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Ensino fundamental de 9 anos

Apresentação
O ensino fundamental no Brasil passou por mudanças significativas na última década, muitas delas
relacionadas à ampliação da duração do ensino fundamental de 8 para 9 anos, que atingiu todas as
escolas da rede de ensino no ano de 2010.

Ao aumentar o número de anos do ensino fundamental, reduz-se o período da educação infantil, ao


mesmo tempo que, dentro da estrutura das escolas de ensino fundamental, inicia-se o
entendimento do chamado ciclo de alfabetização, que envolve os três primeiros anos.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá o marco legal, os seus objetivos e a organização do
ensino fundamental de 9 anos, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) como
uma das principais ações governamentais para o ensino fundamental e as principais características
do ensino fundamental na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar o marco legal, os objetivos e a organização do ensino fundamental de 9 anos.


• Relacionar o PNAIC como as principais ações governamentais para o ensino fundamental.
• Descrever as principais características do ensino fundamental na BNCC.
Infográfico
A busca pelo aumento da qualidade da aprendizagem no ensino fundamental tem sido o foco das
ações e dos programas do Ministério da Educação (MEC) na última década. Dessa maneira, além de
aumentar os índices de alfabetização dos estudantes, o MEC também estará garantindo maior
equidade de oportunidades a todos e contribuindo com o desenvolvimento nacional.

Veja no Infográfico alguns programas e ações voltados para a educação básica e que contribuem
com a alfabetização.
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Conteúdo do livro
A ampliação do ensino fundamental para 9 anos tinha entre os seus objetivos na época em que foi
lançado a diminuição das desigualdades existentes entre as diferentes regiões geográficas
brasileiras, bem como o aumento da permanência dos alunos na escola, ampliando o indicador de
tempo de escolarização brasileiro.

No capítulo Ensino fundamental de 9 anos, do Livro Organização e legislação da educação, você verá
o marco legal, os seus objetivos e a organização do ensino fundamental de 9 anos, o PNAIC como
uma das principais ações governamentais para o ensino fundamental e as principais características
do ensino fundamental na BNCC.
ORGANIZAÇÃO E
LEGISLAÇÃO DA
EDUCAÇÃO

Pablo Rodrigo Bes


Ensino fundamental
de nove anos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar o marco legal, os objetivos e a organização do ensino fun-


damental de nove anos.
 Relacionar o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa com as
principais ações governamentais para o ensino fundamental.
 Descrever as principais características do ensino fundamental na Base
Nacional Comum Curricular.

Introdução
O ensino fundamental no Brasil passou por mudanças muito significativas
na última década, muitas delas relacionadas com a sua ampliação para
nove anos, que atingiu todas as escolas da rede de ensino no ano de
2010. Ao se elevar o número de anos do ensino fundamental, reduz-se o
período da educação infantil, ao mesmo tempo que, dentro da estrutura
das escolas de ensino fundamental, inicia-se o entendimento do chamado
ciclo de alfabetização, que envolve os três primeiros anos.
Neste capítulo, você vai ler sobre o marco legal referente ao ensino
fundamental de nove anos, quais são os seus objetivos e como vem
a ser organizado. Também conhecerá o Pacto Nacional pela Alfabe-
tização na Idade Certa, que se constitui em uma importante política
educacional voltada para o ensino fundamental. Além disso, você vai
se familiarizar com as principais características dessa etapa da edu-
cação básica que se encontram presentes na Base Nacional Comum
Curricular (BNCC).
2 Ensino fundamental de nove anos

Ensino fundamental de nove anos:


marcos legais
O ensino fundamental no Brasil, até o ano de 2010, compreendia oito anos. Na
época, os alunos frequentavam, a partir dos 7 anos de idade, a primeira série do
ensino fundamental e assim progrediam até a oitava série. O que houve para que
tal mudança fosse realizada? Qual é a finalidade de realizar esse acréscimo nos
anos de escolarização do ensino fundamental? Muitas foram as discussões a esse
respeito pelos educadores, que alegavam, por um lado, que as crianças seriam
muito novas para entrar no ensino fundamental obrigatório com 6 anos de idade,
enquanto outros rebatiam esse argumento, observando que, na maioria das escolas
privadas, as crianças com 6 anos já eram inseridas em classes de alfabetização.
Saveli (2008, p. 67) comenta que “O acesso à educação obrigatória mais cedo
se constitui em um instrumento de luta política, para que todas as crianças, inclu-
sive as das classes populares, possam usufruir da igualdade de oportunidades”.
Alguns pesquisadores da área da educação infantil defendiam que as crianças
deveriam permanecer nas escolas de educação infantil e que teriam prejuízos
entrando precocemente na escola regular de ensino fundamental, enquanto outros
alertavam sobre os cuidados e as adaptações necessárias para essa transição.
Esse era o cenário que se apresentava no início dos anos 2000 no Brasil.
A ampliação do ensino fundamental para nove anos tinha, entre os seus
objetivos, a diminuição das desigualdades existentes entre as diferentes regiões
geográficas brasileiras, bem como o aumento da permanência dos alunos
na escola, aumentando o indicador de tempo de escolarização brasileiro.
Também a melhoria da qualidade da aprendizagem estava em pauta, pois,
com mais um ano letivo, era possível, em tese, melhorar a aprendizagem dos
estudantes e os índices da educação básica existentes na época.
Alguns eventos pontuais contribuíram para que a ideia da ampliação do
ensino fundamental começasse a ser discutida, preparada e organizada. Tais
acontecimentos compõem o que chamamos de marco legal e são os seguintes:

 Plano Nacional de Educação (PNE) de 2001;


 Lei nº. 11.114, de 16 de maio de 2005;
 Resolução do Conselho Nacional de Educação/Câmera de Educação
Básica (CNE/CEB) nº. 3, de 3 de agosto de 2005;
 Lei nº. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006;
 Emenda Constitucional nº. 53, de 19 de dezembro de 2006;
 Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para o ensino fundamental
de nove anos de 2010.
Ensino fundamental de nove anos 3

O PNE, que foi homologado em 2001 com vigência até 2010, por meio da
Lei nº. 10.172, de 9 de janeiro de 2001, estabeleceu a implantação progressiva
do ensino fundamental de nove anos com a inclusão das crianças com 6 anos
de idade no ensino fundamental. O segundo objetivo do PNE 2001–2010 propu-
nha: “2. Ampliar para nove anos a duração do ensino fundamental obrigatório
com início aos seis anos de idade, à medida que for sendo universalizado o
atendimento na faixa de 7 a 14 anos” (BRASIL, 2001, documento on-line).
No mesmo plano, ficava estabelecido que a universalização do ensino fun-
damental obrigatório deveria ocorrer até o quinto ano de vigência do PNE, ou
seja, 2006, procurando conciliar o acesso, a permanência e a qualidade do ensino
fundamental ofertado, reduzindo as distorções série-idade existentes na época.
Visando perseguir a execução dessa meta do PNE 2001–2010, foi sancionada
a Lei nº. 11.114/2005, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996,
estabelecendo o dever dos pais de matricular os filhos com 6 anos de idade
no ensino fundamental, etapa da educação básica que ainda permaneceu com
oito anos de duração mínima nessa época (BRASIL, 2005a).
Com a Resolução CNE/CEB nº. 3/2005, ficaram definidas as normas de
funcionamento para a ampliação do ensino fundamental para nove anos de
duração. Por meio dessa resolução, são previstas novas nomenclaturas a serem
utilizadas para a educação infantil e para o ensino fundamental (Quadro 1).

Quadro 1. Nomenclaturas para a educação infantil e para o ensino fundamental

Etapa de ensino Faixa etária prevista Duração

Educação infantil Até 5 anos de idade Cinco anos

Creche Até 3 anos de idade Três anos

Pré-escola 4 e 5 anos de idade Dois anos

Ensino fundamental Até 14 anos de idade Nove anos

Anos iniciais De 6 a 10 anos de idade Cinco anos

Anos finais De 11 a 14 anos de idade Quatro anos

Fonte: Adaptado de Brasil (2005b).

Endossando as mudanças definidas na Resolução CNE/CEB nº. 3/2005,


tivemos a criação da Lei nº. 11.274/2006, que alterou novamente a LDB de
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1996, estabelecendo, no art. 32 (BRASIL, 2005b, documento on-line): “Art.


32 O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito
na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a
formação básica do cidadão [...]”.
Esses são considerados os principais marcos legais da ampliação do ensino
fundamental para nove anos. Depois deles, houve outras determinações im-
portantes para que esse processo de transição fosse conduzido até que todos
os estudantes em todas as escolas públicas e privadas estivessem, de fato,
tendo acesso ao ensino fundamental de nove anos garantido a partir dos 6 anos
de idade. O Parecer CNE/CEB nº. 4/2008, por exemplo, trouxe importantes
esclarecimentos que dizem respeito a um projeto político-pedagógico próprio,
bem como à reorganização da educação infantil e à criação do chamado ciclo
da infância, que corresponde aos três anos iniciais do ensino fundamental
(BRASIL, 2008).

As mudanças propostas pelo Ministério da Educação para a ampliação do ensino


fundamental para nove anos precisaram ser ajustadas à Constituição Federal de 1988,
o que foi realizado a partir da Emenda Constitucional nº. 53/2006 (BRASIL, 2006), que
alterou os arts. 7º, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituição Federal, e a partir do art.
60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, ajustando os aspectos inerentes
às idades estabelecidas para a educação infantil, regime de colaboração, valorização
dos profissionais da educação básica e transferências de valores para a educação,
que compõem o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

No ano de 2010, por meio da Resolução CNE nº. 7, de 14 de dezembro de


2010, foram estabelecidas as DCNs para o ensino fundamental de nove anos,
a serem observadas por todas as escolas do sistema de ensino nacional ao
organizarem seus currículos (BRASIL, 2010). As diretrizes estabeleceram a
matrícula obrigatória no ensino fundamental das crianças que fizessem 6 anos
até o dia 31 de março, sendo que, posterior a essa data, seriam matriculadas
na educação infantil.
Também estabeleceram que os componentes curriculares obrigatórios
para o ensino fundamental seriam organizados a partir das seguintes áreas
de conhecimento:
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 linguagens, compreendendo a língua portuguesa, língua materna, para


populações indígenas, língua estrangeira moderna, arte e educação
física;
 matemática;
 ciências da natureza;
 ciências humanas, envolvendo história e geografia;
 ensino religioso.

Ao analisar a ampliação do ensino fundamental para nove anos, Kra-


mer (2006, p. 810) afirma a importância de que “[...] o planejamento e o
acompanhamento pelos adultos que atuam na educação infantil e no ensino
fundamental devem levar em conta a singularidade das ações infantis e o
direito à brincadeira, à produção cultural, na educação infantil e no ensino
fundamental”.
Dessa forma, com a introdução do ciclo da infância dos três primeiros anos
iniciais do ensino fundamental, que compreende principalmente o período de
alfabetização dos alunos, o primeiro ano do ensino fundamental assume os
aspectos da ludicidade e das interações típicas da educação infantil, servindo
de ponte e transição entre as duas etapas.

As ações que se desenvolvem a partir da proposta da ampliação do ensino fundamental


para nove anos envolvem a alfabetização e o letramento. A alfabetização consiste na
habilidade de ler e escrever, para isso, assimilando e decodificando o código escrito. Já o
letramento vai além, resultando na possibilidade de fazer uso eficiente e competente da
habilidade da leitura e da escrita de acordo com o contexto social em que se encontre.

Pacto Nacional pela Alfabetização


na Idade Certa
Após ter sido alterado o ensino fundamental para nove anos, fazendo as
crianças ingressarem mais cedo na escola, com 6 anos de idade, foi necessá-
rio estabelecer programas que pudessem organizar os primeiros anos dessa
etapa educacional, entendendo que se deveria ter cuidados especiais com as
crianças, que agora chegavam de forma mais precoce e que viriam a fazer
parte do ciclo de alfabetização.
6 Ensino fundamental de nove anos

Esse ciclo de alfabetização passou a ser compreendido como o resultado


esperado para os três anos iniciais do ensino fundamental, ao final do qual os
alunos, então com 8 anos de idade, considerada a idade certa, deveriam estar
plenamente alfabetizados e proficientes em matemática, leitura e escrita ao
menos, superando os índices anteriores, que se apresentavam muito ruins na
alfabetização brasileira e que servem de parâmetro internacional.

Ao analisar a situação da alfabetização na idade certa (até 8 anos) no contexto brasileiro


em 2010, Parente (2016, documento on-line) assevera que “[...] em 38,7% de todo o
território nacional, menos de 85% das crianças estavam alfabetizadas aos 8 anos de
idade. Em apenas 26,3% de todo o território nacional, mais de 95% das crianças estavam
alfabetizadas aos 8 anos de idade”. A autora ainda aponta uma grande disparidade
em relação às regiões geográficas brasileiras, sendo que o Norte e o Nordeste apre-
sentavam os piores índices de alfabetização se comparados às regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste. Os dados do Censo Escolar de 2010 apontavam que 15% dos brasileiros
com 8 anos de idade eram analfabetos.

Por iniciativa de alguns grupos da sociedade, foi criada em 2006 uma or-
ganização não governamental chamada de Todos pela Educação, tendo como
propósito contribuir para melhorarias no Brasil, impulsionando a qualidade
e a equidade da educação básica. Essa organização criou a Prova ABC, que
foi aplicada ao final do 3º ano do ensino fundamental para 6.000 alunos das
redes de ensino públicas e privadas pela primeira vez em 2010.
Porém, o resultado foi desanimador, pois somente 42,8% dos alunos sabiam
o esperado em matemática, 56% em leitura e 53% na escrita. A Prova ABC
serviu de inspiração para a criação da Avaliação Nacional da Alfabetização
(ANA), do Ministério da Educação, que surgiu dois anos depois, em 2012,
com a mesma finalidade.
Para que o ensino fundamental pudesse ter uma ação efetiva e melhorasse
sua qualidade e equidade, foi sancionado o Decreto nº. 6.094, de 24 de abril
de 2007 (BRASIL, 2007), que implementou o Plano de Metas Compromisso
Todos pela Educação, que, por meio do regime de colaboração entre os entes
federativos (União, Estados, Distrito Federal e municípios), aliados à família
e à sociedade, visava à melhoria da qualidade da educação básica.
Ensino fundamental de nove anos 7

Para que essa melhoria fosse alcançada, foram necessários programas e


ações governamentais de assistência técnica e financeira desencadeadas pelo
Ministério da Educação. Nesse mesmo decreto, além de priorizar inúmeros
aspectos referentes ao alcance da alfabetização dos estudantes no máximo
aos 8 anos de idade (final do 3º ano do ensino fundamental), também se faz
menção, no art. 3º, à forma como essas ações seriam acompanhadas:

Art. 3º A qualidade da educação básica será aferida, objetivamente, com


base no IDEB, calculado e divulgado periodicamente pelo INEP, a partir dos
dados sobre rendimento escolar, combinados com o desempenho dos alunos,
constantes do censo escolar e do Sistema de Avaliação da Educação Básica
— SAEB, composto pela Avaliação Nacional da Educação Básica — ANEB
e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Prova Brasil).
Parágrafo único. O IDEB será o indicador objetivo para a verificação do
cumprimento de metas fixadas no termo de adesão ao Compromisso (BRASIL,
2007, documento on-line).

Dessa forma, surgiu o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica


(IDEB), que tem sido o principal indicador de qualidade da educação básica
até a atualidade, sendo apurado a partir de avaliações realizadas junto aos
estudantes do 3º, 5º, 7º e 9º anos do ensino fundamental, por meio das provas
aplicadas pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Salientamos ainda que a meta nº. 5 do PNE 2014–2024 propõe alfabetizar
todas as crianças, no máximo, até o final do 3º ano do ensino fundamental.
Para atingir essa meta e de fato melhorar a qualidade da alfabetização, o
Ministério da Educação criou, em 2012, o Pacto Nacional pela Alfabetização
na Idade Certa (Pnaic):

O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa — PNAIC — é um progra-


ma do Ministério da Educação (MEC) que conta com a participação articulada
entre Governo Federal, governos estaduais e municipais e do Distrito Federal,
dispostos a mobilizar esforços e recursos na valorização dos professores e
das escolas; no apoio pedagógico com materiais didáticos de qualidade para
todas as crianças do ciclo de alfabetização e na implementação de sistemas
adequados de avaliação, gestão e monitoramento, objetivando alfabetizar
todas as crianças até oito anos de idade (BRASIL, 2014, documento on-line).

Dessa forma, o Pnaic passou a ser um importante programa que trabalha


diretamente com os professores alfabetizadores, por meio de um curso pre-
sencial, com duração de dois anos, com carga horária de 120 horas anuais.
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Esse programa visa fornecer apoio pedagógico, por meio de capacitações em


formação continuada, materiais didáticos a serem utilizados com os alunos
e, inclusive, um valor financeiro acrescido ao salário como valorização pelo
seu trabalho nessas turmas de alfabetização. De acordo com o Ministério da
Educação (2014), existem cinco princípios que orientam a proposta do Pnaic:

 currículo inclusivo;
 integração entre os componentes curriculares;
 foco na organização do trabalho pedagógico;
 seleção e discussão de temáticas fundantes;
 ênfase na alfabetização e no letramento das crianças.

Por meio dos princípios que orientam o programa, podemos perceber a


preocupação com a busca por um currículo que possa defender o direito à
aprendizagem de todas as crianças, o que precisa ser feito de forma organizada
e planejada, integrando os saberes para a promoção do letramento e da alfabe-
tização dos alunos durante os três primeiros anos do ensino fundamental. Isso
é buscado a partir da inserção do professor em constante processo formativo,
no qual pode aprender, testar e refletir sobre suas práticas em sala de aula,
enriquecendo sua formação inicial. As ações do Pnaic são realizadas a partir
de quatro eixos principais:

 formação continuada;
 avaliações sistemáticas;
 gestão, controle social e mobilização;
 materiais didáticos.

As ações de formação continuada são realizadas com os professores


regentes de turmas de alfabetização e os professores orientadores de estudo,
que são responsáveis pelo acompanhamento e pela orientação técnica local
de um grupo de professores alfabetizadores. A formação continuada tem a
finalidade de “[...] ampliar as discussões sobre a alfabetização, na perspec-
tiva do letramento, no que tange a questões pedagógicas das diversas áreas
do conhecimento em uma perspectiva interdisciplinar, bem como sobre
princípios de gestão e organização do ciclo de alfabetização” (BRASIL,
2014, documento on-line).
As avaliações sistemáticas envolvem avaliações processuais conduzidas
pelo professor junto aos alunos durante o período em que participa das forma-
Ensino fundamental de nove anos 9

ções do Pnaic, bem como as avaliações aplicadas pelo Instituto Nacional de


Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) aos alunos concluintes
do 3º ano do ensino fundamental.
A gestão, o controle social e a mobilização são realizados a partir de quatro
mecanismos: “[...] o Comitê Gestor Nacional, a coordenação institucional
em cada estado, a Coordenação Estadual e a Coordenação Municipal, for-
talecendo a articulação entre o Ministério da Educação, as redes estaduais,
as municipais e as Instituições formadoras” (BRASIL, 2014 documento
on-line). Esses órgãos se encarregam de verificar se as ações do Pnaic são
efetivamente realizadas, mapeando as possíveis e necessárias correções que
devem ser realizadas. Também foi criado pelo Ministério da Educação, para
realizar o acompanhamento e monitoramento das ações do programa junto
ao Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle (Simec), o
sistema de monitoramento do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
Certa (Sispacto).

O Sispacto pode ser acessado por meio de sua plataforma digital pelos dirigentes de
educação, coordenadores locais, orientadores de estudo e professores alfabetizadores
para acesso aos pagamentos de bolsas e outras informações relacionadas ao Fundo
Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Os materiais didáticos, por sua vez, articulam outros programas voltados


para a educação básica, pois envolvem os manuais do Pnaic entregues aos
professores para serem utilizados na sua formação. Envolvem também as
inúmeras obras literárias entregues pelo Programa Nacional do Livro Didá-
tico (PNLD Pnaic), jogos pedagógicos e tecnologias educacionais focadas na
alfabetização que costumam chegar até as escolas pelo Programa Nacional
Biblioteca da Escola-PNBE.
Na atualidade, os materiais referentes ao Pnaic envolvem também os
professores da educação infantil e o Programa Novo Mais Educação, que,
embora se dirija a alunos do 5º ao 9º ano do ensino fundamental, foram
organizados junto ao Pnaic para efeito de monitoramento e controle pelo
Sispacto.
10 Ensino fundamental de nove anos

O Pnaic é um dos programas de formação continuada para professores, do Ministério da


Educação, que é desenvolvido de forma presencial. Porém, existem outros programas
voltados para essa formação continuada dos docentes, como o ProInfantil, que é um
curso a distância, em nível médio, na modalidade normal, destinado a capacitar os
profissionais que atuam na educação infantil em creches e pré-escolas e que ainda
não possuem a habilitação mínima para atuar no magistério.

Ensino fundamental de nove anos na Base


Nacional Comum Curricular
O ensino fundamental é a etapa mais longa da educação básica. Para que
tenha a atenção necessária quanto à organização curricular das atividades
desenvolvidas dentro das escolas do sistema de ensino brasileiro, foi instituída a
BNCC do ensino fundamental em 2017, que, junto com as DCNs para o ensino
fundamental de nove anos (Resolução CNE/CEB nº. 7/2010), encarregam-se
dessa tarefa.
A BNCC do Ensino Fundamental — Anos Iniciais aponta alguns aspectos
importantes a serem considerados nos primeiros anos de escolarização dessa
etapa da educação básica:

 ludicidade;
 educação infantil;
 novas formas de relação;
 interesse das crianças;
 alfabetização;
 aprendizagem.

As situações lúdicas de aprendizagem devem se fazer presentes nos anos


iniciais do ensino fundamental, colaborando para auxiliar na transição dos
alunos provenientes da educação infantil. As experiências da educação infantil
devem ser consideradas e articuladas nessa próxima etapa educacional. As
crianças, no início do ensino fundamental, estão passando por mudanças
significativas “[...] em seu processo de desenvolvimento que repercutem em
suas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo” (BRASIL,
2014, documento on-line).
Ensino fundamental de nove anos 11

Ao serem pensados os currículos escolares, também devem ser considerados


os interesses das crianças, partindo das suas experiências mais imediatas para
que se consolidem e aprimorem novos conhecimentos e se constituam novas
experiências educativas. Já a alfabetização se apresenta como o objetivo central
dos anos iniciais, uma vez que:

Nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve ter
como foco a alfabetização, a fim de garantir amplas oportunidades para que
os alunos se apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articulado
ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu
envolvimento em práticas diversificadas de letramentos (BRASIL, 2014,
documento on-line).

Ressaltamos a importância do processo de alfabetização, do letramento


— que deve ser perseguido tornando os alunos capazes de fazer bom
uso da leitura —, da escrita e da alfabetização matemática. Em relação
à aprendizagem, fica evidente que esta deva seguir um fluxo contínuo
entre as duas fases do ensino fundamental (anos iniciais e finais), procu-
rando evitar rupturas bruscas no processo de aprendizagem, sobretudo, na
passagem dos professores generalistas, da unidocência dos anos iniciais,
para os professores das áreas correspondentes do 6º ao 9º anos do ensino
fundamental.

A BNCC do Ensino Fundamental — Anos Finais (2017) entende que, nos anos finais,
os estudantes se deparam com maiores desafios, pois terão que se apropriar de
novas formas de organização dos conhecimentos relacionados às diferentes áreas do
conhecimento. Devem ser consideradas as mudanças que esses estudantes também
vivenciam em suas vidas ao ingressarem na adolescência, quando passam “[...] por
intensas mudanças decorrentes de transformações biológicas, psicológicas, sociais e
emocionais” (BRASIL, 2014, documento on-line).

Para contemplar essas mudanças, a importância de fortalecer a autono-


mia desses jovens precisa ser considerada pela escola, desenvolvendo sua
criticidade. Também se faz necessário reconhecer seus aspectos geracionais
e que produzem sua identidade, incluindo aí as questões da cultura digital
12 Ensino fundamental de nove anos

amplamente utilizada por essa faixa etária. Além disso, a BNCC do Ensino
Fundamental — Anos Finais reforça que é compromisso da escola:

[...] propiciar uma formação integral, balizada pelos direitos humanos e princí-
pios democráticos, é preciso considerar a necessidade de desnaturalizar qual-
quer forma de violência nas sociedades contemporâneas, incluindo a violência
simbólica de grupos sociais que impõem normas, valores e conhecimentos tidos
como universais e que não estabelecem diálogo entre as diferentes culturas
presentes na comunidade e na escola (BRASIL, 2014, documento on-line).

A busca por uma cultura de paz deve ser fomentada dentro da escola,
coibindo qualquer forma de violência, mesmo que simbólica, e propondo uma
educação eficiente também nesse aspecto. A BNCC do Ensino Fundamental —
Anos Finais propõe as áreas de conhecimento e seus respectivos componentes
curriculares conforme Quadro 2.

Quadro 2. Áreas de conhecimento e componentes curriculares da BNCC do ensino fun-


damental

Componentes curriculares
Áreas de
conhecimento Anos iniciais Anos finais (6º ao 9º ano)
(1º ao 5º ano)

Linguagens Língua portuguesa


Arte
Educação física

— Língua inglesa

Matemática Matemática

Ciências da natureza Ciências

Ciências humanas Geografia

História

Ensino religioso Ensino religioso

Fonte: Adaptado de Brasil (2014).


Ensino fundamental de nove anos 13

A BNCC do Ensino Fundamental — Anos Finais propõe competências


específicas gerais para cada área de conhecimento e, dentro de cada compo-
nente curricular, também existem competências específicas propostas. Para que
se atinjam essas competências específicas, “[...] cada componente curricular
apresenta um conjunto de habilidades. Essas habilidades estão relacionadas
a diferentes objetos de conhecimento — aqui entendidos como conteúdos,
conceitos e processos —, que, por sua vez, são organizados em unidades
temáticas” (BRASIL, 2014, documento on-line).
Dessa forma, percebemos que a BNCC do ensino fundamental se apresenta
de fácil manejo e possibilita que rapidamente os professores possam se apro-
priar dos objetos de conhecimento necessários a serem desenvolvidos junto
aos seus alunos em cada componente curricular das áreas de conhecimento
onde atuem, contribuindo para “[...] a promoção de uma educação integral
voltada ao acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno de todos
os estudantes, com respeito às diferenças e enfrentamento à discriminação e
ao preconceito” (BRASIL, 2014, documento on-line).
Dessa forma, a BNCC do Ensino Fundamental — Anos Finais precisa ser
aplicada a todas as redes de ensino e instituições escolares do Brasil para que
possam, de fato, promover a qualidade e a equidade das aprendizagens dos
estudantes que ali se encontram matriculados exercendo seu direito consti-
tucional à educação.

Para conhecer os programas que o Ministério da Educação possui e que se aliam


aos objetivos de busca do aumento de qualidade na educação básica, focando na
formação de professores, acesse o site do Ministério da Educação, na guia Formação
continuada para professores, por meio do link:

https://goo.gl/xiH63h
14 Ensino fundamental de nove anos

BRASIL. Decreto nº. 6.094, de 24 de abril de 2007. Dispõe sobre a implementação do


Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Federal, em regime de
colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e a participação das famílias
e da comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e financeira,
visando a mobilização social pela melhoria da qualidade da educação básica. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 25 abr. 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6094.htm>. Acesso em: 28 nov. 2018.
BRASIL. Lei nº. 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jan. 2001. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2001/lei-10172-9-janeiro-2001-359024-pu-
blicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 28 nov. 2018.
BRASIL. Lei nº. 11.114, de 16 de maio de 2005. Altera os arts. 6°, 30, 32 e 87 da Lei nº.
9.394, de 20 de dezembro de 1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início do
ensino fundamental aos seis anos de idade. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 mai.
2005a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/
Lei/L11114.htm>. Acesso em: 28 nov. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educa-
ção Básica. Resolução nº. 3, de 3 de agosto de 2005. Define normas nacionais para a
ampliação do Ensino Fundamental para nove anos de duração. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 8 ago. 2005b. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/
rceb003_05.pdf>. Acesso em: 28 nov. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educa-
ção Básica. Resolução nº. 7, de 14 de dezembro de 2010. Fixa Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 9 dez. 2010. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb007_10.
pdf>. Acesso em: 28 nov. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Emenda Constitucional nº. 53, de 19 de dezembro de
2006. Dá nova redação aos arts. 7º, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituição Federal
e ao art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 20 dez. 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/cons-
tituicao/emendas/emc/emc53.htm>. Acesso em: 28 nov. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional do Livro Didático: PNLD Pnaic.
Brasília, DF, 2014. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/pnld/pnld-pnaic>. Acesso
em: 28 nov. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parecer Homologado
nº. 4, de 20 de fevereiro de 2008. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jun. 2008.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/2008/pceb004_08.pdf>.
Acesso em: 28 nov. 2018.
Ensino fundamental de nove anos 15

KRAMER, S. As crianças de 0 a 6 anos nas políticas educacionais no Brasil: educação


infantil e/é fundamental. Educação e sociedade, v. 27, nº. 96, p. 797-818, 2006.
PARENTE, C. M. D. O pacto nacional pela alfabetização na idade certa (Pnaic) e seus
vínculos com as políticas de formação de professores alfabetizadores nos municí-
pios paulistas. Educação em Revista, v. 17, 2016. Disponível em: <http://www2.marilia.
unesp.br/revistas/index.php/educacaoemrevista/article/view/5841>. Acesso em:
28 nov. 2018.
SAVELI, E. L. Ensino fundamental de nove anos: bases legais de sua implantação. Práxis
Educativa, v. 3, nº. 1, p. 67-72, jan./jun. 2008. Disponível em: <http://www.redalyc.org/
articulo.oa?id=89430107>. Acesso em: 28 nov. 2018.
Conteúdo:
Dica do professor
O PNAIC propôs a ideia de ciclo de alfabetização, que deveria ser concluído no final do 3º ano do
ensino fundamental.

Com a BNCC, o processo de alfabetização passa a ser compreendido como aquele que deva se
realizar até o final do 2º ano do ensino fundamental, em que os alunos deverão estar plenamente
alfabetizados.

Veja na Dica do Professor o que significa o processo de alfabetização segundo a BNCC para o
ensino fundamental.

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Na prática
Para que a educação possa se desenvolver com qualidade e promover a aprendizagem junto com
os alunos, em qualquer nível e modalidade educacional, faz-se necessário um empenho no
planejamento das aulas que serão aplicadas. Para o planejamento das aulas, devem ser observados
os documentos que norteiam o currículo, como as Diretrizes Curriculares Nacionais e a Base
Nacional Comum Curricular.

Pâmela, pedagoga, foi aprovada para trabalhar como professora dos anos iniciais na prefeitura
municipal e foi designada a uma escola para lecionar no 4o ano.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

A recontextualização do Pacto Nacional pela Alfabetização na


Idade Certa - PNAIC: uma análise dos contextos macro, meso e
micro
Neste link, você acessa uma pesquisa com análise documental, entrevistas e observações de
encontros de estudo e da prática pedagógica na sala de aula. Argumenta-se que o PNAIC tem
elementos de uma pedagogia mista, com princípios dos modelos pedagógicos de competência e de
desempenho.

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Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC)


Neste link, você acessa uma entrevista realizada pela Unesp, em que a professora explica
detalhadamente o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), suas características e
finalidades, bem como a participação das universidades públicas no programa.

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