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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

MÓDULOS REGULARES 2021

Professora: Selma Sauerbronn


AULA IV

Parte 1/3

Esta aula dará continuidade aos direitos fundamentais da criança e do


adolescente. Inicialmente nós vamos tratar do direito fundamental à educação, em seguida
vamos abordar a profissionalização do adolescente; conselho tutelar, medidas protetivas e
medidas aplicáveis aos pais e responsáveis.

DIREITO À EDUCAÇÃO

É um direito fundamental que está presente em diversos dispositivos da nossa


ordem jurídica. A começar pela Constituição Federal, também na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação e no Estatuto da Criança e do Adolescente, a partir o artigo 53.

É muito importante para compreendermos como é o exercício desse direito e os


instrumentos assecuratórios para a garantia desse direito, compreender qual é a sua
finalidade, qual é o seu objetivo.

O fundamento legal, a começar pela Constituição Federal, nos artigos 205, 206.
Esses dispositivos estão reafirmados no Estatuto da Criança e do Adolescente, mais
precisamente entre os artigos 56 e 59.

Quando trabalharmos com o direito à educação, traremos para perto a


Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e, também, a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, sendo esta lei um refinamento dos dispositivos que estão presentes na
CRBB/88 e ECA.

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
Essa base e regras do direito à educação é o que aponta para a proteção e
efetividade desse direito, tanto para crianças quanto para adolescentes.

A finalidade é a instrumentalização do demais direitos fundamentais. A partir do


Direito à educação é que uma criança ou adolescente vai se preparar para o exercício da
cidadania plena, é a partir do direito à educação que terá condição de observar quais são os
seus direitos, quais são os direitos dos outros e até onde vai o exercício do seu direito sem
que haja o comprometimento com o direito alheio.

Daí a sua importância em investimentos de políticas públicas, porque a partir da


efetividade do direito fundamental é que outros direitos serão vistos pela criança e pelo
adolescente.

ABRANGÊNCIA DO DIREITO

Tanto o texto constitucional, quanto o Estatuto, temos que lançar o olhar para os
artigos 205,206,207, 208 da Constituição Federal e dos artigos 53 e seguintes do Estatuto da
Criança e do Adolescente. A perspectiva é de universalidade, inclusão na aplicação até
mesmo das medidas socioeducativas de privação de liberdade.

O que significa isso?

Significa que a política pública em torno da educação tem que ter uma perspectiva
de universalidade. Todos têm direito à educação. Quando se diz todos, são todos. Inclusive
para os adolescentes que estão privados de liberdade, adolescentes que estão em
cumprimento de medida socioeducativa, ainda que seja mais drástica, ele tem que receber,
o gestor dessa unidade tem que assegurar o exercício desse direito para os adolescentes que
estão em constrição da liberdade.

Em razão dessa perspectiva universal, não há possibilidade nem de suspensão


nem de tão pouco de expulsão. Nada tem a ver com um regulamento de uma escola, Um
aluno que está atropelando o regulamento pode ser punido, pode ser responsabilizado
dentro de normas previstas nesse regulamento. Porém, normas que estejam compatíveis com
o Estatuto da Criança e do Adolescente.

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
Portanto, não há possibilidade nem de suspensão, aquilo que acontecia antes, por
exemplo, de um aluno indisciplinado ficará sem vir à escola por 5 ou 6 dias. Não há essa
possibilidade. Não há como se pensar em uma aplicação de penalidade que impeça o exercício
do direito fundamental à educação.

Mas há a possibilidade do regimento prever que esse aluno vai desenvolver


atividade, por exemplo, dentro da biblioteca. Com a mesma justificativa, não há possibilidade
de expulsão. Então, se um aluno apresenta algumas dificuldades no campo disciplinar, o locus
adequado para se trabalhar essa dificuldade é no ambiente escolar. Logo, se o aluno possui
dificuldades no campo disciplinar, que essa questão seja trabalhada na escola com todo o
apoio da família. Não há que se pensar em expulsar e encaminhar para uma outra escola. Só
estará encaminhando o problema para outro local.

OBJETIVOS

A educação no Brasil, a partir da Constituição de 1988, mais precisamente o que


aponta o artigo 205, tem objetivos. Também aparecem no artigo 53, do Estatuto da Criança
e do Adolescente.

Quais seriam esses objetivos?

- O exercício da cidadania plena: É um preparo. A educação deve preparar a


criança e o adolescente para o exercício da cidadania plena. Não só em relação ao exercício
do voto a partir dos 16 anos, um voto facultativo, mas também, para compreender como um
cidadão se relaciona com o estado, com o outro, com a coisa pública, com o bem público.

-Capacitação para o trabalho: A educação também busca preparar a criança e o


adolescente para o trabalho. Isso significa que, as propostas pedagógicas, até mesmo as
metodologias a serem trabalhadas em sala de aula, são metodologias que devem estar
apontando para a criança e o adolescente o conteúdo útil para o exercício de determinada
atividade ou para o alcance e ultrapassar muros, a fim de que eles consigam ingressar, por
exemplo, na universidade.

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
Um conteúdo não pode ser lançado de forma solta, esse conteúdo tem que fazer
parte da vida da criança, da vida do adolescente, Portanto, esse é um item que há de ser
considerado na elaboração de uma proposta pedagógica, especialmente na capacitação dos
professores em elegerem suas metodologias a serem trabalhadas em sala de aula.

- Desenvolvimento saudável: Aqui, mais uma vez, o legislador estatutário no


artigo 53, chama a atenção para o princípio do paradigma da proteção integral. A educação
busca um desenvolvimento saudável, completo da criança e do adolescente. Claro que a
escola sozinha não fará isso. Já sinaliza que a família terá que estar presente para o alcance
desses três grandes objetivos do direito à educação no Brasil.

Esses três grandes objetivos pontuados estão pontuados no texto constitucional


e reafirmados no Estatuto da Criança e do Adolescente. Eles terão que estar presentes nas
propostas pedagógicas das escolas, nos planos nacionais de educação aqui no Brasil.

NÍVEIS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL

Tanto a Constituição, quanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, tratam


acerca dos níveis de educação no Brasil, sendo eles:

1. Educação Infantil: Creches e crianças até 03 anos e pré-escolas dos 04 a 05


anos

2. Ensino Fundamental: A partir dos 06 anos

3. Ensino Médio: três anos, enfatiza-se a profissionalização (não somente os


conteúdos a se trabalhar o vestibular, para o ingresso na universidade, mas também,
trabalhar alguns aspectos técnicos. De modo que o adolescente termine o ensino médio e
que já tenha recebido uma capacitação profissional.

IGUALDADE

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
É um direito de todos. Além da perspectiva de universalidade, analisamos
também a igualdade. É buscando assegurar essa igualdade, é que se tem no artigo 213, § 1º,
da CRFB/88, não só bolsa em rede privada, se a rede pública não tiver vaga, também para o
atendimento aos portadores de deficiência, temos que pensar nesse viés de inclusão.

Se for possível que seja atendido na rede pública, que os professores estejam
preparados para atender essas necessidades. Podendo também ter escolas especiais. O
importante é que tanto um modelo quanto o outro sejam assegurados em termos de políticas
públicas a fim de efetivamente assegurar a inclusão do portador de deficiência no que toca
ao exercício do direito à educação.

Dentro da perspectiva de igualdade, universalidade é que se tem a vedação de


retenção do histórico escolar para obrigar o pagamento de mensalidades em atraso. Isso
ainda acontece com uma certa frequência, em relação às instituições particulares de ensino.

É o caso de aluno que está com parcelas em atraso, parcelas pendentes e a


instituição se acha no direito de reter o histórico escolar, impossibilitando que esse aluno
busque fazer matrícula em outra instituição.

A relação consumerista tem que ser tratada de outra forma. Muitos os casos que
chegam ao portal da justiça com essa questão.

Exemplo: Retenção de histórico escolar, sem conseguir fazer matrícula , em razão


da pendência de pagamento.

VERTENTES AO DIREITO À EDUCAÇÃO

Essas vertentes estão atreladas aos objetivos. Para se alcanças àqueles objetivos
referentes à educação, pontuados no caput do artigo 53 e seus incisos, temos o que
chamamos de vertentes.

Como esses objetivos serão alcançados?

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1. Respeito por seus educadores: Sempre essa vertente, é uma vertente de mão
dupla. Assim como os alunos têm o direito de ser respeitados por seus educadores, os alunos
também têm o dever de respeitar os seus educadores. Comumente se tem notícias de
professor agredindo aluno, aluno agredindo professor, é professor que acha que pode fazer
uso de prática de violência contra seus alunos, especialmente em relação às crianças de tenra
idade, de praticar agressão, de praticar castigos físicos, de, às vezes, praticar tortura, práticas
de crueldade em relação às crianças de tenra idade.

2. Contestar critérios avaliativos: Pelo desenho da escola trazido pela


Constituição Federal, buscando os artigos 205 e seguintes, também o 53 e seguintes do ECA,
podemos observar que a escola é desenhada pelo nosso ordenamento jurídico, é uma escola
democrática. É uma escola que pratica diálogo entre professores e alunos, entre professores
e pais, enfim, então o que se aponta é que os critérios avaliativos têm que ser bem
conversados, tem que ser bem discutidos no plano de ensino.

Que esse plano de ensino seja publicizado, seja se tenha um contato com os pais,
com a comunidade escolar a fim de que esse plano de plano de ensino seja construído
conjuntamente. Essa é uma forma de envolver a família nas atividades escolares.

3. Organização e participação em atividades estudantis: Aqui, a escola tem o


dever de estar assegurando a participação de seus alunos em reuniões de entidades
estudantis, como por exemplo, os antigos grêmios, hoje se tem outros nomes, mas com a
mesma função. A função de reunir os alunos e discutir diversos temas, não só temas voltados
ao direito à educação, mas outros temas também.

Como vimos, um dos objetivos do direito à educação é o preparo para o exercício


da cidadania plena. Se um dos objetivos é esse preparo, então que esse também possa ser
abordado nessas reuniões organizadas pelas entidades estudantis, cabendo à escola facilitar
essas reuniões. Não só assegurando um espaço, mas também facilitando a ida de alguns
alunos a essas reuniões.

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4. Acesso à escola pública perto de sua residência: não basta tão somente
assegurar o ingresso de criança e adolescente numa escola. É necessário que se assegure essa
proximidade da escola de sua residência, até para que não se tenha dificuldades para a criança
e o adolescente se desloque para a escola.

A preocupação do legislador nessa vertente e de estar facilitando esse acesso, a


fim de evitar que caia em evasão escolar em razão das dificuldades para estar se dirigindo
para a escola.

Quando não for possível, sugere-se o programa de suplementação a fim de se


assegurar um transporte para os alunos.

Quais seriam os entes responsáveis?

Aqui poderíamos colocar todos. Não só a família, mas também a sociedade, mas
também o Estado.

Vamos começar pelo Estado.

DEVERES DO ESTADO

A responsabilidade está fixada em texto constitucional, mas também no Estatuto


da Criança e do Adolescente. Vamos observar o artigo 54 do ECA . Já na CFRB, será o artigo
208. Vamos ver que são responsabilidades bem parecidas, os textos se parecem muito.

Talvez o que o Estatuto quis fazer foi dar maior visibilidade ao que a nossa

Constituição Federal já havia dito.

1. Assegurar ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para aqueles


que não tiverem acesso na idade própria, fazendo desaparecer uma vedação discriminatória
aos considerados “fora da faixa”.

Antes da nossa Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente,


tínhamos uma categoria de crianças e adolescentes que chamávamos de “alunos fora da faixa
etária”.

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
Quando esses alunos estavam fora da faixa etária, eram inseridos num
atendimento especial, cada escola tinha o seu grupo de alunos que estavam fora da faixa e
eram alunos que eram discriminados. E o pior, na seleção de professores para prestar
atendimento a esses alunos, sempre escolhiam os piores professores ou professores com
dificuldade no campo disciplinar e colocavam para estar atendendo a esses alunos.

Verificou-se que havia uma completa discriminação e essa discriminação levava a


odiosa evasão escolar.

Vem a nossa Constituição Federal, veio também a elaboração do Estatuto da


Criança e do Adolescente e afastou essa discriminação, de modo que esses alunos, tenham
um atendimento no ensino regular sem que se crie um atendimento especializado para esse
grupo chamado de “fora da faixa”.

2. Prestar atendimento aos portadores de deficiência, assegurando


atendimento educacional especializado.

Na sequência, no artigo 54, se tem os deveres do Estado e deveres do Estado no


campo do atendimento ao deficiente.

Nossa Constituição, da mesma forma assegura, a inclusão do deficiente, levando


em consideração as necessidades do portador de deficiência. É possível prestar atendimento
na área educacional na rede de ensino normal, que pode envolver a rede privada, como
também há a possibilidade de se criar escola especial (para cegos, para aqueles que possuem
algum problema neurológico mais severo). Há depender das necessidades do aluno vai se
optar pela inserção na rede de ensino normal ou vai partir para a rede de ensino especializado
em escolas especializadas. Mas, buscando a inclusão, já que a política de inclusão que temos
no Brasil é uma política de inclusão, pelo menos no campo normativo, que busca atender
todos os direitos fundamentais.

3. Atendimento de creche, pré-escola destinada a crianças de 0 a 5 anos, sendo


imprescindível no campo da assistência e da educação.

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
Os pais que não possuem condições de buscar atendimento em creche na rede
particular, necessitam de um atendimento na rede pública. Portanto é um dever do Estado
assegurar creche ou escola para atender crianças nessa faixa etária. Cada vez mais tem que
se ir buscado, aqui no Brasil, avançar o número de vagas em creche e pré- escola.

Artigos mencionados em aula:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de
sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-
lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - direito de ser respeitado por seus educadores;

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;

V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo
estabelecimento a irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica.
(Redação dada pela Lei nº 13.845, de 2019)

Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como
participar da definição das propostas educacionais.

Art. 53-A. É dever da instituição de ensino, clubes e agremiações recreativas e de


estabelecimentos congêneres assegurar medidas de conscientização, prevenção e enfrentamento
ao uso ou dependência de drogas ilícitas. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na
idade própria;

II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na


rede regular de ensino;

IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade; (Redação dada
pela Lei nº 13.306, de 2016)

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;

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VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material
didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa
responsabilidade da autoridade competente.

§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a


chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela freqüência à escola.

Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular
de ensino.

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho


Tutelar os casos de:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos;

II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares;

III - elevados níveis de repetência.

Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas relativas a
calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças
e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório.

Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos


próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da
criação e o acesso às fontes de cultura.

Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação
de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância
e a juventude.

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e
privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de
carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes
públicas;
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.

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VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos
termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
IX - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 108, de 2020)
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da
educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de
carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade,
assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade
própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)

II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela Emenda


Constitucional nº 14, de 1996)

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,


preferencialmente na rede regular de ensino;

IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de


idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
capacidade de cada um;

VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;

VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de


programas suplementares de material didáticoescolar, transporte, alimentação e assistência à
saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)

§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular,


importa responsabilidade da autoridade competente.

§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes


a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.

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Parte 2/3

DEVERES DO ESTADO (CONTINUAÇÃO)

Ainda em deveres do Estado temos:

4. Ensino noturno regular adequado às condições do adolescente (art. 208, VI, da


CF).

IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade;

Para os adolescentes que trabalham a partir dos 16 anos e para aqueles que
exercem a aprendizagem a partir de 14 anos, será possível que ele estude a noite, mas não
no sistema EJA, mas, sim, que se tenha um ensino regular noturno para atender o adolescente
trabalhador. Daria para atender não só o adolescente que tem uma relação de emprego,
como também um adolescente que está na aprendizagem a partir dos 14 anos.

5. Programas suplementares no ensino fundamental

Quando vimos uma das vertentes, que é do acesso ao ensino obrigatório, escola
gratuita e perto de casa, pode ser que a escola não seja tão perto de casa que exista a
necessidade da criança ou adolescente de fazer um deslocamento por meio de uma
condução. Portanto, se não tem a possibilidade de garantir uma vaga para a criança ou
adolescente em uma escola perto da sua casa, cabe ao Estado, e é um dever do Estado,
assegurar programa suplementar de transporte escolar.

Além desse, temos outros programas suplementares como a merenda escolar, o


qual com a desigualdade social vivenciada no nosso país, o programa da merenda escolar se
torna muito mais importante ainda, a fim de que a criança possa se desenvolver, possa
receber uma alimentação adequada enquanto estiver em ambiente escolar.

Um outro exemplo de programa suplementar é o programa odontológico, ou


algum que atenda déficit de atenção, dentre outros.

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DEVERES DOS PAIS

1. Matricular e acompanhar o filho.

Caso não se observe essa obrigação, poderá haver responsabilização cível, criminal e
administrativa.

A repercussão jurídica cível envolve a suspensão e destituição do poder familiar.


Vimos em aulas anteriores que o artigo 1.634, do CC/02, traz o que chamam de deveres do
poder familiar, outros chamam de atributos do poder familiar, ou prerrogativas parentais.
Tudo é a mesma coisa, cada autor chama de uma forma.

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno
exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: (Redação dada pela Lei nº 13.058,
de 2014)

I - dirigir-lhes a criação e a educação; (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)

II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; (Redação dada
pela Lei nº 13.058, de 2014)

III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; (Redação dada pela Lei nº
13.058, de 2014)

IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; (Redação dada


pela Lei nº 13.058, de 2014)

V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente


para outro Município; (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)

VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe
sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; (Redação dada pela Lei nº 13.058,
de 2014)

VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida
civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o
consentimento; (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)

VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; (Incluído pela Lei nº 13.058, de 2014)

IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e
condição. 13
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Uma dessas prerrogativas é acompanhar o filho na educação escolar. Portanto, o
descumprimento dessa prerrogativa parental é possível que se chegue a uma suspensão ou
para os casos mais graves, a destituição do poder familiar.

Na área criminal, temos o artigo 246, do CP, que traz o abandono de intelectual, nos
casos mais complexos. Tem que ser examinado com muito cuidado, pois chamamos o Código
Penal, como ultima ratio, será a última coisa a se buscar.

Abandono intelectual

Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar:

Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Na esfera administrativa, temos o artigo 129, V, ECA, com diversas medidas aos pais e
responsáveis Uma das medidas é a obrigação de matricular o filho e acompanhar o
aproveitamento escolar, sob pena de, na esfera administrativa, que sejam penalizados de
acordo com o artigo 429, CP.

Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:

V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e aproveitamento


escolar;

Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao pátrio poder poder
familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou
Conselho Tutelar: (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.

ESCOLA DEMOCRATIZADA

O que se tem é uma relação dialógica entre a comunidade escolar, entre o dirigente
escolar, a equipe técnica, os professores, a comunidade, os alunos, os pais.

A CF, no artigo 206 e o artigo 3º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação faz menção
a essa gestão compartilhada da escola com a comunidade. Hoje, quando se fala em projetos
de abrir a escola no final de semana para a comunidade, utilizar o espaço da escolar para o
oferecimento de cursos práticos ou alguns eventos direcionados à comunidade, é porque está
descrito na legislação.

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Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e
privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira,
com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes
públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos
de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
IX - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 108, de 2020)
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da
educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de
carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:


I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII - valorização do profissional da educação escolar;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de
ensino;
IX - garantia de padrão de qualidade;
X - valorização da experiência extra-escolar;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
XII - consideração com a diversidade étnico-racial. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida.

FINANCIAMENTO

O financiamento a efetividade do direito à educação está previsto no artigo 212, CF.


Um percentual, da arrecadação de impostos, será enviado à União, outro aos Estados e outro
aos Municípios.

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Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.

§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito


Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para
efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir.

Essa fiscalização será exercida pelo Ministério Público, porém o Oder Judiciário é
quem acaba exercendo essa fiscalização na medida em o Ministério Público aciona o Poder
Judiciário em decorrência dos seus atos de fiscalização.

Súmula 209, STJ – Distribui a competência do MP estadual, se houver desvio de


finalidade.

Para outras questões, em relação ao orçamento público, inclusive patamares


mínimos, vai ficar afeto ao Ministério Público Federal.

SÚMULA N. 209. Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba
transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

OBRIGAÇÃO DOS DIRIGENTES DE ENSINO FUNDAMENTAL

Artigo 53 -A: É fruto de uma alteração legislativa trazido pela Lei n. 13. 840/2019, que
é uma lei que traz um desenho de prevenção ao uso abusivo de drogas. Essa Lei cria a Semana
Nacional de Drogas. Essa semana que é desenvolvida nas escolas, no qual as escolas são
obrigadas a desenvolver atividades no campo da prevenção das drogas, sejam com palestras,
sejam com algumas atividades.

Art. 53-A. É dever da instituição de ensino, clubes e agremiações recreativas e de


estabelecimentos congêneres assegurar medidas de conscientização, prevenção e enfrentamento
ao uso ou dependência de drogas ilícitas

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
Além dessa atividade, temos no artigo 56, as obrigações por parte do dirigente de
estabelecimento de ensino fundamental. A obrigatoriedade é encaminhar para o Conselho
Tutelar as situações de maus tratos, então não há necessidade da escola instaurar
procedimento administrativo para fazer qualquer investigação. Se o professor, se o dirigente
do estabelecimento identifica uma suspeita de maus tratos, cabe a ele fazer a comunicação
ao Conselho Tutelar conforme o artigo 56, I, ECA.

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conse-


lho Tutelar os casos de:

I - maus-tratos envolvendo seus alunos;

O Conselho Tutelar é quem irá adotar as providências adequadas, seja fazendo uma
pequena investigação quanto à questão e adotando as providências adequadas.

Uma outra situação que gera obrigatoriedade para o dirigente escolar com a
comunicação ao Conselho Tutelar, dos alunos que faltam de forma injustificada. São alunos
infrequentes, que não apresentam justificativas para suas faltas.

Depois de esgotados os recursos escolares, a que se acionar o Conselho Tutelar para


que possa fazer interferência nessa questão.

Outra obrigação diz respeito ao inciso III, que envolve alunos com repetência, que tem
um determinado nível de repetência e que há necessidade, depois de esgotados os recursos
escolares, verificar o que ocorre na casa do aluno, o que ocorre por meio do Conselho Tutelar.

Lembrando que no inciso I, esse encaminhamento ao Conselho Tutelar em virtude de


suspeita de maus tratos, caso o dirigente não faça essa comunicação está sujeito a infração
administrativa prevista no artigo 245, ECA.

Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de
ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que
tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou ado-
lescente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
É uma infração prevista também para os profissionais da área da saúde.

DIREITO À PROFISISONALIZAÇÃO

Temos uma grande articulação entre esses dois direitos fundamentais, porque quando
tratamos dos objetivos ao direito à educação, um dos objetivos é o preparo para o trabalho.
Então, vamos ver aqui, no direito à profissionalização, que também, o legislador ao trabalhar,
ao desenhar essa proteção, atrela a efetividade do direito à educação.

O artigo 60, pode-se observar que, é uma redação de 1990, com o surgimento da
primeira redação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Porém, tivemos alteração na nossa
Constituição Federal, em relação a esses marcos etários. Não só para a relação de emprego,
mas também para a idade mínima para a aprendizagem.

A leitura será feita junto com a Constituição Federal que foi alterada pela Emenda n.
20, em 1998.

A idade mínima não é de 14 anos e sim de 16 anos, tal qual aponta nossa Constituição
Federal. A idade mínima para a aprendizagem é aos 14 anos, o que previu o inciso XXXIII, do
artigo 7º, e o artigo 227, §3º, I, da CF.

Observação: proceder uma releitura do artigo 60, buscando o texto constitucional.

Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de
aprendiz.
Art. 7º. XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado;
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII;

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
Ainda no campo da profissionalização, há que se destacar o atendimento para o deficiente. O
atendimento previsto no artigo 66 do Estatuto também decorre da CF.

Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido.

Quando o Estatuto trata da questão de proteção ao trabalho, busca um atendimento


mais especial para o deficiente. Tudo na perspectiva de inclusão.

VEDAÇÕES

Estão previstas no artigo 67, podendo ser em atividade de emprego ou aprendizagem.

a) O trabalho urbano entre 22h e 5h em área urbana e 21h e 5h na zona rural.


Toda proteção especial ao trabalho do adolescente, necessariamente ,
está prevista na CF, no ECA e na CLT.
b) Trabalho perigoso, insalubre e penoso – art. 405, §3º, CLT.
Os atores mirins que dependem de autorização judicial. Além dos atores
mirins, temos os que trabalham em circo. Temos duas correntes no nosso
ambiente doutrinário.
- 1ª Corrente - Sustentam que seria exploração do trabalho infantil.
- 2ª Corrente - Sustentam que seria uma representação artística, não seria
uma exploração do trabalho infantil, devendo ter uma autorização judicial
do artigo 149, ECA.

c) Atividades realizadas em locais prejudiciais a sua formação e ao seu


desenvolvimento físico, psíquico, moral e social.
d) Realização em locais ou horários que não permitam a frequência à escola

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
Os direitos trabalhistas são assegurados aos adolescentes como a anotação da CTPS,
férias – que deve coincidir com as férias escolares.

Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de es-
cola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado trabalho:

I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte;

II - perigoso, insalubre ou penoso;

III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico,
moral e social;

IV - realizado em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.

Convenções OIT: 138 e 182 – Temos que ter em mente que a nossa ordem jurídica
tem um cimento no campo dos instrumentos internacionais. No campo da proteção do
trabalho do adolescente, temos essas duas grandes convenções.

A primeira é a Convenção n. 138, que fixa a idade mínima para ter uma relação de
emprego. É uma Convenção que foi complementada pela Convenção 146, também da OIT e
que serve de base para a fixação da idade mínima no Brasil para os dois marcos etários.

A Convenção n. 182 trata das piores formas de exploração do trabalho infantil e coloca
nessas piores formas a prostituição infanto juvenil e das drogas. Portanto, ela é importante
para nós, pois é possível inserir crianças e adolescentes que estejam na prostituição ou
envolvidos em tráfico de drogas, no programa de erradicação do trabalho infantil.

Parte 3/3

MEDIDAS PROTETIVAS, CONSELHO TUTELAR E MEDIDAS APLICÁVEIS AOS PAIS OU


RESPONSÁVEIS

MEDIDAS PROTETIVAS

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
Conceito

São medidas destinadas às crianças e aos adolescentes que se encontrarem em


situação de vulnerabilidade que esteja ameaçando ou que esteja violando direitos
fundamentais.

Essas situações estão arroladas no artigo 98, ECA. Os teóricos costumam afirmar
que esse artigo é o coração do Estatuto, pois traz um conjunto de hipóteses de ameaça ou
violação aos direitos fundamentais que então será possível uma interferência no campo
protetivo.

Quais seriam essas hipóteses?

Art.98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os


direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:

I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;

II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;

III - em razão de sua conduta.

Essas medidas protetivas podem ser cumuladas.

Exemplo: Uma criança que perambula na rua. Essa criança precisa ser encaminhada para
uma unidade de acolhimento institucional até que se verifique o que está acontecendo com
ela, o que está acontecendo no contexto familiar. Além disso, é uma criança que está fora da
escola e tem um problema de saúde grave, um problema renal.

Portanto, há necessidade de aplicação de medida protetiva, inclusão em um pro-


grama institucional de acolhimento e, também a necessidade de se aplicar outra medida pro-
tetiva de inclusão na rede pública de ensino e atendimento na área de saúde.
Outro exemplo de cumulação de medidas é um adolescente que esteja fora da
escola, por ação /omissão dos pais e é um adolescente comprometido com as drogas.

Logo, há necessidade de interferência no campo protetivo, no sentido de, não só


buscar uma atuação junto a essa família, de orientação e acompanhamento, mas é necessário
também que esse adolescente recebe uma medida protetiva de inclusão na rede pública de
ensino e que seja incluído em programa para atendimento às drogas.

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
No exemplo acima, vemos 3 medidas cumuladas.

Critérios para a adoção de medida protetiva

O Conselho Tutelar tem atribuição de aplicação de medida protetiva (Art. 101,


VII), porém também é de atribuição do juiz da infância e adolescente aplicar outras medidas
protetivas que precisam de judicialização.

1. Necessidades sociopedagógicas: Busca-se prestar um


atendimento individualizado, precisando ver qual é a
necessidade da criança ou adolescente.
2. Fortalecimento dos vínculos familiares: Estará presente em
todo o Estatuto da Criança e do Adolescente. Essa orientação
de buscar o fortalecimento são encontradas nas medidas
socioeducativas para os adolescentes, autores de atos
infracionais. A finalidade é que o Estado ou sociedade
interfira, mas a criança deve ter seu vínculo familiar. Os
esforços serão voltados para que a criança ou adolescente
possa retornar para sua família.
Lembrando aqui que Ministério Público não aplica medida
protetiva, somente conselho tutelar e autoridade judiciária.

No artigo 101, temos as medidas que podem ser aplicadas tanto


pelo conselho tutelar quanto pelo juiz da infância.

O artigo 136, trata sobre a atribuição do Conselho Tutelar sobre a


aplicação de medidas protetivas a crianças e adolescentes.

A guarda, tutela e adoção são medidas que apenas a autoridade


judiciária poderá decidir.

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente
poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;

IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção


da família, da criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou


ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a


alcoólatras e toxicômanos;

VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
CONSELHO TUTELAR
IX - colocação em família substituta.

É uma expressão de participação popular. Ele tem a sua fase


embrionária no inciso II, do artigo 204, CF. O inciso traz algumas diretrizes para a elaboração
das políticas públicas na área social. O inciso I trata sobre a descentralização político
administrativa e o inciso II trata sobre participação popular. Participação popular essa que vai
ocorrer via:

- Conselho de Direitos: órgãos responsáveis pela organização de políticas públicas na área da


infanto- adolescência – com organização paritária de metade de seus membros composta por
integrantes da sociedade civil e a outra metade composta por representantes
governamentais.

Tem por principal função organizar, formatar políticas públicas na


área da infanto adolescência.

- Conselho Tutelar: Atende criança e adolescente, atende os pais, atende os responsáveis. É


um órgão que nasce da comunidade, os seus membros são eleitos pela comunidade e sua
principal função é aplicar medidas protetivas às crianças e adolescentes que se encontrarem

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
em situação de risco e, também, medidas aplicáveis aos pais ou responsáveis, dentre aquelas
previstas no artigo 129, ECA.

Características

É um órgão não jurisdicional, não integra o Poder Judiciário, portanto as decisões


emanadas do Conselho Tutelar não podem ser objeto de recurso na nossa lei processual civil.
Não significa que não há como se questionar essas decisões. Todo aquele que se sentir
ameaçado ou prejudicado com alguma decisão do Conselho Tutelar, deve-se partir com uma
representação no Ministério Público para o Poder Judiciário, a fim de que essa decisão seja
analisada no Poder Judiciário , mas dentro da garantia jurisdicional que nenhuma lesão ficará
longe da apreciação do poder jurisdicional.

Atribuições

O rol de atribuições está no artigo 136, dentre elas a aplicação de medidas


protetivas do inciso I até o inciso VII e em relação ao artigo 129, que tirando as hipóteses de
suspensão e destituição do poder familiar, as demais medidas aplicáveis aos pais ou
responsáveis são de atribuição do Conselho Tutelar.

Também tem a atribuição de atender criança que cometa ato infracional. Quando
se tratar de criança, aquele indivíduo que possua menos de 12 anos de idade, quando pratica
um ato infracional, assim descrito como crime ou contravenção, o Conselho Tutelar terá a
atribuição de aplicar medidas protetivas. É o que aponta o artigo 105 e 136, ECA.

Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no art. 101.
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas
no art. 101, I a VII;
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII;
III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança;
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações.
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os
direitos da criança ou adolescente;
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI,
para o adolescente autor de ato infracional; VII - expedir notificações;
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de
atendimento dos direitos da criança e do adolescente;

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X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º,
inciso II, da Constituição Federal ;
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após
esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural. (Redação
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais, ações de divulgação e treinamento
para o reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046,
de 2014)
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento
do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre
os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social
da família.

MEDIDAS APLICÁVEIS AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS

Também está constante no rol de atribuições do Conselho Tutelar. No artigo 129,


temos algumas medidas destinadas aos pais ou responsáveis, dentro da compreensão ou a
partir daquele princípio da responsabilidade entre a família, sociedade e Estado no campo da
efetividade dos direitos fundamentais.

O legislador estatutário quando traz um rol de medidas para os pais ou


responsáveis e são medidas que estão em um leque de repercussão jurídica. Além de outras
repercussões, temos também essas medidas previstas, no artigo 129 do ECA.

Toda vez que pensarmos em descumprimento de obrigações por parte dos pais
ou responsáveis, vamos ter um leque mais ampliado de repercussão envolvendo a área cível
de família com a destituição do poder familiar, vamos pensar também até na destituição do
tutor, ou a modificação da guarda, por exemplo.

As medidas podem ser em inserção de capacitação profissional, recebimento de


atendimento no campo da saúde, tratamento ao uso de substância entorpecente, dentre
outros, são medidas que buscam proteger a criança e o adolescente, pais ou responsáveis,
como também podendo passar para advertência ou orientação para pais e/ ou responsáveis.

Vale lembrar que todas as medidas estão relacionadas as prerrogativas


constantes no artigo 1.634, CC/02, que é o dever de cuida, de atenção, de matricular os filhos

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Material elaborado por Annie Karine Feijó Costa
na escola, assegurando higiene, alimentação, são todos os deveres arrolados no artigo
mencionado, que uma vez negligenciados é possível até que se tenha uma suspensão ou uma
destituição do poder familiar.

Somente em último caso pode-se pensar em suspender ou destituir o poder


familiar, pois é um direito fundamental da criança e adolescente ser criado e educado junto
a família biológica.

O que é cobrado em concurso é se se conhece o acervo jurídico para enfrentar os


problemas apresentados, envolvendo crianças e adolescentes, já que os concursos têm
trabalho bastante com hipóteses, mesmo em provas objetivas.

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