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OLIVEIRA VIANNA – VIDA E OBRA

Oliveira Viana (Francisco José de O. V.), jurista,


professor, etnólogo, historiador e sociólogo,
nasceu na localidade fluminense do Rio Seco de
Saquarema, em 20 de junho de 1883, e faleceu em
Niterói, RJ, em 28 de março de 1951. Eleito em 27 de
maio de 1937 para a Cadeira n. 8, sucedendo a Alberto de Oliveira, foi recebido
em 20 de julho de 1940, pelo acadêmico Afonso Taunay.

Filho de Francisco José de Oliveira Viana e Balbina Rosa de Azeredo


Viana, de tradicionais famílias. Estudou no colégio Carlos Alberto, em Niterói.
Bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, em 1906. Dedicou-
se ao magistério, tornando-se professor de Direito Criminal da Faculdade de
Direito do Estado do Rio, em Niterói, em 1916. Foi, sucessivamente, diretor do
Instituto do Fomento do Estado do Rio de Janeiro (1926); membro do Conselho
Consultivo do Estado; consultor jurídico do Ministério do Trabalho; membro da
Comissão Especial de Revisão da Constituição; membro da Comissão
Revisora das Leis do Ministério da Justiça e Negócios Interiores e, finalmente,
a partir de 1940, ministro do Tribunal de Contas da República.

Depois de estudar e investigar, durante anos, as questões da formação


brasileira, publicou Populações meridionais do Brasil, em 1922, que logo
obteve êxito extraordinário, tornando-se uma obra básica de nossa cultura. E
Oliveira Viana ascendeu à situação de mestre e um dos líderes mentais da
geração.

Os livros subseqüentes, Pequenos estudos de psicologia social (1921) e


Evolução do povo brasileiro (1923), confirmaram essa posição. Uma de suas
obras mais conceituadas, Raça e assimilação (1932), teve imensa
repercussão, principalmente porque, defendendo a necessidade do
caldeamento da raça negra, que julgava indispensável à integração do negro
na sociedade universal, estabeleceu razões para longas e eruditas polêmicas.
Alcançou exatamente a finalidade que pretendeu atingir: chamar a atenção
para o problema e determinar a manifestação dos estudiosos. Dois outros livros
de Oliveira Viana vieram provar, em segundas edições, o prestígio do mestre:
O ocaso do Império (1925) e O idealismo na Constituição (1927).

Especializado em questões trabalhistas, por força da função que exercia


no Ministério do Trabalho, logo no início desse importante órgão da vida
nacional, Oliveira Viana colaborou eficientemente na organização da legislação
especial, cujo conjunto, embora incompleto, constitui uma base respeitável
para a atual legislação trabalhista. Foi, com vários outros estudiosos das
questões sociais, organizador da lei relativa ao imposto sindical e da qual fixou
normas para o quadro das atividades e profissões.

A trajetória de Oliveira Viana recomendava-o plenamente para a


Academia Brasileira. Após o seu ingresso, publicou mais três livros
fundamentais, entre os quais Instituições políticas brasileiras, em dois volumes,
obra considerada, até hoje, um dos trabalhos mais sérios, no Brasil, no capítulo
desses altos estudos.

Tornou-se membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e dos


seus congêneres do Pará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará; da
Academia Fluminense de Letras; da Société des Américanistes, de Paris; do
Instituto Internacional de Antropologia; da Academia de História de Portugal; da
Academia Dominicana de História e da Sociedade de Antropologia e Etnologia
do Porto.

Obras: Populações meridionais do Brasil (1920); Pequenos estudos de


psicologia social (1921); O idealismo na evolução política do Império e da
República (1922); Evolução do povo brasileiro (1923); O ocaso do Império
(1925); O idealismo na Constituição (1927); Problemas de política objetiva
(1930); Raça e assimilação (1932); Formation ethnique du Brésil coloniel
(1932); Problemas do Direito corporativo (1938); As novas diretrizes da política
social (1939); Os grandes problemas sociais (1942); Instituições políticas
brasileiras, 2 vols. (1949); Introdução à história social da economia pré-
capitalista no Brasil (1958).

Referência

Disponível em www.academia.org.br, acessado em 29 de Maio, 2010 às


21:00hs

ALBERTO TORRES – VIDA E OBRA

Nasceu em 26 de novembro de 1865 na Fazenda Rio Seco, Porto de


Caxias, RJ Brasil. Foi político, jornalista e bacharel em direito. Também foi um
pensador social brasileiro preocupado com questões da unidade nacional e da
organização social brasileira.
Depois de completar os estudos secundários no Rio de Janeiro, Alberto
de Seixas Martins Torres cursou, inicialmente, Medicina, optando, pouco tempo
depois, pelo Direito, primeiro em São Paulo e, em 1885, no Recife, onde se
forma.

Passa, então, a trabalhar como advogado no Rio de Janeiro, onde


também atua como político e jornalista. Torres foi deputado à Assembleia
Constituinte do Estado do Rio de Janeiro (1892), deputado federal, ministro da
Justiça e Negócios Interiores, presidente do Estado do Rio de Janeiro e
ministro do Supremo Tribunal Federal, onde se aposentou, em 1909, por
motivos de saúde.

Foi abolicionista e republicano convicto desde os tempos de juventude.


Mais tarde, seus ideais concentraram-se no pacifismo internacional, voltando-
se, finalmente, para uma concepção nacionalista da história, despertada,
durante sua segunda legislatura federal, quando da discussão de projetos
sobre seguros e remessa de lucros para o exterior.

Sempre escrevendo na imprensa, suas principais obras - A organização


nacional e O problema nacional - nasceram de artigos publicados no Diário de
Notícias e no Jornal do Comércio. Nesses dois livros, Torres defende suas
ideias nacionalistas.

Da constante preocupação de Alberto Torres com a realidade brasileira,


nasceu sua proposta de reforma da Constituição de 1891, na qual ele propunha
um legislativo que também representasse as classes profissionais e a criação
de um Poder Coordenador, espécie de Poder Moderador e Conselho de Estado
republicanos.

Em sua obra refutava as teses tanto do socialismo como do


individualismos como incompatíveis à realidade brasileira e responsáveis por
sua desagregação. Cumpria, ao seu entender, conhecer objetivamente a
sociedade brasileira para que se pudesse propor mudanças pragmáticas e
soluções aos problemas encontrados. Isto só se faria com o entendimento da
realidade social enquanto unidade nacional tendo um Estado forte a sua frente
que conduzisse tais mudanças necessárias.

Faleceu em 26 de Março de 1917 na cidade do Rio de Janeiro.

Referência

Disponível em www.academia.org.br, acessado em 29 de Maio, 2010 às


23:00hs
OLIVEIRA VIANNA

Influências recebidas

Engenheiro católico Francês Pierre Guillaume-Frederic Le Play – Escola


sociológica Le Play – método na construção de tipos regionais com base em
fatos sociais;

Psicologia Social de Gustave Le Bon – idéia da existência de alma da raça ou


caráter nacional ( as raças se distinguem não tanto pelas características
físicas, mas peos traços psicológicos, havendo assim hierarquia entre elas)

Antropologia Física de G. Vacher de Lapouge – protagonismo da raça ariana

Brasileiros

Silvio Romero – O.V. teve acesso às obras de Le Play

Euclides da Cunha – Os sertões – a existência de dois brasis, o país legal e o


país real

Alberto Torres – Pensamento autoritário sobre a organização política nacional.


Escritores críticos da República Velha, forma uma Escola crítica sobre a
Constituição Republicana alegando que o texto proposto desconhece as reais
condições brasileiras.

Capristano de Abreu – Reveladora da diversidade, descontinuidade e fraturas


da unidade nacional como proposta pelo voluntarismo unitarista, compreendido
como forma de se evitar o conflito social e ou político que se poderia manejar
da mais apropriada diversidade.

Visconde do Uruguai – afirma que os liberais desejam adotar instituições


estrangeiras sem adequá-las ás condições do país, O.V denomina de
“idealismo utópico ou constitucional”

PRINCIPAIS ABORDAGENS NO LIVRO POPULAÇÕES MERIDIONAIS

Livro composto por dois volumes: o primeiro dedicado às populações rurais do


centro-sul (paulistas, fluminenses e mineiros); o segundo ao “campeador rio-
grandense”. Foi desenvolvido com o objetivo de elucidar as instituições e a
psicologia política das populações rurais do norte, do centro-sul e do extremo
sul do país.
Ressalta a originalidade das condições do povo brasileiro, como sendo
desconsiderada por nossas elites dirigentes (políticos e intelectuais) que
sempre se guiavam pelas turbulências dos países europeus e americanos.

Crítica o método adotado por Rui Barbosa para definir as instituições políticas

Utiliza metodologia sociológica defendendo que o estudo do Estado precisa


apreender as condições da vida social e cultural do seu povo.

Ao estudar o direito público brasileiro, o autor parte do que ele denomina de


direito público costumeiro existente na dinâmica da vida cotidiana do povo-
massa e não do direito lei outorgado pelas elites.

Como Le Play, o autor acredita que o meio social interfere na conformação dos
grupos sociais, influenciando-os de forma determinante. Nessa perspectiva,
defende ele que os grupos tipo urbanos são variantes dos grupos rurais e por
isso, o interior seria mais importante num estudo sobre nacionalidade.

Defende a existência de Três diferentes sociedades: a dos sertões


(sertanejo), a das matas (o matuto), a dos pampas (gaúcho). Preponderou
sua narrativa sobre o matuto, habitante do centro-sul, cujo foco geográfico
centralizava, desde antes da independência, o governo central – compreende a
região de montanhosas do Rio, maciço continental de Minas e platô agrícola de
São Paulo.

Tese de que a extensão territorial do país colonizado por Portugal, tornariam


instáveis as relações sociais, surgindo a escravidão como uma forma de
disciplinar a força de trabalho e também como resposta à escassa mão de
obras frente à abundância da terra.

A estrutura da sociedade colonial se dividia entra latifundiários e escravos,


aparecendo entre esse dois, a plebe rural. Pressuposto da seleção racial
termina sendo o critério de divisão desses grupos. O primeiro, advinha da raça
superiores de imigrantes; os mestiços, resultantes da miscigenação dos nativos
com os primeiros, ajudavam na civilização do país, mas sem ascender à classe
superiores; os negros, aos escravos.

Defende a supremacia da raça ariana sobre as demais e simpatiza com a


teoria do branqueamento.

Autor deteve imagem de racista e autoritário, reacionista da classe dominante


brasileira, sendo muito criticado por Astrogildo Pereira,Gilberto Freire e Sergio
Buarque de Hollanda.

Busca explicar nas raízes coloniais de miscigenação a ausência de unidade


nacional. Acreditando na ciência, identifica-se como idealista orgânico por
reconhecer a realidade histórica do país, contrapondo-se aos idealistas
utópicos que insistem em importar para o Brasil, os modelos de organização
social e política de outros países.

PRINCIPAIS ABORDAGENS NO LIVRO O SONHO DE UMA NAÇÃO


SOLIDÁRIA

FATORES QUE PARTICULARIZAM A HISTÓRIA DO POVO BRASILEIRO

1. Dispersão geográfica

2. Defectiva de nossas classe sociais – não temos classe populares


organizadas, não temos classe média, não temos uma aristocracia;

3. Diferenças de mentalidades entre as diversas regiões do país.

Atendendo a essas particularidades da história nacional, se impõe que o


Estado assuma a obrigação de organizar a sociedade compreendendo-a
como uma “força centrífuga, sempre pronta a obstaculizar e destruir o
idealismo utópico pensa ser o melhor por ser importado e que o
idealismo orgânico deve estar sempre atento para impor-lhe uma força
centrífuga contrária e ainda mais poderosa”

Projeto educacional deve reforçar o poder centrípeto do Estado,


pela criação de uma consciência dos direitos da coletividade em
detrimento dos direitos particulares e particularistas.

TRÊS PRINCÍPIOS QUE CONFORMAM A VISÃO POLÍTICA DE


OLIVEIRA VIANNA

1. Espaço geográfico brasileiro – Caracterizado pela imensa


extensão territorial guarda uma diversidade de acidentes geográficos
que obstacula a ação do homem criando nichos habitados por
populações com culturas próprias. Esses trechos territoriais
delimitados, são latifúndios que permitem não só a apropriação
demográfica, como também a apropriação econômica, social,
política, cultural e familiar. Esse mundo do latifúndio atual como
agente simplificador das relações sociais, por que tornam-se auto-
suficientes, impedindo assim o surgimento nele de outras atividades
comerciais e em conseqüência, de novas classes sociais como
burguesia comercial.
Nação é o que se chama de solidariedade social, ou seja o interesse
coletivo impedido pelos limites impostos pelos acidentes geográficos
da imensa terra brasileira.

O latifúndio se constitui no centro da miscigenação através do


cruzamento das três raças de nossa formação étnica, sendo assim
um dos modeladores de nossa identidade e também o que nos
diferencia de outros povos. Como conseqüência do isolamento dos
latifúndios, desenvolve-se um forte sentimento de individualismo para
sustentação do clã, sendo esta uma força poderosa que se opõe aos
ideais democráticos e se organiza em torno do proprietário rural e
nessa predominância, a solidariedade que se cria é tão apenas a
solidariedade parental, defendendo-se contra outros poderosos e até
o próprio Estado. A essa desorganização, ele chama de “anarquia
branca”

Para conseguir os ideais democráticos de uma nação solidária é


preciso corrigir os incovenientes da amplitude geográfica e
aumentando a circulação política.

Idealismo utópico associado aos liberais

Idealismo orgânico, associado aos conservadores, corrente


defendida pelo autor

É então no campo que se forma a nossa raça e se elaboram as


forças íntimas de nossa civilização no clã e no homem rural, temos
nossa identidade original. O comportamento das elites na república
se modifica e ao se modificar, vivemos uma degenerescência do
caráter nacional.

Na apropriação da terra temos a origem dos males que nos assolam


em razão da dispersão e da vastidão do nosso território, mas daí
também nascem nossas melhores qualidades e tributos que
conformam o caráter nacional.

2. Estado

Tratando do período colonial, o autor defende que nessa fase, o


Estado soube se manter a serviço de preservar os interesse da
Coroa portuguesa através da descentralização administrativa, não
obstante fosse a dispersão territorial, contudo, após a independência,
uma política descentralizada não poderia ser aplicada, pois o Estado
deixa de ser mero agente arrecadador e se reveste da missão de
operar as condições para se encontrar o caminho de construção da
nova nação. Para tanto, deve utilizar-se de uma unidade territorial e
política que sujeite o clã regional ao interesse coletivo.

Para ele, é preciso impor uma ação integradora devendo o Estado se


fazer presente em todo o vasto território nacional, mas não se
sujeitando às condições locais e sim, como uma força integradora e
de unidade. A serviço desse propósito, segundo ele, nasceu dos
políticos conservadores do império, o golpe da maioridade do
imperador que finaliza o período de regências e ainda por meio da
interpretação do Ato Adicional de 1840.

Concebendo o Estado como uma realidade social, entende ele que


este é o instrumento mais adequado para intervir e modificar a
realidade, ou seja, pelo conhecimento positivo da realidade, o estado
detém as condições para sua ação. Três aspectos se derivam desta
tese:

• uma leitura fundante de nossa história,

• o conceito pragmático do Estado que o transforma num


instrumento privilegiado para a constituição da nação,

• um programa de reformas baseado nos dois anteriores.

Sua proposta para organizar a sociedade de classe até então


inexistente no país, é primeiro, fazer com que os organismos
políticos sejam expressão destas classes para que estas se formem
e tenham consciência de sua força e poder (Direitos políticos),
depois, criar um Poder executivo forte e uno capaz de governar
acima dos homens e dos clãs, fundamentando-se no interesse da
nação.Com direitos absolutos reservados a Nação, cabe aos Estados
apenas as funções por ela delegados.

União, Poder Executivo e Poder Judiciário, cabendo a este último o


papel de conter o primeiro nos seus excessos, como também,
reforçar o seu papel na organização da justiça federal em detrimento
das justiças dos estados e dos municípios, pois que estas sempre
estarão mais abertas às influências locais e regionais.

Três princípios são necessários párea consolidar a integração da


nacionalidade: o princípio da unidade política, o da continuidade
administrativa e por último, o da supremacia da autoridade
central.

O Poder judiciário nesse contexto garante a liberdade civil que


confiando poder judiciário forte e centralizado, deve ser criada e
incentivada como conseqüência de uma organização mais forte da
justiça.

Executivo e Judiciário se colocam como poderes independentes e


afastados para que se preserve a realização de suas respectivas
funções.

Ao insucesso da Constituição de 1891, o autor atribui suas causas às


condições econômicas precárias no período pós abolição, mas
sobretudo, à ausência de uma opinião pública no país, pois entende
ele que a opinião pública organizada num país, é o meio de cultura
adequado a manter vivo o organismo estatal que por sua vez, é seu
próprio criador, colocando-a assim no centro de uma sociedade
democrática.

3. Educação

Impõe urgência de reformas socioeconômicas para estabelecer as


diferenciações entre as classe sociais, definindo-se assim o que cabe
ao Estado ensinar a cada uma delas, a fim de manter o interesse
coletivo na unidade nacional.

Educação paulatinamente programada para os interesses da nação.

Desenvolvida no sentido de criar no povo a consciência dos direitos


de cidadão e dos deveres cívicos em relação ao outro e à Nação.

Educação deve ser monopólio do governo federal para imprimir as


diretrizes nacionais ao problema da cultura e da educação do povo,
ou seja, seu objetivo é precipuamente a formação de um cidadão
nacionalista, cônscio de seu papel na sociedade solidária.

Com isso, ele defende a idéia de que o projeto de nação solidária, ou


seja, o bem comum, somente se fazia possível se estas idéias
fossem ensinadas e difundidas entre o povo.

PRINCIPAIS ABORDAGENS NO LIVRO INSTITUIÇÕES POLÍTICAS


BRASILEIRAS

Resulta do movimento de idéias antiliberais no Ocidente no período entre 1920


e 1930;

Crítica dos desacertos de nossa organização política e um grande ensaio sobre


os fundamentos históricos e sociais da política brasileira;

O tema central é a distância entre o país legal (registrado nas leis e códigos) e
o país real (comportamentos e tradições do povo rural). O primeiro é o país das
elites cosmopolitas e metropolitanas, o segundo, é a terra do povo
eminentemente rural com suas crenças, tradições e costumes. O país
idealizado na constituição de 1981 se opõe ao Brasil profundo.

Direito-lei e Direito-costume – o primeiro obra das elites de juristas liberais


materializa-se nas leis, códigos e constituições. O segundo, é criado pelo povo-
massa e sua mais autêntica expressão é constituído por sistemas orgânicos de
normas fluidas nos grupos sociais e não sistematizadas;

O desencontro desses dois direitos no Brasil é a oposição entre duas culturas


políticas diversas: a das elites metropolitanas e a da massa de população rural,
o povo massa.

As reformas políticas portanto, não podem resumir-se a mudanças nas leis,


elas requerem alteração no comportamento coletivo e, portanto, na cultura
política.

A colonização portuguesa na América foi essencialmente antiurbana, privatista


e antiigualitária, favorecendo a dispersão no amplo território brasileiro e o
centro da gravidade do poder era a propriedade rural, o latifúndio,
autosuficiente, o qual, produziu o clã parental e o clã feudal.

Clã feudal – autosuficiente, brota da grande propriedade rural com estrutura


complexa e hierarquizada, onde está no topo o senhor do feudo e sua família.

Clã parental – Organização aristocrática moldada pelo complexo da família


senhoral, um dos principais agentes de formação do direito público costumeiro.

Estes dois definem as feições da vida pública do Brasil colonial, deixando o


legado de uma cultura política privatista, particularista, localista e paternalista
autoritária e sobre esse terreno, as elites que fizeram a independência,
quiseram edificar a democracia.

A instituição do sufrágio universal transformou os dois clãs em clãs eleitorais de


base municipal.

A ruptura do estatuto colonial ocorreu no plano político, mas não alterou a


essência das verdadeiras instituições políticas brasileiras;

A república colocou no centro da vida política o mecanismo eleitoral fazendo o


país prisioneiro de seu passado, pois que abriu as portas para o povo massa
com o direito costumeiro se instalar.

Resultado do idealismo utópico as constituições brasileiras de 1824, 1891,


1934 e 1946, as elites tratam os fatos da política do ponto de vista meramente
jurídico, da lei escrita utilizando metodologia dialética importando apenas a
coerência com o sistema de regras abstratas e não sua adequação às
realidades da vida, à sociedade e seus costumes. É a expressão de um
fenômeno social típico dos países atrasados: o marginalismo das elites.

Rui Barbosa com seu formalismo jurisdicista é a expressão mais elevada do


idealismo utópico e do marginalismo, desconhecendo o Brasil real, utilizava-se
da metodologia clássica ou dialética do direito público, à qual o autor,
contrapunha a metodologia objetiva e realista de Alberto Torres e seu próprio
método sociológico.

Faltaram a Torres, segundo propõe Oliveira Vianna, os instrumentos das


ciências sócias para, partir do método sociológico, desvendar a verdadeira
íntimas das instituições políticas do direito costumeiro do povo.

Para ele, a verdadeira reforma precisava partir desse princípio do direito


costumeiro.

Defende que a base de reforma precisa partir do princípio de mudanças


exógenas, resultantes da decisão consciente de mudar e que se materializa
num plano de reformas de uma elite. No modelo autoritário, o Estado usa da
coação para obrigar o povo a mudar de conduta, partindo do que ele denomina
de realidade social.

Desafio da reforma política no país é desenhar instituições capazes de


neutralizar ou ao menos reduzir, a influência adversa do espírito de clã e por
isso não se deve confiar na técnica liberal, é preciso recorrer a certa dose de
coação.

Agende de mudanças propostas envolve três dimensões:

• Estruturas do Estado e sua relação com os partidos;

• Os mecanismos de escolha dos governantes;

• Formas de garantia das liberdades civis

Dentre estas, acredita ele que o grande problema da democracia


brasileira está na garantia das liberdades individuais e civis, por isso, as
reformas do sistema judiciário e da estrutura de polícia são colocadas no
centro das mudanças institucionais necessárias, defendendo a
existência de uma justiça federal e uma polícia também federal
subtraindo-as do controle político dos detentores locais;

Pensamento autoritário ou autoritarismo instrumental do autor nessa obra


foram fundamentais para a construção de uma visão peculiar dos problemas
brasileiros e suas soluções, bem como para fornecer a rationale da experiência
autocrática inaugurada com a Revolução de 30 e encerrada com a queda do
Estado Novo em 1945;
Seu nucleio é a intervenção deliberada do Estado como condição indispensável
à transformação do país, o qual, numa ação modernizadora, concentraria a
capacidade decisória no Poder executivo, única instância apta a representar a
idéia de nação a construir.

O legislativo seria o território dos interesses particularistas, portanto,


conservadores, do mesmo modo que os partidos seriam o veículo privilegiado
de sua expressão.

CONCLUSÃO

“idealismo orgânico” e “idealismo constitucional”, formulados


originalmente por Oliveira Vianna em O Idealismo da Constituição,
seriam capazes – desde que criticamente reelaborados – de descrever
e analisar as principais “formas de pensamento” que do último
quartel do século XIX para cá dominaram o pensamento político e
social brasileiro (Brandão, 2007, p.29).

Paulino José Soares de Souza, o Visconde de Uruguai, os costumes


teriam precedência sobre as leis. A precedência das leis sobre os
costumes seria característica do pensamento liberal.

Objetivo analisar o pensamento conservador no Brasil entre os anos


1870 e 1930,
buscando compreender de que forma alguns dos seus principais
representantes
analisaram a relação entre Estado e Sociedade. Propomo-nos a
estudar esta linhagem que se aproxima do que Oliveira Vianna,
chamou de “idealismo orgânico”, e que remontaria aos
conservadores do Império, em grande parte ao Visconde de Uruguai,
o “patriarca" da linhagem conservadora, conforme nos apontam
Carvalho (1993), Brandão (2007) e Ferreira (2009). Por isso o recorte
temporal proposto, iniciando nas últimas décadas do período
monárquico e estendendo-se até 1930. Nesse período teriam sido
plantadas algumas das principais bases do pensamento conservador
no Brasil, bem como determinadas visões da Sociedade e do Estado e
da relação entre ambos.
Para tanto, a fim de delimitarmos o nosso objeto de pesquisa, nos
detemos aqui em
dois representantes emblemáticos desta “linhagem”: Alberto Torres e
Oliveira Vianna. O primeiro, visto como antecessor do segundo –
Vianna, por diversas vezes, chamara Alberto Torres de seu “mestre e
precursor” – escreveu e publicou suas obras na década de 10,
falecendo em 1917, portanto, antes de assistir à crise final da
Primeira República. Oliveira Vianna, que tem obra tardia, foi bastante
influenciado por Torres e é considerado um idealizador do novo
regime varguista. Ambos, admitimos isto como hipótese, fazem parte
de uma “linhagem” de caráter conservador, esta, por sua vez,
configurada e delineada em grande parte pelo próprio Vianna.
Alberto Torres e Oliveira Vianna escrevem suas principais obras no
contexto da Primeira República, ou da “República Velha” de Vargas. O
primeiro ainda impactado pela transição da Monarquia para a
República, do trabalho escravo para o trabalho assalariado, e o
segundo num momento de crítica e crise das instituições políticas da I
República. Nosso objetivo, a partir da leitura de algumas de suas
principais obras, é entender como esses autores pensaram o Brasil,
sobretudo, quanto às relações entre Estado e Sociedade, encontrando
as conexões e afastamentos entre eles, bem como os situando no
debate político-social mais amplo do período. Buscamos elementos
para compreender de que modo esses autores, enfrentaram questões
como:

Para deixar as coisas um pouco mais claras e delineadas, a nossa


problemática de
pesquisa resume-se a investigar: Se é possível configurar uma
“identidade de
pensamento” entre Alberto Torres e Oliveira Vianna, a partir
dos “diagnósticos” e propostas de “profilaxia” que ambos os
autores fazem do Brasil – promovendo as aproximações e os
distanciamentos necessários –, a qual nos permita considerá-
los parte de uma mesma linhagem do pensamento político
brasileiro, no caso, a conservadora, que, seguindo os
argumentos de Carvalho (1993) e Brandão (2007), remontaria
em boa parte ao Visconde de Uruguai e ao próprio Vianna?

O “conservantismo brasileiro”, uma destas “famílias intelectuais”


que, segundo Gildo Brandão, “estruturam historicamente o
pensamento político, e por essa via, a luta ideológica e política no
Brasil” (Brandão, 2007, p.15). Por meio da análise do pensamento de
seus principais expoentes, objetivamos localizar o “lugar comum” (ou
melhor, os “lugares comuns”), promovendo as aproximações
possíveis e os distanciamentos necessários, de onde esses autores,
“pensando o Brasil”, procuraram responder aos problemas postos
pelo desenvolvimento sócio-histórico do país. Buscamos como –
circunscrevendo a “filiação das idéias” com suas “permanências” e
“clivagens” – é possível configurar uma “identidade de pensamento”,
aparente e/ou latente, dos autores analisados, a fim de nos permitir
inseri-los numa mesma linhagem, no caso, a conservadora.
Objetivo de nossas elites políticas e intelectuais desde a nossa
Independência sempre foi implantar aqui uma “ordem liberal
burguesa”. Liberais e conservadores difeririam apenas em meios e
não em fins. Em uma vertente, teríamos os “liberais doutrinários”,
nos quais se incluem Tavares Bastos, Ruy Barbosa e Joaquim Nabuco,
para os quais teríamos edificar uma sociedade liberal por meio de um
Estado liberal, com base nos pressupostos da democracia liberal
clássica representativa. Noutra corrente, teríamos os “autoritários
instrumentais”, onde se insere Oliveira Vianna (e de certo modo
Alberto Torres e até mesmo Visconde de Uruguai), aos quais, segundo
Santos, o exercício autoritário do poder seria apenas um instrumento
para se edificar uma sociedade liberal no Brasil; o “autoritarismo de
Estado” seria um “meio” para chegarmos a uma sociedade liberal
burguesa, com a neutralização da ação nociva do poder privado e a
construção de uma verdadeira ordem pública, capaz de assegurar os
direitos civis a todos os cidadãos e abrir caminho para uma
democracia liberal. O Estado autoritário seria apenas um momento de
“transição” a uma sociedade democrática. E por fim, teríamos os
“autoritários puros”, tendo Azevedo Amaral, Francisco Campos e os
integralistas como seus representantes, “autoritários puros” que
teriam, estes sim, por fim, de acordo com W.G.dos Santos, um Estado
autoritário permanente, tutor da Sociedade disruptiva e centrífuga
brasileira.

Aproximação entre os dois

Não é a toa que o próprio Oliveira Vianna reconhecia Alberto Torres


como seu “mestre e precursor”. Os dois, inclusive, se conheceram e
conviveram em vida (o “jovem” Oliveira Vianna era um dos
freqüentadores assíduos da casa de Alberto Torres). Reconhecimento
este que, por parte de Vianna, duraria até mesmo após a morte do
seu “mestre” em 1917, sendo o “aprendiz” um dos membros
fundadores da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, em 1932, na
cidade do Rio de Janeiro (que teve filiais em outros Estados), a qual
tinha por objetivo estudar a sua obra e os problemas do país.

Tanto para Alberto Torres como para Oliveira Vianna teríamos no


Brasil duas sociedades justapostas: de um lado e em embaixo, uma
massa de miseráveis, ignaros e pobres, carentes de assistência social
e econômica – a “nossa gente” de Alberto Torres ou o “povo-
massa” de Oliveira Vianna –; de outro e acima, uma elite
“intelectualizada” e 25 letrada, de cultura “livresca”, dirigente da
nossa política, mas alheia aos fatos da nossa vida social, “esnobe” ou
envergonhada das nossas classes menos abastadas.

As nossas leis não seriam derivadas dos nossos costumes,


transubstanciações dos comportamentos e práticas do nosso povo.
Seriam antes meras abstrações, frutos do “diletantismo” e
“intelectualismo” das nossas elites e do seu apego às belas formas.

As nossas constituições, as quais deveriam ser as expressões


máximas das normas de conduta da nossa vida social e política
embasadas nesta própria conduta, não seriam “leis orgânicas”, mas
apenas “leis teóricas”, como assevera Alberto Torres.
Obras rebuscadas de juridicatura, mosaicos da transplantação das
idéias mais “avançadas”, muitas vezes contraditórias, dos grandes
centros. Assim teria sido com a nossa Constituição Monárquica de
1824, assim como com a Constituição Republicana de 1891. O
resultado dessas “idéias fora do lugar” e da “alienação” de nossas
elites acerca da nossa “realidade” nacional seria a separação, no
Brasil, da política e da vida social, nos dizeres de Torres:

Ou, se preferirmos, a distância entre o “país real” e o “país legal”, nas


palavras de Vianna. Haveria aqui, portanto, um “divórcio” entre
Estado e Sociedade. Nossas instituições políticas, instâncias de
organização da vida coletiva, não teriam uma base social própria.
Pelo contrário, o aparelhamento político-administrativo (o Estado)
estaria em pleno desacordo e em oposição a esta. O Estado não seria
fruto do “pacto social”, emanado da própria Sociedade.

Para Torres e Vianna teríamos de superar essa situação de


dependência e reprodução de idéias exóticas, a “situação colonial”
das nossas idéias – as quais seriam próprias e funcionais nos seus
contextos de origem – para produzir idéias nossas, originais, advindas
das nossas especificidades, próprias do nosso contexto.

De antemão, é possível afirmar que, para ambos os autores (Alberto


Torres e Oliveira Vianna), os mais de quatro séculos em que “fomos”
colônia de Portugal constituiriam a nossa “marca de nascença”,
período no qual teria se configurado boa parte do que “somos”. A
forma como teria se dado a adaptação do colonizador ao nosso meio
e os seus efeitos colaterais adquire importância fundamental na
análise que Torres e Vianna fazem da nossa “formação nacional”

Pois, para eles, que poderiam ser situados numa longa linhagem,
como sugere Brandão (2007), que remonta à Montesquieu,“o espaço
geográfico é uma dimensão essencial da forma pela qual as
sociedades se organizam”. A noção de “Nação”, para Torres e Vianna,
estaria intimamente ligada com a noção de “território”.

Apesar de Oliveira Vianna ainda compartilhar de uma visão


tradicional da questão
racial no Brasil – e é neste ponto que mais se distancia de Alberto
Torres –, de uma
hierarquia biológica entre as raças, tendo o branco, o “ariano”, ainda
que aclimatado”, por elemento superior, como demonstram
argumentos presentes, sobretudo, em Raça e Assimilação (1932),
com o seu elogio ao “dolicocéfalo louro”, e a tese de que a
aristocracia rural teria sido “o centro de polarização dos elementos
arianos da sociedade”, para Torres e Vianna, o “meio” seria fator
mais determinante na formação nacional do que a “raça”. A origem
dos nossos problemas enquanto Nação, para eles, não estaria (ou
exclusivamente) no “caldeamento” das raças que compuseram o
nosso povo (o branco, o negro e o indio), tal como queriam as
famigeradas teorias raciais sobre o Brasil – ainda que Oliveira Vianna
tenha traços da “ideologia do branqueamento”, mas sim na forma
como se deu historicamente a adaptação do homem brasileiro ao
meio “centrífugo” americano.

Torres, Para ele, aproximando-se de argumentos já presentes em


Manoel Bomfim desde 1905, as teorias raciais seriam “ideologias dos
povos dominantes”disfarçadas de “ciência”. Surgidas em meados do
século XIX e predominantes até, pelo menos, o início do século XX,
seriam uma reação ao princípio de igualdade humana proclamado no
fim do século XVIII, principalmente, pós-Revolução Francesa. Ao ver
de Alberto Torres, não haveria uma diferença inata entre os seres
humanos.

Oliveira Vianna também revê, ao longo de sua trajetória intelectual, o


problema
das “raças” no Brasil. Seja pela árdua crítica que recebeu sobre isso,
seja pelo impacto em sua obra dos grandes acontecimentos da
primeira metade do século XX, sobretudo, a Segunda Grande Guerra
e o Holocausto em nome da “raça ariana”, em Instituições Políticas
Brasileiras (1949), publicada pouco tempo antes de sua morte em
1951, a questão racial nem sequer aparece problematizada na
análise. O fator “raça”, deste modo, adquire para Torres e Vianna, um
papel secundário em seus “retratos do Brasil”. Mesmo quando ganha
destaque em Oliveira Vianna, o “meio” aparece como um fator mais
preponderante. Isto se dá pelo fato de que para eles a forma como se
deu historicamente a adaptação do homem ao seu meio físico e social
não só determina a sua organização social, mas também a sua
“cultura”, a sua psicologia, a sua “mentalidade política”, em suma, as
nossas “idiossincrasias” que teríamos de considerar na edificação dos
nossos regimes políticos “orgânicos” e “racionais”.
Como se vê, para Torres e Vianna, o nosso maior problema seria
justamente a “falta da Nação” que os mais de quatro séculos de
colonização não foram capazes de gerar. A Nação só existiria de
direito, nas letras refinadas das Constituições “soberbas” dos nossos
reformadores políticos. A nação, de fato, seria uma obra ainda a ser
feita. Não pela própria sociedade, que pela sua inorganicidade seria
incapaz de formar ela mesma a Nação, mas uma “obra de arquitetura
política”.

Pois bem, para Torres e Vianna, só um Estado orgânico, racional e


consciente das
nossas debilidades seria dotado de força suficiente para dar forma à
sociedade informe, capaz de transformar o “povo-massa” – e este
adjetivo substantivado não é usado aleatoriamente por Oliveira
Vianna – em uma “comunidade”, base da constituição da nossa
“nacionalidade”.

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