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A Pré-escola (4 a 5 anos): do direito à

obrigatoriedade

Apresentação
A Educação Básica está dividida em três etapas, a primeira delas é a Educação Infantil que, por sua
vez, divide-se entre a creche e a pré-escola. A pré-escola atende crianças de 4 a 5 anos com
matrícula obrigatória a partir dos 4 anos. Essa obrigatoriedade é regulamentada pela Lei no
12796/2013 que alterou a Lei n° 9.394/96(Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional),
destacando ser dever dos pais ou responsáveis de efetuarem a matrícula das crianças na educação
básica a partir dos 4 (quatro) anos. Essa mudança oficializa a Emenda Constitucional n° 59/09, que
estabeleceu a obrigatoriedade de matrícula e frequência de crianças de quatro anos ou mais nas
escolas de educação infantil.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá a legislação que ampara essa obrigatoriedade.
Além disso, reconhecerá as práticas educativas voltadas para a educação de crianças de quatro e
cinco anos. Por fim, identificará a brincadeira e o faz de conta no processo de aprendizagem das
crianças em idade pré-escolar.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar, por meio da Lei n.° 12.796/13, a obrigatoriedade da matrícula e da frequência das
crianças de 4 e 5 anos na educação infantil.
• Definir as especificidades das práticas pedagógicas desenvolvidas com crianças de 4 e 5 anos
na escola.
• Reconhecer as brincadeiras de faz de conta como fundamentais para o
desenvolvimento/aprendizagem de crianças de 4 e 5 anos.
Desafio
As políticas de universalização da educação estão em constante mudanças, no entanto, algumas
pessoas desconhecem as determinações legais. Considerando que é dever das Famílias e do
Estado, como previsto no artigo 2o da LBD, a educação às crianças, torna-se fundamental que
todos tenham conhecimento da legislação e dos direitos das crianças.

Veja o Desafio a seguir.

Dona Ludmila é mãe de Julia, que tem 5 anos. A mãe de Julia acredita que quando ela completar 6
anos poderá ir á escola, pois será possível vaga para ela na escola municipal perto de sua casa, já
que para frequentar a pré-escola não há obrigatoriedade, portanto não tem como solicitar uma
vaga. Mas, para surpresa da mãe de Julia, o Conselho Tutelar veio até a sua casa e disse que a
menina não pode ficar fora da escola. Disse ainda que, ou Dona Ludmila a matrícula imediatamente,
ou será responsabilizada legalmente.
Dona Ludmila, assustada com a notificação procurou você para orientá-la em relação a essa
notificação, pois além de vizinho(a) é formado(a)a no curso de Pedagogia. Ela lhe conta que nunca
se preocupou em matricular Julia na pré-escola porque leu na LDB que Educação Infantil não era
obrigatória, além disso, acha muito cedo para sua filha ficar tantas horas sentada num banco escolar
fazendo tarefas.

Agora, responda:

a) Como se deu a obrigatoriedade da matrícula na Educação Infantil, tendo em vista os


fundamentos legais e como está definida a responsabilidade dos pais;

b) Como deve ser a orientação pedagógica para as crianças nessa etapa de escolarização.
Infográfico
O professor das classes pré-escolares tem um papel importante na proposição de brincadeiras de
faz de conta. Não cabe a ele dirigir a brincadeira, mas organizar os espaços e os tempos escolares,
de modo que a brincadeira ocorra. A disponibilização de materiais que contribuam para a
imaginação e a criatividade infantil também faz parte do papel docente.

Neste Infográfico, você vai encontrar algumas dicas para que a brincadeira de faz de conta ocorra.
Aponte a câmera para o
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conteúdo ou clique no
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Conteúdo do livro
Somente a partir de 2013 a obrigatoriedade de matrícula e frequência de crianças a partir de 4 anos
na educação básica foi estabelecida, encontrando, até hoje, desafios no que diz respeito à oferta de
vagas para o atendimento das demandas e na adequação das práticas pedagógicas às
especificidades das crianças dessa faixa etária.

No capítulo A pré-escola (4 a 5 anos): do direito à obrigatoriedade, do livro A educação infantil e a


garantia dos direitos fundamentais da infância, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai
conhecer a legislação pertinente à obrigatoriedade de matrícula, na educação básica, de crianças de
4 anos. Também vai refletir sobre os aspectos que devem ser contemplados na proposição de
práticas pedagógicas para crianças de 4 e 5 anos. Além disso, vai estudar referenciais teóricos que
fundamentam a importância da brincadeira de faz de conta para essa faixa etária.

Boa leitura.
A EDUCAÇÃO
INFANTIL E A
GARANTIA DOS
DIREITOS
FUNDAMENTAIS
DA INFÂNCIA

Maria Elena Roman de Oliveira Toledo


A pré-escola (4 a 5 anos):
do direito à obrigatoriedade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar, por meio da Lei nº. 12.796/2013, a obrigatoriedade da


matrícula e da frequência das crianças de 4 e 5 anos na educação
infantil.
 Definir as especificidades das práticas pedagógicas desenvolvidas
com crianças de 4 e 5 anos na escola.
 Reconhecer as brincadeiras de faz de conta como fundamentais para
o desenvolvimento/aprendizagem de crianças de 4 e 5 anos.

Introdução
A obrigatoriedade de matrícula e frequência de crianças de 4 anos
na educação infantil ainda é recente. Até poucos anos atrás, a obri-
gatoriedade estava voltada para o ingresso de crianças a partir dos 7
anos no ensino fundamental. Como você pode imaginar, a inclusão
das crianças de 4 e 5 anos na educação infantil demanda o desenvol-
vimento de práticas pedagógicas que respeitem as especificidades
dessa faixa etária. Um tipo de brincadeira fundamental nessa etapa do
desenvolvimento, para a promoção de importantes aprendizagens,
é o faz de conta.
Neste capítulo, você vai conhecer a legislação pertinente à obrigato-
riedade de matrícula, na educação básica, de crianças de 4 anos de idade.
Também vai refletir sobre os aspectos que devem ser contemplados na
proposição de práticas pedagógicas para crianças de 4 e 5 anos. Além
disso, vai estudar referenciais teóricos que fundamentam a importância
da brincadeira de faz de conta para essa faixa etária.
2 A pré-escola (4 a 5 anos): do direito à obrigatoriedade

Obrigatoriedade de matrícula e frequência


Em 4 de abril de 2013, a então presidenta da República, Dilma Rousseff,
sancionou a Lei nº. 12.796/2013, que ajustou a Lei nº. 9.394, de 20 de
dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional —
LDB), à Emenda Constitucional nº. 59, de 11 de novembro de 2009. Assim,
tornou-se obrigatória a oferta de educação básica gratuita a partir dos 4 anos
de idade. De acordo com a Lei, caberia aos pais e responsáveis realizar a
matrícula das crianças dessa idade. Já as redes municipais e estaduais de
ensino teriam até o ano de 2016 para se adequar a fi m de acolher alunos
de 4 a 17 anos de idade.
O fornecimento de transporte, alimentação e material didático também
passou a ser estendido a todas as etapas da educação básica. Na redação
anterior da LDB, a obrigatoriedade de matrícula era pensada para crianças a
partir dos 7 anos de idade, ano inicial do ensino fundamental, com duração
de oito anos.
Nos §§ 1º e 2º do art. 4º, essa questão fica explícita. Veja:

Art. 4º. O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado me-
diante a garantia de:
I — ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele
não tiveram acesso na idade própria;
II — progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio
(BRASIL, 1996, documento on-line).

O art. 6º reforça essa ideia ao afirmar que “É dever dos pais ou respon-
sáveis efetuar a matrícula dos menores, a partir dos sete anos de idade, no
ensino fundamental.” (BRASIL, 1996, documento on-line). Na proposição
das alterações que passam a vigorar com a Lei nº. 12.796/2013, encontram-
-se as alterações referentes ao art. 4º. O artigo 6º também recebeu uma nova
redação, passando a afirmar que “É dever dos pais ou responsáveis efetuar
a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de
idade.” (BRASIL, 2013, documento on-line).
A pré-escola (4 a 5 anos): do direito à obrigatoriedade 3

O § 2º do art. 30 da LDB publicada em 1996 afirmava que as pré-escolas


deveriam atender as crianças de 4 a 6 anos de idade. Pela nova redação da Lei
nº. 12.796/2013, que altera a LDB, o texto do § 2º recebeu uma nova redação.
Assim, as pré-escolas passaram a atender crianças de 4 e 5 anos.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é a lei mais importante no que se


refere à educação brasileira. Ela é a legislação que regulamenta o sistema educacional
(público e privado) no País, desde a educação básica até o ensino superior.

A efetividade do atendimento
Para que a obrigatoriedade de matrícula e a frequência na pré-escola se es-
tendam a todas as crianças brasileiras de 4 e 5 anos, o poder público precisa
garantir o atendimento para essa faixa etária, oferecendo vagas suficientes
para atender à demanda.
A primeira meta do Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela
Lei nº. 13.005/2014, estabelecia que, até o ano de 2016, a educação infantil
deveria estar universalizada para as crianças de 4 e 5 anos em pré-escolas
e que a oferta em creches deveria ser ampliada de forma a atender a no
mínimo 50% das crianças de até 3 anos de idade até o final da vigência do
PNE, em 2024.
Dados publicados no Anuário Brasileiro da Educação Básica (BRASIL,
2018, p. 22) mostram que:

No caso da população de 4 e 5 anos, faixa etária da Pré-Escola, os dados


disponíveis, [...] mostram que as crianças vêm sendo paulatinamente incluídas
no sistema educacional, com uma taxa de atendimento que chegou a 93%, em
2017. A desigualdade no atendimento entre ricos e pobres vem caindo, no que
se refere ao acesso à Pré-Escola.
4 A pré-escola (4 a 5 anos): do direito à obrigatoriedade

Na Figura 1, a seguir, você pode ver a progressão dos números.

Figura 1. Índices de crianças matriculadas na pré-escola no período de 2001 a 2017.


Fonte: Brasil (2018, p. 23).

Embora o número de crianças nas classes das pré-escolas venha au-


mentando pouco a pouco, ainda há um caminho a ser percorrido para que
essa etapa da educação básica seja universalizada. A universalização da
educação infantil ainda é um desafio para os governos municipais, que
precisam buscar meios, junto aos governos estaduais e federais, para que o
problema seja resolvido.

O Plano Nacional de Educação reúne um conjunto de aspirações e finalidades para


a educação brasileira, expressas em 10 diretrizes, 20 metas e em um conjunto de
254 estratégias. As diretrizes congregam macro-objetivos voltados à melhoria da
educação brasileira. As metas definem patamares educacionais concretos que devem
ser alcançados no País. As estratégias constituem os meios para o planejamento das
políticas públicas, que visam, a princípio, ao alcance definitivo das metas e, como
resultado final do Plano, a consolidação das diretrizes.
A pré-escola (4 a 5 anos): do direito à obrigatoriedade 5

Práticas pedagógicas para crianças


de 4 e 5 anos de idade
As crianças de 4 a 5 anos são atendidas em pré-escolas. De acordo com a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), essa é a faixa etária do grupo chamado
de “crianças pequenas” (BRASIL, 2017). O trabalho realizado na pré-escola,
segundo a BNCC (BRASIL, 2017), deve dar continuidade ao trabalho que
vinha sendo feito com os bebês (0 até 1 ano e 6 meses) e com as crianças
bem pequenas (1 ano e 7 meses até 3 anos e 11 meses). Assim, as práticas
educativas devem ter como eixos estruturantes as interações e a brincadeira.
O trabalho pedagógico deve garantir os seis direitos de aprendizagem da
educação infantil: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-
-se. Assim como nas etapas anteriores, a organização curricular não é por área
de conhecimento, e sim dividida em cinco campos de experiências, como você
pode ver a seguir (BRASIL, 2017).

 O eu, o outro, o nós.


 Corpo, gestos e movimento.
 Traços, sons, cores e formas.
 Escuta, fala, pensamento e imaginação.
 Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.

A organização curricular em campos de experiências contempla dois


aspectos fundamentais para o trabalho pedagógico na educação pré-escolar:
a interdisciplinaridade e a visão da criança como protagonista do seu processo
de aprendizagem.
As contribuições dos referenciais interacionistas de aprendizagem colo-
caram a criança em um lugar diferente do que era ocupado por ela no ensino
tradicional, fundamentado nos referenciais empiristas de aprendizagem. Ela
deixou de ser vista como um ser passivo, que recebia o conhecimento pronto
e acabado, passando a ser vista como alguém que participa ativamente do
seu processo de aprendizagem. Na educação infantil, essa participação ativa
requer as interações, as experimentações e a ludicidade.
No que se refere à interdisciplinaridade, para que uma aprendizagem
significativa seja promovida, é fundamental romper com a fragmentação dos
saberes. A criança constrói conhecimentos na exploração do mundo que está à
6 A pré-escola (4 a 5 anos): do direito à obrigatoriedade

sua volta e na interação com os adultos e com seus pares. O mundo explorado
não está dividido de acordo com as diferentes áreas do conhecimento; ele é
interdisciplinar por natureza.
O professor da pré-escola tem um lugar privilegiado para trabalhar de
maneira interdisciplinar, na medida em que ele, sendo polivalente, é que
vai lidar com as diferentes áreas de conteúdo. Assim, cabe a ele pensar nas
possíveis articulações entre as diferentes áreas curriculares. Os objetivos
de aprendizagem propostos para cada um dos campos de experiências já se
constituem como pontos de partida para esse trabalho interdisciplinar, no qual
a criança é o centro do processo de aprendizagem.

Objetivos de aprendizagem para


a educação pré-escolar
Os cinco campos de experiências propostos na BNCC (BRASIL, 2017) têm obje-
tivos de aprendizagem distintos, de acordo com o grupo etário dos educandos. No
Quadro 1, a seguir, você vai encontrar os objetivos de aprendizagem de cada um
dos campos de experiências para as crianças que estão no 4º e no 5º anos de vida.

Quadro 1. Campos de experiências e seus objetivos

Campo de Objetivos específicos para o grupo


experiências de crianças pequenas

O eu, o outro,  Demonstrar empatia pelos outros, percebendo que as


o nós pessoas têm diferentes sentimentos, necessidades e
maneiras de pensar e agir.
 Agir de maneira independente, com confiança em suas
capacidades, reconhecendo suas conquistas e limitações.
 Ampliar as relações interpessoais, desenvolvendo atitudes
de participação e cooperação.
 Comunicar suas ideias e sentimentos a pessoas e grupos
diversos.
 Demonstrar valorização das características de seu corpo e
respeitar as características dos outros (crianças e adultos)
com os quais convive.
 Manifestar interesse e respeito por diferentes culturas e
modos de vida.
 Usar estratégias pautadas no respeito mútuo para lidar
com conflitos nas interações com crianças e adultos.

(Continua)
A pré-escola (4 a 5 anos): do direito à obrigatoriedade 7

(Continuação)

Quadro 1. Campos de experiências e seus objetivos

Campo de Objetivos específicos para o grupo


experiências de crianças pequenas

Corpo,  Criar com o corpo formas diversificadas de expressão de


gestos e sentimentos, sensações e emoções, tanto nas situações do
movimento cotidiano quanto em brincadeiras, dança, teatro, música.
 Demonstrar controle e adequação do uso de seu corpo em
brincadeiras e jogos, escuta e reconto de histórias, atividades
artísticas, entre outras possibilidades.
 Criar movimentos, gestos, olhares e mímicas em brincadeiras,
jogos e atividades artísticas como dança, teatro e música.
 Adotar hábitos de autocuidado relacionados à higiene, à
alimentação, ao conforto e à aparência.
 Coordenar suas habilidades manuais no atendimento
adequado a seus interesses e necessidades em situações
diversas.

Traços, sons,  Utilizar sons produzidos por materiais, objetos e


cores e instrumentos musicais durante brincadeiras de faz de conta,
formas encenações, criações musicais, festas.
 Expressar-se livremente por meio de desenho, pintura,
colagem, dobradura e escultura, criando produções
bidimensionais e tridimensionais.
 Expressar-se livremente por meio de desenho, pintura,
colagem, dobradura e escultura, criando produções
bidimensionais e tridimensionais.

Escuta,  Expressar ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências,


fala, pen- por meio da linguagem oral e escrita (escrita espontânea),
samento e de fotos, desenhos e outras formas de expressão.
imaginação  Inventar brincadeiras cantadas, poemas e canções, criando
rimas, aliterações e ritmos.
 Escolher e folhear livros, procurando orientar-se por temas e
ilustrações e tentando identificar palavras conhecidas.
 Recontar histórias ouvidas e planejar coletivamente roteiros
de vídeos e de encenações, definindo os contextos, os
personagens, a estrutura da história.
 Recontar histórias ouvidas para produção de reconto
escrito, tendo o professor como escriba.
 Produzir suas próprias histórias orais e escritas (escrita
espontânea), em situações com função social significativa.
 Levantar hipóteses sobre gêneros textuais veiculados
em portadores conhecidos, recorrendo a estratégias de
observação gráfica e/ou de leitura.

(Continua)
8 A pré-escola (4 a 5 anos): do direito à obrigatoriedade

(Continuação)

Quadro 1. Campos de experiências e seus objetivos

Campo de Objetivos específicos para o grupo


experiências de crianças pequenas

Escuta, fala,  Selecionar livros e textos de gêneros conhecidos para a


pensamento e leitura de um adulto e/ou para sua própria leitura (partindo
imaginação de seu repertório sobre esses textos, como a recuperação
pela memória, pela leitura das ilustrações, etc.).
 Levantar hipóteses em relação à linguagem escrita,
realizando registros de palavras e textos, por meio de
escrita espontânea.

Espaços, tem-  Estabelecer relações de comparação entre objetos,


pos, quantida- observando suas propriedades.
des, relações e  Observar e descrever mudanças em diferentes materiais,
transformações resultantes de ações sobre eles, em experimentos
envolvendo fenômenos naturais e artificiais.
 Identificar e selecionar fontes de informações para
responder a questões sobre a natureza, seus fenômenos, sua
conservação.
 Registrar observações, manipulações e medidas, usando
múltiplas linguagens (desenho, registro por números ou
escrita espontânea), em diferentes suportes.
 Classificar objetos e figuras de acordo com suas semelhanças
e diferenças.
 Relatar fatos importantes sobre seu nascimento e
desenvolvimento, a história dos seus familiares e da sua
comunidade.
 Relacionar números às suas respectivas quantidades e
identificar o antes, o depois e o entre em uma sequência.
 Expressar medidas (peso, altura, etc.), construindo gráficos
básicos.

Fonte: Adaptado de Brasil (2017, p. 45-52).

Cabe ao professor conhecer os objetivos de aprendizagem definidos para


cada um dos campos de experiências. A ideia é que possa fazer um planejamento
docente capaz de garantir que tais objetivos sejam atingidos. Esse planejamento
deve contemplar a organização dos tempos e espaços escolares, bem como a
disponibilização de materiais, de maneira a oportunizar as interações e as brin-
cadeiras. Cabe também ao professor visualizar as intersecções entre os diferentes
campos de experiências para que possa trabalhá-los de maneira integrada.
A pré-escola (4 a 5 anos): do direito à obrigatoriedade 9

A brincadeira de faz de conta


Para que você possa compreender a importância da brincadeira de faz de
conta no percurso de desenvolvimento de crianças de 4 e 5 anos, deve ter
em mente algumas ideias de Vygotsky. Para Vygotsky (1984), a intervenção
pedagógica e o brinquedo (entendido aqui como a brincadeira de faz de conta)
são fundamentais para o processo de desenvolvimento infantil.

Zona de desenvolvimento proximal


Um dos principais conceitos da teoria de Vygotsky é o de zona de desenvol-
vimento proximal (ZDP). De acordo com Vygotsky (1984, p. 97) a zona de
desenvolvimento proximal é:

[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma deter-


minar por meio da solução independente de problemas, e o nível de desen-
volvimento potencial, determinado por meio da solução de problemas sob a
orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.

Assim, a zona de desenvolvimento proximal é o caminho que será percorrido


pelo sujeito para que as funções que estão em processo de amadurecimento
se consolidem. Ela se constitui como um domínio psicológico em constante
transformação: amanhã, uma criança conseguirá fazer sozinha o que hoje
consegue fazer apenas com a ajuda de alguém mais experiente.
Esse conceito vygotskyano ganhou bastante destaque por conta da importância
da intervenção pedagógica. Para Vygotsky (1984), é na zona de desenvolvimento
proximal que a aprendizagem ocorre. Portanto, a boa intervenção pedagógica
ocorre, justamente, na ZDP. Ao interferir nessa zona, o adulto ou a criança mais
experiente provoca aprendizagem e, consequentemente, desenvolvimento.
Como o papel da escola é promover aprendizagens, é fundamental que o
professor intervenha na ZDP. Para isso, ele deve identificar a zona de desen-
volvimento real dos seus alunos, ou seja, os conhecimentos prévios deles. O
que o aluno já sabe deve ser utilizado com ponto de partida para aquilo que,
em um primeiro momento, ele fará com a ajuda de alguém mais experiente.
Depois da intervenção pedagógica, o novo aprendizado passará a fazer parte
do seu rol de conhecimentos.
A brincadeira de faz de conta possui estreitos vínculos com a zona de
desenvolvimento proximal de Vygotsky. Nessa brincadeira, a criança imagina
10 A pré-escola (4 a 5 anos): do direito à obrigatoriedade

ser alguém que, na realidade, ainda não pode ser pela idade que possui. Um
exemplo são as brincadeiras de casinha. Nelas, a criança não é uma mamãe,
porque ainda não tem idade para sê-lo, mas comporta-se como se fosse, de-
sempenhando funções maternas, que foram aprendidas na observação das
situações vivenciadas no mundo no qual está inserida. Na Figura 2, a seguir,
você pode ver a relação entre a zona de desenvolvimento proximal, a zona de
desenvolvimento real e a zona de desenvolvimento potencial.

Figura 2. Zonas de desenvolvimento.

A brincadeira na perspectiva de Vygotsky


Ao abordar a brincadeira em sua teoria, Vygotsky refere-se, especificamente,
à brincadeira de faz de conta: brincar de médico, brincar de escolinha, brincar
de casinha, entre outras brincadeiras. O destaque dado a esse tipo específico
de brincadeira diz respeito ao seu papel no percurso de desenvolvimento
infantil. Veja:

Numa situação imaginária como a brincadeira de “faz de conta”, [...] a criança


é levada a agir num mundo imaginário (o “ônibus” que ela está dirigindo
na brincadeira, por exemplo), onde a situação é definida pelo significado
estabelecido pela brincadeira (o ônibus, o motorista, os passageiros, etc.) e
não pelos elementos reais concretamente presentes (as cadeiras da sala onde
ela está brincando de ônibus, as bonecas, etc.) (OLIVEIRA, 1993, p. 67).

Assim, a brincadeira de faz de conta se constitui, para a criança, como um


elemento de transição entre os objetos concretos e suas ações com significado.
A pré-escola (4 a 5 anos): do direito à obrigatoriedade 11

Uma das características principais da brincadeira de faz de conta é que ela é


regida por regras. Essas regras não são as regras da brincadeira em si, e sim
as regras sociais: a criança que brinca de escolinha utiliza, na brincadeira,
as regras sociais que regem o ambiente escolar. Com isso, as crianças se
comportam de forma mais avançada do que a habitual e se antecipam ao seu
momento de desenvolvimento. Considere o seguinte:

Tanto pela criação da situação imaginária, como pela definição de regras


específicas, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na
criança. No brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que
nas atividades da vida real e também aprende a separar objeto e significado.
Embora num exame superficial possa parecer que o brinquedo tem pouca
semelhança com atividades psicológicas mais complexas do ser humano, uma
análise mais aprofundada revela que as ações no brinquedo são subordinadas
aos significados dos objetos, contribuindo claramente para o desenvolvimento
da criança (OLIVEIRA, 1993, p. 69).

Isso posto, é fundamental que na educação pré-escolar as crianças te-


nham oportunidades diversas de vivenciar brincadeiras de faz de conta que
contribuam para o seu desenvolvimento. As classes pré-escolares devem
oferecer diferentes materiais e objetos do cotidiano para que as crianças
possam desenvolver a sua criatividade e a sua imaginação nas brincadeiras
de faz de conta.
Uma forma bastante interessante de oportunizar esse tipo de brincadeira
é a organização de cantos temáticos: canto da fantasia, canto do cabeleireiro,
canto do médico. Neles, devem estar colocados e disponíveis às crianças
objetos relacionados com cada tema. Na organização dos cantos, as famílias
podem ser envolvidas. Elas podem enviar para a escola objetos que não
estão mais sendo utilizados, como seringas sem agulhas, radiografias,
roupas, materiais de escritório, entre outros. Quando não houver espaço
na sala para a organização dos cantos, outra opção é a organização de kits
temáticos, em caixas que ficarão em um armário ou prateleira, ao alcance
das crianças.
Você deve notar que tanto a organização dos cantos como a dos kits deve ser
pensada em conjunto com as crianças. Elas devem opinar sobre quais cantos
ou kits gostariam de ter, que objetos querem coletar e com qual periodicidade
querem alterá-los. Outro aspecto a ser observado é a organização dos tempos
escolares. A brincadeira de faz de conta demanda tempo e esse tempo deve
ser garantido no planejamento docente.
12 A pré-escola (4 a 5 anos): do direito à obrigatoriedade

BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da


educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.
htm>. Acesso em: 13 jan. 2019.
BRASIL. Lei nº. 12.796, de 4 de abril de 2013. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre
a formação dos profissionais da educação e dar outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796.htm>. Acesso
em: 13 jan. 2019.
BRASIL. Lei nº. 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e
dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L13005.htm>. Acesso em: 13 jan. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Anuário Brasileiro da Educação Básica 2018. 2018. Dis-
ponível em: <https://todospelaeducacao.org.br/_uploads/20180824-Anuario_Educa-
cao_2018_atualizado_WEB.pdf?utm_source=conteudoSite>. Acesso em: 13 jan. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. 2017. Disponível em: <http://
portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601-
-anexo-texto-bncc-reexpor tado-pdf-2&categor y_slug=dezembro-2017-
pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 13 jan. 2019.
OLIVEIRA, Z. R. de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sóciohis-
tórico. São Paulo: Scipione, 1993.
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

Leituras recomendadas
LIRA, A. C. M.; DREWINSKI, J. M. A.; SAPELLI, M. L. S. Educação Infantil para crianças de 4
e 5 anos: entre a obrigatoriedade, o direito e a imposição. In: CONGRESSO NACIONAL
DE EDUCAÇÃO, 12., 2015, Curitiba. Anais... Curitiba: PUCRS, 2015. Disponível em: <http://
educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/17843_7880.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2019.
NPD GIRASSOL. Coleção grandes educadores: Lev Vygostky. 2015. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=T1sDZNSTuyE>. Acesso em: 13 jan. 2019.
OBSERVATÓRIO DO PNE. c2018. Disponível em: <http://www.observatoriodopne.org.
br>. Acesso em: 13 jan. 2019.
Dica do professor
O professor tem um papel importante no que diz respeito às brincadeiras de faz de conta. Para que
ele cumpra o seu papel, alguns aspectos devem ser considerados.

Nesta Dica do Professor, você vai conhecer esses aspectos.

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Exercícios

1) O direito das crianças à educação corresponde ao dever do Estado e de seus responsáveis.


Ao Estado cabe prover escolas para atender a demanda dessa faixa etária e elaborar políticas
que garantam a efetiva aprendizagem e desenvolvimento infantil.

Tendo em vista as características da Pré-escola quanto aos seus aspectos pedagógicos,


analise as assertivas abaixo:

I – A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) considera como “crianças bem pequenas”
àquelas que têm entre 4 e 5 anos.

II – A organização curricular da pré-escola, a partir de 2017 passa a valorizar as áreas do


conhecimento.

III – A BNCC definiu os seis direitos de aprendizagem das crianças: conviver, brincar, estudar,
descansar, experimentar e conhecer-se.

IV – Os direitos de aprendizagem são contemplados em 5 campos de experiências, como


prevê a BNCC, dessa forma valoriza o protagonismo infantil e a interdisciplinaridade.

Assinale a alternativa correta:

A) I, II e III, apenas

B) II e III, apenas.

C) I, apenas.

D) I, II, III e IV.

E) IV, apenas.

2) A importância da brincadeira de faz de conta pode ser fundamentada pelos estudos


realizados por Vygotsky. Segundo o autor, as brincadeiras são fundamentais para o
desenvolvimento infantil porque:

A) Fazem com que as crianças se antecipem ao seu desenvolvimento, na medida em que elas
experimentam regras sociais que não são características de suas vivências atuais.
B) Por demandarem muito tempo de envolvimento, acabam por desenvolver a capacidade de
concentração, a memória e a coordenação motora nas crianças pré-escolares.

C) Permitem que as crianças se sintam livres para escolher qualquer brincadeira sem, contudo,
preocuparem-se em experimentar qualquer tipo de regra envolvida na atividade.

D) São muito prazerosas para as crianças bem pequenas que frequentam a educação pré-escolar,
uma vez que nessa etapa não há preocupação em promover a aprendizagem.

E) Utilizam diferentes materiais que servem para as crianças memorizarem os nomes das cores,
assim como manusear diferentes espessuras, pois desenvolvem o tato.

3) A Lei n° 12.796/13, alterou a redação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional —


LDB (Lei n° 9.394/96), sobretudo no que diz respeito:

A) Aos procedimentos adotados para a efetivação da matrícula de crianças de quatro e cinco


anos.

B) Aos documentos exigidos no ato da matrícula de crianças de quatro e cinco anos, para que
esta seja efetivada.

C) À obrigatoriedade de matrícula e frequência de crianças a partir de quatro anos na pré-escola.

D) À nomenclatura adotada pelas escolas que oferecem atendimento às crianças de quatro e


cinco anos.

E) Às exigências quanto à qualificação docente para a atuação na última etapa da educação


infantil.

4) Para Vygotsky a cultura cria a brincadeira e a brincadeira cria a cultura, na medida em que a
criança, nessa experiência, torna-se mediadora das suas próprias ações.
Considerando os estudos realizados sobre a brincadeira de faz de conta, assinale a
alternativa correta.

A) Tendo em vista que as brincadeiras de faz de conta acontecem naturalmente no ambiente


familiar, na escola, as crianças precisam ter outras vivências, pois é função da escola ampliar o
universo cultural infantil.

B) As pré-escolas são espaços privilegiados para as crianças realizem brincadeiras de faz de


conta, já que por meio das interações entre elas há o desenvolvimento da própria brincadeira
e da vivência em grupo.
C) A brincadeira de faz de conta desenvolve poucas habilidades e acaba por limitar a
aprendizagem, principalmente quando não houver qualquer direcionamento intencional por
parte do professor.

D) O papel do adulto é fundamental nesse tipo de brincadeira, pois para dividir os papéis entre
as crianças e escolher o enredo da história que será desenvolvida é preciso um objetivo
definido.

E) Na brincadeira de faz de conta, os papéis femininos e masculinos já estão previamente


determinados de acordo as regras sociais, dessa forma, os professores precisam estar atentos
às brincadeiras.

5) De acordo com a Lei n.° 12.796/13, todas as crianças de 4 anos ou mais, devem estar,
obrigatoriamente, matriculadas nas escolas de educação infantil. Todavia, o Anuário da
Educação Básica de 2018 trouxe dados que mostram que em 2017 apenas 93% das crianças
dessa idade estavam na escola.

A não universalização do ensino para crianças em idade pré-escolar decorre:

A) Do desinteresse dos pais em matricular seus filhos na escola por não atribuírem importância à
educação infantil.

B) Da falta de funcionários nas secretarias das escolas de educação infantil, inviabilizando a


efetivação das matrículas.

C) Da falta de oferta de vagas suficientes para o atendimento da demanda de crianças nessa


faixa etária.

D) Do alto índice de evasão na educação infantil, o que acaba por desperdiçar os recursos
públicos.

E) Da falta de cursos que formem profissionais para a atuação competente com crianças nessa
faixa etária.
Na prática
As políticas públicas educacionais, desde a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei 9394/96) em 1996 têm como meta a universalização da Educação Básica.
Também está previsto na LDB que caberá aos municípios oferecer a Educação Infantil, creches e
pré-escola.

Nesse Na Prática você vai conhecer a história de um pequeno município que, preocupado com a
educação da sua comunidade organizou grandes mudanças para cumprir seu dever, como previsto
no artigo 205 da Constituição Federal.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Educação Infantil
Todos os materiais oficiais e legislação a serviço da Educação Infantil podem ser acessados no site
do Ministério da Educação.

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Pré-escola a partir dos 4 anos será obrigatória em 2016


Nesse vídeo o Senado Federal explica a obrigatoriedade da matrícula de crianças na primeira etapa
da Educação Básica, a Educação Infantil.

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BNCC propõe mudanças para a Educação Infantil | Conexão


Neste vídeo do Canal Futura discute-se a implantação da BNCC na Educação Infantil

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Neste artigo a autora discute as políticas públicas para a


Educação Infantil tendo como período a promulgação da
Constituição Federal de 1988 até a implantação da BNCC

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