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ARTIGO ARTICLE
Interações afetivas de crianças abrigadas: um estudo etnográfico

Affective interactions with children in shelters:


an ethnographic study

Raquel de Camargo Barros 1


Geraldo A. Fiamenghi Jr. 2

Abstract This study was conducted in order to Resumo Este estudo teve como objetivo observar
observe interactions among twenty children liv- as interações entre as crianças residentes em abri-
ing in a sheltered home and their care-givers. Us- go e suas cuidadoras. Foram participantes desta
ing ethnographic methodology, these children (be- pesquisa vinte crianças de 10 meses a cinco anos e
tween ten months and five years old) were observed nove meses de idade, de ambos os sexos, de um
during half-hour meetings held twice a week for abrigo para crianças e adolescentes. A metodolo-
three and a half months. The findings indicate a gia utilizada foi de cunho etnográfico. Estas cri-
lack of training among the care-givers, reflected anças foram observadas duas vezes por semana,
in verbal hostility towards the children, with lim- em encontros de uma hora e meia, durante três
ited care, few words of encouragement and little meses e meio. Os resultados apontaram falta de
physical contact. At the same time, it was noted preparo das monitoras para cuidar das crianças,
that the children searched continuously for atten- evidenciado em situações de hostilidade verbal e
tion and care from other adults visiting the home. poucas ocorrências de carinho, palavras incenti-
This underscores the need to prevent and restruc- vadoras e contato físico. Ao mesmo tempo, notou-
ture poor relationships between care-givers and se que as crianças buscavam incessantemente a
children, shaping healthy environment for their atenção, o colo e o carinho de outros adultos fre-
development. qüentadores do abrigo. Depreende-se disto a ne-
Key words Child, Care-givers, Sheltered homes cessidade de prevenir e alterar relações insatisfa-
tórias entre cuidadores e crianças, promovendo um
ambiente saudável para seu desenvolvimento.
1
Núcleo de Apoio e Palavras-chave Criança, Cuidadoras, Abrigo
Acompanhamento
Interdisciplinar (NAAI).
Rua Tancredo Neves 3500,
Cohab 5. 06329-350
Carapicuíba SP.
raqueldecamargobarros@
yahoo.com.br
2
CCBS, Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
Rua da Consolação 896/
114, Consolação. 01302-
907 São Paulo SP.
fiamenghi@mackenzie.br
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Barros, R. C. & Fiamenghi Jr., G. A.

Introdução Freud & Burlingham9 estudaram o desenvol-


vimento de crianças que foram abrigadas em ins-
A fragilidade e vulnerabilidade humana nos pri- tituições durante a II Guerra Mundial, devido à
meiros anos de vida ocorrem porque possuímos, perda ou mudanças drásticas em suas famílias
ao nascermos, uma habilidade sensorial, física, (morte do pai, trabalho da mãe) e perceberam
cognitiva e emocional em formação1. Para que a que o desenvolvimento estava atrasado em diver-
criança sobreviva, é necessário que alguém cuide sos aspectos. As crianças que moravam nos abri-
dela em suas necessidades básicas. Assim, para gos demoravam mais tempo para reconhecer pes-
Bowlby2, 3, 4, 5, o comportamento de attachment é soas conhecidas, pois havia inúmeras pessoas em
instintivo e se desenvolve tanto em seres huma- seu convívio. No desenvolvimento da linguagem,
nos quanto em outros mamíferos durante a in- também houve uma diferença entre as crianças
fância, tendo como objetivo a proximidade de criadas em instituições e aquelas criadas em sua
uma figura materna. Embora este comportamen- família, sendo que as primeiras apresentaram um
to se manifeste de modo mais intenso nos pri- retardo no início da fala, pois as crianças não ti-
meiros anos de vida, ele continua em atividade nham pais cuja linguagem poderiam imitar.
durante a vida adulta. O attachment é fundamen- Corroborando este estudo, Bowlby5 salienta
tal para a sobrevivência dos indivíduos e ocorre que, mesmo quando criados em lares insatisfató-
em todas as culturas, sendo indispensável para a rios quanto às necessidades básicas, os bebês se
vida em sociedade, na medida em que o desen- desenvolvem melhor e apresentam ajustamento
volvimento social se dá devido a essa capacidade emocional mais adequado do que aqueles cria-
de manter relações interpessoais6. A pessoa em dos em instituições.
que se confia, também conhecida por Bowlby4 Vários autores destacam que a criança que
como figura de relação, pode ser considerada possui apego inseguro devido à ausência de uma
aquela que fornece uma base segura a partir da figura significativa em sua vida desenvolve um me-
qual a pessoa pode desenvolver-se. do muito intenso de perder a pessoa ou objeto com
A importância do ambiente no desenvolvi- o qual está se relacionando no momento1, 9, 10.
mento da criança é notória na vinculação afetiva Nesse sentido, um comportamento de evita-
e, para Keenan1, seria a responsável pelo estabe- ção por parte de uma criança a uma pessoa que
lecimento na criança da confiança e da seguran- lhe ofereça afeto seria considerado adaptativo,
ça para explorar e apreender o mundo. Ainswor- pois impediria o sentimento de rejeição ou ne-
th et al.7 foram as pioneiras a estudar os diferen- gligência novamente1, trazendo o perigo das cri-
tes tipos de apego que uma criança pode desen- anças apresentarem comportamentos anti-soci-
volver. Assim, a criança possui apego inseguro ais na adolescência e idade adulta4, 9.
quando suas mães são insensíveis ou negligentes Rutter11 questiona as proposições de Bowlby e
às suas necessidades. Este comportamento não afirma que a privação materna não necessaria-
desenvolve na criança a confiança que ela deve mente levaria a quadros psicopatológicos, desde
ter em si e nos outros. Por outro lado, quando que fossem oferecidos à criança os cuidados de que
ocorre o atendimento de suas necessidades de afe- necessita. Desse modo, variáveis ambientais ou
to, trocas subjetivas e cuidados de higiene e ali- institucionais devem ser relativizadas e fatores
mentação, a criança se torna confiante e pode ter como idade, gênero, temperamento, natureza da
um saudável desenvolvimento de suas capacida- relação anterior com a mãe, experiências prévias
des física, emocional e intelectual. e posteriores à separação devem ser consideradas
O cuidador é o mediador de muitos compor- ao analisar o comportamento de uma dada crian-
tamentos que a criança desenvolverá, regulando ça ou adolescente que sofreu privação materna.
sua atenção, curiosidade, cognição, linguagem, Dentre estas variáveis, é importante destacar
emoções, entre outros8. Quando a criança é pri- a influência da institucionalização sobre as cri-
vada dessa relação, ela desenvolve angústia, exa- anças. Os estudos realizados por Tizard & Tizard12
gerada necessidade de amor, fortes sentimentos revelam que os efeitos adversos do abrigamento
de vingança e, em conseqüência, culpa e depres- não provêm da separação da mãe, mas da quali-
são. Portanto, para este estudioso, a criança que dade da instituição na qual a criança é deixada.
vive em instituição, sem a presença de uma pes- Segundo os autores, aquelas instituições que ofe-
soa significativa, poderá ter seu desenvolvimen- recem baixa proporção entre adulto-criança, con-
to prejudicado, pois foi privada total ou parcial- dições de saúde, higiene e estimulações físicas e
mente de se vincular afetivamente com alguém emocionais podem favorecer o desenvolvimento
que lhe ofereça apoio, proteção e cuidados5. e não o prejudicar.
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A despeito de muitas crianças vivenciarem si- o desenvolvimento da pesquisa, 4) realizar o es-
tuações de estresse e risco em seu cotidiano, po- tudo aprofundado de uma ou poucas situações.
dendo apresentar distúrbios emocionais e proble- Rockwell7 afirma que “o processo etnográfi-
mas de conduta, nem todas apresentam estes com- co é aberto e artesanal”, ou seja, o etnógrafo deve,
portamentos13. Pelo contrário, algumas delas con- à medida que observa, criar hipóteses, analisá-
seguem adaptar-se e superar essas situações, de- las, reinterpretá-las e formular novas hipóteses.
monstrando, entre outras habilidades, competên- No que diz respeito à observação, para a referida
cia social, manifestando o que se denominou re- autora, na tradição etnográfica, procura-se ob-
siliência, isto é, uma capacidade de se sair bem servar tudo, mesmo que isso seja praticamente
frente a fatores potencialmente estressores11, 14, 15. impossível.
Assim, é importante estabelecer uma forte e Como o objetivo deste estudo foi observar as
constante vinculação afetiva com a criança, a fim interações estabelecidas entre as crianças e entre
de lhe proporcionar um saudável desenvolvimen- estas e suas cuidadoras no ambiente de um abri-
to físico, psíquico e social. Isto se torna ainda mais go, pensamos que a pesquisa qualitativa de cu-
relevante com crianças desprovidas de pessoas nho etnográfico seria a mais adequada para abar-
significativas em suas vidas e obrigadas a viver car a complexidade do fenômeno a ser estudado,
institucionalizadas à espera de adoção ou, quan- já que permite uma observação mais ampla da
do possível, retorno à família de origem, enfim, situação, além da participação mais direta do
de alguém que lhe assista em suas necessidades. observador no processo.
Diante destas considerações, esta pesquisa
teve por objetivos descrever as interações entre Participantes
as crianças e destas com suas cuidadoras.
Este estudo foi desenvolvido num abrigo para
crianças e adolescentes de uma cidade do interi-
Método or do estado de São Paulo. A instituição tinha
capacidade para abrigar sessenta pessoas, de am-
A abordagem escolhida bos os sexos, com idades entre zero e 14 anos.
Para esta pesquisa, foram participantes vinte
A etnografia é um método originalmente crianças, cujas idades oscilavam entre 10 meses e
proveniente da Antropologia e da Sociologia e, cinco anos e nove meses, de ambos os sexos e seis
apenas recentemente, tornou-se uma abordagem cuidadoras (todas do sexo feminino). Estas últi-
utilizada pela Psicologia Social16 e pela pesquisa mas cumpriam uma rotina de trabalho de doze
educacional17. horas diárias, em dias alternados, sendo sempre
De acordo com Sato & Souza18, o método et- as mesmas três num dia e as outras três no outro,
nográfico é o único a considerar que qualquer o que significava que cada monitora tinha em
descrição do comportamento humano necessita média seis crianças para cuidar.
da compreensão dos significados locais para des- Das crianças que participaram, nove eram do
crevê-lo. Nesse sentido, tem como pressuposto sexo feminino, onze do masculino e cinco delas
que a realidade deva ser construída socialmente, freqüentavam a escola. O tempo de abrigamento
desdobrando-se nas práticas, nos discursos e nas variava entre um mês a quatro anos e quatro me-
instituições. ses e os principais motivos de estarem institucio-
Este método foi considerado por Taylor16 um nalizadas eram negligência, seguido de maus-tra-
‘multimétodo’ de pesquisa devido à possibilida- tos físicos.
de de lançar mão de diversos instrumentos para Na tabela 1, apresentamos o gênero, idade,
coletar as informações. maus-tratos sofridos antes do abrigamento, tem-
Ainda para o mesmo autor, a etnografia ca- po de institucionalização e situação em que se
racteriza-se, essencialmente por: 1) obter infor- encontrava a criança no momento do estudo. As
mações a partir de vários recursos, como entre- situações possíveis são: 1) criança destituída, em
vistas, conversas, observações, documentos, 2) processo de destituição ou em estudo (averiguan-
estudar o comportamento nos contextos em que do se há possibilidade de retorno à família), 2)
ele ocorre, ao contrário de condições experimen- adoção nacional ou internacional, 3) retorno à
tais, 3) não estruturar a coleta das informações família.
antes de ir ao campo e sim, progressivamente, com
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Barros, R. C. & Fiamenghi Jr., G. A.

Tabela 1. Características gerais da população estudada.

Gênero Idade Maus-tratos Tempo de Situação


abrigamento
1 Fem. 10 meses Físicos 1 mês Processo
2 Masc. 1 ano Físicos/Negligência 3 meses Processo
3 Fem. 1 ano e 2 meses Físicos/Negligência 1 ano e 1 mês Processo
4 Masc. 1 ano e 6 meses Verificação de intoxicação 2 meses Retorno à família
da criança por parte da mãe
5 Fem. 1 ano e 7 meses Negligência 2 meses Retorno à família
6 Masc. 1 ano e 7 meses Tráfico de crianças 1 ano e 4 meses Estudo
7 Masc. 1 ano e 9 meses Negligência (Tráfico de drogas) 1 ano e 1 mês Destituído
8 Masc. 1 ano e 9 meses Negligência(Tráfico de drogas) 1 ano e 1 mês Processo
9 Fem. 2 anos e 1 mês Abandono (Mãe presidiária) 1 ano e 5 meses Adoção nacional
10 Masc. 2 anos e 8 meses Miséria extrema 1 ano e 4 meses Retorno à família
11 Masc. 3 anos e 5 meses Negligência e tráfico de drogas 1 ano e 1 mês Estudo
12 Fem. 3 anos e 6 meses Inadaptação à adoção 1 mês Destituída
13 Masc. 3 anos e 10 meses Físicos 5 meses Processo
14 Masc. 3 anos e 10 meses Negligência 3 meses Estudo
15 Fem. 3 anos e 11 meses Abuso sexual 7 meses Estudo
16 Masc. 4 anos e 1 mês Físicos 1 ano Retorno à família
17 Masc. 4 anos e 7 meses Físicos e negligência 4 anos e 4 meses Adoção internacional
18 Fem. 4 anos e 9 meses Negligência 6 meses Retorno à família
19 Fem. 5 anos e 1 mês Negligência (Mãe prostituta) 1 ano e 5 meses Adoção internacional
20 Fem. 5 anos e 9 meses Abuso sexual 7 meses Estudo

Procedimento para coleta das informações situações observadas, deixando o cuidado das
crianças a cargo dos pesquisadores.
Após o consentimento da instituição para
participar da pesquisa e aprovação do projeto pelo Procedimentos
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Huma- para análise das informações
nos da PUC-Campinas, as crianças e suas cuida-
doras foram observadas pelos pesquisadores du- Procedendo de modo coerente com a escolha
rante uma hora e meia, duas vezes por semana do método de pesquisa etnográfico, as categorias
(nos períodos matutino e vespertino), durante foram estabelecidas após as releituras dos diários
três meses e meio, totalizando aproximadamente de campo, sempre tendo em vista os objetivos
850 horas de observação. deste estudo.
Pela manhã, a situação observada foi o mo- As informações coletadas nos diários de cam-
mento de recreação livre das crianças, logo após po diziam respeito às impressões e sentimentos
o café da manhã e pela tarde, depois de acorda- dos pesquisadores diante das situações vivencia-
rem do descanso pós-almoço até a hora do lan- das no dia-a-dia das observações, sendo que tais
che vespertino. Neste intervalo de tempo, algu- impressões acabaram por integrar-se às análises.
mas tomavam banho e outras podiam brincar na Após os temas principais terem emergido,
sala do berçário. agrupamos os eventos em duas grandes categori-
No primeiro dia de observação, os pesquisa- as que nos pareceram adequadas para a análise:
dores foram apresentados às cuidadoras pela as- a) pensando o desenvolvimento das crianças abri-
sistente social do abrigo e foram explicados os gadas e suas relações com companheiros e b) dis-
objetivos da pesquisa. Após este contato inicial, cutindo as interações afetivas entre crianças e
as observações se realizaram nos ambientes do adultos no abrigo. Essas duas categorias refletem
abrigo, independentemente da presença das cui- os objetivos propostos para esta pesquisa, isto é,
dadoras na situação observada. Na verdade, em observar as interações entre as crianças e as inte-
algumas situações, as cuidadoras se afastaram das rações entre crianças e adultos no abrigo.
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Resultados e discussão estando exposta diversas vezes ao estímulo da lin-
guagem da mãe por imitação aprende a falar.
Consideramos importante esclarecer que no de- No que diz respeito aos bebês mais velhos (em
correr desta apresentação aparecerão diversos torno de um ano e meio), parecia já ser facultado
nomes de pessoas, que foram substituídos respei- o acesso ao chão, aos brinquedos e às crianças
tando o sigilo ético. mais velhas. Estes podiam circular livremente pela
sala de brinquedos e possuíam seu lugar junto aos
Pensando sobre o desenvolvimento outros na mesa do refeitório. Um engatinhava,
de crianças abrigadas e suas relações outro percorria o trajeto de bumbum, outro pre-
com companheiros cisava da ajuda para andar e alguns já tinham
desenvolvido a habilidade de caminhar sozinhos.
Em relação aos bebês (em torno de um ano), Os que ganhavam o chão, andavam livremente,
notamos que recebiam pouca estimulação por pegavam os brinquedos que queriam, interagi-
parte das monitoras. Aqueles que ainda não an- am com outras crianças, brincando ou brigando
davam ou engatinhavam ficavam praticamente e começavam a desafiar seus próprios limites. A
todo o tempo sentados em seus carrinhos ou em impressão era de que, a partir deste momento, as
cercadinhos, acompanhados ou não de brinque- crianças iniciavam um grande aprendizado – o
dos, como apresentado no relato a seguir, retira- de que deveriam contar apenas consigo próprias,
do de um dos diários de campo: tentando transpor as barreiras desenvolvimentais
Hoje, enquanto as outras crianças brincavam estabelecidas até o momento, ou seja, a partir da
no pátio, Adriana, de um ano e dois meses, ficou o possibilidade de locomoção, abririam outras
tempo todo no carrinho. Ofereciam brinquedo pra oportunidades para si.
ela, logo ela o derrubava e ficava sem. Quando ela Em conseqüência, as crianças de um ano e meio
se mexia, tentando se levantar dele, era repreendi- a dois subiam nas cadeiras, nos parapeitos das jane-
da e rapidamente as monitoras a colocavam na las e logo depois já estavam balançando velozmente
posição sentada. nos balanços, subindo nas casinhas de madeira do
Além disso, todos já estavam propícios a da- pátio, escorregando nos escorregadores, pulando na
rem seus primeiros passos com o auxílio de al- cama elástica, subindo em árvores para pegar fruti-
guém ou até mesmo, sem ajuda, porém, desde que nhas, tudo isso com pouco envolvimento em aci-
pudessem estar no chão. Poucas vezes os bebês dentes e sem maiores dificuldades.
foram observados em situações favorecedoras à Uma outra característica observada foi que
aprendizagem do andar. Isto ocorria mais quan- as interações estabelecidas entre as crianças pa-
do um voluntário propunha-se a dar as mãos à reciam visar, prioritariamente, a cooperação ou
criança ou a deixá-la esboçar seus desajeitados a disputa por brinquedo e por poder. Esses com-
passinhos sozinha, estando à sua retaguarda, caso portamentos variavam em função das caracterís-
necessitasse de amparo. Por conseguinte, as cri- ticas da criança envolvida na situação, ou de acor-
anças abrigadas desde tenra idade começavam a do com o momento em que ocorriam. Assim,
andar sozinhas em torno de um ano e meio a dois, notamos que havia aquelas crianças que se en-
aproximadamente. volviam menos em relações competitivas e mais
Sadalla19 aponta que, além da maturação bi- em cooperativas e vice-versa; bem como aquelas
ológica, para que o desenvolvimento da criança que transitavam entre uma e outra atitude de-
ocorra, é necessária a interação de alguns fatores, pendendo da situação.
como situações que propiciem a aprendizagem Na maioria das vezes, a agressividade era di-
daquilo que se quer desenvolver, motivação, ori- rigida a uma outra criança, mas também podia
entação, modelos, elogios e afeto. ser dirigida a um adulto. Os comportamentos
Considerando a linguagem, era comum en- agressivos eram tapas, mordidas, beliscões, chu-
contrar crianças maiores de dois anos ainda emi- tes, xingamentos e cuspes. As falas ameaçadoras
tindo apenas sons sem formar palavras. Freud & por parte das crianças também eram corriquei-
Burlingham9 notaram um atraso de seis meses na ras, como esta: “Eu não sou mais sua amiga!”, ao
linguagem de crianças abrigadas e atribuíram-no sentirem-se desgostosas com alguma situação ou
à falta de contato com a mãe, na medida em que ao não terem seus desejos atingidos.
o aprendizado da língua está diretamente ligado A grande incidência deste comportamento
à observação do comportamento e fisionomia da entre as crianças do abrigo talvez permita o le-
mãe enquanto fala. Disso resulta que a criança vantamento de algumas hipóteses que auxiliem a
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compreensão de sua manutenção. Podemos pen- sim! Tá outra pessoa, mudou completamente! Já
sar no fato de, por serem provenientes de um era pra ela ter se adaptado, afinal já faz tempo que
ambiente agressivo, expressam sua mágoa, triste- está aqui!”. A cozinheira diz: “Deixa eu ver quem
za e raiva dessa maneira por ainda não possuí- é ela!” (Nesse momento, a criança abaixa a cabeça
rem outras estratégias para enfrentar as situações; parecendo entristecida com o comentário).
obterem a atenção comportando-se desse modo A importância do vínculo afetivo no desen-
ou ainda, serem tratadas com hostilidade pelas volvimento da criança é praticamente inquestio-
monitoras. Estas hipóteses não estariam isoladas nável entre a maioria dos autores. Muitos, inclu-
umas das outras, mas sim, imbricadas e, talvez a sive, afirmam que ele é inato como Bowlby2, 3, 4, 5,
última seria a grande mantenedora da agressivi- Trevarthen20, Fiamenghi21, entre outros. Nesse
dade. Portanto, este comportamento poderia es- sentido, os bebês nasceriam aptos para vincula-
tar sendo reforçado como forma de se obter aten- rem-se afetivamente a alguém, especialmente à
ção na medida em que aquela que cuida, cuida mãe. E, na ausência dos pais, as crianças podem
também sendo agressiva. (e devem) apegar-se a uma pessoa, denominado
De acordo com Freud & Burlingham9, as cri- por Bowlby4 como figura de relação, capaz de for-
anças que vivem em abrigos parecem mais agres- necer uma base segura a partir da qual a criança
sivas do que outras que vivem com a família. Isto possa desenvolver-se.
ocorreria porque elas são obrigadas a conviver o Assim, Hutz & Koller6 salientam que
dia todo com mais crianças do que estas últimas Se a determinação biológica obriga seres huma-
e desde cedo precisam resguardar o que é seu, ou nos a interagir, pelo menos durante grande parte
seja, seus brinquedos, seus sentimentos, sua von- de suas vidas, são os fatores ambientais, em intera-
tade. Desse modo, as crianças institucionalizadas ção com fatores maturacionais e de personalidade,
estariam expostas a mais situações de expressão que determinarão, em grande parte, como essa in-
de sua agressividade do que aquelas que convi- teração irá ocorrer e seus efeitos para o desenvolvi-
vem em ambientes familiares, não significando mento psicológico e o bem-estar dos indivíduos.
que sejam mais agressivas. Podemos depreender disto a importância do
ambiente em que a criança está inserida como
Discutindo as interações afetivas propulsor de saúde psicológica. Entretanto, o
entre crianças e adultos no abrigo abrigo falha, continuamente, em oferecer às cri-
anças a segurança afetiva de que elas necessitam
A relação entre monitora e criança parecia para seu desenvolvimento.
estar envolta em uma atmosfera de repreensão e Infelizmente, o abuso de poder e autoridade
autoritarismo, por um lado e medo e abandono, figuravam entre as monitoras que pareciam uti-
por outro, pois ao mesmo tempo em que as ma- lizá-los até mesmo em momentos mais inespera-
nifestações de carinho eram quase inexistentes, dos como o relatado abaixo.
as atitudes hostis e ameaçadoras existiam cons- Com o rosto fechado, a monitora vai entregan-
tantemente no dia-a-dia das crianças. do o pastel pra cada um. Depois passa servindo ke-
Entretanto, apesar destes serem comporta- tchup e todos querem, mas uma das crianças fala:
mentos comuns entre as cuidadoras, havia mo- “Põe pra mim, tia!” E ela responde: “Não ponho
mentos de manifestação de afeto, bem como porque você pediu! Só vou colocar quando você não
aquelas que eram mais carinhosas com as crian- pedir mais!”. A criança diz: “Desculpa, tia! Eu não
ças, oferecendo-lhes oportunidades de atenção e vou fazer mais isto!” e ela a deixa por último para
trocas afetivas. colocar.
Contudo, os elogios e gestos de ternura eram Ameaças e punições físicas também eram apli-
raros, enquanto palavras destrutivas e ameaças cadas às crianças. De um modo geral, à surdina,
ocorriam em grande parte do tempo. Por conse- mas algumas bastante escancaradas, como o caso
guinte, era comum as cuidadoras coibirem os de um menino que chorava porque a monitora
comportamentos que não desejavam nas crian- havia lhe dado um beliscão ou outro em que a
ças utilizando-se de falas de caráter humilhante e cuidadora diz bem alto, frente a uma desobedi-
degradador, como nesta situação em que a mo- ência da criança: “Você vai levar um tapa!”.
nitora queixava-se para a cozinheira do abrigo, Desse modo, a manutenção do autoritarismo
na presença da criança: e violência ainda existia na vida das crianças que,
“A Heloísa (três anos e seis meses) está terrível, retiradas de suas famílias por maus-tratos, eram,
tá mimada. Nenhuma criança pode colocar a mão forçosamente, obrigadas a conviver com peque-
nela, no pé dela que ela reclama! Ela não era as- nos atos de violência diários.
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Por conseguinte, como nos aponta Guirado22, A letra da música trazia trechos, no mínimo,
a instituição, procurando recuperar a criança de contraditórios para aquelas crianças abrigadas
um abandono, muitas vezes também o promove, por maus-tratos, ou seja, elas terem que dizer
por abandonar à marginalidade as crianças por “mamãe cuida bem de mim [...] ah, se todas as
quem é responsável. mães do mundo fossem assim” pareceu-nos uma
As implicações na criança da ausência de grande violência a seus sentimentos. Ainda, tive-
confiança e apoio em um adulto cuidador po- ram que ouvir os comentários que as monitoras
dem ser bastante devastadoras, tendo em vista a faziam após cada trecho da música, evidencian-
estreita relação entre vínculo e desenvolvimen- do a incoerência, mas de um modo rude e cruel.
to emocional6. Por exemplo, no trecho “ah, se todas as mães do
O sucesso no desenvolvimento saudável das mundo fossem assim”, uma das cuidadoras men-
crianças vítimas do abandono depende do apego cionou: “Xi, Deus me livre!”
maior ou menor que essas puderem dedicar aos Entretanto, a situação pior ainda estava por
seus cuidadores. Quanto maior o afeto, maior a vir. Depois de ensaiarem três vezes a música para
chance de a criança tornar-se um adulto moral e o dia das mães, foi colocado outro CD e as crian-
socialmente independente. Do contrário, a cri- ças começaram a dançar ao som da música ‘Um
ança estará exposta a todos os riscos provenien- tapinha não dói’, cujo conteúdo diz que apanhar
tes da escassa vinculação e poderá desenvolver não machuca. Agora, indagamos: se não machu-
comportamentos anti-sociais quando adolescente casse, as crianças teriam sido retiradas de seus
e adulta9. responsáveis?
A despeito disto, nem todas as crianças ex- De acordo com Freud & Burlingham9,
postas aos fatores de risco (no caso, violência, Se, numa creche, o adulto deve servir de objeto
abandono familiar) desenvolverão comporta- de extravasamento às emoções recônditas da cri-
mentos inadaptados quando adultas devido à re- ança prontas a explodir, estas, não devem, em hi-
siliência. pótese alguma, servir de válvula de escape às emo-
Para Munist et al.15, esta característica é mul- ções incontroladas e até imoderadas dos adultos se-
tideterminada e depende da interação de diversos jam elas positivas ou negativas.
aspectos, como o biológico, psicológico e social, e Apesar de tudo, em alguns momentos, as
corresponde à capacidade da pessoa em ultrapas- monitoras conseguiam ter um pouco de discer-
sar as dificuldades e desenvolver-se de modo sau- nimento e afeto com as crianças, dando-lhes al-
dável, apesar do prognóstico desfavorável. guns beijinhos, abraçando-as e sorrindo com ter-
Diante das colocações a respeito do compor- nura, mas estes comportamentos ocorriam mais
tamento das monitoras em relação às crianças, com as crianças com idade até dois ou três anos.
convém também pensarmos o quanto elas pró- Quando mais velhas, as palavras e atitudes ternas
prias também podem ter sido educadas deste iam ficando cada vez mais escassas.
modo ou o quanto também acreditam que é as- Parecia mesmo que o carinho e o colo eram
sim a melhor maneira de educar as crianças. mais ofertados pelos voluntários do abrigo. Estes
Nesse sentido, Marcílio23, em seus estudos sim, ao que observamos, eram afetuosos, conver-
nas unidades da Febem, ressalta em relação aos savam com as crianças, sorriam para elas e, talvez
monitores: o mais importante, davam-lhes uma oportunida-
Falta-lhes um mínimo de preparo técnico para de de contato físico, ofertando-lhes colo e afago.
a função: atuam com seus próprios recursos pessoais, De um modo geral, os voluntários eram bastante
com sua moral e seus valores, seu humor e sua força solícitos e auxiliavam as monitoras em tudo, até
física. Em geral dominam os conflitos e os jovens mesmo desenvolvendo o papel destas, servindo
pela cultura da subjugação, com uma rotina de res- refeições, dando mamadeiras, banhos e trocando
trições, desprazeres, de controles e maus-tratos. fraldas, mas o mais importante, sem dúvida, era a
Talvez uma das piores situações vivenciadas oportunidade de agradar aquelas crianças ansio-
tenha sido na semana do dia das mães, em que as sas por um pouco de afeto e atenção.
crianças foram obrigadas a ensaiar uma home- Apesar da reconhecida importância do papel
nagem às suas progenitoras e deveriam gritar dos voluntários como possibilitadores de trocas
“Mãe, eu te amo!” ao final da canção, que era mais afetivas com as crianças, nem todos freqüenta-
ou menos assim: Mamãe me plantou, mamãe me vam o abrigo com regularidade, o que poderia
regou [...] para que eu crescesse assim [...] mamãe acarretar uma não vinculação destas com os adul-
cuida bem de mim [...] ah, se todas as mães do tos voluntários.
mundo fossem assim. Esta situação, para Bronfenbrenner & Crou-
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ter24, não seria facilitadora de um saudável de- tando-se de modo inadequado com as crianças,
senvolvimento humano, na medida em que, para o que poderia revelar descomprometimento ou
que ele se suceda, deve ocorrer sobre uma base ignorância em lidar com elas. Parecia-nos, desse
regular e duradoura propiciada pelo ambiente em modo que, não só as crianças, mas também elas
que a criança desenvolve-se. estavam desamparadas, desconhecendo as neces-
No que diz respeito ao colo, ouvimos das pró- sidades de carinho e afeto daquelas crianças, evi-
prias crianças e das monitoras uma não autori- denciado neste diálogo com uma das monitoras:
zação a sentarem nos colos dos voluntários, sen- Monitora: “Você é estudante?”,
do evocada a figura da coordenadora do abrigo, Pesquisadora: “Sou psicóloga!”
como no relato de uma criança falando para a Monitora: “Você fica com as crianças, mas nós
outra: é que precisamos de psicóloga, talvez mais do que
Fico com Lucas (quatro anos e sete meses) no elas!”
meu colo e ele fica bem encostadinho em mim. O despreparo das cuidadoras aparecia, princi-
Depois aproxima-se Renato (três anos e 10 meses) palmente, no modo com que lidavam com as má-
e diz pra ele bravo: “Não pode sentar no colo das criações das crianças, ou seja, tentavam coibir o
voluntárias! A (coordenadora) falou que não pode!” comportamento indesejado com palavras depre-
Por um lado, é compreensível a condenação ciativas referindo-se à criança como pessoa e não
do colo porque a criança em sua ânsia por conta- especificamente a sua atitude, como pode ser nota-
to físico, algumas vezes, desejava o colo com ex- do no seguinte exemplo: “Foi você que mordeu,
clusividade, chegando a estabelecer brigas com Lucas? Fala a verdade! Menino feio e mal educa-
colegas que tentassem competir com ela pelo do!”. Além disso, utilizavam, algumas vezes, a amea-
mesmo território ou se desentendendo com quem ça de punição física ou dela própria como forma
lhe ofertou colo por cedê-lo a outrem. de manter as crianças em seu controle, obedientes.
Pode-se até querer justificar, racionalizando Não estamos, com isso, desejando colocar a
sobre a possibilidade de evitação de situações de responsabilidade das dificuldades vivenciadas
abuso sexual, mas esta regra parecia-nos um pou- pelas crianças em situação de abrigamento nas
co exagerada, porque proibir que as crianças bus- cuidadoras. Parece-nos que os comportamentos
cassem contato físico com um adulto era, no mí- inapropriados observados nas cuidadoras são,
nimo, uma violência em seus desejos por afago e também, conseqüência das próprias fragilidades
calor humano. e inadequações em sua formação técnica, ou me-
Mediante os fatos apresentados, acreditamos lhor, da ausência dessa formação.
relevante apontar que, apesar de nossa explana- Assim, a despeito do ambiente destas crianças
ção ter evidenciado muitos comportamentos que em situação de abrigamento estar longe de ser o
julgamos errôneos das cuidadoras para as crian- ideal, vale refletirmos quais seriam as outras pos-
ças e, ao mesmo tempo, explicitar de modo mais sibilidades existentes no município ou mesmo no
positivo a relação dos voluntários com as mes- Brasil que são realmente favorecedoras de um ade-
mas, também reconhecemos que, a despeito das quado contexto de desenvolvimento para elas.
atitudes hostis, o trabalho desenvolvido pelas Em reportagem do PSI, Jornal de Psicologia
monitoras é árduo, além de exigir muita dedica- do CRP-SP 26, publicada no começo de 2004, dis-
ção, paciência e carinho pelas crianças. Ainda cutiu-se a possibilidade de, em vez de abrigos,
mais que são elas as pessoas presentes no dia-a- colocar as crianças em famílias acolhedoras, as
dia das crianças, enquanto que os voluntários quais receberiam sua guarda provisória enquan-
permanecem apenas algumas horas na semana. to esperam por adoção ou retorno à família de
origem. Com isso, segundo a reportagem, seria
favorecido o desenvolvimento da criança, por ser
Considerações finais um ambiente com possibilidades de ser mais per-
sonalizado e mais estimulante do ponto de vista
A instituição em que desenvolvemos nosso estu- afetivo e físico.
do pretendia seguir as proposições do ECA25, seus Outro desafio seria tentar manter a criança
princípios e diretrizes; entretanto, percebemos que sofreu maus-tratos em seu próprio ambiente
que apresentava falhas, principalmente no que familiar, desde que houvesse um acompanhamen-
dizia respeito à formação e capacitação de suas to de profissionais que assegurassem a proteção
cuidadoras. da criança e desenvolvessem um trabalho famili-
Por conseguinte, muitas vezes sentimo-nas ar. Esta possibilidade é o tema de discussão da
despreparadas para a função, por vezes compor- Comissão Intersetorial de Promoção, Defesa e
1275

Ciência & Saúde Coletiva, 12(5):1267-1276, 2007


Garantia do Direito de Crianças e Adolescentes à gados, suas relações com as famílias de origem e
Convivência Familiar instituída pelo Presidente também investigações sobre a percepção das cui-
da República em meados de outubro de 2004, dadoras sobre o papel que exercem nas institui-
cujos objetivos são apresentar propostas políti- ções de abrigamento.
cas que ampliem a convivência familiar em vez Enquanto isso, torna-se importante a melho-
do abrigamento27. ria do trabalho desenvolvido pelas monitoras do
De qualquer modo, apesar de podermos vis- abrigo, bem como um apoio maior por parte da
lumbrar outras possibilidades para as crianças coordenação e direção do abrigo no sentido de
que não as institucionalizadas, ainda há muito a privilegiar sua capacitação, tendo como objetivo
discutir a esse respeito. Dessa maneira, sugerimos fundamental a preparação para o desempenho da
a continuidade dos estudos acerca do desenvol- função, a fim de promover um saudável desen-
vimento infantil de crianças e adolescentes abri- volvimento para as crianças abrigadas.

Colaboradores

RC Barros e GA Fiamenghi Jr participaram igual-


mente de todas as etapas da elaboração do artigo.
1276
Barros, R. C. & Fiamenghi Jr., G. A.

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