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RESUMO
Este artigo pretende compreender o quadro diagnosticado de autismo em uma diferente perspectiva,
considerando os aspectos afetivo-emocionais no desenvolvimento humano e aplicando estes
princípios numa Instituição em Barbacena/MG. Reflete, ainda, a respeito de como ajudar estas
pessoas a encontrarem novas possibilidades de crescimento e melhores condições relacionais.
ABSTRACT
This article aims to understand the framework diagnosed with autism in a different perspective,
considering the afective-emotional aspects in human development and applying these principles in an
Institution in Barbacena/MG. Reflects yet about how to help these people to find new opportunities for
growth and better conditions of relationship.
mapeará todo o caminho, para nós. Estamos sempre nos movendo na direção de
territórios novos’’.
Pensamos ser importante dizer de como esse diagnóstico é definido pela
prática médica contrapondo com uma visão humanista, mais precisamente a da
Abordagem Centrada na Pessoa idealizada por Carl Rogers.
De acordo com a Psiquiatria Médica, o autismo é uma inadequação no
desenvolvimento que tem início em crianças até os três anos de idade e se
manifesta por toda a vida. É incapacitante, com graves distúrbios emocionais
(psíquicos), levando o indivíduo a um isolamento, ou seja, um distanciamento do
mundo e das pessoas, resultando em uma falta de comunicação. Nesses indivíduos,
a atenção é focalizada, quase sempre, em ritmos e sensações corporais, ou seja, a
criança é muito voltada para si mesma, não reconhecendo a existência de um outro
ou de uma vida social. A maioria dos indivíduos autistas carece de espontaneidade,
iniciativa e criatividade na organização de seu tempo de lazer e tem dificuldade em
aplicar conceitualizações em decisões no trabalho (CID-10. 1993), porém, não
envolve prejuízo qualitativo na interação social nem restrição na gama de interesses
e comportamentos. O transtorno da linguagem não é diagnosticado se os critérios
forem satisfeitos para o transtorno global do desenvolvimento. Seu mutismo é
caracterizado por falta de habilidades sociais normais em certas situações (DSM-IV-
TR. 2004).
Apostamos que o autismo não se trata simplesmente de um ‘’problema’’
patológico, mas sim de relação. Carl Rogers, psicólogo norte-americano criador da
Abordagem Centrada na Pessoa, considera um princípio básico, chamado de
tendência atualizante, que se aplica a todos seres humanos, inclusive àqueles que
estão psicologicamente adoecidos. Nas palavras de Lobo (1996) essa proposição se
traduz na crença de que qualquer ser humano carrega em sua própria natureza, em
potencial, a capacidade de se reconhecer e de compreender a si mesmo, bem como
a possibilidade de interagir com seu meio ambiente, de modo suficiente, para
alcançar a sua satisfação e a eficácia necessária ao seu desenvolvimento e ao seu
funcionamento adequados. Este conceito foi o que sustentou a nossa crença de que
as crianças poderiam sair da condição de pobreza relacional-afetiva em que se
encontravam.
Ainda de acordo com Lobo (1996), para que essa possibilidade torne-se
realidade, é imprescindível que o indivíduo possa vivenciar um relacionamento
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humano caloroso e verdadeiro, em que ele tenha um significado pessoal, seja objeto
de um investimento afetivo e encontre um clima de segurança e intimidade, tanto
física, quanto psicológica. É fundamental, ainda, que no seu processo de
socialização, ele possa ser introduzido na dimensão simbólica, através de sua
iniciação à linguagem.
A mãe que for capaz de permitir a entrada do pai, na relação com o filho, e de
suportar esses ensaios iniciais de independência, está mais preparada para aceitar
a entrada do terceiro, qualquer que seja ele, bem como para respeitar a gradativa
busca de autonomia de seu filho, para o resto de sua vida. Elas continuam
oferecendo aquelas condições até o momento em que ele atinge o limite de sua
tolerância, quando elas retiram as condições que, até então, vinham oferecendo. O
quadro de autismo de configuraria, portanto, no instante em que
(...) aquelas mulheres que chegam a dar a luz, mas não suportam a própria
separação física de seu bebê, imediatamente após o parto, suspendem,
drasticamente, a oferta daquelas condições, mesmo que, no plano objetivo,
continuem a cuidar do filho, que sobrevive apenas no plano biológico.
(LOBO, 1996.)
Lopes (2005) citando Rogers (1977) diz que este nos ensina que é a partir de
uma relação humana dotada de certas condições favoráveis a aceitação de si e ao
pleno desenvolvimento que um processo de mudança interna, visceral pode se
instaurar. Nesse tipo de relação, deve acontecer um encontro profundo onde me
aproximo o mais possível do fluxo experiencial daquela pessoa que ali está, a fim de
oferecer-lhe uma compreensão empática desse vivido. Assim, é preciso confiar na
sabedoria advinda desse encontro. Lopes ainda precisa o pressuposto para que um
trabalho com crianças seja possível:
A criança é uma pessoa em desenvolvimento. Possui em si todos os
instrumentos que a possibilita evoluir e desenvolver-se e uma tendência a
utilizar tais instrumentos, desde que lhe sejam dadas condições favoráveis
para tanto. Estrutura sua identidade na relação afetiva com os adultos de
referência. Nos primeiros anos de vida, sua principal via de relação com o
outro e experimentação do mundo é basicamente o corpo e a comunicação
não-verbal. Diferencia-se do adulto não em status, mas em experiência e
consciência de vida, percepção de si mesmo e do mundo. (LOPES, 2005)
para com o afeto; é como se o afeto que é trazido pelo profissional tivesse que pegar
uma carona com a música para se chegar até a estação que é o sujeito.
O objetivo foi estudar o caráter evolutivo do afeto, sociabilidade,
responsabilidade, reorganização da estrutura psíquica e linguística, considerando os
limites biológicos e psicodinâmicos das crianças observadas. Qualquer que tenha
sido a etiologia do desvio da potencialidade do sujeito, seja ela biológica ou
psicodinâmica, ao receber de quem quer que seja um ambiente favorável de afeto, o
sujeito passa a se re-arranjar perante as dificuldades do ambiente, pois, o afeto em
nossa concepção seria o catalizador mestre de qualquer que seja a potencialidade
habilidosa que o sujeito traz consigo – seja ela social, lingüística ou dinâmica, pois,
nem só de corpo é feito a alma, como nem só de alma se alimenta o corpo. Nossa
crença não é nem a de que esses sujeitos percorrerão um itinerário natural depois
de receber as condições favoráveis de afeto, mas, que poderão lidar com maior
naturalidade com o ambiente hostil de seu itinerário desviante.
A experiência vivenciada com as três crianças da Instituição em
Barbacena/MG – João, Paula e Raquel (nomes fictícios), mostrou o quão eficaz a
musicoterapia aliada à nossa crença de desenvolvimento humano pode ser. As três
crianças citadas acima possuem (possuíam?) diagnósticos diferentes e não
finalizados pela Instituição, mas, são vistas pela mesma como crianças com
características autistas. Ao ter contato com diversos estilos de música, pudemos
confirmar aquilo que a psicoterapia humanista centrada na pessoa já havia proposto
através da linha da linha afetiva da personalidade e da utilização saudável de suas
potencialidades.
As habilidades sócio-afetivas, responsivas de caráter linguísitico,
psicomotoras e entendimento simbólico do ambiente familiar e institucional
mostraram-se bem além do esperado por nós, como nos primeiros esboços de
busca de contato afetivo, demonstrados desde o primeiro encontro:
(...) os estagiários estavam sentados em uma bancada, Raquel veio em
nossa direção e nós a chamamos para sentar-se ao nosso lado. Quando
chegou, colocou uma das mãos no ombro de Renan e sentou-se em seu
colo, por onde ficou até a hora de irmos embora. (Relatório de estágio –
primeiro encontro. Dia 20/09/2007).
interpretassem que ela estava querendo falar Thiago, o que não pôde ser
comprovado posteriormente. (Relatório de estágio – sexto encontro. Dia
31/10/2007).
A evolução de João foi mais trabalhosa e nos exigiu mais, desde a retirada do
espelho da sala onde eram realizados os encontros até a mudança de ambiente
desta mesma sala para o pátio. Neste período em que estamos no pátio, João não
está mais agressivo, o que facilitou o segmento do projeto.
No início dos contatos com João, eram comuns suas posições de luta, alta
agressividade e este até cuspia em nós, o que acreditamos ser defesas de um
contato próximo, já que acreditamos que deve ter havido poucas pessoas dispostas
em sua vida a se relacionar verdadeiramente com ele.
(...) João está mais falante e agitado, cada vez mais exibindo-se na frente
do espelho, cantando, esfregando as mãos e chamando nossa atenção
explicitamente. (Relatório de estágio – terceiro encontro. Dia 10/10/2007).
O que João dizia parecem ser frases já ditas para ele, como: “vai pro seu
lugar João, estou de olho em você”. João refere-se sempre à terceira pessoa, como
percebido em outro exemplo: “para de dançar João”. Nossa hipótese é a de um não
reconhecimento de si mesmo como pessoa, o que parece ser comprovado com sua
extrema agitação ao se ver diante do espelho. No quinto encontro, mudanças
efetivas começam a acontecer:
(...) Tirado o espelho, ficou calmo e pareceu não sentir falta do mesmo.
Neste encontro tiveram muitos gestos que pareciam gestos afetivos; ele
segurava nas mãos dos dois estagiários, beijava nossa testa, uma de
nossas mãos e, por fim, as apertava. (Relatório de estágio – quinto
encontro. Dia 07/11/2007).
(...) quando entramos na sala, Renan pediu que Raquel se sentasse, e ela
logo se sentou em uma cadeira que tinha lá. (Relatório de estágio – quarto
encontro. Dia 18/10/2007).
de 30 anos atrás, que eles desenvolveram o Programa Son-Rise que hoje é utilizado
em todo o mundo. Raun se recuperou de seu autismo após 3 anos e meio de
trabalho intensivo com seus pais. Ele continuou a se desenvolver de maneira típica,
cursou uma universidade altamente conceituada e agora trabalha no Autism
Treatment Center of América, fundado por seus pais em Massachusetts, nos EUA.
Desde a recuperação de Raun, milhares de crianças utilizando o Programa Son-Rise
têm se desenvolvido muito além das expectativas convencionais, algumas delas
apresentado completa recuperação. (Fonte: Site Inspirados pelo autismo)
O Programa Son-Rise é centrado na criança (ou no adulto com autismo). Isto
significa que o tratamento parte do desenvolvimento inicial de uma profunda
compreensão e genuína apreciação da criança, de como ela se comporta, interage e
se comunica, assim como de seus interesses. O Programa Son-Rise descreve isto
como o “ir até o mundo da criança”, buscando fazer a ponte entre o mundo
convencional e o mundo desta criança em especial. Com esta atitude, o adulto
facilitador vê a criança como um ser único e maravilhoso, não como alguém que
precisa “ser consertado”, e pergunta-se “como eu posso me relacionar e me
comunicar melhor com essa criança?” Quando a criança sente-se segura e aceita
por este adulto, maior é a sua receptividade ao convite para interação que o adulto
venha a fazer. (Fonte: Site Inspirados pelo autismo)
A visão convencional do autismo é a de uma condição permanente e
irreversível. O autismo é visto como uma tragédia e as crianças são vistas como
defeituosas e com a necessidade de conserto As pessoas do Inspired by Autism
Consulting (Inspirados pelo Autismo Consultoria) adotam uma perspectiva bem
diferente – uma de esperança e crença em possibilidades ilimitadas. Nós temos
observado que o autismo não precisa ser uma condição para toda a vida, e que
crianças com autismo sentem-se motivadas para aprender e interagir quando são
oferecidos a elas ambientes físicos e sociais otimizados. Eles fazem, ainda, uma
interessante associação de ações baseadas em crenças:
(...) se adotamos a crença de que o autismo é uma condição permanente e
irreversível, esta crença direcionará nossas ações. Guiados por esta
crença, faz sentido que não tentemos reverter o autismo, mas apenas
administrá-lo. Isto explica o porquê de tantas abordagens de tratamento
focarem no manejo de comportamentos e ensino de habilidades básicas de
auto-ajuda ao invés de trabalharem com a essência da questão – o desejo
por interação social. Esta abordagem do autismo durante os últimos 50
anos tem sustentado a crença original do autismo como sendo irreversível...
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
10
CID-10 1993
DSM-IV-TR 2004
2008.