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RESUMO
A ampliação do tempo escolar toma forma legal a partir da Lei n. 9394/96 que se prevê o progressivo aumento
do tempo escolar nos municípios brasileiros em seu artigo de n. 34 e n. 87. Em 2014, o tempo integral foi posto
como meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que o prevê em pelo menos 50% das escolas públicas
brasileiras, atendendo a 25% dos alunos da educação básica (Lei n. 13.005/14) e o estabelece na estratégia 6.1
em 7 (sete) horas diárias minimas durante o ano letivo. Considerando as exigências legais para ampliação do
tempo escolar no país, o presente estudo objetiva analisar o texto - e o contexto - da política de educação em
tempo integral da rede de ensino pública da cidade do Rio de Janeiro. Para isso, nos pautamos em estudos
teórico-bibliográficos de MAURÍCIO (2009), COELHO (2009) e CAVALIERE (2002, 2007, 2009) e pesquisa
documental dos textos legais e/ou oficiais sobre a implantação do turno único nesta rede de ensino, expressos
na Lei 5.225/10 e nas Resoluções 1.178/2012 e 1.317/2014. Este estudo é de extrema relevância, pois contribui
para as atuais pesquisas em políticas educacionais em tempo integral e para o debate sobre arranjos espaço-
temporais educativos possíveis e/ou desejáveis para as redes de ensino do país.
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INTRODUÇÃO
OBJETIVOS
Para responder as questões supracitadas, esse estudo apresenta como objetivo maior
a análise da política pública de ampliação da jornada escolar no município do Rio de Janeiro
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por meio da legislação que a norteia. Para alcançar este objetivo, o presente estudo se pauta
nas categorias tempo escolar e tempo integral para, nos termos da lei: ) investigar a quem se
destina e o alcance da política de tempo integral na rede pública municipal carioca; ii) inferir a
finalidade desta política e (ii) descrever os possíveis arranjos temporais da rede de ensino em
função da ampliação da jornada.
METODOLOGIA
DISCUSSÃO TEÓRICA
Quando se fala em tempo integral nas escolas, é necessário diferenciar duas categorias
que comumente são confundidas pelo senso comum como se fossem uma. A educação
integral não se vincula necessariamente ao tempo integral e vice-versa. Do mesmo modo,
várias pesquisas na temática como as de COELHO (2009), CAVALIERE (2002, 2005, 2009) e
MAURICIO (2009) apontam que existem diferentes concepções ou pontos de vista acerca do
que se compreende por educação integral e a ampliação do tempo de permanência na escola.
Debrucemo-nos sobre o tempo escolar.
Partindo da compreensão da relatividade do tempo, Cavaliere (2007) enfatiza que esta
categoria não pode ser analisada alheia às relações que ela estabelece com outras dimensões
no seu contexto histórico. Segundo a autora, a noção do tempo escolar no Brasil sofreu
mudanças, mesmo que lentamente, em função “de um novo tempo social baseado na cultura
urbana” que trouxe à tona algumas questões como o acesso à escolarização pelas camadas
desfavorecidas e a inserção da mulher no mercado de trabalho.
O contexto sobre o qual se situa a ampliação do tempo escolar no Brasil e, mais
especificamente na cidade do Rio de Janeiro está, basicamente, entre outras questões,
associado ao atendimento das necessidades das famílias dos educandos (pais trabalhadores) e
também ao fato de que a criança que fica mais tempo na escola, terá menor risco social. Na
produção acadêmica, Cavaliere aponta pesquisas que constatam que a ampliação do tempo
escolar tem apresentado resultados positivos quanto ao desempenho dos alunos.
A mesma autora problematiza essas e outras dimensões relacionadas ao tempo
escolar, citando a experiência dos CIEPs no Rio de Janeiro quanto à inadaptação dos alunos à
escola em tempo integral se esta instituição reproduzir práticas da escola convencional, ou
seja, se apenas houver aulas sequenciais com total ausência de atividades diversificadas.
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Em suma, a autora destaca, com base nos estudos de Ribeiro (1986) e (Grunder, 1997;
Cattabrini, 1997) que o aumento da ampliação da jornada escolar no Brasil se pauta na aposta
da diminuição das diferenças entre os mais prestigiados e desprestigiados, do ponto de vista
do capital cultural. Neste sentido, a ampliação do tempo estaria “na transformação do tipo de
vivência escolar”, no papel desempenhado pela escola. Considerando o contexto pelo qual
podemos compreender, pelo menos em parte, a ampliação do tempo escolar nas escolas
brasileiras, tal estudo comunga com as concepções de MAURÍCIO (2009):
Nesta perspectiva, mais tempo na escola compõe uma proposta de educação que
considera o ser na sua integralidade e não somente no âmbito cognitivo, mas também o
afetivo, o físico, o social e outros, no seu conjunto. Neste sentido, a ampliação da jornada é
uma condição, segundo a autora, para que a criança brasileira de classe popular tenha as
mesmas condições educacionais que a criança de classe média, para que a primeira possa
adquirir hábitos, valores e conhecimentos para exercer seus direitos e deveres enquanto
cidadão e, por isso, demanda mais tempo na escola.
Neste caminho, é válido analisar o que texto legal federal dispõe sobre o tempo
integral nas redes de ensino do país e sua possível finalidade. A lei brasileira nos deixa algumas
lacuna no que se refere às finalidades do aumento da jornada escolar nas redes de ensino do
país. Apenas na descrição da meta seis do PNE encontramos menção mais especififica sobre
sua implantação, no item 6.1, que define como estratégia:
Pela descrição da estratégia da meta seis, podemos tomar como referência que tempo
integral é compreendido como a extensão da jornada escolar para, no mínimo, 7 (sete) horas
diárias de atividades e com consequente ampliação da jornada do professor dessas escolas. Tal
descrição nos permite inferir que há uma preocupação de permanência não só do aluno na
escola, como também do professor, bem como a necessidade de atividades diversificadas e
integradas de forma multidisciplinar, o que vai ao encontro das considerações de CAVALIERE
(2007) e MAURICIO (2009) sobre os arranjos possíveis do tempo escolar numa perspectiva
ampliada de educação, sendo este papel desempenhado pela escola.
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Considerando as perspectivas teóricas apresentadas sobre o tempo integral,
apresentaremos uma análise dos textos da política de educação em tempo integral na rede
municipal do Rio de Janeiro ciente do inacabamento deste estudo, uma vez que tal política
ainda está sendo implantada e nos carece de mais tempo e de dados para inferências mais
aprofundadas sobre o contexto sobre o qual ela se concretiza.
RESULTADOS
A Lei ordinária dispõe que a jornada escolar se dará em: “7 (sete) horas diárias de
jornada escolar no prazo de dez anos, aumentando dez por cento a cada ano” alcançando,
segundo o texto da Lei, “a educação infantil e o ensino fundamental” (p.1). O documento ainda
prevê a permanência dos alunos na escola para além das sete horas, sendo optativa às famílias
dos estudantes. Considerando que 7 horas diárias de permanência na escola é categorizada
como tempo integral no PNE e expresso na Resolução de 2010, a referida lei nos permite
confirmar que tais escolas tem a incumbência de atender os alunos em tempo integral
diariamente e que esta política alcança o ensino fundamental e à educação infantil, estando de
acordo com os parâmetros da Lei 9394/96 e do Plano Nacional de Educação de 2014-2024.
Contudo, encontramos no art. 2 a restrição inicial de que o turno único será prioridade nas
escolas localizadas em áreas de baixo IDH, o que nos permite depreender que a política será
estendida para toda esta rede de ensino.
No que concerne aos arranjos do tempo da escola de tempo integral, o texto da lei
ordinária também nos deixa lacunas no que concerne aos seus arranjos. Recorremos, então, às
Resoluções de n. 1.178 de fevereiro de 2012 e a de n. 1.317 de 2014 para buscar respostas às
indagações. Nestes documentos, há especificação mais ampla da operacionalização da
ampliação da jornada, em diferentes anos de escolaridade.
A organização do tempo nas escolas de turno único se dá, conforme expresso no Art.
1º da Resolução de 2012: “1. 7 (sete) horas e 20 (vinte) minutos de trabalho escolar, com um
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total de 35 (trinta e cinco) tempos de 50 (cinquenta) minutos de aula, incluindo refeições e
recreio;” (p.2). No item dois deste artigo há menção sobre extensão do horário para 1 (uma)
hora e 40 (quarenta) minutos de atividades de contraturno destinadas ao reforço escolar,
sendo opcional aos alunos. O Art. 3º dispõe sobre a matriz curricular que deve ser
preferencialmente organizada com agrupamentos de dois tempos para cada área do
conhecimento, devendo-se evitar três tempos consecutivos.
Pelo que está expresso nos textos dos Artigos 1 e 2 do texto da Resolução 1.178/2012,
constata-se que os alunos das escolas em tempo integral permanecem nas unidades escolares
durante as sete horas e vinte minutos diários e que suas matrizes curriculares contemplam,
além das disciplinas da base nacional comum curricular, uma parte diversificada que
contempla aulas de Língua estrangeira, Sala de Leitura e Estudo Dirigido. As atividades de
contraturno são as que vão para além das 7 h, denominadas de aulas de reforço escolar e
outros componentes, que não são obrigatórias.
Pela descrição dos textos legais acima, podemos compreender que as escolas de
tempo integral operam com o tempo de forma convencional, estipulando o tempo de
interação com educando em aulas de 7 (sete) tempos de 50 min. diários com a exigência de
agrupamento de dois tempos consecutivos destinados ao núcleo comum, no mínimo, para
cada área do conhecimento. O tempo destinado às refeições e ao recreio soma-se aos tempos
de aula, portanto não fica claro o intervalo reservado a essas ações. Há ainda, a menção de
ampliação desde tempo para além das 7 horas, destinados às aulas de reforço. Pela descrição
da organização do tempo na matriz curricular, pode-se inferir que os alunos permanecem a
maior do tempo em sala de aula, realizando atividades do núcleo comum. A parte diversificada
do currículo é reservada dois tempos de 50 min., uma para cada disciplina (língua estrangeira e
sala de leitura), acrescido do Estudo Dirigido de 50 min.
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No que tange aos níveis de ensino, o tempo integral está previsto para todo o ensino
fundamental desde a educação infantil ao 9º ano do ensino fundamental, fator positivo o que
significa um grande quantitativo de alunos impactados pela política, diferentemente de outras
políticas tempo integral, como o Programa Mais Educação, que se trata de uma política
indutora e se não alcançou toda a rede municipal de ensino.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília:
1996.
CAVALIERE, Ana Maria. Tempo de escola e qualidade na educação pública. Educ. Soc. [online].
2007, vol.28, n.100, pp. 1015-1035. ISSN 1678-4626. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302007000300018> Acesso em 27 Set. 2015
_____________. Escolas públicas de tempo integral: uma idéia forte, uma experiência frágil. In:
CAVALIERE, A. M.; COELHO, L. M. C. Educação brasileira e(m) tempo integral. Petrópolis:
Vozes, 2002a. p.93-111.
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PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Dispõe sobre a implantação de turno único no ensino público
rede pública municipal nas escolas da rede pública municipal: Lei municipal nº 5.225/2010. Rio
de Janeiro: 2010.