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Colégio Pedro II — Colégio

Português Pedro II — Campus Engenho Novo II


Coordenação: Profª Juliana Berlim

Docentes: Braulio Fernandes Data: __ / __ / 2020

Nome: __________________________________ Turma: ______ Nº.: ____

Duas crônicas
No material anterior, definimos ainda que de maneira genérica o conceito de crônica e devemos
repeti-lo, aqui:

A crônica é, em geral, um texto curto, muitas vezes publicado em jornal, em que o autor consegue
transformar em literatura (em reflexão criativa) um dado simples do cotidiano. Às vezes, o cronista
consegue fazer uma verdadeira obra-prima a partir de um fato corriqueiro noticiado no jornal ou
que tenha percebido em seu dia a dia.

Com o intuito de estimular alguma leitura, a seguir apresentaremos duas crônicas cujas leituras
invariavelmente produzem uma reflexão muito enriquecedora acerca da condição humana. A primei-
ra, de Mário Prata, leva-nos a questionar o quanto o ser humano muitas vezes age em função das
aparências, deixando de lado o afeto e a sinceridade na relação com o outro.
A segunda, mais antiga é de Fernando Sabino, um dos maiores cronistas brasileiros de todos
os tempos. Seu texto reflete sobre o valor essencial da simplicidade humana muitas vezes presente
no universo das pessoas que habitam o nosso cotidiano.
Importante: os dois textos são acompanhados de questões. Procure formular, ainda que de
maneira imaginária, as respostas que você daria – e caso não tenha como respondê-las, não há
problema. Falaremos sobre, quando voltarmos às nossas aulas presenciais.

Ao final, apresentamos um exercício criativo cujo intuito é estimular a ampliação de vocabulário.

O COELHO E O CACHORRO
De vez em quando surgem umas histórias que todos que contam
juram ser verdade e até dizem que têm um primo que conheceu a vi-
zinha da sobrinha da pessoa com a qual aconteceu. A mais célebre é
aquela do sapatinho vermelho da sogra que desliza debaixo do banco
do carro. Lembrou?
Agora pintou uma nova. Simplesmente genial. Quem me contou
garante que aconteceu na Granja Viana, bairro de classe média alta
em São Paulo, na semana passada.

Eram dois vizinhos. O primeiro vizinho comprou um coelhinho


para os filhos.
Os filhos do outro vizinho pediram um bicho para o pai. O doido
comprou um pastor alemão.
Papo de vizinho:
- Mas ele vai comer o meu coelho.
- De jeito nenhum. Imagina. O meu pastor é filhote. Vão crescer
juntos, pegar amizade. Entendo de bicho. Problema nenhum.
E parece que o dono do cachorro tinha razão. Juntos cresceram
e amigos ficaram.

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Perguntas-estímulo
Era normal ver o coelho no quintal do cachorro e vice--versa. As crian-
ças, felizes. Eis que o dono do coelho foi passar o final de semana na praia 1. Quais são os elementos presen-
com a família e o coelho ficou sozinho. Isso na sexta-feira. No domingo, de tes em “O Coelho e o Cachorro” que
tardinha, o dono do cachorro e a família tomavam um lanche, quando entra permitem identifi car o texto como
o pastor alemão na cozinha. Pasmo. uma crônica?
Trazia o coelho entre os dentes, todo imundo, arrebentado, sujo de terra
e, é claro, morto. Quase mataram o cachorro.
- O vizinho estava certo... E agora, meu Deus?
- E agora?
A primeira providência foi bater no cachorro, escorraçar o animal, para
ver se ele aprendia um mínimo de civilidade e boa vizinhança. Claro, só 2. Quase ao final da crônica, o
podia dar nisso. narrador afirma: “O personagem que
Mais algumas horas e os vizinhos iam chegar. E agora? Todos se olha- mais me cativa nesta história toda, o
vam. O cachorro rosnando lá fora, lambendo as pancadas. protagonista da história, é o cachor-
- Já pensaram como vão ficar as crianças? ro”.
- Cala a boca!
Se o cachorro é o protagonista da
Não se sabe exatamente de quem foi a ideia, mas era infalível. Vamos
história, quem é o antagonista, ou
dar um banho no coelho, deixar ele bem limpinho, depois a gente seca com
seja, o vilão? Justifique sua resposta
o secador da sua mãe e coloca na casinha dele no quintal. com frase(s) completa(s).
Como o coelho não estava muito estraçalhado, assim fizeram. Até per-
fume colocaram no falecido. Ficou lindo, parecia vivo, diziam as crianças. E lá
foi colocado, com as perninhas cruzadas, como convém a um coelho cardíaco.
Umas três horas depois eles ouvem a vizinhança chegar. Notam o
alarido e os gritos das crianças. Descobriram! Não deram cinco minutos e 3. O texto de Mario Prata nos
o dono do coelho veio bater à porta. Branco, lívido, assustado. Parecia que conta uma história em tom de fábula.
tinha visto um fantasma. Nas fábulas, costuma haver um final
- O que foi? Que cara é essa? moralizante, ou seja, uma moral da
- O coelho... O coelho... história.

- O que tem o coelho? Identifique, no texto, o critério de jul-


- Morreu! gamento utilizado pelos seres huma-
Todos: nos. Responda com frases completas.
- Morreu? Inda hoje de tarde parecia tão bem...
- Morreu na sexta-feira!
- Na sexta?
- Foi. Antes de a gente viajar as crianças enterraram ele no fundo do
quintal! 4. O autor utiliza expressões da
(...) linguagem coloquial.
O personagem que mais me cativa nesta história toda, o protagonista
Reescreva as passagens abaixo,
da história, é o cachorro. substituindo os termos sublinhados
Imagina o pobre do cachorro que, desde sexta-feira, procurava em vão por outros do padrão mais formal
pelo amigo de infância, o coelho. Depois de muito farejar descobre o corpo. da língua:
Morto.
A) “Agora pintou uma nova”.
Enterrado. O que faz ele? Provavelmente com o coração partido, desen-
terra o pobrezinho e vai mostrar para os seus donos. Provavelmente estivesse
até chorando, quando começou a levar porrada de tudo quanto é lado.
B) “As crianças enterraram ele no
O cachorro é o herói. O bandido é o dono do cachorro. O ser humano.
fundo do quintal”.
Sim, nós mesmos, que não pensamos duas vezes. Para nós o cachorro é
o irracional, o assassino confesso. E o homem continua achando que um
banho, um secador de cabelos e um perfume disfarçam a hipocrisia, o animal
desconfiado que tem dentro de nós.
Julgamos os outros pela aparência, mesmo que tenhamos que deixar
esta aparência como melhor nos convier. Maquiada.
5. Por que, no último parágrafo, o
Coitado do cachorro. Coitado do dono do cachorro. Coitados de nós,
narrador chama de coitados a todos
animais racionais. nós, cachorros e animais?
(Mario Prata. ISTO É, 22/04/98.)

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Perguntas-estímulo
A ÚLTIMA CRÔNICA
1. Com que finalidade do autor entra
no botequim?
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto
ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me
2. De acordo com o texto, identifi-
assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca
que:
do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher
da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz a) O foco narrativo, ou seja, o nar-
mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. rador narra em primeira ou em
terceira pessoa?
Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas
palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador
b) Cenário:
e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo
meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o
c) Personagens principais:
meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto.
Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que mere-
d) Tempo:
cem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas


3. Qual a profissão do narrador?
mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na
Retire do texto a frase que justifique
contenção de gestos e palavras, deixa-se acentuar pela presença de uma negrinha de sua resposta.
seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou
também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes 4. O narrador conta que entrou no
de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a insti- botequim para tomar um café; mas qual
tuição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para era o real motivo?
algo mais que matar a fome.
Passo observá-los.
O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o 5. Esta é uma crônica escrita por
garçom, inclinando-se para trás da cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob Fernando Sabino na década de 1970.
a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguar- Esse fato nos faz crer que era comum
dasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois naquela época usarem-se termos que
hoje seriam inadmissíveis, porque
se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se
revelam uma conivência inadmissí-
da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do vel com o racismo. Quais são esses
freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no termos?
pratinho — um bolo simples, amarelo escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de coca-cola e o pratinho
que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, 6. O casal senta-se no fundo do
pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa a um discreto ritual. A mãe remexe na botequim. Por que motivo?
bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa
de fósforos, e espera.
A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os ob-
7. Para você, o texto “A última crô-
serva além de mim. nica” tem uma ideia de discriminação?
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente De que tipo? justifique.
na fatia de bolo. E enquanto ela serve a coca-cola, o pai risca o fósforo e acende
as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e
sopra com força, apagando as chamas.
8. Diante dos diminutivos (arrumadi-
Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num
nha, negrinha, menininha, fitinha) que
balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “parabéns pra você, parabéns pra se refere a menina; qual o sentimento
você... Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra do autor?
finalmente o bolo com as mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando
para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo
que cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer 9. O que sente o autor, quando o pai
intimamente do sucesso da celebração. De súbito, dá comigo a observá-lo, nossos da menina olha para ele e sorri?

olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça,


mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. 10. Qual reflexão que, a seu ver, po-
Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso. deria poderia ser retirada desta crônica
(Fernando Sabino. In. Para gostar de ler. Ed. Ática) de Fernando Sabino?

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Exercícios de Vocabulário
Os exercícios a seguir têm o intuito básico de fazer ver ao aluno que o falante da língua
possui um vocabulário mais amplo do que costuma pensar e usar no seu cotidiano — e
certamente você só tem a ganhar quando passa a valorizar o aprendizado das palavras.

Boa parte dos exercícios, embora simples, depende do seguinte aspecto teórico.

Hipônimos e hiperônimos

 Hiperônimos: Do grego hyperonymon (hyper = acima, sobre/ onymon = nome), são


palavras de sentido genérico, ou seja, palavras cujos significados são mais abrangentes
do que os hipônimos. Fazendo uma comparação com a Biologia, podemos dizer que
os hiperônimos seriam os gêneros, isto é, palavras que apresentam características
comuns.

 Hipônimos: Do grego hyponymon (hypo = debaixo, inferior/ onymon = nome), são


palavras de sentido específico, ou seja, palavras cujos significados são hierarquica-
mente mais específicos do que de outras. Fazendo novamente uma comparação com
a Biologia e seus termos, os hipônimos seriam as espécies, isto é, palavras que estão
ligadas por meio de características próprias. Vejamos alguns exemplos que certamente
irão te ajudar a compreender um pouco melhor essa questão:

Enquanto hipônimo é justamente o contrário, é a palavra na sua especificidade.

Veja:

HIPERÔNIMO HIPÔNIMO

Animais cachorro e cavalo.


Legume batata e cenoura.
Galáxia estrelas e planetas.
Ferramenta chave de fenda e alicate.
Doença catapora e bronquite

Os hiperônimos e hipônimos são importantes no campo semântico, na retomada de ele-


mentos em um texto, a fim de evitar repetições desnecessárias:

a) Estão muito felizes com o seu cão. O animal é fiel e companheiro.


Observe que, para não repetir a palavra “cão”, foi possível lançar mão do hiperônimo
“animal”

b) Nada disso vai fazê-los mudar de carro. O pequeno automóvel parece suprir todas
as necessidades deles.
Importante:
Aqui, a palavra “automóvel” evita que se repita a palavra “carro”.
Boa parte dos exercícios pro-
postos foram retirados de Texto

Exercícios em Construção (Ed. Moderna),


escrito pelo excelente professor
1. Preencha as lacunas dos trechos abaixo com vocábulos gerais (hiperônimos) referentes e amigo, Agostinho Dias Car-
aos vocábulos específicos anterioremente destacados: neiro, que me autorizou o uso

a) O ciúme, que finge ter por objeto a pessoa amada, só demonstra, mais que nenhum do material.
outro __________________, que só amamamos a nós mesmos.
b) As cegonhas ficaram mais despereocupadas e felizes depois que a ciência descobriu
não terem essas _______________ nada a ver com o nascimento dos bebês.
c) O cristianismo tem sido pregado por ignorantes e acreditado por sábios, nisso ele Respostas ao final
não se assemelha a nenhum ______________ conhecido.

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d) O filme de Spielberg é dessas __________________ que enriquecem o currículo


de qualquer diretor.
e) Monarquia e República? Os eleitores vacilam entre um _____________ e outro.
f) Presidente, ministros e governadores estavam no comício e o público aplaudiu
igualmente todas as _______________ .
g) Abriu a caixa de fotografias para ver se aquelas ____________ voltavam à sua
mente.
h) Tomara pílulas para dormir, mas o _______________ não fazia efeitos.
i) Eram chiados, sussurros, arrulhos, silvados, assobios e todo aquele
______________ não o deixava dormir.
j) Veneza também não foi poupada pelo terrorismo, mas isto não impediu a riqueza
da animação cultural, marca permanete da _________.
k) Cândido Portinari viajou em 1917 para o Rio, mas a _______________________
o decepcionou.
l) A reforma da estátua do Cristo Redentor mereceu um artigo no New York Times
que trata o _______________ como o símbolo internacional da cidade.
m) Mais cedo ou mais tarde todo mundo se sente só. Talvez você se sinta
________________ também.
n) Os ambulantes não demoraram a voltar para Copacabana e agora, a tendência
é o número de _______________ aumentar.

2. Substitua a palavra COISA nas frases a seguir por outra de valor mais espe-
cífico:
a) Embriagar-se é uma coisa reprovável:
b) Esfregar o chão é uma coisa chatíssima.
c) Não foi ao jogo por uma série de coisas.
d) Trouxe da Europa muitas coisas para todos.
e) A humildade é coisa rara.
f) Guardava suas coisas numa velha mala.
g) O jornal publicava muitas coisas sem autorização.
h) O autor deixou algumas coisas sem publicar.

3. Nas frases a seguir, preencha as lacunas com palavras equivalentes às an-


teriormente destacadas, mas de valor negativo:
a) Comprou um aparelho de cortar grama elétrico, mas após tantos defeitos não
sabia mais o que fazer com a ______________________.
b) O freguês olhou a comida que lhe havia sido servida e, mesmo com fome, recusou-
-se a comer aquela ________________.
c) O operário era proprietário de uma pequena loja no alto do morro, mas, como não
podia tomar conta da ____________, decidiu vendê-la.

5. Preencha as lacunas a seguir com os vocábulos adequados a cada contexto:


1. a) frutas secas ou frutas ________________
b) solo seco ou solo ________________
c) pessoa seca ou pessoa ________________

2. a) vinho que não é seco é ________________


b) cabelos que não são secos são ________________
c) o clima que não é seco é ________________

3. a) o céu que não está claro está ________________


b) explicação que não está clara está ________________
b) as águas dos rios que não estão claras estão ________________

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Respostas sugeridas

Atenção: você pode encontrar outras soluções que não e) Característica (comportamento)
as constantes deste gabarito. f) Objetos
g) Matérias (notícias, reportagens)
h) Obra
Exercício 1
a) Sentimento
b) Aves Exercício 3
c) Credo (crença, religião)
a) Bugigangas, tralha
d) Obras (produções, obras artísticas)
b) Gororoba, lavagem
e) Regime (governo, poder)
f) Autoridades c) Birosca, bodega, vendinha.

g) Imagens (lembranças)
h) Remédio
i) Barulho (ruído) Exercício 4
j) Cidade 1. a) desidratadas
k) Capital (cidade) b) árido
l) Monumento c) ríspida
m) Solitário (assim)
2. a) suave
n) informais (comerciantes informais, camelôs)
b) sedosos
c) úmido
Exercício 2
3. a) nublado
a) Atitude
b) confusa
b) Tarefa
b) turvas
c) Motivos (razões)
d) Lembranças

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