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A CRIANÇA E O BRINCAR: O LÚDICO COMO FERRAMENTA PARA A


APRENDIZAGEM¹

MARIA CÉLIA TELES DE OLIVEIRA SANTOS²


ORIENTADOR (A): SARA SUNAMITA DE OLIVEIRA CARDOSO REIS³
“É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem sua liberdade de criação.”
D.W. Winnicott

Resumo: Este artigo pretende demonstrar, sob a perspectiva pedagógica, as relações


presentes entre a ludicidade e a criança. As dúvidas mais frequentes entre os professores
de educação infantil são: É possível à criança brincar e aprender ao mesmo tempo? Em que
contexto a criança aprende? Quais brincadeiras ou jogos ajudam a criança aprender? Diante
destes questionamentos, tomou-se como base o ponto de vista de alguns autores, os quais
abordam o tema com propriedade, para afirmar que brincar é um ato divertido e espontâneo
para a criança; por isso deve fazer parte de suas atividades cotidianas, aprender brincando
é mais prazeroso. É importante que o educador da infância, conheça as fases do
desenvolvimento infantil, as diferentes linguagens, os conhecimentos escolares específicos
de cada faixa etária e acrescente o lúdico na sua prática escolar, a fim de tornar suas aulas
em momentos de prazer com significado. O brincar é uma forma privilegiada de
aprendizagem, levando a concluir sua importância e sua aplicabilidade no contexto escolar,
ressaltando-se os aspectos psicológicos e sociais da criança, pois é através da brincadeira
que a criança consegue expressar seus sentimentos em relação ao mundo. Para mostrar a
necessidade da brincadeira na formação integral da criança e, de como o educador poderá
lançar mão desse recurso para ajudá-la no seu desenvolvimento.

Palavras-chave: Brincadeira - Criança – Aprendizagem

Abstract: This article argues, in the pedagogical perspective, the relationships present
between playfulness and the child. The most frequent questions among preschool teachers
are: Can the child play and learn at the same time? In that context the child learns? What
games or games help children learn? Given these questions, we took as basis the view of
some authors, which address the issue properly, as saying that play is a fun and

1. Artigo apresentado à Faculdade Integrada de Goiás, como requisito parcial para


conclusão de curso de Pós-graduação Lato Sensu para obtenção do título de Especialista
em Psicopedagogia.
2. Graduada em Pedagogia pela Uniararas – Centro Universitário Hermínio Ometto – São
Paulo. Atua como professora na Escola Municipal Manoel Messias, situada na cidade de
Bonito-Bahia.
3. Professora da Faculdade Integrada de Goiás – FIG.
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spontaneous act for the child; so it should be part of their daily activities, learn through play is
more pleasurable. It is important that children's educator, know the stages of child
development, the different languages, the specific school knowledge of each age group and
add the playful in their school practice, in order to make their classes in moments of pleasure
with meaning. The play is a privileged form of learning, leading to complete its importance
and its applicability in the school context, emphasizing the psychological and social aspects
of the child as it is through play that children can express their feelings about the world. To
show the necessity of play in the development of children, and how the teacher can make
use of this feature to help you in your development.

Keywords: Play - Children – Learning.

Introdução

Este estudo tem como tema principal a criança e o brincar, o lúdico como
ferramenta facilitadora da aprendizagem, baseando-se nos estudos de alguns
teóricos que defendem o tema em questão, que vêem a brincadeira não como uma
dinâmica interna da criança, mas uma atividade lúdica dotada de um significado
social que necessita de aprendizagem. Compreende-se que a utilização dos jogos e
das brincadeiras como atividades simples e criativas tornam as salas de aula
prazerosas para as crianças e, consequentemente, trazem benefícios para a
aprendizagem.
Pensar a infância e a educação atualmente exige uma atenção especial e uma
profunda reflexão por parte da escola e da sociedade. No decorrer dos séculos, a
criança vem assumindo diferentes papéis de acordo com a época e a sociedade em
que está inserida. A concepção de infância é uma noção historicamente construída e
consequentemente vem mudando, não se manifestando de maneira singular nem
mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. A criança desenvolve-se pela
experiência social, nas interações que estabelece, desde cedo, com a experiência
sócio-histórica dos adultos e do mundo por eles criado. Dessa forma, a brincadeira é
uma atividade humana, na qual as crianças são introduzidas constituindo-se em um
modo de assimilar e recriar a experiência sócio-cultural dos adultos.
Sabemos que a brincadeiras fazem parte das nossas vidas desde a antiguidade,
através das mesmas, as crianças desenvolvem com mais prazer e entusiasmo o seu
conhecimento. Diante do trabalho lúdico em sala de aula, as crianças irão de
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encontro à percepção, a interação com o outro e com o mundo que a cerca,


desenvolvendo valores, comportamentos que facilitarão seu contato direto com a
aprendizagem. As crianças possuem um modo próprio de conhecer e interagir com
o mundo, e a brincadeira é responsável por vários tipos de aprendizagens e se torna
essencial na Educação Infantil, pois nela, estão presentes as múltiplas formas de ver
e interpretar o mundo. E no espaço da escola que as crianças têm oportunidade de
vivenciar relações éticas e morais que permeiam a sociedade na qual estão
inseridas.
Assim, o estudo, além desta introdução e da conclusão, encontra-se dividido
em subtemas, que se apresentam da seguinte forma: o primeiro traz uma concepção
de criança, o segundo explica a importância do brincar no desenvolvimento infantil.
No terceiro é descrito a formação lúdica do educador aliada ao aprendizado das
crianças. Por fim, o quarto traz considerações sobre brincar e aprender, onde e
quando.

Concepção de criança

A criança é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar


que está inserida em uma sociedade, com determinada cultura e um determinado
momento histórico. Possui uma natureza singular, que a caracteriza como ser que
sente e pensa o mundo de um jeito muito próprio precisando ser compreendido e
respeitado a partir de suas singularidades.
A criança é um ser lúdico que faz suas próprias construções através do brincar,
do imaginar, do estabelecimento de vínculos afetivos e de situações prazerosas que
a auxiliam na construção e na reorganização de suas idéias e sentimentos sobre o
mundo, as pessoas e sobre si mesma. Ela amplia o conceito de mundo através da
estimulação de suas habilidades, de desafios propostos, partindo da hipótese de que
já existe nela uma capacidade de adquirir o conhecimento, ou seja, que ela é um
sujeito participativo e interativo na construção do conhecimento e de seu processo
de desenvolvimento.
Atualmente a criança é vista como agente de transformação social, a concepção
de criança dada por educadores e estudiosos da infância, destaca a idéia da
participação ativa dela na sociedade. A criança, “como todo ser humano, é um
sujeito social e histórico que faz parte de uma organização familiar que está inserida
numa sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento
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histórico” (RCNEI, 1998, p.21). Dessa forma, ela participa da construção histórica de
sua identidade social.
Por fazer parte de uma sociedade culturalmente organizada, ela interage com o
meio onde vive e ao mesmo tempo sofre influências externas e internas, as quais
poderão ser positivas ou negativas, podendo ou não interferir em seu
desenvolvimento global. As crianças aprendem com as relações, essas imbuídas de
valores e crenças, as quais caracterizam seu meio, gerando modificações de
comportamento. A experiência com o outro de alguma forma influencia diretamente
vida da criança. Interagindo com o meio, a criança torna-se um ser ativo, que
constrói mecanismos mentais, explora o ambiente, tem autonomia própria, e é capaz
de superar desafios para conquistar seu espaço.
Ao longo seu processo de desenvolvimento, a criança passa por fases
específicas em várias faixas etárias. O crescimento da criança é acompanhado por
etapas de desenvolvimento, caracterizadas por aspectos específicos e significativos,
tais como: físico, cognitivo, emocional e espiritual, passos importantes para a
formação integral. Autores como: Wallon, Piaget, Freud, Vygotsky, Winnicott,
defendem o tema exposto.
Esses aspectos tornam um ser que, nos primeiros anos de vida precisa de
cuidados, por vezes específicos. OLIVEIRA (2002, p. 135) relata com propriedade
que:

A experiência de conhecer crianças pequenas é muito interessante. Elas


demonstram agir com inteligências e chamam nossa atenção pelas coisas
que fazem, pelas perguntas que nos trazem. Desde seu nascimento, o bebê
é confrontado não apenas com as características físicas de seu meio, mas
também com o mundo de construção materiais e não materiais elaboradas
pelas gerações precedentes, das quais, de início, ele não tem consciência.
Essas construções comportam dimensões objetivas (formas ou obras) e
dimensões representativas, codificadas especialmente pelas palavras das
línguas naturais, plenas de significações e de valores contextualizados.

Diante do que foi exposto, é possível mostrar que o desenvolvimento da


criança é resultado da interação de uma aprendizagem natural, mas paralelamente
estimulada, que ocorre por meio da experiência adquirida no ambiente e com a
própria capacidade inata da criança. Contudo, é importante ressaltar que cada
criança tem seu ritmo próprio e características individuais, embora todas passem
pelas mesmas fases ou etapas do desenvolvimento humano, as quais não são
necessariamente associadas à idade cronológica.
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No decorrer do desenvolvimento integral, a criança cresce e compreende a


realidade por meio de brincadeiras e do faz de conta, que em alguns momentos são
representações da vida adulta. A criança também libera emoções de diferentes
origens e intensidades, demonstrando suas preferências e seus interesses pessoais.
Brincando de formas variadas, entre elas, sozinha, com outras crianças ou pessoas,
ela elabora conceitos e, progressivamente, vai integrando com seu mundo, ou seja,
com a realidade vivida.
Ao longo todo o processo do desenvolvimento físico, moral e social da
criança, muito bem explicado por Piaget, Vygotsky e Wallon, é importante destacar
que os ambientes em que elas estão inseridas e as brincadeiras espontâneas ou
dirigidas poderão contribuir de forma significativa na sua formação integral. Maluf
mostra que:

"... É importante a criança brincar, pois ela irá se desenvolver permeada por
relações cotidianas, e assim vai construindo sua identidade, a imagem de si
e do mundo que a cerca" (2003, p. 20).

A criança é então, um ser sociável que se relaciona com o mundo que a cerca
de acordo com sua compreensão e potencialidades e, brinca espontaneamente,
independentemente do seu ambiente e contexto. Por isso, quanto maior o número
de atividades lúdicas inseridas nas atividades pedagógicas, maior será o
envolvimento da criança com o conhecimento trabalhado.

A importância do brincar no desenvolvimento infantil

Embora, atualmente, a importância do brincar para o desenvolvimento infantil


seja amplamente reconhecida, é comum observarmos crianças, por vezes muito
pequenas, com uma rotina bastante trabalhosa, tomada por diversas atividades e
compromissos. Muitas vezes, fica difícil encontrarmos alguma brecha, na correria do
dia a dia dessas crianças, na qual elas possam, simplesmente, ter espaço e tempo
para brincar. Mas, afinal, por que o brincar é considerado algo tão importante para o
desenvolvimento das crianças?
Segundo Vygotsky (1989), o brincar cria a chamada zona de desenvolvimento
proximal, impulsionando a criança para além do estágio de desenvolvimento que ela
já atingiu. Ao brincar, a criança se apresenta além do esperado para a sua idade e
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mais além do seu comportamento habitual. Para Vygotsky, o brincar também libera a
criança das limitações do mundo real, permitindo que ela crie situações imaginárias.
Ao mesmo tempo é uma ação simbólica essencialmente social, que depende das
expectativas e convenções presentes na cultura.
O brincar também permite que a criança tome certa distância daquilo que a faz
sofrer, possibilitando-lhe explorar, reviver e elaborar situações que muitas vezes são
difíceis de enfrentar. Autores clássicos da psicanálise, como Freud (1908) e Melanie
Klein (1932, 1955), ressaltam a importância do brincar como um meio de expressão
da criança, contexto no qual ela elabora seus conflitos e demonstra seus
sentimentos, ansiedades desejos e fantasias.
Já Winnicott (1975), pediatra e psicanalista inglês, faz referência à dimensão de
criação presente no brincar. Segundo esse autor, é muito mais importante o uso que
se faz de um objeto e o tipo de relação que se estabelece com ele do que
propriamente o objeto usado. A ênfase está no significado da experiência para a
criança. Brincando, ela aprende a transformar e a usar os objetos, ao mesmo tempo
em que os investe e os “colore” conforme sua subjetividade e suas fantasias. Isso
explica por que, muitas vezes, um urso de pelúcia velho e esfarrapado tem mais
importância para uma criança do que um brinquedo novo e repleto de recursos,
como luzes, cores, sons e movimento.
Assim, percebe-se como o brincar é algo essencial para o desenvolvimento
infantil. Uma criança que não consegue brincar deve ser objeto de preocupação.
Disponibilizar espaço e tempo para brincadeiras, portanto, significa contribuir para
um desenvolvimento saudável. É importante também que os adultos resgatem sua
capacidade de brincar, tornando-se, assim, mais disponíveis para as crianças
enquanto parceiros e incentivadores de brincadeiras.

A formação lúdica do educador aliada ao aprendizado das crianças

Podemos afirmar que o lúdico é um facilitador da aprendizagem, um


empecilho na sua utilização é falta de capacitação dos educadores na adequação
das aulas, a fim de torná-las prazerosas para os alunos. A falta de políticas públicas
e financiamentos educacionais que incentivem a utilização do lúdico como suporte
na aprendizagem é um fator responsável pela falta de preparo dos professores.
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Com relação à formação profissional, para que o professor esteja habilitado


atuar como educador é preciso segundo Dewey (1961 apud KISHIMOTO, 2008, p.
94-95) que ele saiba conduzir o processo de ensino-aprendizagem de forma
democrática, organizando a participação dos indivíduos na conscientização social,
de acordo com ele:

Acredito que toda educação proceda da participação do indivíduo na


consciência social da raça. Esse processo começa quase
inconscientemente ao nascer e vai formando continuamente os poderes do
indivíduo, desenvolvendo sua consciência, formando seus hábitos,
treinando suas ideias e despertando seus sentimentos e emoções. (DEWEY
1961, apud KISHIMOTO, 2008, p. 94-95).

Nesse processo o professor deve ser mediador, para que a afirmação citado
de Dewey proceda. E, para tanto, o educador deve estar capacitado em sua
formação profissional e pedagógica. Propondo, como afirma Freire uma pedagogia
da autonomia onde o sujeito é autor do seu próprio conhecimento e o educador é o
mediador do processo de ensino aprendizagem. No que diz respeito à relevância do
conhecimento na formação do professor Isabel Alarcão (2003, p. 15) relata que
nesta era chamada de sociedade da informação e do conhecimento “o
conhecimento tornou-se e tem de ser um bem comum. A aprendizagem ao longo da
vida, um direito e uma necessidade.” Enfatizando com esta afirmação o quanto o
conhecimento se tornou indispensável perante as exigências deste novo tipo de
sociedade. E, este fator nos leva a refletir o quanto o educador deve buscar
atualizar-se para que possa atender as demandas desta sociedade inovada,
ressaltando também, que o conhecimento é um processo contínuo que acontece por
toda a vida e que nunca acaba.
Tendo o conhecimento desta necessidade de atualizar-se e admitindo a
ludicidade como uma das ferramentas da atualidade, para que se alcance a criança
em sua plenitude, cabe ao educador fazer uso deste instrumento para que possa
potencializar sua prática pedagógica e com isso, desempenhar seu papel no
desenvolvimento das aprendizagens. Contudo, conforme afirma Cardoso (2008), a
ludicidade na formação profissional do professor não é algo novo:

A inserção da ludicidade como dimensão no processo de formação dos


professores da educação infantil não é algo recente. Historicamente, tal
dimensão vem sofrendo configurações distintas: sob forma limitada, posição
de estratagema e o valor educativo inseparável entre trabalho e jogo.
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Lembramos que essas concepções de formação de professores


reproduzem modelos de educação ocidental moderna, ligados à
escolarização de massa desde o século XVIII, assumindo vários modelos
pedagógicos com concepções diferentes, mas centrados na racionalização
e fragmentação entre corpo (matéria) e mente (espírito). (CARDOSO, 2008,
p.43).

Partindo do que foi acima citado, a utilização da ludicidade no processo


formativo dos professores surgiu lenta e muito desvalorizada nas instituições de
ensino superior. Haja vista, vivemos hoje, como coloca Maturana (2004, p.125), uma
contínua desvalorização do corpo devido a “sua incapacidade de alcançar as alturas
de nossas almas idealizadas”. Assim, as instituições e ensino permanecem fazendo
essa divisão histórica, mas é urgente entender que não se aprende sem trabalhar o
pensar corporificado. É preciso, então, ressaltar a importância da ludicidade na
formação profissional do professor, como Santos (1997 p.14) coloca que:

A formação lúdica deve proporcionar ao futuro educador conhecer-se como


pessoa, saber de suas de possibilidades e limitações, desbloquear suas
resistências e ter uma visão clara sobre a importância do jogo e do
brinquedo para a vida da criança, jovem e do adulto.

Neste caso, pode-se afirmar que a ludicidade é uma necessidade do ser


humano em qualquer idade. Pode-se refletir que, as vivências com atividades
lúdicas proporcionam aos educadores em formação, através de práticas reflexivas, o
autoconhecimento, permitindo-os assumirem-se como sujeitos que pensam e falam
de acordo com sua subjetividade, com direito de se transcenderem no tempo, no
espaço e nos desejos. Deste modo, o trabalho lúdico é necessário no ambiente da
sala de aula desde a educação infantil até o ensino superior.

Brincar e aprender, onde e quando?

A base para o desenvolvimento saudável continua sendo a família, embora essa


atravesse por profundas reformulações conceituais e de valores na sociedade pós-
moderna. O ideal é que a criança viva os primeiros anos com seus pais, ou
representantes desses, no lar. Porém, a situação sócio-econômica das famílias do
mundo atual tem feito com que as crianças deixem muito cedo suas casas para
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ficarem em Creches ou em Escolas de Educação Infantil que atendam, desde o


berçário até as séries iniciais, enquanto seus pais trabalham.
A criança que precisa ficar em alguma instituição da infância, por um período
significativo para que os pais possam trabalhar, depende de uma pessoa adulta
capaz de cuidá-la e educá-la fora de seu ambiente familiar. Nesse contexto, será
destacado a pessoa do educador, por entender que a relação dele com a criança,
seja qual for a idade, deverá ser com a base no amor, na responsabilidade, no
cuidar, no brincar e no educar.
Os ambientes, denominados "de pedagógicos", deverão ser para a criança uma
extensão do próprio lar. Para que isso se efetive adequadamente, o educador que
trabalha nestas instituições necessita de uma boa formação profissional para
proporcionar um direcionamento específico e ao mesmo tempo significativo para
estas crianças, principalmente nos primeiros anos de vida.
Com uma boa qualificação profissional, o educador deverá ser capaz de viabilizar
situações onde a aprendizagem se torne significativa e prazerosa, onde a
estimulação das diversas áreas do conhecimento seja aliada aos interesses naturais
da criança. Lembrando que o lúdico deve sempre fazer parte do processo; pois o
brincar e o jogar são atividades espontâneas das crianças.
Estudiosos da infância mostram que os principais eixos norteadores que devem
ser trabalhados com a criança de 0 a 6 anos são: o cuidar, o brincar e o educar,
preferencialmente trabalhados de forma prazerosa. Como mostra ROSSINI (2003, p.
11): “... aprender tem que ser gostoso... a criança aprende efetivamente quando
relaciona o que aprende com seus próprios interesses.” Quais são, então, os
principais interesses das crianças? Parece que eles estão relacionados com o
prazer, que é expresso pela criança através das brincadeiras e de forma
concomitante aos desafios que a vida oferece, impulsionando-as, adequadamente,
para reações no individual e no coletivo.
Pesquisadores da área da Psicologia, das Artes e da Educação Infantil,
acreditam que as experiências mais prazerosas para a criança, principalmente as
pequenas, são as brincadeiras e os cuidados pessoais; pois são através dessas
atitudes que aparecem as relações de afeto e atenção. É então que, por meio de
atividades lúdicas aliadas à relações de afeto que ela aprende. Logo, são nos
primeiros anos de sua vida que o educador deve concentrar suas ações de afeto e
atenção, a fim de proporcionar aprendizagens significativas.
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O educar é hoje, um desafio para os profissionais da infância; pois sabe-se


que o ato de educar apresenta algumas características que o define como um
aspecto formativo e que acontece ao longo dos anos por meio das experiências
pessoais. O aspecto da educação formal por exemplo, acontece em nível escolar,
onde a herança cultural é trabalhada de forma mais sistemática, numa perspectiva
histórica e socialmente construída. Já no aspecto informal, o educar ocorre
naturalmente nos ambientes em que a criança vive juntamente com os seus
familiares. É então, no ambiente escolar que pretendemos destacar a forma de
convivência da criança com as pessoas que a cercam.
Ao refletirmos sobre uma formação mais significativa para as crianças que
vivem hoje na chamada "sociedade do conhecimento" e, diante das constantes e
aceleradas mudanças que impactam o mundo moderno, a proposta da UNESCO
estabelece alguns critérios para a educação mundial do século XXI. Esses estão
baseados em quatro pilares básicos para propostas educativas. Com essa nova
proposta espera-se que as crianças sejam capazes de desempenhar papéis
significativos numa sociedade globalizada.
O conceito de educar para ser um cidadão crítico e consciente, é peculiar em
sociedades democráticas, e pressupõe que o mesmo seja agente de transformação
na realidade em que atue. Para que isso ocorra, é preciso que esse esteja apoiado
no desenvolvimento dos quatro pilares básicos para a educação. Segundo
PERRENOUD (1999) são os seguintes:

Aprender a conhecer (construir o conhecimento), aprender a conviver


(relacionar-se com o outro), aprender a fazer (aplicar o conhecimento na
vida cotidiana) e aprender a ser (conhecer-se). No entanto, é importante
salientar que esses pilares estão pautados nos princípios filosóficos que
regem o Neoliberalismo, portanto, distante dos pressupostos democráticos.

A ênfase que se pretende dar como direcionamento para uma proposta de


trabalho educativo com base nos pilares acima citados, é de que todo o processo de
educação infantil precisa ser realizado com alegria e estar acompanhado de
vivências significativas. Reafirmamos a colocação de ROSSINI (2003, p. 11): “... o
aprender tem que ser gostoso...”, regado com o lúdico, e de acordo com os
interesses das crianças.
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Nesse processo, o cuidado, o interesse, a motivação, a estimulação e a


criatividade são os elementos chave para o sucesso educacional e para o bom
relacionamento entre o educador (ou outras pessoas, como os familiares) e o
educando, quer seja na escola ou fora dela.
Para que a criança sinta-se amada e tenha desejo de aprender, o professor é
a peça fundamental para conduzir e mediar o processo educativo. Hoje, o educador
que estimula que brinca e transmite alegria, desperta no aluno o gosto pelo
aprender. O profissional da educação infantil, comprometido com a sua missão de
ensinar deixa suas marcas no conviver, no fazer, no conhecer e no ser.
Assim, a realização de uma proposta educacional focada no lúdico torna-se
fundamental, independentemente dos contextos, para a formação integral,
significativa e prazerosa das crianças.

Considerações Finais

Acredita-se que o lúdico é ao mesmo tempo estratégia e ação, pois implica em


diferentes formas de relação do sujeito (a criança) com o objeto (a realidade – o
outro, o meio), capaz de conduzir o desenvolvimento e a transformação dos
envolvidos no processo educativo. A atual sociedade orgulha-se do progresso
científico e tecnológico, no entanto, despreza o progresso humano, que também é
gerado a partir da Educação.
No Universo infantil, o lúdico aponta como resgate e possibilidade de
desenvolver, de forma prazerosa, integralmente esse ser humano, num contexto
pedagógico. O brincar também pode promover a construção do conhecimento, pois
o brinquedo apresenta uma função social, uma vez que permite o processo de
apreensão, análise, síntese, expressão e comunicação da criança sobre si mesma e
o mundo que a rodeia, criando um sentimento e uma identidade pessoal e social, de
pertencer e interagir em uma determinada realidade, evoluindo progressivamente do
egocentrismo à socialização.
Muitos são os desafios que a educação precisa enfrentar e um deles é fazer com
que a criança seja reconhecida como sujeito de direitos, cidadã. É necessário
assegurar à criança condições para o seu desenvolvimento, não só na letra da lei,
mas no plano concreto e real onde o direito de brincar seja legitimamente
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reconhecido assim como o seu tempo e o seu espaço sejam respeitados e ganhem
também sua devida importância.
Contudo, a criança com suas potencialidades e necessidades e o educador com
suas qualificações profissionais poderão estabelecer relações de afeto e atenção
que irão transformar a prática pedagógica em situações de aprendizagem
significativa e prazerosa, contribuindo assim para a formação integral da criança
integrando-a na sociedade globalizada de forma lúdica e significativa.

Referências bibliográficas:

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MEC/SEF, 1998.

FREUD, S. (1908). Escritores criativos e devaneios. Edição standard das obras


psicológicas completas de Sigmund Freud, v. IX. Rio de Janeiro: Imago.

KLEIN, M. (1932). A psicanálise de crianças. Rio de Janeiro: Imago.

KLEIN, M. (1955). A técnica psicanalítica através do brincar: sua história e


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KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e educação. São


Paulo: Cortez, 1997.

MALUF, Ângela Cristina Munhoz. Brincar: prazer e aprendizado. Petrópolis, Rj:


Vozes, 2003.

OLIVEIRA, Z. R. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez,


2002.

PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes


Médicas Sul, 1999.

ROSSINI, M. A. S. Aprender tem que ser gostoso. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
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SANTOS, S. M. P. O Lúdico na formação do educador. 4. ed. Petrópolis-RS:


Vozes, 1997.

Vygotsky, L. S. (1989). A formação social da mente: o desenvolvimento dos


processos psicológicos superiores (J. C. Neto, L. S. M. Barreto & S. C. Afeche,
Trans.). São Paulo: Martins Fontes.

Winnicott, D. W. (1975). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago.

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