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As crianças de 2 a 3 anos na Educação

Infantil

Apresentação
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, no que se refere à educação infantil (Brasil,
2017), as crianças de 2 e 3 anos são consideradas como crianças bem pequenas, e devem ser
atendidas em creches.

Para que esse atendimento constitua-se efetivamente como um elemento de promoção de


desenvolvimento e aprendizagens para esse grupo etário, é fundamental conhecer as suas
características. As práticas pedagógicas devem ser planejadas de acordo com essas características,
respeitando os conhecimentos construídos fora do ambiente escolar, assim como os diferentes
ritmos de aprendizagem.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá algumas características do desenvolvimento de


crianças de 2 e 3 anos, assim como dois aspectos importantes que devem fazer parte das práticas
educativas: as interações e as experimentações.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Definir as especificidades das práticas pedagógicas desenvolvidas com crianças de 2 e 3 anos


na escola.
• Reconhecer a experimentação como fundamental para as descobertas/aprendizagens das
crianças entre 2 e 3 anos.
• Relacionar a importância das interações entre crianças de 2 a 3 anos na escola com o
desenvolvimento da linguagem.
Desafio
É por volta dos 2 anos que a criança começa a falar e, para que essa prática seja eficiente, estão
presentes fatores determinantes para o desenvolvimento da linguagem infantil. Para isso, pensando
em seu trabalho como docente infantil e nas crianças com as quais você já conviveu, responda as
questões a seguir.

A conversa continua com a garotinha alegando que a mãe foi teimosa; gesticulando muito, às vezes
com as mãos na cintura, às vezes, com gestos para impedir a mãe de falar. Além dos gestos, a
criança utiliza diferentes entonações, ritmos e expressões.

Como essa criança construiu importantes conhecimentos sobre a linguagem falada? Qual(is) a(s)
sua(s) referência(s) para a sua forma de atuação na situação de comunicação?
Infográfico
As crianças começam a construir sua linguagem nas interações vivenciadas no meio familiar. Na
educação infantil, outras possibilidades de interações são oportunizadas, permitindo uma ampliação
do repertório vocabular.

Nesse contexto, é papel do professor proporcionar situações nas quais haja um desenvolvimento
crescente das habilidades da linguagem infantil.

Neste Infográfico, você vai encontrar algumas ideias que podem ser implementadas nas salas de
educação infantil.
Aponte a câmera para o
código e acesse o link do
conteúdo ou clique no
código para acessar.
Conteúdo do livro
Para que os objetivos de aprendizagens propostos para as crianças bem pequenas possam ser
atingidos, é fundamental que o docente conheça as características do desenvolvimento das
crianças dessa faixa etária. Só assim ele poderá realizar um planejamento docente capaz de
respeitar as especificidades de seus alunos, promovendo avanços no processo de construção de
novos conhecimentos.

No capítulo As crianças de 2 a 3 anos na educação infantil, da obra A educação infantil e a garantia


dos direitos fundamentais da infância, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai
conhecer as características do desenvolvimento de crianças de 2 e 3 anos.

Boa leitura.
A EDUCAÇÃO
INFANTIL E
A GARANTIA
DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS
DA INFÂNCIA

Maria Elena Roman de


Oliveira Toledo
As crianças de 2 a 3 anos
na educação infantil
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir as especificidades das práticas pedagógicas desenvolvidas


com crianças de 2 e 3 anos na escola.
 Reconhecer a experimentação como fundamental para as descober-
tas/aprendizagens das crianças entre 2 e 3 anos.
 Relacionar a importância das interações entre crianças de 2 a 3 anos
na escola com o desenvolvimento da linguagem.

Introdução
Nos primeiros anos do desenvolvimento infantil, a experimentação tem
grande relevância para a descoberta e a construção de novos conheci-
mentos. Esse também é um período no qual as interações têm um papel
fundamental para o desenvolvimento da linguagem.
Neste capítulo, você vai estudar essa importante etapa do desen-
volvimento infantil. Também vai identificar os aspectos que devem ser
contemplados no planejamento das práticas pedagógicas para que as
potencialidades infantis sejam desenvolvidas.

As práticas pedagógicas voltadas para crianças


de 2 e 3 anos de idade
Para compreender os aspectos fundamentais que devem ser contemplados
nas práticas pedagógicas voltadas para crianças de 2 e 3 anos de idade, você
precisa conhecer as principais características dessa etapa do desenvolvimento
infantil. Essas características são possibilidades de desenvolvimento que vão
se concretizar ou não, dependendo das oportunidades oferecidas pelo meio
no qual a criança está inserida.
2 As crianças de 2 a 3 anos na educação infantil

O segundo ano de vida


No segundo ano de vida, a criança é bastante ativa, buscando exercitar suas
habilidades recém-adquiridas: a linguagem, o maior domínio dos movimen-
tos e da manipulação. Nesse período, mover-se e explorar por si própria são
atividades que trazem bastante prazer.
Goldschimied e Jackson (2008, p. 131) afirmam que:

[...] nos primeiros dois anos a criança passa de uma situação de dependência
quase total para uma de relativa independência, de quatro maneiras, em
termos gerais: por meio do movimento e da habilidade de manipulação, ao
alimentar-se sozinha, no desenvolvimento da linguagem pré-verbal precoce
até a fala propriamente dita, bem como no cuidado corporal que leva ao
controle dos esfíncteres.

O ritmo no qual essas conquistas ocorrem varia de criança para criança,


dependendo das oportunidades oferecidas pelo meio e também das interações
com seus pares e com os adultos. As novas habilidades infantis, sobretudo
as de manipulação e movimento, possibilitam uma crescente independência
dos adultos e a possibilidade de realizar, autonomamente, atividades simples.
Outro aspecto do desenvolvimento que apresenta progressos consideráveis
é a linguagem. Dependendo dos estímulos oferecidos pelo ambiente, a criança
começa a apresentar falas mais elaboradas, comunicar-se melhor pelo uso da
linguagem e desprender-se, progressivamente, do aqui e agora. Ela já começa
a não precisar tanto da experiência imediata, na medida em que a fala lhe
permite transitar por tempos e espaços diversos.

O terceiro ano de vida


As crianças que estão entre os 2 e 3 anos de vida começam a tomar consciência
das explicações e negociações que são necessárias para a vida em grupo. Elas
precisam sentir a valorização e o respeito por parte dos adultos, que, por sua
vez, devem permitir-lhes, cada vez mais, tomar decisões e fazer escolhas.
O terceiro ano de vida é um período de consolidação das conquistas do ano
anterior. Ao mesmo tempo em que se estabilizam as conquistas anteriores,
a criança faz uma série de questionamentos acerca do mundo que a rodeia,
buscando entendê-lo e compreender a sua relação com ele.
Nessa idade, a criança já domina uma ampla gama de movimentos, caminha
e corre com bastante propriedade. O universo vocabular da criança já está
bastante ampliado e o uso da linguagem para fins de comunicação é mais
As crianças de 2 a 3 anos na educação infantil 3

eficiente. A consolidação de várias habilidades, somada às novas descobertas


e aos novos conhecimentos, permite à criança uma independência crescente
dos adultos. Essa independência faz com que haja maior tomada de consciência
da sua própria identidade.

Práticas pedagógicas
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
(BRASIL, 2010), a brincadeira deve se constituir como um elemento fundamen-
tal para as práticas educativas com as crianças pequenas atendidas nas creches.
Quando se fala de crianças de 2 e 3 anos de idade, está em jogo o grupo
etário atendido em creches, as “crianças bem pequenas”. Na Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), a educação infantil é concebida como a primeira
etapa da educação básica e está organizada como mostra a Figura 1.

Figura 1. Organização da educação infantil.


Fonte: Adaptada de Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017).

Para que as creches sejam um espaço no qual as brincadeiras sejam opor-


tunizadas e o brincar se constitua, efetivamente, como um instrumento de
desenvolvimento e aprendizagem, algumas condições precisam ser observadas
(BRASIL, 2012). Veja:

 a aceitação do brincar como um direito da criança;


 a compreensão da importância do brincar para a criança, tendo em
vista as suas necessidades de atenção e carinho e as suas iniciativas,
saberes, interesses e necessidades;
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 a criação de ambientes educativos especialmente planejados, que ofe-


reçam oportunidades de qualidade para brincadeiras e interações;
 o desenvolvimento da dimensão brincalhona da professora.

Além disso, esse documento destaca a importância de que os espaços


sejam organizados de maneira a permitir a interação entre os pares. A ideia
é que a interação se constitua como um elemento relevante na construção de
conhecimentos. O contato com a diversidade de produtos culturais (livros
de literatura, brinquedos, objetos e outros materiais), com manifestações
artísticas diversas e com elementos da natureza também é fundamental nessa
etapa da escolarização.
Vista dessa maneira, a instituição de educação infantil deve planejar os
espaços e a disponibilização de recursos e materiais para oportunizar a brin-
cadeira e as interações, concebidas como eixos estruturantes das práticas
pedagógicas. Nessa perspectiva, os espaços não são pensados como locais
nos quais as aulas são concebidas como momentos de transmissão de conhe-
cimentos pelos professores. Eles são entendidos como lugares nos quais as
crianças podem ter diversas experiências, tornando-se protagonistas do seu
processo de construção de conhecimentos.

Brinquedos, brincadeiras e materiais


para crianças bem pequenas
Em 2012, a Secretaria da Educação Básica, do Ministério da Educação (MEC),
lançou um manual de orientação pedagógica sobre brinquedos e brincadeiras
na creche (BRASIL, 2012). Nele, você vai encontrar diversas sugestões de
atividades que podem fazer parte das práticas educativas nas creches. O do-
cumento é uma fonte de sugestões que devem ser adaptadas de acordo com os
interesses das crianças e com as particularidades do grupo e da comunidade
com a qual se está trabalhando.
Aqui, você vai ver alguns exemplos de materiais e atividades que podem ser
utilizados com as crianças de 2 e 3 anos de idade. Entre os diversos materiais que
podem ser disponibilizados, estão: caixas de papelão para brincar e/ou empilhar;
colchões; cestos com objetos diversos (pedaços de tecidos, conchas, tampinhas,
caixinhas, etc.); fantasias; materiais de uso social (objetos de cozinha, de escritório,
de cabeleireiro, entre outros). Esses materiais devem estar ao alcance das crianças.
A ideia é que elas possam escolhê-los e também guardá-los quando não estiverem
em uso. Esses objetos são elementos importantes para o desenvolvimento da
criatividade, da imaginação e para as brincadeiras de faz de conta.
As crianças de 2 a 3 anos na educação infantil 5

Diferentes espaços devem ser organizados de maneira a possibilitar di-


versas experiências e explorações. Entre os espaços que podem compor as
vivências na creche, estão: a área externa (que pode ser explorada livremente
e também pensada com novos desafios, planejados pelo docente); a biblioteca
(se não houver um espaço na escola com essa finalidade, um dos cantos da
sala pode se constituir como tal); os cantos das brincadeiras (canto da fantasia,
da construção, da leitura, das experiências, etc.); uma área na qual possa se
brincar com água (com utensílios com essa finalidade).
A organização dos espaços e dos materiais deve contar sempre com a ajuda
das crianças. Elas devem ser consultadas e suas opiniões, acolhidas pelo professor.
Na coleta de materiais, as famílias podem ser envolvidas: objetos de cozinha, de
escritório, roupas e outros objetos que não estão sendo utilizados em casa podem se
constituir, na escola, como importantes instrumentos para a aprendizagem infantil.

Para obter outras sugestões de brinquedos, brincadeiras


e materiais que podem ser utilizados na creche, acesse o
link a seguir.

https://goo.gl/Mv494w

A experimentação na aprendizagem de crianças


de 2 e 3 anos de idade
A experimentação tem um lugar central na construção de conhecimentos pelas
crianças. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017),
na fase da educação infantil, as brincadeiras e interações são eixos estruturan-
tes das práticas pedagógicas para que os direitos de aprendizagem (conviver,
brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se) sejam assegurados.
A proposta de organização curricular rompe com o modelo disciplinar ao
propor que os conteúdos sejam organizados em campos de experiências. Veja:

Os campos de experiências constituem um arranjo curricular que acolhe as situ-


ações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes,
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entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural. A


definição e a denominação dos campos de experiências também se baseiam no que
dispõem as DCNEI em relação aos saberes e conhecimentos fundamentais a ser
propiciados às crianças e associados às suas experiências (BRASIL, 2017, p. 40).

Na BNCC, estão estabelecidos cinco campos de experiências, que visam a


definir quais são as experiências fundamentais para que a criança aprenda e se
desenvolva. Em cada um deles, são enfatizadas noções, habilidades, atitudes,
valores e afetos que as crianças devem desenvolver durante toda a educação
infantil. A concepção dos campos de experiências decorre da ideia de que é por
meio da experiência que a criança constrói conhecimentos no ambiente escolar.
A seguir, veja os campos de experiências propostos na Base Nacional
Comum Curricular (BRASIL, 2017).

 O eu, o outro, o nós.


 Corpo, gestos e movimento.
 Traços, sons, cores e formas.
 Escuta, fala, pensamento e imaginação.
 Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.

A concepção interacionista de aprendizagem


e a importância da experimentação
A concepção interacionista de aprendizagem, pensada a partir de autores como
Piaget, Wallon e Vygotsky, afirma que a construção de conhecimentos se dá
na interação (ação entre) do sujeito com o objeto de conhecimento, ambos
inseridos em determinado meio. A ideia de ação pressupõe, por parte do sujeito
da aprendizagem, a experimentação. As crianças bem pequenas devem ter a
oportunidade, na educação infantil, de experimentar diferentes movimentos,
linguagens, materiais, interações, emoções e expressões.
Nos momentos de experimentação, as crianças mobilizam os conhecimentos
já construídos, levantam hipóteses, testam essas hipóteses, confirmam-nas
ou refutam-nas e constroem novos conhecimentos. As estratégias cognitivas
utilizadas nesse processo fazem com que os novos conhecimentos sejam apro-
priados pelas crianças, tornando-se significativos. A proposição dos campos de
experiências na BNCC reforça essa ideia e auxilia o professor no planejamento de
suas práticas. É fundamental que essas práticas estejam diretamente relacionadas
aos interesses e demandas trazidos pelas crianças, para que se constituam como
experiências e tenham, efetivamente, um propósito educativo.
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Objetivos de aprendizagem presentes nos campos


de experiências para crianças bem pequenas
Os cinco campos de experiências propostos na BNCC (BRASIL, 2017) têm obje-
tivos de aprendizagem distintos, de acordo com o grupo etário dos educandos. No
Quadro 1, você pode ver os objetivos de aprendizagem de cada um dos campos
de experiências para as crianças que estão no segundo e no terceiro anos de vida.

Quadro 1. Objetivos de aprendizagem

Campo de Objetivos específicos para o grupo


experiência de crianças bem pequenas

O eu, o outro,  Demonstrar atitudes de cuidado e solidariedade na


o nós interação com crianças e adultos.
 Demonstrar imagem positiva de si e confiança em sua
capacidade para enfrentar dificuldades e desafios.
 Compartilhar os objetos e os espaços com crianças da
mesma faixa etária e adultos.
 Comunicar-se com os colegas e os adultos, buscando
compreendê-los e fazendo-se compreender.
 Perceber que as pessoas têm características físicas
diferentes, respeitando essas diferenças.
 Resolver conflitos nas interações e brincadeiras, com a
orientação de um adulto.

Corpo, gestos  Apropriar-se de gestos e movimentos de sua cultura no


e movimento cuidado de si e nos jogos e brincadeiras.
 Deslocar seu corpo no espaço, orientando-se por noções
como em frente, atrás, no alto, embaixo, dentro, fora, etc.,
ao se envolver em brincadeiras e atividades de diferentes
naturezas.
 Explorar formas de deslocamento no espaço (pular,
saltar, dançar), combinando movimentos e seguindo
orientações.
 Demonstrar progressiva independência no cuidado do
seu corpo.
 Desenvolver progressivamente as habilidades manuais,
adquirindo controle para desenhar, pintar, rasgar, folhear,
entre outros.

(Continua)
8 As crianças de 2 a 3 anos na educação infantil

(Continuação)

Quadro 1. Objetivos de aprendizagem

Campo de Objetivos específicos para o grupo


experiência de crianças bem pequenas

Traços, sons,  Criar sons com materiais, objetos e instrumentos


cores e formas musicais, para acompanhar diversos ritmos de música.
 Utilizar materiais variados com possibilidades de
manipulação (argila, massa de modelar), explorando
cores, texturas, superfícies, planos, formas e volumes ao
criar objetos tridimensionais.
 Utilizar diferentes fontes sonoras disponíveis no
ambiente em brincadeiras cantadas, canções, músicas e
melodias.

Escuta, fala,  Dialogar com crianças e adultos, expressando seus


pensamento desejos, necessidades, sentimentos e opiniões.
e imaginação  Identificar e criar diferentes sons e reconhecer rimas e
aliterações em cantigas de roda e textos poéticos.
 Demonstrar interesse e atenção ao ouvir a leitura
de histórias e outros textos, diferenciando escrita de
ilustrações e acompanhando, com orientação do
adulto leitor, a direção da leitura (de cima para baixo, da
esquerda para a direita).
 Formular e responder perguntas sobre fatos da história
narrada, identificando cenários, personagens e principais
acontecimentos.
 Relatar experiências e fatos acontecidos, histórias
ouvidas, filmes ou peças teatrais assistidos, etc.
 Criar e contar histórias oralmente, com base em imagens
ou temas sugeridos.
 Manusear diferentes portadores textuais, demonstrando
reconhecer seus usos sociais.
 Manipular textos e participar de situações de escuta para
ampliar seu contato com diferentes gêneros textuais
(parlendas, histórias de aventura, tirinhas, cartazes de
sala, cardápios, notícias, etc.).
 Manusear diferentes instrumentos e suportes de escrita
para desenhar, traçar letras e outros sinais gráficos.

(Continua)
As crianças de 2 a 3 anos na educação infantil 9

(Continuação)

Quadro 1. Objetivos de aprendizagem.

Campo de Objetivos específicos para o grupo


experiência de crianças bem pequenas

Espaços,  Explorar e descrever semelhanças e diferenças entre


tempos, as características e propriedades dos objetos (textura,
quantidades, massa, tamanho).
relações e  Observar, relatar e descrever incidentes do cotidiano e
transformações fenômenos naturais (luz solar, vento, chuva, etc.).
 Compartilhar, com outras crianças, situações de cuidado
de plantas e animais nos espaços da instituição e fora dela.
 Identificar relações espaciais (dentro e fora, em cima,
embaixo, acima, abaixo, entre e do lado) e temporais
(antes, durante e depois).
 Classificar objetos, considerando determinado atributo
(tamanho, peso, cor, forma, etc.).
 Utilizar conceitos básicos de tempo (agora, antes,
durante, depois, ontem, hoje, amanhã, lento, rápido,
depressa, devagar).
 Contar oralmente objetos, pessoas, livros, etc., em
contextos diversos.
 Registrar com números a quantidade de crianças (meninas
e meninos, presentes e ausentes) e a quantidade de
objetos da mesma natureza (bonecas, bolas, livros, etc.).

Fonte: Adaptado de Brasil (2017).

É fundamental que o professor conheça bem os objetivos de aprendizagem


para o grupo etário com o qual está trabalhando. Assim, ele consegue planejar
boas situações de experimentação para as crianças. O percurso didático deve
começar com o conhecimento, por parte do docente, dos objetivos de apren-
dizagem que subsidiarão a escolha das estratégias metodológicas utilizadas.
A escuta atenta das crianças e a observação das interações e dos resultados
permitem a adequação dessas estratégias aos interesses e às demandas infantis.
A avaliação, de caráter formativo e continuado, oferece elementos para saber
se os objetivos inicialmente propostos foram cumpridos ou não. Se foram, o
professor pode dar continuidade ao trabalho com outros objetivos. Caso não
tenham sido, cabe a ele buscar outros caminhos.
10 As crianças de 2 a 3 anos na educação infantil

Para saber mais sobre o trabalho com os campos de experiências na educação infantil,
assista ao vídeo “BNCC: Como trabalhar os campos de experiências de Educação
Infantil?”, disponível no link a seguir.

https://goo.gl/YqjRDt

As interações e o desenvolvimento
da linguagem infantil
Aprender a falar e a se comunicar de maneira eficiente é uma tarefa complexa.
Ela é realizada pela criança pouco a pouco. Quando a criança começa a falar,
por volta dos 2 anos de idade (há crianças que falam antes e outras, depois),
ela só começa a fazê-lo porque tem sobre o quê falar. Os conhecimentos que
repertoriam a fala infantil são construídos na interação com os adultos e com
outros falantes mais experientes.
Assim, as interações vivenciadas desde o nascimento até por volta dos
2 anos são extremamente importantes e marcantes para o desenvolvimento
da fala. O adulto que alimenta, cuida e estabelece vínculos afetivos com um
bebê não está apenas garantindo a sua sobrevivência, mas também fornecendo
elementos de grande relevância para o desenvolvimento da inteligência infantil.
Nas primeiras relações, as falas do adulto já estão presentes. No diálogo
estabelecido, que se dá por meio de palavras, emoções e afetos, constroem-se
as possibilidades de acesso ao mundo da linguagem. Considere o seguinte:

À medida que as vivências da criança vão sendo integradas às palavras do adulto,


o sentido da linguagem se estabelece. Assim, um desconforto desconhecido
pouco a pouco será circunscrito como fome, cólica, ou sono, por exemplo. Da
mesma maneira, uma sensação boa será traduzida como alegria, animação, bom
humor… Mesmo que a criança não possa responder ou se comunicar de modo a
ser compreendida socialmente, ela aos poucos irá encontrar gestos, vocalizações e
expressões que se repetirão em contextos semelhantes, representando uma inten-
ção. Esse processo chamado verbalização será a primeira etapa para a aquisição da
linguagem falada (LABORATÓRIO DE EDUCAÇÃO, 2016, documento on-line).

Isso posto, você pode perceber que é nas interações com os adultos e com seus
pares que as crianças constroem os conceitos que serão nomeados pelas palavras.
As crianças de 2 a 3 anos na educação infantil 11

Nessas interações, as crianças aprendem palavras, expressões e contextos de uso


social da linguagem. Da intensidade e das qualidades das interações depende o
tempo no qual a criança vai falar e o universo vocabular que será construído por ela.
Aos 2 anos de idade, em geral, a criança já possui um repertório de palavras
e frases que permitem uma comunicação efetiva e a manifestação de suas
emoções, sentimentos e desejos de forma facilmente compreensível pelo adulto.
Aos três anos, essa linguagem já está mais consolidada, abrindo possibilidades
para a ampliação do vocabulário e para uma recorrência cada vez menor ao
choro e a outras formas de linguagem para a manifestação de emoções.

O desenvolvimento da linguagem nas perspectivas


de Piaget e Vygotsky
Piaget e Vygotsky são dois teóricos interacionistas. Ou seja, eles defendem
que a construção dos conhecimentos humanos se dá na interação com os
objetos de conhecimento presentes no meio no qual o indivíduo está inserido.
Assim, ambos defendem o papel das interações na construção da linguagem,
concebida como um objeto de conhecimento presente no meio.
Embora ambos concordem quanto ao papel das interações, a visão que eles
têm do percurso de desenvolvimento da linguagem é diferente. Para Piaget,
por volta dos 2 anos de idade, o aparelho fonador das crianças está pronto
para a aprendizagem da fala, abrindo possibilidades para que esta ocorra. Na
concepção piagetiana, a criança começa a falar porque tem todo um repertório
de conhecimentos construído. Esse repertório de conhecimentos é formado na
interação com os outros indivíduos inseridos no meio, sobretudo os adultos.
Antes da fala, a criança manifesta suas necessidades, insatisfações e emo-
ções, principalmente por meio do choro. Todavia, o adulto que a atende não o
faz sempre da mesma maneira. O adulto interpreta o choro e atende o bebê de
acordo com essa interpretação: se acabou de alimentar o bebê e ele chora, vai
verificar se a fralda está suja, se algo está machucando, etc. Ao fazer isso, o
adulto fornece uma série de informações sobre o funcionamento da sociedade
e repertoria a estrutura cognitiva infantil.
Para Piaget, a criança começa a falar por conta da maturação do aparelho
fonador, repertoriada pelos conhecimentos construídos no período pré-verbal.
Em um segundo momento, surge a fala egocêntrica. Essa é a fala desenvolvida
por volta dos dois ou três anos de idade, quando a criança começa a falar
sozinha, em voz alta, como se estivesse dando ordens para si mesma. Para
Piaget, a fala egocêntrica sinaliza o aparecimento da fala socializada, que é
o falar com o outro, para fins de comunicação (Figura 2).
12 As crianças de 2 a 3 anos na educação infantil

Figura 2. Percurso do desenvolvimento da linguagem na perspectiva de Piaget.

Para Vygotsky, o desenvolvimento da linguagem se dá no percurso in-


verso do proposto por Piaget. Para ele, a criança começa a falar porque sente
necessidade de se comunicar com os outros indivíduos à sua volta. Por isso,
a primeira fala que surge, na perspectiva vygotskyana, é a fala socializada.

Cada criança começa a falar em um tempo determinado. Todavia, quanto mais oportu-
nidades de interagir com outros falantes a criança tiver, mais estímulos ela vai receber
para se comunicar e mais amplo será o seu repertório vocabular.

O papel do educador no desenvolvimento


da linguagem
As primeiras interações infantis independem das vivências escolares. Desde
que nascem, as crianças estão inseridas em um meio falante, no qual a lin-
guagem está presente. O desenvolvimento da linguagem, no meio familiar,
se dá de maneira informal. Os adultos que cuidam das crianças querem que
ela comece a falar, porém não desenvolvem estratégias pedagógicas para isso.
Na educação infantil, as crianças de 2 e 3 anos de idade já chegam à
escola com um repertório de palavras e frases que utilizam em suas formas
de comunicação. Cabe ao professor acolher essas formas e planejar situações
de comunicação que sejam reais. A ideia é oportunizar a mobilização dos
conhecimentos já construídos e o avanço no processo de construção de novos
conhecimentos.
As crianças de 2 a 3 anos na educação infantil 13

BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. Brasília: MEC, 2017.
BRASIL Ministério da Educação. Brinquedos e brincadeiras de creche: manual de orientação
pedagógica. Brasília: MEC, 2012. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocu-
ments/publicacao_brinquedo_e_brincadeiras_completa.pdfAcesso em: 10 jan. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação in-
fantil. Brasília: MEC, 2010. Disponível em: <http://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-
-Curriculares-para-a-E-I.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2019.
GOLDSCHIMIED, E.; JACKSON, S. Educação de 0 a 3 anos: o atendimento em creche.
Porto Alegre: Artmed, 2008.
LABORATÓRIO DE EDUCAÇÃO. Aprender linguagem: como as interações com o bebê
contribuem para o desenvolvimento da linguagem? 2016. Disponível em: <https://
labedu.org.br/aprender-linguagem-como-as-interacoes-com-o-bebe-contribuem-
-para-o-desenvolvimento-da-linguagem>. Acesso em: 10 jan. 2019.

Leituras recomendadas
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução n. 5 de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Di-
retrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. 2009. Disponível em: <http://
www.seduc.ro.gov.br/portal/legislacao/RESCNE005_2009.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2019.
HORN, M. G. S. Brincar e interagir nos espaços de educação infantil. Porto Alegre: Penso,
2017.
KISHIMOTO, T. M. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 1998.
LABORATÓRIO DE EDUCAÇÃO. Aprender linguagem (0-5 anos). 2018. Disponível em:
<http://aprenderlinguagem.org.br>. Acesso em: 10 jan. 2019.
NOVA ESCOLA. BNCC: Como trabalhar os campos de experiências de Educação Infantil?
Youtube, set. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=StcfRxcQaeg>.
Acesso em: 10 jan. 2019.
UNIVESP. Lev Vygotsky: Desenvolvimento da linguagem. Youtube, jul. 2010. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=_BZtQf5NcvE&t=11s>. Acesso em: 10 jan.
2019.
Conteúdo:
Dica do professor
Para compreender os percursos de desenvolvimento da linguagem infantil é fundamental que você
conheça as ideias de Vygotsky sobre esse tema. De acordo com a teoria vygotskyana, as interações
são fundamentais para o desenvolvimento da fala. A criança só começa a falar porque encontra, no
meio no qual está inserida, a necessidade de se comunicar com os outros à sua volta.

Nesta Dica do Professor, você vai ver mais sobre as ideias de Vygotsky a respeito do
desenvolvimento da linguagem.

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Exercícios

1) O desenvolvimento da linguagem é um tema central na teoria de Vygotsky. Para ele, em um


primeiro momento, a linguagem se desenvolve com fins de comunicação, e só depois ela é
interiorizada e assume sua função, como instrumento de autorregulação.

Na perspectiva Vygotskyana, o processo de aquisição da linguagem pela criança passa por


estágios que obedecem à seguinte trajetória:

A) A fala evolui de uma fala interior para uma fala egocêntrica e, desta, para uma fala exterior.

B) A fala evolui de uma fala egocêntrica para uma fala exterior e, desta, para uma fala interior.

C) A fala evolui de uma fala exterior para uma fala egocêntrica e, desta, para uma fala interior.

D) A fala evolui de uma fala egocêntrica para uma fala interior e, desta, para uma fala exterior.

E) A fala exterior e interior surgem ao mesmo tempo seguidas pela fala egocêntrica.

2) A brincadeira é, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, um dos eixos


estruturantes das práticas pedagógicas e, ao mesmo tempo, um direito de aprendizagem
infantil.

A ludicidade deve permear as práticas educativas com crianças de 2 e 3 anos de idade


porque:

A) a brincadeira faz parte da vida das crianças dessa faixa etária, oportunizando importantes
aprendizagens.

B) a educação infantil deve ser um espaço apenas de cuidados e brincadeiras, cabendo ao


professor garantir que as crianças não irão se machucar.

C) embora as crianças não aprendam enquanto brincam, é importante que elas tenham
atividades prazerosas na escola.

D) a ludicidade independe de recursos materiais e da organização do espaço, podendo ocorrer


independentemente da realidade da unidade educacional.

E) a ludicidade oportuniza o direcionamento por parte do adulto, fazendo com que as crianças
aprendam a obedecer regras.
3) Nos referenciais teóricos e legais que fundamentam as práticas educativas na educação
infantil, a criança é vista como protagonista do seu processo de aprendizagem.

De acordo com essa visão, é papel do professor:

A) ficar atento para que as crianças tenham as suas necessidades atendidas em termos de
cuidados físicos e para que não se machuquem, deixando-as agirem livremente.

B) colocar-se como um mediador entre a criança e o objeto de conhecimento, planejando a


organização dos tempos, espaços e materiais, bem como boas intervenções para que as
crianças, efetivamente, aprendam.

C) observar as falas e ações das crianças para só a partir daí começar a planejar o currículo com
o qual irá trabalhar.

D) organizar os espaços, ciente de que essa organização será suficiente para que as
aprendizagens ocorram.

E) disponibilizar muitos materiais e observar como as crianças irão interagir com eles, sem fazer
qualquer tipo de intervenção.

4) Os aportes teóricos interacionistas afirmam que a aprendizagem humana ocorre na


interação do sujeito que aprende com os objetos de conhecimento disponibilizados no meio
no qual ele está inserido.

Sobre o papel das interações no desenvolvimento da linguagem infantil, é correto afirmar


que:

A) elas não têm importância porque esse desenvolvimento depende, exclusivamente, da


maturação biológica do indivíduo.

B) elas não têm importância porque os conhecimentos linguísticos serão transmitidos quando a
criança ingressar na escola.

C) elas são importantes porque oferecem modelos prontos de formas de comunicação, que
deverão ser reproduzidos pelas crianças.

D) elas são de extrema importância na medida em que são nas interações que a criança sente
necessidade de se comunicar e, assim desenvolve sua linguagem.

E) são importantes desde que as pessoas com as quais as crianças interajam tenham pleno
domínio da norma culta.
5) Tendo em vista que a linguagem se desenvolve em situações de interação, sua
aprendizagem, na maioria das vezes, não se dá de uma maneira intencional. Por exemplo,
quando uma mãe está dizendo para uma criança de dois anos “Hoje nós vamos ao museu ver
obras de arte”, seu objetivo é comunicar-se com a criança e não ensinar novas palavras para
ela.

Nesse sentido, é correto afirmar que:

A) a escola não tem nenhum papel no desenvolvimento da linguagem, pois as crianças têm
possibilidades de interação com adultos e outras crianças em seus meios familiares.

B) a escola tem um papel de grande relevância no desenvolvimento da linguagem no que diz


respeito à ampliação do repertório vocabular e na proposição de diferentes situações de
comunicação.

C) o professor tem um papel fundamental, que é o de corrigir as falas infantis para que elas se
aproximem, desde cedo, da fala considerada padrão.

D) o professor tem um papel de grande importância à medida que ele oferece modelos de fala
que devem ser copiados pelas crianças.

E) a escola tem o papel de valorizar, unicamente, a variante linguística de maior prestígio social,
ajudando as crianças a abandonarem as outras.
Na prática
Nas classes de educação infantil, as atividades voltadas para o desenvolvimento da oralidade
devem fazer parte da rotina. Um exemplo são as rodas de conversas em que as crianças aprendem
diferentes estruturas e funções da comunicação.

Acompanhe a seguir uma aplicação de rodas de conversas com crianças.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!


Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Brincar e interagir nos espaços de educação infantil


Neste livro, você vai saber mais sobre a brincadeira e as interações nas escolas de educação
infantil, com crianças de 0 a 3 anos.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Educação e linguagem
Assista ao seguinte vídeo para aprofundar seus estudos sobre a importância das interações para o
desenvolvimento da linguagem, a partir das ideias de Vygotsky.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Aprender linguagem (0-5 anos)


Para aprofundar seus estudos sobre o desenvolvimento da linguagem de crianças de 0 a 5 anos,
acesse a plataforma Aprender Linguagens. Nela você vai encontrar um guia completo sobre o
desenvolvimento da linguagem de crianças dessa faixa etária, com perguntas, estratégias e pautas
de atuação, bem como estudos científicos sobre o tema.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

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