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Ensino

Infantil
Lei de diretrizes e
Bases da educação
Nacional

2. CAMPOS, Rosânia. Educação Infantil após 20 anos da LDB: avanços e desafios. Poiésis-Revista
do Programa de Pós-Graduação em Educação, v. 11, n. 19, p. 141-156, 2017.
Doutorado em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina, Professora do Programa de Pós-
Graduação em Educação -PPGE da UNIVLLE, Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Políticas
Públicas e Práticas Educativas para Educação e Infância
3. LUIZ, Maria Cecília; MARCHETTI, Rafaela. Lei 12.796/13 e a obrigatoriedade na educação
infantil. Revista on line de Política e Gestão Educacional, p. 4-23, 2020.
Professora do Departamento de Educação e do programa de pós-graduação em Educação
(PPGE/UFSCar) - LUIZ;
Doutoranda do programa de pós-graduação em Educação (PPGE/UFSCar) - MARCHETTI
Ensino
Infantil
Lei de diretrizes e
Bases da educação
Nacional

Universidade Federal de Pernambuco


Departamento de Licenciaturas Diversas
Professora: Fernanda Carvalho
Discente: Gabriel Batista da Silva
Legislação
A Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica, voltando-se para as idades
iniciais, sendo um dos, senão o primeiro contato do indivíduo com a sociedade. A
atividade do ensino infantil é praticada em creches e pré-escolas, em sua grande
maioria gerida pelos municípios, quando não sendo de iniciativa privada. Particulares
ou públicas, os estabelecimentos de ensino infantil devem seguir parâmetros pré-
estabelecidos para seu funcionamento.

A principal normativa para a prática do Ensino Infantil é a lei 9.394, de 20 de dezembro


de 1996, sancionada pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso e
mais conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Acrescida de
alterações aplicadas pela lei 12.796 de abril de 2013, assinada pela presidenta Dilma
Rousseff, a LDB estabelece fundamentos para o funcionamento de creches e pré-
escolas em território nacional.

Nela, os principais artigos que envolvem a Educação Infantil são os seguintes:

Artigo 29 A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como


finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a
ação da família e da comunidade." (NR).

Artigo 30 A educação infantil será oferecida em:

I –Creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de


idade;

II – Pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.

Artigo 31 A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes


regras comuns:

I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das


crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino
fundamental;

II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um


mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional;

III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o


turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral;

IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a


frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas;

V - expedição de documentação que permita atestar os processos de


desenvolvimento e aprendizagem da criança." (NR)

1. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996. BRASIL.


É interessante ressaltar que, apesar de todas as discussões e processos para a criação
da LDB, com o decorrer do tempo, algumas coisas foram mexidas e remexidas em sua
estrutura. Como toda lei, a LDB é passível de alterações realizadas após já sancionada
e em vigência. Essas alterações, a princípio têm por objetivo aprofundar pontos antes
não abordados pela própria lei, o que é não só possível como é algo comum. Mas é
necessário observar os impactos dessas alterações em cada modalidade, para julgar a
qualidade de cada mudança realizada. E sobre elas, Rosânia Campos² traz alguns
dados muito importantes para realizar uma análise mais embasada:
“Como é possível observar, as conquistas para a Educação Infantil foram
sempre marcadas por muita luta. Atualmente, após 20 anos da promulgação
da LDB, no período que corresponde até 2015, esta lei, apesar de ter sido
aprovada sem vetos, sofreu várias modificações no transcorrer desses anos,
totalizando 39 alterações, segundo Saviani (2016). De acordo com Cury
(2016, s.p.),

“foram 40 alterações sob a forma de leis no corpo legal da lei então


sancionada. Foram 178 mudanças, inclusive com alterações das
alterações. Se tomarmos o conjunto das modificações processadas pelas
40 leis mais os 47 decretos regulamentadores, teremos uma soma de 225
alterações””

Percebe-se que são muitas alterações, até comparando a outras tantas leis em vigor no
Brasil. Das que causaram maior impacto para a educação infantil, podemos mencionar

∗ Lei 11.114, de 16 de maio de 2005 - tornou obrigatória a matrícula no Ensino


Fundamental aos seis anos de idade, alterando, dessa forma, os artigos 6º, 32º e 87º
da LDB.
∗ Lei Nº 11.274, de 06 de fevereiro de 2006 - modificou a LDB instituindo o Ensino
Fundamental de nove anos, com matrícula obrigatória a partir dos seis anos de idade,
ajustando a redação dos artigos 32 e 87
∗ Lei N° 12.796, de 04 de abril de 2013 - amplia a obrigatoriedade da faixa etária de
quatro a dezessetes anos de idade, determinando que o ano de 2016 fosse o prazo final
para essa universalização. Aumentam-se atendimento e recursos financeiros, mas,
infelizmente, sem incluir as creches.

Sobre esta última, Maria Cecília Luiz e Rafaela Marchetti ³ discorreram o seguinte:

“Entendemos que a Lei n. 12.796/13 (BRASIL, 2013) não surgiu por um


acaso, até porque suas perspectivas estavam vinculadas a condições
econômicas e sociais, ou seja, condicionada a possibilidade de haver recursos
financeiros, administrativos, pedagógicos, etc., para ocorrer a
obrigatoriedade, do ponto de vista social a escolarização estava atrelada a
questão
do direito de crianças ingressarem na EI a partir dos 4 anos de idade.”

4. CAMPOS, Rosânia. Educação Infantil após 20 anos da LDB: avanços e desafios. Poiésis-Revista
do Programa de Pós-Graduação em Educação, v. 11, n. 19, p. 141-156, 2017.
Doutorado em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina, Professora do Programa de Pós-
Graduação em Educação -PPGE da UNIVLLE, Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Políticas
Públicas e Práticas Educativas para Educação e Infância
5. LUIZ, Maria Cecília; MARCHETTI, Rafaela. Lei 12.796/13 e a obrigatoriedade na educação
infantil. Revista on line de Política e Gestão Educacional, p. 4-23, 2020.
Professora do Departamento de Educação e do programa de pós-graduação em Educação
(PPGE/UFSCar) - LUIZ;
Doutoranda do programa de pós-graduação em Educação (PPGE/UFSCar) - MARCHETTI
Diretrizes
Apesar de ambas formarem a educação básica, Educação Infantil e Ensino
fundamental precisam ter formas diferenciadas de abordagem, sabendo que pela
diferença de idades há ritmos de aprendizado, um tipo diferente de atenção é exigido,
e outros objetivos nas atividades escolares são explorados, além de várias outras
coisas. A educação infantil exige uma identidade única, adaptada ao alunado que é
público alvo desta modalidade. Como a legislação determina, a modalidade de ensino
em questão não é pré-requisito para a entrada ao ensino médio, o que evidencia o seu
compromisso com algo além do desenvolvimento intelectual.

As Diretrizes então, são definidas tendo vista o cumprimento quanto ao que estabelece
o Artigo 29 da LDB, “o desenvolvimento integral da criança [...] em seus aspectos
físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade”. As condições determinadas pelas diretrizes vão desde horário de
funcionamento, formação do docente, proximidade com a residência, e outras
exigências que demonstram o que seria uma estrutura legal e Institucional da Educação
Infantil.

Elas apontam para um conjunto de princípios considerados ideais para a espécie do


trabalho exercido nos estabelecimentos de Educação Infantil:

∗ Princípios éticos – valorização da autonomia, da responsabilidade, da


solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes
culturas, identidades e singularidades.
∗ Princípios políticos – garantia dos direitos de cidadania, do exercício da
criticidade e do respeito à ordem democrática.
∗ Princípios estéticos – valorização da sensibilidade, da criatividade, da
ludicidade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais.
Estatísticas
Seguem abaixo dados acerca da modalidade de Educação Infantil, com ênfase no
número de matrículas e também de evasão. É interessante ressaltar o evento da
Pandemia no período de 2020-2021, e o impacto nos dados que referenciam esse
período.

Matrículas em
Creches 4

Municipais (IBGE)
Privadas

Evolução do
número de
matrículas na
educação infantil,
segundo a rede de
ensino 5

Fonte: Elaborado por Deed/Inep com base nos dados do Censo


da Educação Básica

Evasão de crianças de até 5 anos entre 2019 e 2021: 653.000 (Censo Escolar 2021)

Número de matrículas para crianças de até 4 anos: 77,3% (BRASIL, 2017)

Número de matrículas para crianças de até 5 anos: 91,4% (BRASIL, 2017)

4. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


5. Elaborado por Deep/Inep com base nos dados do Censo da Educação Básica
Principais dificuldades
Embora muito tenha sido estabelecido, o cumprimento dos termos da legislação e as
especificidades das diretrizes da educação infantil é algo que pode não fazer parte da
realidade.

Há dentre as autoridades maiores do país quem questiona se qualquer pessoa pode


exercer a função de professor. Por incrível que pareça, essa discussão se estende por
toda educação básica, na ideia de que uma pessoa com formação em licenciatura em
determinada disciplina, possa ensinar de forma plena outra disciplina que não a de sua
formação (É difícil de encontrar algum jovem que no seu ensino fundamental, viu por
exemplo um professor de inglês, matemática ou ciências ensinar artes, religião ou
filosofia).

Filtrando esses tipos de relatos para o âmbito da educação infantil, infelizmente é


comum o exercício da atividade de docência por parte de pessoas não capacitadas
para a prática pedagógica. A infelicidade disso está na impossibilidade de que esse
professor possa ter compromisso com todos os objetivos da educação infantil, pelo seu
não conhecimento dos mesmos ou até por conhecendo, não saber como promover o
exercício de atividades em todos os âmbitos mencionados no Artigo 29: físico,
psicológico, intelectual e social. Em ambas as situações, pode haver o desenvolvimento
da criança, mas não da forma expectada pela LDB, ou seja, não será um
desenvolvimento de forma integral, mas sim parcial.

“É comum escutar relatos de professoras que acreditam que o trabalho com


a educação infantil é, simplesmente, realizar algumas atividades de pintura,
desenho, recorte, colagem, etc., para passar tempo, ou seja, "olhar" as
crianças enquanto brincam. Essas professoras não estão cientes da
relevância de cada uma dessas atividades, que cada uma delas deve ter um
propósito, um objetivo a ser alcançado.

Por outro lado, algumas professoras acreditam que sua função é "preparar"
a criança para ingressar no ensino fundamental, enchendo-as de atividades
de cópia, repetição e memorização. Muitas educadoras ainda não têm
consciência de sua responsabilidade e forte influência na formação da
personalidade e na auto-estima de seus alunos. Diante dessas constatações,
percebemos que aquelas antigas crenças de que o papel da pré-escola é
brincar com as crianças ou "prepará-las" para ingressar nas séries iniciais
prevalecem até hoje no bojo das instituições de educação infantil.”
(OLIVEIRA, Maria Izete de.) 6

6. OLIVEIRA, Maria Izete de. Educação infantil: legislação e prática pedagógica. Psicol. educ.,
São Paulo , n. 27, p. 53-70, dez. 2008 .

Maria Izete de Oliveira é Doutora em psicologia da Educação e Professora do Departamento de pedagogia


da Unemat/Cáceres Universidade do Estado de Mato Grosso.
Entendendo as características únicas na formação de um professor da educação
infantil, não há a possibilidade de considerar de maneira indiferente em um currículo a
diplomação em pedagogia para o exercício do magistério. Essas características são
percebidas no próprio desenvolvimento da criança, devido ao nível de influência do
educador sobre a criança, como ela discorre no mesmo artigo:
“Garantir a atuação de profissionais com formação específica em educação
infantil para exercer sua função nessas instituições é um fator sine qua non
para se alcançar uma melhor qualidade das práticas pedagógicas voltadas
para essa etapa de educação. [...]

Enfocando essa discussão no campo da educação escolar, percebe-se que a


professora1 é a profissional que atua mais diretamente com a criança em um
período consideravelmente longo. Por isso, ela exerce grande influência sobre
a sua auto-estima e sobre a personalidade da criança. Essa influência é
ainda maior quando se trata de crianças na faixa etária de zero a seis anos,
que se encontram abertas à influência de um adulto mais próximo, com o
qual mantêm laços afetivos. Assim, as instituições de educação infantil
devem estar conscientes de sua importância para a formação da
personalidade de uma criança.” (OLIVEIRA, Maria Izete de.)

Devido a importância do educador para a formação da personalidade da criança (A


definição de personalidade está intimamente ligada aos pilares descritos no artigo 29 -
físico, psicológico, intelectual e social), pode-se compreender que a capacitação desse
profissional é fator de grande prioridade visto o impacto no desenvolvimento da
criança, e por isso, não devendo jamais ser negligenciado. Algo diferente dessa
compreensão leva-nos de volta as transmissões do conhecimento de maneira empírica;
o que não deixa de ser válido, mas no ambiente escolar onde a mesma transmissão de
conhecimento deve ser replicada para tantas outras crianças, não há crescimento
saudável para quem for, havendo incapacidade de fornecer todos os nutrientes que
estariam presentes em um “feijão com arroz” trocando-o por “macarrão instantâneo”.
Também há de se mencionar uma das autoras que em muito contribuiu para o
processo de criação da LDB. Criadora de método que leva seu nome, Maria Montessori
foi uma educadora, médica e pedagoga italiana de grande importância no
desenvolvimento de alguns princípios que seriam muito explorados na educação de
uma forma geral, e que em nosso recorte específico, foram embrião para o
pensamento exposto na formulação da LDB. Claro, não houve contribuição apenas
dela, como também o que foi contribuído da parte da autora não chega a ser seu
trabalho de forma integral, mas partes que vão na linha de raciocínio e ideal da época
da criação da Lei, que ocorre quase 45 anos após a morte da pedagoga. Após ela,
muitos outros contribuíram e trouxeram novas formas de olhar para a educação
infantil, novas abordagens sobre a didática que melhor auxiliaria no desenvolvimento
da criança.

Quanto a aspectos da pesquisa de Montessori que podem ser citados aqui como
explícitos no texto da LDB, podemos citar a ênfase em uma maior autonomia por parte
da criança, e o entendimento de uma individualidade quanto a sua evolução. No texto
da lei, em específico no artigo 31 parágrafo primeiro, temos o ideal expectado para a
aplicação de avaliação no ensino infantil: “avaliação mediante acompanhamento e
registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o
acesso ao ensino fundamental.”
Referências
1. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB.
9394/1996. BRASIL.
2. DE OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos. O currículo na Educação Infantil:
o que propõem as novas diretrizes nacionais?. 2010.
3. OLIVEIRA, Maria Izete de. Educação infantil: legislação e prática
pedagógica. Psicol. educ., São Paulo , n. 27, p. 53-70, dez. 2008 .
Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
69752008000200004&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 13 abr. 2023.
4. CAMPOS, Rosânia. Educação Infantil após 20 anos da LDB: avanços e
desafios. Poiésis-Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação,
v. 11, n. 19, p. 141-156, 2017.
5. LUIZ, Maria Cecília; MARCHETTI, Rafaela. Lei 12.796/13 e a
obrigatoriedade na educação infantil. Revista on line de Política e Gestão
Educacional, p. 4-23, 2020.
6. PRELIMINAR, V. CENSO DA EDUCAÇÃO BÁSICA | 2020 RESUMO
TÉCNICO. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_
indicadores/resumo_tecnico_censo_escolar_2020.pdf>.
7. Matrículas em creches privadas. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/13/5908?tipo=grafico&indi
cador=77886>. Acesso em: 13 abr. 2023.
8. Matrículas em creches municipais. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/13/5908?tipo=grafico&indi
cador=77883>. Acesso em: 13 abr. 2023.
9. PRELIMINAR, V. CENSO DA EDUCAÇÃO BÁSICA | 2020 RESUMO
TÉCNICO. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_
indicadores/resumo_tecnico_censo_escolar_2020.pdf>.

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