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O CUIDAR E O EDUCAR: FUNÇÕES INDISSOCIÁVEIS NA EDUCAÇÃO

INFANTIL ATRAVÉS DOS TEMPOS

DUARTE, Ana Cristina Neves1


2
Orientador (a): KOTTEL, Annemaria

Resumo
O presente artigo é resultado de um estudo bibliográfico acerca do cuidar e educar
na educação infantil, abordando as principais contribuições de alguns teóricos em
relação a esta prática indissociável. Como metodologia, optou-se por pesquisa
bibliográfica, buscando na literatura, informações e subsídios, de forma a esclarecer
e informar às pessoas envolvidas sobre as relações e interfaces do cuidar e educar,
desde tempos mais antigos até a atualidade. A realidade tem revelado a confusão e
as dificuldades instaladas ao longo de décadas de uma prática nas instituições de
educação infantil, em que cuidar remete à ideia de assistencialismo e, educar à de
ensino/aprendizagem. Diante disso, prevalece a tendência de compreender o cuidar
e educar como mera associação de duas diferentes funções: uma relativa ao zelo
por boa alimentação, segurança física e cuidados com higiene e saúde; outra,
preocupada com o repasse de conhecimentos e normas de comportamento, além do
cumprimento de regras pelos futuros cidadãos. A pesquisa revela que por muitos e
muitos anos o cuidar e o educar eram práticas dissociadas e de responsabilidade
exclusiva da família. Com o passar do tempo e com o advento de leis, novas
concepções e estudos acerca da infância, esse binômio cuidar/educar, passou a ser
indissociável.

Palavras-chave: Educação infantil. Educar. Cuidar. Prática pedagógica.

1. INTRODUÇÃO

Do ponto de vista histórico, a educação da criança esteve sob a


responsabilidade exclusiva da família durante séculos, porque era no convívio com
os adultos e outras crianças que ela participava das tradições e aprendia as normas
e regras da sua cultura.
Na sociedade contemporânea, por sua vez, a criança tem a oportunidade de
frequentar um ambiente de socialização, convivendo e aprendendo sobre sua cultura

1
Aluna do Curso de Pós-Graduação em Educação infantil. Pedagoga, pós-graduada em Psicopedagogia Clínica.
2
Professora Orientadora, Pedagoga (Universidade Tuiuti do Paraná), Especialista em Psicopedagogia (IBPEX),
em Educação Especial e Inclusiva (FACINTER), em Avaliação Diagnóstica Psicoeducacional (PMC/ SME/CANE),
orientadora de TCC do Centro Universitário Internacional Uninter.
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mediante diferentes interações com seus pares. E como estão acontecendo estas
interações na prática? Será que o processo de cuidar e educar se modificou através
dos tempos?
Para responder a estas perguntas, será apresentado um breve histórico sobre
a Educação Infantil brasileira, bem como o que pensam alguns autores sobre o
assunto na atualidade, assim como aspectos legais que respaldam esse tema.
Cuidar e educar significa compreender que o espaço/tempo em que a criança vive,
exige seu esforço particular e a mediação dos adultos como forma de proporcionar
ambientes que estimulem a curiosidade com consciência e responsabilidade.
Os temas “educar” e “cuidar” estão presentes nas discussões acerca das
funções da Educação Infantil e têm, no cotidiano institucional, o cenário em que
adultos e crianças se relacionam diariamente e caracterizam o tipo de atendimento
ofertado. A rotina dessas instituições e atenção com o tempo e a organização dos
espaços também apontam para o tipo de educação que queremos, para quem essa
educação está voltada, por que razão, como e quando se realiza. É no cotidiano das
instituições de Educação Infantil que a rotina se desenvolve dinamicamente, no uso
generoso do tempo e no uso criativo do espaço, ou no uso sempre igual em seus
tempos insípidos e em seus espaços incolores.
Portanto neste artigo, faz-se uma apresentação sobre em que consiste o cuidar e o
educar através da trajetória histórica da Educação Infantil, bem como, discute-se as
bases do seu significado, na visão de estudiosos e teóricos do tema em questão,
ressaltando seu caráter de unicidade, ao invés de dupla tarefa.

2. A CONCEPÇÃO DO CUIDAR E EDUCAR NO BRASIL ATRAVÉS DOS


TEMPOS

No texto neste momento, faz-se uma contextualização histórica, sobre o


século XVII, onde as condições gerais de higiene e saúde eram precárias e
consequentemente a mortalidade infantil era muito grande, por causa da fragilidade
das crianças pequenas. Os pais se sentiam penalizados com a morte de seus filhos,
mas viam o acontecimento como fenômeno natural e, que a criança morta poderia
ser substituída por outra recém-nascida. As mulheres, ao longo de suas vidas
davam à luz muitos filhos, tendo consciência que muitos deles não sobreviveriam à
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primeira infância. As crianças que conseguiam atingir uma certa idade só passavam
a ter identidade própria, a ser consideradas como indivíduos na comunidade social,
quando conseguiam fazer coisas semelhantes àquelas realizadas pelos adultos,
com os quais viviam.
O que se pode verificar através dos estudos feitos por Miguel (1999) acerca
da maneira como a criança era vista, é que ela deixou de ser o adulto em miniatura
e o contato com o adulto passou a ser através da escola.
A presença da criança começa a ter mais atenção no contexto social como
merecedora de cuidados, atenção e respeito só muito recentemente, através de
estudos da psicanálise e da psicologia. A partir daí, passou-se a dar importância e
enxergar a infância como etapa fundamental na construção e formação da
personalidade dos indivíduos.
Pode-se verificar então, que as crianças não eram consideradas como um ser
de direitos e que este tratamento dispensado a elas só agravou ainda mais o seu
desenvolvimento, denotando um caráter puramente assistencialista.
Conforme Braga (2003, p.21) “Uma das primeiras e mais antigas instituições
públicas de atendimento à criança no Brasil foi a “Roda dos Expostos”, a qual surgiu
no século XII, na Itália, coma finalidade de acolher e amparar toda e qualquer
criança abandonada. De formato cilíndrico, era fixada em instituições como
mosteiros e conventos medievais e antes, sua utilização era para colocação de
objetos, mensagens e donativos para as pessoas que ficavam dentro destas
instituições.
As instituições de atendimento às crianças de zero a seis anos iniciaram-se
vinculadas às demandas do mercado, ou seja, para atender às mulheres que
trabalhavam como domésticas ou operárias. Em 1899, foi inaugurada a primeira
creche para filhos de operários de quem se tem registro: a Creche da Companhia de
Fiação e Tecidos Corcovado, no Rio de Janeiro.
No final do século XIX, surgiu um interesse pela questão da criança por parte
de alguns grupos como médicos, sanitaristas e elementos da fé e da ação cristã e
de algumas senhoras da sociedade. Naquele período, prevalecia um desinteresse
pela questão da criança compreendida entre zero a seis anos, por parte das esferas
governamentais, que só reconheceram essa questão a partir da segunda década do
século XX, enfatizando um atendimento preparatório, isto é, a criança deveria ser
preparada para o adulto que viria a ser.
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Até o início da República, o atendimento à criança tinha um caráter


assistencialista, caracterizava-se por uma educação de baixa qualidade,
mais moral que intelectual e sustentada na formação de hábitos e atitudes
(OSTETTO, 2002 a, p. 25).

Ainda sobre Braga (2003, p. 21) “Somente a partir da década de 1970 é que a
educação pré-escolar legitimou uma abordagem educacional, para auxiliar a escola
formal, antecipando a solução de problemas de repetência e evasão escolar no
primeiro grau, principalmente nas séries iniciais. Assim, as instituições de
atendimento às crianças de zero a seis anos seriam importantes para suprir e
compensar carências educacionais, culturais, nutricionais e afetivas das crianças
necessitadas, objetivando igualar as oportunidades para os menos favorecidos. ”
O que se pode verificar neste parágrafo, é que as instituições de educação
infantil estavam sendo planejadas com objetivos somente de cuidados.
Ainda sobre Braga (2003, p.21) “A partir da metade da década de 1970 e
durante a década de 1980, o atendimento à educação pré-escolar foi ampliado,
como resultado de movimentos sociais, principalmente do Movimento Feminista, que
lutava pelo direito já adquirido em 1934, através da Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT), que obrigava os estabelecimentos que tivessem, entre seus
empregados, no mínimo trinta mulheres, a ter um local apropriado para os filhos
dessas mesmas mulheres. Somente em 1983, os acordos sindicais passaram a
abordar a questão das creches. ”
Observamos neste parágrafo, que algumas conquistas já começam a se
delinear, no que se refere ao atendimento às crianças.
Dando sequência aos estudos de Braga (2003, p. 21) “A obrigatoriedade da
oferta de atendimento a crianças de zero a seis anos em creches e pré-escolas
concretizou-se na Constituição Federal de 1988. A partir de então, deu-se o
reconhecimento da educação das crianças pequenas nesses tipos de instituições
como um direito da criança e um dever do Estado, da família e da sociedade.
A Educação Infantil passou a integrar a Educação Básica, resultado de longas
e várias discussões de diversos segmentos da sociedade, com a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96, ficando superado, na forma da lei, o
caráter assistencialista e compensatório que predominou historicamente nos
programas de atendimento à criança até então.
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A partir desses documentos e também do Estatuto da Criança e do


Adolescente (ECA – Lei 8069 de 1990), a criança passou a ser sujeito de direitos e
não mais objeto de tutela, como ocorria nas leis anteriores à Constituição Federal. ”
O que se pode perceber a partir desses documentos legais, outros em nível
federal, estadual e municipal foram criados e a Educação Infantil passou a ser
discutida como um direito e uma opção das famílias.
Também é importante refletir e perceber a distância existente no que
garantem as leis a respeito dos direitos das crianças e as práticas sociais e
educacionais realizadas. Se, por um lado, as leis demonstram um avanço, por outro,
também colocam o desafio dos espaços ainda serem conquistados. Conforme
Cerisara (1999, p.17), “O desafio que se coloca para os profissionais da área é a
‘busca da definição da especificidade do trabalho pedagógico a ser realizado nas
instituições de Educação Infantil’”.
Então, partindo-se de uma busca por uma especificidade do fazer
pedagógico, deve-se considerar e observar um compromisso de todos os envolvidos
no processo do cuidar e educar que legitime um atendimento de qualidade voltado
para as necessidades fundamentais da criança, bem como entender alguns
conceitos acerca dos termos em questão, de acordo com alguns estudiosos.

3. ENTENDENDO OS CONCEITOS

A sociedade, em todos os setores, passa por constantes metamorfoses,


mudanças de conceitos e consequentemente de comportamentos, na qual vamos
nos adequando à realidade em que vivemos. O binômio cuidar e educar se entrelaça
fortemente no universo das instituições de educação infantil e concretizar práticas
educativas que impliquem o cuidar/educar das/as crianças neste contexto, ainda é
um desafio para os educadores da área.

Este desafio está acima de tudo estreitamente ligado às relações creche-


famílias, que precisam ser enfrentadas urgentemente no sentido de
explicitar qual o papel que essas duas instituições devem ter no atual
contexto histórico, a fim de que as professoras de Educação Infantil e as
famílias – pais e mães das crianças – possam assumir suas
responsabilidades com maior clareza dos seus papeis que, mesmo sendo
complementares um em relação ao outro, são diferentes e devem continuar
sendo (CERISARA, 1999, p.17).
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Assim sendo, na Educação Infantil, o cuidar é parte integrante da educação,


embora possa exigir conhecimentos, habilidades e instrumentos que exploram a
dimensão pedagógica.

O mais importante no cuidado humano, é compreender como ajudar o outro


a se desenvolver como ser humano. Cuidar, significa valorizar e ajudar a
desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si
próprio, que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos
específicos (SIGNORETTI, 2002, p. 5-8).

Desse modo, a educação Infantil tem característica e especificidade próprias


que dizem respeito ao desenvolvimento de atividades, com crianças de zero a seis
anos, ligadas ao cuidado e à educação dessas crianças de forma articulada.

O cuidado na educação infantil deve abandonar a tradição do simples


“fazer” em busca do cuidar, numa perspectiva holística, abrangendo a
pessoa integralmente. Implica em comportamentos e ações que envolvem
conhecimentos, valores, habilidades e atitudes para manter ou melhorar a
condição humana no processo de viver (WALDOW, 1995, p. 175).

Nesse sentido, vale a pena afirmar que se deve adotar uma prática de
atividades pedagógicas onde o cuidar e o educar estejam interligados, visando a
propiciar bem-estar físico, mental e espiritual da criança, gerando conhecimento
sobre si próprio, respeito próprio, autonomia. Cuidando podemos nos desenvolver
no sentido de conhecer melhor o outro, suas necessidades, suas potencialidades e
limitações, criando relações que promovam crescimento/desenvolvimento.
Por isso, o cuidar diz respeito aos aspectos biológicos (nutrição, saúde,
higiene) e afetivo-emocionais, associados à educação nas instituições infantis,
visando ao desenvolvimento integral das crianças em seus aspectos psicológicos,
sociais, intelectuais e físicos. E como espaço de convivência social, é importante
proporcionar um ambiente seguro, higiênico, confortável, rico em estímulos, sem
oferecer riscos de agravos à saúde. Para que isso ocorra, devemos adotar medidas
de cuidados ambientais (em relação à areia, ao lixo, brinquedos, chão, água,
dedetização, iluminação, ventilação, mobiliário, espaço físico), promover o incentivo
ao aleitamento materno, prever ações nas rotinas (em relação à alimentação, ao
sono, banho de sol, higiene, prevenção de acidentes, etc.) que garantam um
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atendimento de qualidade às crianças de 0 a 6 anos nas instituições e


desenvolvendo atividades de educação e saúde.
É necessário também conhecer a criança e sua família, seus hábitos, rotinas,
peculiaridades, aspectos de saúde, dados do crescimento e desenvolvimento,
fornecer orientações, esclarecer dúvidas.
Entretanto, o cuidado deve ser compreendido como ajuda ao
desenvolvimento das capacidades das crianças que vai além da preservação da
vida orgânica, necessitando, para tanto, de vários campos de conhecimento. Sendo
assim, deve existir uma vinculação entre as ações de cuidado e as ações
pedagógicas, em que todas as atividades relacionadas à saúde, à higiene e à
nutrição sejam concebidas como educativas.
E assim, as formas de entender, valorizar e identificar as necessidades das
crianças são construídas também a partir de crenças e valores, portanto sofrem
alterações e influências de acordo com o contexto sociocultural. O profissional dessa
área deve identificar, compreender e responder às necessidades infantis nas suas
singularidades, preocupando-se com o que a criança pensa, sente e como age em
relação ao mundo e a si mesma, ampliando assim, as possibilidades de
desenvolvimento de cada uma delas.

Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprometido com o outro, com
sua singularidade, ser solidário com suas necessidades, confiando em suas
capacidades. Disso depende a construção de um vínculo entre quem cuida
e quem é cuidado. (RCNEI, vol. I, 1998, p. 25)

Acredita-se, que o cuidar não deve se resumir apenas ao conceito de assistir,


apoiar, facilitar, “deve favorecer as potencialidades das pessoas” WALLON (apud
FELIPE, 1995, p. 29), com a intenção de mudar, melhorar o relacionamento e a
condição humana.

O cuidado na educação infantil é uma ação cidadã onde educadores,


pessoas conscientes dos diretos das crianças, empenham-se em contribuir
favoravelmente ao crescimento e desenvolvimento das crianças. O cuidar é
visto aqui como uma prática pedagógica e como forma de mediação que se
constitui pela interação, através da dialogicidade e quer possibilitar à
criança, leituras da realidade e apropriação de conhecimentos (WEISS,
1999, p.108).

Assim, para os educadores, não deve haver diferença entre educar e cuidar,
pois todos sabem da importância da educação como instrumento de construção do
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conhecimento, devendo fazer uso das diversas ferramentas do fazer pedagógico,


visando a plena capacitação intelectual e moral desse ser.
O educar é proporcionar à criança a oportunidades de desenvolver suas
capacidades e habilidades. O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil
nos diz que

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e


aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para
o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal e de
ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e
confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da
realidade social e cultural (RCNEI, 1998 p. 23).

Para que esse processo de educar se efetive, torna-se necessário


proporcionar à criança, momentos ricos e prazerosos através das brincadeiras, por
exemplo, das trocas de opiniões e interações entre os pares, oferecendo um
ambiente acolhedor e seguro, onde ela possa ter liberdade de agir e pensar como
sujeito de direitos que é. Dessa forma, se estará oportunizando a essa criança, o
despertar de suas potencialidades e capacidades, proporcionando uma
aprendizagem significativa. Cuidar significa auxiliar a criança em seus primeiros
passos. O cuidar não se restringe ao aspecto biológico do corpo, mas também à
dimensão afetiva, pois a criança precisa de segurança, apoio, incentivo e
envolvimento do professor. É de extrema importância considerar as necessidades da
criança, assim como seus conhecimentos prévios e seu conhecimento de mundo,
pois quando se observa estes aspectos o processo de cuidar e educar se tornará
bem mais significativo. E como tornar este processo mais significativo? Auxiliando a
criança a identificar suas reais necessidades e assim priorizando-as, para atendê-las
de forma mais eficiente.

4. COLOCANDO EM PRÁTICA UM BINÔMIO INDISSOCIÁVEL

Para tornar o processo do cuidar e educar mais significativo e eficiente, torna-


se necessário que o educador tenha conhecimentos, habilidades e instrumentos que
explorem a dimensão pedagógica, onde se integrem vários campos do
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conhecimento além da cooperação de profissionais de diferentes áreas. Neste


sentido, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil nos diz que:

O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das


crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas
importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos
de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção da saúde.
Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com
o desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes
e procedimentos estejam baseadas em conhecimentos específicos sobre
desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando
em conta diferentes realidades socioculturais (RCNEI, 1998, p. 25).

Em relação a prática do cuidar, deve-se levar em consideração o contexto


sociocultural da criança e o meio na qual está inserida, bem como priorizar suas
necessidades básicas de sobrevivência. Para o educador, a necessidade de
envolvimento e comprometimento com esta criança e a compreensão sobre o que
ela sente e pensa, refletirão na sua prática pedagógica diária, ressaltando assim o
desenvolvimento integral desta criança.

A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as crianças


que a frequentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que
enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel
socializador, propiciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por
meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de interação
(RCNEI, 1998, p. 23).

Educar é promover situações de cuidados e brincadeiras de forma orientada,


dirigida e mediada e que possam contribuir para o pleno desenvolvimento das
capacidades infantis, de interações entre os pares, de respeito e confiança com os
adultos que estão mediando, para que estas tenham acesso aos conhecimentos
mais amplos da realidade social e cultural em que estão inseridas.
A criança é um ser em constante construção. Sendo assim, deve-se vê-la
como um ser sujeito a novas tentativas e novas inserções, as quais possibilitem o
desenvolvimento de suas habilidades cognitivas, psicomotoras e socioafetivas. E
estas habilidades só serão desenvolvidas se o educador criar situações significativas
de aprendizagem, estabelecendo uma parceria com todos os envolvidos no
processo do cuidar e educar. E isto só se efetivará se houver estudo, dedicação,
cooperação, cumplicidade e amor de todos os envolvidos, além de projetos
educativos que representem este diálogo e debates constantes, como também
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educadores comprometidos com uma prática diária que responda às demandas


familiares relativos ao cuidar e educar das crianças.
O educador precisa ter bem claro que sua atuação deve estar baseada na
concepção de educação infantil e que diariamente, em sua prática, deve buscar
superar o assistencialismo, implantando o binômio indissociável do cuidar e educar.
E para isso, seu agir pedagógico deve sempre atender as necessidades da criança,
devendo ser criativo, flexível, contemplando o individual e o coletivo. Para que isto
se efetive, torna-se necessário que os espaços sejam reinventados constantemente,
onde neles aconteçam as interações, as trocas de experiências. Assim organizados,
a criança passará de um estágio a outro, pois estará sendo proporcionado a ela
vivências e experiências que promoverão a construção do seu conhecimento.
Conforme o que nos diz Oliveira (1992, p. 64):

A creche é um dos contextos de desenvolvimento da criança. Além de


prestar cuidados físicos, ela cria condições para o seu desenvolvimento
cognitivo simbólico, social e emocional. O importante é que a creche seja
pensada não como instituição substituta da família, mas como ambiente de
socialização diferente do familiar. Nela se dá o cuidado e a educação de
crianças, que aí vivem convivem, exploram conhecem, construindo uma
visão de mundo e de si mesmas, constituindo-se como sujeitos.

Portanto, creche e família devem estabelecer uma parceria para que o


desenvolvimento da criança em seus mais diversos contextos se efetive, de forma
que ela construa em si mesma uma visão de mundo em que se constitua com o
sujeito de direitos que é.

5. METODOLOGIA

A proposta metodológica recaiu sobre um estudo de natureza bibliográfica


com base nas contribuições de vários autores que já abordaram a questão. Gil
(2000), afirma que a pesquisa bibliográfica fornece instrumento analítico
para qualquer outro tipo de pesquisa. O pesquisador vale-se de opiniões já
formatadas por diversos autores a respeito da temática.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No que se refere à ação pedagógica consciente por parte do educador, deve-


se estabelecer uma visão integrada dos aspectos do cuidar e educar, respeitando a
diversidade e as realidades inerentes à infância, devendo este educador estar em
permanente estado de observação e vigilância no sentido de não permitir que suas
ações se tornem mecanizadas.
Através de uma formação consciente de que o ato de educar e de ensinar são
inseparáveis, que devem ser conduzidos simultaneamente, é que serão
proporcionados à criança, a capacidade de desenvolver sua infância, sem deixar de
aprender as atitudes e as tarefas que suas aptidões têm condições de desenvolver.
Dessa forma, cabe ao profissional de Educação Infantil, equilibrar este
binômio indissociável e complementar, mesmo tendo plena consciência de que tem
sob sua responsabilidade, crianças pequenas que necessitam de cuidados primários
e que a interação com as pessoas e as coisas do mundo vão levando-a a atribuir
significados àquilo que a cerca, e ela passa a participar de experiências culturais
próprias de seu grupo social, o que chamamos de educação.
O profissional que trabalha com esta criança precisa ter claro, qual o conceito
que ele possui sobre a infância, pois este determina a sua prática pedagógica. Ele
não deve ser o substituto da mãe, nem apenas o professor, mas deve criar situações
desafiadoras, investigando a cultura infantil, para que, junto à criança promova
novas aprendizagens, tanto para ele, como para ela. Desta forma, estamos falando
de um profissional pesquisador, que reflete sobre a sua prática e questiona suas
concepções a todo instante. Nesta proposta, educar e cuidar, não são polos
opostos, mas complementares.
Portanto, conclui-se que o cuidar e o educar são indissolúveis e devem ser
trabalhados juntos, sem esquecer-se de buscar o equilíbrio entre ambos, pois ao
mesmo tempo em que sabemos que as crianças precisam de cuidados especiais,
devemos também reconhecê-las, como agentes ativos da sociedade onde vivemos e
que construiremos.
Mas será que as instituições de Educação Infantil (creches e pré-escolas)
estão integrando as funções de educar e cuidar e estão comprometidas com o
desenvolvimento integral da criança nos aspectos físico, intelectual, afetivo e social?
Será que estão compreendendo a criança como um ser total, completo, que aprende
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a ser e conviver consigo mesmo, com o seu semelhante, com o ambiente que a
cerca de maneira articulada e gradual?
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REFERÊNCIAS

BRAGA, Aucy Bernini. Estrutura e funcionamento das instituições de Educação


Infantil. Aucy Bernini Braga, Débora Cristina de Sampaio Peixe. –
Florianópolis/UDESC/CEAD, 2003

CERISARA, Ana Beatriz. Educação Infantil pós LDB: rumos e desafios. Editora
Autores Associados, 1999.

FELIPE, J. O desenvolvimento infantil na perspectiva sócio integracionista:


Piaget, Vigotsky e Wallon, ARTMED, Porto Alegre, 1995.

GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 2000.

MIGUEL, A. S. B. (2009). Cuidar e educar um novo olhar para a Educação


Infantil. Disponível em: http://www.ceap.br. Acesso em:11.12.2016

OLIVEIRA, Zilma de Moraes. Creches: crianças, faz de conta & cia. Petrópolis: Ed.
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OSTETTO, L.E. Educação Infantil em Florianópolis. Ed. Cidade Futura.


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RCNEI Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Ministério da


Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília:
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SIGNORETTE, A. E. R. S. et al. Educação e cuidado: dimensões afetiva e


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Alegre, n. 72, p. 5-8, out./dez. 2002.

WALDOW, V. R., LOPES. M. J. Maneiras de cuidar, maneiras de ensinar: a


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WEISS, Elfy Marfrit Gohring. O cuidado na escola infantil: contribuições da área


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Vol. 17, n. especial; 1999.

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