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FAVENI

KAREN GANÉO

EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA


O que a lei prevê e o que a gente vê

Campinas - SP
2023
FAVENI

KAREN CRISTINA GANÉO

EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA


O que a lei prevê e o que a gente vê

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do título especialista em
EDUCAÇÃO ESPECIAL E
INCLUSIVA E
NEUROPSICOPEDAGOGIA
INSTITUCIONAL E CLÍNICA.

Campinas - SP
2023
EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA
O QUE A LEI PREVÊ E O QUE A GENTE VÊ

Karen Cristina Ganéo

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi
por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim
realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços). “Deixar este texto no
trabalho”.

RESUMO - Tivemos um grande avanço dentro da política educacional brasileira nos levando a entender os
fenômenos sociais que estão ocorrendo. A transformação do conceito de Educação Especial transcende o
eixo legislativo. A maior evolução educativa no âmbito educacional, é apostar em uma Escola Inclusiva e
Integradora, onde a educação é para todos, segundo os princípios de igualdade e democracia. Temos uma
vasta documentação, com regime de Leis, como a Lei 9394, de 20 de dezembro de1996, lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, que nos leva a entender a nova a ideia desse tipo de escola, inclusiva, na
organização escolar brasileira. Com essa nova Educação para Todos a sociedade avança, derrubando os
preconceitos, formando uma sociedade mais justa.

PALAVRAS-CHAVE: Lei. Inclusão. Necessidades Especiais. Âmbito Escolar.


1. INTRODUÇÃO

A partir de uma perspectiva histórica pode-se perceber que a Educação Especial


se configurou como um sistema paralelo e segregado de ensino, voltado para o
atendimento especializado às pessoas com deficiências – PcD's, transtornos, síndromes,
distúrbios graves de aprendizagem ou superdotação. Dessa forma, profissionais
especializados se responsabilizavam pelo ensino e aprendizagem dos alunos então
chamados “especiais”, mesmo quando estes participavam de turmas comuns em escolas
regulares.

Nas últimas décadas, os profissionais da Educação Especial têm buscado novas


formas de educação escolar com alternativas menos segregativas de absorção desses
educandos pelos sistemas de ensino. Sobretudo nos anos 90 com o reconhecimento da
Educação inclusiva como diretriz educacional prioritária em muitos países, entre eles o
Brasil, a política de Educação Inclusiva diz respeito à responsabilidade dos governos e
dos sistemas educacionais de cada país com a qualificação de todas as crianças e jovens
no que se refere aos conteúdos, conceitos, valores e experiências materializados no
processo de ensino-aprendizagem escolar, tendo como pressuposto o reconhecimento
das diferenças individuais de qualquer origem (GLAT, 2007).

O princípio básico deste modelo é que todos os alunos, independente de suas


condições socioeconômicas, raciais, culturais ou de desenvolvimento, sejam acolhidos
nas escolas regulares, as quais devem se adaptar para atender às suas necessidades,
pois se constituem como os meios mais capazes para combater as atitudes
discriminatórias, e, como consequência, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo
a educação para todos (UNESCO, 1994).
A chamada Educação Inclusiva significa um modelo de escola em que é possível
o acesso e a permanência de todos os alunos, e onde os mecanismos de seleção e
discriminação, até então utilizados, são substituídos por procedimentos de identificação e
remoção das barreiras para a aprendizagem. Para tornar-se inclusiva a escola precisa
formar seus professores e equipe de gestão, e rever as formas de interação vigentes
entre todos os segmentos que a compõe e que nela interferem (GLAT, 2007).
É importante enfatizar que a Educação Inclusiva não se resume à matrícula do
aluno com deficiência - PcD na turma comum ou à sua presença na escola, é necessário
ser um ambiente onde ele aprenda os conteúdos socialmente valorizados para todos os
alunos da mesma faixa etária. A Declaração de Salamanca deixa bem claro esse aspecto
quando afirma que “Todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito fundamental à
educação e que a elas deve ser dada a oportunidade de obter e manter um nível aceitável
de conhecimento” (UNESCO, 1994, p.10).
A experiência, tanto brasileira, quanto internacional, vem mostrando que, sem um
suporte de metodologias e recursos para auxiliar na aprendizagem desses alunos, além, é
claro, de um comprometimento eficaz de toda a equipe educacional de uma escola,
dificilmente a Educação Inclusiva será implementada com sucesso (MITTLER, 2003;
MENDES, 2006). Pode-se considerar, portanto, que o paradigma que conhecemos
atualmente por Educação Inclusiva não representa necessariamente uma ruptura, mas
sim o “desenvolvimento de um processo de transformações das concepções teóricas e
das práticas da Educação Especial, que vêm historicamente acompanhando os
movimentos sociais e políticos em prol dos direitos das pessoas com deficiências e das
minorias excluídas, em geral (FONTES & PLETSCH, 2006).
Este artigo vem de encontro às temáticas envolvendo as trajetórias políticas
educacionais no que diz respeito à inclusão de pessoas com deficiência dentro do sistema
regular de ensino.

Averiguar a veracidade atual da execução de tais leis e conquista da inclusão de


pessoas com deficiência, possibilitando mostrar que todo esse processo por que vem
passando a Educação Especial desde o início é marcada por contradições.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. TRAJETÓRIA DAS LEIS QUE REGEM AS DIRETRIZES PARA O ENSINO


ESPECIAL

Começamos com a seguinte pergunta: Para que servem as Leis? Qual o


verdadeiro motivo de existir tantas Leis? No que essas Leis ajudam a sociedade? Afinal,
sabemos que as Leis são normas existentes para garantir que a democracia e o direito de
todos sejam respeitados, favorecendo um mundo mais justo para todos.

Quando falamos de inclusão escolar ou direitos da pessoa com deficiência, as leis


também estão presentes, “no papel”.

Na Constituição Federal da Educação de 1988, ficou previsto por lei:

Capítulo III – seção I

Art.205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho.

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia
de:

III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,


preferencialmente na rede regular de ensino;

V – acesso aos níveis mais elevados de ensino, da pesquisa e da criação


artística, segundo a capacidade de cada um.

“Direito de todos”, “igualdade”, “acesso e permanência”, “segundo a capacidade


de cada um”. Quando falamos de direitos para as pessoas com deficiência, também
podemos/devemos lembrar dos termos citados na lei. É direito que sejam tratados com
igualdade, que tenham acesso e permanência na sociedade de forma igualitária,
respeitando as diferenças da sociedade e, não somente das pessoas deficientes.

1994, em Salamanca, na Espanha, acontece a Assembleia Internacional para


reafirmar o compromisso para com a Educação para Todos, reconhecendo a necessidade
e a urgência do providenciamento de educação para as crianças, jovens e adultos com
deficiência dentro do sistema regular de ensino e reendossar a Estrutura de Ação em
Educação Especial, em que, pelo espírito de cujas previsões e recomendações governo e
organizações sejam guiados.
Surgindo então a Declaração de Salamanca. Esse documento é a necessidade
real da sociedade em busca dos seus direitos.

Voltando então a falar de leis, surge a LDBN (Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional – Lei nº9.394/96), trazendo-nos a chamada “Inclusão”:

Capítulo 9

DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

TEXTO DA LEI Nº 9.394/96

“Artigo 58 – Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a


modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de
ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação.

§1º - Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola


regular, para atender as peculiaridades da clientela da educação especial.

§2º - O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços


especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for
possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.

§3º - A oferta de educação especial, nos termos do caput deste artigo, tem início
na educação infantil e estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do art. 4º e o
parágrafo único do art. 60 desta Lei.

Artigo 59 – Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência,


transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação:

I. currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização


específicos, para atender às suas necessidades;

II. terminalidade específica para aqueles que não puderam atingir o nível
exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e
aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;

III. professores com especialização adequada em nível médio ou superior,


para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular
capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;
IV. educação especial para o trabalho, visando à sua efetiva integração na vida
em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de
inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem
como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artísticas,
intelectual ou psicomotora;

V. acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares


disponíveis para o respectivo nível de ensino regular.

Artigo 60 – Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios


de caracterização das instituições privadas, sem fins lucrativos, especializadas e com
atuação exclusiva em educação especial, pra fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder
Público.

Parágrafo Único – O poder público adotará, como alternativa preferencial, a


ampliação do atendimento aos educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na própria rede pública regular de
ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo.”

Quais não são as surpresas quando nos deparamos com: “preferencialmente na


rede regular de ensino”, “quando necessário”, “condições específicas dos alunos”,
“professores capacitados com especialização adequada para dar um atendimento
especializado nas classes regulares”. Parece até redundante quando se fala de
especialização, mas é isso mesmo, nossos professores das redes regulares, para cumprir
a lei do “papel”, recebem esses alunos sem estarem preparados, quanto isso não é
angustiante, diante do paradigma que trazemos de uma sociedade que inclui com
segregação.

Conforme o Artigo 58, “a LDBEN tem como perspectiva que, ao inserir as


pessoas com deficiência em escolas regulares de ensino, estariam se desenvolvendo a
partir do contato com outras crianças consideradas "típicas”. Por sua vez, estas crianças
estariam aprendendo com os chamados “atípicos”, contribuindo inclusive para a
desmistificação dos preconceitos arraigados na sociedade, permitindo a verdadeira
inclusão societária destas crianças.
2. 2. NO COTIDIANO ESCOLAR A REALIDADE DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
INCLUSIVA, É OUTRA

Sabemos que a legislação está avançando. Mas, será que estamos preparados
para que esse avanço ocorra de fato? E as instituições educacionais, estão prontas pra
receber esses alunos? O que é preciso? O que nos falta? Estamos caminhando a
passos de formiga e individualmente, diante de um avanço tão significativo.

O que podemos perceber diante desses avanços, é que essa “inclusão”, na


maioria das vezes, está sendo em inserir o aluno com deficiência nas salas de aula de
ensino regular, com professores despreparados, que não sabem lidar com tais
necessidades gerando, uma segregação por parte dos colegas ou invés de uma
agregação, transmitida inconscientemente, por esse professor não habilitado à situação.
A criança com deficiência não acompanha na sua maioria o tempo de aprendizagem das
crianças neurotípicas, ocasionando em um desconforto para ambas as partes. “Estas
dificuldades dos alunos com deficiência, em classes regulares ainda não preparadas para
a inclusão, tornam-se ainda mais evidentes, havendo então a segregação psicológica”.
Conforme REGIS, ago. 2005.

É fato que, a pessoas com deficiência, por si só, se sinta diferente do grupo de
convívio social/escolar que está frequentando, diminuindo assim sua autoestima,
dificultando ainda mais sua aprendizagem. Muitas são as vezes onde os alunos "atípicos"
são rejeitados pelos colegas de sala na hora de fazer um trabalho em grupo, socializar
nos momentos de intervalo, ficando muitas vezes recolhido em um canto, fazendo
inclusive atividades diferentes do restante da sala.

“Helena, personagem de Regina Duarte na novela Páginas da Vida, da Rede


Globo, vai à reunião de pais da filha Clara, 5 anos (interpretada por Joana Mocarzel, 7
anos), que tem Síndrome de Down. Ansiosa, ela aguarda a distribuição dos trabalhos
para ver a produção da menina. Mas qual não é sua surpresa ao ver que ela não tem
uma pasta. Furiosa, a mãe percebe que a filha não fez as mesmas atividades dos demais
e que passou o tempo brincando de massinha e no parquinho – longe dos colegas, para
não se machucar. Revoltada, ameaça denunciar a professora ao Ministério Público e, ao
conversar com a diretora, descobre que alguns pais quiseram tirar os filhos da escola por
causa de Clara.” CAVALCANTE, Meire. “A sociedade em busca de mais tolerância”.
Revista Nova Escola.

Pensando no que a professora argumentou: “(...) longe dos colegas, para não se
machucar”. Será que é “para não se machucar” ou para não conseguir trabalhar com as
diferenças?

Essa exclusão na maioria das vezes não acontece somente na sala de aula entre
professores e alunos ditos “normais”, acontecem no âmbito escolar como um todo.

Muito se tem avançado, entretanto, a falta de equipamentos e materiais especiais


e apropriados para a locomoção, como rampas de acesso, funcionários da escola que
não conseguem se comunicar com linguagens de sinais, no caso dos deficientes
auditivos, ambientes educacionais preparados com barras, espaços apropriados para
utilitários de cadeira de rodas, sinalizações para deficientes visuais etc.

Será que essa inclusão está ocorrendo na realidade? Ou é preciso rever na sua
organização prática? A Lei está aí, o que nós, educadores, estamos fazendo para que ela
aconteça de fato? Mediante a justificativa de que a escola não está preparada, não
possui recursos financeiros, pessoas capacitadas para colocar em prática o exercício da
Educação Especial, não podendo assim se adaptar a exigência das pessoas com
deficiência, preferem não aceitar. Mesmo sabendo que as exigências dos recursos
financeiros dependem das dificuldades apresentadas por estas crianças, e a escola, por
sua vez, como consta na Lei, pode recorrer aos recursos necessários para esta inclusão.
Conforme LDB, Título VII, Dos Recursos Financeiros, Artigo 70 – incisos: I, II, III e VIII.

Ainda parecendo “atrasados”, escolas, instituições educacionais, professores,


diretores acreditam que estudantes com deficiência não conseguem aprender, colocando-
os nas classes regulares de ensino, devem somente brincar ou passar o tempo, não são
capazes de assimilar como os outros alunos, mesmo aqueles que apresentam
dificuldades de aprendizagem que são considerados “normais”. Criou-se uma perspectiva
de que, o ambiente escolar regular para crianças atípicas, seja somente um local para
socialização e não para efetivamente uma aprendizagem.

Temos que lidar com o próprio preconceito para conseguirmos lidar com as
angustias dos pais que “fazem pressão” diante da situação de inclusão, como se um
deficiente fosse um doente contagioso e que deve ser evitado. Indaga-se que, se a
inclusão é garantida por Lei, como pode um profissional da educação sair da faculdade
sem sequer saber do assunto? Despreparo da sociedade ou acomodação dos
profissionais que estão à frente de executar a Lei e o direito adquirido?

Segundo depoimento dos pais de Joana (personagem de Clara na novela


Páginas da Vida): “Acreditamos que a participação da nossa filha na novela contribuiu
para diminuir a intolerância contra a Síndrome de Down”. Letícia Santos e o marido
cineasta Evaldo Mocarzel.

A falta de conhecimento da criança e da família por parte da escola gera a


exclusão do aluno com deficiência. É importante quando existe a troca entre a instituição
educacional e os familiares do deficiente para um melhor desenvolvimento das atividades
e descobertas de meios de agregação desse aluno.

“Não basta acolher e promover a interação social. É preciso ensinar – aliás, como
a própria legislação prevê desde 1988, quando a Constituição foi aprovada. No lugar de
focar o atendimento clínico, segregando os alunos, a orientação correta é dar apoio aos
professores regente e permitir que eles e seus colegas especialistas trabalhem cada vez
mais em conjunto”. GURGEL, Thais – out. 2007.

Atualmente nossa sociedade passa por diversas transformações sociais. Ao se


tratar do cenário escolar não é muito diferente, segundo a revista Nova Escola edição
online de 30 de março deste ano, aborda a importância de incluir o já “incluído”, ou seja, a
Educação Inclusiva vai além do acesso à escola. A perspectiva defende que estudantes
com ou sem deficiência tenham a oportunidade e condições de participar plenamente das
atividades escolares e possam desenvolver integralmente seus potenciais.
Como já dito, a humanidade está em constante desenvolvimento passando ao
longo dos séculos por períodos diferenciados de transformações sociais na área da
Educação Especial assim como Miranda (2008) nos indica em seus estudos que na Idade
Antiga, Média, as pessoas com necessidades especiais eram mortas por serem
consideradas aberrações, pois pertenciam a uma época em que se predominava a
religião e esses indivíduos “deficientes” não eram vistos e concebidos filhos de Deus.
Em meados da Idade Moderna a concepção de pessoas “deficientes” começa a
se modificar devido a ascensão da burguesia e o fortalecimento do capitalismo
proporcionando grande interesse econômico em atender essas pessoas.
É devido algumas revoluções como por exemplo em 1880 em Milão na Itália,
nasce através de um Congresso Internacional um marco que iria mudar toda a trajetória
da educação e ensino para pessoas surdas, proibindo-as de utilizar até então a língua de
sinais como forma de comunicação, alegando que através de próteses “milagrosas” os
surdos conseguiriam desenvolver a língua na modalidade oral em concílio com
profissionais da área terapêutica e do apoio familiar e social. Em busca dessa
“normalidade” imposta pela língua majoritária, defendia-se que é só através da língua
(oral) que o indivíduo terá acesso a possuir integração social e um reconhecimento como
indivíduo pensante, ou seja, o indivíduo surdo passa a ser visto com “doente”,
necessitando de uma “cura” provida por especialistas, e demais envolvida.
Outro Marco histórico ocorreu no século XVIII que se iniciou, de forma
sistemática, o ensino dos cegos, Valentin Haüy (1745-1822), homem de ciência e homem
de coração, fundou em Paris, em 1784, a primeira escola destinada à educação dos
cegos e à sua preparação profissional, Instituto de meninos cegos. (MIRANDA, 2008).
Essas duas manifestações acima citado, foram grandes propulsores para que
ocorresse entre 7 a 10 junho de 1994 uma Conferência Mundial em Educação Especial
organizada pelo governo da Espanha em concílio com as Organizações das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), conceituada com o nome de
Declaração de Salamanca, com o objetivo de discutir sobre políticas e guias de ações
governamentais de organizações internacionais ou agências nacionais de auxílio a
organizações não-governamentais (BRASIL, 1994).
Essas políticas e guias enfatizam que cada criança que possua deficiência, tem
direto de acesso à educação nas escolas do ensino regular, ampliando um nível aceitável
de aprendizagem sempre se atentando a aceitar e reconhecer as diferentes
características condizentes as capacidades e necessidades de aprendizagem de cada
indivíduo. Sendo assim, as escolas de ensino regular devem possuir uma estrutura
adequada para receber as crianças com necessidades educativas especiais garantindo
um ensino de qualidade.
Para tal feito, os profissionais envolvidos devem estar alinhados com os
parâmetros previstos na Declaração de Salamanca tais como explicitado por Monteiro
(2006, p.299) logo abaixo:
A lógica da inclusão conforme a Lei da Declaração de Salamanca constitui a
essência do ideal democrático fundado na lógica da igualdade consensual.
A Declaração de Salamanca ganha força de implantação no ano de 2000. Duas de
suas determinações são importantes de serem destacadas:
a) As escolas devem ajustar-se a todas as crianças, independentemente das suas
condições físicas, sociais, linguísticas e outras.
b) A escola deve incluir as crianças com deficiência e/ou superdotada, criança da
rua ou crianças que trabalham, crianças de populações imigradas ou nômades,
crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou
grupos desfavorecidos ou marginais.

A lei de Salamanca agiu de forma propulsora para que no Brasil pensa-se uma
maneira de obter uma educação para todos no sistema regular de ensino em concílio com
a nova Lei de Diretrizes e Base 9394/96 (LDB), ao trazer um sistema obrigatório de
educação básica para todos, estimulou a integração dos indivíduos com deficiência no
ensino regular.
A Declaração de Salamanca criam-se um cenário político e educacional acerca da
Inclusão com o objetivo de promover condições e oportunidades iguais das atividades
sociais e educacionais de pessoas com deficiências, ainda esmiuçando a ideologia de
uma Educação Inclusiva, Mrech (2000 apud LIMA 2004), salienta que para existir
verdadeiramente uma educação inclusiva se faz necessário haver condições de
acessibilidade dentro do espaço escolar, traçar objetivos diferenciados reconhecendo que
os alunos podem aprender juntos mesmo que possuam necessidades singulares, deve
também proporcionar aos professores suporte técnico na sala de ensino regular,
instigando-os a dinamizar de maneira criativa os conteúdos e a relação professor aluno.
Acreditando que o processo de ensino aprendizagem se dá do “todo para parte”, ou
seja, a criança quando entra na escola já possui um conhecimento prévio da sociedade
em que vive assim como nos lembra Paulo Freire (1997, pg11) “A leitura do mundo
precede a leitura da palavra”.
Trabalhar com a realidade do aluno é essencial para o seu desenvolvimento
cognitivo, para Bakhtin (2003), a língua é um fato social cuja existência funda-se nas
necessidades de comunicação; a linguagem está ligada a diversos campos da atividade
humana (Bakhtin, 2003), ou seja, podemos dizer que essa atividade humana está ligada a
diferentes esferas sociais, tais como a família, escola, igreja, trabalho, que produzem
diversos enunciados orais ou escritos, incluindo a utilização de imagens estáticas ou em
movimento.
De acordo com a pesquisa do IBGE, no censo demográfico de 2010, cerca de 24%
da população brasileira se reconhece como pessoa com deficiência, o que significa dizer
que em torno de 45 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência. Assim, a
necessidade de novos profissionais capazes de realizares atendimentos especializados
educacionais, assim como é garantido por lei o pleno desenvolvimento numa escola
regular de ensino, de acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
Educação Básica, homologada na resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE)
em 15 de agosto de 2001. O objetivo é traçar os caminhos e estabelecer os meios legais
para garantir a inclusão dos alunos com deficência em toda a Educação Básica. E para
tanto, os sistemas de ensino e as escolas precisam se adequar em diferentes aspectos,
desde a estrutura física até os currículos.

2. 3. DIANTE DA REALIDADE ESCOLAR, O QUE PODEMOS FAZER?

É na escola que se combate o preconceito que é formado dentro de cada indivíduo


pertencente a uma sociedade. “As crianças só repetem as atividades dos adultos em
relação às pessoas com deficiência e ao papel que estas desempenham na sociedade.
Desde as civilizações primitivas, o homem se organiza socialmente centrado em si
mesmo. Com base nisso, ele julga os demais pelas roupas que usam, pelos alimentos
que consomem, por sua história e moral”, afirma o sociólogo Eládio Antônio Oduber
Palencia, do instituto de Educação Superior de Brasília.

O primeiro passo é saber que a tolerância existe e, combate-la. “A resistência às


pessoas com deficiência é fruto do desconhecimento sobre o assunto. Só quem tem mais
contato sabe que elas podem se desenvolver se forem motivadas”, afirma a pesquisadora
Terezinha Moreira Lima. “Alguns pais acham que a escola inclusiva anda para trás porque
o ensino piora com a presença de alunos com deficiência”, diz Palencia.

A inclusão é uma revolução silenciosa que ensina a tolerância para todos aqueles
que estão diretamente ligados ao âmbito educacional. Para que ela realmente aconteça
toda a equipe tem que estar em sintonia e pensar em conjunto com a proposta
pedagógica, levando todos a conhecer melhor o assunto para não se tornar angustiante
para o professor receber o aluno com necessidade educacional especial e lidar com ele.
O trabalho em equipe leva todos os envolvidos com a educação no âmbito escolar a
desempenhar de maneira mais eficiente seu papel nessa área.

“Essa troca é importante para o professor ter ideia das habilidades e competências
com quais está lidando. Com isso, ele pode pensar em propostas colaborativas dentro de
sala e aperfeiçoar seus métodos pedagógicos. Cada aluno tem necessidades próprias.
Nenhuma deficiência é igual”, diz Daniela Alonso, consultora na área de inclusão e
selecionadora do Prêmio Victor Civita – Educador Nota 10.

Segundo Maria Teresa Mantoan, coordenadora do Laboratório de Pesquisas em


Ensino e Diversidade da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), “A educação
para a inclusão pede uma mudança de concepção do ato de ensinar.”

Quando se pensa em incluir uma criança com deficiência em uma classe regular de
ensino, exige-se um planejamento com cuidados especiais – PEI, Plano de Ensino
Individualizado. É preciso, em primeiro lugar, conhecer a criança e a família, buscando
informações adicionais com o profissional especializado que oferece atendimento a
criança com deficiência. Esse contato orienta tanto em saber como lidar com a criança,
quando na preparação dos materiais específicos que precisará em sala de aula. Para se
planejar uma aula inclusiva é necessário observar a educação de um modo mais amplo,
buscando a integração dos alunos nas atividades, não trazendo somente aulas prontas
com informação e reprodução. É de extrema importância considerar os conhecimentos
prévios dos alunos e envolvê-los com novas técnicas e recursos audiovisuais. Abordar
formas de integração que proporcionem diferentes níveis de compreensão para que todos
possam participar e interagir, trabalhos em grupo e trocas de informações em debates
e/ou discussões faz com que todas as crianças se sintam integradas e mais motivadas a
aprender. Quanto mais variados forem os instrumentos de aprendizagem, melhor. “É
bom ter em mente que, se o professor pensar só em imagens para traduzir os conceitos,
ele não penaliza apenas quem é cego, mas também quem senta no fundo da sala ou tem
mais facilidade em compreender verbalmente”, completa Mantoan.

Cada aluno, considerando aqui, típicos e atípicos, tem seu ritmo, forma,
necessidade e caminho próprios de estudo, compreendendo temas de formas diversas,
com base nisso, a avaliação deve ser de forma a perceber o progresso de cada aluno, na
sua individualidade, no processo de aprendizagem. O importante é perceber o que o
aluno acrescentou em seu conhecimento prévio e a forma como fez isso e não apenas a
reprodução de informações. O educador descobre pela observação diária, o que as
crianças aprenderam e a maneira pela qual trilham o saber. Assim, percebe as
capacidades de cada um e ganha pistas de como ampliá-las.

É a partir da decisão de cada educador e instituição educacional, que a verdadeira


inclusão acontecerá. Dessa forma a lei sairá do papel avançando para uma prática real e
consciente sem preconceitos e segregação das pessoas com deficiência.

3. CONCLUSÃO

Diante do que foi exposto, pudemos perceber que o discurso educacional em


diversos momentos da história tem se caracterizado por difundir ideologia, criar leis em
prol da Educação Especial e/ou Inclusiva, mas também vem camuflando e mistificando a
realidade. Se em determinados momentos as iniciativas políticas mostraram um certo
nível de compromisso com as pessoas com deficiências, em outros momentos parece
prevalecer a questão quantitativa de atendimento mais compatível com uma política de
resultados para justificar compromissos governamentais no âmbito internacional (GOÉS &
LAPLANE, 2007).

Entre as forças que estão no embate desta política não podemos deixar de
considerar a história nacional da educação das pessoas com deficiência (MAZZOTTA,
1996), que gerou um segmento social e econômico organizado em torno de escolas
particulares, filantrópicas e/ou organizações não governamentais que envolvem muitos
interesses, num peculiar processo de privatização; da mesma forma que temos que
considerar a história mais atual da educação básica, principalmente junto às pressões
sociais e econômicas para que o Brasil eleve seus índices de desenvolvimento escolar
(GOÉS & LAPLANE, 2007).

Dessa forma, a política de inclusão parece preocupar-se predominantemente com


a sociabilidade dos sujeitos inseridos nas salas de aula regulares, como se o contato com
crianças “normais” garantisse o que está previsto nas leis.
É preciso que as políticas de inclusão sejam respeitadas e efetivadas, e que a
escola verdadeiramente encare os problemas de modo que os contemple em sua
totalidade de uma forma sistêmica.

4. REFERÊNCIAS

BRASIL, MEC, Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9394/96.

Caminhos Pedagógicos da Inclusão, Maria Teresa Mantoan, 243 págs., Editora


Memnon.

Educação Inclusiva: contextos sociais, Peter Mittler, 264 págs., Editora Artmed.

Manual de Portifólio: um Guia Passo a Passo para Professores, Elisabeth Shores e


Cathy Grace, 160 págs., Editora Artmed.

Direitos da Pessoas com Deficiência, Eugênia Augusta Gonzaga Fávero, 342 págs.,
Editora WVA.

Inclusão Escolar – O Que É? Por Que? Como Fazer?, Maria Teresa Eglér Mantoan, 96
págs., Editora Moderna.

O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede


Regular de Ensino. Em www.prgo.mpf.gov.br/cartilha_acesso_deficientes.pdf

Violência e Exclusão, Dorian Monica Arpini, 206 págs., Editora Edusc.

Educação Inclusiva: o que ela tem a oferecer? Em


https://novaescola.org.br/conteudo/21634/educacao-inclusiva-o-que-ela-tem-a-oferecer

Orientações da Secreteria da Educação Especial do Ministério da Educação. Em


http://portal.mec.gov.br/seesp

Referencial Sobre a Avaliação da Aprendizagem de Alunos com Necessidades


Especiais. Em www.educacao.prefeitura.sp.gov.br
BRASIL, MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, SECRETARIA DOS DIREITOS HUMANOS.
Declaração de Salamanca e linha de ação. 2 ed. Brasília: CORDE, 1994.

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REILY, L. Escola inclusiva – linguagem e mediação. São Paulo: Papirus, 2004.

Colaboradores

REIS, Liliane Góes Regis, Psicopedagoda e Pedagoda, Valença – BA.


GURGEL, Thais.
HEDERO, prof. Eládio Sebastián. ABC Educatio: a revista da educação, ano 6. Nº 45,
mai/05.
CAVALCANTE, Meire. Revista Nova Escola, ano XXI, nº 21. Out/06. Editora Abril

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