Latina são basicamente capitalistas
1. “isso implica que o capital como relação social de produção é dominante, e
que consequentemente o burguês é também dominante na sociedade e no
Estado. Admite que há resíduos feudais, e portanto tarefas democrático-
burguesas no trajeto da revolução socialista.” A defesa da revolução
democrático-burguesa requer algumas afirmações:
1.1. A relação sequencial entre feudalismo e capitalismo [história
unidirecional – evolucionismo/dualismo];
1.2. A existência histórica do feudalismo e consequentemente o conflito
histórico antagônico entre a aristocracia feudal e a burguesia [nós não
tivemos essa fase feudal, mesmo quando havia relações de trabalho
vistas nessa época, como a servidão, o próprio Quijano desmistificou essa
ideia ao dizer que a servidão dos índios não operavam na mesma forma,
assim como as demais formas de controle do trabalho, todas elas eram
voltadas para o mercado mundial; ainda a burguesia que temos aqui é
agrária e seu único antagonista são os colonizados]
1.3. Uma burguesia interessada em levar a cabo semelhante
empreendimento revolucionário [como na Revolução Francesa ou Inglesa,
aqui a Revolução foi passiva para não arriscar os privilégios da elite
dominante]

Quijano contra-argumenta, que esta revolução antifeudal, logo democrático-


burguesa, no sentido eurocêntrico sempre foi, portanto, uma impossibilidade
histórica:

1. Na América, como em escala mundial desde 500 anos atrás, o capital existe
como eixo dominante;
2. Eixo que articula de forma conjunta todas as formas historicamente
conhecidas de controle e exploração do trabalho
3. Configurando assim um único padrão de poder
[capitalista/eurocêntrico/moderno/colonial...], histórico-estruturalmente
heterogêneo [com diferentes características], com relações descontínuas [não
é sequencial] e conflitivas entre seus componentes;
4. Não há sequência evolucionista entre os modos de produção, não há
feudalismo anterior, separado do capital e a ele antagônico, nenhum senhorio
feudal no controle do Estado [ao contrário, o controle estava na mão dos
representantes da Coroa – dos Estado-nação europeus], ao qual a burguesia
sedenta de poder tivesse que desalojar por meios revolucionários
5. A democratização dos países da América Latina deve ocorrer com uma
descolonização e com uma redistribuição radical do poder;
6. As classes sociais têm cor!
7. Logo, a classificação racial das pessoas se realiza em todos os âmbitos da
sociedade
8. A dominação é requisito da exploração, e a raça é o mais eficaz instrumento
de dominação que, associado à exploração, serve como o classificador
universal no atual padrão mundial de poder capitalista
9. Assim, “nos termos da questão nacional, só através desse processo de
democratização da sociedade pode ser possível e finalmente exitosa a
construção de um Estado-nação moderno, com todas as suas implicações,
incluindo a cidadania e a representação política”. 21
10. Revoluções socialistas, como controle do Estado e estatização do controle de
tudo [...] duas suposições teóricas falsas:
a. A ideia de uma sociedade capitalista homogênea , no sentido de que
só o capital como relação social existe e portanto a classe operária
industrial assalariada é a parte majoritária da população; [há outras
formas relações de controle de produção]. Quijano argumenta que não
foi assim nunca
b. A ideia de que o socialismo consiste na estatização de todos e cada
um dos âmbitos do poder e da existência social, começando com o
controle do trabalho, porque do Estado se pode construir a nova
sociedade. Quijano argumenta que, essa suposição coloca toda a
história, de novo, sobre sua cabeça. Inclusive nos toscos termos do
Materialismo Histórico, faz da superestrutura, o Estado, a base da
sociedade.
c. Requer, uma reconcentração do controle do poder, o que leva
necessariamente ao total despotismo dos controladores.

1. As análises feitas sobre o processo político latino-americano tem sido parcial


e distorcido;
2. Consequência da perspectiva eurocêntrica [SESO: o fundamento da “Q.S” –
os assistentes sociais trabalham com as expressões da questão social, que
em suma, é o contraditório processo trabalho/exploração, são as sequelas
desse processo, a pobreza etc. Sendo esse elemento nosso principal
problema a se resolver, nós aprendemos desde o primeiro período e é uma
análise presente de forma transversal em todas as demais matérias. E ai são
inuemeras as análises, mas existe um texto base, que é base por também ser
básico, é enxuto, de fácil leitura, é o pontapé, que é do netto, “5 notas a
respeito da “questão social”. E desde o primeiro período é algo que me
confundia muito, porque, ele explica o que é essa q.s, a partir da Europa,
porque ele diz que a questão social é formada por esse novo pauperismo que
é consequencia do capitalismo que visa o lucro, porque agora as pessoas
estão empobrecidas não é pela falta, mas mesmo diante do excesso, mas
também é formada pelo momento histórico-politico em que o trabalhador se
reconhece como classe para si... só que esse momento histórico é a
revolução inglesa... e ai termina o texto e você fica “oi”? uma massa de
trabalhadores fabris, numa época em que no brasil o trabalho era
principalmente escravocrata, essa consciência de classe é operária e so se
reconhece a luta pelo sindicalismo e greves porque é onde atinge o capital...
e dai o aluno precisa fazer as assimilações com o Brasil...
Netto: “a expressão surge para dar conta do fenômeno mais evidente da
história da Europa Ocidental” – cercamento; onda industrializante na
Inglaterra no século XVIII / “Divisor de aguas é a Revolução de 1848 (avanço
da burguesia – que, também investiam na produção de um saber) / assim, em
1848 temos a “passagem, em nível histórico-universal, do proletariado da
condição de classe em si a classe para si” – luta, consciência política que não
compreensão teórica, o que acabou atrasando o movimento dos
trabalhadores ate encontrar instrumentos teóricos e metodológicos...
encontram isso apenas em 1867 a partir do primeiro volume do Capital de
Marx

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