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AUTOR: Luís Bernardo Honwana narrador agarrou Gulamo para dar o recado.
Enquanto isso, Quim fez um gol.
 Formado em jornalismo  Gulamo reclamou, pois o narrador o havia
 Em 1964, se integrou à FRELIMO (Frente de agarrado no momento da partida.
Libertação de Moçambique)  Ninguém deu ouvidos à preocupação do
 Ficou três anos preso (1964-1967), quando narrador para com o cão tinhoso.
soltou lançou o único livro Nós matamos o cão  Segunda feira, na escola, o narrador (Ginho)
tinhoso voltou a falar da morte do cão tinhoso.
 Quim disse que o cachorro seria morto de
OBRA: Nós matamos o cão tinhoso verdade por meio de uma bala de ponto 22.
 Os dois conversavam em meio a aula de
ANO DE PUBLICAÇÃO: 1964 desenho. Quim não estava nada preocupado
com o animal.
GÊNERO LITERÁRIO: Gênero narrativo (7 contos)  No intervalo, Isaura dialogou com eles sobre a
morte do cão, mas não acreditou que fosse
MOVIMENTO LITERÁRIO: Modernismo africano verdade que o cachorro fosse morto. Assim,
(questão da identidade nacional e figuras ela foi atrás do animal para dar-lhe carinho.
estigmatizadas)  Dias depois, o Senhor Duarte da Veterinária
conversou com os meninos dizendo que eles
CONTO: “Nós matamos o cão tinhoso” deveriam matar o cão.
 O Doutor da veterinária havia pedido ao
FOCO NARRATIVO: narração em primeira pessoa Senhor Duarte da Veterinária a morte do
(Ginho) cachorro. Os jovens deveriam passar a corda
ao pescoço do cão, levá-lo para longe e brincar
ESPAÇO: Maputo aos arredores da escola de tiro ao alvo com o bicho.
 Os jovens voltaram para a escola e
ENREDO: combinaram como seria a morte do cão
tinhoso. Ginho, o narrador, se dirigiu à sua casa
 Descrição do cão tinhoso próximo da escola: para buscar a corda e uma espingarda. Em
olhos azuis, cheios de lágrimas, andava seguida, ele voltou para a escola.
tremendo todo estranho, havia cicatrizes,  Mais tarde, partiram em doze jovens com o cão
pelos brancos e muitas feridas. tinhoso amarrado para a estrada do
 Aos arredores da escola, haviam outros Matadouro com o intuito de assassinar o
cachorros. Às vezes, ocorriam pequenos animal.
conflitos entre eles e o cão tinhoso.  O narrador (Ginho) arrastava o cão que chiava
 Isaura estava à procura do Cão tinhoso. Ela se baixinho. Em certo momento, teve vontade de
encontrou com o narrador (Ginho) e viram o chorar. Ele estava com pena do cão. Ginho,
cão à porta da escola. com muita pena do animal, disse que ficaria
 Isaura abraçou o cão. A Senhora Professora viu com o cão, iria levá-lo para casa e cuidar do
a cena e criticou, violentamente, a postura de bicho.
Isaura para com o animal e ainda espantou o  A pena de Ginho para com o cão gerou muita
cachorro. confusão entre o grupo. Todos passaram a
 Certa vez, em um sábado, todos estava no debochar dele que estava com medo de matar
clube, era hábito jogarem bola e cartas nesse o cachorro. Enquanto isso, o cão tinhoso
dia. O Administrador estava jogando cartas e permanecia debaixo das pernas do narrador a
acabou perdendo. Todos debocharam dele. tremer muito.
Assim, o Administrador olhou e viu o cão  Ginho tirou a corda do pescoço do cão. Ele
tinhoso a rir também e zangou-se: “Eh! Quem ainda insistia que o animal não deveria morrer.
é que disse que isso não era a Arca de Noé?”.  Ginho disse que levaria o bicho para a sua casa
de tal maneira que ele não iria mais incomodar
 O Doutor da Veterinária olhou o cão tinhoso e ninguém pelas ruas com a sua imagem
se queixou do aspecto grotesco do cachorro. deplorável.
Então o Administrador disse: “- O Cão Tinhoso  Houve muita pressão moral com o narrador
vai morrer!”. para dar o primeiro tiro no cão.
 O narrador (Ginho) saiu assustado para avisar  O narrador mirou a sua arma para o cão. Teria
os colegas. Em meio à partida de futebol, o que atirar, mas estava repleto de medo.

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Contudo, a pressão moral do grupo obrigava-o bastante pena de matar o animal, dois
a fazer aquilo que ele não desejava. Ginho, o personagens negros num colégio dominado
narrador, com o cão sob a sua mira, fechou os por brancos, pode ser compreendida como
olhos para não ver o animal. Ginho, de olhos resultado da ligação estabelecida entre os três
fechados, pedia desculpas ao cão. excluídos – também eles dotados de
 Ginho apertou o gatilho. Houve muito barulho sentimentos, como compaixão e piedade, algo
e gritos. Em seguida, Isaura aparece abraçando que o poder dominador
o cão tinhoso.
 O tiro do narrador não acertou o animal. Ginho  Entendemos que a ambiguidade pode ter sido
tentou tirar Isaura de cena, mas ela continuava um caminho utilizado pelo autor para pensar a
abraçada ao cão. complexidade das questões de caráter
 Tiraram Isaura de perto do cão. histórico-político e social que aparecem como
 Quim estava em cima da pedra e todo o grupo temas na narrativa.
apontava as armas para o cão.
 Em seguida, todos atiraram nele.  Como alegoria, a narrativa pode ser lida em sua
 Isaura procurou apoio no abraço do narrador. ambiguidade, que vai sendo percebida através
 Após a morte do cão, Isaura se lançou na mata da relação que os partícipes da sociedade
e desapareceu, muito triste e assustada. colonial estabelecem com o cão na narrativa. A
 O conto terminou com um diálogo entre partir dessas relações é que podemos fazer
Ginho, o narrador, e Quim. Este disse ao uma leitura do cão como uma figura decadente
narrador que foi melhor o cão tinhoso morrer, do colonizador, do sistema colonial português
pois os cachorros não brincavam com ele. ou como uma representação do território ou
 Na verdade, essa desculpa é um álibi para do indivíduo colonizado, que tem sua imagem
Quim justificar a sua violência. Ginho disse que execrada por determinada parcela da
Isaura pediu ao pai dela para agredir a malta sociedade.
pelo assassinato do cão. No final do conto, a
professora apareceu chamando os jovens para  Sem descartar tal leitura aprioristicamente e
a aula. trabalhando com o cão enquanto
representação do colonizador/sistema
PERSONAGENS: colonial, a primeira imagem sugestiva que
surge no texto é a dos olhos azuis do Cão-
1) Isaura Tinhoso (p.5), convencionalmente associada
2) Ginho ao homem branco europeu, o que parece vir
3) Quim ao encontro de uma suposta inferência ou
4) Senhora Professora expectativa de que o cão morto ou assassinado
5) Senhor Administrador devesse ou precisasse ser o colonizador,
6) Doutor da Veterinária sugerido desde os títulos do conto e do livro.
7) Doutor Duarte
8) Gulamo  Dessa forma, se antes nos concentramos no
9) Cão Tinhoso interesse da elite branca em matar o Cão-
10) Lobo Tinhoso, agora atentaremos precisamente na
atuação de Ginho e de Isaura, dois
ALGUNS PONTOS IMPORTANTES SOBRE O CONTO personagens que representam a população
negra moçambicana na narrativa. O primeiro,
 Nesse sentido, observe como os nomes dos na nossa leitura, passou por um processo de
personagens detentores do poder, todos eles transformação, melhor dizendo, alterou a
brancos, no universo infantil de Ginho, são estrutura de sua consciência em relação à
todos identificados pelo cargo que ocupam e morte de Tinhoso e dos possíveis
pela letra maiúscula, como em Senhora desdobramentos dessa ação. Já a menina
Professora, Senhor Administrador ou Doutor nutria uma cumplicidade inabalável ao cão,
da Veterinária – seria, portanto, como se colocando-se contrária à sua morte até o
fossem, eles próprios, representantes do último momento. Esses dois posicionamentos
sistema colonizador. dos personagens podem denotar tanto a
dicotomia que se formou no interior da
 A reação de Isaura de defender o Cão Tinhoso FRELIMO como pode aludir à presença do
com o próprio corpo e de Ginho, de ter “inimigo interno” do movimento.

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 Essa ação do ancião no fundo era uma maneira


 Assim sendo, se a morte do Cão-Tinhoso de canalizar a revolta para algo diante da
representa um projeto de independência e o opressão do capataz branco.
nascimento de uma nação moderna, Ginho  O velho sentia muitas dores pelo corpo.
pode ser lido como o “homem novo”, o sujeito Arrancou mais uma planta. Entre as raízes da
moçambicano, pensado pela FRELIMO. Ele planta estava um escorpião, contudo deixou o
pode encontrar-se em estado de formação, já inseto partir sem matá-lo. Lembrou-se de
que ainda assume posições instáveis: há Pitarrossi que morreu após ser picado por
momentos em que acredita que a morte de cobra. A mulher do homem morto passou a se
Tinhoso é a melhor coisa a ser feita, em outros prostituir para sobreviver.
momentos, no entanto, falta-lhe segurança  Aqui, nessa parte da narrativa, observa-se as
para essa tomada de decisão, como podemos péssimas condições de vida do trabalhador.
ver em sua fala, na estrada para o matadouro: Além disso, note como a mulher, símbolo das
“Quim, a gente pode não matar o cão, eu fico tradições africanas, se corrompeu diante da
com ele, trato-lhe as feridas e escondo-o para presença do colonizador branco.
não andar mais pela vila com estas feridas que  Madala teve uma dor insuportável no
é um nojo!” (HONWANA, 1980, p.22). estômago. Caiu no chão, em seguida, a dor
passou.
CONTO: “Inventário de imóveis e jacentes”  Ajoelhado no chão pegou um ramo de plantas
e desenterrou-as devagar.
 Foco narrativo: narração em primeira pessoa  Novamente Madala teve outra crise de dor.
Deitou no chão e apertou as pernas contra o
 Espaço: a casa do narrador tórax. Levou um ramo de planta à boca.
Enquanto esperava as ordens do capataz para
ENREDO o almoço, tirou várias plantas da terra.
 O capataz liberou os trabalhadores para o
Esse conto não apresenta um enredo, progressão de almoço. Porém, disse-lhes: são preguiçosos
ações. As poucas células narrativas do texto se passam para iniciar os trabalhos, mas velozes para
no interior da casa do narrador. Esse espaço é marcado terminar. Ainda afirmou que logo iriam
pela falta de mobilidade dos sujeitos e, sobretudo por apanhar.
certa precariedade. Dentro do conto temos alguns  Os trabalhadores partiram para o
símbolos do imperialismo norte americano como, por acampamento a fim de almoçar.
exemplo, Elvis e revistas dos EUA. Outro ponto  No local, haviam vários grupos de trabalho. Os
marcante é como os livros ficam escondidos dentro da homens falavam de mulheres, mas ao ver
casa ao certo por medo da censura. Madala se aproximar, mudaram de assunto.
Falaram sobre as opressões do capataz.
CONTO: “Dina”  Alguns homens comiam e outros descansavam
(sesta).
 Foco narrativo: narração em terceira pessoa  Djimo anunciou a Madala a presença de Maria,
onisciente filha do ancião. Eles foram para debaixo de
uma árvore. Falaram um pouco. Os homens
 Espaço: lugar rural machamba olhavam o corpo da filha do ancião, condição
que a deixava constrangida.
ENREDO:  De repente, o capataz apareceu e disse que
Maria estava de caso com o Madala ou com o
 Madala trabalhava na plantação de milho Djimo.
quando ouviu a última badalada do relógio  O branco não sabia que a moça era filha de
anunciando meio dia. Olhou e viu o capataz ao Madala.
longe.  O capataz ainda debochou dizendo que Maria
 Madala deveria parar de trabalhar apenas não ficaria com o Madala, pois ele era muito
quando o capataz desse a ordem. Enquanto idoso.
isso, o velho tirou uma planta do chão e  Maria, constrangida, abaixou o olhar para a
cheirou-a. Enquanto não parava para almoçar, terra.
Madala retirou sete plantas.  Adiante, Maria tentou convencer o pai a
comer, mas ele que estava sem fome. Na

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verdade, os constrangimentos criados pelo 4) Djimo


capataz fizeram ele perder o apetite. 5) Capataz
 Maria recusou a comida do grupo dizendo que
havia comido algo antes oferecido por um
amigo. CONTO: “A velhota”
 Madala iniciou o almoço.
 Maria estava distante do pai e próximo do FOCO NARRATIVO: narração em primeira pessoa
capataz. O capataz começou a conversar com
ela. Meio nervoso, o branco tirou um cigarro ESPAÇO: bar e a casa do narrador
do bolso, gesticulava bravo.
 Madala não conseguia ouvir a conversa da filha ENREDO:
com o capataz.
 De repente, o branco partiu rumo à plantação  O narrador se lembra de uma agressão vivida
e Maria o seguiu. Um jovem disse, em um bar. Ele não conseguiu reagir, pois
ironicamente, a Madala que Maria estava temia acontecer alguma coisa com os
conversando com o capataz. “miúdos”, os irmãos, e com a “velhota”, a mãe.
 Aqui há uma indicação bastante sexual na fala  As imagens da violência foram narradas pelo
do jovem. protagonista em um tom cinematográfico de
 Madala seguiu com a visão o capataz e Maria baixo para cima. Tudo sob o ângulo de visão do
de longe. narrador que estava deitado no chão.
 Maria e o capataz sumiram no mar de milho.  Após a lembras anteriores, o narrador partiu
Ao certo, ela era abusada sexualmente. De para a sua casa. Havia muita pobreza e
longe, Madala e o grupo de homens tudo confusão no interior do lar.
presenciava.  A velhota cuidava de algumas crianças. Ao ver
 Djimo tentou acalmar o velho ancião, ao ver o o narrador, a velhota insistiu que ele comesse,
incômodo do idoso. mas ele recusou.
 O casal começou a sair da plantação de milho  Ao olhar as panelas, o narrador se daria conta
sob os olhares de todo o grupo de que não havia alimento para ninguém, as
trabalhadores. crianças haviam comido tudo.
 Os homens disseram a Madala que deveriam  O narrador teve o ímpeto de abraçar a mãe
fazer algo diante daquele abuso. Madala não que ficou bastante feliz com o gesto. Então ela
correspondeu às expectativas da possível lhe perguntou se ele havia apanhado na rua. O
rebelião do grupo. narrador recusou dizer, pois queria poupar os
 Maria recebeu uma quantia do capataz. irmãos mais novos das violências vividas por
 Ela estava incomodada com a agressão sexual, ele.
pois o pai presenciou a cena. Assim, Maria  Adiante, os irmãos foram dormir e o narrador
disse ao branco que Madala era o pai dela. disse à mãe que foi violentado na rua.
 O capataz ficou extremamente incomodado  Após a revelação, os dois permaneceram
com a revelação. calados. A mãe queria dizer algo, mas acabou
 O capataz procurou Madala e disse que ele não falando apenas: “meu filho”.
precisava trabalhar naquela tarde para ficar
com a filha.
 Muito constrangido, o capaz deu uma garrafa
de vinho a Madala.
 O capataz sem saber o que fazer diante da
situação, disse para os homens voltarem as
atividades. Um jovem que não queria voltar ao
trabalho recebeu a garrafada na cabeça. O
couro cabeludo do jovem abriu-se diante da
violência.

PERSONAGENS:

1) Madala
2) Maria
3) Pitarrossi CONTO: “Papá, cobra e eu”

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 Em seguida, apareceu Sr. Castro e disse ao pai


FOCO NARRATIVO: narração em primeira pessoa do narrador que o Lobo estava morto. Algumas
(Ginho) pessoas viram o cão saindo da casa de Ginho.
 Com a morte do animal, Castro exigia uma
ESPAÇO: bar e uma casa indenização, caso contrário faria uma queixa à
Administração contra o pai de Ginho.
ENREDO:  Diante do problema, o pai do narrador disse
que pagaria a indenização no mês seguinte,
 A mãe de Ginho (narrador) estava preocupada pois estava sem dinheiro na ocasião.
com a saúde dele, olhou os olhos do menino e  Naquela noite, o pai do narrador não leu a
disse que precisaria tomar purgante. bíblia, apenas rezou com a família.
 Ginho foi para o quintal, lá fora, Sartina, a  Ao final do conto, o narrador, à noite, sentiu
funcionária, almoçava. A moça ficou desejos pelo corpo de Sartina.
constrangida ao ver o narrador e tratou logo de
tampar as pernas. PERSONAGENS
 O cachorro Totó apareceu em cena com a
língua de fora. Logo Sartinha deu-lhe comida 1) Papá
em um prato de alumínio. As galinhas, com 2) Mama
medo, não passavam perto do cão. 3) Ginho (narrador)
 O pai e a mãe de Ginho foram à capoeira. A 4) Nandito
esposa estava preocupada com o 5) Madunana
desaparecimento de ovos, de pintinhos e das 6) Sartina
galinhas. Concluíram que ali havia uma cobra. 7) Totó
 A mãe estava preocupada com os filhos que 8) Lobo
poderiam ser picados pela cobra. Diante disso, 9) Sr. Castro
o pai afirmou que, no outro dia, mataria a
cobra e saiu para o trabalho.
 Madunana, outro funcionário da casa,
apareceu carregado de madeira. Após
concluso essa atividade, deu um beliscão nos
glúteos de Sartina.
 A presença da mãe deixou Madunana e Sartina
incomodados. Em seguida, a mãe chamou a
atenção de Sartina para ela fazer as atividades
direito e não quebrar os pratos.
 Lobo, o cão de sr. Castro, apareceu e começou
a latir com o Totó. Estavam furiosos, mas logo
se tornaram amigos e se puseram a divertir.
 Nandito, irmão de Ginho, se dirigiu ao quintal.
Na capoeira, o narrador tirou objetos
amontoados e logo viu a cobra, uma “mamba
de cor muito escura”. Nandito se assustou e
começou a chorar.
 Os cachorros viram a cobra. Lobo latiu com ela.
Encurralada em um vão, a cobra levantou o
pescoço, armou o bote e picou o Lobo no peito.
 Nandito que estava abraçado em Ginho viu a
cena e correu para os braços de Madunana
desmaiando em seguida.
 Sartina levou Nandito para dentro da casa.
Ginho e Madunana desejavam matar a cobra.
 Madunana jogou uma capulana sobre a cobra
e o narrador deu-lhe pauladas.
 Mataram a cobra.
 À tarde, quando o pai voltou do trabalho,
viram, juntamente com a mãe, a cobra morta.

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CONTO: “As mãos dos pretos” assim dizer, ênfase da obra de Bernardo
Honwana em geral.
FOCO NARRATIVO: narração em primeira pessoa  As mãos dos pretos”, em particular. A versão
da mãe se apresenta a nós como dramática
apresentação da sabedoria africana, a única
 Esse conto não possui um enredo. Ele é uma que pode discorrer sobre si mesma a partir de
espécie de reflexão do narrador a respeito dos dentro, com conhecimento de causa, sem a
lugares comuns que procurar explicar a contaminação ideológica de ex-potências
condição da cor negra. Na verdade, a respeito coloniais brancas, que veem a África como
das mãos brancas dos negros. O conto é uma território de rapina e os negros como seres
belíssima reflexão sobre as escolhas humanas inferiores.
a respeito de valores e verdades sociais. O
racismo, por exemplo, é fruto da escolha CONTO: “Ninguitimo”
humana.
 Se a história é obra de mãos humanas, fica FOCO NARRATIVO: narração em primeira pessoa
evidente o equívoco da petição de princípio (narrador sem nome)
que perpetua a violência contra negros.
 As mãos sintetizam, assim, as potencialidades ESPAÇO: grande parte da narrativa ocorre na cantina
humanas, para o bem ou para o mal e muito do Rodrigues
bem indicam que o ser humano, por meio
delas, se relaciona com a natureza e com ENREDO:
outros seres humanos, organizando a ordem
social e histórica em que vivem.  O conto é aberto por meio de uma descrição
 Essa imagem da fabricação é desqualificadora das pombas nas machambas. Há um certo
para os negros, sobretudo pela menção a incômodo na presença dos pássaros.
instrumentos de segunda mão; além disso, eles  Em seguida, o narrador descreve a cantina do
não são criados, de acordo com a tradição Rodrigues, espaço marcado pela segregação
bíblica, mas fabricados, coisificados. Por outro de classe e etnia. No espaço, se bebia muito e
lado, essa ideia pode se ajustar de forma havia a presença de prostitutas. No lugar,
interessante ao que diz a mãe do narrador, no haviam homens brancos também.
final do conto; a vida humana, sobretudo em  A figura de Vírgula Oito apareceu à cantina.
sua dimensão social, é fabricada por mãos Esse rapaz moçambicano trabalhava nas terras
humanas. Sobre a fabricação da realidade, do Rodrigues.
Blikstein dá explicações teóricas convincentes  Vírgula Oito também possuía a própria
e em correspondência com o que Honwana faz plantação.
em termos literários. A realidade é construída.  O primeiro encontro com Vírgula Oito para o
As estruturas objetivas da realidade não narrador foi algo marcante.
passam de “estruturações impostas à  Na cantina, a conversa dos homens caiu sobre
realidade pela interpretação humana”. a plantação de milho. Vírgula Oito queria que o
 Esses locutores representam o saber e a “nhinguitimo” viesse e destruísse a plantação
ciência (professor, um livro), a religião (padre), dos brancos. Além disso, pensou em jogar fogo
o poder econômico (Coca-Cola); todas essas na mata durante três dias para atrapalhar a
falas, digamos, são externas aos africanos, com plantação dos brancos. Assim, ele, Vírgula
exceção da mãe. Parecem ser os personagens Oito, ficaria rico como Lodrica (Rodrigues).
todos estrangeiros, a julgar pelos nomes que  Ao ouvir a fala de Vírgula Oito, Maguiguana
têm; não há dúvidas quanto a motivações e disse que os brancos ficarão zangados com o
efeitos dos discursos que produzem. progresso de Massinga (Vírgula Oito).
 Podem ser enquadradas, no conto, duas  Vírgula Oito, ingenuamente, disse que os
categorias de explicação: 1) exógenas: o preto brancos não ficariam incomodados com o
impuro, animalizado, é inferior, por isso foi progresso dele, pois não fazia nada de errado.
escravizado; 2) endógena: pela explicação da Não roubava, trabalhava muito e pagava
mãe, o preto é igual ao branco e as injustiças impostos, justificou Vírgula Oito.
que sofreu são produzidas pela vontade  Havia outro grupo conversando na cantina do
humana. Rodrigues, isso deixa o conto um pouco
 Essa perspectiva, é urgente haver iniciativas confuso no momento da leitura.
conscientes de descolonização, que é, por

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 Nesse outro grupo, quem fala é o Rodrigues e 3) N`teasse


o Senhor Administrador. O dono da cantina 4) Maguiguana: trabalha na plantação do
disse que era um desperdício deixar uma terra Rodrigues
tão rica nas mãos dos negros. Os africanos não 5) Matchumbutana: trabalha na plantação do
eram capazes de produzir suficientemente, Rodrigues
disse Rodrigues. 6) Rodrigues (Lodrica)
 Enquanto isso, Rodrigues chamou Vírgula Oito 7) Senhor Administrador
para conversar com o Senhor Administrador.
Ele queria ter informações a respeito das terras
de Vírgula Oito. Houve muita dificuldade no
diálogo entre o Administrador e Vírgula Oito
em virtude da língua.
 O Administrador ficou bastante furioso ao ver
a capacidade de plantio das terras de Vírgula
Oito.
 Após a violenta conversa entre o
Administrador e Vírgula Oito, há uma espécie
de delírio imaginário a respeito de Vírgula Oito
que estava em sua plantação com enormes pés
de milho. Ao lado de Vírgula, no delírio, estava
a sua amada, a N`teasse.
 Essa passagem do conto gera bastante
complexidade na linha narrativa, pois aparece
deslocada.
 Há uma lacuna entre as duas partes anteriores,
a fala do Administrador e o delírio de Vírgula
Oito. Assim, Massinga (Vírgula Oito), estava em
uma plantação dialogando sobre a perda de
seu sítio. Os brancos, o Administrador e
Rodrigues, haviam tomado as terras do
trabalhador africano.
 Quando o “hinguitismo” chegou, Vírgula Oito,
eufórico, abriu os braços para receber a chuva.
Os trabalhadores da plantação chamaram a
atenção do Vírgula Oito que permaneceu
eufórico dialogando com a chuva.
 Em seguida, descobrimos que Vírgula Oito
matou Zedequiel, Alifaz e Matchumbutana.
Esses homens foram mortos, pois tentaram
tirar da cabeça de Vírgula Oito a ideia do
“nhanguitismo” que assume um significado de
revolta, luta, guerra e resistência.
 O senhor Rodrigues convidou outros homens
para irem atrás do Vírgula Oito. Iriam matá-lo.
 No final do conto, conscientemente, o
narrador disse: “Poça, aquilo tinha que
mudar”. Nessa passagem, o narrador mostra
uma outra consciência a respeito da
colonização. Aqui, há uma tomada de
consciência do assimilado de sua condição de
colonizado.

PERSONAGENS:

1) O narrador
2) Vírgula Oito (Alexandre Vírgula Ôto Massinga)

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