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indo-americano, que
não deverá ser “decalque e cópia” de outras experiências – concretamente,
da União Soviética –, mas sim uma criação heroica dos povos das Américas.
É sem dúvida um dos escritos políticos mais originais e importantes de
Mariátegui.
ao qual não se subtrai nenhum dos países que se movem dentro da órbita da
civilização ocidental. Esta civilização conduz, com forças e meios de que
nenhuma civilização dispôs, à universalidade. A Indo-América, nesta ordem
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sas metafísicas os espíritos incapazes de aceitar e compreender sua época. O
materialismo socialista encerra todas as possibilidades de ascensão espiritual,
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O novo período revolucionário
El movimiento revo-
lucionario latinoamericano, versões da Primeira Conferência Comunista Latino-Americana, junho
de 1929, La correspondencia sudamericana, Buenos Aires, p. 277-79, 290-91.
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O marxismo na América Latina
o pequeno reino ou curacazgo. Mas se desta organização, que entre nós foi a
instituição política intermediária entre o ayllu e o império, desapareceram todos
os elementos coercitivos e de solidariedade, em troca, em algumas regiões pou-
co desenvolvidas o ayllu ou comunidade conservou sua idiossincrasia natural,
seu caráter de instituição quase familiar, em cujo seio continuaram subsistindo
depois da Conquista os principais fatores constitutivos.
As comunidades baseiam-se na propriedade comum das terras em que
vivem e cultivam e preservam, por pactos e por laços de consanguinidade que
unem entre si as diversas famílias que formam o ayllu. As terras cultiváveis
e pastos que pertencem à comunidade formam o patrimônio da coletividade.
Nela vivem, mantendo-se daquilo que cultivam, e seus membros cuidam cons-
tantemente de que elas não lhes sejam arrebatadas pelos poderosos vizinhos
para algum “santo” ou comunidade e outras são cultivadas por cada família
separadamente.
Mas o espírito coletivista do indígena não se revela apenas na existência
das comunidades. O costume secular da minka subsiste nos territórios do Peru,
seja da comuna, não pode realizar por falta de ajudantes, por doença ou outro
motivo similar, é realizado com a cooperação e o auxílio dos parceiros vizinhos,
que por sua vez recebem parte do produto da colheita, quando sua quantidade
o permitir, ou outra ajuda manual em uma próxima época.
Esse espírito de cooperação que existe fora das comunidades manifesta-se
de forma especial na Bolívia, onde são estabelecidos acordos mútuos entre
indígenas pequenos proprietários pobres, para lavrar em comum todas as terras
e repartir em comum seu produto. Outra forma de cooperação que também se
observa na Bolívia é a realizada entre um índio pequeno proprietário da peri-
feria da cidade, que possui apenas sua terra, e outro índio que mora na cidade,
último não dispõe de tempo, mas de alguma forma pode conseguir as sementes
comuneiros, tendo muitos deles sido arrancados da terra para trabalhar nas
minas), que em algumas regiões têm um rendimento agrícola superior ao dos
latifúndios, atestam a vitalidade do coletivismo incaico primitivo, capaz no
futuro de multiplicar suas forças, aplicadas aos latifúndios industrializados e
com os recursos necessários.
O IV Congresso da IC ressaltou mais uma vez a possibilidade, para povos
de economia rudimentar, de iniciar diretamente uma organização econômi-
ca coletiva, sem sofrer a longa evolução pela qual outros povos passaram.
Acreditamos que, entre as povoações “atrasadas”, nenhuma como a população
indígena incásica reúne condições tão favoráveis para que o comunismo agrário
primitivo, subsistente em estruturas concretas e em um profundo espírito cole-
tivista, se transforme, sob a hegemonia da classe proletária, em uma das bases
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O novo período revolucionário
1o – Até que ponto a situação das repúblicas latino-americanas pode ser assi-
milada à dos países semicoloniais? Sem dúvida, a condição econômica destas
repúblicas é semicolonial, e, à medida que crescer seu capitalismo e, conse-
quentemente, a penetração imperialista, este caráter de sua economia tende
a se acentuar. Mas as burguesias nacionais, que veem na cooperação com o
inconveniente de raça nem de religião com a senhorita nativa, e esta não sente
escrúpulo de nacionalidade nem de cultura em preferir o casamento com um
indivíduo da raça invasora. A moça de classe média também não tem este
escrúpulo. A
da Foundation sente com satisfação sua condição social melhorar. O fator
nacionalista, por estas razões objetivas que todos vocês compreendem, não
é decisivo nem fundamental na luta anti-imperialista em nosso meio. Só
em países como a Argentina, onde existe uma burguesia numerosa e rica,
orgulhosa do grau de riqueza e poder em sua pátria, e onde a personalidade
nacional tem por estas razões contornos mais claros e nítidos que nestes
países atrasados, o anti-imperialismo pode (talvez) penetrar facilmente nos
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tas, não por razões de justiça social e doutrina socialista, como é nosso caso.
ao avanço do imperialismo.
de la Torre, não parece ter obtido melhores resultados em nenhuma outra parte
da América. Suas pregações confusas e messiânicas que, embora pretendam se
situar no plano da luta econômica, na verdade apelam particularmente aos fato-
res raciais e sentimentais, reúnem as condições necessárias para impressionar
a pequena burguesia intelectual. A formação de partidos de classe e poderosas
organizações sindicais, com clara consciência classista, nesses países não pa-
rece destinada ao mesmo desenvolvimento imediato que na América do Sul.
Em nossos países, o fator classista é mais decisivo, está mais desenvolvido.
Não há motivo para recorrer a vagas fórmulas populistas, por trás das quais
não podem deixar de prosperar tendências reacionárias. Atualmente o aprismo,
se o poder estiver em mãos de uma classe social mais numerosa que, satisfazendo
certas reivindicações mais prementes e atrapalhando a orientação classista das
massas, estará em melhores condições de defender os interesses do capitalismo, de
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O novo período revolucionário
ser seu custódio e servo, que a velha e odiada classe feudal. A criação da pequena
seu lugar se constitua uma economia agrária baseada naquilo que a demagogia bur-
guesa chama “democratização” da propriedade do solo, que as velhas aristocracias
sejam deslocadas por uma burguesia e uma pequena burguesia mais poderosa e
as águas estava ligado ao seu direito sobre a terra. Segundo sua tese, as águas lhes
mesma, pela miséria dos salários, não tem força econômica para transformá-la,
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