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A Evolução do Currículo no Brasil

PRINCÍPIOS DO PROJETO DE CURRÍCULO (PRINCIPLES OF CURRICULUM DESIGN) - EDU500 - 1.4


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A Evolução do Currículo no Brasil


Conteúdo organizado por Natasha Young Buesa em 2022 do livro
Convergências entre Currículo e Tecnologias, publicado em 2019 por Siderly
do Carmo Dahle de Almeida.

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender as influências sofridas pelos currículos no Brasil;
• Acompanhar o processo de evolução do currículo no Brasil.
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Introdução
Até aqui pudemos compreender a polissemia de conceitos sobre o currículo escolar,
conseguimos acompanhar a sua trajetória, ao longo do tempo, conhecemos algumas
características e agora vamos aprender um pouco mais sobre a sua evolução, porém
com um novo foco, o brasileiro. Precisamos entender como se deu a sistematização
e caracterização do currículo no Brasil, e para isso vamos começar falando sobre suas
influências.
É importante conhecermos um pouco da história para entendermos a base de nossa
identidade (personalidade educacional) e o quanto os processos de formação têm
exercido influência sobre a nossa escola.
Vale relembrar que os currículos não são neutros ou desinteressados, pelo contrário,
eles estão carregados de significados, intenções, valores, conteúdos que moldam
a forma de educar de nosso país. Com o passar do tempo, conforme o momento
histórico, ocorreram diversas reformas educativas e curriculares em função das
novas necessidades sociais, culturais, políticas e econômicas com as quais fomos nos
deparando, e ainda, de forma a atender outros interesses que também foram surgindo,
como por exemplo, pelas necessidades do sistema capitalista.

As Influências do Currículo no Brasil

O currículo, no Brasil, sempre sofreu influência internacional, desde a época colonial


visto que os conteúdos ministrados foram influenciados pelos modelos dos jesuítas,
marcados pelo rigor metodológico e conteúdos voltados para a inculcação dos valores
da fé europeia. Era um momento de ‘aculturação’ daqueles que aqui habitavam.
(Saviani, 2008 como citado em Almeida, 2019)
Em 1549, os jesuítas trouxeram para o país o programa Ratio Studiorum, que se baseava
na pedagogia tradicional, cujo programa de ensino abrangia conteúdos retirados da
cultura universal, chamados de humanísticos ou enciclopédicos, que eram repassados
aos alunos como verdades absolutas. (Machado & Soares, 2020)
Durante a época do Império, a educação brasileira sofreu grande influência norte-
americana, mediante a transferência de teorias e movimentos curriculares, o que
significa que as bases epistemológicas e teóricas do currículo brasileiro são estrangeiras.
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Então, de fato, os estudos sobre os currículos no Brasil tiveram início na década de


1920, a partir de algumas reformas educacionais que ocorreram na Bahia, e em Minas
Gerais, momento no qual alguns educadores, que integravam o Manifesto do Pioneiro
da Nova Escola, passaram a se preocupar com a organização curricular nas escolas
brasileiras. Buscavam superar a escola tradicional, pouco democrática e voltada para
a memorização. Esse movimento tinha como características a busca pela educação
integral, que estava voltada para o desenvolvimento intelectual, físico e moral, a
educação ativa e prática, voltada para a realização de trabalhos manuais, e ainda o
desenvolvimento da autonomia e do ensino individualizado. (Ranghetti & Gesser,
2009)
Esse foi um primeiro passo para o rompimento com a escola tradicional, dando ênfase
à natureza social do processo educativo, à tentativa de renovação do currículo, bem
como dos métodos e das estratégias de ensino e avaliação, e pela preocupação com
a democratização da sala de aula, para que fosse possível para todos, assim como da
relação entre professores e alunos.
Porém, é apenas a partir de 1930, com o movimento escolanovista, sob a influência
dos pensadores norte-americanos John Dewey, John Bobbitt e Ralph Tyler que os
debates sobre o currículo ganham mais rigor e sistematização. (Machado & Soares,
2020)
Baseado na escola progressiva de Dewey, os representantes da Escola Nova
procuravam superar os limites da antiga tradição pedagógica trazida pelos jesuítas,
de caráter enciclopédico, para desenvolver o sistema educacional brasileiro em um
novo contexto.
Os educadores e estudiosos ligados à Escola Nova foram muito importantes nesse
período, como Anísio Teixeira (1900-1971), Fernando de Azevedo (1894-1974)
e Lourenço Filho (1897-1970) que defendiam uma escola laica, que fosse gratuita
e de qualidade para todo o povo brasileiro. Tendo como base o pensamento de
Dewey, visava-se o educar pela pesquisa. Assim, as propostas curriculares da época
traziam fortes críticas à pedagogia tradicional enraizada no ensino enciclopédico.
Essas propostas procuravam transformar o processo no sentido de colocar o aluno na
posição de sujeito ativo e desenvolvendo uma aprendizagem significativa.
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Interessante observar que hoje em dia muito se fala em transformar o aluno em sujeito
ativo de seu próprio aprendizado, aprendendo a aprender, sendo o seu próprio guia,
estudando conforme suas necessidades, dentro de um processo de aprendizagem
significativa, mas aqui podemos perceber que essas ideias nada têm de novas. São
uma nova roupagem para ideias que tentam ser inseridas por nós, há muito tempo.

Saiba Mais
Se você se interessou pelo processo de evolução do currículo e as
influências sofridas, assista ao fi lme O so rriso de Mo nalisa, es trelado
por Julia Roberts, que dá uma ideia de como esta questão é
abordada no mundo. https://www.adorocinema.com/filmes/
filme-40141/ Acessado em 06 de outubro de 2023.
Amplie sua compreensão em relação ao pensamento de Paulo Freire e
leia o livro: Pedagogia do Oprimido (1974). A primeira publicação se
deu em 1969, nos Estados Unidos. O livro propõe uma pedagogia com
uma nova forma de ver o relacionamento que ocorre entre
professor, aluno e sociedade.
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Mais um pouco de evolução histórica do currículo no Brasil

De maneira mais informal, pela luta de um grupo de educadores brasileiros, pioneiros,


tivemos, de fato, os primeiros marcos do currículo no Brasil. Porém, de maneira
mais formal, na década de 1930, os marcos iniciais ocorreram pela movimentação
do Instituto Nacional de Pedagogia (Inep), que em 2001 passou a ser chamado de
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e pelo
Programa de Assistência Brasileiro-Americana à Educação Elementar, o PABAEE,
movidos pelos ideais humanistas e progressistas de Dewey e Kilpatrick (no caso do
Inep) e de uma postura mais tecnicista no trato das questões curriculares (no caso do
PABAEE).
O PABAEE foi um acordo entre o Brasil e os Estados Unidos, ocorrido em 1956, e
que visava a formação de supervisores que pudessem atuar no ensino primário e em
cursos para professores. Tinha como meta a produção e a distribuição dos materiais
didáticos elaborados, bem como programas de intercâmbio, especialmente aqueles
voltados para a formação de mestres e doutores nas áreas de currículo e avaliação,
nos Estados Unidos. (Ranghetti & Gesser, 2009)
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Conforme já vimos, as primeiras preocupações com o currículo, no Brasil, tiveram


início em 1920, e desde então, até a década de 1980, ocorreram transferências das
teorizações norte-americanas, voltadas para a assimilação dos modelos de elaboração
curricular, advindos de acordos bilaterais entre o Brasil e os Estados Unidos, dentro
de um programa de auxílio à América Latina.
Em virtude desses acordos, muitos especialistas brasileiros procuraram fazer cursos
de pós-graduação strictu sensu, e a partir de então surgiram as primeiras obras que
dizem respeito ao currículo no país. A de Anísio Teixeira, por exemplo, focava no
currículo voltado para as crianças, porém as demais, ainda sob influência das ideias de
Dewey, estavam voltadas para a elaboração e organização curricular.
Houve, ainda, a influência de obras do educador americano John Bobbitt, como a
‘The Currículum’, de 1918 e a ‘How to Make a Currículum’, de 1924. Esse estudioso
queria que o sistema de educação conseguisse explicitar claramente os resultados que
pretendia obter, que lograsse determinar os métodos para obtê-los, e os métodos de
mensuração que permitissem determinar que tivessem sido, de fato, alcançados esses
resultados. Também queria que o sistema de educação estabelecesse os objetivos a
serem alcançados, que deveriam estar baseados nas habilidades que os estudantes
precisavam ter para exercer com eficiência suas funções em suas vidas profissionais,
na fase adulta. Era um sistema voltado para a economia, para a inserção dos alunos no
mercado de trabalho, e enfatizava que a educação precisava ser tão eficiente quanto
qualquer outra organização. (Silva, 2008 como citado em Almeida, 2019)
Outro fato importante na evolução do currículo no Brasil foi a promulgação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB, em 1961, que deu, por primeira vez,
ao currículo do ensino primário e do ensino secundário uma certa flexibilidade às
escolas, para que definissem parte de seus currículos. Uma ou duas disciplinas seriam
optativas e poderiam ser escolhidas pela instituição.
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Saiba Mais
Para conhecer um pouco mais sobre a LDB acesse o seguinte endereço
eletrônico e aproveite:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/572694 Acessado em 06
de outubro de 2023.

A discussão sobre currículo no país passa a ser mais intensa, e em 1962 os cursos de
Pedagogia passam a inserir em suas matrizes curriculares a disciplina ‘Currículos e
Programas’, presente nos cursos de licenciatura até os dias atuais.
Vale ressaltar que, até a década de 1980, o currículo no Brasil tinha como base as
teorias funcionalistas norte-americanas, que procuravam explicar que cada instituição
tem uma função clara na sociedade.
De 1980 a 1990, com o interesse pela democratização da sociedade brasileira,
surgiram novas questões para compor esse debate. A abertura política gerou uma
necessidade de repensar a sociedade, e no que se refere aos espaços escolares, não
foi diferente, surgiu um interesse em desenvolver duas modalidades, uma como um
espaço de expressão para as ideias populares voltadas para o exercício da autonomia
popular, e a outra que se baseava na centralidade da educação escolar, estimulando o
acesso a toda a população, inclusive às camadas mais baixas da sociedade. (Almeida,
2019)
Sendo assim, as bases formais se estabeleceram com a criação, em 1996, da Lei de
Diretrizes e Bases (LDB), Lei nº 9.394, que determina que à União, juntamente com os
estados e municípios, compete determinar os conteúdos mínimos a serem ministrados
em todo o país. Enquanto compete ao Plano Nacional de Educação (PNE), determinar
as diretrizes, metas e estratégias a serem adotadas entre os anos de 2014 e 2024 para
a política educacional.
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Em 1997, o MEC publicou os Parâmetros Curriculares Nacionais, chamados de


PCNs (composto por dez volumes), que intensificam as discussões acerca do
currículo no Brasil. Teve como consultor o professor César Coll, da Universidade
de Barcelona, seguindo o modelo espanhol, com predomínio construtivista. (Eyng,
2012)
Caminhando um pouco mais nessa trajetória brasileira, em 2017, após muitos
anos de discussões e debates, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi
aprovada, com a intenção de servir de guia para a elaboração e estruturação dos
currículos e atividades pedagógicas em todo o país. Trataremos sobre ela, com mais
detalhes, nas próximas aulas.

Saiba Mais
Conheça o Guia de implementação dos Currículos alinhados à
BNCC. (2022). https://observatorio.movimentopelabase.org.br/
conheca-o-guia-de-implementacao-dos-curriculos-alinhados-a-bncc/
Acessado em 06 de outubro de 2023.
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Em Resumo

Caro estudante, ao longo deste tema, conversamos sobre a influência dos


jesuítas nas primeiras ideias curriculares do Brasil, depois, na época do Império
vimos que a educação brasileira sofreu grande influência norte-americana. Na
década de 1920, ocorreram algumas reformas educacionais e surgiu o Manifesto
do Pioneiro da Nova Escola, que buscava superar a escola tradicional, pouco
democrática e voltada para a memorização. Porém, foi apenas a partir de 1930,
com o movimento escolanovista, que as discussões sobre o currículo ganharam rigor
e sistematização. Outro fato importante foi a promulgação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), em 1961, que deu, pela primeira vez, uma
certa flexibilidade às escolas. De 1980 a 1990, com o interesse pela
democratização da sociedade brasileira, foram surgindo novas questões. Houve a
criação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), em 1996 e em 1997 o MEC publica os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que intensificam as discussões sobre
currículo brasileiro. Finalmente, em 2017, após muitos anos de discussões e debates,
foi aprovada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
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Na ponta da língua
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Referências Bibliográficas
Almeida, Siderly do Carmo Dahle de. (2019). Convergências entre currículo e
tecnologias. [livro eletrônico]. Curitiba: InterSaberes.
Eyng, Ana Maria. (2012). Currículo escolar. [livro eletrônico]. Curitiba: InterSaberes.
Machado, Dinamara Pereira & Soares, Kátia Regina Dambiski. (2020). Currículo e
sociedade. [livro eletrônico]. Curitiba: Contentus.
Ranghetti, Diva Spezia & Gesser, Verônica. (2009). Centro Universitário Leonardo da
Vinci. Indaial: Grupo Uniasselvi.
LIVRO DE REFERÊNCIA:

Convergências entre Currículo e Tecnologias


Siderly do Carmo Dahle de Almeida.
Intersaberes

Imagens: Shutterstock

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