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MARTIGO

achado AC & Bello SF


ORIGINAL

Habilidades sociocomunicativas
e de atenção compartilhada em
bebês típicos da primeira infância
Andréa Carla Machado; Suzelei Faria Bello

RESUMO – A compreensão da habilidade de comunicação intencional em


bebês tem sido alvo de indagações e debates de pesquisadores que estudam a
cognição social infantil nos primeiros anos de vida. Assim, é importante investigar
habilidades sociocomunicativas e de atenção com­partilhada, bem como verificar as
intenções comunicativas dos bebês nas primeiras interações mãe-bebê, se os bebês
interpretam o comportamento do adulto como intencional e a potencial relação
entre contextos de atenção compartilhada, comunicação intencional e aquisição
da linguagem. O presente estudo teve como objetivo apresentar dados referentes
às ha­bilidades sociocomunicativas e de atenção compartilhada em bebês típicos na
primeira infância, buscando identificar as duas habilidades citadas e evidenciadas
nos bebês, em quatro distintos períodos observados, bem como as diferentes
configurações em cada idade. Participaram desse estudo quatro díades mãe-bebê.
Os bebês tinham idades de três, seis, quinze e dezoito meses. As observações vi­
deogravadas foram realizadas nas residências dos participantes, numa situação
de brincadeiras com brinquedos previamente selecionados, durante vinte minutos.
Nas análises das observações, foram identificados marcos na trajetória evolutiva
e diferentes configurações sociocomunicativas e de atenção compartilhada nas
díades. Verificou-se que as aquisições de comunicação intencional e os diferentes
contextos de atenção compartilhada redirecionaram e ampliam o curso das
interações, em cada idade. Este estudo contribui para a discussão relativa à
cognição social infantil, com ênfase nas relações entre atenção compartilhada,
co­municação intencional e aquisição da linguagem.

UNITERMOS: Relações mãe-criança. Comunicação. Lactente. Relações In­


terpessoais.

Andréa Carla Machado – Psicopedagoga, Mestre e Correspondência


Dou­tora em Educação Especial pela UFSCar. Pós- Andréa Carla Machado
dou­toranda na Universidade Federal de São Carlos – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Infantil (CPEDi)
UFSCar. São Carlos, SP – Brasil. Bolsista FAPESP. Centro Rua Rui Barbosa, 416 – Centro – Neves Paulista, SP,
de Pesquisa e Desenvolvimento Infantil – CPEDi – Neves Brasil – CEP: 15120-000.
Paulista, SP, Brasil. E-mail: decamachado@gmail.com
Suzelei Faria Bello – Fonoaudióloga, Mestre, Doutora e
Pós-doutora pela Universidade Federal de São Car­los –
UFSCar. São Carlos, SP – Brasil. Docente da UNILAGO
– Faculdade da União dos Grandes Lagos. Centro de
Pesquisa e Desenvolvimento Infantil – CPEDi – Neves
Paulista, SP, Brasil.

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INTRODUÇÃO municação simbólica. É importante mencionar5,6


Antes mesmo de adquirirem a capacidade de que já havia destacado a atenção como uma das
se comunicar verbalmente com outros integran- grandes funções da estrutura psicológica que
tes de sua cultura, os seres humanos transitam embasa o uso de instrumentos num contexto
em contextos nos quais estão inseridos, por meio social. Segundo ele, a habilidade para focalizar
de ferramentas comunicativas, tais como ações e a própria atenção é um determinante essencial
gestos. Esses instrumentos possibilitam as inte- do sucesso ou não de qualquer operação prática,
rações sociais, a desenvolver uma interpretação pois a criança deve prestar atenção para poder
compartilhada de suas atividades conjuntas, por ver. A atenção, auxiliada pela fala:
meio das trocas que se estabelecem com o outro, “(...) cria condições para o desenvolvi-
já no primeiro ano de vida1. mento de um sistema único que inclui
Em torno desse recorte evolutivo, os bebês evi­­ elementos efetivos do passado, presen-
denciam as seguintes habilidades: olhar na dire- te e futuro. Esse sistema psicológico
ção do olhar do outro; observar a face do outro, emergente na criança engloba, agora,
quando estão em uma situação ambígua; mostrar duas novas funções: as intenções e as
e compartilhar objetos com outros. Tais comporta- representações simbólicas das ações
mentos destacam-se entre outras ações circuns- propositadas”6.
critas denominadas atenção compartilhada. Nessa direção, alguns resultados extraídos
Há um consenso entre os estudiosos no sentido de pesquisas corroboraram os dados e premissas
de que o fenômeno da atenção compartilhada ou de pesquisadores de referência nessa área7-9.
conjunta (AC) é um dos pilares da cognição social Destacam-se, principalmente, aqueles relacio-
e da aquisição da linguagem. Essa questão é abor- nados à ideia de que os episódios de atenção
dada inicialmente a partir da delimitação daquilo compartilhada podem contribuir para o avanço
que vem sendo entendido por AC e cognição so- do vocabulário infantil, admitindo-se que há
cial infantil, fenômenos tidos como imbricados no uma variação e aumento do tempo de atenção
estudo sobre o desenvolvimento infantil. estabelecido entre as díades, em função da idade
Estudiosos2,3 dessa temática têm verificado de bebês e crianças.
relações entre atenção conjunta e cognição so­­cial Ainda sob a ótica desse autor, a atenção com-
infantil, a qual é investigada a partir de ha­bi­lidades partilhada pode ser entendida como uma habi-
sociocomunicativas de bebês, desde a mais tenra lidade de coordenar ações de atenção entre um
idade. A cognição social infantil envolve, mais parceiro social ou um objeto de interesse comum8.
especificamente, a habilidade para compreen- Dessa forma, com o enfoque na intencionali-
der outras pessoas, abrangendo o conjunto de dade como intenções que afunilam para as trocas
capacidades perceptivas que habilita o bebê a dialógicas e fortalecem as interações sociais,
discriminar pessoas de objetos. Abrange, também, preditoras do desenvolvimento infantil com-
o complexo inter jogo de pistas sociais, tais como partilhado, os conceitos10 da intencionalidade
o contato visual, movimentos do corpo, tom de relacionados ao ato comunicativo que sustenta
voz e ex­pressões faciais, que auxiliam o bebê na a habilidade de atenção compartilhada.
interpreta­ção de comportamentos do outro4. Tais observações se fazem relevantes ao en-
Os rudimentos dessas habilidades podem ser tender a comunicação como uma complexa inte-
evidenciados em interações face a face mãe-bebê ração entre dois ou mais sujeitos que necessitam
nos primeiros meses e até nos primeiros dias trocar turnos, codificar e processar a informação,
de vida. Elas são consideradas basilares para e então fortalecer o diálogo, mesmo que tenham
desenvolver formas mais complexas de habili- contribuições diferentes entre a comunicação
dades sociocognitivas, tais como interpretar os verbal e não-verbal. Diante do exposto, o que
comportamentos dos outros e utilizar uma co- se torna importante é a intenção de iniciar um

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diálogo, manter e ampliar e tais ações implicam identificar as duas habilidades citadas e eviden-
em compartilhar a atenção entre os mediadores ciadas nos bebês em quatro distintos períodos
do sujeito. observados, bem como as diferentes configura-
Por isso, as condutas comunicativas de iniciar, ções em cada idade.
manter e rever o ato comunicativo cria movimen-
tação para ampliar o desenvolvimento, o que MÉTODO
irá buscar uma competência comunicativa, ou Participantes
seja, a tarefa primordial de oferecer intenção à Participaram deste estudo quatro díades mãe-
comunicação do bebê, e, sobretudo às respostas -bebê nas idades de três, seis, quinze e dezoito
diversas, como choro, sorriso, levantar os braços,
meses. As mães dos bebês eram casadas, mo-
balbucio será do cuidador que transformará a
ravam em suas próprias residências, tinham
intencionalidade em intenção de comunicação11.
idade média de 27 anos, (DP= 4,94) e nível de
Esses pressupostos comportamentais de inte-
instrução a partir do ensino médio completo.
ração do ato comunicativo também foram apon-
Das mães participantes deste estudo, três eram
tados12, com ênfase nas manifestações de sorriso
primíparas e uma das mães, a criança era a se­
e balbucio, como deflagradores do contato social
gunda de três filhos. Segundo relato delas, os
e, por sua vez, dos atos comunicativos, pois os
bebês não apresentaram problemas de saúde
bebes despertam nos adultos comportamentos de
e nasceram a termo (idade gestacional maior
atenção, ritmo de fala diferenciado, disposição
que 38 semanas). A participação de cada díade
ao toque e à proteção.
ocorreu e foi autorizada mediante assinatura do
Nos primeiros anos de vida, os sons rudi­
Termo de Consentimento e Livre Esclarecido.
mentares13, que vão sendo incorporados e apri­
mo­rados pelas habilidades sociais de sorrir, ofe­
recer o contato visual, de tocar, de estender os Instrumentos
braços, superam o desejo das trocas e instauram Para conhecer os comportamentos comuni-
a comunicação não-verbal, que interpretada pela cativos intencionais dos bebês foram utilizados
díade oferece identidade às interações socioco- uma câmera de vídeo e um roteiro com os itens
municativas e qualificam os sinais do parceiro e relacionados à linguagem e socialização14,15. As
as funções progridem para meta representações díades foram observadas em suas residências,
e experiências que levam para a evolução da em situação de brincadeira com brinquedos
comunicação verbal. previamente selecionados (Quadro 1). Esse tipo
Diante do exposto, este estudo teve o objetivo de contexto pode aumentar a probabilidade
de apresentar dados referentes às habilidades do surgimento de interação durante o evento,
sociocomunicativas e de atenção compartilhada consideradas vitais para mudanças no desen-
em bebês típicos na primeira infância, buscando volvimento.

Quadro 1 – Brinquedos utilizados para a interação das díades.


Idades/Meses 3 meses 6 meses 15 meses 18 meses
Habilidades Brinquedo de convívio Fantoches de Bonecas; bolas; Jogos de encaixe;
Sociocomunicativas diário da criança (mediado animais jogos de encaixe bolas
pela fala da mãe)
Habilidades de Atenção Chocalho Fantoches de Jogos de Jogos de panelinhas,
Compartilhada animais panelinha, telefone telefone

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Procedimentos de coleta de dados minuciosa dos tipos de interações que ocorreram


O contato com cada díade participante do em cada episódio, na perspectiva de identificar
estudo foi feito a partir do conhecimento de as principais habilidades sociocomunicativas e
uma das pesquisadoras que conhecia as mães atenção compartilhada evidenciadas pelos be-
e seus bebês que se enquadravam nos critérios bês e as possíveis modificações em cada idade
adotados, quais eram: díades mãe-bebê com as das referidas habilidades. O critério utilizado
crianças na idade inicial de três meses, sendo para analisar as habilidades comunicativas dos
as mães casadas, residentes em seus próprios bebês foi a evidência comportamental, que in­
domicílios e com nível de instrução a partir do dica se a criança tem intenção de comunicar
ensino médio completo. algo em relação a um objeto ou ao parceiro. Foi
O primeiro contato com as mães foi feito por considerado um ato comunicativo o grupo de
rede social e, uma vez concedida à permissão condutas não-verbais e/ou verbais produzidas
para a visita à casa da díade, foram coletadas por um emissor com a intenção de influenciar o
as primeiras informações. Conforme disponi- comportamento e/ou o estado mental do outro.
bilidade da mãe, realizaram-se as sessões de Exemplificam condutas intencionais nos bebês,
observação. Na visita, as pesquisadoras expu- comportamentos (movimentos corporais, atenção
seram os objetivos do estudo e solicitaram o visual), vocalizações e formas de interação com
consentimento para a realização dos registros as mães que abrangem: chorar; pegar objetos
das interações com o uso do vídeo. oferecidos pela mãe; estender os braços e tronco
Foi dada às mães somente uma instrução: em direção a algo na presença do outro. A habili-
que “brincassem com seus filhos da maneira dade da atenção compartilhada ou conjunta (AC)
como faziam usualmente”. Durante as sessões se caracteriza como sendo os comportamentos
de observação, estiveram presentes apenas as infantis que servem para coordenar a atenção
pesquisadoras, a mãe e o bebê. As díades foram entre os parceiros da interação social, com o fim
observadas uma vez no mês referido (idade) de compartilhar uma consciência dos objetos/
de cada criança, iniciando com um bebê aos eventos. É um sistema que integra o processa-
três meses, depois as crianças de seis meses e mento da informação interna sobre seu próprio
concluindo com a criança com quinze meses de campo de atenção visual e a informação externa
idade, perfazendo um total de oitenta minutos sobre o campo visual do seu interlocutor, como,
de observação. Em cada momento evolutivo, as por exemplo, dirigir a atenção do outro por meio
díades foram observadas durante 20 minutos do olhar (mesmo que não intencionalmente); se-
revistos para análise, sendo desconsiderados o guindo objetos ou voz, mostrar um objeto para a
primeiro e o último minuto. mãe; dar objetos espontaneamente; oferecer um
Este estudo teve o intuito de replicar alguns objeto ao parceiro deixando-o muito perto deste;
dos procedimentos utilizados no trabalho de e apontar quais são importantes precursores do
Aquino e Salomão1, mas lançando mão de vá- desenvolvimento da linguagem.
rias outros elementos/tarefas relacionados às O processo de análise dos dados das intera-
habilidades sociocomunicativas e de atenção ções videogravadas iniciou-se com revisão de
compartilhada. cada sessão; durante as revisões cada cena ou
episódio foi revisto com o intuito de registrar de
Análise dos Dados forma minuciosa as interações e atividades que
A análise dos dados derivados das interações surgiram a partir da situação de brincadeira e as
entre mães e bebês nos três períodos estuda- formas de comunicação verbal e não-verbal de
dos buscou demonstrar os fluxos interativos ambos os membros da díade. Na segunda etapa,
ca­racterísticos nas díades mãe-bebê em cada as sessões de cada díade foram marcadas no
período observado. Privilegiou-se uma leitura roteiro com as categorias pré-definidas em cada

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idade para identificar ações do bebê de natureza Na Figura 1, observamos a frequência das
intencional e/ou não-intencional durante as inte- ha­­­bilidades dispostas em categorias e agrupadas
rações. Por meio desse processo, foi possível iden- nas idades de 0 a 6 meses. Os dados evidencia-
tificar e caracterizar as principais modalidades ram que os bebês mais velhos, ou seja, com seis
sociocomunicativas e de atenção compartilhada meses, apresentam maior frequência nas habi-
dos bebês em cada período analisado. lidades sociocomunicativas e de atenção com-
Para verificar a fidedignidade da codificação partilhada comparados ao bebê de três meses
das habilidades dos bebês nos episódios intera- que ainda está adquirindo habilidades de jogos
tivos, o material e o roteiro foram preenchidos e vocálicos, resposta de gestos com gestos, por
analisados pelas duas pesquisadoras para que exemplo, o qual obteve uma frequência menor
fosse obtido o índice de concordância na marca- nessas categorias.
ção das categorias analisadas. As porcentagens Nessa amostra ficam evidentes que as formas
de concordância foram comparadas, obtendo-se não-verbais de comunicação estão presentes e
concordância maior que 85%. os processos interativos reforçam a presença de
cada item como preponderante para o desenvol-
RESULTADOS vimento da comunicação verbal. Os primeiros
Após a análise das interações por díade, foi níveis de comunicação não-intencional7,14 sur-
realizada uma análise por grupo de idade para gem por volta dos dois aos oito meses de vida,
demonstrar as possíveis variações ocorridas em situação delineada por contato visual que segue
termos de das habilidades dos bebês em intera- trajetória de objeto ou de pessoa, vocaliza, chora
ções com as mães. Para melhor visualização, os com intenção biológica, demonstrando a inten-
dados foram dispostos em figuras apresentadas cionalidade sociocomunicativa dos bebês frente
a seguir. ao meio em que está envolvido. Em relação à

Figura 1 – Frequência das habilidades dos bebes com idade de 0 a 6 meses.

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atenção compartilhada, podemos ressaltar que comunicativos, pois a criança emprega recursos
os comportamentos, de natureza triádica, como elementares para agir sobre o outro, inicia diá-
por exemplo, responder gestos com gestos, logo, usa uma gama pequena de vocabulários,
responde por vocalizações e interações, jogos responde com vocábulos simples, procurando,
vocálicos; deram-se também em função das assim, expressar seus desejos; obter algo com o
situações e atividades criadas pelas mães, o uso da comunicação; focar a atenção para o ato
que evidencia que o caráter bidirecional dessas comunicativo ou ainda iniciar um comentário
trocas seriam indicativos da habilidade comuni- da situação3,4,15. Também atos dos bebês nessas
cativa intencional8. idades que indicam a habilidade em partici-
A Figura 2 apresenta a frequência das habili-
par da interação via jogo de papéis, tais como
dades sociocomunicativas e de atenção compar-
entregar brinquedo à mãe, quando solicitado,
tilhada para os bebês com idade de quinze e de-
imitar o adulto utilizando o objeto e vocalizar
zoito meses. Verificamos que todas as categorias
olhando para a mãe, sugerindo que os bebês
relacionadas às habilidades sociocomunicativas
compartilhavam os passos de cada atividade
e atenção compartilhada, mais elaboradas, são
dominadas por bebês típicos a partir dos 15 me- da interação.
ses. No entanto, somente a produção de cinco Contudo, é importante ressaltarmos que,
palavras diferentes, nomeação de brinquedos, mesmo os bebês sendo caracterizados como tí­
produção de sons de animais, respostas positi- picos do desenvolvimento infantil, é mister lem­
vas de “sim” e “não” e a imitação de sons foram brar que há uma variabilidade de perfil para a
realizadas pela criança de dezoito meses. execução de algumas categorias descritas, não
Nessa fase, inicia-se a comunicação pré-lin­ cabendo aqui neste trabalho generalizações,
guística, ou seja, tende a verbalizações mais mesmo porque fatores extrínsecos estão envolvi-
elaboradas, já com intencionalidade nos atos dos nas construções dessas relações/interações.

Figura 2 – Frequência das habilidades dos bebês com idade de 12 a 18 meses.

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CONCLUSÃO engloba, além da habilidade de focar conjunta-


Este estudo teve o objetivo de apresentar mente um mesmo objeto que o parceiro da intera-
dados referentes às habilidades sociocomuni- ção, o aspecto maturacional da função psicológica
cativas e de atenção compartilhada em bebês ‘atenção’, os estilos comunicativos maternos, a
típicos na primeira infância, buscando identi­fi­ responsividade das mães aos comportamentos e
car as duas habilidades citadas e evidenciadas iniciativas dos bebês durante as interações.
nos bebês, em quatro distintos períodos obser- No entanto, sugere-se que estudos longitu­
vados, bem como as diferentes configurações dinais sejam realizados acompanhando de for­
em cada idade. ma contínua o surgimento das habilidades so­
A configuração de movimentos, de contatos ciocomunicativas no primeiro ano de vida, o
visuais, gestos e expressões faciais tornou-se que pode favorecer uma melhor compreensão
mais coordenada, e esse conjunto de aporte neu­ acerca da transição da habilidade comunicativa
ropsicomotor caminhou lado a lado com as mu- não-intencional para a intencional.
danças qualitativas nos formatos comunicativos Ademais, esses estudos podem fornecer da-
observados durante as interações. E também a dos importantes para a detecção de prejuízos na
análise dessas interações permitiu desenvolver comunicação e na linguagem, e subsidiar inter-
a compreensão de que a habilidade de atenção venções precoces no campo da cognição social
compartilhada de bebês, no primeiro ano de vida, infantil e da linguagem.

SUMMARY
Socio comunicative skills and shared attention
in typical babies first childhood

Understanding intentional communication skills in infants has been the subject


of inquiries and debates of researchers studying children’s social cognition in the
first years of life. It is therefore important to investigate socio comunicative and
skills shared attention, as well as check the communicative intentions of babies
in the early mother-infant interactions, if babies interpret the adult behavior as
intentional and the potential relationship between contexts of shared attention,
intentional communication and language acquisition. The present study aimed
to present data relating to socio comunicative skills and shared attention in
typical babies in early childhood, trying to identify the two skills mentioned and
highlighted in babies in four distinct periods observed, as well as the different
settings in each age. This study participated in four díades mother-baby. The
babies had ages of three, six, fifteen and eighteen months. Video observations
recorded were held in the homes of the participants, in a situation of playing with
toys previously selected, for twenty minutes. The analysis of the observations were
identified marcos on evolutionary trajectory and different configurations socio
comunicative and shared attention on díades. It was found that the purchase of
intentional communication and the different contexts of shared attention reassigned
and extend the course of interactions, in every age. This study contributes to the
discussion on the children’s social cognition with emphasis on relations between
shared attention, intentional communication and language acquisition.

KEY WORDS: Mother-Child Relations. Communication. Infant. Inter­personal


Relations.

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Trabalho realizado no Centro de Pesquisa e Desen­ Artigo recebido: 23/3/2015


volvimento Infantil – Projeto por Você! para o auxílio Aprovado: 8/7/2015
a crianças com atraso no desenvolvimento a partir da
primeira infância, Neves Paulista, SP, Brasil.

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