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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE HISTÓRIA – INHIS


História do Brasil IV
Prof.º Dr.º Marcelo Lapuente Mahl
Giovana Marchioro da Silva
A obra intitulada A Educação pela noite e outros ensaios1, publicada no Brasil pela
primeira vez em 2006, foi escrita pelo sociólogo, crítico literário, ensaísta e professor
brasileiro Antônio Candido (1918-2017), foi e é considerado um dos grandes maiores nomes
da crítica literária brasileira justamente por suas obras terem transformado a base do debate da
formação literária brasileira ligada a uma construção sociológica e humanista. A obra
completa dispõe de três partes, entretanto são independentes e não há ordem necessária de
leitura. O autor na terceira parte, onde se localiza o tema que será trabalhado A revolução de
1930 e a cultura2, tem como objetivo evidenciar a importância que o movimento armado de
centralização de 1930 teve na cultura brasileira, principalmente no âmbito da ampliação de
produções regionais para o Brasil, associada a abertura instigada pela crescente anexação ao
Modernismo.
A obra se adequa a vertente de História Social e Cultural Brasileira uma vez que
Candido protagoniza uma investigação historiográfica de sujeitos importante à academia
brasileira e realiza interpretações de momentos históricos no Brasil. O autor neste capítulo
conta que nos anos de 1930 pairava na atmosfera o início de uma interregionalisação cultural
e artística, não de forma sedimentar mas de modo com que elementos externos serão
incorporados e trarão um imaginário novo. Uma nova narrativa à história do Brasil.
O autor dirá que tais transformações ocorreram em diversos setores: instrução
pública, vida artística e literária estudos históricos e sociais, meios de difusão cultural como o
livro e o rádio (que teve desenvolvimento espetacular). 3 Tudo estando ligado uma correlação
entre Estado, sociedade, artistas e intelectuais. Devido a tamanha tomada de consciência, o
autor explica que os anos foram precedentes de forte engajamentos políticos, religiosos e
sociais no campo da cultura.
O ensino tem uma nova proporção significativa, agora que de forma ampla, acontece
modernização de métodos pedagógicos e o surgimento de novos campos escolares rurais e
urbanos. O fato da nova ideologia de ensino estar atrelada ao liberalismo incomoda a Igreja
1
CANDIDO, Antônio. A revolução de 1930 e a cultura. A Educação pela noite e outros ensaios. Rio de Janeiro:
Ouro sobre Azul, 2011.
2
CANDIDO, Antônio. A revolução de 1930 e a cultura. A Educação pela noite e outros ensaios. Rio de Janeiro:
Ouro sobre Azul, 2011, p. 181-198.
3
CANDIDO, 2001, p.182
que está comumente acostumada a modos religiosos e tradicionais de ensino. O governo
provisório cria de imediato o Ministério da Educação e Saúde que trará reformas escolares a
níveis nacionais. Para o autor, tratava-se de ampliar e melhorar o recrutamento da massa
votante, e de enriquecer a composição da elite votada. O que evidenciará que o que pareceria
uma revolução, estaria mais atrelada a uma reforma baseada em interesses da elite política no
país. No que diz respeito a educação ainda, houve uma significativa mudança quando se rata
das universidades, o autor explica que à começar pela Universidade de São Paulo, houveram
um boom de novas outras instalações ao longo da extensão territorial do país. Nas artes e na
literatura houve a tentativa de normalização e generalização do campo cultural. Assim,
Candido aponta que o modernismo perdeu sua auréola no Brasil, pois foi ao mesmo tempo
incorporado a hábitos artísticos e literários externos. Cita o hino da revolução de 1930 que é
de autoria de Villa-Lobos no qual exercerá grande participação na Era Vargas. Candido
aponta um enfraquecimento da literatura acadêmica, e a aceitação das inovações formais e
temáticas, levando as literaturas regionais à escala nacional. Ao mesmo tempo, o autor crítica
o purismo gramatical, que adota como modelo a literatura portuguesa.
A década de 1930 se torna o divisor de águas da nação brasileira, a transgressão de
um antigo e superado regime – a República Velha – para um novo momento, conta o autor,
sentiam-se beneficiários da libertação operada pelos modernistas.4 Pensa-se um projeto de
“quem somos?” a partir da realidade social que havia no Brasil e não mais do que se esperava
para essa nação. Neste momento a cultura afro-brasileira começa a se destacar como cultura
nacional, um exemplo disto é o Samba. Quebrando a cultura de fachada. O modernismo talvez
tivera modificado, se não todos, ao menos boa parte das infraestruturas e superestruturas do
país. Houve um grande destaque das literaturas regionais, principalmente com o Romance do
Nordeste. O regionalismo aparece em oposição ao exotismo brasileiro, e passa a ser colocado
como um reflexo das anseios nacionais. Tudo isto estivera presente na emergência do discurso
da miscigenação – negação do racismo – propriamente presente no discurso de que o Brasil
está inserido na Democracia Racial, de que o país fora miscigenado pacificamente. Houve
também nos anos de 1930 uma relação acentuada entre a literatura, as ideologias políticas e
religiosas. Houveram engajamentos espirituais e social dos intelectuais católicos desses anos,
mas para além disto ainda, buscavam um espiritualismo numa espécie ade visão amplificadora
e intensa. O espiritualismo exacerbado tivera levado grandes pensadores a se ligarem
ideologicamente à direita. Flertando até mesmo com o fascismo. Num outro âmbito todas
essas transformações também inflavam os movimentos esquerdistas, um exemplo será a ANL

4
CANDIDO, 2001, p.186
– Aliança Nacional Libertadora, que protagonizará posteriormente em 1935 um dos protestos
mais organizados e que serão reprimidos violentamente em 1937. Muitos eram os múrmuros
sobre as experiências da União Soviética, as bancas derramavam aos montes conteúdos sobre
o assunto. Isso vai alimentar um dos argumentos para a revira volta daquele ano que vai
deixar o governo, ao final, nas mão de Getúlio Vargas. Os anos trinta foi o momento da
grande mudança na Educação, segundo Candido, houveram mudanças na literatura, e nos
estudos sociais. Tais mudanças repercutiram no mercado editorial fazendo com que revistas e
coleções sejam criadas. Um nome importante, um grande literário aparece nesse momento
como um dos precursores desse processo. Monteiro abre uma editora de livros infantis e
didáticos nomeada por Monteiro Lobato e Cia. Depois Cia Editorial Nacional, onde mantem a
qualidade do material por preços acessíveis, tornando assim, a camada popular da sociedade a
ter acesso. Também manteve preferência em autores nacionais. Tudo isto leva a uma
avalanche de publicações de autores nacionais, e o governo aumento o investimento nos livros
nacionais; Livros didáticos, literaturas, sobretudo livros escolares brasileiros para o nível
médio, procurando romper com os velhas historiografias tradicionais. O projeto voo alto,
construiu-se a Biblioteca Pedagógica Brasileira, o mais notável empreendimento editorial nos
anos 1930 e no decorrer do tempo. O autor expressa: no sentido cultural fora positivo,
entretanto, para a camada mais baixa da população quase nada tivera mudado, salvo o ensino
médio e técnico que pudera aumentar a possibilidade de afirmação. Formou-se também um
ideário mais democrático em relação à cultura, sobretudo ao que se tratou da emancipação do
intelectual em relação ao Estado. O intelectual nos ares dos anos trinta, apareceu como
alguém que se opôs à ondem estabelecida. Revolucionários. Muitas vezes deixaram de lado a
dedicação aos aspectos estéticos da obra para manter-se num plano nacional.
O autor traz pontos culturalmente vistos como positivos àquele momento marcado
pela construção de um plano nacional. Um plano que à sua forma, buscou emergir a sociedade
cultural e intelectual sob uma ótica inovadora, deixando conceitos e paradigmas da República
Velha. Mas fez-se necessário resguardar que a condição de uma nova identidade fica muito
mais forte as camadas ascendentes da população. O autor sente em dizer que a larga escala
cultural, as camadas baixas ficaram brevemente de fora.

Referência Bibliográfica
CANDIDO, Antônio. A revolução de 1930 e a cultura. A Educação pela noite e outros
ensaios. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011. Disponível em:
<https://joaocamillopenna.files.wordpress.com/2014/03/antonio-candido-a-educacao-pela-
noite.pdf>.

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