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Resu m o
Na história das instituições escolares brasileiras, os Grupos Escolares sobressaem-se como uma proposta
para efetivar o projeto político republicano de reforma social e difusão em massa da educação popular. No
estado do Rio de Janeiro, outro destaque mais recente que, de certa forma, se assemelha ao objetivo
daqueles Grupos pode ser encontrado nos Centros de Educação Integral (CIEPs). Tomando o currículo como
foco e pautando nossa investigação sobre a relação entre educação integral e diversificação curricular,
tencionamos resgatar uma parcela da história dessa instituição escolar. A partir da análise de entrevistas
gravadas com professores regentes de turma e corpo técnico-administrativo, em uma amostra de quatro
CIEPs do Rio de Janeiro, discutimos suas concepções sobre educação integral e diversificação curricular.
Constatamos que esses profissionais não possuem definição segura sobre o que sejam educação integral
e diversificação curricular, concepções relevantes que funcionam como matrizes de suas práticas.
Pa la vra s-ch a ve
Educação Integral. Currículo. Educação Fundamental.
Abstra ct
In the history of Brazilian teaching institutions, the School Groups have an outstanding role as a proposal for
giving effectiveness to the republican political project of social reformation and the diffusion of mass education.
In the State of Rio de Janeiro, another recent highlight, in a way, resembling the goal of those School Groups
can be found in the Centers of Integral Education (CIEPs). Having the curriculum as a focus and basing our
investigation on the relation between integral education and curricular diversification, we intend to rescue a
parcel of this educational institution. From the analysis of recorded interviews with teachers and technical
administrative staff, in a four-CIEP sample in the city of Rio de Janeiro, we discuss their conception of integral
education and curricular diversification. We stated that these professionals lack a safe definition of what
integral education and curricular diversification are important conceptions that work as a basis for their practice.
Key-w ords
Integral Education. Curriculum. Elementary Education.
178 Lígia Marta C. C. COELHO; Dayse M. HORA. Educação integral, tempo integral...
cação de massas que se quer de qualida- Nesse sentido, o presente ensaio dis-
de? O que o projeto tem hoje de diversificado cute a relação diversidade curricular e edu-
em sua proposta curricular, em relação a cação integral, a partir de material coletado
outras instituições escolares? Como os su- durante a quarta fase da pesquisa Análise
jeitos responsáveis pela realização do pro- Situacional das Escolas Públicas de Horário
jeto entendem tempo integral e educação Integral 1. A base desse material são entre-
integral? vistas gravadas com professores regentes
Os debates acerca da produção cur- de turma e corpo técnico-administrativo, em
ricular no cotidiano da escola tornam-se uma amostra de quatro CIEPs situados no
cada vez mais acirrados no campo acadê- Estado do Rio de Janeiro. Metodologica-
mico nacional. Entretanto, questionamo- mente, ao procedermos à análise do con-
nos, muitas vezes, sobre a eficácia dessas teúdo desses instrumentos (BARDIN, s/d),
discussões, principalmente quando, em tra- realizamos inferências e destacamos pon-
balho de campo, verificamos a distância tos que nos permitem perceber a que dis-
que se mantém entre o proclamado na aca- tância das teorias exaradas na academia
demia e o realizado na prática pedagógi- estão aqueles que, cotidianamente, fazem
ca. A proposta de uma Educação Integral a educação no estado do Rio de Janeiro.
que tem por referência histórica, no Brasil, Ao lado dessa análise de conteúdo,
desde as práticas anarquistas e integralistas objetivamos também desvelar o quanto o
das décadas de 1920 e 1930, passando estudo do currículo praticado tece sobre a
pelas formulações de Anísio Teixeira, até a história de uma instituição escolar – o CIEP
constituição do projeto dos Centros Integra- –, com os riscos que sabemos correr quando
dos de Educação Pública – CIEPs – , imple- da tentativa de realizar reflexões teórico-
mentado por Darcy Ribeiro no estado do metodológicas acerca de uma história em
Rio de Janeiro, é um exemplo desse distan- curso. No entanto, acreditamos que fazer
ciamento entre o que é debatido pelos in- história das instituições escolares é perpas-
telectuais da educação e a realidade do sar pelas inúmeras possibilidades de estudá-
cotidiano das escolas. las, tanto a partir das concepções que con-
Seja para um projeto de educação solida quanto das práticas que engendra.
integral, ou para qualquer outra proposta Esta última – a prática – será nosso campo
na área, sabemos seguramente que sua de investigação tendo, como base, a histó-
materialização se engendra na produção ria do currículo praticado nos CIEPs.
do artefato denominado currículo. Estabele-
cendo-o como foco, e pautando nossa in- 2 Sob re cu rrícu lo e dive rsifica çã o
vestigação sobre a relação existente entre cu rri cu la r
educação integral e diversificação curricular,
pretendemos visualizar parte significativa A temática da diversificação curricular
dos processos educativos que interagem no é recorrente nos estudos da prática peda-
cotidiano da instituição escolar “CIEP”. gógica. Entretanto, nos parece que, nos
180 Lígia Marta C. C. COELHO; Dayse M. HORA. Educação integral, tempo integral...
como o dissemos mas é, na realidade, o no cotidiano; além disso, que se permitam
âmago do trabalho pedagógico e, talvez, trabalhar integradamente, por meio de pla-
seja o grande diferencial do professor: a sua nejamento coletivo capaz de constituir
capacidade de reflexão, não somente sobre espaços de apreensão de conhecimentos
o trabalho ou do trabalho que realiza, mas múltiplos.
também e, principalmente, no trabalho pe- É nesse contexto que podemos nos
dagógico durante a ação educativa, que debruçar sobre questões como diversificação
inclui não apenas os procedimentos do pla- curricular, educação integral e atividades
nejamento ou da avaliação, mas também diversificadas. A pesquisa que desenvolve-
o fazer no cotidiano da prática escolar, a mos sobre concepções e práticas de edu-
partir de uma teoria que lhe confere somen- cação integral e(m) tempo integral imple-
te as pistas como um instrumental que pre- mentadas nos CIEPs3 do Estado do Rio de
cisa ser revisitado e ressignificado, não a Janeiro nos possibilitou refletir, obviamen-
cada ano letivo, mas a cada momento, a te, sobre a própria concepção de educação
cada situação no cotidiano das práticas integral, principalmente se levarmos em
educativas. conta a existência de atividades diversifica-
Na situação que evidenciamos no das na proposta político-pedagógica que
parágrafo anterior, estamos nos referindo a constituiu.
à capacidade de cada professor de criação Segundo O Livro dos CIEPs, conside-
e recriação, no contato direto com a reali- rado como obra representativa dessa pro-
dade dos sujeitos envolvidos no trabalho posta, aquelas instituições públicas de
pedagógico, quer sejam crianças, jovens ou ensino,
adultos; quer estejam esses sujeitos nos [...] funcionando em regime de dia comple-
mais diversos espaços educativos: a escola, to [...] ministra aos alunos currículo do 1o
grau, com aulas e sessões de Estudo Diri-
os museus, o cinema, o teatro, o espaço de gido, além de oferecer atividades como es-
trabalho. Acreditamos que essa constitui- portes e participação em eventos culturais,
ção profissional2 não deve ser vista como numa ação integrada que objetiva elevar
um atributo natural, mas como uma cons- o rendimento global de cada aluno. [...] Em
trução social, ou seja, condição inerente à contraste com as escolas superlotadas, o
CIEP é uma verdadeira escola-casa, que
formação complexa do magistério, sem que proporciona a seus alunos múltiplas ativi-
seja uma visão romântica do trabalho do- dades4, complementando o trabalho na sala
cente. Preocupamo-nos, assim, com uma de aula com recreação, esportes e ativida-
formação de professores que seja capaz de des culturais. (RIBEIRO, 1986, p. 42)
identificar conflitos, contradições, dilemas Uma análise da afirmação acima
sociais; que seja capaz de encontrar pro- evidencia a existência de uma multiplici-
postas de trabalho para desvelarem ques- dade de atividades em distintas formas de
tões políticas, éticas, religiosas, econômicas, expressão humana – música, dança, ani-
culturais, e construírem práticas diferencia- mação cultural, esportes, biblioteca – que
das para cada situação a que são expostos deveriam interagir, em ações previamente
182 Lígia Marta C. C. COELHO; Dayse M. HORA. Educação integral, tempo integral...
nos impor outra questão – as formas de do conflito entre as forma de organização
organização curricular –, o que significa dos currículos, entre o disciplinar e o inte-
enfrentar a organização do conhecimento grado. Em outras palavras, a realidade dos
escolar para basicamente analisar a disci- textos escritos sobre a concepção de edu-
plinaridade e a integração. cação integral em tempo integral vigente
De certa forma, há uma tendência a naquelas escolas apontava para esse cur-
interpretar o conhecimento escolar como rículo integrado,
uma adaptação do conhecimento científi- A obtenção do êxito na implantação do 2o
co para fins de ensino. Entretanto, os estu- Programa Especial de Educação exige pro-
dos de história das disciplinas escolares de fissionais qualificados e comprometidos
Goodson (1995), os princípios de recontex- com a sua proposta político-pedagógica.
Para isso, articulam-se e integram-se faze-
tualização de Bernstein (1996) e o entendi- res que possibilitam o surgimento da prá-
mento de que existe uma epistemologia tica educativa por ela anunciada [...] As
escolar nos fazem questionar a relação di- ações pedagógicas desenvolvidas no CIEP
reta entre conhecimento científico e conhe- emanam de uma visão interdisciplinar, de
cimento escolar. A lógica científica no con- modo que o trabalho de cada professor
integre, complemente e reforce o trabalho
texto escolar é sempre uma lógica recontex- dos demais (CIEPs e CIACs – a educação
tualizada, engendrada por interesses sociais como prioridade, s/d, p. 21-35).
mais amplos. O conhecimento escolar é um Reafirmando a importância de pro-
amálgama, é sui generis, próprio da cultu- fessores e educadores das várias ativida-
ra escolar (FOURQUIN, 1993). des diversificadas existentes no espaço es-
Develay (1995) defende que o conhe- colar trabalharem em conjunto, nos mo-
cimento escolar não tem apenas o conhe- mentos de planejamento coletivo existen-
cimento científico como saber de referência. tes no horário da escola, o projeto político-
Há vários saberes que se juntam às práti- pedagógico dos CIEPs impunha sua feição
cas sociais de referência, nas quais se in- à escola pública e à educação pretendida
cluem atividades sociais diversas de pesqui- – interdisciplinar, integrada e comprometi-
sa, produção, engenharia, bem como ativi- da com a formação integral da criança.
dades culturais. Vale lembrar aqui que, his- No entanto, a prática educativa nem
toricamente, as propostas de educação in-
sempre apontou para essa concepção
tegral primaram sempre por essa linha, na
curricular. Na investigação realizada, pode-
medida em que, ao proporem a formação mos verificar o quanto as categorias discu-
do homem completo, abrem caminhos para tidas neste ensaio inexistiam, de forma ar-
a existência, no espaço formal da escola, ticulada, nas concepções e práticas dos pro-
de múltiplos conhecimentos sociais e cul-
fessores que trabalhavam, cotidianamen-
turais que são escolarizados.
te, naqueles espaços educativos. É sobre
Assim sendo, para a realidade que
esse descompasso que pretendemos falar.
consolidou os CIEPs, acreditamos que o tra-
balho pedagógico se vê no enfrentamento
A escolha dos quatro CIEPs desta- quisa de campo que pretendíamos desen-
cados não se deu aleatoriamente. Optamos volver, aqueles que estivessem mais próxi-
por trabalhar com aproximadamente 30% mos à capital.
do total de CIEPs-polo existentes na Secre- Efetuamos três visitas a cada uma
taria da Defesa Civil, em dezembro de 2002, dessas instituições escolares. Na primeira,
buscando aqueles que se situassem em nosso objetivo foi o de estabelecer um pri-
diferentes regiões do estado do Rio de meiro contato com cada CIEP, conhecendo
Janeiro – Capital, Interior e Baixada – e, sua realidade e seu entorno. A segunda
levando em consideração o tipo de pes- visita teve como meta a aplicação de
184 Lígia Marta C. C. COELHO; Dayse M. HORA. Educação integral, tempo integral...
questionário e conversa informal com os É importante destacar que, quando
respondentes ao referido instrumento. Na afirmamos que aquelas atividades integram
terceira e última ida a campo, objetivamos o currículo escolar, referimo-nos a um envol-
entrevistar profissionais das diferentes áreas vimento que não está presente no mero
de atuação6, no tocante ao seu entendi- anexar “aulas” de música, de capoeira, de
mento sobre atividades diversificadas e tra- informática ao contraturno curricular. Refe-
balho integrado na educação em tempo rimo-nos, sim, à possibilidade das diversas
integral. Nosso material de análise originou- atividades – diversificadas e de sala de
se exatamente desta terceira visita ao aula – serem tratadas como conhecimen-
campo. tos escolares mediadores entre sujeitos
As entrevistas foram bastante eluci- cognoscentes e objetos cognoscíveis
dativas no tocante ao tema de reflexão (FREIRE, 1998). O principal desses objetos
deste nosso ensaio. Pretendíamos verificar é a sociedade, com seu conjunto de rela-
se aqueles profissionais, trabalhando em ções e práticas, na qual estamos inseridos
escolas que funcionavam em tempo inte- e atuamos. Semelhante proposta implica
gral, com atividades diversificadas, conce- planejamentos integrados, de forma que o
biam este componente curricular como aluno perceba que qualquer uma daque-
construtor de educação integral e como o las atividades faz parte do seu “ser” huma-
implementavam, em seu cotidiano. No en- no, ou seja, constitui sua educação comple-
tanto, para que verifiquemos as inferências ta, integral. É neste contexto que a diversifi-
e reflexões realizadas, cabe-nos aprofundar cação curricular se faz presente.
essa última afirmação. Ponderadas essas concepções, per-
Entendemos Educação Integral den- guntávamos: Que compreensão teriam os
tro de uma concepção crítico-emancipadora profissionais da educação que trabalham
em educação. Na prática, ela eclode como em CIEPs-polo sobre educação integral?
um amplo conjunto de atividades diversifi- Como a trabalhariam, na prática? A diversi-
cadas que, integrando o e integradas ao dade curricular, conforme a apresentamos
currículo escolar, possibilitam uma formação neste ensaio, seria meta pensada e
mais completa ao ser humano. Nesse sen- implementada no cotidiano desses profis-
tido, essas atividades constituem-se por sionais?
práticas que incluem os conhecimentos Iniciando estas reflexões, é necessário
gerais; a cultura; as artes; a saúde; os espor- dizer que nossa primeira constatação foi
tes e o trabalho. Contudo, para que se com- desalentadora: já na primeira visita ao
plete essa formação de modo crítico-eman- campo, verificamos que 75% dos CIEPs
cipador, é necessário que essas práticas se- pesquisados, ao contrário do que nos havia
jam trabalhadas em uma perspectiva polí- sido informado pelo Grupo de Saúde, não
tico-filosófica igualmente crítica e eman- estavam trabalhando mais com uma edu-
cipadora. cação integral em tempo integral. Ou seja,
dos quatro Centros Integrados, apenas o
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diversificadas e diversificação curricular – de um laboratório de paleontologia, ai
como os profissionais dos CIEPs pesqui- nesse laboratório a gente trabalha mate-
mática, estatística [...] Então eu como te-
sados a estarão construindo? As falas abai- nho assim uma parte musical e de artes
xo são, novamente, bastante elucidativas: plásticas também ajudei a trabalhar a con-
Eu trabalho aqui desde 94 [...] e de lá pra fecção. (CIEP C – Profissional C; grifos nos-
cá a gente sempre trabalhou na perspec- sos).
tiva de projetos [...] nós trabalhamos com Conforme podemos constatar por
projeto integrado com a parte pedagógica,
meio das falas há, por parte de alguns dos
no momento em que a gente participa
também do conselho de classe e as pro- profissionais desses Centros Integrados,
postas, por exemplo, nesse ano, no início uma relação bem marcada entre educação
do ano, nós participamos e definiu-se tra- integral e atividades diversificadas. Para eles,
balhar quatro temas e nesses quatro temas o fato de trabalhar com idéias, projetos e/
a biblioteca entrou no relacionado à saúde,
ou oficinas em que se fundem atividades
com palestras, junto com o centro médico
e agora, neste bimestre, nós estamos tra- da biblioteca, da saúde e da animação cul-
balhando com a oficina literária. (CIEP D tural às “matérias do currículo”; de existirem
– Profissional B; grifos nossos). “todas as partes devidas” para fluir o horá-
[...] É uma educação que não só trabalha rio integral já correspondem àquele elo. No
o currículo obrigatório, mas trabalha a entanto, estariam realmente pensando e
realidade do aluno, a cultura, os valores praticando a diversificação curricular?
[...] nadando contra a maré, mas a gente O que sustentaria essa prática seria
vai... juntando educação e cultura [...] me
a não compartimentalização. Quando um
vejo o tempo todo fazendo este elo entre
cultura, educação e arte [...] Todas as ofici- professor associa educação integral apenas
nas são, de alguma forma, ligadas a algu- com a presença de atividades diversificadas,
ma matéria do currículo. (CIEP A – Profis- novamente ele retoma a fragmentação do
sional B; grifos nossos). conhecimento e das práticas escolares,
Educação integral é você ver o aluno num como consequência. Ou seja, ensino é uma
todo [...] eles tinham aula de artes, educa- parte do que se realiza na escola. Todas as
ção, aula de leitura, o vídeo. [...] Primeiro,
atividades, diversificadas ou não, represen-
nos tiraram as aulas extras, que nós cha-
mamos de vídeo, artes, sala de leitura, tam o complexo fazer escolar que se
educação física [...] Então o que falta nos compartimentaliza ou é compartimen-
CIEPs é deixar fluir novamente o horário talizados pelos atores da escola. Se prestar-
integral, funcionando com todas as suas mos mais atenção, os espaços destinados
partes devidas. (CIEP B – Profissional D; às diversas práticas também são dissocia-
grifos nossos).
dos: um território para as atividades de ani-
[...] É uma eterna troca. Então o professor mação cultural, de artes, de esportes e as
às vezes tem uma idéia, mas ele não sabe
outras atividades da escola: o ensino é rea-
como desenvolver aquela idéia, então a
gente se reúne com as várias disciplinas lizado na sala de aula, o desenvolvimento
e faz um trabalho integrado. O professor de atividades culturais, artísticas e esportivas
de história, por exemplo, ele teve uma idéia nos espaços das oficinas correspondentes.
188 Lígia Marta C. C. COELHO; Dayse M. HORA. Educação integral, tempo integral...
forma, teoria e prática, enfim, um trabalho questionamento dos erros precisa ser alvo
pedagógico que vise ao ensino de de trabalho e pesquisa constante por parte
qualidade. do docente e daqueles que com eles traba-
lham. Não podemos nos esquecer de que o
4 Dive rsifica çã o cu rricu la r e dilema nos procedimentos para efetivar a
edu ca çã o in tegra l seleção e organização dos conteúdos e
métodos é vivido pelo professor na sala de
Concluindo, verificamos que a inves- aula e também nas atividades diversificadas.
tigação nos possibilitou destacar que o co- O que nos surpreende é a ausência
letivo dos profissionais, no cotidiano do seu quase total da capacidade de entender re-
trabalho pedagógico naquelas instituições lações conteúdo-forma presentes em todas
escolares de horário integral, não possui as atividades desenvolvidas na escola sem
definição clara e segura sobre educação territorializá-las, ou seja, sem esquadrinhar
integral e diversificação curricular, concep- terrenos delimitados que servem e outros
ções fundamentais que deveriam orientar que não servem para o trabalho pedagó-
o currículo dessas escolas, atuando como gico. É como se o pátio, as salas de vídeo,
matrizes diferenciadoras de suas práticas de estudo dirigido, da animação cultural,
em relação ao conjunto das escolas da rede da biblioteca, por exemplo, não fossem lu-
pública do estado do Rio de Janeiro. gares de ações educativas...
Diversificar o currículo está diretamen- As entrevistas deixam pistas para
te relacionado à pesquisa de novas formas futuras pesquisas que se detenham mais
de proporcionar a aprendizagem, o que nos na relação conteúdo-forma da prática do-
remete a indagações sobre a relação con- cente. Porém, a investigação realizada per-
teúdo-forma para as diversas áreas do co- mitiu verificar que os professores separam
nhecimento: a Matemática, a Língua Portu- atividades diversificadas do seu trabalho
guesa, as Ciências Naturais, os Estudos em sala de aula e que estas seriam as res-
Sociais, bem como a Educação Artística, ponsáveis isoladas pela construção da Edu-
Educação Sexual, a Saúde, o Meio Ambien- cação Integral; portanto, se não existem
te, os Esportes em geral. mais, não lhes diz respeito perseguir o ob-
Isso exige qualificação do professor. jetivo da Educação Integral.
O assunto não é novo, e sempre foi abor- Em nossa compreensão, a diversifica-
dado na relação direta com a formação ção curricular é a essência do trabalho do-
inicial e continuada desse profissional. Os cente e se caracteriza pela pesquisa da pró-
problemas que surgem da inadequação pria prática, evidenciando estratégias de
entre conteúdo e forma, em qualquer área ação educativa que propiciem relações con-
do conhecimento, precisam ser enfrentados teúdo-forma mais adequadas ao ensino, o
nos diversos espaços educativos, formais e que pressupõe o exercício contínuo do do-
não-formais. A busca de superação das difi- cente. A prática frequente e persistente de
culdades, de eliminação de barreiras, do abordagens diversificadas para as aulas po-
190 Lígia Marta C. C. COELHO; Dayse M. HORA. Educação integral, tempo integral...
5
N ota s Referimo-nos ao professor Edson Liberal, que tam-
1
bém trabalha na Secretaria de Defesa Civil, respon-
A pesquisa tem como objetivos refletir sobre as sável pela contratação, alocação e coordenação do
concepções de educação integral e de tempo integral corpo médico encaminhado aos CIEPs. Constam
existentes entre os corpos docente, gestor e de fun- desse corpo médico pediatras, dentistas e auxiliares
cionários dos CIEPs – Centros Integrados de Educa- de enfermagem.
ção Pública (Estado do Rio de Janeiro) e analisar as 6
Para fins de distribuição do questionário e entre-
práticas educativa e de gestão existente nas escolas vista, consideramos as seguintes áreas de atuação:
pesquisadas, tendo em vista a implementação de 1. Ensino (Professores em sala de aula); 2. Cultura
concepções de educação integral e de tempo inte- (Bibiotecário; auxiliar de biblioteca; auxiliar de mu-
gral que levem em consideração as relações existen- seu); 3. Artes (Professor de Artes em geral, ou Ani-
tes entre educação, saúde, cultura e trabalho (Rela- mador cultural); 4. Saúde (Médico; odontólogo; en-
tório Final de Pesquisa-julho de 2004). fermeira ou auxiliar; nutricionista; psicólogo); 5. Espor-
2
Pela expressão “constituição profissional” entende- tes (Recreador, ou professor de Educação Física).
mos um conjunto de processos e práticas que prin- 7
Entendemos como horário ampliado aquele que
cipiam na formação inicial e que vão se reconfigu- se estende por mais de quatro horas diárias de
rando ao longo da carreira docente, no entrelaça- atividades.
mento das diversas práticas sociais e profissionais. 8
Referimo-nos ao espaço privilegiado existente nos
3
Referimo-nos aos Centros Integrados de Educação CIEPs, com quadra de esportes, biblioteca e salas
Pública (CIEPs) criados nas décadas de 80-90 do ambiente de artes; animação cultural e laboratórios
século passado, no Estado do Rio de Janeiro, com o (estas últimas, dependendo dos projetos das escolas).
objetivo de implantar uma educação integral em 9
É digno de nota que, para essa docente, uma
tempo integral. educação integral depende de atividades diversifi-
4
Ao que o Programa Especial de Educação deno- cadas sendo planejadas junto, ou seja, há um elo
mina de “múltiplas atividades” designamos, neste entre todos os conhecimentos escolares presentes
ensaio, como “atividades diversificadas”. Essas ativi- na dinâmica curricular e que se consolida no encon-
dades seriam, entre outras, as relativas ao videoedu- tro político-pedagógico e epistemológico do planeja-
cação; artes; animação cultural; saúde e oficinas mento.
diversas.
Referên cia s
Recebido em 3 0 de ja n eiro de 2 0 0 9 .
Aprova do pa ra pu blica çã o e m 2 0 de m a rço de 2 0 0 9 .
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