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RESUMO
O trabalho faz uma análise do pensamento acerca da educação no início do século XX,
relacionando o contexto político/social do Brasil e as discussões a respeito da modernização da
educação com a realidade do Rio Grande Norte durante o segundo governo de António José de
Mello e Souza (1920-1923), bem como as políticas educacionais estabelecidas no estado durante
o período. A base do trabalho são as mensagens oficiais do governador elaboradas ao fim de
cada ano do mandato, leis e decretos sancionados no período, relacionadas com a bibliografia
especializada.
Palavras-chave: Educação, Política educacional, Antônio José de Mello e Souza, Rio Grande do
Norte.
ABSTRACT
The paper analyzes the thinking about education in the beginning of the 20th century, relating the
political and social context of Brazil and the discussions regarding the modernization of
education with the reality of Rio Grande Norte during the second government of António José de
Mello and Souza (1920-1923), as well as the educational policies established in the state during
the period. The basis of the work is the official messages of the governor elaborated at the end of
each year of the mandate, laws and decrees sanctioned in the period, related to the specialized
bibliography.
Keywords: Education, Educational policy, Antônio José de Mello e Souza, Rio Grande do
Norte.
INTRODUÇÃO
A educação foi um tema extremamente importante durante o período inicial do século
XX no Brasil. A República recém constituída ansiava fincar sua ideologia no interior da
população brasileira; também resolver os problemas políticos e sociais causados pelos anos de
controle monárquico no país. Nesse contexto, a educação foi vista como uma mola propulsora
para auxiliar a transposição dessas dificuldades. Mas como o Antonio José de Mello e Souza, ou
simplesmente Antonio de Souza (como era conhecido), se envolveu neste contexto?
Antonio de Souza foi duas vezes governador do Rio Grande do Norte, de 1906 a 1908 e
1920 a 1923, e uma vez Secretário Geral da interventoria do Estado, na década de 1930. É
notória a presença de Antonio de Souza como gestor o estado em anos de reformas e leis
históricas na área da educação, principalmente o segundo governo, na década de 1920. Pesquisas
sobre a Instrução Pública no Rio Grande do Norte mencionam a importância das suas gestões,
porém as mensagens oficiais do governo escritas para o Congresso Legislativo do Estado,
contendo informações e percepções sobre as educação local ainda não haviam sido analisadas
dentro de um trabalho historiográfico.
O presente trabalho tem por objetivo principal entender como se deu a expansão da
educação promovida no Rio Grande do Norte durante o segundo governo Antonio de Souza
(1920-1923) através da análise das mensagens oficiais escritas pelo governador ao fim de cada
ano do seu mandato.
Igualmente, perceber como o estado absorveu os debates sobre educação e modernização
que se proliferaram pelo Brasil após a instauração da República e como essas discussões
culminaram na Reforma da Instrução Pública. Por fim, obter dados quantitativos oficiais a
respeitos das crianças em idade escolar e das dos estudantes que recebiam instrução formal no
Rio Grande do Norte.
A pesquisa reflete sobre as mensagens elaboradas pelo governador Antonio de Souza
através da perspectiva de “documento” desenvolvida pelo historiador Jacques Le Goff. Para ele,
“o documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade
que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento
enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo
cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa” (p.545, 1996).
Desta forma as mensagens oficiais do governo são ideias para compreender a visão que
Antonio de Souza tencionava passar aos colegas políticos e à população. As mensagens
possibilitam também fazer uma análise sobre os dados relatados pelo governador, em
comparação com outros documentos e pesquisas acadêmicas feitas sobre o tema.
O primeiro tópico do Desenvolvimento foi intitulado “O excêntrico Dr. Souza” fazendo
uma alusão ao livro homônimo escrito por Manoel Onofre Jr., o único pesquisador no Rio
Grande do Norte que dedicou uma biografia exclusiva para Antonio de Souza. Nele é feita uma
breve apresentação da vida de Antonio de Souza, do trabalho e da tradição política da sua
família.
O segundo ponto, “A Reforma da Instrução Pública: Modernização em foco”, discorre
acerca do cenário político do Brasil no início do século XX que impulsionou o movimento de
reforma da educação para propagação de ideais republicanos e positivistas.
A terceira parte do desenvolvimento, “Apontamentos sobre a expansão educacional
durante o segundo governo Antonio de Souza”, é um resumo das mensagens lidas pelo
governador perante o Congresso Legislativo. Essa parte tem uma subdivisão: 1920; 1921; 1922 e
1923; que representam cada ano da segunda gestão de Antonio de Souza.
O último ponto do desenvolvimento, “A educação feminina durante o segundo governo
de Antonio de Souza”, comenta sobre o aumento do ingressos das mulheres na Instrução
Primária e no Ensino Profissional durante 1920 a 1923. Finalmente, as “Considerações finais”
desenvolve pensamentos surgidos a respeito de alguns fatos e dados percebidos no decorrer da
pesquisa.
DESENVOLVIMENTO
O excêntrico Dr. Souza
O escritor Manoel Onofre Jr. escreveu a única biografia existente sobre Antonio José de
Mello e Souza, o personagem central desta pesquisa. A biografia tem um título curioso que faz o
leitor se questionar sobre a figura biografada: Polycarpo Feitosa, o excêntrico Dr. Souza.
Tal título apresenta dois personagens, Polycarpo Feitosa e Dr. Souza. Esses dois são
representações de uma mesma pessoa, Antonio José de Mello e Souza, que quando escrevia
colunas e textos para jornais assinava como Polycarpo Feitosa, a fim de preservar a sua imagem
pública. O Dr. Souza, por sua vez, é a forma que Manoel Onofre usou para referir-se ao Antonio
de Souza político, que governou o Rio Grande do Norte duas vezes. Apesar dessa espécie de
dupla personalidade, o termo “excêntrico” utilizado na intitulação da biografia não se refere ao
alter ego escritor criado por Antonio de Souza, mas sim a algumas idiossincrasias da sua
personalidade. Voltando a biografia, ela inicia-se com uma nota sobre o biografado que merece
ser registrada:
“Um dos mais ilustres nomes da História do Rio Grande do Norte, Antonio de Souza, não
tem o reconhecimento que merece, seja como escritor (sob o pseudônimo Polycarpo
Feitosa), seja como político e administrador. Além de tudo, ele foi uma figura humana
fora de série, só por isso digno de ser biografado. É preciso resgatá-lo do injusto
ostracismo em que jaz” (Manoel Onofre Jr., 2016, pg. 7).
Câmara Cascudo também disserta sobre Souza na obra Nosso Amigo Castriciano dizendo
o seguinte:
“Dr. Souza (...) foi uma das criaturas mais sugestivas, cultas e típicas com quem privei.
Alto, pálido, míope, surdo, solteirão, com esplêndida biblioteca, lendo em vários idiomas,
irônico, desiludido de promessas e incrédulo dos milagres, com aquele ciúme vigilante
dos Ministros do Império pelos dinheiros públicos, inimigo de pilhérias e familiaridades,
cortês, cerimonioso, era uma exceção polida e grave no cenário tropical da cidade”
(Câmara Cascudo, 1965).
Antonio de Souza tem uma história de vida interessante, nasceu em 1867 na propriedade
do seu pai, o Engenho Capió, na então vila de Papary (atual cidade de Nísia Floresta/RN).
Herdou do pai o nome Antônio José de Mello e Souza, que foi Tenente-Coronel da Guarda
Nacional, chefe do Partido Conservador e Presidente da Câmara Municipal de Papary. Advindo
de um lar abastado, teve contato com as letras e a educação formal desde cedo. Em 1976, com
nove anos de idade, foi estudar em Recife sob os cuidados do padrinho Tarquínio Bráulio de
Souza Amaranto, Deputado Geral. O tempo apenas aumentou a sede literária de Antonio de
Souza, também em Dois Recifes com Sesenta Anos no Meio escreveu:
“[...] só não pedia livros de Direito, que aliás [...] o Dr. Bráulio (em casa de quem se
hospedava) tinha muitos e bons, mas livros de Tyndall sobre física, de Lubbock sobre
história natural, de Topinard sobre antropologia, e sobretudo livros de viagens, pelos
quais tinha um fraco desde… os romances de Júlio Verne” (Polycarpo Feitosa, 1945).
O Dr. Bráulio parte em 1899 para o Rio de Janeiro, então capital do país, para exercer o
mandato de Deputado à Assembleia Geral, Antonio de Souza passa a viver no centro de Recife
acomodado na casa de um primo. A essa altura já havia colado grau em Ciências Jurídicas e
Sociais pela Faculdade de Direito do Recife.
O retorno ao Rio Grande do Norte foi em decorrência de uma necessidade política, indo
trabalhar como Promotor Público de Goianinha. O então Presidente do estado, Tavares de Lyra,
atendendo um pedido do Presidente da República Afonso Pena, renuncia a Presidência estadual
para assumir o cargo de Ministro da Justiça. O vice Manoel Moreira Dias assume interinamente e
convoca eleições a fim de preencher o cargo. A vida pacata de Antônio de Souza sofre uma
metamorfose, pois com indicação de Tavares de Lyra, ganha a eleição e assume o posto de
Presidente do estado.
Inicia-se assim a trajetória política de Antonio de Souza, sendo a figura que mais vezes
administrou o Rio Grande do Norte, foi Governador do Estado duas vezes e ocupou diversos
cargos públicos, incluindo a chefia da Secretaria Geral do Estado após a Revolução de 1930.
A respeito da vida política, em entrevista ao Diário de Pernambuco em 1 de novembro
de 1946, quando já estava aposentado, Antonio de Souza fez um relato sincero, “Não gosto nem
de lembrar que fui governador duas vezes e uma vez interventor interino. Coisa suja essa história
de política”.
Gostando ou não da vida política Antonio de Souza foi responsável por várias mudanças
e modernizações no Rio Grande do Norte. Em 1906 Antonio José de Mello e Souza assume o
governo do Rio Grande do Norte em substituição de Augusto Tavares de Lyra, que foi
convocado para assumir o cargo de Ministro da Justiça e Negócios Interiores do presidente
Affonso Augusto Moreira Penna (1909-1910).
O seu primeiro mandato, não foi muito representativo devido o tempo de gestão reduzido
e problemas de recursos, herdados da gestão Tavares de Lyra. O estado passava por uma severa
seca que prejudicou a agricultura e forçou a migração de várias pessoas para a capital Natal.
Também os saques no comércio local atingiram um nível crítico que afetou a economia do
estado.
Apesar de ter realizado poucas obras, algumas realizações podem ser destacadas nesse
primeiro governo: a reforma do cais Tavares de Lyra; a iluminação a gás de algumas ruas de
Natal; a desobstrução dos canais do vale do Ceará-Mirim; a criação do Grupo Escolar Augusto
Severo em Natal; e o desenvolvimento de um projeto, que foi aprovada pela Assembleia
Legislativa, para a reforma da Instrução Pública.
O segundo governo de Antonio de Souza, no ano 1920, foi bastante diferente do
primeiro, teve como ênfase as áreas da saúde e da educação. Ele promoveu a construção de 54
escolas primárias para homens e mulheres; com a intenção de formar profissionais capacitados
para o magistério estadual nessas escolas, criou em Mossoró uma Escola Normal Primária, onde
acontecia a formação de professoras. Ampliou o Grupo Escolar Frei Miguelinho no qual foi
criado uma Escola Profissional, onde ofertava à população aulas de serralheria, sapataria,
funilaria e etc. Criou a Escola de Farmácia, a primeira instituição de ensino superior do Rio
Grande do Norte. Por último, durante o seu mandato incentivou a criação da Escola Doméstica,
idealizada por Henrique Castriciano que representa um marco para educação feminina do estado.
A medida em envelhecia, Antonio de Souza ia se afastando da vida política e se
concentrando na escrita. Em 1945 se aposentou e foi morar em Recife com duas irmãs, lá
contribuiu como textos para jornais locais e publicou um livro de memórias Dois Recifes com
Sessenta Anos no Meio, que foi assinado como sempre por Polycarpo Feitosa. Antonio José de
Mello e Souza faleceu em Recife, no ano de 1955, de causas naturais. Seus restos mortais estão
enterrados no Cemitério do Alecrim.
1920
Em relação ao Ensino Primário, governador informou que o número de escolas primárias
no estado era insuficiente para atender à população. Segundo ele, o fato se dava por haverem
poucas pessoas aptas a exercerem a função de professor, principalmente nas áreas mais afastadas
da capital, além da falta de recursos financeiros dos municípios. Os professores diplomados pela
Escola Normal trabalhavam em grupos escolares ou nas escola isoladas. Para amenizar a
situação, pessoas sem formação profissional, mas consideradas hábeis foram nomeadas para o
cargo.
Em julho, foram criadas alguns estabelecimentos para ensino: cinco escolas rudimentares,
nos municípios de Lages, Santo Antonio, Flores, Nova Cruz e Touros; um grupo escolar no
Alecrim; uma professora foi contratada para dar aulas em sua residência em Jardim de Angicos;
e uma professora foi contratada para dar aulas na Associação de Pescadores das Rocas.
Estavam em funcionamento 32 grupos escolares, mas apenas um pequeno número (não
informado) funcionava conforme as regras do sistema; a maioria funcionavam como escolas
rudimentares, sem as divisões de classes dos grupos escolares. O número que informa a
quantidade de estudantes matriculados nessas escolas aparece manchado no documento, porém a
média de estudantes frequentes era de 2.625. Os estudantes dos grupos escolares da capital
apresentaram números de frequência quase iguais aos de matrícula, enquanto os grupos do
interior contava com uma frequência de apenas 40 ou 50 colegiais.
Considerando as escolas conhecidas do estado, estimava-se um total de 10.000 mil
crianças recebendo letramento no Rio Grande do Norte, número muito aquém à necessidade da
época, que era de quase 45.000 crianças em idade escolar.
A única Escola Profissional do estado até então era a Escola Normal de Natal, que não
conseguia formar tantos professores quanto o necessário para suprir a demanda do estado.
1921
No que se refere ao Ensino Primário, o governador reforçou a dificuldade para encontrar
professores qualificados e afirmou ser essa a razão de muitos povoados ainda não terem escolas
rudimentares. Um total de 20 escolas foram abertas no ano corrente e quase todas funcionaram
regularmente, a frequência de alunos foi em torno de 30, portanto haviam 600 estudantes sendo
alfabetizados pela escola primária.
Funcionavam no estado 32 grupos escolares, no entanto, poucos estavam corretamente
organizados, mesmo dispondo de prédios para tal. Havia bastante dificuldade para verificar a
frequência de total de estudantes do estado, pois os professores particulares e as escolas
rudimentares não tinham o hábito de enviar os dados escolares ao governo. No entanto,
acreditasse que o número de estudantes nessas organizações representavam o dobro dos
matriculados nos grupos escolares.
Em 14 de fevereiro daquele ano foi criado um curso complementar no Grupo Escolar Frei
Miguelinho. Tendo a duração de dois anos, era um complemento à educação primária, com
informações sobre plantio, criação, comércio e conhecimentos variados.
O Ensino Secundário da capital existia no Atheneu norte riograndense e seu
funcionamento foi normal, apesar da baixa frequência de alunos no seu curso. A matrícula do
ano foi de 32 estudantes divididos entre os quatro anos de curso.
A Escola Normal contou com 107 matrículas e no final de 1921 havia formado 17
professores, dos quais alguns foram providos de cadeiras.
1922
A mensagem de 1922 inicia o tópico sobre Instrução Pública com a afirmação sobre a
melhoria do cenário escolar do estado. Segundo o governador, Natal conta com um bom número
de escolas e professores particulares, ao comparar com cidades com o mesmo número de
população; já nas escolas rudimentares do interior, com frequência de 40 a 50 alunos, ele afirma
que “[...] professoras lutam, com embaraço, para atender moças e rapazes que buscam instrução”
(pág. 14).
Durante o decorrer do ano foram abertas 22 escolas rudimentares em povoados do
interior, todavia, o número ainda é insuficiente para suprir a demanda e alfabetizar a população
em idade escolar. Das escolas criadas, ainda não haviam sido providas com professores as de S.
Sebastião e Almino Affonso, por falta pessoal capacitados para lecionar em tais povoados. As
demais escolas estavam providas prioritariamente por mulheres sem formação das Escolas
Normais.
No ano corrente existiam no estado 404 escolas e estabelecimentos de ensino, sendo: 2
federais; 118 estaduais; 60 municipais e 224 particulares. A matrícula total nas escolas era de
15.048 e a frequência de 12.053. Esses foram apenas os dados verificáveis, com certeza
houveram pequenas escolas em casas particulares, sitios e fazendas que escaparam do censo.
Pode-se acrescentar ainda as escolas temporárias criadas pela Inspetoria de Obras Contra as
Secas, existe registro de uma no município Apodi e uma em Augusto Severo.
Apesar dos números de pessoas recebendo educação serem maiores em 1922 que nos
anos anteriores, esse números não são suficientes, representam apenas 33% das crianças em
idade escolar do estado, o número total estava em torno de 45.000.
Sobre o Ensino Profissional, o governador citou a criação da Escola Normal Primária de
Mossoró, que deveria suprir a demanda de professores formados nas cidades do interior, assim
preencher as cadeiras dos grupos escolares existentes. A escola abriu em março daquele ano e
contou com uma frequência de 37 estudantes, sendo a maioria mulheres.
Foi criada, por decreto de 24 de Abril de 1922, a Escola Profissional do Alecrim, com
oficinas de serralheria, marcenaria, sapataria e funilaria. O governo do estado implantou as
oficinas no Grupo Escolar do Alecrim.
1923
Antonio Souza inicia a mensagem afirmando que para ele o ensino primário foi a
prioridade no setor de ensino do seu governo, várias escolas pelo estado foram criadas e se não
houveram mais não foi por falta de interesse ou finanças, mas por falta de professores
disponíveis. Também menciona o movimento pró-educação levantando no país e diz que ao seu
ver a forma de garantir alfabetização para a população é através das escolas rudimentares.
A lei referente à educação no período determinava que os grupos escolares deveriam
funcionar em um prédio com instalações e mobília adequada para o ensino; por falta de recursos
das municipalidades, o governador relatou que grande parte das organizações de ensino do
estado funcionavam como escolas rudimentares, em casa doadas para o tal fim ou prédios
existentes que se converteram em escolas (pág. 6). Apesar das dificuldades (encontrar
professores e locais adequados) as escolas rudimentares atendiam um público maior que a
capacidade determinada pela lei.
Em 1923 foram subvencionadas três escolas particulares no estado: uma na capital, uma
em Papary e uma em Macaíba. Foram criadas de 17 escolas rudimentares, nos seguintes lugares:
Pirangy, no município de Natal; Salgado, no de Santa Cruz; Serrinha, no de S. Antonio;
Carnaúba, no de Pedro Velho; Campo Redondo, no de Santa Cruz; Epitácio Pessoa, no de
Angicos; Panellas, no de Macahyba; Recanto, no de Curraes Novos; Potengy Pequeno, no de S.
Gonçalo; Caiada de Baixo, no de Macahyba ; Utinga, no de S. Gonçalo; Tibau, no de Goyaninha;
Brejinho, no de S. Antonio;Vera-Cruz, no de S. José de Mipibú; Extremoz, no de Ceará-Mirim;
Ponta Negra, no de Natal, e mais uma no povoado de Italiú, de Apody. Um Grupo Escolar foi
criado na cidade de Macau. Os municípios de Flores, Lages e Touros estavam construindo
edifícios próprios para grupos escolares.
Em 1923 números totais de matrículas e frequências relativas do ano foram 8.924 e
7.149. No entanto, acredita-se que esses dados se referem à menos da metade dos números reais,
pois em 1922 os dados de matrícula e frequência são de 15.048 e 12.053 e em 1923 várias
escolas foram criadas. Tantos as escolas rudimentares como as subvencionadas contam uma uma
frequência acimas das expectativas, consequentemente o censo anual não foi feito corretamente
pelos delegados municipais.
Acerca do Ensino Profissional, Antonio Souza informa que as Escolas Normais da capital
e de Mossoró funcionaram normalmente durante 1923. A escola de Natal formou 17 professores
no primeiro semestre e 3 no segundo semestre letivo.
Foi registado que a Escola Normal de Mossoró formaria uma turma de alunos no ano
seguinte. A matrícula foi do ano de 54 alunos. Uma associação entre professores e alunos da foi
criada na escola de Mossoró com o intuito de fundar escolas rudimentares nas proximidades.
Apenas naquele ano foram criadas 8 escolas desse tipo, inclusive uma noturna para adultos; ao
todo houveram 220 matrículas.
A Escola Profissional do Alecrim funcionou normalmente, com a frequência perfeita. As
matrículas do ano foram de 55, sendo a procurar maior, mas os gabinetes onde acorrem a oficina
não comportam mais gente. Foi relatado o desejo que abrir curso profissionalizantes femininos
posteriormente.
Em 8 de janeiro foi criada uma Escola de Farmácia, primeira instituição de ensino
superior do estado, correspondendo ao decreto estadual 142. Os professores escolhidos para
preencher as cadeiras foram médicos e farmacêuticos conceituados da capital. As aulas estavam
sendo provisoriamente ministradas nos gabinetes do Atheneu Norte-riograndense.
Matricularam-se apenas 4 estudantes que passaram no vestibular, mas a instituição permitiu a
frequência de 22 ouvintes, que viriam a ser matriculados após resolução de questões
burocráticas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escrita literária de Polycarpo Feitosa discorre sobre a modernidade e as mudanças
sofridas por Natal em meio a esse processo que tenta homogeneizar a cultura brasileira nos
moldes da Europa, provocando um distanciamento do que é tradicional do Rio Grande do Norte.
Distanciamento das músicas tradicionais, das vestimentas, mas principalmente do
comportamento esperado das pessoas, principalmente das mulheres. Como romancista, é
possível perceber uma crítica a esse movimento modernizador que alterou o comportamento
social, o status quo da cidade pacata.
Essa forma de pensar se choca com as palavras do homem político apresentado nas
mensagens ao Congresso Legislativo, pois Antonio de Souza como figura política se integrou ao
movimento pela expansão da educação que estava em voga no Brasil e dos ideais republicanos
de progresso. É possível afirmar que o desejo de quietude e conformidade que Polycarpo Feitosa
esperava das mulheres e das convenções sociais não influenciaram a prática política do
governador Antonio de Souza - cujo período de trabalho representou um avanço para o ingressos
das mulheres na Educação Primária, no Ensino Profissional e no Ensino Superior no estado.
Avanço que não atingiu apenas as mulheres, mas as crianças em idade escolar e adultos
analfabetos. A estimativa é que no seu primeiro ano de governo 10.000 mil crianças entre 45.000
mil crianças em idade escolar estavam recebendo instrução no Rio Grande do Norte. Apesar dos
números apresentados não serem precisos, as estimativas expostas em 1923 apontam para o
dobro do número de estudantes, mais de 20.000, devido aos 54 espaços de ensino criados durante
seu governo.
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