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ditadura-qualidade-para-todos

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 268, 01 de Dezembro | 2013

História da Educação no Brasil

Educação pós-ditadura:
qualidade para todos
História da Educação no Brasil
Anna Rachel Ferreira

Universalização do ensino, avaliações externas e piso para professores no


período democrático

O ministro Paulo Renato Souza inseriu o país no mundo das avaliações externas
A LDB incluiu a Educação Infantil na Educação Básica

Com o fim da ditadura militar, vários aspectos da política


nacional foram repensados, e entre eles estava a Educação. Nos
primeiros três anos da Nova República, o foco esteve na
elaboração da Constituição. Pensando nela, os participantes da
Aqui tem mais
4ª Conferência Brasileira de Educação, realizada pela Associação reportagens!
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), a
Associação Nacional de Educação (Ande) e o Centro de Estudos Educação e
Sociedade (Cedes), em Goiânia, em 1986, finalizaram o evento com uma lista de
propostas que incluía a efetivação do direito de todos os cidadãos ao ensino e o
dever do Estado em garanti-lo.

Em 5 de outubro de 1988, a nova Constituição Federal foi finalmente aprovada


(leia a linha do tempo na página seguinte). Entre as principais conquistas, estava o
reconhecimento da Educação como direito subjetivo de todos, uma evolução do
que os escolanovistas haviam propagado durante a Era Vargas (leia os capítulos
anteriores desta série). "Isso significa que qualquer um que queira estudar,
mesmo se estiver fora da idade obrigatória, deve ter a vaga garantida", explica
Carlos Roberto Jamil Cury, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A
legislação tornou urgente a tomada de providências como a abertura de mais
escolas e a formação de docentes, o que acarretou a necessidade de
investimentos. Para isso, a lei indicava a aplicação na área de no mínimo 18% da
receita dos impostos pela União e 25% pelos estados e municípios.

Dois anos depois, durante a Conferência Mundial sobre Educação para Todos em
Jomtien, na Tailândia, foi aprovada uma declaração internacional que levava o
nome do evento e propunha ações para os dez anos seguintes com vistas à
universalização do ensino nos países signatários. Por aqui, Fernando Collor de
Mello assumiu a presidência e criou o Programa Nacional de Alfabetização e
Cidadania (Pnac) em substituição à Fundação Educar - versão democrática para o
Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) -, instituída cinco anos antes por
José Sarney. Mas a iniciativa de Collor durou apenas um ano.

"A coisa mais simples que tem é criar boas escolas (...) para que cada criança tenha
diante dela uma professora capacitada para alfabetizá-la."
Darcy Ribeiro

Novas leis para a Educação

Várias regulamentações surgiram no governo de Fernando Henrique Cardoso


(FHC), que assumiu a presidência em 1995 com Paulo Renato Souza (1945-2011)
como ministro da Educação. Já no segundo ano de mandato, após intensos
debates, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
com relatoria do senador Darcy Ribeiro (1922-1997). "A nova lei reforçou aspectos
importantes da Constituição como a municipalização do Ensino Fundamental,
estipulou a formação do docente em nível superior e colocou a Educação Infantil
na posição de etapa inicial da Educação Básica", lembra Maria Helena Câmara
Bastos, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Para
financiar os novos projetos, foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef). O 1º e o 2º graus
se tornaram Ensino Fundamental e Médio e a recomendação para os estudantes
com necessidades especiais passou a ser a de que fossem atendidos
preferencialmente na rede regular (leia a pergunta de concurso na última página).

FHC emendou um segundo mandato e o ministro Souza incluiu o Brasil no


Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Foi um passo importante
para ter uma medida de como estava a Educação nacional, embora o país tenha
ficado em último lugar no ano de estreia. Na mesma época, criou-se o Exame
Nacional de Ensino Médio (Enem), com resultados por escola e por aluno, que em
2009 passariam a ser considerados até em substituição ao vestibular para o
Ensino Superior. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e o Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) também nasceram nesse
período. Para construí-los, foram reunidos profissionais que tinham referências
em boas práticas de sala de aula e diversos especialistas. "Depois da LDB, o
Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu as Diretrizes Curriculares
Nacionais que deveriam ser traduzidas nos estados e municípios, mas isso não
aconteceu. A contradição é que, mesmo elas não sendo contempladas na
formação docente e nas escolas, são cobradas nas avaliações externas", comenta
Cury.

Em 2001, foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE), previsto na


Constituição e válido por dez anos. Ele estipulava metas para aumentar o nível de
escolaridade dos brasileiros e garantir o acesso à Educação, mas não teve êxito
na maioria delas. Um dos motivos apontados por especialistas é o veto do
governo ao investimento de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) na área. Apesar
disso, houve ganhos. "O documento previa que até 2007 os profissionais da
Educação Infantil fossem formados em nível superior, admitindo o nível médio
como ação emergencial. Isso reforça um olhar profissional pedagógico para essa
etapa", lembra Gisela Wajskop, consultora de Educação Infantil e de formação de
professores. Outra conquista foi a determinação de que o Ensino Fundamental
fosse ampliado para nove anos, o que vem se concretizando desde então.

Dois anos depois, Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência e levou
Cristovam Buarque para o Ministério da Educação (MEC). No lugar da
Alfabetização Solidária, criada por FHC em 1997, foi lançado o Brasil Alfabetizado
para o combate ao analfabetismo. O esforço contínuo levou à diminuição da taxa
de analfabetismo de quem tem 15 anos ou mais, mas em 2012 a queda
progressiva foi interrompida e as razões ainda estão sendo analisadas por
especialistas.

Linha do tempo

1988 A nova Constituição Federal é promulgada com atenção à Educação.

1990 Declaração Mundial sobre Educação para Todos é aprovada na Tailândia.

1996 A LDB indica que docentes tenham formação em nível superior.

2001 Entra em vigor o PNE, com metas para a universalização do ensino.

2010 É aprovado o piso salarial nacional para os docentes.

Expansão de investimentos

Outro exame nacional foi criado em 2005. Alunos de 4ª e 8ª séries (5º e 9º anos)
passaram a ser avaliados na Prova Brasil. Com o desafio de ampliar o acesso à
escola e melhorar os índices nas avaliações, viu-se a necessidade de ampliar os
recursos da área e alcançar todas as etapas. Assim, o Fundef se tornou Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb) em 2007.

Outra estratégia presente nesse período foi a das escolas de tempo integral. As
primeiras iniciativas foram lideradas por Darcy Ribeiro (leia a frase dele na
primeira página) no Rio de Janeiro e José Aristodemo Pinotti (1934-2009) em São
Paulo, na década de 1980. Mas, passado o ânimo inicial, elas ficaram restritas a
poucas unidades. Assim, em 2007, o MEC criou o Mais Educação, que custeou o
aumento da carga horária em 49 mil escolas.

Em 2009, a Emenda Constitucional nº 59 determinou a ampliação da


obrigatoriedade escolar para 4 a 17 anos até 2016. O assunto foi reforçado pela
Lei nº 12.796 em 2013. O piso salarial nacional de 950 reais para os docentes foi
aprovado em 2010, com a proposta de que um terço da jornada fosse dedicada a
formação e planejamento. Nesse mesmo ano, o ministro Fernando Haddad
encaminhou uma nova versão do PNE para o Congresso. Dilma Rousseff se
tornou presidente em 2011 e o documento segue em discussão até hoje.
Além de todas as mudanças políticas que interferiram na sala de aula, essas
décadas incluíram uma grande revolução tecnológica, marcada pelo
desenvolvimento da internet, que transformou as relações sociais e, claro, o
ensino. Embora 70 mil escolas de Ensino Fundamental ainda não tivessem
computador em 2010, essa máquina está na vida de alunos e professores,
mudando a maneira como têm acesso à informação e ao conhecimento. Os
últimos dois governos distribuíram laboratórios de informática, laptops para
alunos e tablets para docentes. Apesar disso, a realidade ainda é plural. Há salas
rurais multisseriadas, classes informatizadas, escolas bilíngues, projetos
pedagógicos tradicionais e propostas de inspiração democrática. Diante de
tamanha diversidade, o novo PNE e a definição de um currículo nacional são
algumas das questões urgentes para garantir que todos que vivem a história de
hoje sigam no mesmo rumo, com vistas à melhoria da Educação.

Questão de concurso
Prefeitura de Santo Antonio dos Milagres, PI, 2013
Prova para professor do 1º ao 5º ano

Acerca da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), 9394/96.

Analise as afirmações abaixo:

I. Língua Portuguesa e Matemática são matérias obrigatórias dos currículos do


Ensino Fundamental e Médio.

II. A Educação Básica é composta dos níveis de Ensino Fundamental e Médio,


excluindo-se a Educação Infantil.

III. A LDB contempla a inclusão das crianças com necessidades educacionais


especiais em classes normais e o acesso a serviços especiais quando essa
inclusão não for possível.

IV. Segundo a LDB, a formação mínima exigida do professor de 1ª a 4ª séries é o


Ensino Fundamental.

Após análise das afirmações acima podemos concluir que:

(A) Apenas I e III estão corretas.

(B) Apenas II e IV estão corretas.

(C) Apenas I, II e III estão corretas.

(D) Apenas II, III e IV estão corretas.

Resposta correta: A
Comentário A LDB inclui a Educação Infantil na Educação Básica e indica a
formação superior para docentes de 1ª a 4ª séries, embora admita o curso Normal em
nível médio.

Consultoria Carlos Roberto Jamil Cury

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