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INFANTIL
Prof. Dr. Rodrigo Lima Nunes
OBJETIVO
Os períodos e as atividades
dominantes
Aquilo que se apresenta enquanto especificamente humano não está
dado ao homem em seu aparato biológico.
As funções psíquicas de caráter superior (especificamente humanas)
se apresentam como resultado do processo de objetivação dos
indivíduos por meio das apropriações vivenciadas a partir da
mediação das relações sociais, linguagem e da atividade
especificamente humana.
Esse processo de desenvolvimento humano, no qual o homem produz
e reproduz a cultura humana a partir de sua atividade, se dá de forma
gradativa, durante todo o decorrer de sua vida, sendo que em cada
estágio há a dominância de uma determinada atividade que representa
o modo pelo qual o indivíduo se relaciona com o mundo, tendo em
vista suprir suas necessidades.
Sendo assim, em cada estágio de desenvolvimento do ser humano há
a dominância de determinadas atividades, que podem ser
denominadas enquanto atividades principais.
Ao tratarmos da atividade principal, não devemos considerá-la
enquanto a atividade que a criança mais realiza em seu dia-a-dia, mas
aquela em que ocorrem as mudanças mais importantes nos processos
psíquicos e nos traços psicológicos da personalidade dos indivíduos,
em certo estágio de seu desenvolvimento.
Sendo assim, para que uma atividade seja considerada a principal em
determinado estágio de desenvolvimento, ela precisa apresentar três
atributos fundamentais:
1. Ela é a atividade em cuja forma surgem outros tipos de atividade e
dentro da qual eles são diferenciados. [...]
2. A atividade principal é aquela na qual processos psíquicos
particulares tomam forma ou são reorganizados. Os processos infantis
da imaginação ativa, por exemplo, são inicialmente moldados no
brinquedo e os processos de pensamento abstrato, nos estudos.
3. A atividade principal é a atividade da qual dependem, de forma
íntima, as principais mudanças psicológicas na personalidade infantil,
observadas em um certo período de desenvolvimento.
É por meio dessas atividades consideradas principais,
portanto, que as crianças se relacionam com o mundo,
produzindo e reproduzindo as condições necessárias à
constituição de sua individualidade, acarretando assim, em
cada estágio de seu desenvolvimento singular, na criação de
necessidades específicas em termos psíquicos.
Nesse caminho, o desenvolvimento psicológico dos indivíduos
da educação infantil, têm por atividades principais:
Comunicação emocional direta; Atividade objetal
manipulatória; brincadeira de papéis sociais;
Primeiro ano de vida - A comunicação
emocional direta (do bebê com o adulto)
A comunicação emocional direta dos bebês com os adultos é a atividade
principal desde as primeiras semanas de vida até mais ou menos um ano,
constituindo-se como base para a formação de ações sensório motoras de
manipulação.
Durante suas relações, o bebê utiliza vários recursos para se comunicar
com os adultos, como o choro, por exemplo, para demonstrar as
sensações que está tendo e o sorriso para buscar uma forma de
comunicação social.
O sentimento de amor filial, a simpatia por outras pessoas, o afeto
amistoso, entre outros aspectos presentes na relação do bebê com outras
crianças e o adulto, são enriquecidos e transformados no processo
evolutivo da criança, tornando-se a base indispensável para o surgimento
de sentimentos sociais mais complexos.
Já no primeiro ano de vida, a conduta da criança começa a reestruturar-se
e cada vez mais aparecem processos de comportamento em virtude das
condições sociais e da influência educativa das pessoas que a rodeiam.
São os adultos que cuidam do bebê, e o caminho por intermédio dos
adultos é a via principal de atividade da criança nessa idade.
Primeiro ano de vida - A comunicação
emocional direta (do bebê com o adulto)
Vida uterina: O sistema orgânico está sendo formado, e desde o início o seu funcionamento está
submetido às condições sociais da gestante, expressão do movimento dialético entre organismo e
cultura, ou entre o feto e as condições de vida.
Período pós-natal (até ~ 45 dias): Período de passividade – Criança em dependência absoluta do
adulto, Tem como marca a atividade reflexa; Mas, é a partir do nascimento que se produz a possibilidade
da formação ao longo dos anos e por meio da vida social, de uma consciência individual e autônoma;
Vida psíquica rudimentar; Desenvolvimento das sensações e da atividade sensório-motora;
Atividade de comunicação direta: Transformações que ocorrem, principalmente, nos processos
sensoriais, de motricidade e de percepção; A vivência da criança está vinculada à qualidade das relações
organizadas e oportunizadas pelo adulto e promotoras do desenvolvimento global do bebê; Afeto e
reações emocionais como motor do desenvolvimento psíquico.
Primeiro ponto: contradição entre total dependência e falta da linguagem articulada = comunicação
emocional;
Segundo ponto: Atividade antecipadora do adulto = o adulto se comunica com o bebê quando esse não
é capaz de se comunicar = motor do des. Da linguagem e pensamento (fala, gestos, objetos e
movimentos.
Terceiro ponto: Complexo de animação = primeiras reações emocionais dirigidas ao adulto
(concentração no adulto, sorrido, exclamações e excitação motora geral).
Primeira Infância: Atividade Objetal Manipulatória
A partir desta atividade tem lugar a assimilação dos procedimentos
elaborados socialmente de ação com os objetos e, para que ocorra essa
assimilação, é necessário que os adultos mostrem essas ações às
crianças.
A comunicação emocional dá lugar a uma colaboração prática. Por meio
da linguagem, a criança mantém contato com o adulto e aprende a
manipular os objetos criados pelos homens, organizando a comunicação
e a colaboração com os adultos.
A primeira função da linguagem é a comunicação, um meio de
expressão e compreensão entre os homens, que permite o intercâmbio
social.
Até mais ou menos os 18 meses, a criança ainda não consegue
descobrir as funções simbólicas da linguagem, que é uma operação
intelectual consciente e altamente complexa.
Por volta dos dois anos, a criança apresenta grande evolução da
linguagem, dando início a uma forma totalmente nova de
comportamento, exclusivamente humana. Inicia-se a formação da
consciência e a diferenciação do “eu” infantil.
Primeira Infância: Atividade Objetal Manipulatória
Primeira infância (1 – 3 anos): Fator propulsor = capacidade locomotora.
A qualidade das ações com os objetos é dependente da forma como o adulto irá
promover as relações da crianças com os objetos; maior acuidade óculo-manual;
o adulto deixa de ser o centro da atenção, passando aos objetos que agora
podem ser explorados por elas “livremente”.
Situação social: Dependência da situação concreto-visual; “para a criança nesta
idade, tomar consciência n]ao equivale a perceber e elaborar o percebido com a
ajuda da atenção, da memória e do pensamento. Essas funções não estão
diferenciadas e atuam na consciência integralmente subordinadas à percepção”.
Primazia da função “percepção”.
Entrecruzamento entre linguagem e pensamento = “a convergência entre
pensamento e fala constitui o momento mais importante no desenvolvimento de
um indivíduo e é exatamente essa conexão que coloca o pensamento humano
numa altura sem precedentes”.
Mediação fundamental: Adulto disponibilizar, nomear, explicar e demonstrar a
função social dos objetos pelas diferentes formas de linguagem.
O jogo nesse período ainda não possui sua característica fundamental enquanto
atividade guia, qual seja, a situação fictícia.
Idade pré-escolar: A brincadeira de papéis sociais
No período pré-escolar, a atividade principal passa a ser o jogo ou a brincadeira.
Utilizando-se dessas atividades, a criança apossa-se do mundo concreto dos
objetos humanos, por meio da reprodução das ações realizadas pelos adultos
com esses objetos.
As brincadeiras das crianças não são instintivas e o que determina seu conteúdo
é a percepção que a criança tem do mundo dos objetos humanos.
A criança opera com os objetos que são utilizados pelos adultos e, dessa forma,
toma consciência deles e das ações humanas realizadas com eles.
A criança, durante o desenvolvimento dessa consciência do mundo objetivo, por
meio da brincadeira integra uma relação ativa não apenas com as coisas
diretamente acessíveis a ela, mas, também, com o mundo mais amplo, isto é, ela
se esforça para agir como um adulto.
Ela ainda não dominou e não pode dominar as operações exigidas pelas
condições objetivas reais da ação dada, como, por exemplo, dirigir um carro,
andar de motocicleta, pilotar um avião.
Mas, na brincadeira, na atividade lúdica, ela pode realizar essa ação e resolve a
contradição entre a necessidade de agir, por um lado, e a impossibilidade de
executar as operações exigidas pela ação, de outro.
O principal significado do jogo de papéis é permitir que a criança
modele as relações entre as pessoas.
O jogo é influenciado pelas atividades humanas e pelas relações entre
as pessoas e o conteúdo fundamental é o homem – a atividade dos
homens e as relações com os adultos.
Ao mesmo tempo, ele exerce influência sobre o desenvolvimento
psíquico da criança e sobre a formação de sua personalidade, a
evolução do jogo prepara para a transição para uma fase nova, superior,
do desenvolvimento psíquico, a transição para um novo período
evolutivo (atividade de estudo).
Característica: substituição do significado dos objetos; colocar-se no
papel de outro; controle de suas ações a partir dos modos de ação
adultos.
Funções psíquicas envolvidas: memória, atenção, imaginação,
pensamento...
“o professor assume a importante tarefa de sujeito
mediador no processo de socialização das crianças,
no sentido de criar condições efetivas de
desenvolvimento na escola de educação infantil” .
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