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Tobias Barreto, o Filósofo Mulato

Leonardo de Medeiros Fernandes – ex-Aluno da FDR’2005 e Advogado

Aos 7 de junho, há 181 anos, nascia Tobias Barreto de Menezes em Sergipe. O Brasil do ano de 1839, era
contemporâneo – apenas no tempo – de personalidades que agitariam o espírito e a ciência humanos, a exemplo de
Nietzsche, Freud, Hegel, Marx, Engels, Dostoiévski, Ihering, Curie, Darwin. As Províncias, abaixo do Nordeste,
apropriavam-se, entretanto, das teses de Auguste Comte – já em franco declínio na sua terra – e capturavam à forca
Manoel Congo, líder da maior rebelião de escravos no Rio de Janeiro. O atraso provinciano em relação ao assim
denominado mundo civilizado era evidente.
O cenário de então era agitadíssimo e influenciou as inquietações do pensamento de Tobias. Ele atravessou a
Revolução Farroupilha dos republicanos gaúchos, Sabinada, Revolução Liberal, Balaiada, Cabanagem. Viveu sob a égide
da Constituição de 1824 e seu teratológico Poder Moderador, a Lei Eusébio de Queiroz de 1850, que proibiu o tráfico de
escravos. Viu o genocídio da Guerra do Paraguai. Leu, em 1876, sobre a execução da última pessoa a receber a pena de
morte no Brasil, o escravo Francisco em praça pública de Alagoas. Conheceu a Lei dos Sexagenários e a Lei Áurea que
aboliu formalmente a escravidão. Não viu a República, porque a sua jornada chega ao fim, em 1889, pobre e moribundo
de pneumonia. Elevaram, posteriormente, a cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras ao seu merecimento.
O jovem Tobias Barreto amadureceu nesse contexto histórico. Sua poesia influenciada por Hugo, denunciou as
injustiças sociais de seu tempo, balizou a derradeira Fase Romântica – Condoreira. Após desistir de imediato do seminário
baiano, seu espírito inquieto leva-o à Recife. Sobrevive de aulas particulares. Candidata-se aos certames para lente de
Latim e Filosofia no Ginásio. Aprovado em primeiro lugar, era preterido por razões – infelizmente – ainda existentes no
país. Conheceu, na carne mulata, o racismo da sociedade rurícola, escravista, aristocrática.
Foi deputado na Assembleia pelo Partido Liberal, mas, desiludido, larga a política. Autodidata, debruça-se sobre
as obras originais dos filósofos evolucionistas germânicos. Reagia com fervorosa argúcia contra as ideias naturalistas
impostas pela Igreja – “o direito não é um filho do céu, é simplesmente um fenômeno histórico, um produto cultural da
humanidade”.
Mais tarde, ingressa na Faculdade de Direito do Recife e obtém o grau em 1869. Advogado militante, litigou contra
os preconceitos vigentes. Prestou concurso para Professor Substituto da FDR. Aprovado em primeiro lugar, toma posse
em 1882. Sua influência foi tão forte que, nesse momento, ajuntou outros intelectuais e fez florescer a Escola do Recife -
até hoje reconhecida aqui e alhures.
Professor pensante e provocativo, inaugurou transformações radicais no Direito e na Filosofia presos aqui aos
francófonos eclesiásticos. De sua pena saíram entre outras obras: Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica (1875);
Brasilien, Wie es Ist (1876); Ensaio de Pré-História da Literatura Alemã (1879); Filosofia e Crítica (1879); Estudos
Alemães (1879); Algumas Idéias sobre o Chamado Fundamento do Direito de Punir (1881); Menores e Loucos (1884);
Questões Vigentes de Filosofia e de Direito (1888). Ele acreditava firmemente “de todos os modos possíveis de
coexistência humana, o direito é o melhor modo”.
Tobias Barreto foi jurista, filósofo, poeta, crítico social, religioso e político. Embora se diga que a sua obra não
tenha combatido de frente a escravidão e o racismo, ele lutou, à toda evidência, com destemor, por dentro do sistema de
atrasada elite. Ele contribuiu, nessa medida, a emancipar mulatos e todos os brasileiros de origem Negra com ele.
Sua personalidade e trajetória, já tá deslembradas pelos brasileiros, nos é importante nesta quadra atual do país,
quando são produzidas diariamente tantas vítimas do atraso político-social que teima entre nós. Quantos Miguel Otávios,
João Pedros e Agáthas ainda serão necessários para se construir a sociedade verdadeiramente justa e solidária? É que,
com eles, ceifa-se a esperança, precipita-se o futuro da Pátria no abismo do arbítrio. Perdemos outros tantos Tobias.

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