O documento discute o desenvolvimento da comunicação e da linguagem em bebês. Apresenta as perspectivas de Piaget, Vygotsky e Chomsky sobre o assunto. Discute que os bebês já nascem capazes de comunicação intencional através de interações com cuidadores, embora a capacidade de sequenciar ações para fins comunicativos se desenvolva ao longo do primeiro ano de vida.
O documento discute o desenvolvimento da comunicação e da linguagem em bebês. Apresenta as perspectivas de Piaget, Vygotsky e Chomsky sobre o assunto. Discute que os bebês já nascem capazes de comunicação intencional através de interações com cuidadores, embora a capacidade de sequenciar ações para fins comunicativos se desenvolva ao longo do primeiro ano de vida.
O documento discute o desenvolvimento da comunicação e da linguagem em bebês. Apresenta as perspectivas de Piaget, Vygotsky e Chomsky sobre o assunto. Discute que os bebês já nascem capazes de comunicação intencional através de interações com cuidadores, embora a capacidade de sequenciar ações para fins comunicativos se desenvolva ao longo do primeiro ano de vida.
O INÍCIO DA COMUNICAÇÃO, DA REPRESENTAÇÃO E DA LINGUAGEM
Professora Me. Maria Carolina Albuquerque Botaro
Psicologia 2020 • A comunicação e a representação são duas capacidades intimamente relacionadas no ser humano.
• O instrumento mais importante que as
pessoas empregam para se comunicar é a linguagem, sistema de natureza simbólica que, entre outras coisas, permite “representar” a realidade (voltar a torná-la presente quando não está). Piaget e Vygotsky: duas referências imprescindíveis
• De acordo com Chomsky a linguagem é um “órgão
mental” com uma determinação semibiológica e seu aparecimento corresponde à maturação de especificações inatas que constituem a essência da espécie humana.
• Para o mesmo autor, o entendimento ou a cognição
não tem nenhum papel no aparecimento da linguagem, controlada por mecanismos específicos de natureza inata. • Jean Piaget, diferentemente de Chomsky, afirma a importância do cognitivo sobre o desenvolvimento da comunicação e da linguagem.
• Para ele, a linguagem, entendida como
representação, aparece, junto com outras condutas, como tradução ou expressão da função simbólica. • A posição de Piaget teve uma grande importância, já que significou abordar o estudo da aquisição da linguagem a partir de seus “pré-requisitos” cognitivos.
• Assim, desenvolveu-se uma grande pesquisa
para conhecer aquilo que era “anterior” ao aparecimento da linguagem e que era condição para sua emergência. • Certamente, o anterior remetia ao desenvolvimento cognitivo e às diferentes construções que os bebês realizam ao longo de seus dois primeiros anos de vida.
• No entanto, a busca do “anterior” à linguagem
não se limitou à tese piagetiana dos marcos cognitivos, e um bom número de pesquisadores se lançou na busca dos “pré- requisitos” comunicativos. • Nessa concepção de natureza extremamente sociogenética, sustenta-se que, desde o início de sua existência, os bebês se envolvem em rotinas sociais com as pessoas que cuidam deles, de modo que sua atividade não ocorre no vazio, mas se produz em um contexto que está socialmente organizado pela cultura e pelas pessoas do ambiente. • Essa proposta implica a existência de um desenvolvimento comunicativo prévio ao aparecimento da linguagem, desenvolvimento que é específico e não depende do desenvolvimento cognitivo, em que a contribuição dos cuidados é tão importante como a da própria criança. • A tese, porém, não se limita a negar a importância do cognitivo sobre o linguístico; ela vai além e afirma a solidariedade em ambos os desenvolvimentos.
• Desenvolvimento cognitivo e desenvolvimento
linguístico, cada um com seus mecanismos próprios e específicos, formam uma unidade, de modo que um depende do outro e vice- versa. • Essas ideias, formuladas por Vygotsky (1934), indicam que o individual (a representação) e o coletivo (a comunicação) não podem ser separados na explicação da ontogênese (processo evolutivo a respeito das alterações biológicas sofridas pelo indivíduo, desde o seu nascimento, até seu desenvolvimento final).
• Esse é o ponto de vista que mais traz luz para
compreender o aparecimento e o desenvolvimento de ambas as capacidades. O início da comunicação e da consciência
• Sabemos que os recém-nascidos são seres
ativos, com um amplo repertório de condutas que lhes permite estabelecer uma relação primária com outros seres humanos, buscá-la, iniciá-la e, ao mesmo tempo, regular o grau de estimulação social.
• Sendo assim, os bebês não são “livros em
branco” sobre os quais se escreve e se molda com base em contingências e repetições. • A compreensão atual do desenvolvimento consiste em conhecer como os adultos coordenam e sincronizam suas condutas já utilizadas pelo bebê, dando lugar a rotinas e práticas interativas em que a comunicação tem um papel-chave. • Aos três meses, a vida social do bebê, relacionada fundamentalmente com seu cuidado (higiene, alimentação), implica uma simbiose afetiva com seus cuidadores, da qual surgem alguns significados rudimentares que são utilizados para regulá-la, mas que, ao mesmo tempo, estão na base do início da consciência, ou seja, da subjetividade. • O termo “intersubjetividade primária” é utilizado para designar a acomodação que os bebês fazem de seu controle subjetivo à subjetividade dos outros, entendendo-se que nessa subjetividade está o início da consciência e da intencionalidade individual.
• Em relação à essa intersubjetividade primária,
devemos destacar dois aspectos: as características das práticas em que se inscrevem as interações adulto-criança; e a intencionalidade implícita nos primeiros intercâmbios adulto-bebê. As características das práticas interativas bebê-adulto
• Desde o início da vida, adultos e bebês
participam conjuntamente em práticas em que o mais surpreendente é a habilidade que mostram os adultos para sintonizar suas condutas com as do bebê em uma espécie de “toma lá dá cá” que lembra o diálogo entre o falante e o ouvinte. • Em rotinas cotidianas de alimentação, de limpeza, de expressão de emoções, o adulto procura situações do tipo “agora é a minha vez, agora é a sua”, em que cada participante pega sua vez (“agora eu me mexo, agora você”, etc.).
• Esse tipo de atividades possibilita que o bebê
reconheça a pertinência e a adequação de suas condutas em relação às condutas dos cuidadores. • Na medida em que as interações se baseiam na ação e na interação mútua, sem referência a objetos ou situações externas, fala-se de intersubjetividade primária. • A impressão é que os adultos têm um plano de atuação com suas crianças baseado na “leitura” imediata da criança, na percepção da interação em andamento e na experiência de interações prévias.
• O adulto costuma fixar o marco sequencial e seus
limites, ao mesmo tempo em que repete os elementos básicos da sequência sempre da mesma forma, de modo que, cada vez que está em estado de alerta, o bebê encontra um ambiente estável e previsível que lhe permite “negociar” procedimentos comunicativos para acomodar sua conduta à do adulto. • Além disso, os adultos não só estabelecem algumas situações rotineiras, relativamente previsíveis pelos bebês e que são regidas por regras semelhantes às empregadas no âmbito do diálogo, como também tratam os recém- nascidos como se já fossem seres humanos com intenções, desejos e sentimentos semelhantes aos seus. • Assim, se o bebê emite um som qualquer, o adulto responde com um “o que você está dizendo, que tem fome?”, tratando como intencional e cheia de conteúdo comunicativo a conduta do bebê.
• Todas as condutas do bebê são interpretadas
segundo o contexto e são dotadas de significado e de sentido para poder fazer coisas com elas que vão além de sua simples realização. A intenção comunicativa: inata ou construída?
• Quanto à intencionalidade, alguns autores
adotam uma posição construtivista e proclamam que a intenção comunicativa aparece ao longo do estágio sensório-motor, quando o bebê é capaz de coordenar sequências de condutas dirigidas a uma meta, isto é, quando pode tomar consciência de um objetivo e estabelecer um plano para atingi-lo. • Nessa posição está subjacente a ideia de que o desenvolvimento cognitivo guia as condutas comunicativas das crianças de modo que é um pré- requisito para seu aparecimento.
• Essa posição foi apoiada empiricamente ao se
demonstrar que, no final do primeiro ano de vida, a criança era capaz de usar o adulto como um meio de obter um objeto (pegar a mão do adulto e levá-lo diante de uma torneira para obter água) e, ao mesmo tempo, podia usar um objeto como meio para atrair a atenção do adulto (pegar uma boneca e girá-la diante do adulto para que este olhe e faça comentários). • As primeiras condutas foram classificadas como proto-imperativas (“me dá água”) e as segundas como protodeclarativas (“olha a minha boneca”). • Essas condutas apareciam juntamente com a capacidade dos bebês de usar um objeto para obter outro objeto (arrastar um travesseiro para conseguir um brinquedo que está sobre ele).
• Os três tipos de conduta respondiam à noção
de causalidade elaborada pelo bebê durante o estágio sensório-motor. • Invoca-se, então, a existência de um mecanismo cognitivo, construído ao logo do primeiro ano de vida, mediante o qual a criança podia utilizar, de forma apropriada, diferentes meios para conseguir um fim desejado.
• No âmbito da comunicação, o uso de um
adulto como agente de uma ação determinada e o uso de um objeto para exigir a atenção do adulto eram considerados indícios claros da existência de intenção comunicativa. • Sendo assim, estamos agora diante de uma situação de “intersubjetividade secundária”, em que a comunicação entre o bebê e o adulto não gira em torno da relação entre ambos, mas em torno de objetos e situações externas. • Já outros autores pensavam que a intencionalidade era muito anterior.
• Jerome S. Bruner (1973) afirma que, desde o
nascimento, o bebê é capaz de realizar as diferentes condutas subjacentes a um ato intencionalmente comunicativo, mas é incapaz de sequenciá-la adequadamente em relação a um objetivo. • Nessa perspectiva, acredita-se que o bebê tem desde muito cedo preferência por um tipo de estímulo e mostra condutas apropriadas para sua consecução, de modo que, quando observa os efeitos de sua conduta sobre tais estímulos ou objetivos, sua conduta se torna intencional. • Bruner não se arrisca caracterizar a intencionalidade como inata, mas aposta que o decisivo no estabelecimento da intenção comunicativa é, definitivamente, o fato de que os adultos tratam todas as condutas infantis como se já fossem intencionais, de modo que, em pouco tempo, o bebê começa a usá-las de acordo com o uso no contexto humano, social e cultural em que se desenvolve. Jerome S. Bruner: os formatos de atenção e ação conjunta
• No início da vida, o interesse infantil está
quase que exclusivamente centrado na interação eu-você do tipo intersubjetividade primária, mas logo se interessa também pelos objetos. • Assim, por volta dos seis meses, o foco de atenção da díade adulto-criança diversifica-se enormemente, e, além da própria díade, o mundo exterior (o dos objetos) exige um grande interesse e se incorpora à relação com os demais em interações eu-você-objeto do tipo intersubjetividade secundária: nessa idade, o bebê é capaz de seguir o olhar da mãe (olhar para onde ela olha) e de utilizar o olhar como um índice díctico (“aquilo”, “isso”) para mostrar que compartilha um tema. • É o momento em que o adulto e o bebê se envolvem conjuntamente em uma série de brincadeiras que adotam a forma de rotinas, cujas variações são previsíveis por parte dos bebês.
• Bruner estudou esse período e utilizou o
termo de formato para descrever as características desse tipo de interação social. • Inicialmente, Bruner aborda o estudo das situações, ou formatos, para compreender seu papel no processo de aquisição da linguagem e, no final, no progresso das habilidades comunicativas.
• Nesses formatos ou “microcosmos” da cultura,
as relações sociais estão em consonância com os usos da linguagem no discurso. • Além disso, os formatos servem para construir conjuntamente um “fundo de conhecimento” entre o adulto e a criança, que permite a esta operar em uma cultura determinada. Intersubjetividade e suporte
• As ideias que estão submetidas à noção de
formato se referem à intersubjetividade e ao suporte.
• Bruner acredita que um adulto e um bebê podem
se envolver conjuntamente em uma atividade, ou seja, fazer algo juntos, porque entre ambos existe intersubjetividade, ou seja, ambos são capazes de reconhecer suas próprias subjetividades e, portanto, “ler” mutuamente suas intenções. • Se isso não fosse dessa maneira, seria impossível que ambos participassem em situações rotineiras, pautadas e sequenciadas em que cada um faz o que lhe cabe em relação ao outro para que a interação se mantenha. Ex.: Em uma situação de “dar-e-pegar” (um passar uma bola ao outro), basta simplesmente que um dos dois estenda a mão para o objeto que está com o outro, ao mesmo tempo em que olha para que se inicie o jogo de passá-la mutuamente. A intenção de “querer brincar de passar um objeto” não se pode ver, não é translúcida, faz parte da subjetividade de cada um dos participantes. No entanto, basta simplesmente um gesto, acompanhado do olhar e de uma vocalização (um “velha” ou “me dá” do adulto) para que o bebê reconheça a intenção, e vice-versa. Além disso, dadas as características dessas situações (repetitivas, sequenciadas, etc.), ambos sabem “tudo” o que acontecerá posteriormente e, portanto, “como devem agir” para que a situação progrida e não seja interrompida. • Isso nos leva ao nosso segundo ponto de discussão: o suporte.
• Se pegarmos novamente o exemplo de “dar-e-
pegar” e estudarmos sua origem e evolução, observamos que em torno de seis meses, quando o bebê começa a se interessar pelos objetos, os adultos iniciam um ritual que consiste em “ensinar” ao bebê que pode ser um receptor de objetos. • Concretamente, mostram-lhe um objeto, o agitam diante dele, e o estendem, ao mesmo tempo em que fazem produções como “pegue-o”, “é seu” e outras semelhantes, que normalmente acabam com o adulto colocando o objeto na mão do bebê.
• Essa situação se repete inúmeras vezes, de
forma que, dois ou três meses depois, basta que o adulto estenda o objeto ao bebê para que este estenda o braço e pegue-o. • É o momento em que o adulto faz com que seu partenaire saiba que também pode ser um agente da ação, e, portanto, seus esforços se dirigem para conseguir que, uma vez que o bebê tenha o objeto em sua mão, o passe a ele.
• As produções mudam e se transformam em
“me dá”, “passe-me”, “é meu” e semelhantes, além de estender a mão aberta e olhar diretamente para o bebê. • Inicialmente, a situação costuma terminar com o adulto pegando o objeto da mão do bebê.
• Esse ritual, repetido inúmeras vezes, termina
próximo dos 12 meses, quando aparece o “dar-e-pegar” no sentido estrito, de modo que ambos brincam de passar um objeto de um para o outro. • Nesse momento, o adulto já pode retirar o “andaime” que havia montado para dar suporte à aprendizagem do bebê: ele já não precisa pegar a bola da mão do bebê, nem sequer precisa pedi-la verbalmente.
• Interiorizada a situação pelo bebê graças a
todos os apoios iniciais do adulto, tais apoios já não são necessários; terminada a construção, o andaime é retirado. • Isso significa que, em um período de seis meses, o adulto e o bebê se envolvem conjuntamente em uma profunda negociação de procedimentos para realizar juntos uma atividade – nesse caso, o “dar-e-pegar”. • Intersubjetividade e suporte são duas faces da mesma moeda.
• Graças a ambas as noções e ao veículo que
as concretiza, o formato, o bebê aprende a se comportar de forma situada, que é, definitivamente, a característica mais importante do comportamento cultural. • Bruner estende a noção de formato para além das brincadeiras e fala da hora de comer, de ir para a cama, das situações de boas-vindas ou de despedida, etc.
• Esses formatos oferecem facilmente à mãe e
à criança oportunidades para tornar explícito o que têm em suas “mentes”. • Em um sentido de futuro, também oferecem à mãe um veículo para tornar explícito aquilo que a cultura pede.
• Mais tarde, definitivamente, o que as pessoas
acabam fazendo em um escritório do correio é se comportar e pensar no escritório do correio.
• O escritório do correio também é um formato.
• O autor considera que, além das capacidades iniciais do bebê no momento do nascimento, o que se constrói, graças à maneira como o adulto dá suporte aos comportamentos no âmbito da interação social, é uma aprendizagem sobre como se comportar de forma adaptada em um contexto situado culturalmente. O fundo de conhecimento cultural
• Bruner propõe que, por meio de formatos, o
bebê constrói também uma interpretação da comunidade cultural à qual pertence, compartilhada com as pessoas adultas, graças ao estabelecimento de um “fundo de conhecimento” comum que o habilita para se adaptar e se comportar socialmente. • O bebê se constrói como pessoa graças ao fato de os adultos o tratarem como tal desde o início de sua vida.
• Isso significa que o adulto, os demais e a
sociedade se envolvem com o bebê em um processo de negociação ativa para que construa um mundo compartilhado com a comunidade. • Sendo assim, o formato não serve só para ser incorporado à linguagem (algo muito importante e decisivo para a adaptação cultural), mas também para “institucionalizar” uma visão compartilhada do mundo. • Por exemplo, um dos formatos mais estudados é o que se conhece como “leitura de livros”.
• Esse formato consiste em que,
conjuntamente, adulto e criança prestem atenção em um grupo de imagens que, em nossa cultura, costuma ser comercializada em forma de livro com grandes ilustrações coloridas nas quais aparecem cenas de nossa vida cotidiana ou uma coleção de objetos como animais, brinquedos, pessoas, etc. • A “leitura de livros” é um formato que consiste em um vocativo de atenção (“Ei, olhe, olhe...!”) para atrair a atenção do partenaire para uma imagem ou desenho e, após a olhada, uma pergunta do tipo “o que” (“o que é isto?”), seguido de uma vocalização da criança (desde um “mmm”, até um “tato” ou até um mais acabado “gato”, conforme a idade) e um feedback do tipo: “Muito bem; sim, sim, é um gato” ou algo semelhante. • Uma vez que a criança é capaz de rotular corretamente após uma pergunta do tipo “o que é isto?”, o adulto diversifica suas perguntas e passa a fazer perguntas como “o que faz?”, “onde está?”, “o que tem?”, etc.
• Isto é, uma vez compartilhado o foco de
atenção e estabelecido o fundo de conhecimento, o adulto o amplia na forma de comentários para introduzir características ou propriedades e compartilhar outros contextos. • As ideias de Bruner sobre os formatos mostram como os adultos agem em relação às capacidades infantis e as entendem, de modo que possibilitam que as crianças se incorporem à comunidade cultural à qual pertencem e se adaptem a ela. • O estudo dos modos de interação adulto- criança traz mais luz para compreender como, pouco a pouco, o bebê se constrói como um ser intencional e, ao mesmo tempo, constrói o outro também como intencional, do que invocar mecanismos inatos que permitem em um momento do desenvolvimento “ler” a mente dos demais. O aparecimento da linguagem
• Comunicação e representação se consolidam
na linguagem.
• Bruner (1983) e Tomasello (1995, 1996)
consideram que o aparecimento da linguagem representa um marco no desenvolvimento da comunicação e da representação. • Piaget entende o aparecimento da linguagem como a expressão da função simbólica.
• Para ele, a linguagem é representação, da
mesma forma que outras condutas (imitação diferida, jogo simbólico, imagem e desenho), e aparece, junto com as outras, no final do estágio sensório-motor. • Ainda para Piaget, o aparecimento da linguagem tem pouco a ver com a comunicação, refletindo exclusivamente o desenvolvimento cognitivo da criança, por mais que seu aparecimento melhore notavelmente as capacidades cognitivas e comunicativas do bebê. • Os dados empíricos disponíveis não apoiam esse ponto de vista, pois, muito antes que a hipotética função simbólica apareça, as crianças realizam usos linguísticos que, evidentemente, não funcionam como símbolos.
• Uma posição que explique o aparecimento da
linguagem em uma linha de continuidade com o desenvolvimento comunicativo parece mais plausível do que a hipótese cognitiva. • O adulto e a criança se envolvem conjuntamente em atividades desde o início da vida e, nessas atividades, ambos se comprometem em uma negociação profunda e ativa de procedimentos que permitem levar a interação para um bom caminho.
• O que negociam é como mostrar suas
intenções, como saber até que ponto são reconhecidas pelo outro, etc. • Inicialmente, o bebê emprega o repertório de condutas com o qual chega a este mundo (choro, sorriso, olhar), mas pouco a pouco vai incorporando gestos mais arbitrários e, portanto, mais culturais, como a sinalização.
• Isso é possível porque o adulto apresenta
situações pautadas, segmentadas, sequenciadas, etc., que se repetem várias vezes, de modo que o bebê tem centenas de oportunidades para observar tanto as consequências de seus atos como as dos demais e sempre em relação com o mesmo pano de fundo. • O aparecimento da sinalização é um bom exemplo.
• Perto dos seis meses, o bebê se interessa
pelos objetos e, entre outras coisas, pretende pegá-los.
• Para isso, utiliza o “gesto de alcançar”, que
consiste em, estando sentado, esticar-se na direção do objeto, com o olhar fixo nele, os dois braços estendidos e as mãos abertas. • Se não alcança o objeto e o adulto considera que pode tê-lo, a sequência continua com o adulto aproximando o objeto do bebê.
• Mas para isso tratou o “gesto de alcançar”
como se fosse intencional: o adulto pressupõe que o bebê quer o objeto e que tal gesto é um sinal, dizendo coisas como, “claro, vou dá-lo a você”, ao mesmo tempo em que o mostra e em seguida, pega-o e o entrega. • Passam-se poucos meses, e o bebê estiliza seu “gesto de alcançar”: mantém as costas retas, um braço ele mantém estendido, enquanto o outro fica mais retraído, e, além disso, aparece uma mudança definitiva em relação à situação anterior: agora, o bebê alterna seu olhar entre o objeto e o adulto; seu gesto se tornou intencional. • A questão não é mais tentar alcançar diretamente o objeto, mas comunicar ao adulto que o quer ter.
• Poucos meses depois, próximo dos 11-12
meses, o “gesto de alcançar” desaparece e é substituído pela sinalização, usada também como uma forma de solicitação. • Evidentemente, a sinalização é um procedimento mais cultural do que o “gesto de alcançar” e, portanto, permite novas possibilidades ao bebê, de modo que, poucos dias depois de seu primeiro aparecimento, o bebê aponta para um ponto distante do quarto, o adulto pega o objeto e passa-o para ele. • Existem algumas ocasiões em que o bebê pega o objeto que queria e outras em que o bebê despreza o objeto, porque o que queria não era pegá-lo, mas chamar a atenção do adulto sobre tal objeto por alguma razão.
• Sendo assim, se o “gesto de alcançar”
somente permitia “quero X”, a sinalização, procedimento mais cultural e evoluído, permite tanto “quero X” como “olhe X”. • O que o bebê aprende sobre a linguagem nessas situações são as “condições de felicidade” que tornam possíveis que suas solicitações, suas indicações, seus sinais e suas perguntas sejam compreendidas e atendidas pelos demais.
• Aprende as condições para “fazer coisas” com
a linguagem. • Essa aprendizagem é anterior ao aparecimento da linguagem propriamente dita e se cumpre mediante gestos, vocalizações, olhares, mas é imprescindível para o aparecimento da linguagem. • Uma criança que tem sede pode fazer uma solicitação a partir de pegar a mão do adulto, levá-lo à cozinha e apontar para a torneira ao mesmo tempo em que vocaliza.
• É provável que o adulto entenda que está
sedenta e lhe dê um copo de água. • A palavra “água” aparecerá também como uma solicitação e expressa o mesmo “fundo de conhecimento” que os gestos anteriores; só que agora a criança compreende que tal procedimento (a palavra) é mais eficaz e mais econômico do que executar uma longa sequência de gestos e de ações. • As primeiras palavras aparecem como um processo de “substituição funcional” em que os procedimentos arcaicos são substituídos por procedimentos mais culturais, cuja eficácia e economia se é capaz de reconhecer.
• Mas junto com esse processo de “substituição
funcional” em que estão envolvidas as capacidades cognitivo-sociais, deve-se invocar também outra capacidade do bebê: as capacidades fonológicas que os bebês desenvolvem ao longo de seu primeiro ano de vida. • Entre a realização de um gesto e seu equivalente fonológico para cumprir a mesma função, existe uma diferença qualitativa muito importante.
• De fato, de uma perspectiva evolutiva, as
coisas parecem ser relativamente fáceis para os bebês, que, desde muito cedo, combinam gestos e vocalizações, de modo que, junto ao desenvolvimento comunicativo existe um desenvolvimento fonológico que leva o bebê a realizar produções vocálicas semelhantes às produzidas pelos adultos. • Do mesmo modo que em relação à percepção da fala aparecem habilidades notáveis, os bebês também têm capacidades para produzir sons.
• Assim, no início, choram e gritam; a partir dos
três meses, começam os gorjeios, que são sons guturais; aos seis meses, produzem os primeiros balbucios que são combinações de sons vocálicos e consonânticos que se repetem de forma melódica e entonativa. • Posteriormente, próximo aos nove meses, aparecem as primeiras formas foneticamente estáveis ou “protopalavras”, que são empregadas em combinação com gestos tanto no âmbito da atenção como da ação conjunta.
• Finalmente, em torno de 12 meses, aparecem
as primeiras palavras no sentido estrito. Referência
COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. e cols.
Desenvolvimento psicológico e educação. Psicologia evolutiva. vol. 1. Porto Alegre: Artmed, 2004. OBRIGADA PELA ATENÇÃO!!