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Disciplina: Gestão do Sistema Escolar

Autores: M.e Marcus Quintanilha da Silva

Revisão Conteúdos: Esp. Marcelo Alvino da Silva

Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso

Ano: 2016

Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral


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da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas
solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais.

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Marcus Quintanilha da Silva

Gestão do Sistema Escolar


1ª Edição

2016

Curitiba, PR

Editora São Braz

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FICHA CATALOGRÁFICA

Silva, Marcus Quintanilha da.


Gestão do Sistema Escolar / Wagner Souza. – Curitiba, 2016. 63 p.
Revisão de Conteúdos: Marcelo Alvino da Silva.
Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso.
Material didático da disciplina de Gestão do Sistema Escolar – Faculdade
São Braz (FSB), 2016.
ISBN: 978-85-5475-039-8

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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO

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comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do
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grupos de estudos com alunos e tutores, o que proporciona excelente integração
entre professores e estudantes.

Bons estudos e conte sempre conosco!


Faculdade São Braz

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Apresentação da disciplina

Nesta disciplina serão discutidos os conceitos voltados à organização e


gestão da educação básica de caráter mais amplo. Ou seja, ainda que a gestão
na escola seja fundamental no contexto escolar, existe uma série de questões
que impactam o cotidiano educacional, como a forma como estão dispostos os
sistemas educacionais, seus regimes de colaboração, órgãos de fiscalização das
normativas, o cumprimento das responsabilidades educacionais por parte dos
entes federados, entre outras.

Aula 1 – Organização do Sistema Escolar Brasileiro e o Federalismo em


regime de colaboração

Apresentação Aula 1
Nesta aula será efetuada uma análise da Organização do Sistema
Educacional Brasileiro, usando como base de estudos as legislações em vigor
em âmbito nacional, Lei de Diretrizes e Bases n. 9394/06, Constituição Federal,
alguns aspectos do FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e Valorização do Magistério), Lei n. 11494/07 e as
características principais do federalismo brasileiro.

1. Organização do sistema escolar brasileiro e o federalismo em regime de


colaboração

O Brasil é uma República Federativa, conforme preceitua a sua


Constituição. Nessa organização política descreve-se com clareza no art. 18 da
Carta Magna, onde a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são
entes federados autônomos, sendo essa uma inovação no documento em
discussão, pois anteriormente os municípios não possuíam esse status. Aliado
a outros fatores, modifica-se drasticamente a distribuição de matrículas de
alunos, o que acaba por municipalizar o ensino em boa parte do território
nacional, ou seja, os municípios passaram a ficar responsáveis por boa parte
dos alunos do ensino público brasileiro. Isso envolve, entre outras coisas,
repasse de verbas e obrigação dos entes federados pelo fornecimento do
serviço.

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O regime de colaboração não descarta que os entes federados tenham
suas responsabilidades educacionais. Sobre as responsabilidades dos
municípios, os mesmos atuarão prioritariamente na educação infantil e no ensino
fundamental.

1.1 Organização do Sistema Educacional Brasileiro

A educação é um direito previsto em lei (BRASIL, 1988; BRASIL, 1996).


Outra lei de suma importância garante esse direito, a lei n. 8069/90, Estatuto da
Criança e do Adolescente. Mais que isso, a Constituição atribui o status de direito
público subjetivo ao cidadão de ser educado e ter a disposição a oferta de ensino
obrigatória. Obrigatoriedade que contempla jovens no país dos quatro aos
dezessete anos. Isso aumenta a responsabilidade e a demanda que o Estado
precisa prover de modo a ser efetivo no atendimento a esse público. Tudo isso
nos dá um panorama inicial de complexidade ao assunto que vamos tratar aqui,
a organização complexa da educação em um país de extensão territorial
continental e diverso como é o Brasil.

1.1.1 Constituição Federal

A Constituição Federal promulgada em 1988 é um marco na história


brasileira, não pelo fato em si, mas pelo seu conteúdo. Pela primeira vez tem-se
no maior documento legal da nação brasileira, a educação como um direito social
e um capítulo específico tratando desse tema. Nesta seção de nossa aula
estaremos focados no Título VIII, Capítulo III, Seção I, entre os artigos 205 à 214,
que tratam especificamente da educação.

O Art. 205 e 206 são importantes pois, além de estabelecer a educação


como direito de todos, imputa ao Estado e a família a obrigação em promovê-la.
Além disso, também elenca princípios básicos nos quais se fundam o ensino no
país. A gratuidade do ensino, liberdade de condições e permanência na escola,
liberdade e pluralismo de ideias, a valorização dos profissionais do magistério e
garantia de padrão de qualidade são importantes, porém o inciso VI é muito
importante para nosso tema, pois estabelece que o ensino no Brasil deve ser

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ministrado nos princípios da “Gestão democrática do ensino público, na forma
da lei” (BRASIL, 1988).

A gestão democrática é um ponto de inflexão das gestões escolares e


ressalta-se a atenção por ser contemplada no artigo que enuncia os princípios
da educação brasileira.

O Art. 208 é de suma importância, pois estabelece os deveres do Estado


para com a educação brasileira, no qual destacam-se:

 Educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos dezessete


anos e assegurar a oferta a todos que não tiveram na idade própria;

 Atendimento educacional especializado para as pessoas com


deficiência, educação infantil em creche e pré-escola, além de
acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
criação artística, segundo a capacidade de cada um;

 Atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica,


por meio de programas suplementares de material didático escolar,
transporte, alimentação e assistência à saúde.

Importante
A história do direito à educação no país tem avanços e
retrocessos. Em determinado momento o Estado tinha o dever
de provê-la, em outro ele se absteve. Atualmente a Constituição
Federal do país estabelece que a educação obrigatória é um
Direito Público subjetivo, ou seja, o não fornecimento desse
serviço imputa criminalmente a autoridade competente.

Os Art. 209 e 213 destinam-se à regulação da iniciativa privada no


ensino. Destaca-se que o Poder Público precisa autorizar o funcionamento de
tais instituições e a possibilidade de recebimento de recursos públicos em caso
de comprovação de instituição sem fins lucrativos (instituições filantrópicas,
confessionais ou comunitárias). No Art. 210 é assegurado a fixação de currículo

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mínimo para o Ensino Fundamental, assim como o ensino religioso é facultativo
e a língua portuguesa deve aplicar-se para ministrar as aulas, exceto às
comunidades indígenas que optarem em ministrar as aulas na sua língua
materna.

O que cabe ressaltar inicialmente é o caráter generalista da Carta


Magna. Assim, em 1996 é sancionada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, que será discutida posteriormente.

Saiba Mais
Carta Magna – expressão latina que significa “grande carta”.
Foi o primeiro documento a enumerar direitos do povo inglês,
por isso não se trata de uma lei, e sim um conjunto de normas
referentes a direitos e deveres de um povo. Por isso é usada
como sinônimo de Constituição.

1.1.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação, n. 9394/96

A Constituição Federal estabelece no art. 22, inciso XXIV que cabe à


União legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional. Na leitura da
Constituição percebe-se a necessidade de leis, decretos, resoluções e portarias
que auxiliem os entes federados a interpretar suas obrigações. A LDB brasileira
é complementar a Constituição e tem esse intuito ao longo de seus 92 artigos.

Alguns detalhes dessa lei auxiliam no entendimento da Organização do


Sistema Educacional Brasileiro e alguns artigos da Legislação auxiliam em um
entendimento mais amplo.

Os Artigos 18 e 19 tratam de questões importantes, como a classificação


das instituições de ensino no Brasil em públicas ou privadas, e as diversas
classificações das instituições privadas em particulares, confessionais,
comunitárias ou filantrópicas.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n°. 9394/96 é


complementar à Constituição e esclarece vários aspectos presentes na Carta

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Magna. Uma delas é sobre os níveis e modalidade de ensino, os quais são
compostos pela educação básica, se compondo em dois níveis, conforme Art.
21 em:

 Educação básica: composta pelas etapas da educação infantil,


ensino fundamental e ensino médio;

 Educação superior.

Nos artigos 22 ao 28 existem uma série de orientações, os quais dispõe


autonomia para as escolas, e ao mesmo tempo, regulam uma série de outras
questões, com o intuito de promover a organização da educação básica,
seguindo diversos modelos, como séries anuais, ciclos, bimestres, semestres,
conforme preconiza o art. 23. No entanto, o Art. 24 estabelece normativas
importantes no que se refere ao calendário escolar no Ensino Fundamental e
Médio.

LEI Nº 9394/96, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996

[...]
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo
com as seguintes regras comuns:
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo
de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais,
quando houver;
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino fundamental,
pode ser feita:
a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase
anterior, na própria escola;
b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas;
c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola,
que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na
série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino;
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento
escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a sequência do
currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino;
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis
equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou
outros componentes curriculares;
V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de
eventuais provas finais;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;

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c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do
aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período
letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de
ensino em seus regimentos;
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu
regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de
setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação;
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares, declarações de
conclusão de série e diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com as especificações
cabíveis
[...]
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm

Uma discussão atual é referendada no art. 26, no qual se preconiza a


base nacional comum a todas as etapas de ensino da educação básica. Já nos
artigos 26, 27 e 28 questões como ensino da cultura afro-brasileira e indígena,
ensino de Educação Física, oferta de educação básica para a população rural e
alguns valores incutidos nos currículos escolares.

As etapas da educação básica, do ensino profissional, educação de


jovens e adultos e a educação superior também são detalhados no decorrer da
Lei 9394/96, na mesma contempla no Capítulo V., Art. 58 de maneira específica,
normativas para a Educação Especial.

Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei,
a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na
rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
(BRASIL, 1996. S/p).

Do art. 61 ao 67 a LDB estabelece uma série de definições a respeito


dos profissionais da educação, dentre elas destacamos os art. 61 e 62, que
tratam da definição de quem são os profissionais do magistério e como deve ser
sua formação.

A Constituição Brasileira possui uma série de emendas, as


chamadas Emendas Constitucionais, as quais são
modificações pontuais impostas ao texto da Constituição Federal
após sua promulgação. É o processo que garante que a
Constituição de um país seja modificada em partes, para se
adaptar e permanecer atualizada diante de relevantes mudanças
sociais.

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Ainda que a LDB tenha sofrido uma série de modificações em seus 19
anos de implementação, vale ressaltar a sua importância em termos de
esclarecimento e delineamento das políticas educacionais brasileiras.

1.2 - Fundo de Manutenção da Educação Básica e Valorização do


Magistério (FUNDEB)

O FUNDEB é regulamentado pela Lei n. 11494/07, porém a Emenda


Constitucional de n°. 53/06 já contemplava aspectos à serem mudados no Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição.

O Fundo em questão é uma conta contábil para cada estado onde 20%
da carga de impostos dos entes é recolhida para composição do mesmo. A
exceção se dá a alguns impostos que não estão na conta, como o IPTU (Imposto
Predial e Territorial Urbano) e o ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens
Intervivos), ambos municipais. Na tentativa de promover qualidade com
equidade na educação em um território historicamente desigual, a Constituição
obriga a União a gastar através da vinculação de percentual nas receitas de
impostos, estabelece-se o investimento mínimo em educação pelos entes
federados, percentuais definidos em não menos que 18% das receitas de
impostos da União e 25% dos estados e municípios.

Por um lado, a vinculação de recursos é ótima, pois garante investimento


obrigatório e 60% dos recursos educacionais devem ser destinados ao
pagamento dos profissionais do magistério. Em consonância com esse fato, a
Lei n. 11798/08 regulamenta o Piso Salarial Profissional Nacional para tais
profissionais, atualizados anualmente desde janeiro de 2009. Isso garante um
rendimento mínimo, no entanto a outra “face da moeda” é que o modo de
vinculação de recursos através do FUNDEB acarreta uma certa diminuição das
desigualdades regionais, em particular dentro dos estados, mas ainda mantém
uma desigualdade grande na distribuição de recursos.

Essa desigualdade se deve à diferença de arrecadação de cada


município e cada estado. Por isso, o FUNDEB redistribui os recursos por
matrícula, e os estados que não atingem o mínimo de insumos previstos por

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aluno, atualizados anualmente pelo governo federal, a União complementa via
FUNDEB.

Saiba Mais
O art. 36 da lei do Fundeb (n. 11494/07) explicita os fatores
de ponderação para cada modalidade de ensino. Esses
fatores indicam quanto cada ente federado receberá a mais
ou a menos por cada aluno, isso vai depender da modalidade
de ensino na qual o aluno está matriculado

Ainda que nosso estudo sobre o FUNDEB seja raso, é necessário para
entendermos um pouco as tensões do federalismo brasileiro, nosso próximo
assunto.

1.3 Federalismo brasileiro

Ainda que não se tenha uma definição única na Ciência Política quanto
ao federalismo, no caso brasileiro ela pode ser entendida como “a união de
estados para a formação de um único, em que as unidades originais conservam
sua autonomia política, enquanto a soberania é transferida para a federação”
(TAVARES & ZANDER, 2011).

1.3.1 Evolução do Estado Brasileiro

A evolução do Estado brasileiro não pode ser comparada aos Estados


denominados desenvolvidos. Isso se deve ao fato de algumas peculiaridades
históricas no desenvolvimento nacional como o contexto escravocrata e a
inserção do negro liberto na sociedade, a dependência externa no que diz
respeito a importações de produtos de base, a modernização tardia em um
sistema de substituição de importações, a industrialização que beneficiou uma
parcela muito pequena da população, abrindo largos intervalos de desigualdade
social, aliado a práticas políticas como o clientelismo, o patrimonialismo, o

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coronelismo e a oligarquia, presentes até hoje em algumas localidades desse
país de extensão continental (SOUZA, 2012).

Araújo e Fernandes (2009) ressaltam as peculiaridades do


desenvolvimento regional nesse país de extensão continental que é o Brasil, no
entanto estabelece que as diferenças não determinam os sistemas de ensino,
elas são condições impostas. Portanto, não justificam sucesso ou fracasso
escolar considerando que a política educacional brasileira tem a função de
organizar com equidade os sistemas educacionais.

A formação do Estado Brasileiro é diferenciada a medida que o


federalismo sempre fez parte da forma de distribuição de poder e domínio das
terras de extensões continentais brasileiras. No entanto, a evolução do Brasil
não foi uniforme em todos os municípios e estados, cada um teve uma
especificidade e prioridades momentâneas nos períodos históricos. Esse fato fez
com que o Brasil cultivasse uma desigualdade abissal em seu território. Não
bastasse isso, temos questões culturais diversificadas de acordo com cada
localidade. Isso influencia prioridades de governos locais, formas de conceber a
educação, concepções de currículo, entre outras características que
caracterizam nosso federalismo.

Outro aspecto, voltado à educação, é sobre seu financiamento. Durante


muito tempo a participação do Governo Federal no auxílio a entes com menos
recursos foi pouco. Tal fato contribuiu diretamente para que a distância entre
municípios com mais e menos recursos aumentasse de forma contundente. A
política de fundos, implantada desde 1996 com o FUNDEF (Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do
Magistério) e principalmente com o FUNDEB auxiliou na diminuição da
desigualdade, mas ainda há um longo caminho para se percorrer.

1.3.2 Organização do país como República Federativa

Segundo Tavares e Zander (2011) a ''constituição dos Estados nacionais


incluiu, como tarefa do Estado, a responsabilidade pela organização de sistemas

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públicos de ensino”. A evolução do direito à educação no Brasil ressalta que tal
responsabilidade sofreu avanços e retrocessos ao longo da história.

Como visto anteriormente, a caminhada do Brasil enquanto país periférico


não foi linear e tampouco igual nos seus territórios. Essa desigualdade territorial
marca o desenvolvimento da educação no nosso país.

A Constituição Federal estabelece em seu art. 1º que o Brasil é uma


República Federativa “formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito”; sendo
formado por 26 estados, um Distrito Federal e 5570 municípios distribuídos em
tais estados. No decorrer dos 17 artigos posteriores o documento constitucional
esmiúça tal ideia, assim como nos artigos 18 ao 22 estabelece as competências
aos entes.

Assim, a União detém determinados poderes e mantém a autonomia de


estados e municípios sobre outras competências. Isso em tese ajuda no controle
estatal da complexidade do Estado moderno e os diversos serviços à população
por ele prestados, entre eles a Educação. Eles possuem três poderes, Executivo,
Legislativo e Judiciário. Exceção se faz aos municípios que não tem o último,
motivo de questionamento da literatura acadêmica quanto ao seu status de ente
federado.

As pesquisas e a literatura acadêmica apontam a Gestão Democrática do


Ensino como um aspecto relevante para o bom andamento da unidade escolar,
no qual o sistema de ensino deve considerar suas peculiaridades e seguir os
princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do
projeto pedagógico da escola e participação das comunidades escolar e local em
conselhos escolares ou equivalentes.

Existe uma tendência centralizadora no Brasil, haja vista que o poder


central controla a distribuição de recursos e normatiza algumas formas de gasto,
por exemplo. É uma definição de estado federativo centrípeto, existe uma
convergência dos poderes ao governo federal, deixando o restante aos outros
entes federados.

A existência de municípios como entes federados aumenta a desigualdade


e acirra a competitividade entre sistemas municipais e estaduais de Educação,

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haja visto que a diferença de arrecadação e redistribuição de recursos, que
apesar dos esforços do Governo Federal, tem uma diminuição da desigualdade
ínfima perto da necessidade imposta historicamente. Disputa desigual se
considerados os aspectos de evolução tardia e diferenciada nos aspectos
financeiros e de prioridade nacional e o desenvolvimento regional com tamanhas
disparidades.

LEI Nº 9394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996

Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.


[...]
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por
meio do ensino, em instituições próprias.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
[...]

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm

A organização do sistema de ensino brasileiro é complexa, visto que o


federalismo em nosso país, de extensão territorial continental, é em sua essência
diversa, controversa e desigual. As regiões brasileiras são resultados de sua
evolução, que não tiveram condições igualitárias e resultaram em realidades
distintas e com ampla desigualdade.

É perceptível que trata-se de um país de ampla complexidade, em


particular no sistema educacional. Isso se deve ao formato de federalismo que
provém desde os tempos do Brasil Colônia, que perduraram até os dias de hoje,
baseados no poder local e na desigualdade entre os entes.
Mesmo com um governo central, que dita as principais ações dos entes,
esses tem autonomia, em particular no que diz respeito à educação, e isso
resulta sistemas educacionais por muitas vezes distintos. A forma de distribuição
dos recursos é relevante na acentuação da desigualdade no país, visto que pelo

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crescimento econômico desigual as arrecadações também seguem esse
patamar.

Resumo da Aula 1

O estudo nesta aula pautou-se em dois aspectos: a organização dos


sistemas de ensino e federalismo. Em ambos nossa base de estudo foram as
legislações em vigor, em particular a Constituição Federal e a LDB.

Atividade de Aprendizagem
Leia os artigos 205 ao 214 da Constituição, os quais são
normativas importantes para a compreensão dos princípios
educativos que permeiam nosso Estado. Após a leitura dos
artigos da Constituição, separe pontos que são generalistas, ou
seja, sem explicação sobre a sua execução, e pesquise na LDB
se há alguma explicação mais minuciosa sobre como os entes
federados executam tal ação e discorra sobre o assunto.

Aula 2 – Níveis e etapas de ensino da educação básica e as


responsabilidades educacionais dos entes federados
Apresentação Aula 2

Na segunda aula o enfoque será aos entes federados, suas


responsabilidades educacionais e o detalhamento das características das etapas
de ensino da educação básica, reforçando o embasamento legislativo
mencionados na aula anterior.

2. Níveis e etapas de ensino da educação básica e as responsabilidades


educacionais dos entes federados
Na primeira aula discutimos com base na Constituição Federal, LDB e
aspectos do financiamento da educação no Brasil a organização da gestão dos
sistemas de ensino no Brasil. Além disso, algumas características do federalismo
brasileiro também foram apresentadas, com o objetivo de entender a

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complexidade do sistema educacional em nosso país. Faz-se necessário definir
as etapas de ensino e suas características, elencar o que cada ente federado
tem como obrigação prioritária na efetividade do direito à educação. Outro
aspecto fundamental na compreensão da organização nacional no que se refere
à educação é o regime de colaboração entre os entes. Aos poucos
entenderemos a complexidade de tal organização.

2.1 Níveis de ensino da educação brasileira

Para iniciarmos essa aula, é necessária uma retomada à um item citado


na aula anterior de maneira mais aprofundada. A Constituição Federal não
estabelece em seu texto as etapas da educação básica e educação superior,
ainda que o art. 208 estabeleça os deveres do Estado na oferta educacional. As
definições sobre as etapas de ensino são delineadas na LDB, em particular no
Título V, que se refere aos níveis e modalidades da educação e ensino e seu
Capítulo I, definindo diretamente a composição dos níveis escolares.

Art. 21. A educação escolar compõe-se de:


I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio;
II - educação superior. (BRASIL, 1996. S/p.)
É uma definição que não deixa margem para dúvidas. Precisamos definir
quais as características básicas de cada etapa de ensino. Dividiremos nos dois
níveis, inicialmente educação básica e posteriormente educação superior.

2.1.1 Educação básica

A educação básica é um nível de ensino que compreenderá três etapas:


educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Tais etapas foram se
aperfeiçoando desde 1988 e hoje temos definições mais sólidas acerca das
mesmas. O Capítulo II do Título V, que compreende os art. 22 ao 28 descrevem
de forma geral tal nível de ensino.

Nesse contexto o:

Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o


educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho
e em estudos posteriores.
[...]

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Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão,
ainda, as seguintes diretrizes:
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e
deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem
democrática;
II - consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada
estabelecimento;
III - orientação para o trabalho;
IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas
não-formais. (BRASIL, 1996. S/p).

Formação para cidadania, progressão para o trabalho e estudos


posteriores são base dos princípios do ensino da educação básica. Existem
outros aspectos como a organização em ciclos, a carga horária e a possibilidade
de aceleração de estudos foram abordadas na aula 1 e serão sintetizadas por
etapa. Vamos detalhar cada uma a seguir.

2.1.2 Educação infantil

A educação infantil tem uma história que envolve vários avanços nos
últimos anos, ainda que sejam insuficientes temporariamente para o atendimento
da demanda e oferta com qualidade. Sobre a idade que compreende os alunos
da etapa e a obrigatoriedade de matrícula por parte dos responsáveis afirma-se
que a faixa etária da etapa de ensino compreende de 0 aos 5 anos e a matrícula
obrigatória se dá a partir dos quatro anos.

A educação é um direito da criança e um dever do Estado, conforme


preceitua o art. 208 da nossa Constituição. Vejamos as principais características
dessa etapa de ensino:

- Compreende crianças de zero a cinco anos;


- É dividida em creche (zero a três anos) e pré-escola (quatro e cinco
anos);
- É obrigatória sua oferta para atendimento da demanda, sendo
obrigatório a matrícula pelos pais e responsáveis a partir dos quatro
anos, de acordo com a Emenda Constitucional n. 59/09;
- Tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5
(cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade;
- Suas regras comuns têm como base: avaliação mediante
acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o
objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental,
carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por
um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional,

18
atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o
turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral, controle de
frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a
frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas e
expedição de documentação que permita atestar os processos de
desenvolvimento e aprendizagem da criança (redação do art. 31 da
LDB).

As regulamentações mais importantes descritas no último tópico acima


são recentes, provenientes da redação da lei n. 12796/13, assim como a maioria
das regulamentações da educação infantil enquanto etapa de ensino.

2.1.3 Ensino fundamental

O ensino fundamental compreende a faixa de 1º ao 9º ano, ou seja, nove


anos. A idade de início dessa etapa é aos seis anos. Os art. 32 e 33 da LDB
descrevem as características dessa etapa. Além disso, cabe destacar aspectos
descritivos da educação básica entre os art. 22 e 27.

- O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios


básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo, além da
compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade.
Aquisição de conhecimentos e habilidades aliado a formação de
atitudes e valores, fortalecendo vínculos familiares, laços de
solidariedade humana e de tolerância;
- Possibilidade de desdobrar o sistema de ensino em ciclos e
progressão continuada;
- Mínimo de 800 horas anuais, distribuído por no mínimo quatro horas
diárias, com mínimo de 75% de frequência das horas letivas do aluno;
- Mínimo de 200 dias letivos, com ensino a distância em situações
complementares;
- Progressividade para ensino integral;

A diversidade cultural e socioeconômica brasileira permite que


localidades tenham algumas especificidades no contexto educacional. Sobre as
formas de progressão do Ensino Fundamental brasileiro, a legislação estabelece
que o ano letivo pode ser desdobrado em ciclos e progressão continuada.

A diversidade de povos que imigraram para o Brasil é muito grande.


Assim, existem bairros, comunidades, que tem em seu seio familiar e comunitário
outras línguas em comum, sendo assim a educação no ensino fundamental deve
ministrar a Língua Portuguesa e nas comunidades indígenas na sua língua
materna quando for o caso. O ensino deve ser dado na Língua Portuguesa. No

19
entanto, algumas adequações curriculares são permitidas, como o ensino na
língua materna indígena, assim como ensino a distância em determinadas
situações.

Saiba Mais
De acordo com a LDB, o currículo do ensino fundamental
deve incluir obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos
das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no
8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da
Criança e do Adolescente, com produção e distribuição de
material didático adequado.

2.1.4 Ensino médio

As principais características do ensino médio comum são:

 Carga horária mínima de 800 horas, 200 dias letivos e 4 horas diárias,
com mínimo de 75% de frequência das horas letivas do aluno;

 Consolidação e aprimoramento dos conceitos adquiridos no ensino


fundamental, assim como autonomia para continuar aprendendo, preparo
para o trabalho e para cidadania;

 Aprofundamento científico e tecnológico em cada disciplina, formação


humana voltada à criticidade, ética e autonomia intelectual;

 Metodologias de avaliação voltadas à iniciativa do estudante;

 Inclusão das disciplinas de Filosofia e Sociologia, as quais são ofertadas


apenas no ensino médio.

20
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996

Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

[...]
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo
com as seguintes regras comuns:
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de
duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais,
quando houver;
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino fundamental, pode
ser feita:
a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase anterior,
na própria escola;
b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas;
c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que
defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na
série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino;
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento escolar
pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a sequência do currículo,
observadas as normas do respectivo sistema de ensino;
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis
equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou
outros componentes curriculares;
V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os
de eventuais provas finais;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo,
para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de
ensino em seus regimentos;

VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu regimento e


nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco
por cento do total de horas letivas para aprovação;
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares, declarações de conclusão
de série e diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com as especificações cabíveis.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm

O art. 24 da LDB elenca algumas características que o ensino


fundamental e médio terão em comum no país, o mesmo destaca a carga horária
de 800 horas mínimas anuais distribuídas por no mínimo 200 dias letivos.

21
O controle de frequência por parte da instituição de ensino é
regulamentado pela LDB. A lei obriga as escolas a zelarem pela
mesma e acionarem o Conselho Tutelar caso as crianças não
estejam com regularidade frequentando a escola. Sobre carga
horária de frequência na educação básica é obrigatório o mínimo
de 60% de frequência para a pré-escola e 75% para ensino
fundamental e médio no total da carga horária.

A LDB também contempla outras modalidades do ensino médio como a


educação profissional e técnica de nível médio e a educação de jovens e adultos,
que abrangem ensino fundamental e médio.

Saiba Mais
De acordo com a LDB, no texto da lei n 11645/08 é obrigatório
nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino
médio, públicos e privados o estudo da história e cultura afro-
brasileira e indígena.

2.1.5 Educação superior

Entre os art. 43 e 57 da LDB tem uma série de objetivos, modalidades


previstas e regulamentações acerca de seu funcionamento. Cabe ressaltar que
qualquer ente federado pode prover a administração de uma universidade,
contanto que comprove manutenção da demanda prioritária de ensino na qual é
responsável. Não cabe em nosso estudo esmiuçar as características da
educação superior pública, normalmente administrada e financiada diretamente
pela União, mas é interessante que a entenda como um nível de ensino com
diversas modalidades como graduação, pós-graduação Lato Sensu e Stricto
Sensu, formação tecnológica, presenciais ou a distância, reguladas pelo Poder
Público.

22
Vocabulário
Lato Sensu: em sentido amplo.
Stricto Sensu: em sentido restrito.

2.1.6 Educação de jovens e adultos

Marginalizada em boa parte da história da educação brasileira, a


Educação de Jovens e Adultos (EJA) começou a ter alguma prioridade a partir
da política de fundos que contemplou essa modalidade de ensino (FUNDEB).
Anteriormente a oferta existia, mas era custeada unicamente pelo ente federado,
gerando dificuldades em dar conta de manter a escolarização obrigatória, no
caso o ensino fundamental.

Abaixo alguns marcos legais que permearam a modalidade em questão:

 Lei n. 5692/71: Ensino Supletivo – cursos e exames;


 LDBEN nº 9394/96: Educação de Jovens e Adultos – cursos e exames.
Os art. 37 e 38 regularizam essa etapa de ensino;
 Lei n. 11494/07, regulariza o FUNDEB e contempla as matrículas da EJA
na conta da redistribuição;
 Programas Nacionais de Livro Didático e Alimentação Escolar, (PNLD e
PNAE) que passam a incluir a EJA.

2.2 União, estados e municípios: quais suas responsabilidades


educacionais?

Vale observar com base na legislação vigente como a mesma distribui


as obrigações de cada ente federado, algumas modificações que ocorreram, em
particular após os anos 2000, a qual evidencia-se o aumento de anos de
escolarização obrigatória, modificações no Ensino Fundamental e na Educação
Infantil.

23
2.2.1 Responsabilização dos entes após 1988

Após 1988, quando foi promulgada a Constituição Cidadã, temos


mudanças significativas na educação brasileira. A educação passa a ser um
direito social (art. 6º) e o status de ente federado aos municípios lhes conferindo
responsabilidades normatizadas para com a educação.

A Constituição Federal em vigência no Brasil é promulgada no ano de


1988, sendo considerada a Constituição Cidadã pela inclusão de uma série de
direitos sociais e seu teor democrático, e no que tange a educação pode-se
afirmar que ela é tratada como dispor de um capítulo exclusivo que discorre
sobre princípios, deveres de oferta entre outras disposições legais.

A Constituição é modificada pela Emenda Constitucional n°. 14/96 em


seu art. 211, definindo as ofertas prioritárias dos entes da seguinte maneira:

EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 14
DE 12 DE SETEMBRO DE 1996

[...]
Art. 211 […]
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as
instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função
redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e
padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios;
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação
infantil.
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e
médio.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc14.htm

Observa-se que a União tem caráter complementar, porém as


obrigações quanto à educação básica são de responsabilidade dos estados e
municípios. A organização dos sistemas de ensino brasileiro exige uma
disposição legal extensa. A Constituição elenca no art. 211 a metodologia básica

24
para esse fim, e explicita que a União, estados e municípios organizarão em
regime de colaboração seus sistemas de ensino.

Existe um conflito de prioridades nos parágrafos 2º e 3º, que


estabelecem como prioridades de oferta para o ensino fundamental os estados,
Distrito Federal e municípios. Na prática, a educação infantil é de
responsabilidade quase exclusiva dos municípios e o ensino fundamental de
forma compartilhada com os estados. Alguns municípios optam por priorizar os
anos iniciais da etapa referida, enquanto os anos finais ficam a cargo dos
estados. Em vários municípios onde a municipalização é mais forte a oferta do
ensino fundamental em todos seus anos é de responsabilidade municipal. Há
localidades onde a arrecadação e as condições financeiras são muito precárias,
restando aos estados a oferta educacional, com exceção da educação infantil.

Não resta dúvida na legislação que os estados devem atuar


prioritariamente na oferta do ensino médio. O art. 10 da LDB prioriza essa
demanda.

2.2.2 Responsabilidades da União

A Constituição Federal reforça o caráter supletivo, assistência técnica e


financeira da União com os estados, municípios e Distrito Federal. No entanto,
existem uma série de obrigações legais do ente maior para com a educação.

Segundo o art. 8º da LDB, cabe à União “coordenação da política


nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo
função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias
educacionais”.

O art. 9º descreve as incumbências da União da seguinte forma:

Art. 9º […]
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais do
sistema federal de ensino e o dos Territórios;
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de
ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória,
exercendo sua função redistributiva e supletiva;

25
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o
ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e
seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica
comum;
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação;
VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar
no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os
sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria
da qualidade do ensino;
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós-
graduação;
VIII - assegurar processo nacional de avaliação das instituições de
educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem
responsabilidade sobre este nível de ensino;
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar,
respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os
estabelecimentos do seu sistema de ensino. (LDB, 1996. S/p).

Um aspecto fundamental citado na aula 1 refere-se ao financiamento da


educação. De acordo com o art. 69 da LDB, a União não poderá se furtar de
aplicar no mínimo 18% da receita resultante de impostos na manutenção e
desenvolvimento do ensino público. Não entram nessa conta, de acordo com
parágrafo 1º, as transferências constitucionais para estados e municípios. De
fato são incumbências gerais.

Amplie Seus Estudos


SUGESTÃO DE LEITURA
Leia do livro Políticas Educacionais: conceitos
e debates, de autoria de Ângelo Ricardo de
Souza; Andréa Barbosa Gouveia e Taís Moura
Tavares, a obra aborda os principais temas do
campo de pesquisa e estudos das Políticas
Educacionais e serve de suporte na formação
de novos quadros de pesquisas, pautando a
leitura da ação pública sobre a educação
considerando as diversas faces das disputas
pelo poder presentes nesse campo.

26
2.2.3 Responsabilidades dos estados e Distrito Federal

Como responsabilidade principal, como vimos anteriormente, cabe a


esses entes federados assegurar a oferta de ensino fundamental e atender a
demanda de ensino médio. A universalização do ensino fundamental é política
pública desde a Lei n. 5692/71, o antigo 1º grau. No entanto, após 1988, tal etapa
de ensino é descrita como obrigatória no texto constitucional, sendo substituída
pelo texto da Emenda Constitucional n. 59/09, que estende a obrigatoriedade de
ensino dos 4 aos 17 anos. Isso implica mais responsabilidade aos Estados, pois
alunos que antes não tinham obrigação de estarem na escola agora devem ser
atendidos prioritariamente, em particular os do ensino médio.

A universalização do ensino médio é um grande desafio, na aula 4


teremos um panorama de matrículas por etapa no Brasil e observaremos o quão
longe está a conquista dessa meta. Segundo o Plano Nacional de Educação, lei
n. 13005/14 sua universalização tem prazo, 2016.

O art. 10 da LDB sintetiza as responsabilidades dos estados e Distrito


Federal com a educação.

LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996

[...]
Art. 10 […]
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de
ensino;
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamental, as
quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a
população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do
Poder Público;
III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes
e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus
Municípios;
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos
das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino;
V - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio a todos que
o demandarem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei.
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual.
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as competências referentes aos Estados
e aos Municípios.
[...]
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm

27
O inciso VI, que referencia o art. 38, Trata da Educação de
Jovens e Adultos, uma oferta que ainda mantém um status
marginal no país e tão importante para boa parte da população
que não teve oportunidade de se escolarizar na idade certa; e o
art. 69 da referida lei estabelece o investimento mínimo de vinte
e cinco por cento da receita de impostos e transferências
constitucionais, em particular do FUNDEB, para manutenção e
desenvolvimento do ensino.

Importante
A LDB descreve em seus artigos n°. 70 e 71 o que são (ou não)
considerados gastos com manutenção e desenvolvimento do
ensino.

2.2.4 Responsabilidades dos municípios e Distrito Federal

Os Municípios como entes federados tiveram um aumento em suas


responsabilidades a partir da Constituição de 1988, dentre elas está a oferta na
educação. A Educação Infantil, era vista em boa parte dos municípios brasileiros
como um serviço de assistência social, a qual passou a ser considerada uma
etapa de ensino após a LDB, passando por diversas reformulações e adaptações
dos municípios.

Algumas das responsabilidades dos municípios são descritas no art. 11


da LDB.

LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996

[...]
Art. 11 […]
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de
ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados;
II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
III - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;

28
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema de ensino;
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino
fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas
plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais
mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino.
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal.
[...]
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm

Destacam-se alguns aspectos dessas responsabilidades, as quais


enfocam na integração com as políticas e planos educacionais dos Estados e
União. Os municípios têm autonomia em ter seu próprio sistema de ensino ou
integrar-se aos sistemas estaduais. Outro aspecto à destacar-se é a ressalva
que o inciso V contempla ao alertar sobre a oferta de outras etapas ou
modalidades de ensino mediante à oferta obrigatória.

O art. 69 também vincula receitas de impostos dos municípios


ao investimento em educação, tendo como percentual os
mesmos 25% de Estados e Distrito Federal.

2.3 Emenda Constitucional n. 59/09

Um marco importante na educação brasileira foi a Ementa Constitucional


n. 59, a qual foi responsável por mudanças importantes para os entes federados,
modificando o art. 208, contemplado de forma obrigatória a educação básica dos
4 aos 17 anos e o atendimento ao educando da Educação Básica. O art. 208 da
Constituição é importante pois estabelece as obrigações do Estado com a
educação brasileira, através de Programas suplementares do governo federal
como PNATE (Programa Nacional de Transporte Escolar) e o PNLD (Programa
Nacional do Livro Didático), os quais são de grande importância. Sobre isso o
artigo de referência dispõe em seu texto que o atendimento via programas
suplementares de material didático escolar, alimentação, transporte e acesso à
saúde devem ser ofertados para todas as etapas da educação básica. Além

29
disso ele enfatiza o regime de colaboração para universalização do ensino
obrigatório.

Outra modificação fundamental é a progressiva desvinculação das


receitas da União para o financiamento da educação, anteriormente 20% das
receitas de impostos da União eram desvinculadas do financiamento ao sistema
educacional. Com o fim de tal desvinculação, o cálculo do investimento em
educação por parte da União provém da totalidade de sua receita de forma
progressiva.

Importante
Com base nas legislações vigentes sobre as responsabilidades
dos entes federados é importante para entender a
complexidade de incumbências, em particular dos estados e
municípios na oferta da escolarização obrigatória é necessário
o entendimento das características, pontos em comum e
diferenças entre as etapas de ensino da educação básica.

Resumo da Aula 2

Nesta aula analisaram-se as características de cada nível de ensino da


educação brasileira, com foco na educação básica, evidenciando as principais
características da educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.

São aspectos importantes que auxiliam o entendimento da rotina da


escola e a importância do cuidado na confecção do calendário escolar,
norteando as ações pedagógicas e os planos de trabalho docente.

Reforçaram-se também as principais responsabilidades atribuídas a


cada ente federado com base nas legislações vigentes, em particular a Lei de
Diretrizes e Bases, as quais incumbências auxiliam no entendimento da gestão
dos sistemas de ensino, auxiliando no entendimento do sistema educacional
brasileiro.

30
Atividade de Aprendizagem
Os art. 29 ao 36 da LDB n°. 9394/96, tratam das características
das etapas de ensino da educação básica. Discorra sobre
essas características.

Aula 3 – Regime de colaboração entre os entes federados, sistemas de


ensino e a organização educacional brasileira à luz do Plano Nacional de
Educação
Apresentação Aula 3

Nesta aula será discutido o regime de colaboração entre União, Estados


e Municípios, enfatizando as normativas básicas dos sistemas de ensino,
efetuando uma análise do pacto colaborativo embasado no Plano Nacional de
Educação.

3. Regime de colaboração entre os entes federados, sistemas de ensino e


a organização educacional brasileira à luz do Plano Nacional de Educação
Após a discussão baseada nas legislações vigentes acerca da
organização da gestão dos sistemas de ensino no Brasil, a descrição das
características dos níveis de ensino ofertados e das responsabilidades dos entes
federados quanto à sua oferta, o foco agora será na discussão sobre tais
incumbências com base no regime de colaboração entre os entes. Outra
necessidade é o entendimento de que maneira efetuam-se os regulamentos dos
sistemas de ensino brasileiro, visto que a legislação permite que os Estados e
Municípios possuam seu próprio sistema educacional.

Vale reforçar a importância de analisar-se o Plano Nacional de Educação


a fim de identificar as características, as quais são de grande importância para
as que alcancem-se as metas estipuladas para a educação brasileira.

3.1 Regime de colaboração entre os entes federados

A legislação brasileira aborda em vários trechos de seus textos que para


a efetividade do direito à educação, atendendo a demanda com qualidade e

31
equidade, se faz necessário que União, Estados, Distrito Federal e Municípios
atuem em conjunto, no que as leis chamam de regime de colaboração.

Evidentemente que um estado da Região Sul do país não agiria


diretamente em regime de colaboração com um município da Região Nordeste,
por exemplo, mas a estrutura organizacional da educação do Brasil permite que
isso aconteça.

3.1.1 Constituição, LDB e o regime de colaboração

O art. 211 da Constituição é bem claro: “A União, os Estados, o Distrito


Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas
de ensino”. Trata-se de uma definição genérica, porém importante pois tal
normativa acaba por delinear várias outras no sentido de pôr em ação a prática
colaborativa. Nesse mesmo artigo, a Ementa Constitucional de n°. 59/09
acrescenta no parágrafo 4º onde imputa aos entes a definição de formas de
colaboração com o objetivo de assegurar a universalização do ensino
obrigatório.

O art. 214 que trata do Plano Nacional de Educação tem um sentido


bastante colaborativo. Tal artigo tem por objetivo estabelecer que haja a lei e
mais que isso, que as metas traçadas por ela sejam atingidas articulando o
Sistema Nacional de Educação em regime de colaboração.

Em um país com extensões continentais como o Brasil e com tamanha


desigualdade entre as regiões é imprescindível que os entes atuem em conjunto
e o PNE é ferramenta importante para a atuação integrada dos entes federados
para atingir as metas educacionais.

Na LDB o regime de colaboração é contemplada em diversos artigos,


sendo importante que se analise o pacto colaborativo para a oferta de ensino
com qualidade e equidade, o qual estabelece as suas metas via Plano Nacional
de Educação. No inciso I do art. 9º é estabelecido à União elaborar o Plano
Nacional de Educação em colaboração com os estados e municípios. No mesmo
regime colaborativo, o inciso IV do referido artigo refere-se ao estabelecimento
de competências e Diretrizes para as etapas da educação básica, visando
norteamento dos currículos e conteúdos mínimos, no sentido de estabelecer

32
uma base nacional comum, aliás uma discussão bastante atual. O processo de
avaliação nacional de rendimento escolar deve ser assegurado através desse
processo de ajuda mutua entre os entes, conforme preceitua o inciso VI.

Vale reforçar que no art. 10 contempla a colaboração entre estados e


Municípios na oferta do ensino fundamental.

Nas redações dos incisos II e III contemplam:

Art. 10 […]
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do
ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição
proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser
atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas
esferas do Poder Público.
III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em
consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação,
integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios;
(LDB, 1996. S/p.)

Sendo uma definição importante, a medida que vários municípios


brasileiros compartilham essa responsabilidade com os estados. No art. 62 o
parágrafo 1º estabelece um ponto importante referente à formação continuada
dos profissionais do magistério.

Art. 62 […]
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios, em regime
de colaboração, deverão promover a formação inicial, a continuada e
a capacitação dos profissionais de magistério. (LDB, 1996. S/p.)

Existem cursos e programas de capacitação que envolvem várias


esferas dos governos. Docentes de universidades federais palestrando em redes
municipais, capacitações de sistemas estaduais de ensino sendo abertas a
professores de qualquer ente federado, ações que são importantes no objetivo
de fortalecer a formação continuada dos professores.

3.1.1.1 Regime de colaboração no financiamento da educação

O regime de colaboração entre os entes federados no que diz respeito ao


financiamento da educação aparece com a política de fundos. Anteriormente, já
existia vinculação de recursos de impostos da educação, no entanto era uma
obrigação que em alguns momentos foi somente de municípios, em outro foi de

33
municípios e estados e com participação complementar da União quase sempre
pouco efetiva. A partir de 1988, o texto constitucional garante vinculação mínima
de recursos, conforme já citamos em nossa disciplina, no entanto a partir de 1996
com o FUNDEF (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e Valorização do Magistério) e o seu substituto FUNDEB (Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização do
Magistério) uma parte da arrecadação retorna aos cofres da União, sendo
redistribuído de acordo com a quantidade de matrículas via conta contábil
estadual.

Em parte isso auxiliou na diminuição da desigualdade, onde entes com


maior arrecadação auxiliaram outros com arrecadação menor. No FUNDEB a
diminuição da desigualdade foi menor, em particular por dois fatores: a conta
considerava apenas estudantes do ensino fundamental e o papel complementar
da União para garantir o valor mínimo por aluno para cada Estado ou Município
foi insignificante. Já com a existência do FUNDEB existem alguns estudos que
comprovam que a desigualdade diminuiu. Além disso o papel complementar do
governo federal foi mais efetivo, no sentido de auxiliar os municípios que não
conseguiram chegar ao valor mínimo por aluno calculado anualmente pelo
governo.

O valor mínimo por aluno é regulamentado através da Emenda


Constitucional n.53/06, a qual modifica a Constituição no art. 60 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, em particular na letra b do inciso III,
assim como em todo artigo são descritas as considerações referentes ao
FUNDEB.

O regime de colaboração entre os entes federados na


organização do sistema escolar é previsto em vários pontos da
LDB. Sobre o modelo de financiamento da educação brasileira,
o qual a partir de 1996, implantando no país a política de fundos,
primeiramente com o FUNDEF e a partir de 2007 com o
FUNDEB, no sentido de redistribuir parte dos recursos
vinculados à educação com base na quantidade de matrículas e
etapa/modalidade do aluno.

34
3.2 Sistemas de ensino

Saviani (1999) propõe algumas reflexões acerca do termo sistema.


Usualmente ele é tido como uma organização que administra escolas. Assim ele
pode ter como classificação o ente federado que o administra, ou seja, federal,
estadual, municipal ou particular. A organização do sistema escolar brasileiro
abrange um território vasto. A forma como esse foi explorado ao longo do tempo
resultou na diversidade etnocultural e socioeconômica que caracterizam o
conjunto de Municípios e Estados da Nação. Os sistemas de ensino são uma
forma de fazer o Poder Público estar mais próximo das escolas, sendo
basicamente responsável pela administração das escolas que estão sobre sua
responsabilidade.

A existência dos sistemas de ensino é normatizada pelo art. 211 da


Constituição, já citado na seção anterior dessa aula. Nesse artigo é estabelecido
a necessidade do regime de colaboração entre os entes federados, como
discutimos anteriormente. Porém o parágrafo 4 faz menção aos sistemas de
ensino.

Art. 211 […]


§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de
modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. (EMENDA
CONSTITUCIONAL, 1996. S/p.)

Nesse contexto a mesma estabelece a possibilidade de pluralidade de


sistemas de ensino no país. Entre outras justificativas o Plano Nacional de
Educação se justifica no art. 214 pela possibilidade de articular e juntar todos os
sistemas de ensino em um regime de colaboração e objetivação de metas em
comum. Vejamos a seguir o que as leis complementares dispõe sobre o assunto.

3.2.1 Sistemas de ensino à luz da LDB

Na LDB o art. 8º enfatiza o regime de colaboração e a União como


mediadora da liberdade dos sistemas de ensino, respaldados nos termos da lei.
A União tem responsabilidades, segundo a LDB, com os sistemas de ensino,

35
prestando assistência técnica e financeira e promovendo um sistema de
avaliação nacional em colaboração com os mesmos.

Aos Estados e Municípios cabem manter seus sistemas de ensino, assim


como baixar suas normas complementares. Aos Municípios cabe também
manter seus sistemas municipais, porém cabe comparar os dois incisos, do art.
10 e 11.

Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:


I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais
dos seus sistemas de ensino;
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais
dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos
educacionais da União e dos Estados; (LDB, 1996. S/p.).

O Plano Nacional de Educação tem, entre outros objetivos, o de propor


articulações entre os sistemas de ensino visando o cumprimento das metas
estabelecidas. O papel base da União, segundo a LDB, sobre o regime de
colaboração entre os entes é ser um mediador no regime de colaboração entre
os entes, prestando assistência técnica e financeira e estabelecendo um sistema
nacional de avaliação em colaboração com os mesmos.

Aos municípios imputa a integração com as demais políticas e planos


educacionais dos entes maiores. Nos art. 14 ao 18 no texto da LDB estabelecem
princípios dos sistemas de ensino e que instituições compõe cada ente federado.

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão


democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as
suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do
projeto pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes.
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares
públicas de educação básica que os integram progressivos graus de
autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira,
observadas as normas gerais de direito financeiro público. (LDB, 1996.
S/p.).

Uma característica regular marcante em relação ao gerenciamento dos


sistemas de ensino que é sua ênfase democrática, em particular nos
estabelecimentos de ensino. Ou seja, um aspecto fundamental para os textos
36
legais na educação brasileira é a autonomia e democracia nas escolas, tendo
como formulador e executor das políticas locais voltadas aos sistemas de ensino.

Ao analisar os art. 16 ao 18, que dispõe das instituições que compõe os


sistemas de ensino federal, estadual e municipal.

LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996

[...]
Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:
I - as instituições de ensino mantidas pela União;
II - as instituições de educação superior criadas e mantidas pela iniciativa privada;
III - os órgãos federais de educação.
Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal compreendem:
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo Poder Público estadual e pelo
Distrito Federal;
II - as instituições de educação superior mantidas pelo Poder Público municipal;
III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas e mantidas pela iniciativa
privada;
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, respectivamente.
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de educação infantil, criadas e mantidas
pela iniciativa privada, integram seu sistema de ensino.
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:
I - as instituições do ensino fundamental, médio e de educação infantil mantidas pelo Poder
Público municipal;
II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela iniciativa privada;
III – os órgãos municipais de educação.
[...]
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm

Existe uma ressalva aos municípios que não tem sistema de ensino. No
parágrafo único do art. 11 o texto ressalta que “os Municípios poderão optar,
ainda, por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um
sistema único de educação básica”. Assim, municípios menores com poucos
recursos e escolas normalmente se integram aos sistemas estaduais. As
normativas para a criação de sistemas municipais de ensino são deliberadas
pelos estados e tem suas peculiaridades em suas tramitações e como
estabelece a LDB cabe ao município optar por ter seu sistema educacional
próprio.

Cabe aos sistemas de ensino normas complementares para educação


técnica, assegurar o fornecimento da educação de jovens e adultos, assegurar

37
atendimento especializado aos educandos com deficiência, transtornos globais
de desenvolvimento, altas habilidades e superdotação, a valorização dos
profissionais do magistério, estabelecimento de normas para educação à
distância, podendo ocorrer cooperação entre os entes para tal.

Amplie Seus Estudos


SUGESTÃO DE LEITURA
Leia o artigo Sistema Nacional de Educação: desafio para
uma educação igualitária e federativa, de autoria de Carlos
Roberto Jamil Cury, o qual discute o Sistema Nacional de
Educação (texto publicado na revista Educ. Soc., Campinas,
vol. 29, n. 105, p. 1187-1209, set./dez. 2008).
Disponível no acesso:
http://www.scielo.br/pdf/es/v29n105/v29n105a12.pdf

3.3 Plano Nacional de Educação

Para consolidação dos conhecimentos adquiridos e reflexão acerca da


organização da gestão educacional no país nosso objetivo é discutir o regime de
colaboração entre os entes federados à luz do texto do Plano Nacional de
Educação. A lei n. 13005/14 que materializa essas metas foi resultado de amplo
debate em nível nacional com diversas entidades e a realização de vários fóruns
que junto a CONAE (Conferência Nacional de Educação) sintetizaram em um
projeto de lei discutido no Congresso Nacional até ser sancionado na forma da
lei. Vamos observar como essa articulação entre União, estados e municípios é
abordada.

Pesquise
Visite o site da CONAE e saiba mais sobre os assuntos em
pauta na agenda brasileira.
Link: http://conae.mec.gov.br/

38
Na agenda educacional brasileira, a qualidade em educação um assunto
que gera controvérsias. Isso se deve ao fato da polissemia que a palavra
qualidade tem, cada pessoa tem sua visão de qualidade. Sobre o assunto, a
Constituição estabelece que o ensino deve ser ministrado com garantia de
padrão de qualidade.

Vocabulario
Polissemia: é um conceito da área da linguística com origem
no termo grego polysemos, o que significa "algo que possui
muitos significados".

3.3.1 Regime de colaboração entre os entes federados e o PNE

O art. 7º do PNE aborda o regime de colaboração com vistas ao alcance


de metas e a implementação das estratégias contidas no plano, considerando
no decorrer do texto do artigo possibilidades de articulações e políticas locais
voltadas à complementação de cooperação e pacto colaborativo entre os entes,
de acordo com as especificidades locais e territoriais.

O art. 11, fundamental para pensarmos em Sistema Nacional de


Educação e a integração entre os demais sistemas, trata do Sistema de
Avaliação da Educação Básica (SAEB). O referido artigo refere-se ao SAEB
como um instrumento coordenado pela União e que em colaboração com os
entes federados constituirá fonte de dados informativos para orientação das
políticas educacionais e avaliação da qualidade da educação brasileira.

Outro assunto em voga, citado pelo art. 13, é a instituição do Sistema


Nacional de Educação. Segundo o artigo, a instituição desse sistema por meio
de lei possibilita a articulação dos demais sistemas de ensino para efetivação
(em regime de colaboração) das diretrizes e metas dispostas no PNE.

Uma das estratégias mais presentes no texto da lei do PNE para atingir
as metas propostas é a atuação em regime de colaboração entre os entes

39
federados. Em todo texto do PNE a palavra colaboração aparece 34 vezes, ou
seja, a articulação do governo federal para que tenha êxito nas metas do plano
passa obrigatoriamente pelo pacto colaborativo entre União, estados e
municípios. A seguir organizamos um quadro, onde estão dispostas as metas da
referida lei que carecem, segundo o texto, de regime de colaboração,
sintetizando a importância da articulação dos entes para o desenvolvimento da
educação brasileira:

Quadro 1 – Metas do Plano Nacional de Educação que citam regime de


colaboração entre os entes federados - 2016

ESTRATÉGIAS
QUE CITAM
METAS TEMA PRINCIPAL
REGIME DE
COLABORAÇÃO

Universalização da pré-escola até 2016 e atendimento 1.1; 1.3; 1.5; 1.14;


Meta 1
de 50% da demanda de creches. 1.16
Universalização do ensino fundamental de 6 à 14 anos
Meta 2 2.1
e garantia de 95% de conclusão na idade certa.
Universalização do ensino para alunos de 15 a 17
Meta 3 anos e aumento para 85% da taxa líquida de 3.2
matrículas no ensino médio.
Ofertar educação integral em 50% das escolas
Meta 6 6.2; 6.3
públicas, com 25% da demanda de alunos atendida.
Melhoria de fluxo e aprendizagem, mediante êxito nas
Meta 7 7.3; 7.19; 7.21
metas traçadas pelo Ideb.
Meta 9 Erradicar o analfabetismo 9.5; 9.8
25% das matrículas da EJA integradas ao ensino
Meta 10 10.8; 10.10
profissional.
Política nacional de formação dos profissionais da Texto da meta e
Meta 15
educação. 15.11
Formação em nível de pós-graduação de pelo menos
Meta 16 16.1;
50% dos docentes da educação básica.
Meta 18 Estabelecimento de Planos de Carreira. 18.5
Ampliar o investimento público em educação (10%
Meta 20 20.1; 20.9
PIB).
Fonte: Lei n. 13005/14. Dados trabalhados pelo autor (2016).

O regime de colaboração proposto pelas legislações, em particular a


LDB, aparece como essência do cumprimento de metas do Plano Nacional de
Educação. Isso fica evidente nas estratégias para o cumprimento de algumas
40
metas, destacando a universalização da pré-escola e do ensino fundamental
para alunos de 6 à 14 anos.

O PNE é um documento muito rico e repleto de metas e estratégias a


serem adotadas no país para os próximos anos. Outros destaques são as metas
para os níveis de ensino brasileiros (educação básica e educação superior),
assim como políticas de avaliação, aumento da demanda, erradicação do
analfabetismo e financiamento da educação, que serão discutidos
minuciosamente em outro momento do curso.

LEI N°. 13005/14, de 25 de junho de 2014

Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu


sanciono a seguinte Lei:
Art. 1° É aprovado o Plano Nacional de Educação - PNE, com vigência por 10 (dez)
anos, a contar da publicação desta Lei, na forma do Anexo, com vistas ao cumprimento do
disposto no art. 214 da Constituição Federal.
Art. 2° São diretrizes do PNE:
I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da
cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação;
IV - melhoria da qualidade da educação;
V - formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e
éticos em que se fundamenta a sociedade;
VI - promoção do princípio da gestão democrática da educação pública;
VII - promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País;
VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como
proporção do Produto Interno Bruto - PIB, que assegure atendimento às necessidades de
expansão, com padrão de qualidade e equidade;
IX - valorização dos (as) profissionais da educação;
X - promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à
sustentabilidade socioambiental.
[...]

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm

A legislação brasileira permite a presença de Conselhos de Educação


nos entes com sistemas de ensino. Quanto a sua normatização a legislação do
ente federado elenca as funções do Conselho, assim como sua composição.

41
A partir das descrições e análises das legislações, é perceptível o quão
é fundamental o regime de colaboração entre os entes federados, sendo essa a
realidade de um Estado Federativo complexo. Tal complexidade ganhou corpo
com a municipalização do ensino na maioria do território nacional, com o
surgimento de mais sistemas de ensino e suas peculiaridades. Os redatores do
Plano Nacional de Educação tiveram consciência disso, e no decorrer do texto
entende-se a importância do pacto colaborativo para que as metas propostas
pelo plano sejam atingidas.

Resumo da aula 3

Nesta aula as pautas foram divididas em três aspectos: regime de


colaboração entre os entes federados, sistemas de ensino e o pacto colaborativo
entre os entes à luz do Plano Nacional de Educação. O primeiro assunto mostrou
que o regime de colaboração é presente nos termos legais e importante quando
se trata de territórios com peculiaridades distintas nas diversas regiões
brasileiras, sendo que a colaboração e integração são fundamentais para que se
consolide um sistema nacional com uma base comum, seja curricular ou de
normativas das mais diversas.

O segundo assunto traz à tona a possibilidade que os textos da


legislação oferecem de considerar as especificidades de cada localidade
brasileira, ofertando aos municípios a possibilidade de acordo com sua
capacidade técnica e financeira, para administrar suas escolas através do seu
sistema próprio de ensino.

Para finalizar articularam-se os assuntos trazidos na aula à luz do PNE,


mostrando que o pacto colaborativo entre os entes é fundamental (nos termos
da lei), para a execução das estratégias e sucesso para atingir as metas.

42
Atividade de Aprendizagem
Analise as metas propostas do PNE, em particular as 3
primeiras, e discorra sobre elas, analisando e focando na
possibilidade dessas metas serem ou não atingidas.

Aula 4 – Conselhos nacionais, estaduais e municipais de educação e


conclusões acerca dos efeitos da gestão do sistema escolar no Brasil
Apresentação Aula 4
Nesta aula serão discutidas as características e principais concepções
que norteiam a composição e a prática dos Conselhos de Educação, sintetizando
os conhecimentos das aulas anteriores no sentido de entender o que toda essa
conjuntura implica na Gestão Escolar.

4. Conselhos nacionais, estaduais e municipais de educação e conclusões


acerca dos efeitos da gestão do sistema escolar no Brasil

A organização do sistema educacional brasileiro é complexa. Tal


complexidade, é decorrente entre outros fatores do federalismo e da extensão
territorial que nos apresenta uma diversidade cultural e socioeconômica, o que
resulta diferentes modos de gerir a educação nos Estados e Municípios. A União
tem um papel fundamental na tentativa de buscar uma base comum, articulando
um regime de colaboração entre os entes federados que proporcione uma
formação básica sólida em todas as regiões do país, com políticas voltadas à
oferta de educação com qualidade e equidade, com vistas à diminuição da
desigualdade tão acentuada em nosso país. Cabe agora olhar na legislação
quem fiscaliza essas ações, como são constituídos os Conselhos federais,
estaduais e municipais de educação. Além disso, não se pode deixar de analisar
alguns resultados em termos quantitativos e qualitativos da gestão do Sistema
Escolar Brasileiro.

43
4.1 Conselhos de Educação

A legislação brasileira contempla a existência de conselhos de educação


em todas as dependências administrativas, sendo elas Federais, Estaduais e
Municipais. Tais conselhos são órgãos normatizados pelos entes federados e,
nesse momento, é pertinente estudá-los em sua concepção, formação e função.

Vocabulário
Conselho: etimologia do latim consillium, que significa ouvir e
ser ouvido. No senso comum, a palavra significa opinião,
parecer, opinião amadurecida, assessoramento de alto nível.

4.1.1 Fundamentos gerais dos Conselhos de Educação

Os Conselhos de Educação, conforme afirma Cury (2000), são órgãos


colegiados, de caráter normativo, deliberativo e consultivo que interpretam,
deliberam, segundo suas competências e atribuições, a aplicação da legislação
educacional e propõem sugestões de aperfeiçoamento da educação dos
sistemas de ensino. Sua função básica é a garantia do direito constitucional da
cidadania (CURY, 2006). Os Conselhos são colegiados formados em sua base
por educadores. Em algumas localidades existem outros representantes da
sociedade. Um Conselho é na sua essência uma assembleia de pessoas, que
ouvem e são ouvidas em determinado assunto de interesse da população.

Um Conselho não fala pelo governo, mas para o governo. Como


defensores da cidadania, os conselheiros têm por obrigação falar em nome da
sociedade, com embasamento técnico legal e serem as portas vozes dos
anseios educacionais da população. Cury (2000) define basicamente quatro
funções dos conselhos escolares.

 A primeira função é deliberativa. Isso acontece quando a lei


atribui ao Conselho a função de decidir sobre determinado
assunto, como estabelecimento de normativas por exemplo.
Nessa função deliberativa os Conselhos não são legisladores,

44
muito menos atribuem deveres ao Executivo, a não ser que a lei
orgânica do ente federado atribua isso. O Conselho Nacional de
Educação, por exemplo tem atribuição legal para deliberar a
matéria educacional, expedindo a como fundamento de lei. Essas
deliberações são realizadas em formato de resolução.

 A segunda função é consultiva. De grande importância, a função


referida consiste em responder a consultas por parte do governo
ou da sociedade. Tais respostas normalmente são baseadas na
interpretação das leis e são encaminhadas por meio de
pareceres, sejam com apreciações legais sobre o tema ou
proposições que aperfeiçoem o problema apresentado. Cabe ao
Poder Executivo aceitar ou não o parecer emitido.

 A terceira função é fiscal. Apesar de não ser muito comum nos


Conselhos de Educação, essa atribuição tem por objetivo
fiscalizar o cumprimento de normas e se as ações estão baseadas
na legalidade. Seria necessário o Conselho ter poder deliberativo
e policial.

 A quarta função base dos Conselhos de Educação é de


mobilização, ou seja, servir como mediador entre o governo e a
sociedade, articulando os anseios de ambos no sentido de buscar
a oferta de educação com qualidade e atendimento da demanda.

Para cada Município ou Estado as funções do Conselho de Educação


variam de acordo com a lei orgânica do ente federado. De todos os municípios
que tem instituídos os Conselhos de Educação, a diversidade de normativas que
regulam a existência dos mesmos é grande. No entanto, as funções mais
comuns entre eles foram elencadas acima.

A função normativa do conselheiro em interpretar leis, representar os


anseios sociais e servir de mediador entre o governo e a sociedade é muito
peculiar e faz do mesmo um profissional que precisa de preparo técnico,
conhecimento das leis (CURY, 2006).

45
O Governo Federal mantém como capacitação técnica continuada o
Programa Nacional de Capacitação de Conselheiros Municipais de Educação
(Pró-Conselho). Segundo o texto do site, o programa tem por objetivo estimular
a criação de novos conselhos, fortalecer os já existentes e incentivar a sociedade
civil a fiscalizar o cumprimento das políticas educacionais locais. Qualificando
gestores, profissionais das secretarias de educação e integrantes da sociedade
civil, além dos conselheiros que já atuam nos Conselhos Municipais de
Educação.

Saiba Mais
Visite o site do Pró-Conselho e saiba mais sobre o assunto.
Link: http://portal.mec.gov.br/pro-conselho

4.1.2 Conselhos Nacionais, Estaduais e Municipais de Educação

Os Conselhos de Educação por ente federado, são formados de uma


forma particular, dividindo-se, o Conselho Nacional de Educação tem seu
formato atual desde a lei n. 9131/95, dividido em dois blocos, os conselheiros da
Câmara de Educação Básica (CEE) e Câmara de Educação Superior (CES),
sendo 50% indicados pelo Governo Federal e o restante indicado por entidades
nomeadas pelo governo.

Alguns Conselhos de Educação existem a décadas; outros são mais


recentes, criados após 1988. Sobre a existência dos Conselhos em suas
dependências administrativas pode-se afirmar que os Conselhos Estaduais de
Educação são normatizados desde 1961. Já os Conselhos Municipais, que
apesar de serem previstos em lei desde 1975, só passaram a ter mais autonomia
a partir de 1988, sendo instituídos em boa parte dos municípios que tem sistemas
de ensino.

Os Conselhos Estaduais normatizados a partir de 1961, pela Lei n°.


4024/61, já existiam nos Estados que já possuíam seus conselhos em

46
funcionamento. Desde então todos os Estados da federação tem seus
Conselhos de Educação.

Os Conselhos Municipais são regulados desde a década de 70, no


entanto com autonomia bastante reduzida. Somente a partir de 1988, com a
municipalização e a possibilidade de regularem seus sistemas de ensino que os
municípios passam a instituir seus Conselhos de Educação, mas com
características voltadas à representação popular, diferentemente dos Conselhos
das outras dependências administrativas que tem em sua composição cidadãos
notáveis, intelectuais e pensadores.

4.2 Organização do Sistema Educacional Brasileiro e implicações para a


Gestão do Sistema Escolar

Caminhando para o final da disciplina é inegável que a complexidade da


educação brasileira é grande e que alguns aspectos discutidos no decorrer das
aulas corroboram para isso. O Brasil possui uma extensão territorial grande, o
qual é uma República Federativa que é marcada pela diversidade cultural (e
socioeconômica) e um contexto histórico de evolução desigual entre as regiões
brasileiras, o que acarretou nas desigualdades sociais bastante acentuadas.

As localidades do Brasil tiveram condições diferentes para evoluir, em


particular a educação, não foi um crescimento homogêneo, muito menos
ordenado, resultando em panoramas desiguais e das dívidas sociais, as quais
precisam ser pagas.

O desafio é grande e nesse estudo pode-se perceber que o regime de


colaboração entre os entes federados é a marca das Políticas Educacionais
brasileiras, e nesse sentido, a possibilidade do Estado brasileiro continuar o
processo de redução da desigualdade e proporcionar condições de equidade
para o desenvolvimento da educação são grandes.

Como metodologia de análise do panorama da educação brasileira em


termos de organização, por entes federados, pretende-se estabelecer como foco
a educação básica analisando três de seus aspectos: as matrículas, o
atendimento da demanda e os resultados do Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB).

47
4.2.1 Dados de matrículas e o desafio após municipalização do ensino

A educação brasileira após 1988, passou por um processo de


municipalização, na qual, a maioria das matrículas na educação básica migraram
para os Municípios, decorrentes ao financiamento da educação, ao regime de
colaboração entre os entes federados, aos sistemas de ensino Municipais
administrando suas escolas e a descentralização por ocasião da reforma estatal
ocorrida em 1995, na ocasião da criação do Ministério da Administração e
Reforma do Estado (MARE).

4.2.1.1 Ensino Fundamental

Na tabela 1 tem-se um panorama de matrículas do ensino fundamental


comum. Optou-se por analisar as matrículas em um intervalo de tempo que
contemplasse alguns momentos históricos, 1980 (anos antes do fim da ditadura
militar e da Constituição Cidadã), 1989 (logo após a promulgação da mesma),
2002 (final do governo Fernando Henrique Cardoso) e 2012 (final da série
histórica com o Censo Escolar).

Tabela 1 – Matrículas no Ensino Fundamental Regular 1980 – 2012

Dependência
1980 1989 2002 2012
Administrativa

Federal 0,7% 0,5% 0,1% 0,08%

Estadual 52,8% 57,2% 40,5% 30,5%

Municipal 33,6% 29,8% 50,2% 55%

Particular 12,8% 12,5% 9,2% 14,4%

Total 22598254 27557542 35150362 29702498


Fonte: Oliveira e Araujo (2005). Pnad 2012. Censo Escolar 2012. Dados trabalhados
pelo autor (2016).

48
Os dados escolhidos para serem apresentados inicialmente foram do
ensino fundamental. Isso se deve ao fato das políticas nessa série histórica
estarem voltadas para essa etapa de ensino. Ainda que após 1988, 1996 e
principalmente a partir de 2007 as outras etapas da educação básica ganham
notoriedade, o ensino obrigatório desde 1971 é o de 1º grau (ensino
fundamental, atualmente).

Percebe-se que a municipalização do ensino gerou resultados no total


de matrículas em percentual. O aumento percentual dobrou em relação ao início
da série histórica, assim como o ensino fundamental na esfera Federal está
praticamente inexistente. Ressalta-se o fornecimento da oferta educacional
pelos Estados, que diminuiu quase pela metade em termos percentuais e o
aumento da procura pelo ensino privado de 2002 à 2012, acarretando no
aumento de 50% em termos de percentagem.

A migração de matrículas nos entes federados, o estabelecimento do


direito à educação a todos e o fim de testes de aptidão para o prosseguimento
dos estudos de uma etapa para outra foram algumas das ações que
possibilitaram o aumento de matrículas na educação básica. Analisando esse
panorama de matrículas no ensino fundamental pode-se afirmar que os
Municípios passaram a administrar a maior parte das matrículas no ensino
fundamental no país.

Fonte:
https://pedagogiadiversidade.wikispaces.com/file/view/brasil_TIPOGRAF_crv.png/2380
82379/443x377/brasil_TIPOGRAF_crv.png

49
Com base no Censo Escolar de 2012, apresenta-se uma tabela que
analisa o fluxo escolar por regiões do Brasil. A análise efetuou-se com os dados
dos anos iniciais e os anos finais em separado.

Tabela 2 – Análise de fluxo por matrículas e por Regiões (2012)

Região Anos Iniciais % Anos Finais %

Brasil 1.601.630 54 13.686.469 46

Norte 1.875.177 58 1.349.262 42

Nordeste 5.007.124 55 4.069.531 45

Centro-Oeste 1.213.103 54 1.001.003 46

Sudeste 58.54.264 52 1.781.073 48

Sul 2.066.362 55 5.485.635 45

Fluxo Brasil Anos Iniciais 10,8 Anos Finais 11,5


Fonte: Censo Escolar 2012. Dados trabalhados pelo autor (2016)

Pela tabela 2 pode-se concluir através da análise dos dados brasileiros


não sendo perceptível uma disparidade de fluxo muito grande. O esperado é que
cada ano do ensino fundamental tivesse 11,1% dos alunos, tendo-se assim um
fluxo regularizado, sem reprovações e com todos na idade certa, o que de fato
não ocorreu, porém não existem dados tão alarmantes, ainda que os anos finais
tenham maiores problemas. Não é o foco desta aula identificar o motivo de cada
desvio de fluxo, e sim visualizar o panorama da educação brasileira, na qual
ocorrem algumas disparidades regionais, Norte e Sudeste, por exemplo, mas o
restante das regiões estão bem próximas da média nacional.
A tabela 3 mostra um panorama de matrículas do ensino fundamental
por idade de alunos, analisando os anos de 2007 e 2012, com base no Censo
Escolar de 2013.

50
Tabela 3 – Matrículas no ensino fundamental no Brasil (2007-2012)

DESCRIÇÃO 2007 2012

Anos Iniciais 17.782.368 16.016.030

Anos Finais 14.339.905 13.686.468

Total 32.122.273 29.702.498

População 6-10 anos 17.067.885 15.302.401

População 11-14 anos 14.354.679 13.617.509

Taxa Matrícula Líquida


95,2% 97%
6-14 anos
Fonte: Censo Escolar (2013). Observatório do PNE. Dados Trabalhados pelo autor
(2016).

Os dados apresentam bons indicadores no que diz respeito à oferta e


universalização do ensino fundamental. A taxa líquida é importante, pois mostra
quantas pessoas na idade certa estão naquela etapa de ensino, e demonstra
que, apesar do desafio da universalização, haja vista as características já
mencionadas no decorrer desta disciplina, quanto a peculiaridade territorial
brasileira.

Importante
Taxa de Matrícula Líquida: é a divisão entre o número de alunos
matriculados na idade certa na etapa de ensino pela população
existente na faixa etária na localidade analisada. Quanto mais
próximo de 100% mais o atendimento é realizado em fluxo
escolar regular e com efetividade.

4.2.1.2 Educação Infantil


Evidenciou-se no decorrer desta disciplina que a Educação Infantil vem
conquistando cada vez mais espaço na agenda política brasileira, com
regulamentações e leis que garantam sua oferta com qualidade, e nesse

51
contexto a análise será de acordo com o Censo Escolar 2013, com os dados de
matrícula e taxa líquida de 2007 e 2012.

Tabela 4 – Matrículas por modalidade na educação infantil no Brasil (2007-


2012)

MODALIDADE,
2007 2012
POPULAÇÃO E TML

Creche 1.579.581 2.540.791

Pré-escola 4.930.287 4.754.721

Total 6.509.868 7.295.512

População 0-3 anos 10.956.920 10.553.268

População 4-5 anos 5.928.375 5.516.458

Taxa Matrícula Líquida


14,4% 24,1%
0-3 anos

Taxa Matrícula líquida


83,1% 86,2%
4-5 anos
Fonte: Censo Escolar (2013). Dados Trabalhados pelo autor (2016).

Algumas análises são importantes nesse quadro, as quais retratam o


desafio da universalização da pré-escola, conforme preceitua o PNE e a Emenda
Constitucional n. 59/09. São 86% das crianças em idade escolar matriculadas.
São milhares de vagas que devem ser criadas para atingir a meta de
universalização proposta. O PNE tem meta para a creche também. Ao menos
50% das crianças devem estar matriculadas ao final de sua vigência. Com
apenas 24,1% o desafio é grande para a gestão educacional brasileira. Mas de
2007 a 2012 ocorreram avanços significativos no atendimento à demanda. Os
percentuais cresceram e isso traz esperança para que as metas possam ser
atingidas.

52
4.2.1.3 Ensino médio
Talvez seja a etapa da educação básica como maior desafio, pois a
universalização do ensino para a população de 15 a 17 anos e a elevação da
taxa líquida de matrículas para 85% são metas ousadas.

Tabela 5 – Matrículas do ensino médio por população de 15 à 17


anos no Brasil (2007-2012)

DESCRIÇÃO 2007 2012

Matrículas 8.369.369 8.376.852

População 15 à 17 anos 10.262.468 10.444.705

Taxa de Matrícula
51,6% 59,5%
Líquida

Percentual de alunos de
79,5% 83,3%
15-17 anos na escola
Fonte: Censo Escolar (2013). Observatório do PNE. Dados trabalhados pelo autor
(2016).

O ensino médio no Brasil é uma etapa de ensino básica que apresenta


alguns problemas. Em parte é pela sua taxa de matrícula líquida baixa, em outra
é pela qualidade de ensino oferecida. Com base nos dados de matrículas de
2007 à 2012, fica evidente que com a diminuição do número de matrículas e o
aumento da população o cenário poderia ser muito ruim, no entanto com o
aumento da taxa de matrículas líquida, indica uma melhoria de fluxo escolar, ou
seja, existem mais alunos de 15 à 17 anos no ensino médio,
Mesmo com a Emenda Constitucional n°. 59, desde o ano de 2009 o
percentual de taxa de matrícula líquida no ensino médio estabilizou. É necessário
atacar duas frentes: a regularização do fluxo para que esses alunos cheguem na
idade certa no ensino médio e a oferta para atendimento da demanda aliado a
políticas de progressão nos estudos para que a taxa de matrícula líquida
aumente e os alunos possam exercer o direito à educação com o
prosseguimento das atividades escolares no ensino médio.

53
4.2.2 Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)
Analisar o Ideb é importante pois, a partir do ano de 2005, com a Portaria
n°.935 e 2007 com o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, a qual
formaliza o Decreto n°. 6094/2007, o Ideb passou a ser o principal indicador da
educação básica brasileira, proposto na meta 7 do PNE como meta a ser
alcançada. Isso porque é tratado como um indicador que mensura a qualidade
da educação, aliando melhoria de desempenho com os resultados da Prova
Brasil, aplicada bienalmente em alunos de 5º e 9º ano, e fluxo escolar,
sintetizados no indicador com mensuração que varia de 0 a 10.
As avaliações de larga escala no Brasil são políticas consolidadas em
termos de avaliação educacional externa. As metas do PNE são exemplo disso,
assim como o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação e outras
políticas em voga no cenário educacional brasileiro. Analisando os resultados do
Ideb no país, fica clara a evolução em termos de resultados numéricos é mais
lenta para os anos finais que para os anos iniciais.
Ainda que a literatura especializada questione esse papel do indicador
em questão, não é o objetivo analisar o Ideb por esse prisma, e sim evidenciar
como ficam os seus indicadores a partir de 2007. Para isso apresentam-se dados
à nível Brasil, juntamente com os dados de taxa de rendimento, os quais
influenciam diretamente os resultados do indicador.

4.2.2.1 Resultados do Ideb


Abaixo seguem os dados do Ideb no Brasil com base no portal do INEP,
(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira),
responsável pela geração e atualização dos dados, assim como a aplicação de
avaliações de larga escala e tratamento dos dados por elas geradas. Inicialmente
o interesse são nos dados desagregados por dependência administrativa
estadual e municipal, assim com o cálculo do Ideb a nível nacional.
Segundo Alavarse:
No âmbito da avaliação educacional, as polêmicas sobre como avaliar
determinadas características dos alunos e quais seriam as finalidades
de seus resultados contabilizam quase um século de existência.
Contudo, sem resolver esses impasses, desde a década de 1990, um
novo elemento se incorpora à avaliação educacional. Trata-se das
chamadas avaliações externas, assim denominadas porque são
definidas, organizadas e conduzidas por quem não se encontra no
interior das escolas, de certa forma em contraposição com as

54
avaliações internas, estas conduzidas por professores. Essas
avaliações externas, tendo em conta sua abrangência, também são
denominadas de avaliações em larga escala, ressaltando sua
visibilidade e, em decorrência, sua face de política pública em
educação.
As experiências iniciais de avaliações em larga escala, até mesmo fora
do Brasil, foram justificadas como necessárias para monitorar o
funcionamento de redes de ensino e fornecer subsídios para seus
gestores na formulação de políticas educacionais com dados mais bem
definidos em termos dos resultados que, por sua vez, decorreriam das
aprendizagens dos alunos. Não necessariamente essas avaliações
tinham como foco cada escola das redes avaliadas, especialmente nos
casos em que se recorria às avaliações por amostragem.
[...]
Outro exemplo, extremamente relevante, no que tange às avaliações
em larga escala, é o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que
vem ocupando lugar privilegiado nas políticas educacionais, com fortes
indícios de suas influências no currículo de escolas do ensino médio,
somado aos possíveis impactos na educação de jovens e adultos (EJA)
pelo fato de que esse exame incorporou funções antes destinadas para
o Exame Nacional de Certificação de Competências da Educação de
Jovens e Adultos (Encceja).
As avaliações em larga escala aprofundaram, também, a discussão de
procedimentos estatísticos e a importância da construção de matrizes
de avaliação, a padronização de provas e a interpretação pedagógica
de resultados, com destaque para a Teoria da Resposta ao Item (TRI)
que permite a comparabilidade de resultados ao longo do tempo e
entre séries diferentes, expressos, geralmente, na Escala Saeb, que
varia de 0 a 500 pontos, tanto para leitura quanto para resolução de
problemas. Adicionalmente, em algumas redes públicas foram
desencadeadas políticas de remuneração diferenciada para
profissionais da educação em função dos resultados dos alunos,
consolidando a denominada accountability, um tipo de política de
responsabilização dos professores e gestores de escolas pelos
resultados nas avaliações externas, incrementando ainda mais o
debate em torno da avaliação educacional. (ALAVARSE, S/d. S/p.).

A avaliação do rendimento escolar de larga escala é uma realidade em


vários países. No Brasil os responsáveis pela aplicação, controle e divulgação
é a União em regime de colaboração com os outros entes, objetivando a melhoria
da qualidade da educação.

Tabela 6 – Ideb Anos Iniciais Brasil (2007 – 2013)

DEP ADM 2007 2009 2011 2013

Brasil 4,2 4,6 5 5,2

Estadual 4,3 4,9 5,1 5,4

Municipal 4 4,4 4,7 4,9


Fonte: Inep. Dados trabalhados pelo autor (2016).

55
Tabela 7 – Ideb Anos Finais Brasil (2007 – 2013)

DEP ADM 2007 2009 2011 2013

Brasil 3,8 4 4,1 4,2

Estadual 3,6 3,8 3,9 4

Municipal 3,4 3,6 3,8 3,8


Fonte: Inep. Dados trabalhados pelo autor (2016).

Todos os indicadores superaram as metas previstas. A exceção se deve


todos os resultados de 2013 para os anos finais, que não lograram êxito. Vários
fatores podem ter influência para que o resultado não tenha saído como
esperado e não é o objetivo fazer um estudo voltado para esse fim. O que
traçam-se são panoramas de desafios para a gestão do sistema escolar de
acordo com a Organização Educacional Brasileira. Nesse contexto objetiva-se
um desafio, previsto em PNE, trabalhado desde o ano de 2007, orientado
constante pelos Sistemas de Ensino e escolas brasileiras.
Um fator que pode ser preponderante no resultado do Ideb é a taxa de
rendimento, ou seja, como foi o fluxo de aprovação dos alunos, já que esse fator
tem influência direta no resultado do indicador.

4.2.2.2 Taxas de Rendimento


A taxa de rendimento é tratada com a taxa de aprovação, considerando
abandono, evasão e reprovação e realizando uma média harmônica entre o fluxo
dos anos no ensino fundamental. É um cálculo relativamente complexo, mas
interessante, à medida que tem como objetivo inicial calcular a média de anos
que o aluno utiliza para cada etapa de ensino, em particular anos iniciais e finais
do ensino fundamental.

56
Tabela 8 – Taxas de Rendimento no Brasil Anos Iniciais (2007- 2013)

DEP
2007 2009 2011 2013
ADMINISTRATIVA

Estadual 89% 92% 93% 95%

Municipal 84% 86% 90% 91%

Brasil 86% 89% 91% 93%


Fonte: Inep. Dados trabalhados pelo autor (2016).

Tabela 9 – Taxas de Rendimento no Brasil Anos Finais (2007- 2013)

DEP
2007 2009 2011 2013
ADMINISTRATIVA

Estadual 79% 80% 82% 85%

Municipal 78% 79% 82% 82%

Brasil 80% 82% 83% 85%


Fonte: Inep. Dados trabalhados pelo autor (2016)

Na análise dos dados apresentados é perceptível que a política de


melhoria de fluxo escolar vem surtindo efeito de larga escala. Não se pode
esquecer que são milhares de dados, os quais evidenciam uma desigualdade
razoável de resultados, os quais apontam que a taxa de rendimento nível macro
vem melhorando, no entanto é necessário que as Políticas Públicas subsidiem e
trabalhem na diminuição da desigualdade e nas localidades onde a situação
escolar esteja mais precária.

Converse Com Seus Colegas


Discuta com seus colegas o que vocês acham sobre as
avaliações externas à escola, conhecidas como avaliações
de larga escala. Discutam também o Sistema Nacional de
Educação. Será que as avaliações de larga escala mensuram

57
qualidade? Será que um Sistema Nacional de Educação em
um país tão diverso regionalmente é interessante?

Os desafios para a gestão do sistema escolar são grandes. A partir das


metas estabelecidas e do panorama atual da educação conclui-se que a
educação está avançando, principalmente nos últimos anos. O movimento de
municipalização do ensino é uma realidade, os de avaliação de larga escala, em
particular do Ideb, as quais são parte integrante da formulação de Políticas
Educacionais e as metas para a Educação Infantil e universalização do ensino
médio são desafiadoras. Além disso, o papel dos Conselhos de Educação são
fundamentais para representação social e discussão legal de alto nível sobre os
trâmites educacionais nos entes federados.

Saiba Mais
Para saber mais sobre os resultados do Ideb por município e
por escola, acesso o link abaixo:
Link: http://idebescola.inep.gov.br/ideb/consulta-publica

Resumo da Aula 4

A discussão sobre os Conselhos de Educação se pautou nas


características principais que norteiam suas ações. Além disso foram analisadas
as atribuições que um conselheiro tem enquanto integrante e as diferenças
básicas entre Conselhos Nacionais, Estaduais e Municipais de Educação.

Apresentaram-se dados que permitiram traçar um panorama atual da


educação, com enfoque no nível de ensino da educação básica, permitindo a
observação de que são grandes os desafios, em particular no atendimento da
demanda na educação infantil e ensino médio. A universalização na pré-escola
e o aumento da taxa de matrícula líquida no ensino médio parecem ser os
desafios mais distantes. Atingir as metas propostas para os resultados de
avaliação de larga escala, em particular a Prova Brasil que fomenta o Ideb

58
também estão nas prioridades da agenda nacional e merecem atenção dos entes
federados.

Atividade de Aprendizagem
Faça uma pesquisa em seu Município e descubra se ele tem
Conselho de Educação, sua composição quantitativa e
qualitativa, ou seja, quantos são e quem são. Veja quais foram
as principais ações no ano vigente e discorra sobre o assunto.

59
Resumo da Disciplina

O estudo desta disciplina focou inicialmente nos aspectos


organizacionais dos sistemas de ensino e federalismo, embasados nas
legislações vigentes, particularmente na Constituição Federal e a LDB.

Nesse contexto analisaram-se as características de cada nível de ensino


da educação brasileira, evidenciando as principais características da educação
infantil, ensino fundamental e ensino médio, reforçando a importância do cuidado
na confecção do calendário escolar, norteando as ações pedagógicas e os
planos de trabalho docente.

Quanto aos entes federados, evidenciaram-se as suas principais


responsabilidades, as quais estão contempladas na Legislação vigente, em
particular na LDB. Assim sendo enfatizou-se o regime de colaboração entre os
entes federados, o sistemas de ensino e o pacto colaborativo entre os entes à
luz do Plano Nacional de Educação.

Evidenciou-se também a função de conselheiro de educação, a qual é


importante, pois é um porta-voz da sociedade, e sua articulação media anseios
sociais e a postura governamental. Entre as características básicas elencadas
Normalmente, são educadores, com conhecimento técnico e capacitação
profissional para executar sua função normativa de analisar as leis e interpretá-
las.

Para finalizar apresentaram-se dados, os quais permitiram traçar um


panorama atual da educação, com enfoque no nível de ensino da educação
básica, evidenciando as metas propostas para os resultados de avaliação de
larga escala, com ênfase na Prova Brasil, a qual fomenta o Ideb.

60
Referências

ALAVARSE, O. M. Avaliar as avaliações em larga escala: desafios políticos.


S/d. Disponível no acesso: http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/0/avaliar-as-
avaliacoes-em-larga-escala-desafios-politicos-302490-1.asp Acessado em
Fev/2016.

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larga escala no Brasil: os desafios do processo e do sucesso educativo na
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e bases da Educação Nacional. 1996. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 23 dez. 1996.

BRASIL. Lei nº 11494 de 20 de junho de 2007. Regulamenta o Fundo de


Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação - FUNDEB, de que trata o art. 60 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias; altera a Lei no10.195, de 14 de
fevereiro de 2001; revoga dispositivos das Leis no. 9.424, de 24 de dezembro de
1996, 10.880, de 9 de junho de 2004, e 10.845, de 5 de março de 2004; e dá
outras providências. 2007. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 21 jun. 2007.

BRASIL. Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de 2006. Dá nova


redação aos arts. 7º, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e ao
art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. 2006. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 19 dez. 2006.

BRASIL. Lei n. 11738, de 16 de julho de 2008. Regulamenta a alínea “e” do inciso


III do caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para
instituir o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério
público da educação básica. 2008. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 17 jul. 2008.

BRASIL. Lei nº 12796, de 04 de abril de 2013. Altera a Lei no 9.394, de 20 de


dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional,
para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras
providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
05 abr. 2013.

BRASIL. Emenda Constitucional n. 14, de 12 de setembro de 1996. Modifica os


arts. 34, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e dá nova redação ao art. 60 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. 1996. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 set. 1996.

61
BRASIL. Lei nº 9131 de 24 de novembro de 1995. Altera dispositivos da Lei nº
4.024, de 20 de dezembro de 1961, e dá outras providências.1995. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 1995.

BRASIL. Emenda Constitucional n. 59, de 11 de novembro de 2009. Acrescenta


§ 3º ao art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para reduzir,
anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das
Receitas da União incidente sobre os recursos destinados à manutenção e
desenvolvimento do ensino de que trata o art. 212 da Constituição Federal, dá
nova redação aos incisos I e VII do art. 208, de forma a prever a obrigatoriedade
do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a abrangência dos programas
suplementares para todas as etapas da educação básica, e dá nova redação ao
§ 4º do art. 211 e ao § 3º do art. 212 e ao caput do art. 214, com a inserção
neste dispositivo de inciso VI. 2009. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 12 nov. 2009.

BRASIL, Decreto n. 6094 de 24 de abril de 2007. Dispõe sobre a implementação


do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Federal, em
regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e a
participação das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de
assistência técnica e financeira, visando a mobilização social pela melhoria da
qualidade da educação básica. 2005. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 25 abr 2007.

BRASIL. Ministério da Educação. Portaria n. 931 de 21 de março de 2005 Institui


a Avaliação Nacional de Educação Básica, a Avaliação Nacional de Rendimento
Escolar e dá outras providências. 2005. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 22 mar. 2005.

BRASIL. Lei nº 13005 de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de


Educação – PNE e da outras providencias. 2014. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 26 jun. 2014.

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62
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