Você está na página 1de 19

UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Objetivo da unidade:
Demonstrar a influência das ideias europeias nos processos de independência e na
formação dos Estados latino americanos bem como enumerar os pontos que marcam o
pensamento de Simon Bolívar, Frei Caneca e A Escola de Recife (especialmente Tobias
Barreto) na caminhada da Filosofia do continente durante o século XIX.

Unidade 4 – Filosofia nos Processos de Formação dos Estados Latino Americanos

4.1 O Iluminismo nos processos de independência.


Pelo que foi estudado na unidade anterior percebeu-se o desenvolvimento do
controle colonial das Potências Mercantilistas sobre a América Latina. Na filosofia tivemos
a predominância da filosofia Escolástica adaptada por Salamanca e Coimbra trabalhada
aqui pelos padres da Cia de Jesus. Mesmo tendo uma chamada de domínio e de
exploração tivemos fortes combatentes que se concentraram em defender o “ser” do
ameríndio questionando as imposições que vinham da Europa.
Enquanto isso nos demais países da Europa o Racionalismo e o Empirismo
buscavam alargar seu espaço desde o Renascimento até atingir a maturidade no século
XVIII, o Século das Luzes.
A França tornou-se o maior centro de irradiação desta nova forma de ver a
vida, o homem, as relações humanas, a economia, o poder. Era o Iluminismo que atraia
estudantes de toda a Europa e jovens filhos das elites coloniais. Era ensinado uma
Filosofia que rompia com as concepções em vigência naquele momento. Tanto na Europa
que tinha apreendido a trabalhar com as ideias surgidas nos séculos XV e XVII como nos
países Ibéricos que estavam na Escolástica renovada.
Segundo Vieira (2006) muda a forma de se perceber o que é nação, a
estruturação dos aparelhos administrativos e jurídicos, as escolhas de quais ideias se vão
seguir, as relações internacionais de poder que passaram por enormes transformações, as
concepções de economia com a mudança da visão de como funciona o negócio, o uso de
mão de obra, de salário.

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Tudo isso agora passa a ser realizado a partir dos brados da liberdade,
igualdade, segurança e propriedade que atingem seu intuito máximo na Declaração dos
Direitos do Homem.
A burguesia que se firmou economicamente durante todo o Mercantilismo se
segura nestas ideias que lhe foram muito favoráveis e o passo definitivo para poder se
instalar como base de uma infraestrutura, como afirma Marx, que firma o Capitalismo
definitivamente e impõe tudo dai para frente. A Revolução industrial é o grande símbolo
dessa afirmação da burguesia.
O fim do direito de Linhagem coloca a burguesia no mesmo espaço da
nobreza, que estava se degradando cada vez mais. O “todos são iguais perante a lei” é a
grande ideia que se torna a bandeira de luta desta classe.
Na concepção de Vieira (2006) percebe-se que essas ideias absolutamente
revolucionárias, para a época, não levam a algo concreto de transformação efetiva da
sociedade. Questiona-se, assim, sua efetiva função social.
O individualismo se firmou com o liberalismo e a defesa da propriedade privada
que Goldman (1976) assim coloca: o individualismo crítico, a liberdade e a igualdade entre
todos os homens, a universalidade das leis, a tolerância e o direito à propriedade privada,
constituíram aquilo que poderíamos qualificar de denominador comum do pensamento
iluminista.
A burguesia usa como fundamento de seus interesses o Iluminismo e além de
criar um amplo mercado internacional livre de qualquer concorrência, tirar os entraves
medievais sobre a propriedade precisava assumir o poder político, determinar os limites do
aparelho jurídico do Estado criando uma nova ordem que garantia a segurança necessária
para o crescimento e afirmação de seus intentos como classe e como poder hegemônico.
Desta forma impunha a destruição da nobreza que estava desfalecida e a submissão da
classe proletária que vinha para substituir a anterior escravidão. Isso pode ser constatado
na seguinte ideia ... “o burguês liberal clássico de 1789 (…) não era um democrata, mas
sim um devoto do constitucionalismo, um Estado secular com liberdades civis e garantias
para a empresa privada e um governo de contribuintes e proprietários (HOBSBAWM,
2001)”.

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

A burguesia europeia, sobretudo inglesa, estava muito interessada em fazer se


desenvolver essas ideias nas regiões coloniais o que iria ampliar a liberdade,
principalmente econômica crucial para alimentar a sua Revolução Industrial.
Foram os filhos das elites coloniais que, no século XVIII, iam para a Europa
estudar e aprendem com os grandes professores ilustrados o como era possível sair de um
processo de colonialismo para constituir-se como nações independentes e soberanas.
Estas iniciativas ganham força a partir da Independência dos EUA e da
Revolução Francesa bem como o domínio napoleônico sobre a Europa que forçou à
Inglaterra a tomar medidas para protegem o seu comércio, tão necessário para garantir a
continuidade da Revolução Industrial.
Os movimentos de independência se basearam na ideologia do Iluminismo e
na Revolução Francesa, da igualdade de Direitos no seu viés conservador conforme o
interesse da burguesia, sobretudo inglesa.(Da burguesia que tinha ocupado o lugar da
nobreza e inglesa que está às vias de afirmação da Revolução Industrial.)
Foi na primeira metade do século XIX que se desenvolveram os processos de
independência da América Latina: as independências e as guerras decorrentes das
mesmas, entre 1810 e 1830, fez nascer os Estados Latino Americanos em sua maioria
repúblicas. Que, segundo Vieira (2006):
... nota-se a quase coincidência na periodicidade de seus processos
independentistas, que se efetivam ao longo do século XIX e, sob a
égide do liberalismo, transformam-se, via de regra, em repúblicas
assumidas ou implantadas via ditaduras ao longo do século XX,
alternadas com tímidos processos de democratização, frágeis por sua
curta gestação, por sua pouca sustentação pela sociedade civil e pela
profunda desigualdade social que mantém milhões excluídos do
acesso a qualquer bem produzido socialmente.

Os intelectuais que deram a tonalidade que serviu de base para o pensamento


político latino-americano ajudam a propagar o liberalismo travestido de Ilustração. Por isso
o que era luta de colônia contra a metrópole, com o fito de se livrar do colonialismo, agora
vai se tornando um claro interesse de uma classe, de uma aristocracia rural “criolla” que
continua mantendo as classes pobres camponesas e urbanas, a ameríndio, muitos deles
desaldeados, a negros (estes, no caso do Brasil, ainda escravos), sob o domínio. Antes era
o controle metropolitano, agora é o controle dos donos das grandes propriedades e
donos do poder político, com os quais haviam realizado as lutas pela independência.

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Os povos latino-americanos ganharam autonomia política. Essa ruptura, não


representou a ruptura dos vínculos econômicos e culturais de antes. A história do processo
colonizatório teve continuidade na formação dos novos Estados americanos.
O professor Aquino (2002) assim se manifesta a cerca da formação dos
Estados latino americanos pós independência:
“No plano econômico, a herança colonial persistiu na manutenção da
economia produtora de gêneros alimentícios e matérias-primas para o
mercado externo, segundo as diretrizes da divisão internacional do
trabalho no período que vai desde o domínio napoleônico e a Primeira
Guerra Mundial ....Na américa criavam-se verdadeiros enclaves
capitalistas, estimulando-se a agricultura de exportação e a exploração
de recursos minerais.... Neste contexto, não havia condições históricas
para o surgimento de burguesia nacional nos estados latino-
americanos, dado o seu comprometimento dom o capital
internacional.”

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=40673
Este quadro procura mostrar de uma forma bastante clara o que era a Divisão
Internacional do Trabalho.
E do ponto de vista ideológico Aquino (2002) afirma que as grande corrente
ideológica como o Liberalismo, embora tenha tido enorme influência nas independências a
ausência de uma burguesia, anularam as conquistas que aparecem claras na Europa e nos
EUA.
Pomer (1979) assim se manifesta:
“Depois da Independência, a dominação pela Inglaterra capitalista não
desenvolveu o modo capitalista de produção. Limitou-se a organizar –
seguindo a linha colonial – produtos mercantis para a exportação;
persistiu na destruição de produções pré-coloniais e garantindo ou
simplesmente criando setores regidos por modos de produção pré-
capitalistas. Não bastante, o conjunto das sociedades hispano-índias

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

foi integrado ao sistema capitalista mundial, está articulado e


subordinado a seu modo de produção.

Esta forma de ver a América Latina abriu caminho de formação de Estados


onde o poder se concentrou nas mãos dos grandes proprietários, era o Caudilhismo.
Autoritário, o caudilhismo era dominado por lideres rurais que organizaram uma burocracia
que os favorecia. Estes lideres carismáticos tinham o controle total das classes, impunham
as constituições e a legislação como um todos o que lhe permitia se perpetuar no poder.
A elite “criolla” que desenvolveu os processos de independências e consolidou
os Estados Latino Americanos partiu da formação Liberal Iluminista. Eles haviam estudado
na Europa no final do século XVIII e início do XIX e, como filhos da elite, trabalham para
fazer as independências e ao mesmo tempo para organizar Estados favoráveis a eles.
Porém acabaram ficando presos ao controle econômico da grande potência europeia,
sobretudo à Inglaterra.

4.2 Simon Bolívar e sua concepção de América Latina.


Nasceu em Caracas em 1783 na Venezuela e morreu em 1830 em Santa
Marta na Colômbia.
Bolívar desenvolve uma maneira toda especial para divulgar suas ideias. Foi
através de cartas que analisava a situação do continente e que propunha atitudes que
pudessem levar a formação de uma América latina livre efetivamente do controle europeu
inclusive do controle econômico.
A sua preocupação não era um efetivo processo revolucionário, pois estava
preocupado em evitar situações que levassem a derramamento de sangue como fora o
caso do Haiti.
Na carta da Jamaica de 1813 Bolívar se expressa assim:
Os americanos, sob o sistema espanhol que está em vigor, e talvez
com maior força que nunca, não ocupam outro lugar na sociedade que
o de servos próprios para o trabalho, e quando muito o de simples
consumidores; e ainda esta parte coagida com restrições chocantes
[…]; em fim, você quer saber qual é o nosso destino? Os campos para
cultivar o anil, o grão, o café, a cana, o cacau e o algodão, as planícies
solitárias para criar gado, os desertos para caçar bestas ferozes, as
entranhas da terra para escavar o ouro que não pode saciar a esta
nação [a Espanha] avarenta. Estávamos, como acabo de expor,
abstraídos e, digamos assim, ausentes do universo no que é relativo à
ciência do governo e administração do Estado. Jamais éramos vice-

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

reis ou governadores, senão por causas muito extraordinárias;


arcebispos e bispos poucas vezes; diplomatas nunca; militares, só em
qualidade de subalternos; nobres, sem privilégios reais; não éramos,
em fim, nem magistrados, nem financistas e quase nem mesmo
comerciantes; tudo é contravenção direta de nossas instituições.

Para ele na América Latina organização de modo muito rígido e quase feudal,
baseada na opressão e na corrupção. O colonialismo espanhol tinha deixado a população
americana sem direitos e impondo formas de controle que permitiam que os ameríndios se
considerassem efetivamente inferiores e dominados.
Nós somos um pequeno gênero humano; possuímos um mundo
aparte, cercado por dilatados mares, novo em quase todas as artes e
ciências, ainda que em certo modo velho nos usos da sociedade civil.
[…] nós, que apenas conservamos vestígios do que em outro tempo
foi, e que por outro lado não somos nem índios nem europeus, senão
uma espécie média entre os legítimos proprietários do país e os
usurpadores espanhóis: em suma, sendo nós americanos por
nascimento e nossos direitos os da Europa, temos que disputar estes
aos do país e que manternos nele contra a invasões dos invasores;
assim nos achamos no caso mais extraordinário e complicado.

Nesta Carta Bolívar preconiza a ideia de que o que une o continente Latino
americano são: a língua, a liberdade, a independência. Ele via a América Espanhola como
uma comunidade cultural interligadas e que tinham um passado comum, o colonialismo
espanhol.
Simón Bolívar não só queria romper os laços entre América e Espanha, mas
também rechaçar outras possíveis formas de colonialismo, como por exemplo, o norte
americano e o inglês. Ele não estava pensando em um Pan-americanismo liderado pelos
EUA e nem em um desenvolvimento controlado pelos ingleses.
Afirma que:
É uma ideia grandiosa pretender formar de todo o mundo novo
uma só nação com um só vínculo que ligue suas partes entre si
e com o todo. Já que tem uma origem, uma língua, um costume
e uma religião, deveria por conseguinte ter um só governo que
confederasse os diferentes Estados que hão de formar-se; mas
não é possível porque climas remotos, situações diversas,
interesses opostos, características diferentes, dividem a
América.

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Essa ideia de organização de um Estado Pan-americano vai se tornando cada vez menos
viável e na carta que Bolívar manda para o Gneral Juan José Flores em 1830, logo antes
de sua morte, deixa bem claro a dificuldade em se organizar um tipo de Estado destes.
V.S. sabe que eu tenho governado por vinte anos, e deles não
tirei mais do que uns poucos resultados comprovados:
1º, a América é ingovernável para nós;
2º, quem serve a uma revolução ara no mar;
3º, a única coisa que se pode fazer na América é emigrar; 4º,
este país cairá infalivelmente nas mãos da multidão
desenfreada para depois passar a tiranetes quase
imperceptíveis de todas as cores e raças;
5º, devorados por todos os crimes e extintos pela ferocidade,
os europeus não se dignarão a conquistar-nos;
6º, se fosse possível que uma parte do mundo voltasse ao caos
primitivo, esta seria a América em sua hora final.

Não se preocupa em organizar um governo que chegasse próximo à


Democracia dos Norte Americanos. Propunha um tipo de Estado em que um presidente
deveria ter mais poder de que um rei. Pensava em um modelo intermediário entre o
Absolutismo e a República fugindo do racionalismo proposto pela Revolução Francesa.
No que se refere à Igreja Bolívar se preocupa em defender um Estado
confessional como está na primeira Constituição da Bolívia de 1826: “A Religião Católica,
Apostólica, Romana, é da República, com exclusão de todo outro culto público. O Governo
a protegerá e fará respeitar, reconhecendo o princípio de que não há poder humano sobre
as consciências.”
Percebe-se claramente que o pensamento Latino Americano, que determinou a
vida dos novos Estados deste continente, se formou a partir dos princípios do Iluminismos
mas ganhou contornos próprios dando origem e justificando governos caudilhescos que se
impuseram durante todo o século XIX.
Simon Bolívar aparece como ícone onde se tenta colocar em prática esse
pensamento adaptando-o à realidade local para garantir uma independência verdadeira.
O problema é que a dependência econômica dos países recém criados fez com
que aquelas ideias liberais ganharam outras práticas que foram favoráveis às potências
que se firmavam com a Revolução Industrial. Isto está muito claro na estratégia criada
pelos ingleses – Divisão Internacional do Trabalho.

4.3 No Brasil – Do Iluminismo ao Positivismo.

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Durante todo o período colonial o Brasil teve sua intelectualidade ligada ao


trabalho dos inacianos com a Escolástica.
Na metade do Século XVIII esta escolástica sofre o esfacelamento devido à
política pombalina baseada no racionalismo Iluminista, era o Despotismo Esclarecido que
se propunha fortalecer o instituto da monarquia absoluta e racional a subordinação da
Igreja. Sobre isto devem recordar a unidade anterior quando assistiram o filme “a Missão”.
Pombal passou a impor o controle político, econômico e o controle da
educação tomando conta de das instituições de ensino desde o básico até as
universidades. A reforma da universidade de Coimbra foi feita por D. José I em 1772 em
que o rei ratifica o que Pombal tinha proposto onde mostra grande interesse pela ciências
do rigor lógico. Martins em artigo publicado no site da Faculdade de Filosofia Natural da
Universidade de Coimbra assim se refere à esta reforma.
[...A reforma pombalina da Universidade de Coimbra, em 1772,
enquadrou-se numa profunda remodelação do sistema
educativo em Portugal. As transformações introduzidas tiveram
repercussões significativas no ensino das matérias científicas
em geral. Os ideólogos da renovação foram muito vigorosos
nas críticas feitas aos métodos pedagógicos e conteúdos
programáticos dos antigos cursos de índole científica. De
acordo com os promotores da reforma do ensino universitário,
a Filosofia, que até então oficialmente se ensinava, mantinha
uma influência profunda e decadente da Escolástica...]
[...As análises extremamente negativas condenaram a
generalidade dos sectores de actividade pedagógica e
intelectual, com especial relevo dado ao sistema de ensino
praticado nas escolas da Companhia de Jesus, que vigorou até
1759..]
[...Só a prisão e o êxodo de várias personalidades, algumas
forçadas, outras por se recusarem voluntariamente a viver no
ambiente político instalado, levou a que, durante toda a década
de sessenta, os níveis de ensino e de actividade científica
tivessem, efectivamente, atingido a situação verdadeiramente
miserável, como eram classificados nos Estatutos Pombalinos
da Universidade. Foi durante esta década que se observou a
total paralisação das actividades em várias escolas como o
Colégio das Artes, Colégio de Santo Antão e Universidade de
Évora....]

As reformas propostas por Pombal buscam aprofundar o cartesianismo, o


empirismo e o ecletismo. O cartesianismo, pela preocupação fundamental com a
matemática e a física e o racionalismo das ideias claras e distintas; o empirismo, pelo

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

empreendimento intelectual ao que é perceptível e não aos problemas metafísicos da


Escolástica e o ecletismo que se preocupava com a liberdade de opinião e critica à
sistematização. Tudo isto sedimentado em ideias políticas e econômicas ligadas às ideias
dos mestres da Ilustração francesa.
Com o fim do governo de D José I (1777) cai também Pombal, assume D.
Maria I, a viradeira, que chama de volta os jesuítas e tenta retomar o processo educacional
anterior. Enquanto as lideranças europeias e norte-americanas se polariza em torno da
Declaração dos Direitos do Homem, de 1789, o que tem lugar em Portugal é o
fortalecimento da chamada Viradeira de D. Maria I. O descaminho da Revolução Francesa,
As ideias das revoltas de libertação já tinham entrado no Brasil, seja pelo
espaço dado pelas reformas pombalinas, seja pelo prestigio e engrandecidas pelo sucesso
de sua prática vitoriosa, na Revolução Americana. A Independência dos Estados Unidos, e
a forma de organização do Estado causava admiração aos intelectuais brasileiros.
A mudança da Corte para o Brasil em 1808 e a abertura dos portos, que marca
o fim do “pacto colonial”, tornara mais amplas as possibilidades de ligação com a
intelectualidade europeia o que ficou melhor ainda com a elevação do Brasil à categoria de
Reino Unido em 1816 e a criação da Biblioteca Real, o Teatro Real e a Vinda da Missão
Artística Francesa o que possibilitou a comunhão e simpatia com novas formas de ver a
organização política.
A independência do Brasil tenta incorporar o liberalismo político que ficou
truncado na Constituição de 1824 onde teve a instalação de uma corte absolutista, com a
manutenção de uma economia escravista e a continuidade da supremacia da Igreja
Católica.
Na verdade isso era bom para a Inglaterra que continuaria com o controle do
comércio, como acontecia no restante da América Latina. As ideias liberais que
impulsionaram o movimento emancipacionista não passavam de uma falácia para justificar
o que estava acontecendo.
A cultura brasileira isolou-se e foi privada da possibilidade de discutir
amplamente as doutrinas da Época Moderna, delas adquirindo entendimento adequado.
Mesmo assim percebem-se alguns pensadores que são fundamentais no Brasil
no período pós-independência.

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

4.3.1 Frei Caneca


Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca nasceu em Recife em 1779 e foi executado na
Confederação do Equador em 1825 por motivos políticos. Participou da Ver Pernambucana
de 1817 e na Confederação do Equador de 1824.
Obras fundamentais:
Cartas de Pítia a Damão;
Critica da Constituição outorgada;
Bases para a Formação do Pacto Social;
Dissertação Sobre o que se deve entender por Pátria do Cidadão;
Deveres deste para com a mesma Pátria;
Segundo Lima (2008):
Frei Caneca legou-nos inúmeros textos políticos, que se
distribuem entre votos públicos, cartas, dissertações e
periódicos, sempre preocupado em expressar sua opinião a
respeito do tema grandemente debatido naquele momento, a
forma que tomaria o Estado-Nação brasileiro. Em seus textos e
discursos públicos reivindicou, insistentemente, a instalação da
nação ancorada numa constituição que fosse fruto de um pacto
feito entre os cidadãos da pátria nascente. Referiu-se ao povo
como soberano e aquele que constitui a base da cidadania.
Enfatizou sempre os deveres e os direitos deste cidadão,
ressaltando a profunda necessidade de serem esses últimos
garantidos por lei.

Conforme Bernardes (2006) Frei Caneca mesmo sendo revolucionário usava


categorias de tomistas:
“..... que a Deus se devem atribuir não só aqueles
estabelecimentos feitos imediatamente por sua ordem, mas
igualmente aqueles que foram feitos pelos mesmos homens,
conduzidos pelas luzes da reta razão, para se desonerarem
dos deveres que lhes impõe a lei natural, conforme as
conjunturas do tempo e do lugar. Deste princípio, e de ser Deus
o autor da lei natural, é que se entende ter Deus mandado
manifestamente fazer as sociedades civis, e mais nada. Quero
dizer que não se deve deduzir que Deus haja determinado que
se faça esta ou aquela sociedade debaixo desta ou daquela
forma de governo, tirando dos povos e nações a escolha do
seu governo e o poder de que são investidos os governantes, e
a faculdade de mudarem quando julgarem de razão para seu
melhoramento e feliz existência.”

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Bernardes (2006) afirma que Caneca não se separa dos princípios trazidos
pelo tomismo, mesmo porque era religioso e estava ligado à Igreja, mas isso não o impedia
de perceber no meio dos fatos a necessidade de uma luta contra as injustiças da época.
Defende o desejo de que os cidadãos buscassem sempre a perfeição para
evitar que a luta política levasse a consequências devastadoras e juízos falsos e inexatos
que marcaram sempre o domínio dos portugueses sobres os habitantes locais em
Pernambuco.
Nas colocações de Bernardes (2006) Caneca diz que o homem deve ter o
entendimento para, ao favor das suas luzes, saber marchar nos diversos caminhos da
vida", deveria este ser "bem formado com as ideias das coisas humanas", para não
cometer "erros absurdos" na formulação de "ideias falsas e inexatas das coisas sociais",
que concorriam inevitavelmente para a "perturbação da sociedade e a sua ruína final".
Responsabilizava não só o governo, mas também os cidadãos mais sábios e
eruditos do papel de formar o povo rude com as "luzes das ciências, artes e ofícios". Dai a
missão esclarecedora às pessoas de sua época e principalmente chama atenção para que
se torne mais visível a falsa ideia de cidadão e de pátria que se construiu na história que é
a maior causa da rivalidade entre os europeus e os nativos.
Em Lima (2008) Caneca recorre ao conceito etimológico da palavra "pátria",
cuja "acepção primitiva significa família, nação", e buscando nos autores clássicos
(sobretudo Cícero) e modernos (Puffendorf o mais citado), o fundamento para a sua
argumentação. Procurou ampliar - sempre baseado nos exemplos históricos e nos
"escritores latinos, franceses e ingleses" - a ideia de pátria, que é compreendida não como
simples lugar de nascimento e sim onde se está morando, onde se fixava a residência,
onde esta o animo de viver e onde se tira o necessário para sobreviver. Evidencia o sentido
de pátria com o sentido de gente. A pátria é formada por pessoas que tem muitas coisas
em comum e é o lugar em que vivem, se realizam e constituem seu múnus político aqui
entendido como estruturação político (efetivamente como poder de mando) e jurídica.
Por isso para ele o homem possui uma pátria mas esta é como se fossem
duas: uma faz parte por natureza e a outra é concedida por Direito. Porém Caneca vê
como mais legítima a segunda; “pátria não só é a cidade ou lugar em que nascemos, mas
aquele em que estamos estabelecidos (...), pátria também é o lugar em que nos vai bem”

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Ele vai muito mais longe do que o simples antiabsolutismo, recusa qualquer
convivência com o que considera como posição oposta. Isto tem consequências muito
interessantes, pois chega a defender um federalismo onde as diferentes regiões do país
tivessem vida própria e não aceitassem a unicidade proposta pelas elites. Chegou a
propalar que as diferentes regiões se organizassem espacialmente de forma autônoma.
Bernardes (2006) cita um texto de Caneca no Tifis Pernambucano de 1823 que
era afirmava “sim independentes, mas não constituídos”:
“O Brasil, só pelo fato de sua separação de Portugal e
proclamação de sua independência, ficou de fato independente
não só no todo como em cada uma de suas partes ou
províncias e estas independentes umas das outras.
Portanto, podia cada uma seguir a estrada que bem lhe
parecesse; escolher a forma de governo que julgasse mais
apropriada às suas circunstâncias; e constituir-se da maneira
mais conducente à sua felicidade.”

Isso levaria indubitavelmente à separação territorial visto que o laço que unia
as províncias era muito fraco e refletia apenas articulações entre o imperador e o Sistema
Constitucional.
Mesmo assim busca entender a ligação ente as diferentes regiões a partir de
um vínculo de identidade do indivíduo com a coletividade a que pertencem e dai surge o
espirito de nacionalidade. Procura entender os condicionamentos básicos ao forjamento do
Estado nacional no Brasil, levando em conta as identidades locais de onde aparece a ideia
de Estado-Nação que estava se construindo naquele momento. O fundamento era
entender essa vontade de pertencimento na construção de interesses comuns e da
responsabilidade de cada um em relação ao bem comum.
Nesta reflexão nação é fruto da livre escolha dos povos, de onde emana o
direito soberano a governar a si mesmo. Assim transformado em cidadão, ao brasileiro
dessa pátria escolhida cabem, porém deveres.
Considerando ser o povo o único e legítimo soberano quer demonstrar que a
Constituição é a própria expressão e garantia do pacto social, porque é nela que se
declaram os direitos, mas é nela também que se inscrevem os deveres dos súditos para
com sua pátria.

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

A lei é a garantia da liberdade de todos. Buscava, contra os privilégios


senhoriais, fundar os direitos do homem e do cidadão, em clara vertente francesa,
naqueles princípios da liberdade e da igualdade de todos perante a lei.
Bernardes (2006) afirma que para Caneca cabia unicamente ao cidadão
decidir quanto a defesa dos interesses da “pátria de direito” colocava-se como questão
prioritária. Enfoca o princípio da livre-escolha como algo fundamental ao cidadão:
O ser natural de um país é o efeito de um puro acaso, mas o
ser cidadão de um lugar, em que não nascemos, é uma ação
do nosso arbítrio, é uma obra da nossa escolha, um fato, que
mais do que outro qualquer, prova o ser e a existência da
liberdade, a mais digna qualidade do homem, e que o distingue
plenamente das bestas.

Percebe-se que onde se nasce é pátria forçada, é mãe por acidente e da


outra se é cidadão é a pátria forçosa é a mãe por afeto.
Lima (2008) cita Bases Para a Formação do Pacto Social: regidas por uma
sociedade de homens de letras de Frei Caneca, ele destaca as Bases da Formação do
Pacto Socia em 32 artigos onde no primeiro aparece: afirma: “Os direitos naturais, civis e
políticos do homem são a liberdade, a igualdade, a segurança, a propriedade e a
resistência à opressão” .
Deixa o entendimento que se baseia nos mestres da Ilustração francesa o
que fica claro nos outros artigos:
2°: A liberdade consiste em poder fazer tudo, contanto que não seja contrário aos direitos do outro.
Assim, o exercício dos direitos naturais da cada um homem só tem limite naquilo que assegura aos
outros membros o gozo destes mesmos direitos.
3°: A conservação da liberdade depende da submissão à lei, que é a expressão da vontade geral.
Tudo o que não é proibido pela lei não pode ser impedido, e ninguém pode ser impedido, e
ninguém pode ser obrigado a fazer o que ela não ordena.
6°: A igualdade consiste em que cada um possa gozar dos mesmos direitos.
7°: A lei deve ser igual para todos, recompensando ou punindo, protegendo ou reprimindo.
8°: Todos os cidadãos são admissíveis a todos os lugares, empregos e funções públicas. Os povos
livres não conhecem outros motivos de preferência, senão os talentos e virtudes.
9°: A segurança consiste na proteção concedida pela sociedade a cada um cidadão, para
conservação da sua pessoa, dos seus bens e dos seus direitos.
10°: Nenhuma pessoa deve ser chamada a juízo, acusada, presa nem detida, senão nos casos
determinados pela lei, e segundo as formas que ela tem prescrito. Outro qualquer ato, exercitado
contra um cidadão, é arbitrário e, por consequência tirânico.
17°: O direito da propriedade consiste nisto, que todo o homem seja senhor de dispor à sua
vontade de seus bens, dos seus capitais, dos seus rendimentos e indústria.
18°: Nenhum gênero de trabalho, de comércio e de cultura pode ser proibido a cidadão algum. Ele
pode fabricar, vender e transportar toda a espécie de produção.

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

19°: Todo o homem pode entrar no serviço de outro pelo tempo que quiser, porém não pode
vender-se, nem ser vendido. A sua pessoa não é uma propriedade alienável.
20°: Nenhuma pessoa pode ser privada da menor porção da propriedade sem seu conhecimento,
só no caso de haver necessidade pública, e esta legalmente contestada, que o exija evidentemente
e debaixo de uma justa e prévia indenização.
21°: Nenhuma contribuição poderá ser estabelecida, senão para utilidade geral, e para socorrer às
necessidades públicas. Todos os cidadãos têm o direito, pessoalmente ou por seus representantes,
de concorrer para o estabelecimento das contribuições.
30°: Os homens reunidos em sociedade devem ter um meio de resistir à opressão.
31°: Há opressão, quando uma lei viola os direitos naturais, civis e políticos, que ela deve afiançar.
Há opressão, quando uma lei é violada pelos funcionários públicos na sua aplicação aos fatos
individuais. Há opressão, quando os atos arbitrários violam os direitos dos cidadãos contra
expressão da lei. Em todo o governo livre o modo de resistência a estes diferentes atos de
opressão
32°: Um povo tem sempre o direito de rever, reformar e mudar a sua constituição. Uma geração
não tem o direito de sujeitar às leis as gerações futuras, e toda a herança nas funções é absurda e
tirânica.

Frei Caneca é um dos grandes representantes do pensamento político


brasileiro do período da independência e ao mesmo tempo que é leitor dos conceitos
Iluministas também fica fiel ao pensamento do Igreja, da qual fazia parte.

4.3.2 Escola de Recife - Tobias Barreto


Durante o século XIX houve um surgimento de novas ideias na Europa como
o Socialismo Utópico, Socialismo Científico, o Anarquismo a afirmação do cientificismo e
dentro desse processo do Positivismo, que defende o conhecimento científico como o
único conhecimento verdadeiro, ele angaria inúmeros adeptos no Brasil.
Entre a corrente evolucionista ou positivismo ortodoxo e positivismo
dissidente a Escola do Recife desenvolve-se e constitui um ícone da intelectualidade no
Brasil. Realizava uma amalgama destas divergências construindo uma posição mais ou
menos autônoma que chegou a ser chamada de criticismo. Mesmo conta o espiritualismo
não se a justa totalmente ao positivismo, pois chega a retomar a metafísica de onde vem o
grande questionamento de Tobias Barreto: deve a metafísica ser considerada morta?.
(BARRETO, 1990).
Formação como corrente filosófica com pretensões a situar-se no mesmo
lugar do ecletismo espiritualista, sem, entretanto, fazer-lhe concessões.
Romero (1969) em obra publicada em 1878 assim se refere à escola de
Receife:

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

“A Escola Recife não era um conjunto rígido de princípios, uma


sistematização definitiva de ideias, mas sim uma orientação
filosófica progressiva, que não impedia a cada um investigar
por sua conta e ter ideias próprias.”

Em TOBIAS BARRETO: UMA BIBLIOGRAFIA - Luiz Antonio Barreto coloca que


era um dos pensadores mais destacados da Escola de Recife. Tobias Barreto de Menezes
(7-6-1839/26-6-1889) nasceu na Província de Sergipe.
Mulato, filho de Pedro Barreto de Menezes e Emerenciana
Maria de Jesus. Casado com Grata Malfada dos Santos. Foi
deputado do Partido Liberal em Pernambuco. Funda a revista
Estudos Alemães, e ampliando os contatos intelectuais com
figuras brasileiras e alemãs, publicando artigos, ensaios e
correspondências em diversos jornais da Alemanha e de língua
alemã editados no Brasil. Publica em São Paulo e Porto Alegre.
1882 – professora da faculdade de Direito de Recife, se torna
mentor intelectual da mocidade acadêmica, renovando
conceitos filosóficos e jurídicos, a partir da cultura e da ciência
alemã, coroando o seu persistente e consciente germanismo,
como ferramenta revolucionária.

Ele tinha uma grande atuação política e seus escritos os mais diversos
assuntos como a defesa da liberdade presente na sua propaganda da abolição da
escravatura e da proclamação da república.
A sua intensa atividade filosófica começa como simpatizante do ecletismo
espiritualista; em meados do século XIX (década de 1860) descobre as novas ideias que
bebiam em Comte, Rena, Taine, etc., onde começa a aparecer as atuações sociais mais
fortes como as posições contra a escravidão. A profunda o comtismo mas também diverge
do mesmo chegando a não aceitar a ideia dos três estados. Na parte mais madura de sua
vida, no processo de constituição da Escola do Recife é sua a fase monista que torna Kant
mais conhecido no Brasil. Na última fase de sua trajetória já refletia o culturalismo
aproximando-se mais ainda de Kant, este culturalismo que é retomado nos anos trinta do
século XX por Dacir Menezes e Miguel Reale.
Contraria Silvio Romero, na Faculdade de Direito do Recife, quando este
declarara que a metafísica estava morta, Barreto diz: “já eu nutria minhas dúvidas a
respeito da defunta, que o positivismo tinha dado realmente por morta, porém que ainda
sentia-se palpitar”.

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Barreto defende a metafísica com o texto “Deve a Metafísica ser Considerada


Morta?” onde questiona o positivismo afirmando que a metafisica é aceitável, entendida
esta como a discussão de problemas propriamente filosóficos. Chega a afirmar que o
positivismo estaria superado, sem maiores riscos de resvalar no espiritualismo, mediante a
salvação da metafísica.
Passa preconizar um monismo que levaria a uma intuição geral do universo
opta em permitir a formulação de uma lei do movimento aplicável às diversas esferas do
conhecimento.
A partir disso passa a entender que a cultura é o que levaria à superação do
positivismo. Essa ideia é desenvolvida no século XX por Miguel Reale com o nome de
culturalismo.
Antônio Pain afirma que Barreto no texto “Recordação de Kant”, nos últimos
anos de vida, define os conceito da filosofia kantiana como tipo de saber que supera os
limites da pura experiência. Pois as ciências físicas e naturais se preocupam com os
fenômenos e a relação ente eles, desenvolvendo ideias de tais realidades que não são
dogmas mas que explicam o que é observável deixando o que está além dessa realidade
para a teoria do conhecimento. Ela, a teoria do conhecimento, é o objeto próprio da filosofia
e se acha para depois da simples experiência. Para ele:
“os positivistas não querem compreender que uma coisa é a
metafísica dogmática, que converte sonhos em realidade, que
fecha os olhos para melhor ver, que desdenha da experiência,
quando esta vai de encontro aos seus oráculos, e outra coisa é
a metafísica reservada e consciente, que há de sempre existir,
se não como ciência, como disposição natural e inerradicável
do espírito, segundo Kant”.

A metafísica acaba sendo restaurada e o seu significado como a parte da


ciência que se ocupa da Teoria do Conhecimento. Ela vai além dos limites da mera
experiência.
Propõe refutar a ideia positivista de física social, isto é, ao estudo da
sociedade segundo os mesmos pressupostos das ciências da natureza. Deve se retirar do
estudo da sociedade os pressupostos meramente positivistas visto que existem ideias que
são muito mais profundas do que a simples observação e experimentação como por
exemplo as ideias de liberdade e de finalidade.

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Refletindo sobre Barreto Pain diz que cultura corresponde a um sistema de


forças capaz de humanizar a luta pela vida e que a organização da sociedade é uma forma
de sobreviver em situação tão hostil. Mesmo que possa se perceber grupos de animais se
organizam em manadas, colônias ou qualquer forma coletiva não chegam nem próximos a
complexidade com a qual o homem se organiza em sociedade, e mais, não se percebe nos
animais processos de evolução tão elaborado quanto o homem. Este por sua vez tem
tantas formas de se organizar quantos locais para vivê-la.
A vida social elimina conscientemente as anomalias, até planeja isso,
dependendo dos objetivos que o grupo se propõe. Por isso que a verdadeira vida do
homem é a vida social.
Nas “Variações anti-sociológicas (1887)” Barreto afirma que a sociedade é
uma:
“seleção jurídica, a que se pode adicionar a religiosa, moral,
intelectual e estética, todas as quais constituem num processo
geral de depuramento, o grande processo da cultura humana.
E, destarte, a sociedade que é o domínio de tais seleções,
pode bem se definir: um sistema de forças que lutam contra a
própria luta pela vida.”

Na cultura se identifica a especificidade do homem e não meramente na


natureza como defendiam os positivistas. As leis da natureza fazem com que as coisas
sejam naturalmente regulares, mas na cultura elas não são assim, pois existem muitas
outras variáveis presentes na sociedade. Por isso temos enormes dicotomias que
aparecem como: não é possível afirmar que a escravidão é aceitável por se observar que
em determinados grupos de animais haja diferenças e superioridades.
A luta pela vida é algo natural onde todos estão em constante disputa, a
cultura busca a harmonização e a superação das diferenças naturais que existem. Ela, a
cultura, possibilita corrigir as limitações e irregularidades oriundas do estado natural.
Em “Ensaios Filosóficos” Barreto considera a cultura como superação da
natureza onde apresenta as seguintes descobertas:
a) “Homem tem a capacidade de realizar um plano por ele
mesmo traçado, de atingir um alvo que ele mesmo se propõe”.
É movido pela ideia de finalidade. Nisto consiste a sua
liberdade.
b) todas as definições consagradas do homem fazem
referência a alguma coisa de contrário e superior à pura

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

animalidade, marcando um momento de sua evolução cultural.


O homem é um animal que se prende e se doma a si mesmo;
c) o processo geral da cultura consiste em gastar e desbastar o
homem da natureza, adaptando-o à sociedade. Mas a
sociedade não se constitui num todo homogêneo “porquanto
dentro da humanidade, diferenciam-se as raças, dentro da
mesma raça... os povos, dentro do mesmo povo... as classes,
terminando sempre a luta, que acompanha essas
diferenciações, pelo predomínio de um dos contendores, que
encarrega-se do trabalho cultural e imprime-lhe o seu caráter”.
Desta forma pode-se falar “de uma cultura militar, de uma
cultura religiosa ou sacerdotal, de uma industrial... mas não
ainda de uma cultura moral, que seria sinônimo de cultura
humanitária”

Quem vai retomar e aprofundar mais o culturalismo é Miguel Reale já no


século XX principalmente em suas reflexões sobre Filosofia do Direito.

4.4 Para concluir


Trabalhou-se nesta unidade as principais ideias que marcaram as
independências de nosso continente e a construção dos estados latino americanos. Isso foi
buscado em alguns pensadores como O libertador, Frei Caneca e a Escola de Recife,
desta última especificou-se Tobias Barreto.
Para a próxima unidade trabalharemos os fatos e pensamentos que
marcaram principalmente o século XX e sua passagem para o XIX.

Para aprofundamento
Leituras:
- VIEIRA, Vera Lucia. O Ideário Iluminista e a Prática Liberal na América Latina:
Dimensões Intelectuais da Subordinação e Dependência. 25 February 2006 | Ciencias
Sociales,Historia | Tags: Brasil, Historia de América Latina,Iluminismo.
Do site: http://www.ariadnatucma.com.ar/?p=101

- Simón Bolívar, o Contrarrevolucionário - sexta-feiraMAIO 2013


POSTED BY RENAN FELIPE DOS SANTOS IN HISTÓRIA, POLÍTICA
Do site: https://direitasja.com.br/2013/05/24/simon-bolivar-o-contrarrevolucionario/

- LIMA, Kelly Cristina Azevedo de Lima. Frei Caneca: Entre a liberdade dos antigos e a
igualdade dos modernos. ISSN 1517-6916. CAOS - Revista Eletrônica de Ciências Sociais.
Número 12 – Setembro de 2008.

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Do site: http://www.cchla.ufpb.br/caos/numero12/REVISTA_12_2007_Kelly%20Cristina
%20Azevedo.pdf

- TOBIAS BARRETO (1839-1889) BIBLIOGRAFIA E ESTUDOS CRÍTICOS CENTRO DE


DOCUMENTAÇÃO DO PENSAMENTO BRASILEIRO
Do site: www.cdpb.org.br/tobias_barreto.pdf

ATIVIDADE
O século XIX foi marcado pelos processos de independência do nosso
continente e a formação dos Estados latino-americanos.
As ideias que marcaram esse processo estão presentes nos escritos dos
principais pensadores do período.
A partir do pensamento de Simon Bolívar, do Frei Caneca e da Escola de
Recife (sobre tudo Tobias Barreto) mostre:
a) a linha de desenvolvimento que marca as características deles;
b) o papel das ideias de Bolívar na defesa do nosso continente chegando a
propor o Panamericanismo;
c) o contratualismo proposto pelo Frei Caneca;
d) o positivismo e a proposta de superação do mesmo chegando ao
culturalismo de Tobias Barreto.

Av. Tamandaré, 6000 – Jd. Seminário - CEP 79117-900 Cx.P. 100 - Fone (0xx 67) 3312-3643
Fax (0xx 67) 3312-3510 – e-mail nuprajur@ucdb.br
Campo Grande - MS

Você também pode gostar