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PROFESSOR (A): JESSICA OLIVEIRA


E-MAIL: jska.oliver2013@gmail.com
DISCIPLINA: POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO

APOSTILA
POLÍTICAS PÚBLICAS EM
EDUCAÇÃO

MARANHÃO – MA
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O que são políticas públicas?

As políticas públicas são um conjunto de decisões governamentais tomadas na forma


de programas, de planos, de ações ou de projetos, para garantir os direitos estabelecidos
pela Constituição Federal – que em seu artigo 6° coloca o direito à educação, por exemplo.
Por isso, elas são destinadas a todos os cidadãos, independente de raça, classe social ou
gênero.
As políticas públicas fazem parte do projeto do governo e podem ou não ser colocadas em
prática com a alternância de poder.
No entanto, vale diferenciar o que é uma política governamental de uma política de Estado.
A política de Estado é independente da atual gestão do governo, ou seja, deve ser
realizada por todo governante eleito e é garantida pela Constituição.
Por sua vez, a política de governo é adotada pela gestão em vigor e pode ser modificada
com a alternância de poder.

Qual é a importância das políticas públicas na educação?

Em um país de dimensões continentais e um alto índice de desigualdade social como


o Brasil, as políticas públicas educacionais atuam para corrigir distorções sociais e garantir
que mais pessoas tenham acesso à educação.
O Brasil ocupa a 9ª posição no ranking de desigualdade no mundo, de acordo com o
Banco Mundial. Esse índice reflete também o acesso à moradia, ao lazer e à educação,
logo, afeta o bem-estar social.
Em 2020, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, registrou que a
taxa de analfabetismo no Brasil é de 6,8%, o que equivale a aproximadamente 11
milhões de pessoas.
A mesma pesquisa mostra que 1 em cada 4 brasileiros não têm acesso à internet, o que
representa cerca de 46 milhões de pessoas, dado que foi particularmente significativo para
a implementação do ensino híbrido ou à distância durante a transição emergencial da
pandemia mundial.
Esses dados são alguns dos elementos utilizados pelo poder público para guiar as políticas
educacionais vigentes no país. Atualmente, os programas do Governo têm o objetivo de:
 Ampliar o acesso à escola;
 Garantir educação de qualidade;
 Permitir a alfabetização de crianças, jovens, adultos e idosos;
 Combater a evasão escolar;
 Reduzir a subnutrição e a miséria;
 Ampliar a digitalização do ensino;
 Repasse de recursos públicos para instituições de ensino.

Como as políticas públicas educacionais são implementadas?


As políticas educacionais são adotadas a partir de leis federais, estaduais e
municipais criadas pelo Poder Legislativo e em propostas enviadas pelo Poder Executivo.
A criação das leis educacionais conta com o apoio de representantes da sociedade civil e
de classes da educação.
Em um modelo garantido pela democracia participativa, a iniciativa popular contribui para
que as demandas de toda a população possam ser ouvidas e efetivadas.
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Além disso, a força da sociedade civil pode atuar também para impedir medidas autoritárias
que atentem ao direito universal constitucional.
Com o apoio do Ministério Público, os cidadãos podem fiscalizar a gestão dos recursos e
acompanhar a execução das políticas educacionais, exercendo pressão sobre o governo.
Assim, para ter suas demandas atendidas, é fundamental que a população conheça as
normas e regimentos que fundamentam as políticas públicas de educação no país.

IDEB
O IDEB, Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, é um conjunto de métricas e
dados utilizados pelo governo para avaliar o ensino infantil, o ensino fundamental e o
ensino médio brasileiros.
Ele é feito por meio de avaliações de desempenho, como a prova SAEB, questionários
socioeconômicos e pesquisas nas escolas e comunidades escolares.
Através dos dados contidos nele, muitas das políticas públicas são traçadas.

Quais são as bases legais da educação brasileira?

O direito à educação e a obrigação do Estado em preservá-lo estão presentes no


texto da Constituição Federal de 1988.
No artigo 205, a constituição afirma que “A educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.”
A responsabilidade na condução das políticas públicas de educação é do Ministério da
Educação (MEC), das secretarias estaduais e das municipais de educação.
O principal instrumento garantidor da educação no país é a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB 9394/96), de 1996, responsável por todo o sistema
educacional no Brasil.
A LDB abrange a educação no país como um todo, definindo como a União, os
Estados e os Municípios devem articular suas ações na formação do ensino público.
Isso deve ser feito de forma a reduzir as desigualdades e garantir a qualidade dos
sistemas educacionais.
Um dos principais pontos levantados pela LDB é a criação de uma base comum que
deverá nortear a elaboração dos currículos da educação básica: a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC).
Logo, a BNCC apresenta os conhecimentos que todo aluno da educação básica tem
direito de aprender, considerando um ensino através de competências e habilidades.
Além disso, a LDB também estabelece a criação do Plano Nacional de Educação
(PNE), com diretrizes e metas para a política educacional.
Através de dados levantados em todo o país, por meio do IDEB e SAEB, por exemplo,
o PNE permite identificar as demandas mais urgentes e traçar planos de ação.
Sempre com o objetivo de garantir a qualidade no aprendizado, tanto na educação infantil
quanto no ensino superior.

Quais são as políticas educacionais brasileiras?


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Além da LDB e do PNE, existem diversas políticas


educacionais em atuação no Brasil, em caráter municipal,
estadual ou federal. Selecionamos alguns dos principais
projetos vigentes no país, confira:
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
Você sabia que até 1990 as crianças e adolescentes
não eram vistas como sujeitos do ponto de vista legal?

Então, foi a partir da publicação do ECA que os


direitos das crianças à saúde, ao lazer e à educação
passaram a ter peso de lei.
Dessa forma, o ECA estabelece quais os direitos e
deveres de toda criança e adolescente, sem distinção de raça, classe, sexo ou religião.
O documento também protege contra abusos – físicos, sexuais ou de negligência -,
contra a violência, contra o trabalho infantil, e dá ao Estado a tutela do menor caso a
família não consiga garantir seus direitos.

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)

O FNDE é uma autarquia federal responsável pela


execução de políticas educacionais do Ministério da
Educação. Cabe a ele prestar assistência técnica e
financeira aos estados e municípios, entre outras
atribuições, através de repasses de recursos federais.

Por isso, fazem parte da pasta do FNDE o Programa


Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE), Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD), o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo), o Programa
Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), entre outros.

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de


Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb)

O Fundeb é uma das políticas públicas educacionais mais comentadas nos últimos
anos, e não é para menos. Ele reúne fundos de 26 estados e do Distrito Federal, e
redistribui os recursos para atender a educação básica em todo o país.

Ele permite que estados e municípios aumentem


a oferta de vagas na educação básica, tanto de
creches quanto de instituições de Educação de
Jovens e Adultos (EJA).
Criado em 2007, o Fundeb estaria em vigor até o
final de 2020.
Entretanto, após pressão de
representantes da sociedade civil, o fundo foi
instituído como instrumento permanente de financiamento da educação pública por
meio de Emenda Constitucional.
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Programa Caminho da Escola

Um dos problemas que impede a expansão da alfabetização no Brasil é a falta de


acesso ao transporte, devido à distância entre as escolas e as famílias no interior do país.
Segundo o IBGE, cerca de 15,65% da população brasileira vive em áreas rurais, ou
seja, são pessoas que moram distantes da escola e precisam se deslocar muitos
quilômetros para estudar.

Com isso, uma das ações do PNE, sob responsabilidade do FNDE, é


o programa Caminho da Escola, voltado a renovar e ampliar a frota de veículos
escolares das redes municipal e estadual da educação básica.

Programa Brasil Alfabetizado (PBA)

O PBA é um projeto destinado a alfabetizar


jovens com 15 anos ou mais, adultos e idosos, permitindo
um maior acesso à cidadania por esse grupo.

Criado em 2003, o PBA é aplicado através de


resoluções específicas publicadas no Diário Oficial. A
adesão ao programa deve ser feita através do Sistema Brasil
Alfabetizado.

Programa Universidade para Todos (Prouni)

É provável que você conheça alguém que


entrou para o ensino superior através do Prouni. Isso
porque, desde 2004, o programa ajuda milhares de
pessoas a ingressarem em uma universidade.

O Prouni é um programa do Ministério da Educação


que oferece bolsas de estudo, integrais ou de 50%,
em cursos de graduação de instituições de ensino
superior privadas de todo o Brasil.

Sistema de Cotas
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As cotas são políticas afirmativas que têm o objetivo de reduzir as desigualdades


socioeconômicas enfrentadas pela população brasileira, com ênfase para a comunidade
negra e indígena.
No Brasil, o sistema de cotas passou a ser implementado no começo dos anos 2000.
Nesse sentido, ele é utilizado tanto para o ingresso em universidades, como para a
destinação de um percentual de vagas para candidatos autodeclarados negros, indígenas
ou de baixa renda. Além disso, vale para os cargos em órgãos públicos também.
Essas ações visam reparar as diferenças sociais deixadas pelo longo período de
escravidão no Brasil, que reservou a uma boa parcela da população as piores condições de
ascensão social e de acesso a direitos básicos.

Políticas Intersetoriais – o impacto integral do Bolsa Família

A atuação de diferentes setores da política pública em torno de ações integradas com


objetivos em comum ganha o nome de intersetorialidade e, no país, uma das políticas
intersetoriais mais importantes é o Bolsa Família.
Assim, o programa de transferência de renda foi criado com o objetivo de reduzir a
pobreza no país.
Isso por meio de uma articulação que visava não só o impacto na economia e na
segurança alimentar, como também na educação e na saúde das crianças.
Todavia, para receber o benefício, as crianças da família precisam comprovar
e manter a frequência na escola e ter a carteira de vacinação em dia, o que estimula a
permanência das crianças na educação, evitando a evasão escolar.

Conclusão

Portanto, as políticas públicas da educação têm o objetivo de aumentar o acesso à


educação no Brasil e garantir que toda pessoa tenha direito a um ensino de qualidade.
Assim, em um país com graves índices de desigualdade social, as políticas
educacionais permitem que mais pessoas conquistem espaço no mercado de trabalho e
tenham melhores condições para construir uma vida digna.
Por isso, essas políticas são tão importantes para um futuro melhor, uma vez que,
conforme o educador brasileiro Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo.
Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”.

VAMOS CONHECER A EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO

A Educação na Constituição Federal de 1988


A Constituição é um conjunto de leis que regem um país, um governo, um estado, é
também chamado de Carta Magna ou Lei Suprema. Constitui-se de um conjunto de
normas que regulam o Estado brasileiro, estabelecendo, inclusive, quais são as funções e
competências dos diferentes órgãos do Estado, tais como: os poderes Judiciário,
Legislativo, Executivo, Municípios, Estados, União, Defensoria Pública, Ministério Público,
entre outros.
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A Constituição Federal vigente foi promulgada no dia 5 de outubro de 1988, com


uma abordagem democrática em relação às demais constituições. Essa democracia é
evidenciada, pois teve a colaboração e participação do povo, por meio de abaixo
assinados, liderado pelos sindicatos de classe, entidades religiosas e demais segmentos
da sociedade.
Dentre outras alterações, o direito à educação
no país foi priorizado a partir da promulgação da
Constituição Federal de 1988. Após o Brasil
ter vivenciado um grande período de Ditadura
Militar, que percorreu os anos de 1964 a 1985,

Agência Brasil
o país se via em um novo processo de
redemocratização, em que se via a demanda
de devolver ao povo brasileiro todos os direitos
retirados durante o processo ditatorial.
Figura 1: Ulysses Guimarães anuncia promulgação da Constituição de 1988. Disponível em: <http://vestibular.uol.
com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/25-anos-da-constituicao-federal-promulgacao-marcou-transicao-entre-
ditadura-e-democracia.htm>. Acesso em: 29 abr. 2016.

Entretanto, ao longo da história, com maior ou menor abrangência, e marcadas pelo


contexto de cada época, todas as seis Constituições brasileiras anteriores a 1988
enfatizaram o tema educação.
Sobre esses períodos, as autoras Mércia Cardoso De Souza e Jacira Maria Augusto
Moreira Pavão Santana (2010) versam sobre a abordagem histórica de como o direito à
educação foi tratado ao longo das Constituições brasileiras, reforçando que:
A Constituição Imperial de 1824 estabeleceu entre os direitos civis e políticos, a gratuidade da ins-
trução primária para todos os cidadãos e a criação de colégios e universidades. Essa constituição não
considerava os escravos enquanto cidadãos, que formavam grande parte da população desta época [grifo
nosso].
A Constituição Republicana de 1891, adotando o modelo federal, se preocupou em especificar a com-
petência para legislar da União e dos Estados com relação à educação. A União deveria legislar sobre o
ensino superior enquanto que aos Estados cabia legislar sobre o ensino secundário e primário, muito
embora tanto a União quanto os Estados pudessem criar e manter instituições de ensino superior e
secundário. Essa constituição caracterizou-se pela separação entre Igreja e o Estado, e consequen- temente
houve o rompimento com a adoção de uma religião oficial, determinando-se a laicização do ensino nos
estabelecimentos públicos [grifos nossos].
A Constituição Federal de 1934 foi a primeira a dedicar um dispositivo à educação e à cultura. A
educação foi definida como direito de todos, correspondendo ao dever da família e dos poderes
públicos, voltada para consecução de valores de ordem moral e econômica. Pode-se notar que essa
constituição incorporou os direitos sociais aos direitos dos cidadãos. Apresentou vários dispositivos que
organizavam a educação nacional, mediante previsão e especificação de linhas gerais de um plano nacional
de educação [grifos nossos].
Na Constituição Federal de 1937 houve enorme retrocesso na medida em que o texto constitucional vinculou
a educação a valores cívicos e econômicos. Não houve preocupação com o ensino público, sendo o
primeiro dispositivo a estabelecer a livre iniciativa. Essa constituição centralizou os poderes nas mãos do
Poder Executivo, constituindo-se num governo autoritário [grifos nossos]
A Constituição Federal de 1946 trouxe à tona os princípios presentes nas Constituições de 1891 e
1934. Essa constituição definiu a educação como direito de todos, dando ênfase à ideia de educação
pública. Foram definidos princípios que deram uma direção ao ensino primário obrigatório e gratuito [grifos
nossos].
A Constituição Federal de 1967 manteve a estrutura organizacional da educação nacional, preservando
dessa maneira os sistemas de ensino dos Estados. Contudo, percebe-se um retrocesso sob a ótica de
matérias relevantes como, por exemplo, o fortalecimento do ensino particular, mediante previsão de meios
de substituição do ensino oficial gratuito por bolsas de estudo; a necessidade de bom desempe- nho para
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garantia da gratuidade do ensino médio e superior aos que comprovassem insuficiência financeira [grifos
nossos].
A Constituição Federal de 1988 foi determinante para a interrupção da
Constituição de 1967, gerada na vigência da ditadura militar, que compreendeu os anos de
1964 a 1985, período que simbolizou a mudança do regime democrático brasileiro. Na
época, o presidente da Assembleia Constituinte, Ulysses Guimarães,
parlamentar que promulgou a atual Carta Magna brasileira, juntamente com o governador de
Minas Gerais, Tancredo Neves, fez desse relevante acontecimento sua proposta de eleição
para a presidência da república (CUNHA, 2013).
O documento legal foi abalizado um divisor de águas no Brasil por estar
respaldado em concepções de cidadania e de democracia mundiais, agregou valores
igualitários aos direitos fundamentais aos brasileiros que correspondem aos diversos
segmentos, como: educação, saúde, trabalho, previdência social, lazer, se- gurança,
proteção à maternidade, infância e assistência aos desamparados. Sua praticidade é a
primazia das conjunturas de vida dos menos beneficiados, em proveito da isonomia social
(CUNHA, 2013).
A Carta Magna brasileira promulgada em 1988, denominada de “Constituição
Cidadã” pelo represen- tante do congresso Ulysses Guimarães, é considerada até os dias de
hoje uma das mais modernas e progres- sistas do mundo, em relação aos direitos e deveres
individuais e coletivos dos brasileiros (DUARTE, 2012).
Sendo assim, deve-se atentar que a referida normativa constitucional apregoava
o preceito de que to- dos os brasileiros têm direito à educação, destacando à preferência
pelo Ensino Fundamental, devendo esse ser imperativo e de graça. Carrega em seu cerne
relevantes princípios para a educação e, nesse conjunto de circunstâncias, reforça a
Constituição Federal de 1988 estabelecendo no artigo 205 que:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento de pessoas, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho [grifos nossos] (SILVA, 2008, p. 312).

Contudo, aponta-se que a Constituição Federal de 1988 não traz em sua


essência somente o acesso à escola, mas o pleno desenvolvimento das pessoas a partir da
educação, o que denota a pertinência de uma educação de qualidade. Sendo que esse
dispositivo legal, em seu artigo 206, inciso VII, menciona a “[...] garantia de padrão de
qualidade” do ensino, ou seja, não apenas o acesso de crianças e adolescentes à escola,
mas um ensino de qualidade.
Nesse mesmo dispositivo legal da Lei Suprema de 1988, estabeleceu-se alguns
pressupostos por meio dos quais o direito à educação deverá ser pautado e ministrado. São
eles:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e


o saber;
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III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de


instituições públicas e priva- das de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da


lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de
provas e títulos, aos das redes públicas;
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de
padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação
escolar pública, nos termos de lei federal. (BRASIL, CF/88)

A Lei Maior de 1988 aduz em seu artigo 207 metas para o ensino universitário, e
instituições de pesqui- sa científica e tecnológica: “As universidades gozam de autonomia
didático-científica, administrativa e da gestão financeira e patrimonial, e deverão obedecer
ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (BRASIL, CF/1998).
O artigo 208 legitima a obrigatoriedade do Estado com relação à educação, que
será efetivada mediante a garantia:
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de:

I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada
inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada
pela Emenda Constitucional 59/2009);
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela Emenda Constitucional
14/96);
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede
regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela
Emenda Constitucional 53/2006);
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade
de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;

VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suple-
mentares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela
Emenda Constitucional 59/2009);
§1.º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§2.º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua


oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.
§3.º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela frequência à escola (BRASIL, CF/98).
Nesse contexto, verifica-se que o direito à educação constitui-se uma das
solicitações mais representativas para a vida dos cidadãos brasileiros como parâmetro para
a transformação e melhoria da existência humana.
Assim, por meio das linhas mestras especificadas pela Constituição Federal de
1988, deu-se origem a outras iniciativas que asseguram o direito à educação, como o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990) e a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB 9.394/96).
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A Educação no Estatuto da Criança e do Adolescente


Foi criado em 13 de julho de 1990 o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
instituiu-se como Lei Federal 8.069, regulamentando e garantindo a imposição à família, à
sociedade e ao Estado de assegurarem os direitos da criança e do adolescente, bem como
disciplinando os mecanismos para efetivação e garantia desses interesses inerentes ao
menor. Para crescer em um ambiente seguro, a criança necessita de cuidados e
orientações para prosperar de forma sadia e equilibrada (FREITAS, 2003, p. 79).
Sendo o seu objetivo maior proteger a criança e o adolescente de toda e qualquer
forma de abuso, bem como de garantir que todos os direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
à liberdade e à convivência familiar e coletiva, estabeleci- dos na Constituição Federal de
1988 lhes fossem assistidos (FREITAS, 2003, p. 79).
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu em seu artigo 2.º, a descrição para
a condição de crian- ça, sendo: toda pessoa com idade até doze anos de idade incompletos;
adolescente aquele que tiver entre doze e dezoito anos incompletos; e menor adulto, dos
dezoito aos vinte e um anos incompletos (BRASIL, 1990).
Essa normativa legal de 1990 trata também do direito à educação, entendendo que
educar em seu senti- do mais amplo significa transmitir conhecimentos, desenvolver
valores e orientar a criança ou o adolescente o despertar de valores, promovendo desafios
que os façam refletirem sobre a realidade que o cerca, pois:

A educação engloba a instrução, mas é muito mais ampla. Sua finalidade é


tornar os homens mais ínte- gros, a fim de que possam usar da técnica que
receberam com sabedoria, aplicando-a disciplinadamen- te. Instrução e
educação, embora possam ser entendidos como duas linhas paralelas com
finalidades diferentes, necessariamente devem caminhar juntas e integrar-se
(MUNIZ, 2002, p. 9).

Garantir os direitos fundamentais perpassando pela análise da educação, parte da oportunidade


de que todo cidadão brasileiro deve ter acesso e se apropriar dos conhecimentos cognitivos e
formais culturalmente organizados, desenvolver valores construídos pelos indivíduos de uma
determinada sociedade, colaborando, concomitantemente, para a mudança dos mesmos e do
espaço público que estão inseridos (CURY, 2007).
A Lei Federal dispõe do direito à educação em especial nos artigos 53 a 59, que contou
com a partici- pação da sociedade civil por meio de movimentos populares e entidades
organizadas, incluindo especialistas do segmento da educação, conforme se confere nos
dispositivos em referência:
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus
educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito
de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
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Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como
participar da definição das propostas educacionais.
Art. 54. É dever de o Estado assegurar à criança e ao adolescente:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade
própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede


regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade;

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade
de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;

VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-es-


colar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
§1.º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§2.º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa res-
ponsabilidade da autoridade competente.
§3.º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e
zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola.
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de
ensino.
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os
casos de:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos;

II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; III - elevados
níveis de repetência.
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário,
seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes
excluídos do ensino fundamental obrigatório.
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do
contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às
fontes de cultura.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de
recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a ju-
ventude (BRASIL, 1990).

Partindo desses pressupostos, percebe-se a prioridade de que se faça honrar o que


determina o disposi- tivo legal brasileiro. Na atualidade, não é aceitável crianças fora da
instituição escolar e sem o acolhimento imprescindível por parte da família, pois o
descumprimento de tal situação poderá se retratar como abando- no intelectual, como se
preconiza:
O direito à educação é um direito social, inserido dentre os direitos fundamentais
do homem em nossa Constituição, apregoado como meio certo a conquista de
uma efetiva igualdade e de liberdade do cida- dão. Os direitos sociais têm o
condão de criar condições materiais na busca da igualdade real, na medida em
que proporciona condições ao exercício efetivo da liberdade (SILVA, 1995, p.
65).

Nessa mesma direção, sabe-se que para não haver uma alta representação da
evasão escolar, repetência e péssimo desempenho escolar, é de suma importância que
haja o trabalho conjunto da escola e da família. A criança ou adolescente devem
comparecer regularmente à instituição escolar, tendo o acompanhamento familiar e o da
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instituição de ensino a que pertencem, para que as metas e os objetivos educacionais


propos- tos sejam atingidos (SUMMERS, 2013).
Portanto, não cabe à escola fazer o papel dos pais ou responsáveis, assumindo a
obrigação de responder sozinha pelo ato de educar o discente, sendo que o procedimento
de tal atividade deve acontecer em parceria com os implicados, pais/responsáveis e a
instituição escolar, pública ou privada, para que se obtenha sucesso no processo
educacional (SUMMERS, 2013).
Por fim, enfatiza a Constituição Federal de 1988, assim como o Estatuto da Criança
e do Adolescente 1990, que devemos amparar as crianças e os adolescentes
preservando-os das arbitrarie- dades, do desamparo intelectual/moral e da violência para
que tenham uma infância e uma adolescência segura. Essas normativas asseguram aos
menores proteção à vida sadia, norteada para o bem-estar, e equilibrada, concernente de
que a proteção e as garantias dos direitos que lhes são devidos pela legis- lação
brasileira vigente (SUMMERS, 2013).
Nessa perspectiva, é preciso que os governos, a sociedade e, principalmente, a
família passem a atuar de forma mais presente, eficiente e articulada, a fim de que os
dispositivos legais deixem de ser apenas mais um projeto nacional, no sentido das práticas
de direito. Devem ser garantidos a todas as crianças e adolescentes, sem restrições, bem
como é necessário que haja o entendimento dos mesmos, como sujeitos de direitos,
pessoas em condições peculiares de desenvolvimento e prioridade absoluta. Dessa forma,
haverá a efetivação na proteção integral e garantias da política da criança e do
adolescente.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96)

Para melhor entendermos essa abordagem, é fundamental definirmos inicialmente o


que compreen- demos por Diretrizes. Elas são linhas norteadoras, orientações, guias ou
rumos que definem e regulam um projeto, um caminho ou uma trajetória a ser seguida (DA
SILVA, 1999, p. 13).
Diretrizes na educação são os escopos e metas, quer sejam os políticos,
administrativos, sociais ou pedagógicos a serem observados e praticados pelos gestores
das políticas públicas de educação e diretores de instituição escolar. As diretrizes
demandam articular a igualdade de aprendizagem, assegurando que con- teúdos básicos
sejam ensinados para todos os alunos, sem discriminar os diversos contextos nos quais eles
estão inseridos (RODRIGUES, 2012).
Já as Bases equivalem aos meios institucionais e como a funcionalidade educativa se
desenvolve na área pública, e, na área privada, no que concerne ao discernimento das
competências em cada fase da ação educativa (DA SILVA, 1999, p. 13).
13

Nessa perspectiva, a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é abalizada


como a norma- tiva que regulamenta toda a educação brasileira, por isso mesmo é
denominada de “Carta Maior da Educação”. Ela está hierarquicamente abaixo da
Constituição Federal de 1988 e preconiza os princípios norteadores do ordenamento geral
da educação brasileira. Por ter uma natureza generalista, a maioria de seus dispositivos
legais necessita ser regulamentado por meio de uma normativa legal adicional. São
nessas circunstâncias que as políticas públicas educacionais vão se efetivando por meio dos
projetos governamentais. (SAVIANI, 2008, p. 2)
As Diretrizes Curriculares Nacionais vigentes têm origem na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB 9.394/96), que assinala ser incumbência da União:

[...] estabelecer, em colaboração com os estados, Distrito Federal e os


municípios, competências e di- retrizes para a Educação Infantil, o Ensino
Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e os seus conteúdos
mínimos, de modo a assegurar a formação básica comum (BRASIL, LDB, 1996).

As Diretrizes Curriculares Nacionais são normas obrigatórias para a Educação Básica,


que têm como objetivo orientar o projeto político pedagógico, o planejamento curricular das
escolas e dos sistemas de ensino, norteando seus currículos e conteúdos mínimos a serem
ministrados.
Assim, as diretrizes asseguram a formação básica, com fundamentação na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9.394/96), definindo competências e
diretrizes para a educação brasileira.
Desde sua promulgação, em 20 de dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) vem redesenhando o sistema educacional brasileiro em dois
níveis de ensino: a Educação Básica e o Ensino Superior.
A Educação Básica é composta por três etapas:

• Educação Infantil – creches (de 0 a 3 anos) e pré-escolas (de 4 a 5 anos). Seu


objetivo é promover o “desenvolvimento integral da criança [...], em seus aspectos
físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade” (art. 29 da LDB). É de competência dos municípios brasileiros.
• Ensino Fundamental – anos iniciais (do 1.° ao 5.° ano) e anos finais (do 6.° ao 9.°
ano). Ensino Fundamental, com duração mínima de nove anos e com matrícula
obrigatória aos seis anos de idade é a etapa que objetiva, conforme preconiza o
artigo 32 da LDB:
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno
domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das
artes e dos va- lores em que se fundamenta a sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de
conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de
tolerância recí- proca em que se assenta a vida social (BRASIL, LDB, 1996)

Na prática, observa-se que os municípios brasileiros estão atendendo aos anos iniciais e
os Estados aos anos finais.
• Ensino Médio – do 1.° ao 3.° ano, tem a duração mínima de três anos e é de
responsabilidade dos Estados. A normativa legal não estabelece idade mínima
14

para o acesso ao Ensino Médio, mas esse acesso pode ocorrer a partir dos 15
anos, sem limite máximo de idade (MEC, 2013).

De acordo com o artigo 35 da LDB, o ensino médio tem como objetivos:

I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no


ensino fundamental, possibi- litando o prosseguimento de estudos;
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com
flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoa- mento
posteriores;
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvi- mento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina
(BRASIL, LDB, 1996).

Ensino Superior

• A educação superior está expressa nos artigos 43 a 57 da LDB/96. Ela é da


alçada da União, podendo ser ofertado por Estados e Municípios, desde que
esses já tenham assistidas as modalidades pelas quais são responsáveis pela
sua totalidade. Cabe à União autorizar e fiscalizar as instituições privadas de
ensino superior. Tem por finalidade divulgar a sociedade a criação cultural e a
pes- quisa científica e tecnológica originada nas instituições que oferecem a
formação na modalidade superior e produzem conhecimento científico (LDB,
1996).

A educação brasileira conta ainda com algumas modalidades de educação, que


perpassam por todos os níveis da educação nacional. São elas:
• Educação Especial – atende aos estudantes com necessidades especiais,
preferencialmente na rede regular de ensino;
• Educação a Distância – atende aos educandos em tempos e espaços diversos,
com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação;
• Educação Profissional e Tecnológica – visa a preparar os estudantes para
exercerem atividades produtivas, atualizar e aperfeiçoar conhecimentos
tecnológicos e científicos;
• Educação de Jovens e Adultos – atende às pessoas que não tiveram
acesso à educação na idade apropriada;
• Educação Indígena – atende às comunidades indígenas, de forma a respeitar a
cultura e língua materna de cada tribo.
• Além dos níveis e das modalidades de ensino, a LDB 9.394/96 aborda também temas
como os recursos financeiros e a formação dos profissionais da educação.
• Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB
9.394/96), toda escola precisa ter um projeto político pedagógico. Esse documento deve
explicitar as características que gestores, professores, colaboradores, pais e alunos
pretendem construir na unidade escolar e qual formação querem para quem ali estuda.
• Esse projeto é o referencial de qualquer instituição de ensino e é regido pela normativa
legal de 1996, que detalha aspectos pedagógicos da organização escolar, o que mostra
o valor atribuído a essa questão pela atual legislação educacional. Ou seja, o marco do
Projeto Político Pedagógico é a LDB/96, que intensifica a elaboração e autonomia de
15

sua capacidade de delinear sua própria identidade da construção de projetos


diferenciados de acordo com as necessidades de cada instituição escolar (VEIGA, 2000,
p. 13).
• Ao construirmos esse documento pedagógico nas escolas, planejamentos o que temos a
finalidade de fazer e de realizar, pois é a definição de princípios e diretrizes que norteiam
a natureza e o vir a ser da escola.
Nessa perspectiva, constatamos que:
• O projeto político pedagógico vai além de um simples agrupamento de planos de
ensino e de atividades diversas. Ele não é algo que é construído e em seguida
arquivado ou encaminhado às autoridades edu- cacionais, como prova do
cumprimento de tarefas burocráticas. Ele deve expressar a visão de homem, de
escola e de sociedade, o que servirá de alicerce para definir o caminho a ser traçado
e as metas que irão corporificar as próprias ações deste documento legal (VEIGA,
2009, p. 12).

• O projeto busca um direcionamento, como se fosse uma bússola. É uma ação que tem
uma determi- nada intenção, com um sentido declarado, com um compromisso definido
coletivamente pelos integrantes da instituição escolar. Por isso, todo projeto pedagógico
da escola é também político por estar intimamente articulado a uma promessa
sociopolítica com interesses reais e coletivos da população majoritária dessa instituição
de ensino. É político no sentido de compromisso com a formação de qualidade do
cidadão de um determinado tipo de sociedade. “A dimensão política se cumpre na
medida em que ela se realiza, enquanto prática especificamente pedagógica” (SAVIANI,
1983, p. 93).
• Na abrangência pedagógica, habita a oportunidade da efetivação da finalidade da
escola, que é a for- mação de qualidade do cidadão proativo, responsável,
comprometido consigo e com o contexto que está inserido, e o desenvolvimento de um
indivíduo crítico e criativo. Pedagógico, na acepção de esclarecer as ações educativas e
os atributos necessários às escolas de cumprirem seus objetivos e suas intenções
educa- cionais (VEIGA, 2009, p. 15).
As categorias político e pedagógico têm, assim, uma concepção que caminha de
mãos dadas e não pode se separar. Nesse sentido, é que se deve considerar o projeto
político pedagógico como um processo constante de reflexão, discussão dos
problemas da escola e mudanças, na busca de alternativas viáveis à efetivação de sua
intencionalidade (MARQUES, 1990, p. 23).
Por outro lado, propicia a vivência democrática devendo envolver toda a
comunidade escolar, tendo como referência a realidade em busca de
aperfeiçoamento e de mudança necessários a uma educação de melhor qualidade.
No artigo 3.º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB,
9.394/96), estão implícitos os princípios norteadores do projeto pedagógico, e um
deles é “igualdade de condições para acesso e perma- nência na escola”, também
previsto no artigo 206, inciso I da Constituição Federal de 1988 e no primeiro inciso do
artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1991).
16

Como vimos, os textos legais abordados, como a Constituição Federal de


1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e a LDB 9.394/96, garantem a
todos os cidadãos o acesso e a permanência na escola, visando a que todos tenham
condições iguais de acesso ao conhecimento sistematizado. Nesse con- texto, a
educação tem importante função de ascensão social, e o espaço escolar deveria
favorecer o acesso ao conhecimento e ao desenvolvimento de habilidades e
competências para o exercício da cidadania e inserção social de todos os cidadãos
brasileiros.
Por último, complementando as premissas anteriormente abordadas,
constatamos que no vídeo “A função da escola nos dias atuais”, concedido pelo
SINPRO-SP, o educador e pesquisador José Carlos Libâneo aborda a função
específica da escola contemporânea, que é ensinar. Para Libâneo, ensinar no século
XXI significa:
[...] a capacidade de auxiliar os estudantes a desenvolverem as suas competências e
habilidades intelectuais. O educador ainda relata os problemas sociais que
interferem na vida dos jovens, o que exige da escola estar promovendo um
ensino eficiente. Assim como, ele destaca a importância do papel do professor está
atrelado à busca em conhecer as histórias de vida dos alunos. Ainda, segundo o
autor, as novas tecnologias da informação e da comunicação precisam urgentemente
ser integradas nas escolas, mas sem exclusão do professor e de outras
mediações relacionais e cogni- tivas no processo de aprendizagem. As tecnologias
são indispensáveis na escola nas mãos de um professor competente (SINPRO,
2013).

O autor faz uma proposta à pessoa que assiste ao vídeo de repensar o real
significado de ensinar na contemporaneidade. Que esta atividade tão importante não seja
simplesmente um despejar de conteúdos pedagógicos, mas que ela possa colaborar para
ampliar a visão de mundo do alunado com a mediação e competência do professor.

REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO


INFANTIL

Cuidar e educar: ações indissociáveis

Por muitos séculos, a educação e os cuidados das crianças ficaram somente sobre a
incumbência da fa- mília, particularmente das mães e de outras mulheres da própria família.
Com as mudanças sociais ocorridas em decorrência da revolução industrial, as mulheres
saíram de casa em busca de um ofício, surgindo assim a demanda por um ambiente que
pudesse proteger os filhos das trabalhadoras (OLIVEIRA, 2002, p. 28).
Com a inserção das mães no mercado de trabalho, as crianças ficavam sem os cuidados
básicos neces- sários para a sua sobrevivência, o que provocou aumentos nas taxas de
mortalidade infantil, desnutrição e acidentes domésticos. Surge, então, a creche como um
recurso que momentaneamente atenuou a situação, dentro de uma circunstância
17

extremamente assistencialista e de cuidados, na qual a criança passou a ser visualizada


como uma adversidade dentro da sociedade (OLIVEIRA, 2002, p. 59).
Nota-se que a primeira ideia de atendimento infantil possuía simplesmente uma natureza
assistencia- lista e benevolente, relacionado somente aos cuidados de higiene e
alimentação. Nesse período, a crian- ça era classificada como um adulto em miniatura, uma
vez que nenhum sentimento de infância existia (OLIVEIRA, 2002, p. 58).
Historicamente, no Brasil, as creches e os parques infantis não existiam até meados do
século XIX. A maior parte da população se agrupava na zona rural, e as crianças órfãs ou
abandonadas passaram a ser responsabilidade das famílias de fazendeiros. Nas
metrópoles, os bebês abandonados pelas mães eram reco- lhidos nas “rodas de expostos”
existentes em algumas cidades desde o início do século XVIII (OLIVEIRA, 2002, p. 68).
Surge no começo do século XX um pronunciamento voltado aos direitos da criança com
a elaboração da Primeira Declaração Universal dos Direitos da Criança, em Genebra, 1923,
na qual a premissa maior defendia que a criança deveria estar em primeiro lugar na
sociedade e necessitava de imediata proteção e amparo (SOARES, 1997).
A partir desse evento, houve um processo de evolução na educação infantil em relação ao
passado em que as crianças não eram consideradas como um ser social e histórico. Na
atualidade, a educação infantil é voltada para educar, cuidar e brincar, direcionada para
uma formação integral que seja capaz de despertar nas crianças o seu desenvolvimento
psicológico, físico, social e cognitivo, possibilitando uma educação que seja capaz de
reconhecer a criança como um ser pensante e autônomo. Diante da perspectiva legal, a
Educação Infantil corresponde hoje à primeira etapa da educação básica, cabendo ao
sistema educacional dos municípios ofertarem essa modalidade de ensino com qualidade,
ou seja, ofertarem creche a todas as crianças de 0 a 3 anos e pré-escola a todas de 4 a 5
anos de idade, principalmente àquelas provenientes das classes menos favorecidas
(BRASIL, 2010).
Dessa forma, a Constituição Federal (1998) apresentou contribuições e avanços para
a valorização da criança como sujeito de direitos que interage com seu meio e tem sua
própria cultura. Essa delibe- ração legal constitui-se em um marco decisivo na busca de
um caráter real para as instituições de edu- cação infantil que se diferem da família, dos
hospitais e da escola de ensino fundamental e determinou que essa modalidade de
ensino é de responsabilidade do Estado brasileiro, fortalecendo, assim, seu caráter
educativo (BRASIL, 1988).
Por sua vez, o Ministério da Educação e Cultura (MEC), visando à elaboração de
currículos para a Educação Infantil, cujo dever foi delegado pela Lei de Diretrizes e Bases
9.394/96 a cada instituição escolar e seus professores, editou em 1998 o Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI). Nesse contexto, as instituições de
Educação Infantil, creches e pré-escolas, integram as funções de educar e cuidar,
comprometidas com o desenvolvimento integral da criança nos aspectos físico, intelectual,
afetivo e social, compreendendo a criança como um ser total, completo, que aprende a ser
e conviver com ela mesma, com o seu semelhante e com o ambiente que a cerca (BRASIL,
18

1998).
Kramer (2005) reforça que não é possível educar sem cuidar. Sob tal prisma, situações
que ocorrem diariamente na rotina das crianças que frequentam creches, como, por
exemplo, o tomar banho, poderão se transformar num momento educativo e lúdico à
medida que o adulto interage com a criança, estreitando-
-se os vínculos afetivos. A monitoria para trocar as fraldas pela educadora, realizando o
contato físico por meio da dimensão afetiva. Com esses procedimentos, devemos
compreender que não é possível trabalhar a concepção de cuidar e educar de maneira
separada, pois, em todos os momentos do cotidiano escolar, a criança está sempre em
constante aprendizado, para isso, se faz necessário planejamento por parte de quem está
educando. Portanto, para cuidar, é preciso estar comprometido com o outro, tendo a
sensibilidade de perceber suas necessidades e estando sempre disponível para tentar
ajudar (KRAMER, 2005).
Por sua vez, Montenegro (2001) coloca o cuidado como um dos elementos centrais,
tanto da educação quanto da formação da educadora de crianças pequenas. Em
consonância com o RCNEI, reforça que:
O fator cuidado, precisa considerar, principalmente, as necessidades das
crianças, que quando obser- vadas, ouvidas e respeitadas, podem dar
pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os
procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de
promoção à saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a
preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas,
é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseados em
conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento biológico, emocional
e intelectual das crianças, levando em consideração as diferentes
realidades socioculturais. (BRASIL, 1998, p. 25).

Dessa forma, o ato de cuidar está relacionado aos cuidados com os aspectos
biológicos do corpo e com a qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde física,
exigindo dos profissionais estarem atentos para qualquer imprevisto que possa vir a
acontecer com as crianças. Ele de se apresentar de forma ampla, sendo as demandas
das crianças o foco principal, de maneira que leve a promover o desenvolvimento das
suas capacidades.
Por sua vez, quando se refere ao ato de educar crianças, faz-se necessário que o
educador crie situações significativas de aprendizagem. Se quiser alcançar o
desenvolvimento de habilidades cognitivas, psicomo- toras e socioafetivas, é fundamental
que a formação da criança seja vista como um ato inacabado, sempre sujeito a novas
inserções, a novos recuos, a novas tentativas, pois:
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e
aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e
estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e
confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da
realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o
desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das
potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na
19

perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis.


(BRASIL, 1998, p. 23).

Com base nesses pressupostos, podemos afirmar que cuidar e educar são aspectos a
serem tratados de forma articulada quando se refere ao processo formal de educação das
crianças. Dessa forma, “[...] educar é abranger todos os aspectos da vida do aluno, desde
o atendimento de suas necessidades mais básicas, primá- rias e elementares até as mais
elaboradas e intelectualizadas” (SIGNORETTE, 2002, p. 6).

A formação pessoal e social

O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (RCNEI, 1998), em seu segundo


volume, deno- minado Formação Pessoal e Social, contém o eixo nor- teador que favorece,
prioritariamente, os processos de construção da identidade e da autonomia das crianças na
creche e na pré-escola.
Em consonância com essas diretrizes norteadoras, a categoria identidade nos
remete à ideia de diferencia- ção. Reforça, ainda, esse guia de orientação que: “[...] é
uma marca de diferença entre as pessoas, a começar pelo nome, seguido de todas as
características físicas, de modos de agir, de pensar e da história pessoal”. Construir a
identidade implica conhecer os próprios gostos e prefe- rências e dominar habilidades e
limites, sempre levando em conta a cultura, a sociedade, o ambiente e as pessoas com
quem se convive. Esse autoconhecimento começa no início da vida e segue até o seu
fim, mas é fundamental que alguns conhecimentos sejam adquiridos ainda na cre- che
(RCNEI, 1998, p. 13).

DIRETRIZES CURRICULARES PARA O ENSINO


FUNDAMENTAL DE 9 ANOS
O direito à educação como fundamento maior das diretrizes

O direito à educação formal constitui-se em um mecanismo para que as pessoas


possam desfrutar da igualdade de oportunidades em um determinado contexto histórico.
Esse direito, instituído em lei, torna-se uma obrigatoriedade do Estado quando garante o
acesso para todos os cidadãos brasileiros por meio da gratuidade (CURY, 2002, p. 259).
Na visão de Jamil Cury (2002, p. 259):
A declaração e a garantia de um direito tornam-se imprescindíveis no caso de
países, como o Brasil, com forte tradição elitista e que tradicionalmente
reservam apenas às camadas privilegiadas este bem social. Por isso,
declarar e assegurar são mais que uma proclamação solene. Declarar é retirar
do esquecimento e proclamar aos que não sabem, ou esqueceram que eles
continuam a ser portadores de um direito importante. Disso resulta a
necessária cobrança deste direito quando ele não é respeitado [grifos nossos].

Nessa vertente, o autor endossa que o fato de garantir o acesso à educação básica
pública às crianças de seis anos de idade devolve a elas o direito ao exercício da cidadania.
Dessa forma, autoriza uma parcela maior da comunidade, de frequentar mais cedo à escola,
usufruindo de um direito que era extensivo apenas às crianças favorecidas, matriculadas no
20

sistema formal de ensino brasileiro (CURY, 2002, p. 260).


No entanto, sabe-se que somente a normatização legal específica não garante, por si só,
o direito à edu- cação escolar e à democracia. Até porque ela é fruto de um intenso caminho a
ser percorrido, da mobilização de diversos segmentos da sociedade brasileira, de concepções
distintas de educação, do comprometimento dos professores e do envolvimento da
comunidade educacional, assim como do papel efetivo do Estado com a formulação
pertinente de políticas públicas educacionais, que devem intervir nas situações de
desigualda- des (FREITAS, 2008).
Diante dessas inquietações, a política de extensão do Ensino Fundamental de nove anos,
respaldada na Lei Federal 11.114/2005, propôs assegurar-se do direito à educação obrigatória aos
menores de seis anos de idade, apoiado na Lei Federal 11.274/2006, reconhecendo que elas, ao
ingressar antecipadamente no ambiente escolar, podem usufruir das mesmas oportunidades como
as demais crianças nessa mesma faixa etária (COMPARATO, 2004, p. 67).
Segundo o instrumento escrito pelos responsáveis do Ministério da Educação e Cultura
(MEC, 2009), a entrada antecipada da criança no Ensino Fundamental tem como foco
assegurar a ela um período maior de convivência escolar, ampliando sua oportunidade no
processo de aprendizagem da leitura e da escrita e nos conceitos básicos da área de
conhecimento de Matemática, Ciências e Estudos Sociais. Para tanto recomenda-se a
reestruturação do currículo escolar, da formação continuada dos professores, boas condi-
ções de trabalho docente, revendo sua carga horária, número satisfatório de alunos por sala
de aula, materiais e recursos didático-pedagógicos pertinentes, e da adequada infraestrutura
do espaço físico, dentre outras tantas questões, que implicarão a efetivação da proposta
educacional vigente. Dessa forma, fica claro que o Ensino Fundamental de nove anos
estenda o período de permanência escolar, e antecipe a entrada de crianças a partir dos
seis anos de idade, porém muitos fatores comprometem esse contexto educacional
(KRAMER, 2006).
Consciente dessas mudanças, o Ministério da Educação e Cultura (MEC, 2009) elaborou
um docu- mento específico com todas as normas e informações pertinentes para dar
subsídios aos gestores muni- cipais e estaduais, aos conselhos de educação, à comunidade
escolar e aos demais órgãos educacionais, denominado “Ensino Fundamental de nove anos:
orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade” ressaltando que:

A criança de seis anos de idade que passa a fazer parte desse nível de
ensino não poderá ser vista como um sujeito a quem faltam conteúdos da
educação infantil ou um sujeito que será preparado, nesse pri- meiro ano,
para os anos seguintes do ensino fundamental. Reafirmamos que essa
criança está no ensino obrigatório e, portanto, precisa ser atendida em
todos os objetivos legais e pedagógicos para essa etapa de ensino
[grifos nossos] (MEC, 2006a, p. 8).
Entretanto, os objetivos da ampliação do Ensino Fundamental de nove anos de
duração são apresenta- dos neste registro documental: “Ensino Fundamental de nove anos:
passo a passo do processo de implantação”, como se esclarece:
a) Melhorar as condições de equidade e de qualidade da Educação Básica;
21

b) Estruturar um novo ensino fundamental para que as crianças prossigam


nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade;
c) Assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças
tenham um tempo mais longo para as aprendizagens da alfabetização e do
letramento (MEC, 2009).

Diante disso, a justificativa apresentada pelo governo federal para a incorporação


desses menores nesta faixa etária ao Ensino Fundamental acontece, em parte pela
constatação de que um contingente significativo de menores nessa idade, filhos de
famílias das classes média e alta, já se encontram in- seridas no espaço escolar, seja
na pré-escola ou no ensino fundamental. O que difere da realidade da maior parte das
crianças brasileiras na mesma faixa etária. Sendo assim, acredita-se que a reorganiza-
ção proposta pelo Ministério da Educação e Cultura pode contribuir para que este último
grupo tivesse a mesma oportunidade que as demais (MEC, 2009).
Nessa mesma linha de raciocínio, o documento do MEC reforça que a inclusão de
menores de seis anos de idade, nessa atual modalidade de ensino, não implica na
antecipação dos conteúdos e atividades pedagógicas, que tradicionalmente foram
compreendidos como adequados para serem ensinados na pri- meira série, do Ensino
Fundamental de oito anos de duração. O escopo é construir uma nova estrutura curricular,
com a sistematização dos conteúdos pedagógicos para o ensino fundamental vigente, agora
com a duração de nove anos de escolarização (MEC, 2009).
Outra argumentação que vem reforçar esse processo de antecipação do acesso e da
obrigatoriedade de escolarização da criança de seis anos no Ensino Fundamental é que se
trata de uma medida adotada pelo governo federal em decorrência dos indicadores das
políticas públicas educacionais dos países europeus e da maioria dos países da América
Latina e do Caribe.
Segundo dados da Oficina Regional de Educação para América Latina e Caribe, órgão
da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (OREALC/UNESCO,
2007), os 41 países da América Latina e Caribe citados reforçam o seguinte procedimento:
[...] 15 estabelecem 11 anos ou mais de ensino obrigatório, 11 países
estabelecem a duração de 10 anos. Sendo que 5 países têm o tempo de
duração da sua escolarização básica de 9 anos, 3 países, entre os quais o
Brasil, no momento da pesquisa de dados, a duração da escolaridade básica
era de 8 anos, um deles de 7 anos, e 6 países definem a duração do tempo de
escolarização de apenas 6 anos. Em 22 países, dos 41 pesquisados, o início
da educação obrigatória é aos 6 anos, em 15 é aos 5 anos e apenas em quatro
países como o Brasil, El Salvador, Guatemala e Nicarágua, o ingresso na vida
escolar era aos 7 anos, no momento da coleta dos dados. Dentre aqueles
países que iniciam a educação obrigatória aos 6 anos, cinco países
consideram o último ano da pré-escola como obrigatório [grifos nossos]
(UNESCO, 2007).

Sendo assim, o direito ao Ensino Fundamental de nove anos está respaldado pela Lei
Federal 11.114 de 16 de maio de 2005, na qual o presidente da República, Luiz Inácio Lula
da Silva, sancionou o dispositivo legal, modificando a redação dos artigos 6.°, 30, 32 e 87
da LDB 9.394/96, instituindo a obrigatoriedade es- colar para as crianças de seis anos, sem
alterar o tempo de duração do Ensino Fundamental (BRASIL, 1996).
22

Vale ressaltar que a mudança incidiu sobre o artigo 6.º que preconiza: “É dever dos
pais ou responsá- veis efetuar matrícula dos menores, a partir dos seis anos de idade, no
Ensino Fundamental.”, assim man- teve, na época, a duração mínima de oito anos para
esse segmento, sem exigir o aumento de mais um ano, quando os artigos da Constituição
Federal de 1988 já expressavam que:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exer- cício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. [grifos nossos] (BRASIL, 1988). [...]

Art. 208.

§1.º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é um direito público


subjetivo.
§2.º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa na responsabilidade da autoridade competente
[grifos nossos] (BRASIL, 1988).

Por sua vez, observamos que a Lei Federal 11.114/2005 tornou-se inconstitucional por
não atender aos preceitos legais mencionados anteriormente, à medida que não
responsabilizou o Estado pela oferta do Ensino Fundamental com a duração de nove anos.
A questão refere-se à matrícula e à educação obrigatória a partir da Constituição Federal
de 1988, que passa a ser um direito público. Esse fato obriga o Estado a criar formas de
efetivação e proteção da mesma, quando esse direito for negado à criança ou a um adulto
que, em idade própria, não tenha frequentado ou concluído essa etapa da educação
obrigatória (BRASIL, 2005).
Mas, em fevereiro de 2006, o Conselho Nacional de Educação (CNE) apresentou a Lei
Federal 11. 274 que alterou a redação dos seguintes artigos da LDB 9.394/96: 29, 30, 32 e
87, sobre o ingresso da criança no Ensino Fundamental e sobre o tempo de duração da
educação obrigatória que passa a ser de nove anos. Essa lei complementou a lei anterior
de modo a determinar ao Estado o papel que lhe incumbe no sentido de responsabilizar o
poder público pela oferta dessas vagas (BRASIL, 1996).
Enfim, o referido texto legal possibilitou o atendimento a um direito educacional que
sedimenta:
O exercício do direito à educação, [...]. Exige condições materiais que o torne
realidade: a) que seja possível o acesso material a uma vaga na escola,
garantia que compete ao Estado assegurar. Os Estados costumam aceitar o
direito em suas legislações antes de prever as condições necessárias para
exercê-lo;
b) possibilidade de assistir regularmente às aulas e permanecer na escola
durante a etapa considerada como obrigatória, sem obstáculos provenientes
das condições de vida externas ou das práticas escolares internas que
possam levar à exclusão ou à evasão escolar; [...] (GIMENO, 2001, p. 19).

Essas palavras complementam o sentido que o legislador impõe à implantação do


Ensino Fundamental de nove anos, responsabilizando o Poder Público, para que crie
também as condições administrativas, estru- turais e pedagógicas a fim de que esse direito
seja efetivamente atendido.
A ampliação da escolaridade obrigatória é uma conquista para as classes populares e
23

deve ser estendida cada vez mais, agora incluindo o contingente de crianças de seis anos.
Com essa mudança, os brasileiros dos 3 aos 14 anos de idade terão direito a onze anos da
educação básica pública.
Por sua vez, a Resolução 3, de 3 de agosto de 2005, do Conselho Nacional de
Educação (CNE) mo- dificou a nomenclatura a ser adotada para a Educação Infantil e o
Ensino Fundamental, especificando que:
Educação Infantil – 5 anos de duração – até 5 anos de idade.
Creche – até 3 anos de idade. Pré-escola – 4 e 5 anos de idade.
Ensino Fundamental – 9 anos de duração – até 14 anos de idade.
Anos iniciais – 5 anos de duração – dos 6 aos 10 anos de idade.
Anos finais – 4 anos de duração – dos 11 aos 14 anos de idade [grifos
nossos] (CNE, 2005).
Por fim, constatamos que o direito à inclusão da criança de seis anos no Ensino
Fundamental, com o tempo de duração de nove anos, não garante a melhoria da qualidade
do ensino, outros fatores estão impli- cados nesse processo educacional. Como educadores,
sabemos que o menor quanto mais cedo usufrui do mundo da leitura e da escrita e de outros
bens culturais historicamente construídos, levando-se em conta sua singularidade do menor,
terá melhor êxito em seu processo de escolarização.

O currículo: Base Nacional Comum e parte diversificada


Em abril de 2013, um grupo de especialista na área da educação se reuniu para refletir
sobre a adoção de uma Base Nacional Comum (BNC) no Brasil. Para eles, esse era um
passo relevante para promover a igualdade educacional e o alinhamento de elementos
relevantes do sistema brasileiro. A elaboração de uma estrutura curricular serviria como uma
“espinha dorsal” para garantir os direitos de aprendizagem de cada estudante, a formação
dos professores, os recursos didáticos e as avaliações externas (MBNC, 2015).
Desde então, esse grupo, que atualmente conta com cerca de sessenta integrantes,
busca facilitar e acelerar o processo de construção da Base Nacional Comum (BNC),
apoiando e disseminando pesquisas e insumos técnicos que alimentem o debate bem como
mobilizando outras pessoas da sociedade brasileira (MBNC, 2015).
Entretanto, para melhor compreendermos esse contexto relevante, faz-se esclarecer que
a Base Nacional Comum (BNC) mostrará quais são os conhecimentos essenciais, que todos
os estudantes brasilei- ros têm o direito de ter acesso e se apropriar durante sua trajetória na
Educação Básica desde o ingresso na Educação Infantil até o final do Ensino Médio. A Base
Nacional Comum (BNC) irá estabelecer, de forma clara e objetiva, as expectativas de
aprendizagem ano a ano letivo. Assim, essas premissas estabelecem cri- térios claros de
qualidade, facilitando o acompanhamento do aprendizado. A Base Nacional Comum (BNC) é
uma política de Estado e está prevista na legislação brasileira desde a Constituição de 1988.
Por isso, será obrigatória em todas as escolas do país (MEC, 2015).
Essa estrutura comum é uma exigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB
9.394/96, e do Plano Nacional de Educação (PNE), que determina diretrizes, metas e
24

estratégias para a política educacio- nal brasileira dos próximos dez anos. Dessa forma,
preconizam os dispositivos legais: “A Base Nacional Comum vai significar que qualquer
aluno, em qualquer estado, qualquer município, qualquer escola tenha o mesmo direito de
aprendizagem, e se mudar de um estado para outro ele tenha o mesmo currículo escolar”
(MBNC, 2015).
A Base Nacional Comum (BNC) está prevista no artigo 201 da Constituição Federal, no
artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), no artigo 49 das
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o Ensino Fundamental e nas metas 2, 3 e 7 do
Plano Nacional da Educação (PNE) aprovado em 2014.
Por sua vez, o Ministério da Educação e Cultura (MEC, 2015) está à frente da
construção da Base Nacional Comum (BNC), com a participação dos municípios, estados,
além de contar com um amplo debate da população brasileira por meio da consulta pública.
Serão três versões desse documento, sendo que:
A primeira foi lançada em setembro de 2015 e ficou em consulta até 15 de março
de 2016. Neste mesmo período o MEC esteve recebendo pareceres técnicos
de instituições científicas, acadêmicas e represen- tativas. A segunda versão,
redigida de acordo com as mudanças sugeridas, para abril de 2016, e passará
por nova revisão. A revisão final está prevista para junho de 2016 (MEC,
2015).

Com a Base Nacional Comum (BNC), pais e responsáveis terão acesso, de forma
transparente, aos co- nhecimentos e habilidades que os estudantes deverão saber ao final
de cada ano letivo. Isso facilitará tanto o papel da família, que acompanhará mais de perto o
desempenho dos filhos, como também dos professores, que planejarão melhor suas aulas,
as trocas de experiências e as avaliações, identificando deficiências e soluções com mais
agilidade (MBNC, 2015).
Sabe-se que a Base Nacional Comum (BNC) será mais uma ferramenta para orientar a
construção do currículo escolar da Educação Básica do país, espalhadas de norte a sul,
públicas ou particulares, mostrando quais são os elementos fundamentais que precisam ser
ensinados e aprendidos em cada área do conhecimen- to, como: Matemática, Linguagens e
Ciências da Natureza e Humanas, dentre outras, e uma parte diversifi- cada, assim como
orientações para a comunidade escolar sobre a formulação do Projeto Político Pedagógico
das instituições escolares brasileiras (DCNEB, 2013).
A parte diversificada irá complementar a base comum para oportunizar a formação
integral dos estu- dantes nos diversos contextos em que se inserem as escolas brasileiras.
Cabe a parte diversificada:
[...] prever o estudo de características regionais e locais da sociedade, da
cultura, da economia e da co- munidade escolar. Perpassa todos os tempos
e espaços curriculares constituintes do Ensino Fundamental e do Médio,
independente do ciclo da vida no qual os sujeitos tenham acesso à escola
[...] a base na- cional comum e a parte diversificada não podem se constituir
em dois blocos distintos, com disciplinas específicas para cada uma das
partes (DCNEB, 2013, p. 32)

Os princípios norteadores do Movimento pela Base Nacional Comum (MBNC)


são:
25

1. Ter foco nos conhecimentos, habilidades e valores essenciais que todos


têm o direito de aprender para o seu pleno desenvolvimento e da sociedade
do século XXI.
2. Trazer orientações claras e objetivas para os educadores sobre o que é
essencial que as crianças e os
jovens aprendam em cada etapa da
CURRÍCULOS DAS escolarização básica.
ESCOLAS 3. Ser baseada em evidências de
pesquisas nacionais e internacionais.
A Base Nacional Comum deve ser
construída considerando os
CURRÍCULOS DAS aprendizados alcançados com a
REDES construção de bases curriculares volta-
das para o desenvolvimento dos
cidadãos do século XXI, no Brasil e no
mundo.
4. Ser obrigatória para todas as
BNCE escolas de Educação Básica do
Brasil.

5. Ter a diversidade cultural como


parte integrante.

6. Respeitar a autonomia dos sistemas de ensino para a construção de seus


currículos, e das escolas para a construção de seus projetos políticos
pedagógicos.
7. Ser construída em colaboração entre União, Estados e Municípios e submetida
a consultas públicas (MBNC, 2015).

Com essa estrutura comum, sabemos que as escolas de cada estado ou


município poderão enrique cer suas propostas curriculares e os projetos políticos
pedagógicos no que estabelecerem de mais conveniente e adequado, em consonância
com suas
O Ministério da Educação e Cultura (MEC), compreendendo que a construção
dessa estrutura apenas é possível com a participação de toda a sociedade brasileira,
possibilitou o acesso a um portal, conforme se demonstra na sequência, para a
comunicação e o recolhimento das análises e de sugestões a partir dessa proposta
preliminar para colaborar na construção da Base Comum Nacional (BNC) (MEC, 2015).
O portal é uma ferramenta para a construção democrática da Base Nacional Comum
(BNC) com ampla consulta à comunidade brasileira. As contribuições podem ser individuais
ou coletivas, sejam originárias das redes de ensino ou dos movimentos e organizações da
sociedade civil. Também podem ter caráter geral ou tratar pontualmente de cada
tema/assunto (MEC, 2015).

A partir da Base Nacional Comum (BNC), os inúmeros professores brasileiros continuarão


escolhendo os melhores caminhos de como ensinar, bem como apontar quais outros
elementos, referindo-se a parte di- versificada, que precisam ser somados nesse processo
de aprendizagem e desenvolvimento de seus alunos. Tudo isso respeitando a diversidade,
as particularidades e os contextos em que os alunos estão inseridos (MEC, 2015).
26

A obrigatoriedade da criação de uma Base Nacional Comum (BNC) aparece pela


primeira vez utili- zando a expressão “conteúdos mínimos” na Constituição Federal de 1988,
como prevê o artigo 210, preco- nizando que:
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de
maneira a assegurar for- mação básica comum e respeito aos valores culturais e
artísticos, nacionais e regionais [grifos nossos] (BRASIL, 1988).

Anos depois, ela também é prescrita na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LDB 9.394/96, em seu artigo 26, dispondo que:
Os currículos do ensino fundamental e médio tenham uma base nacional
comum, a ser complemen- tada em cada sistema de ensino e estabelecimento
escolar por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e
locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela [grifos nossos]
(BRASIL, 1996).

Com essa ‘liberdade’ para elaborar uma proposta educacional de acordo com a
realidade da comunida- de escolar, cabe à instituição escolar desenvolver seus documentos
legais, conforme o ambiente educacional em que está inserida, deixando transparecer as
demandas daqueles que dela usufruem. Para tanto, precisa desenvolver o seu Projeto
Político Pedagógico, que traduz sua identidade, o currículo escolar e seus funda- mentos
(PNE, 2014).
Recentemente, o debate sobre currículo tomou uma maior dimensão com o Plano Nacional
de Educação (PNE), promulgado por meio da Lei 13.005 de 25 de junho de 2014, que trouxe
metas e estratégias sobre as diversas questões que envolveram a necessidade de se unir
esforços federativos para a institucionalização efetiva do Sistema Nacional de Educação
(SNE) para os próximos dez anos. Destacou-se a busca por uma educação de qualidade,
melhorias das condições do trabalho docente com qualificação profissional e melho- res
salários, e deu outras providências (PNE, 2014).
A adoção de uma Base Nacional Comum é uma tendência internacional; os Estados
Unidos, Austrália, China e Reino Unido são alguns dos países que construíram e
implementaram recentemente seus padrões curriculares nacionais. Portanto, adotá-la,
segundo reforçam os responsáveis, é reduzir as desigualdades educacionais de uma nação.

A entrada das crianças de 6 anos no ensino fundamental

A Lei Federal 11.274, promulgada em 6 de fevereiro de 2006, que altera a Lei de


Diretrizes e Bases 9.394/96, garante a entrada do menor de seis anos de idade no Ensino
Fundamental, a fim de aumentar o tempo de duração escolar obrigatório, popularizando a
educação pública brasileira. Todos os movimentos que visem ao aprimoramento da
qualidade da educação brasileira são relevantes, para que venha torná-la mais próxima de
outros países mais adiantados, pois só por meio desse procedimento teremos a oportunida-
de de crescimento. Mas, sabemos que somente essa decisão não é satisfatória para que
esses preceitos legais aconteçam de imediato, visto que o Brasil é um país com extensões
geográficas e com robustos indicadores socioculturais que prevalecem por todo território
brasileiro (FIORAVANTI; CAMPOS, 2007, p. 66).
27

Não é diferente na esfera educacional, pois atualmente ela é desprovida de prestígio e


são poucos os recursos financeiros direcionados para esse segmento. Porém, embora a
norma jurídica tenha os objetivos descritos anteriormente, estudos comprovam que é na fase
da Educação Infantil, de zero a seis anos de idade, que o menor potencializa grande parte
de suas características marcantes e das bases primordiais para a for- mação integral do ser
humano quanto aos aspectos físico, psicológico, intelectual e social (FIORAVANTI;
CAMPOS, 2007, p. 67).
Todavia, em consonância com os estudos de Jean Piaget (1920-1973), assevera-se que:
[...] o desenvolvimento cognitivo segue um processo sequencial, respeitando
etapas que são caracteri- zadas por diferentes estruturas mentais. Segundo
suas pesquisas, os estágios da inteligência sensório-motora (até dois anos) e
da inteligência simbólica ou pré-operatória (de 2 a 7-8 anos) são
experiências fundamentais e estruturantes para as fases de
desenvolvimento cognitivo posteriores. Em cada etapa ou estágio do
desenvolvimento, a criança possui uma forma (estrutura mental) de
compreender e resolver problemas [grifos nossos] (PIAGET, 1998).

No primeiro ano de ensino regular, a continuidade representa uma transição, seja para
aquela criança que se matricula pela primeira vez na escola, seja para aquela que já vem da
Educação Infantil. Em qualquer um dos casos, é necessário assegurar-lhes o direito à
infância, pois os alunos não deixarão de serem crianças pelo simples fato de estarem
regularmente matriculados no Ensino Fundamental de nove anos. O menor do 1.º ano deve
ter garantido seu direito à educação em um espaço próprio e com rotinas apropriadas que
viabilizem a edificação de conhecimentos básicos, considerando as características e o
desenvolvimento de sua faixa etária, integrando o cuidar e o educar. Cuidar e educar são
princípios básicos da educação nessa faixa etária (MEC, PCNs, 1998).
Ressaltamos que a ampliação do Ensino Fundamental de nove anos tem como
finalidade dar continui- dade ao trabalho desenvolvido nas escolas de Educação Infantil ou
garantir àqueles que nunca cursaram uma instituição escolar um início de escolaridade
calmo e próspero. A Educação Infantil tem objetivos próprios que devem ser alcançados na
perspectiva do desenvolvimento infantil, respeitando, cuidando e educando crianças em um
tempo singular da primeira infância. No Ensino Fundamental, os estudantes de seis anos,
assim como os de sete anos de idade, precisam de uma proposta curricular que atenda às
suas características, potencialidades e necessidades específicas. Isso é imprescindível para
o desenvolvimento e aquisição do conhecimento por esses (SANTOS, 2006).
A unidade escolar deverá, então, assegurar um trabalho pedagógico que envolva
experiências em di- ferentes linguagens e suas expressões, buscando uma metodologia que
favoreça o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo dessas crianças.
Por sua vez, sabemos que as atividades lúdicas provocam na criança:

[...] a espontaneidade, a criatividade e a progressiva aceitação das regras


sociais e morais e, por meio dela, surge o desenvolvimento da inteligência,
passando a aprender de forma progressiva, como repre- sentar simbolicamente
a realidade que a cerca (ARAÚJO, 2015).
28

Diante desses pressupostos, questiona-se: quais são as características da criança na


faixa etária de 6 anos, que passou a integrar ao Ensino Fundamental com a duração de
novo anos de idade?
Os menores dessa idade possuem um contingente extenso de conhecimentos
construídos, a partir das experiências vivenciadas no seu dia a dia. Eles têm grande
capacidade de estabelecer novas e distintas rela- ções afetivas e também se veem atraído
cada vez mais pelas práticas coletivas, o que aumenta suas aptidões sociais (ARAÚJO,
2015).
Nesse período a capacidade de representação de símbolos está bem definida e se
comprova por meio da linguagem, da imaginação, da imitação e da brincadeira em
distintas situações. A criança faz uso, na sua prática diária, de uma ampla coletânea de
símbolos, signos, imagens e conceitos para serem utilizados na sua ligação com o ambiente
social, afetivo e cognitivo dela. Embora seja um procedimento extenso, a competência de
conceituação já aparece nessa fase, permitindo que ela estabeleça vínculos e
generalizações. Há um desenvolvimento acentuado de habilidades, como a atenção e a
memória, que se tornam mais cons- cientes e intencionais. A curiosidade e a demanda de
compreender o mundo que a cerca são visíveis, ainda que as associações e as relações
cognitivas sejam regidas por critérios peculiares. A consideração desse modo próprio de
pensar o mundo quando incorporada pelos educadores possibilita conhecer a criança, pla-
nejar atividades significativas, propiciar uma produção infantil rica e original e ampliar seus
conhecimentos (ARAÚJO, 2015).
Essas crianças, tendo frequentado ou não a Educação Infantil, chegarão ao 1.° ano com
um conjunto de conhecimentos adquiridos ao longo de suas vidas, sobre os quais o docente
terá que refletir muito para, a partir daí, elaborar suas atividades pedagógicas. Considerar a
criança dessa faixa etária competente e apta é requisito fundamental para a efetivação de
uma atividade educativa de qualidade (ZABALZA, 1998, p. 27).
O trabalho realizado no 1.º ano do Ensino Fundamental deve adequar-se aos níveis de
desenvolvimento das crianças dos seis anos de idade, proporcionando as mais diversas
experiências nas quais os alunos pos- sam mobilizar seus diversos conhecimentos.
Conforme evidenciado pelo Referencial Curricular, elaborado pelo MEC em 1981:

É, portanto, função do professor considerar, como ponto de partida para sua


ação educativa, os conheci- mentos que as crianças possuem, advindos das
mais variadas experiências sociais, afetivas e cognitivas a que estão expostas.
Detectar os conhecimentos prévios não é uma tarefa fácil. Implica que o profes-
sor estabeleça estratégias didáticas para fazê-lo. A observação acurada das
crianças é um instrumento essencial neste processo. Os gestos, movimentos
corporais, sons produzidos, expressões faciais, as brincadeiras, toda
forma de expressão, representação e comunicação devem ser
consideradas como fonte de conhecimento para o professor saber o que
a criança já sabe. A prática educa- tiva deve buscar situações de
aprendizagens que produzam contextos cotidianos nos quais, por
exemplo, escrever, contar, ler, desenhar, procurar uma informação, etc.
tenha função real. [grifos nossos] (RCNs, 1998).
29

A entrada no Ensino Fundamental representa um divisor de águas, tanto para as


crianças quanto para os seus familiares. Portanto, a qualidade do ofício realizado com as
crianças, a partir da sua matricula no 1.º ano do Ensino Fundamental, necessitará de
atividades bem planejadas para proporcionar os cuidados de hi- giene cotidianos, as
brincadeiras e as situações de aprendizagem orientadas. O professor deverá ser capaz de
dar conta positivamente das novas demandas e da organização do tempo escolar, levando
em conta que não é indicado atuar com alunos dessa faixa etária, em aulas estagnadas de
50 minutos com alguns poucos minutos de recreação, será necessário organizar uma rotina
mais dinâmica e acolhedora (RCNEI, MEC/SEF, 1998).
As atividades diversificadas com a inserção de cantos as crianças desta faixa etária
podem vivenciar diferentes situações de aprendizagem, possibilitando:
Participação em situações de brincadeiras e jogos nas quais se podem
escolher parceiros, materiais, brinquedos etc.;
Participação em situações que envolvam a combinação de algumas regras de
convivência em grupo e aquelas referentes ao uso dos materiais e do espaço;
Valorização do diálogo como forma de lidar com os conflitos;

Valorização dos cuidados com os materiais de uso individual e coletivo


(CARVALHO, KLISVS, AUGUSTO, 2006).

Nessa perspectiva, os objetivos gerais para essa faixa etária devem desenvolver na
criança uma ima- gem positiva de si mesma. Para que ela possa descobrir e conhecer
progressivamente suas potencialidades físicas, cognitivas e sociais, e para que tenha a
oportunidade de brincar expressando suas emoções, co- nhecimento e imaginação, incluem-
se nas expectativas de aprendizagem dois eixos que não figuram com destaque nas séries
iniciais do Ensino Fundamental: movimento, jogar e brincar e cuidar de si, do outro. Entende-
se que esses conteúdos são um caminho e uma sugestão para que a criança se desenvolva,
aprenda, adquira confiança em suas competências e se expresse em diferentes linguagens
advindas das seguintes áreas de conhecimento:
Língua Portuguesa – As crianças do 1.º ano têm o direito de aprender e desenvolver competências em
comunicação oral, em ler e escrever de acordo com suas hipóteses. Para isto é necessário que a escola de
Ensino Fundamental promova oportunidades e experiências variadas para que elas desenvolvam com
confiança cada vez mais crescente todo o seu potencial na área e possam se expressar com pro-
priedade por meio da linguagem oral e da escrita.

• Matemática – As crianças do 1.º ano têm o direito de usar seus conhecimentos e habilidades para
resolver problemas, raciocinar, calcular, medir, contar, localizar-se, estabelecer relações entre ob-
jetos e formas. Para isto é necessário que a escola de Ensino Fundamental promova oportunidades e
experiências variadas para que elas desenvolvam com confiança cada vez mais crescente todo o seu
potencial na área.
• Ciências Sociais e Naturais (história, geografia e ciências) – As crianças do 1.º ano do Ensino
Fundamental têm o direito de exercer seu pensamento, suas hipóteses, conhecendo a vida dos seres vivos
e sua relação com o ambiente, os fenômenos naturais e sociais e as transformações que deles decorrem.
Para isso a escola de Ensino Fundamental precisa oferecer diferentes oportunidades para que a criança
pense, estabeleça relações entre o ambiente os seres vivos e o fenômenos naturais e sociais,
valorize as diferenças entre os povos, para que pesquise com sentido e significado e desenvol- va ações
para garantir seu bem-estar, o bem-estar do outro e os cuidados com o ambiente.
• Artes – As crianças do 1.º ano têm o direito de conhecer a produção artística, expressar sua criativida-
de compartilhando: pensamentos, ideias e sentimentos também por meio de atividades de explora-
ção envolvendo artes visuais e música, reconhecidas como linguagem e conhecimento. Para isto a
escola de Ensino Fundamental deverá oferecer diferentes situações de contato com a produção artística,
30

possibilitando o fazer e o apreciar.


• Movimento, jogar, brincar/Cuidar de si e do outro – As crianças do 1.º ano do Ensino Fundamental
têm o direito a se movimentar cada vez mais com propriedade e segurança, utilizando o corpo para
expressar-se, a brincar criando enredos e papéis e a jogar cotidianamente na escola. Para isso a escola de
Ensino Fundamental precisa oferecer diferentes oportunidades para que a criança se exercite, valorize
a atividade física, adquira autoconfiança, brinque só ou com seus pares e jogue em dife- rentes
momentos [grifos nossos] (MEC, 2009).

Por sua vez, a avaliação no Ensino Fundamental de nove anos deve ser um processo
formativo, contí- nuo, que não demanda situações distintas das cotidianas. Portanto, o que
aqui se mostrou são algumas abor- dagens para que os professores possam melhor analisar
e avaliar o que se passa na instituição escolar, par- ticularmente o avanço dos alunos dessa
modalidade de ensino em relação às expectativas de aprendizagem.
A formação continuada dos professores deve fazer parte da rotina institucional. Os
professores devem acom- panhar as perspectivas educacionais atuais e participar da
construção do projeto político pedagógico da escola em que atuam, refletindo e compartilhando
coletivamente, criando condições para que o trabalho desenvolvido seja constantemente
debatido, avaliado e assumido por todos os envolvidos (VILLAS BOAS, 2004).
Por fim, constata-se que a organização do trabalho pedagógico para essa faixa etária
deverá favorecer a vivência e experimentação; o ensino globalizado; a participação ativa da
criança; a magia, a ludicidade, o movimento, o afeto, a autonomia e a criatividade infantil.

REFERÊNCIAS

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<www. montesiao.pro.br/estudos/crianca/caract_faixaetaria.html>. Acesso em: 10 maio 2016.
AZEVEDO, Janete M. Lins. A educação como política pública. Campinas: Autores Associados, 1997.
BATISTA, Antonio Augusto Gomes. Ensino fundamental de 9 anos: um importante passo à frente. Boletim
UFMG, Belo Horizonte, v. 32, n.1522, março de 2006.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996. BRASIL.
BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 16 jul. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em:
24 mar. 2021.
EDUCAÇÃO: O PRINCÍPIO DA QUALIDADE E SUA EFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO DE BASE

BRASIL. Lei 9.394, 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases para a educação nacional.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <www.mec.gov.br>. Acesso em: 26 abr. 2016.
. Lei 10.172, 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jan. 2001. Disponível em: <www.mec.gov.br>. Acesso em:
25 abr. 2016. . Ministério da Educação e Cultura (MEC). Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
da Educação Básica. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília:
MEC, 2013.
. Lei 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos artigos 29, 30, 32 e 87 da
Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo
sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos
de idade. Diário Oficial da União, Brasília, 7 fev. 2006 a.

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